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206 PARTE 3 / CAPÍTULO 6 / GARRA PARA CONTINUAR Criado há dois anos, o Factory tem como objetivo mudar a forma como as pes- soas trabalham e concretizam ideias, e tem estado, desde sempre, associado ao otimismo proativo que alimenta cada empreendedor. Muita da sua história se confunde, na verdade, com a divulgação e promoção do empreendedorismo através de eventos que ora organiza, ora acolhe. Para além de um espaço de trabalho partilhado por microempresas, freelancers e startups, o Factory tornou-se uma referência para aqueles que procuram um espaço de tra- balho mas, sobretudo, pessoas de pensamento aberto e disponível para ajudar a concretizar projetos novos. O empreendedorismo é um fenómeno explosivo em Portugal. Tornou-se heurís- tica para uma série de significados albergando iniciativas de natureza e âmbito diversos e justificando o aparecimento de diversos programas, entidades, espa- ços e personagens. De gurus a business angels, todos foram aparecendo, introdu- zindo no quotidiano novas expressões, buzzwords e abrindo lugar à importação de todo um catálogo de termos e conceitos novos. O contexto político-económico do País, a proliferação de promotores, a cum- plicidade dos media e a romantização do ato de empreender parecem ter sido bem sucedidos na capacidade de evangelização: ouve falar-se de empreendedo- rismo por todo Portugal, “de lés a lés”. Cidade que se preze tem um pavilhão gim- nodesportivo, várias rotundas, uma piscina e, agora, uma incubadora. PORTUGAL EMPREENDEDOR Conquistou-se uma coisa incrível: pôr um país, num curto espaço de tempo, a considerar um tema que até aqui era coisa de minoria. Muitos foram aqueles que meteram mãos à obra por conta e esforço próprios ou então participando em aceleradores ou passando por alguma incubadora. Daqui nasce uma indústria, vários metanegócios; players a montante e a jusan- te realizam um trabalho épico de, mais ou menos de repente, perceber como se faz lá fora para começar a fazer cá dentro. Para um país que premiava o trabalhinho estável e pacato, numa boa empresa O NOVO EMPREENDEDORISMO PRECISAMOS DE UMA CONSPIRAÇÃO TIAGO GOMES SEQUEIRA E ALEXANDRE MENDES FACTORY / BUSINESS CENTER & COWORK ··························································································

Precisamos de uma Conspiração! (in A Alma do Negócio - Um Guia prático para os empreendedores em Portugal

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Este capítulo, da autoria de Alexandre Mendes com Tiago Sequeira foi publicado no livro 'A Alma do Negócio - Um Guia prático para os empreendedores em Portugal' pela Editora Sabedoria Alternativa com prefácio de Steve Blank e com os distintos contributos de Inês Santos Silva, Bill Aulet, António Lucena de Faria, Pedro Rocha Vieira, Dana T. Redford entre outros. Um livro a não perder!

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206PARTE 3 / CAPÍTULO 6 / GARRA PARA CONTINUAR

Criado há dois anos, o Factory tem como objetivo mudar a forma como as pes-soas trabalham e concretizam ideias, e tem estado, desde sempre, associado ao otimismo proativo que alimenta cada empreendedor.

Muita da sua história se confunde, na verdade, com a divulgação e promoção do empreendedorismo através de eventos que ora organiza, ora acolhe. Para além de um espaço de trabalho partilhado por microempresas, freelancers e startups, o Factory tornou-se uma referência para aqueles que procuram um espaço de tra-balho mas, sobretudo, pessoas de pensamento aberto e disponível para ajudar a concretizar projetos novos. O empreendedorismo é um fenómeno explosivo em Portugal. Tornou-se heurís-tica para uma série de significados albergando iniciativas de natureza e âmbito diversos e justificando o aparecimento de diversos programas, entidades, espa-ços e personagens. De gurus a business angels, todos foram aparecendo, introdu-zindo no quotidiano novas expressões, buzzwords e abrindo lugar à importação de todo um catálogo de termos e conceitos novos.

O contexto político-económico do País, a proliferação de promotores, a cum-plicidade dos media e a romantização do ato de empreender parecem ter sido bem sucedidos na capacidade de evangelização: ouve falar-se de empreendedo-rismo por todo Portugal, “de lés a lés”. Cidade que se preze tem um pavilhão gim-nodesportivo, várias rotundas, uma piscina e, agora, uma incubadora.

