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EMPREENDEDOR MULTIMÍDIA

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20 | Edição #38 |

CAPA

• por Simone Galib

O HOMEMDAS PARCERIAS

Como o jornalista e publicitário João Doria, fundador e presidente do LIDE, grupo que reúne 52% do PIB nacional, se tornou um dos empresários articulados e influentes do país. Aqui, ele fala sobre turismo, eventos, negócios e a atual crise no Brasil

PODEROSAS

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CAPA

Há pessoas que nascem com

o dom da negociação, da

comunicação, têm feeling

apurado para captar oportunida-

des e a habilidade de fazer ótimos

negócios, inovando no formato e

unindo forças. Elas transitam pelos

mais diversos segmentos, com dis-

ciplina e diplomacia, o que resulta

em relacionamentos importantes,

além de rumos inesperados de vida

e de carreira. Esse é o caso do em-

presário multimídia João Doria, CEO

do Grupo Doria, além de presidente

do LIDE, o grupo de líderes empre-

sariais, fundado por ele, que hoje,

com mais de 1.700 afiliados, repre-

senta 52% do PIB do país. E que em

constantes fóruns, nacionais e in-

ternacionais, seus membros deba-

tem alguns dos principais assuntos

do Brasil e do mundo.

Não é pouca coisa, não! Mas

também não chega a ser uma sur-

presa para o círculo de parceiros e

amigos de Doria, muitos dos quais

o acompanham desde a juventude.

Eles nunca duvidaram que o “me-

nino prodígio”, como era chamado

pelo então governador Mário Covas,

iria explorar todo o seu potencial

como empreendedor. E o garoto,

bem nascido, aprendeu muito cedo,

aos 13 anos, como transitar em si-

tuações nada confortáveis para um

pré-adolescente.

INFÂNCIA SOFRIDAApesar da carreira bem suce-

dida como jornalista, publicitário,

apresentador de TV e homem de

negócios, o empresário passou por

grandes dificuldades na infância

e trabalhou duro para alcançar os

seus objetivos. Filho do deputado

federal João Doria, ele viu o pai,

um parlamentar ousado e engaja-

do, perder todo o seu patrimônio

ao ser exilado, em 1964, no início

da ditadura (os chamados anos de

chumbo), período difícil da história

do país, que se estendeu até 1985. O

deputado, então com dois anos de

mandato, foi cassado já na primeira

lista, por se opor ao regime militar.

Era um democrata convicto.

O exílio mudou radicalmente a

vida da família, que vendeu parte do

patrimônio e foi morar na França.

Porém, o dinheiro acabou mais rápi-

do do que planejavam e eles retor-

naram a São Paulo. Doria até chegou

O empresário, jornalista e publicitário João Doria, também presidente do LIDE

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a se matricular no tradicional Rio

Branco, o colégio frequentado pela

elite paulistana, mas precisou sair

por falta de condições financeiras.

Foi para uma escola pública, cursou

publicidade e jornalismo e a partir

daí começou os primeiros passos

na carreira, estagiando na agência

Stardard, que pertenceu ao pai nos

bons tempos. A mãe também foi

trabalhar para ajudar no orçamento

doméstico. Ela faleceu muito jovem,

aos 36 anos.

O pai retornou ao Brasil, em

1974, em uma condição financeira

complicada, a exemplo de muitos

brasileiros forçados a deixar o país

no período da ditadura. Coleciona-

dor de arte, ele vendeu seus qua-

dros durante o exílio para sobrevi-

ver. À época estava com 50 anos,

mas ainda cheio de energia e garra

para recomeçar. “Tirei isso como

uma lição, o sofrimento de minha

mãe e as dificuldades de meu pai.

Ninguém queria chegar perto de

nós”, disse Dória a uma plateia de

João Doria com o cantor Ray Charles,

no programa Sucesso

O jornalista recebe o ator Marcelo Mastroiani no Show Business

João Doria entrevistando Xuxa para o seu programa de TV

O principal desafio dos empresários agora é continuar a produzir, mesmo na adversidade.

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jovens empreendedores da Fiesp

(Federação das Indústrias do Estado

de São Paulo). Ele relembrou ainda

ter feito uma promessa ao pai. “Vou

trabalhar 24 horas.”

