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20 | Edição #36 | CAPA Depois de trocar o rock pela carreira de vendedor, Caito Maia transformou a Chilli Beans na maior rede de óculos e acessórios da América Latina. A marca também está presente na Europa, nos Estados Unidos e até no Oriente Médio. Com seu design arrojado, alta tecnologia, preços acessíveis e boas parcerias, vende 1,5 milhão de produtos por ano por Simone Galib fotos Ricardo Lisboa HOMEM DE VISÃO

LENTE DE AUMENTO, O IMPÉRIO CHILLI BEANS

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20 | Edição #36 |

CAPA

Depois de trocar o rock pela carreira de vendedor, Caito Maia transformou a Chilli Beans na maior rede de óculos e acessórios da América Latina. A marca também está presente na Europa, nos Estados Unidos e até no Oriente Médio. Com seu design arrojado, alta tecnologia, preços acessíveis e boas parcerias, vende 1,5 milhão de produtos por ano

• por Simone Galib • fotos Ricardo Lisboa

HOMEM DE

VISÃO

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Se existe alguém no Brasil

que enfrenta a atual crise,

avaliando-a como momen-

to de oportunidades, está em plena

expansão e com taxa zero de baixo

astral, este irrequieto empresário

tem nome, sobrenome, centenas

de lojas, muitos projetos novos e

não para de criar. De quem se tra-

ta? Ora, de Caito Maia, fundador e

presidente da Chilli Beans, a maior

marca de óculos e de acessórios da

América Latina. Fundada por ele

em 1998, hoje a rede tem 700 pon-

tos de venda no país, entre lojas e

quiosques, estando também pre-

sente nos Estados Unidos, Portugal,

Colômbia, México, Peru, Kuwait e

Dubai. Recentemente, abriu sua pri-

meira flagship internacional em um

ponto estratégico: na Third Stre-

et Promenade, uma das ruas mais

descoladas e bem frequentadas de

Santa Mônica, na Califórnia. Em

Portugal, a do Shopping Colombo

é a maior das 12 lojas que a marca

tem no país. A Chilli Beans vende

1,5 milhão de produtos por ano. Po-

rém, ele quer mais e já provou que

sua visão é de longo alcance.

Caito fala com orgulho (no

sentido positivo) de sua expansão

no exterior, especialmente na Amé-

rica. “Estamos bombando. Nossa

loja da Califórnia está em frente à

da Apple e é a que mais fatura. Na

de Hollywood, o tapete vermelho

(do Oscar) passa na frente, a de Mia-

mi fica bem no meio da movimen-

tada Lincoln Road e a de Las Vegas

tem vista para a maior roda gigante

da cidade”, diz. É claro que nada

aconteceu de um dia para o outro

no país do consumo, onde a con-

corrência é grande. “Levei seis anos

para azeitar a minha operação nos

Estados Unidos”, diz ele, acrescen-

tando que lá os quiosques não fun-

cionam. Em geral, “todas as minhas

lojas internacionais vendem muito

bem.”, diz ele.

No Brasil, a Chilli Beans está

muito bem representada, espe-

cialmente na flagship store da rua

Oscar Freire, nos Jardins, uma das

ruas mais sofisticadas de São Pau-

lo. A loja, de 700 m², tem a cara da

marca: é toda branca, tem design

super moderno, palco para shows e

galeria de arte, além de um estoque

com 2,5 mil produtos. Ali também

estão em destaque os modelos de

parcerias com estilistas e artistas e

a primeira máquina de customizar

óculos do mundo.

ROCK´N`ROLL, MODA E PIMENTA A escalada do empreendedor

começou de um jeito bem informal.

Batizado com o nome de Antonio

Caio Gomes Pereira Filho, homôni-

mo do pai, acabou transformando

o pseudônimo Caito Maia, dado por

um amigo de infância, em sinônimo

de grife e sucesso. O curioso é que

sua vocação parecia estar predesti-

nada à música, que sempre ferveu

em seu sangue desde a adolescên-

cia. Viajava frequentemente a Nova

York para comprar instrumentos

musicais, revendê-los no Brasil e ga-

Fachada da moderna flagship da Chilli Beans, na Oscar Freire, nos Jardins

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nhar dinheiro para tocar. Teve três

bandas e chegou a se apresentar em

casas famosas nos anos 1990, como

a Aeronta. Com a terceira e última,

Las Ticas Tienen Fuego, em que to-

cava guitarra e era vocalista, con-

correu ao famoso prêmio da MTV.