PORTUGAL EMPREENDEDOR

Conquistou-se uma coisa incrível: pôr um país, num curto espaço de tempo, a considerar um tema que até aqui era coisa de minoria. Muitos foram aqueles que meteram mãos à obra por conta e esforço próprios ou então participando em aceleradores ou passando por alguma incubadora.

Daqui nasce uma indústria, vários metanegócios; players a montante e a jusan-te realizam um trabalho épico de, mais ou menos de repente, perceber como se faz lá fora para começar a fazer cá dentro.

Para um país que premiava o trabalhinho estável e pacato, numa boa empresa

O NOVO EMPREENDEDORISMO

PRECISAMOS DE UMA CONSPIRAÇÃOTIAGO GOMES SEQUEIRA E ALEXANDRE MENDESFACTORY / BUSINESS CENTER & COwORK

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ou então, melhor ainda, para o Estado, a transformação que todos vivemos nes-tes últimos dois anos pode bem ter sido uma revolução silenciosa na forma de estar de todo um povo. De repente, tornou-se comum sonhar criar uma empre-sa. Subitamente, tirar as ideias da gaveta e aplicá-las a um modelo de negócio tornou-se bem aceite até para os “meninos ou meninas de bem” que podiam escolher qualquer boa carreira numa multinacional. Houve até desempregados que aplicaram tudo o que tinham para criar um negócio e realizar um sonho. As reportagens sobre pessoas que dão a volta por cima (porque começaram uma empresa) multiplicam-se taco a taco com o número de reportagens sobre pes-soas que emigram. Foi num piscar de olhos que ser CEO se tornou mais sexy do que ser Dj.

O Empreendedorismo apareceu, então, como o remédio para todos os males, dando esperança a toda a gente.

E AGORA?

Num tempo de crise, alguém, alguma coisa, algum tema que ajude a gerar, a manter ou a galvanizar a esperança é sempre bem-vindo. Todos precisamos dis-so, em alguma altura. Falar-se tanto em empreendedorismo é, taxativamente,

uma coisa boa!Falar-se tanto em empreendedorismo hoje, mesmo para quem se desiludiu de alguma for-ma com o tema, ou mesmo para quem já não suporta ouvir falar sobre isso, é para continu-ar. O caminho é de continuação, refinamento e amadurecimento. Começámos pela obsessão

com Silicon Valley que se tornou, de forma transversal, uma referência omni-presente no discurso. De Silicon Valley aprendemos tudo, tentámos até replicar em solo nacional a mesma fórmula. E são várias conclusões que se podem retirar relativamente a quatro temas essenciais numa cultura de empreendedorismo:1) Cultura de Risco.A nossa intolerância pessoal ao risco ou à insegurança do projeto laboral parece crónica. Essa aparenta ser, aliás, uma das características que mais afasta as pes-soas da criação de uma empresa ou de qualquer outro projeto mais emancipado de um vínculo permanentemente estável.

Há imensos detalhes que contribuem para esta forma de estar. Temos de os compreender melhor e temos de saber como os mudar. Esta necessidade de segurança, esta contração da iniciativa mais arriscada percebe-se bem: toda a

“FOI NUm pIScAR dE OLhOS qUE SER cEO SE TORNOU mAIS SExY dO qUE SER dJ.”

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gente quer tomar as decisões certas para o Futuro. Os tempos estão difíceis. Os riscos nunca pareceram tão grandes.

Se, por um lado, nunca como hoje foi tão fácil e tão acessível começar um ne-gócio, também é verdade que, nunca como hoje, a perceção do risco interferiu tanto com o sonho ou a ambição.

É muito frequente ouvirmos pessoas bloqueadas no oxímoro pensamento: “gostava de começar um negócio, mas só vou arriscar numa coisa que seja cer-ta”. Parte do trabalho que se segue é diminuir estas barreiras psicológicas, estes custos de transição.

A grande novidade está na constatação de que nem só os empreendedores re-ceiam. Nem só estas pessoas são avessas ao risco, também os empresários. A

este respeito vale a pena olhar com atenção para o percurso e perfil de investimento dos nossos empresários e dos nossos investidores “de risco”. Devemos ter em conta que, grande parte dos nossos empresários construíram os seus impérios num tempo em que a lógica de investimento era completamente diferente.

