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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Mestrado Comunicação nas Organizações
Processos de Influência e Socialização
Socialização no Trabalho
Magda Pimentel
Ano Lectivo – 2010-2011
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Índice
Resumo
1 – A Socialização e a Socialização Organizacional
2- Tácticas de Socialização Organizacional
3 – A Socialização no Trabalho
Bibliografia
Resumo
Viver em sociedade significa ser socializado pelos grupos de referência, que
transmitem valores, crenças, normas e modelos comportamentais. A Socialização
consiste na interiorização que cada indivíduo faz, desde que nasce até que morre, dos
hábitos, culturas e de todas as outras características da sociedade em que está inserido.
O primeiro contacto que o ser humano tem com a socialização é logo após o parto,
através da família. Depois o processo de socialização passa pela escola, pelo grupo de
amigos, pela comunicação social, pelo emprego, entre outros agentes da sociedade.
No local de trabalho o indivíduo é socializado a partir do momento em que entra para
a empresa. Através de tácticas de socialização organizacional o recém-chegado aprende
e adquire as normas, os valores, os comportamentos e os conhecimentos necessários
para participar na organização como um membro. No entanto, diferentes formas de
socialização resultam de diferentes formas de adaptação dos novos profissionais às
organizações.
Apesar da minha pouca experiência profissional passei por diversas formas de
socialização sempre que entrei numa nova organização.
1 – A Socialização e a Socialização Organizacional
Socialização é a assimilação de hábitos, crenças, normas, culturas e modelos
comportamentais característicos de uma determinada sociedade. É o processo através do
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qual um indivíduo se integra no grupo que o rodeia, adquirindo as suas características
próprias. É através da Socialização que o indivíduo aprende a interagir com outras
pessoas e a construir a sua própria personalidade. Trata-se de um processo contínuo, que
se inicia após o nascimento, e continua para o resto da vida.
Existem dois tipos de Socialização: a socialização primária e a socialização
secundária. Na socialização primária a criança aprende e interioriza as regras básicas da
sociedade, a sua linguagem, cultura, valores, normas e modelos comportamentais do
grupo a que se pertence. É a socialização feita pela família e pelas pessoas mais
próximas da criança. A socialização secundária é todo o processo subsequente que
introduz um indivíduo já socializado em novos sectores de socialização da sociedade a
que pertence. É a socialização feita na escola, no grupo de amigos, no trabalho.
A socialização organizacional é o processo segundo o qual um indivíduo adquire as
atitudes, comportamentos e conhecimentos necessários para participar na organização
como um membro. A socialização é muito importante para as organizações, pois
assegura a continuidade dos seus valores e normas, que são incorporados pelos novos
funcionários.
2 - Tácticas de Socialização Organizacional
As tácticas de socialização organizacional pretendem estabelecer uma ligação entre os
profissionais recém-chegados a uma organização e a própria organização. É através
destas tácticas que se procura que o indivíduo se adapte à empresa através da
incorporação das suas normas, valores, hábitos e modelos comportamentais.
Os profissionais recém-chegados a uma nova organização são confrontados com
diferentes dificuldades, principalmente relacionadas com o processo de adaptação e com
a incorporação de diversas normas e valores, muitas vezes contraditórias ás suas
atitudes e comportamentos pessoais. Com o objectivo de evitar uma convergência entre
os valores pessoais e os valores organizacionais alguns estudiosos apresentaram várias
formas de socialização organizacional. Van Maanen & Schein (1979) identificaram seis
tácticas distintas: colectiva versus individual, formal versus informal, sequencial versus
aleatório, fixa versus variável, série versus isolada e investidura versus despojamento.
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Mais tarde, essas tácticas formam contextualizadas por Jones (1986) em três factores:
contexto, conteúdo e aspectos sociais. O contexto está relacionado com as tácticas
colectivas/individuais e formais/informais, o conteúdo com as tácticas
sequenciais/aleatórias e fixas/variáveis e os aspectos sociais com as tácticas em
série/isoladas e de investidura/despojamento.
A socialização é colectiva quando os novos trabalhadores participam juntos nas
experiências comuns de aprendizagem; individual sempre que o recém-chegado tem um
conjunto de experiências singulares. A socialização é formal quando os novos
profissionais são separados dos outros membros da organização enquanto aprendem as
suas funções; informal quando o indivíduo aprende as suas tarefas junto dos membros
da empresa; uma socialização colectiva informal produz melhores resultados. A
socialização é sequencial se proporciona informações explícitas sobre a sequência de
actividades que os recém-chegados irão participar; aleatória quando a sequência de
actividades é incerta. A socialização é fixa quando proporciona um cronograma preciso
associado a cada etapa do processo; variável quando ocorre o oposto. A socialização é
em série se os trabalhadores mais experientes da organização servem de modelo para os
iniciantes; isolada se o novo profissional desenvolve sozinho as suas competências. A
socialização é em investidura se os membros mais antigos apoiam o novato; em
despojamento quando não o valorizam.
Além das seis tácticas e dos três factores deve-se ter ainda em conta no processo de
socialização outros aspectos, nomeadamente os valores iniciais de congruência, as
experiências de trabalho anteriores e o número de ofertas de emprego que o indivíduo
tem à escolha.
3 – A Socialização no Trabalho
Na minha vida profissional, sempre que entrei numa nova organização fui socializada
pelos meus superiores de diferentes formas. No entanto, em todos os empregos que tive,
sejam eles temporários ou não, fui confrontada com diferentes dificuldades,
relacionadas sobretudo com o processo de adaptação e com a incorporação de normas,
valores ou modelos comportamentais diferentes aos que possuía.
