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Boletim de junho

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Page 1: Boletim de junho
Page 2: Boletim de junho

Editorial: Mudanças climáticas, pesadelo, solidariedade e negligência das

autoridades são alguns temas que você vai encontrar nessa edição. Ao longo de todas as matérias selecionadas, buscamos resgatar o

compromisso da sociedade com o ambiente em que está inserida visto o descaso das autoridades para reconhecer e conter os riscos em que se encontra exposta.

O propósito desta edição é alertar para os efeitos das catástrofes ambientais como função de um sistema complexo e dinâmico onde, no meio de tanta omissão, até as pequenas alterações possui potencial para desencadear resultados catastróficos para todo mundo. As enchentes e os deslizamentos de terra que marcaram o caos da cidade do Rio de Janeiro após aproximadamente 15 horas seguidas de chuva forte no mês de abril mostram claramente as proporções que esses resultados podem atingir e a importância da cooperação coletiva para apoiar e tentar amenizar o pesadelo daqueles que perderam suas casas e seus familiares. Nós do BOLETIM DO MEIO AMBIENTE não vamos comemorar o dia do meio ambiente deixando que os próximos dias de sol apaguem a história da tragédia do temporal que deixou centenas de vítimas no RJ pelo descaso de governantes.

Bruna Almeida e Mariana Luz.

Acesse:

http://www.boletimmeioambiente.blogspot.com/

Participe: Agora você também vai poder participar do nosso boletim pelo maior site de relacionamentos. Acesse já e faça parte da nossa comunidade.

BOLETIM MA – IFRJ MARACANÃ

Desde 1972 comemora-se o dia do Meio Ambiente e nessa data surgem as mais diversas formas de manifestações para preservação da natureza. Devemos reconhecer que a grande exaltação das questões ambientais, de certa forma, mobiliza uma parcela da população para a importância de uma relação harmônica entre sociedade e meio ambiente. Mas será esse o caminho para uma verdadeira sensibilização social a fim de se repensar a atual forma de modelo econômico que tem nos conduzido a esse caos ambiental ?

Tragédias anunciadas.

Que o aquecimento global está direcionando o clima para padrões nunca vistos antes, todo mundo sabe. Que os efeitos serão desastrosos, já estamos cansados de ouvir. Agora é na prática que estamos vendo tudo o que estava previsto. A Europa se assusta com uma nuvem gigante: A erupção de um vulcão que não tinha atividade desde 1821 leva uma nuvem de cinzas enormes para quase toda a Europa prejudicando seriamente as companhias de aviação. Grande Tempestade de neve castiga os Eua: A forte nevasca que cobriu o lesto dos eua, parou as atividades, deixou muitas regiões sem energia elétrica, fechou aeroportos e causou até mortes.

Chega de transmitir a impressão que os efeitos do caos climático só serão sentidos pelas próximas gerações. Sem demagogia, as mudanças climáticas JÁ AFETAM a população com efeitos devastadores. E algumas tragédias podem ser evitadas. Mas será que estamos determinados a combater a omissão das autoridades capazes de evitar esses desastres ?

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Cuidado com as futuras vítimas.

Depois das tragédias em São Paulo e Santa Catarina, chegou a vez do Rio de Janeiro sofrer com os efeitos das chuvas fortes. A cidade maravilhosa que encanta os turistas, aterrorizou os moradores ao receberem lixo, entulho e lama após o último temporal do mês de abril. As ruas do RJ que estão, na maior parte, em um nível mais baixo que o nível do mar ficaram alagadas não permitindo a circulação da população e o funcionamento de todas as atividades da cidade, exceto as emergências. O problema dos sistemas de drenagem, do lixo e da ocupação ilegal que contribuíram para o número de mortes, feridos e desabrigados, não é novo. Já são décadas de irresponsabilidade e descaso dos governantes que deixaram a cidade se expandirem sobre encostas. Uma cidade precisa de ordenamento para poder crescer e a responsabilidade social não deve depender do tamanho dos estragos para ser exercida. Em qualquer gestão urbana existe a relação de causa e efeito, onde uma gestão problemática desencadeia a desordem de uma cidade. As políticas de desenvolvimento adotadas raramente seguem critérios de ordenamento territorial, como Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE). Com isso as cidades crescem sem infra-estrutura, em geral, causando desmatamento e degradação dos solos, o transporte privilegia a construção de rodovias sem estudo ou propostas de sustentabilidade.

Como e onde podemos atuar ?

Identificando esses graves problemas, a Constituição de 1988 e a Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidades) trazem para os Municípios, a capacidade de regulação urbana das cidades através do Plano Diretor.

Mas o que é um Plano Diretor? Vamos lá... diretriz geral de

política urbana a promoção do “direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras gerações.”