Aquilo em que se investia era maioritariamente físico e concreto, sendo que um dos principais aspetos que esta nova economia digital acentuou foi um enor-me gap de comunicação entre empreendedores e potenciais investidores. Não tem só que ver com formação ou educação, tem que ver com um conhecimen-to e tolerância específica para investir num projeto ligado à nanotecnologia ou às life sciences, por exemplo. Compreender e lidar com os tempos em torno dos processos de investigação e desenvolvimento também são ingredientes de uma cultura de risco.

Os investidores não são aventureiros entediados com dinheiro cujo objetivo de vida é procurar onde o esbanjar. O investimento é um jogo de risco, mas, no final de contas, o resultado tem de ser positivo. Parece-nos natural que todos os intervenientes neste ecossistema estejam a aprender. É honesto, no entanto, que reconheçamos que todos temos ainda muito por onde melhorar nos nossos contributos. 2) Ideias.Diagnosticar redundantemente e ter ideias de forma torrencial são hábitos e ta-lentos nacionais. As ideias estão para os negócios como as boas intenções estão para a vida em geral.

Grande parte do trabalho tem sido claramente chamar os empreendedores à Terra da Concretização. Nada contra a ideação. Nada contra a saudável partilha de

“GOSTAVA dE cOmEÇAR Um NEGócIO, mAS Só VOU ARRIScAR NUmA cOISA qUE SEJA cERTA.”

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ideias, mais ou menos trabalhadas. Muito menos, nada contra os visionários que apontam direções, mais ou menos claras. Apenas assinalamos a importância da concretização como determinante fundamental de um negócio. Consideramos, aliás, a nossa missão mais específica: apoiar os empreendedores no processo de tradução de uma ideia num produto ou serviço com um modelo de negócio sustentável.

Acontece que tem sido uma aventura curiosa propor aos empreendedores que tornem as suas ideias tangíveis materializando-as, porventura num protótipo para mostrarem a eventuais clientes.

De alguma forma, é curioso verificar que muitos empreendedores desenvol-veram a fantasia de que começar uma empresa é todo o processo que vai desde o ter e desenvolver uma ideia até que aparece um investidor que apresenta uma proposta milionária pela compra dessa ideia. Assim, simples e retilíneo. Num instante, somos jovens desconhecidos e no outro somos pequenos Zuckerberg “laureando a pevide” num magnífico Porsche à beira-mar.

Rapidamente nos poderíamos precipitar a julgar que os nossos empreende-dores procuram é soluções rápidas para problemas complexos. Facilmente nos

podemos precipitar a considerar que este é um elemento representativo do facilitismo paterna-lista que as novas gerações procuram.Não obstante poder haver um fundo de verdade por detrás destes dois argumentos, vale a pena considerarmos o impacto dos exemplos que da-mos quando comunicamos com os ingénuos. Quantos CEO se tornaram estrelas Pop nos últi-mos anos? Quão sexy se tornou dizer que somos empreendedores? Até que ponto ser empreende-dor se tornou um acessório hipster que faz pen-dant com uns óculos Ray Ban, um papillon ou um gosto generalizado pelo que é vintage? Todos queremos os famosos 15 minutos de fama.

Todos parecemos capazes de ter uma ideia. Todas as ideias parecem igualmente boas quando não partilhadas e quando mantidas etereamente afastadas da im-plementação. Alguém dizia que “a sorte dá muito trabalho” e muitos concordarão que grande parte do desafio, mas também do prazer de começar uma empresa, é a odisseia de trabalho por detrás da concretização de um projeto.

Assim sendo, percebe-se o conforto de sonharmos com a Million Dollar Idea que vai desencadear o nosso sucesso, por mais que, lado a lado com os Poster Boys

“OS NOSSOS EmpREENdEdORES qUEIxAm-SE dE FALTA dE ApOIOS E dA FALTA dE INVESTIdORES, AO mESmO TEmpO qUE OS TAIS INVESTIdORES REcLAmAm A FALTA dE BOAS IdEIAS pARA INVESTIR.”

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of Pop, estejam inúmeros casos de sucesso cujo grande segredo foi sempre uma invulgar capacidade de sacrifício e perseverança.

O nosso Tempo é de grandes dissonâncias. Por um lado, o desemprego au-menta todos os dias, por outro lado, muitas empresas queixam-se da falta de gente para trabalhar. Na mesma linha: os nossos empreendedores queixam-se de falta de apoios e da falta de investidores, ao mesmo tempo que os tais investi-dores reclamam a falta de boas ideias para investir. É um dramático desencontro quase shakespeariano... Que, enfim, justifica uma série de medidas para a apro-ximação entre as duas partes.Temos boas ideias em Portugal, mas estas não estão necessariamente a passar por concursos de empreendedorismo ou a ser incubadas, o que não é necessa-riamente mau. As boas ideias não são exclusivamente juvenis e inocentes nem o empreendedorismo é um enorme Idea Show.