TELEVISÃO, EVENTOS E TURISMOPromessa feita, promessa cum-

prida. Aos 18 anos foi para a Tupi,

a primeira emissora de televisão

do país. Subiu rápido, virou diretor.

Também dirigiu a TV Bandeirantes.

Aos 21, assumiu a administração do

Parque Anhembi, o concorrido Cen-

tro de Convenções de São Paulo. Com

um bom staff na retaguarda, acabou

nomeado secretário municipal de

Turismo. Por fim, a convite do gover-

nador Mário Covas, assumiu a presi-

dência da Paulistur, de 1983 e 1986.

Assim, começou sua relação

mais direta com o mercado de

eventos e principalmente com o

turismo. Doria passou a captar re-

cursos da iniciativa privada para

oferecer entretenimento aos pau-

listanos. Criou várias ações, como a

praça do Doce, que funcionava aos

domingos no antigo pátio do Shop-

ping Iguatemi, no Itaim Bibi. Com o

patrocínio de uma poderosa marca

de açúcar, as senhoras doceiras da

cidade eram incentivadas a exibir

ali todo o seu talento, ou seja, doces

maravilhosos.

Foram criados ainda o Espaço

do Livro, na praça Roosevelt, onde a

população podia trocar seus exem-

plares; as praças do Chorinho, em

Pinheiros, e a do Forró, em Itaquera,

na zona leste, além do Passaporte

Doria participando da Praça do Doce,

no Itaim Bibi, como presidente da

Paulistur

Ainda como presidente da Embratur, no lançamento de uma campanha para deficientes físicos.

O empresário durante um evento em São

Paulo com o ministro José Hugo Castelo

Branco e Antonio Carlos Magalhães

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Como ex-presidente da Paulistur, ex-secretário de Turismo, atual vice-presidente do São Paulo Conventions & Visitors Bureau e conselheiro do Masp, João Doria acredita que a solução para incrementar o turismo e os negócios na cidade são as parcerias, marca registrada de sua gestão empresarial.“É preciso buscar recursos nas agências de fomento, no Brasil e no exterior, para impulsionar o financiamento de programas sociais. E estimular também a entrada de capital externo na economia da cidade, especialmente nos setores de serviços e tecnologia”, afirma. Diz ainda ser favorável à privatização do Parque Anhembi, assim como sua ampliação e modernização tecnológica.Para ele, “São Paulo é um desafio gigantesco. É preciso melhorar urgentemente os serviços públicos, além de modernizar a infraestrutura de equipamentos urbanos. E acrescenta que a área de saúde “é a mais preocupante, embora os desafios não sejam menores em relação aos problemas na educação, mobilidade urbana e segurança pública.”

SÃO PAULO É UM DESAFIO GIGANTESCO

A história de um vencedor, a história de alguém que preza o seu sobrenome, é história com ética, com princípios, transparência, com decência.

No comando da Paulistur

Eliti denis dellita tendem volorrupta volessus

Na presidência da Embratur, em Brasília

1ª foto: Lançamento da campanha Respeite os Turistas voltada aos motoristas de táxi

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Trabalho muito e durmo pouco. Tenho paixão por

tudo o que faço e quem tem paixão, faz melhor.

São Paulo, com descontos em ci-

nemas, restaurantes e museus. “O

lazer é cultural”, costumava dizer.

Nos anos 1980, mais de 110 eventos

acabaram incorporados ao calendá-

rio da cidade. Doria também foi um

dos fundadores do São Paulo Con-

ventions & Bureau.

A boa performance à frente da

Paulistur serviu de trampolim para

que ele assumisse a presidência da

Embratur, durante o governo de

José Sarney, época em que também

esteve à frente do Conselho Nacio-

nal de Turismo. O jovem empresá-

rio levou para Brasília o mesmo mo-

delo de gestão, incluindo o apoio da

iniciativa privada e do trade, para

dar maior visibilidade ao Brasil no

exterior, além de incentivar o turis-

mo doméstico.

MUITA DISCIPLINA E POUCO SONO Hoje, o grupo que leva o seu

nome tem seis empresas, que atuam

nas áreas de eventos e marketing. Ele

é também publisher da Doria Edito-

ra, com 19 revistas, cujo público alvo

são empresários e leitores classe A.