Inclusão da sociedade civil. A legislação também estabelece que os debates sobre a

política urbana devem ocorrer sob a forma de uma gestão democrática, onde o Poder Público deve incluir a sociedade civil.

Mas como?

O Estatuto da Cidade determina que a gestão democrática das cidades será garantida por: órgãos colegiados em todos os níveis da Federação, debates, audiências e consultas públicas, conferências sobre assuntos de interesse urbano e iniciativa popular na elaboração de planos de desenvolvimento urbano. Ou seja, individuo passa a fazer parte da formação do processo decisório. Você sabe como acessar o plano diretor da cidade do Rio de Janeiro: http://spl.camara.rj.gov.br/planodiretor/indexplano.php Precisou acontecer uma tragédia, deixando para trás centenas de vítimas para que se começasse a pensar no planejamento urbano da cidade dita “Maravilhosa”...(ou não)? É... infelizmente mora no dito popular a atual situação da nossa cidade: “Casa arrombada...tranca na porta” !!!

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Por uma justiça ambiental.

Você já parou para observar a paisagem de nossa cidade? Somos constantemente bombardeados com uma visão que nos remete ao caos. Mas isto já não causa nenhuma impressão aos nossos sentidos, afinal... já estamos acostumados. É normal observamos populações marginalizadas habitando locais que, ao contrário do que é dito no Art. 225 de nossa Constituição Federal de “ecologicamente equilibrado” o ambiente não tem nada. Aliás,você já teve a oportunidade de ler essa afirmativa? Não? Pois saiba que se trata do que exerce na Constituição Federal o papel de principal norteador do meio ambiente. Assim está escrito: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Notou alguma contradição entre o que está sendo dito e o que está sendo feito? Onde se encontra o problema?

O cerne desse debate tem como alicerce uma das questões que possui muito discurso, porém poucas ações no âmbito da política ambiental contemporânea: a justiça ambiental, conceito que enfatiza a distribuição desigual do risco ambiental entre os pobres e as minorias étnicas, em relação ao conjunto da sociedade. Em seu bojo o tema procura investigar se as comunidades de baixa renda e as minorias étnicas constituem-se de fato em grupos mais expostos aos riscos ambientais e à poluição, ou se a sociedade como um todo é atingida de forma homogênea, sem qualquer distinção.

Podemos distinguir três dimensões que regem a ocupação de um território: a política, a econômica e social. A economia direciona a forma de ocupação e apropriação do espaço. Ou seja, as relações econômicas se materializam na forma de casas, prédios, ruas, rede urbana, sistemas de transportes, sistemas de produção agrícola etc. Por exemplo: No RJ observa-se uma clara segregação especialmente quando comparamos áreas como a Zona Sul e Baixada Fluminense. Ana Clara Torres Ribeiro é catedrática em sua fala: “É lamentável o que a instancia econômica hegemônica vem fazendo com nossas vidas”. Infelizmente a dimensão econômica tem um enorme peso na ocupação territorial. Isto é, o crescimento econômico vem sendo superestimado em detrimento do desenvolvimento social. Nas palavras de Henri Lefebvre: “Além da dimensão econômica e social, a Dimensão política e os seus atores são fundamentais para construção das cidades e para a relação das pessoas.”

Dessa forma, percebemos enormes gastos públicos em projetos faraônicos, ou seja, prioriza-se a imagem de uma “Cidade Ideal”, ao mesmo tempo em que procura-se encobrir e isolar a pobreza, montando “Barreiras Sociais”. Ou seja, promovendo a exclusão, a concentração e a valorização da renda.

E aí dizemos...e aí? Será que poderíamos encontrar um pouquinho...só um pouquinho de moral por parte do Poder Público? A palavra MORAL etimologicamente vem de mos, mores e significa costume. É natural que nos acostumemos com muita coisa como tradições familiares e culturais. Porém somos condicionados a naturalizar condicionamentos que muitas das vezes são no mínimo preconceituosos, a termos percepções morais repressivas e até mesmo se acostumar com a injustiça, achando que as coisas são assim mesmo...E aí perguntamos: será que são mesmo?

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Deixaremos você refletindo sobre o tema através da fala de Bertold

Brecht:

“Nós vos pedimos com insistência:

não digam nunca isso é natural,

diante dos acontecimentos de cada dia.

Numa época onde corre o sangue,

onde se ordena a desordem;

onde o arbitrário tem força de Lei;

em que a humanidade se desumaniza...

Não digam nunca,

isso é natural! Para que nada passe por ser imutável!”

Nina Beatriz Pellicione/junho de 2010

“Além da dimensão econômica e social, a Dimensão

política e os seus atores são fundamentais para construção das cidades e para a relação das pessoas.”

Henri Lefebvre

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