Temos bons empreendedores em Portugal com boas ideias e a trabalhar bem no terreno e só depois, muito depois, chegam aos noticiários. Temos gente inquieta com know-how específico, com maturidade, com muito po-tencial. Gente que tem mais do que ideias, gente que identificou janelas de opor-tunidade; mas, para essa gente sair das empresas onde está, temos de diminuir os custos de transição tornando o país, a Lei e a Fiscalidade mais amigáveis. Ao limite, o empreendedorismo tem um problema de métricas, tal como qualquer outra “febre do ouro”: tem de se trabalhar muito para, de vez em quando, lá apa-recer uma pepita que dá o que falar. 3) Investimento.O capitalismo tem vários aspetos fascinantes. O liberalismo cativa pela aparen-te capacidade autogerida de investimento do capital. Os investidores aparecem aqui como elementos-chave enquanto desbloqueadores da necessidade de ca-pital de quem está a arrancar. Fala-se em risco. Risco partilhado: risco de quem orienta a sua vida e todas as suas capacidades para a criação de uma empresa e risco de quem pondera apoiar essa aventura investindo dinheiro. Que parte des-se investimento é de risco, de facto? Que parte deveria ser?

Somos todos muito bons a ler as newsletters dos departamentos de Relações Públicas internacionais, que anunciam na imprensa grandes investimentos em projetos estaminais. Mas, e na prática? Na prática, é preciso analisar com espí-rito crítico de onde e como é aplicado o investimento. Na prática, em Portugal, o Estado tem sido - curiosamente - um grande impulsionador do investimento, nomeadamente, pela disponibilização de fundos do FINICIA e pela criação do PME Investimentos, que apoia financeiramente, além de estruturar e coordenar grande parte da intervenção das sociedades de Business Angels que foram surgin-

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do. Paralelamente, e no seu bom jeito ambivalente, o Estado português mantém uma carga fiscal e uma rigidez legal pouco atraente aos olhos de um investidor e, na verdade, aos olhos de qualquer empreendedor.

Ainda que noutros países o capital pareça fluir disponível para arriscar, lado a lado, com empreendedores, em Portugal estamos a dar ainda os primeiros pas-sos. Nada de mal nisso. Apenas assinalamos, neste tópico como em todos os outros, a noção de que já existem estruturas de apoio, de que já existem empre-endedores a tentar e de que já há Business Angels a trabalhar, não obstante o facto de querermos todos ser muito melhores do que o que somos.

A este respeito, concluímos com um convite final. Um convite maior endereçado às grandes em-presas a atuar em Portugal. Sabemos que muitas têm acompanhado o desenvolvimento do ecos-sistema, algumas têm até apoiado (de várias for-mas) iniciativas, mas aquilo de que precisamos é de um envolvimento comprometido. As grandes empresas também fazem parte deste ecossiste-ma e podem condicionar determinantemente o sucesso dos projetos empreendedores.A Alemanha e, mais especificamente, Berlim, são perfeitos exemplos disso. Quase todos os

aceleradores e incubadoras têm relações estreitas com alguns dos maiores gru-pos empresariais. Frequentemente, são estas grandes marcas que patrocinam o ecossistema e, além do posicionamento de marca, além da motivação dos exe-cutivos por atuarem como mentores, esta parceria com empreendedores tem-se enquadrado de forma brilhante numa estratégia de inovação aberta e colaborati-va. Ao limite, funciona quase como se se fizesse outsourcing da inovação e desen-volvimento. É incrível ver isto a funcionar!

O Startup Bootcamp em Berlim anunciou muito recentemente uma parceria com a Mercedes, a HDI e o Grupo Bosch. Estas empresas vão ajudar os empre-endedores que participam no já excelente programa do Startup Bootcamp. Imagi-nem só o impacto que tem no desenvolvimento de um empreendedor passar por um programa onde beneficia, de entre outras coisas, da mentoria, acompanha-mento e rede de contactos dos executivos deste conjunto de empresas... 4) Maturidade do ecossistema.A verdade é que temos de ser justos: estamos ainda a abrir caminho, a construir uma cultura. Começar um negócio, principalmente de ambição internacional, nunca foi uma característica muito clara na nossa cultura. Grande parte dos nos-

“qUASE TOdOS OS AcELERAdORES E INcUBAdORAS TÊm RELAÇÕES ESTREITAS cOm ALGUNS dOS mAIORES GRUpOS EmpRESARIAIS.”