Aos 19 anos foi fazer faculda-

de de música em Boston e trouxe

na mala 200 óculos para os ami-

gos. Assim o produto entrou na sua

vida – e não saiu mais. Revendia-

-o para algumas marcas nacionais,

com um método bem simples: es-

tacionava o carro nos shoppings,

visitava lojas, mostrava os óculos,

emitia a nota fiscal e depois retor-

nava para buscar novos pedidos.

Os modelos continuavam sendo

trazidos dos Estados Unidos.

Caito tinha uma rotina insana

de sacoleiro: embarcava às terças-

-feiras para Los Angeles e Nova

York, enchia a bagagem com as

peças, tomava um banho rápido no

aeroporto e voltava para São Pau-

lo. No final dos anos 1990, teve um

stand no Mercado Mundo Mix, feira

itinerante que rodava o Brasil, com

produtos de vanguarda, assinados

por gente talentosa, como os hoje

estilistas Marcelo Sommer e Ale-

xandre Herchcovitch, entre mui-

tos outros. Foi a partir dali que ele

sentiu a necessidade de criar uma

marca própria. “Era um simples

vendedor de óculos e queria ter um

nome simpático, mas não glamou-

roso, que fosse falado no mundo

inteiro”, conta o empresário.

Assim, surgiu a Chilli Beans

(chili em inglês significa pimenta).

O nome e o logo foram escolhidos

devido à paixão de Caito pelas tais

pimentas. “Adoro, já perdi até o

paladar por conta disso, as pimen-

tas são a minha santa protetora”,

diz ele, que tem vidros de diversos

tipos, inclusive no showroon da

marca, em Alphaville, onde traba-

lham 323 pessoas. Na sequência,

abriu uma pequena loja na galeria

Ouro Fino, da rua Augusta, ponto

de encontro da chamada turma

underground ou alternativa da

capital paulista. Logo, no espaço

de apenas 9 m², surgiam filas de

consumidores, atraídos pelos ócu-

los de sol com lentes coloridas e

Caito Maia tem uma estante só de presentes que ganha quando visita as lojas franqueadas

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design diferenciado. A pimenta, ao

que tudo indica, deu sorte...

MÁQUINA DE ÓCULOSA vocação para inovar no mer-

cado faz parte do DNA da marca,

que criou uma identidade cheia de

sex appeal, personalidade e atitu-

de. A Chilli Beans abriu o primeiro

quiosque, no Shopping Villa Lo-

bos, trazendo para o varejo ótico

o conceito de self service. Ou seja:

o cliente pode manusear e experi-

mentar o produto, tendo 15 dias de

adaptação, antes de comprá-lo. Foi

também a pioneira ao lançar ven-

ding machines (máquinas de ven-

das) de óculos e de permitir que o

cliente crie o seu próprio modelo.

Outro diferencial, criado em 2012

em todas as lojas e quiosques da

rede foi o Chilli+, uma ferramen-

ta de alta tecnologia, desenvolvida

pela IBM, na qual câmeras adapta-

das filmam o cliente e

congelam sua ima-

gem. Assim, ele pode

se ver com os óculos

que está experimen-

tando e ainda enviar as

imagens para o e-mail e

redes sociais. Este ano, foi

eleita como a melhor franquia

do país pela Associação Brasi-

leira de Franchising.

Sim, há sempre novidades e não

faltam emoções nos domínios do

carismático Caito Maia (veja box).

“Não sou mais baby, nem marca

nova. Então, preciso me cutucar,

me questionar constantemente.

Aqui nada é definitivo, mas mutan-

te. Meu diretor de marketing, por

exemplo, veio da Adidas”, revela.

Essa equipe afinada lança, segundo

ele, dez modelos novos de óculos

por semana, com variação de cores,

estampas e grafismos, além de cin-

co relógios e três modelos de grau

(estes últimos representam 30%

dos produtos). E Caito, usa óculos?

Curiosamente, ele fez uma cirurgia

para se livrar dos 7,5 graus de mio-

pia que tinha em cada olho. “Hoje,

uso só para ter estilo. As pessoas

compram óculos por isso”, diz ele.

MÚSICA, MODA E ARTEOs produtos da marca costumam

ser consumidos por um público, de

15 aos 35 anos. Esse é o foco (os ado-

lescentes e jovens, por exemplo, ado-

ram). Mas a rede também tem uma

linha infantil; não existe nada rígido

e qualquer adulto pode se identificar

com os modelos de óculos, acessórios

e relógios. “Somos democráticos. Não

somos música eletrônica, mas sim

rock´in´roll, bossa nova...”, diz. Outro

fator que incide diretamente nas ven-

das é o preço - os óculos de sol com

design e qualidade custam em média

R$ 265,00. “Não dou desconto, mas

tenho preços honestos. Ganho no vo-

lume e com a cultura.”