Já escreveu livros sobre empreen-

dedorismo, apresenta o programa

Show Business na Band, assina uma

coluna na revista Forbes e ainda faz

palestras, cujo teor é baseado em

sua própria experiência de vida e

em mais de 3 mil entrevistas reali-

zadas, como jornalista, ao longo dos

últimos 20 anos.

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Como todo bom empreende-

dor é movido a desafios, Doria, um

homem extremamente perfeccio-

nista, realizado pessoal e profissio-

nalmente, resolveu aceitar mais

uma tarefa, digamos assim, nada

simples. Ele vai pela primeira vez

encarar as urnas e é pré-candidato

à Prefeitura de São Paulo nas elei-

ções de 2016, pelo PSDB. Explica que

a ideia surgiu do próprio partido, o

qual acredita que a política precisa

de renovação.

Casado, pai de três filhos e com

uma agenda capaz de deixar qual-

quer workaholic sem fôlego, ele ain-

da marca forte presença nas mídias

sociais, com várias páginas no Face-

book, contas no Twitter e no Insta-

gram. Ou seja: está sempre no ar e

em diversos lugares ao mesmo tem-

po, algo que adora. Como encontra

tempo para administrar tanta coi-

sa?, pergunto a ele.

“Sempre fui disciplinado. Isso

me ajuda a conseguir conciliar os

compromissos. Trabalho muito e

durmo pouco. Tenho paixão por

tudo o que faço. E quem tem pai-

xão, faz melhor”, explica.

PIOR CRISE DOSÚLTIMOS 50 ANOS

Doria, com o apoio dos prin-

cipais empresários, não tem poupa-

do críticas ao momento vivido pelo

país. No final do último fórum do

LIDE, realizado em agosto, no Gran-

de Hyatt, em São Paulo, cujo tema

foi O Brasil que nós queremos, ele

disse que “há um grau elevadíssimo

de desconfiança do empresariado

em relação ao governo, o que difi-

culta a elaboração de um projeto

econômico para que o Brasil volte

a crescer.” Aliás, opinião comparti-

lhada pela maioria dos cerca de 400

convidados do encontro, entre eles

executivos, jornalistas, historiado-

res e políticos.

Um mês depois, com a situação

se agravando, pergunto a ele, antes

de fechar esta entrevista, qual o prin-

cipal desafio dos brasileiros diante

de tamanha instabilidade. Doria diz

que “o país enfrenta a sua pior crise

dos últimos 50 anos. A economia está

em recessão e não há perspectiva de

melhora deste cenário, visto que 2016

também será um ano de recessão.”

o LIDE, que hoje reúne alguns dos mais expressivos empresários do país, foi criado por João Doria, em 2003, para promover a interação entre empresas, organizações e entidades privadas, estimulando os debates em todos os setores, inclusivo o público.Há 12 anos, a primeira carta de intenção para sua fundação foi assinada por 100 empresas. Em menos de cinco anos, já eram 400. Hoje, são mais de 1.700 filiados, nacionais e internacionais.os fóruns, almoços, jantares e encontros do grupo costumam acontecer no Brasil e no exterior, reunindo CEos de empresas, como Magazine Luiza, Boticário, Alpargatas e banqueiros - só para citar alguns exemplos. os assuntos colocados em pauta são os mais diversos, mas há um tripé básico, que é educação, inovação e sustentabilidade. Eles defendem a união de forças para tornar o Brasil um país melhor, do ponto de vista social, político e econômico.

ABERTURA DE DIÁLOGOS

O sempre sorridente e alto as-

tral João Doria, agora, demonstra

grande preocupação quando o as-

sunto é crise. “O Brasil está um país

triste, perdedor.” E vislumbra tem-

pos ainda muito difíceis. “O povo e

o país, infelizmente, vão pagar um

preço caro pela incapacidade do go-

verno. A retração de investimentos,

a queda da produção industrial, o

aumento da inflação e o crescimen-

to do desemprego trazem reflexos

negativos para toda a sociedade. É

um momento de cautela, mas não

devemos ficar parados.

Para ele, “o principal desafio

que todos os empresários enfren-

tam agora é o de continuar a produ-

zir, mesmo na adversidade.”

Que assim seja!