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sos empresários cresceram num mundo e num paradigma de negócio muito di-ferentes. A ideia de retorno à comunidade para ajudar outros a crescer é ainda um exclusivo de empresários visionários com uma postura na vida distinta. São poucos mas preciosos e têm dado um contributo realmente importante.

É preciso que mais empresários, mais executivos e mais marcas se juntem a nós. Aquilo que está aqui em causa é reunirmos contributos para ultrapassarmos dois grandes constrangimentos: a falta de colaborações no nosso mercado em-presarial e a mediocridade geral a que isso nos pode confinar.

CONCLUSÃO

Atravessamos uma etapa em que, por várias razões, tem havido uma massifica-ção do discurso sobre empreendedorismo o que, por um lado, ajuda a democra-tizar o tema e a angariar novos empreendedores. Ao passo que, por outro lado, esta generalização desembocou numa torrente de iniciativas e discursos que

trouxe ruído e gerou cansaço.É importante todos ajudarmos a esclarecer men-sagens e a orientar a energia dos contributos de cada um. O efeito de halo é passível de ter toma-do o empreendedorismo, ainda que o foco se deva manter.O empreendedorismo não é necessariamente a tábua de salvação para toda a gente. Não tem de ser. Nem todos temos de ser empreendedores que

fundamos novas empresas. Empreendedorismo é, ao limite, sobre autoria: sobre sermos autores da nossa própria vida e treinarmos o hábito de pensar como, in-dependentemente da situação ou circunstância, podemos acrescentar valor nas soluções que apresentamos.

O nosso ecossistema é ainda frágil, mas começa já a mostrar provas de supe-ração de algumas das dores de crescimento normativas. Precisamos de crescer e aumentar a massa crítica. Precisamos de educar e esclarecer os nossos estudan-tes sobrecarregados de expectativas. Precisamos de ser exigentes, críticos e bons e isto é responsabilidade de todos.

Num período de crise, em que o “nevoeiro” prejudica a previsibilidade do Fu-turo, os custos de transição são barreiras de entrada elevadas para quem está a tentar começar um projeto. Quanto do nosso talento e potencial está por aplicar, porque simplesmente não sente/acredita ter os apoios necessários à transição?É urgente a criação de estruturas que combinem mentoria e seed capital (capital

“é pREcISO qUE mAIS EmpRESÁRIOS, mAIS ExEcUTIVOS E mAIS mARcAS SE JUNTEm A NóS.”

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semente) para intervir junto destas e de outras situações. O caminho é este e, de agora em diante, de progressiva refinação da qualidade dos projetos e reforço do pensamento, bem como ambição global desde a ideia à implementação.

No nosso projeto, o Factory, temos reforçado a integração em redes interna-cionais para melhor e mais eficazmente conseguirmos apoiar as pessoas a pal-milhar o mundo. Temos viajado e acreditamos que aquilo que precisamos é de uma conspiração! Uma conspiração em que uma comunidade composta por em-presas, investidores, estudantes, associações, universidades que, de forma muito comprometida com o desenvolvimento da cidade, se têm unido em prol do em-preendedorismo, dos empreendedores, das empresas e do Futuro.

Temos boas indicações de que, se continuarmos o caminho e dermos as mes-mas condições às nossas pessoas, lá chegaremos. Temos as condições e os recur-sos. Braga é uma cidade jovem, agradável e tem uma universidade competente e reúne na região um cluster tecnológico ambicioso. Da engenharia à nanotecno-logia, do mobile e do design ao desenvolvimento informático, temos conseguido reunir pessoas e promover a intersecção de toda esta gente por um novo para-digma.

Há um longo caminho a percorrer, mas esse é o nosso desígnio. O Factory está há dois anos a mudar pessoas e a forma como elas trabalham e, se em dois anos conseguimos mudar pessoas e a forma como elas trabalham, conseguimos mudar as empresas. E se conseguimos mudar as empresas, conseguimos mudar a cida-de. E se conseguimos mudar uma cidade, podemos mudar um país e, se conse-guirmos mudar um país, vamos estar a mudar o mundo. Uma pessoa de cada vez!