Música, moda e arte formam

o tripé da rede. Por isso, são feitas

parcerias constantes com estilistas,

designers e renomados artistas. A

Chilli Beans tem coleções assinadas

por Alexandre Herchcovitch (que

carregou caixas no Mercado Mundo

Mix, junto com Caito, no início da

carreira), Gloria Coelho e Ronaldo

Fraga, entre outros. Está sempre

presente nas semanas de moda

do país, provocando barulho.

Em março do ano passado, fez

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sua primeira parceria internacional

com a Kravitz Design, braço de de-

sign do músico Lenny Kravitz. A co-

leção foi lançada simultaneamen-

te no Brasil e nos Estados Unidos.

Também apoia festas, shows e os

maiores eventos de música do Bra-

sil e do mundo, como o Rock in Rio.

Uma das ações que geraram

mega repercussão foi feita em abril

deste ano, na ocasião do lançamento

da coleção Punk Glam, em parceria

com a marca austríaca Swarovski.

A Chilli Beans trouxe ao país o astro

do punk mundial, Iggy Pop, que arre-

bentou um óculos gigante, coberto de

cristais, em plena São Paulo Fashion

Week. “Tivemos mais retorno de mí-

dia do que o desfile de despedida de

Gisele Bundchen. Só no Google foram

48 páginas”, comemora Caito.

DISCIPLINA E FOCOCaito Maia trabalha e viaja mui-

to. Diz visitar em média 200 lo-

jas da rede por ano (50 delas

em três dias) para ter contato

com o varejo e aprender sem-

pre mais. “É assim que damos

um up grade.” Casado, pai

de dois meninos, de 3 e 5

anos, conta que coloca

seus filhos na cama

três vezes por sema-

na. Malha todos os

dias e tem uma ali-

mentação equilibra-

da. Como consegue

dar conta de tudo?

“Sou extremamente

disciplinado. Na minha

caixa de entrada e saída

de e-mails não sobra ne-

Da coleção de lançamentos da Chilli Beans, três prometem causar frisson. Agora em julho, a marca vai colocar no mercado óculos e relógios inspirados nas cantoras Rita Lee, Amy Winehouse e na banda Ramonas. O de Amy é um modelo, de estilo gatinho, imitando o traço marcante que ela usava no olho. As pulseiras trazem desenhos de suas roupas. Já o de Rita tem armação redonda, sua marca registrada. Aliás, Rita e Caito discutiram juntos a criação do produto. O relógio dos Ramonas vem em formato de disco de vinil e o ponteiro se inspira nas antigas vitrolas. Viagens S/A viu tudo em primeira mão – e adorou!No último trimestre do ano, Caito vai lançar a coleção Beatles, no programa The Voice, da Globo. Os novos produtos terão ações poderosas de marketing. A

partir de 1º de agosto, ele também já começa a vender as passagens para o Fashion Cruise Chilli Beans, que teve a sua primeira versão este ano e fez sucesso. O projeto começou como uma convenção anual, até então realizada de forma convencional, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Há dois anos, ele contratou um

diretor artístico do Cirque du Soleil, que transformou o encontro de negócios em um evento descolado em alto mar.

A primeira versão estreou este ano. Para a próxima, que vai ocorrer no primeiro final de abril em um super transatlântico,

o tripé música, moda e arte ganha reforço. Caito diz estar negociando o cachê com uma grande banda internacional (cujo nome é ainda segredo). Além de todos os representantes da rede, estarão também a

bordo mais de 30 artistas plásticos e gente de grandes marcas do universo fashion, que farão 25 desfiles. “Será

como um workshop de uma grande faculdade de moda”, promete o focado presidente da Chilli Beans.

RITA LEE, AMy WINEHOUSE + CALENDÁRIO FASHION

nhum, porque respondo tudo na

hora e depois ganho tempo”, expli-

ca. Para ele, a disciplina e a repeti-

ção constante geram a perfeição.

Outro segredo da vida, diz, é o foco

nos projetos e nos produtos. “As

grandes ideias se perdem se não fo-

rem direcionadas.” Indagado sobre

a atual situação econômica do país,

é taxativo: “Você escolhe se quer

estar em um país de oportunidades

ou de crise, eu prefiro a primeira op-

ção”, diz, otimista.

O visionário dono da Chilli Be-

ans tem ainda muitos projetos.

Quer chegar às Olimpíadas de 2016

com mil pontos de venda. “Meu so-

nho é ser uma marca global.”

Alguém duvida que ele vai che-

gar lá?