Durante cerca de três meses trabalhei durante o fim-de-semana como Promotora de
um produto na área das comunicações móveis num supermercado Continente na minha
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área de residência. O processo de socialização iniciou-se duas semanas antes do
desempenho das minhas tarefas através de uma formação ampla e complexa realizada
em grupo. Durante a formação os futuros promotores não aprenderam apenas todas as
características do produto mas também formas de interagir com futuros clientes e
persuadi-los a uma possível compra. Para além disso, tomaram conhecimento da forma
como deveriam apresentar-se em termos de visual e de linguagem corporal. Aos futuros
promotores era-lhes pedido que usassem uma camisola com a identificação da marca,
fornecida pelo supermercado, jeans, calçado fechado e uma apresentação cuidada com o
cabelo ou maquilhagem. Peças de vestuário como sandálias, saias, vestidos ou calções
não eram permitidos assim como era proibida a utilização de telemóveis durante a hora
de trabalho.
Para além da formação inicial com todos os colaboradores da campanha, os
promotores ainda foram socializados com os seus colegas de trabalho no mesmo
supermercado no primeiro dia de trabalho e com outros funcionários de outras áreas do
supermercado Continente.
Ora, de acordo com as tácticas de socialização apresentadas por Van Maanen &
Schein a socialização que tive como Promotora no Continente foi colectiva, informal,
sequencial, fixa, isolada e em despojamento. Foi uma socialização colectiva porque foi
realizada em grupo; informal porque na segunda fase a formação foi feita com
funcionários já experientes; sequencial e fixa porque existiu um cronograma associado a
cada tarefa e isolada e em despojamento pois, visto de se tratar de um trabalho
temporário não poderia ser feita de outra forma.
No entanto, apesar de ter sido uma socialização com recurso a tácticas que
normalmente podem ter um bom resultado, pessoalmente tive algumas dificuldades em
incorporar as normas, valores e modelos comportamentais propostos, principalmente as
regras relacionadas com a apresentação, visual e persuasão de clientes. Como a
campanha foi realizada durante o Verão (Julho a Setembro) tive bastantes dificuldades
em me vestir de acordos com os códigos de vestuário. Para além disso, como não gosto
que as pessoas me aborreçam com a divulgação de novos produtos, não foi fácil a
abordagem que tive com as pessoas e a forma como as tentei persuadir.
Paralelamente enquanto exercia as funções de Promotora, durante a semana (de
segunda a sexta-feira) trabalhava como estagiária numa Agência de Comunicação em
Lisboa. Os dois trabalhos têm características diferentes e como tal também utilizaram
diferentes tácticas de socialização. O primeiro teve a duração de três meses e foi a
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contrato; o segundo teve a duração de um ano e foi a recibos verdes. Para além disso, o
segundo foi na minha área de formação académica e orientado por um coordenador de
estágio.
A socialização na Agência de Comunicação iniciou-se desde que fui à entrevista de
emprego e fui informada de todas as normas e regras da empresa. Quando iniciei as
minhas tarefas como estagiária já tinha conhecimento das características da empresa, tal
como ocorrera no caso da Promoção no Continente, embora só tenha tido formação a
partir do primeiro dia de trabalho. Durante uma semana estive à experiência e só depois
é que fui “contratada”. Desde o primeiro momento em que comecei a exercer as minhas
funções tive a possibilidade de ser acompanhada por profissionais mais experientes e de
interagir com outros estagiários. Neste caso, para além de poder tirar dúvidas com os
meus superiores podia ainda trocar ideias com aqueles que estavam na mesma situação.
Ao contrário da Promoção no Continente, na Agência de Comunicação não tinha
qualquer código de vestuário. Isto significa que poderia ir tanto de havaianas ou de
calções como de sapatos ou blaser que ninguém criticava o que vestia. As normas de
comportamento impostas inseriam-se sobretudo no próprio trabalho, que deveria ser
realizado nos horários estabelecidos, sem distracções durante esse período.
Ora, de acordo com as tácticas de socialização apresentadas por Van Maanen &
Schein a socialização que tive como Estagiária na Agência de Comunicação foi
colectiva, informal, sequencial, fixa, em série e em investidura. Foi uma socialização
colectiva porque foi realizada em grupo; informal porque foi feita em contacto com os
outros membros da empresa; sequencial e fixa porque existiu um cronograma associado
a cada tarefa; em série porque os trabalhadores mais experientes serviram de modelos e
em investidura, pois os membros mais antigos apoiaram os recém-chegados.
Contudo, ao contrário do caso anterior em que tive algumas dificuldades de
adaptação, neste caso consegui interiorizar as diferentes normas, valores e modelos de
comportamento facilmente.
Apesar de existirem tácticas de socialização semelhantes entre os dois tipos de
trabalho é certo que também foram utilizadas formas de socialização contraditórias. As
tácticas em série versus isolada e investidura versus despojamento constituem as
principais diferenças.
Assim, as diferentes formas de socialização resultaram de diferentes formas de
adaptação que tive nestes dois trabalhos.
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Bibliografia
CABLE, Daniel M., PARSONS, Charles K., Socialization tactics and
personorganization fit, Personnel Psychology, 2001
CHAO, Georgia T., O’LEARY-KELLY, Anne M., WOLF, Samantha, KLEIN, Howard
J., GARDNER, Philip D., Organizational socialization: Its content and
consequences, Journal of Applied Psychology, 1994
JONES, Gareth R., Socialization tactics, self-efficacy and newcomers adjustments to
organizations, Academy of Management Journal, 1986
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