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Trabalho, Juventude e Exclusão Social: caminhos para uma inclusão social*
Ana Maria Monte Frota UFCE
Rita Cláudia Aguiar Barbosa UFCE
Palavras-chave: juventude, jovens em situação de risco, educação e trabalho. 1. Introdução
A partir da década de 80 do século XX, o Brasil defronta-se com o
aprofundamento de uma crise econômica e social apresentando um quadro cada vez
mais acintoso de uma acelerada e contínua queda nos indicadores sociais de qualidade
de vida da população.
País marcado por profundas desigualdades sociais e, por isso mesmo, sujeito a
imensos desafios que dificultam a construção de uma identidade como nação
efetivamente democrática, tem antagonismos sócio-econômicos com origem no seu
passado colonial e escravocrata. O Brasil, mesmo com recursos econômicos suficientes
para diminuir o hiato social ente ricos e pobres, não vem adotando políticas
redistribuitivas para reverter este processo de empobrecimento. Chegamos ao século
XXI com elevada concentração de renda, instabilidade econômica e social, e grande
déficit público. Se considerarmos o conceito de Touraine (1990), o Brasil está longe de
ser um país moderno.
Para construir a democracia e a condição de modernidade, torna-se urgente
adotar medidas de políticas sociais que atendam as necessidades básicas das famílias,
tais como moradia, saúde, alimentação, transporte, segurança pública, educação,
trabalho, enfim, políticas públicas que atendam, direta ou indiretamente, crianças e
adolescentes, extremamente vitimados pelo processo de produção das desigualdades
sociais.
* Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.
Os jovens nascidos em regiões periféricas das grandes cidades são os que mais
sofrem das adversidades deste espaço geográfico, como também são mais excluídos de
bens e serviços individuais e coletivos de consumo e expostos a riscos sociais maiores
do que os outros jovens de regiões mais privilegiadas.
A concentração de renda é o efeito nefasto do total descompromisso do Estado
em desenvolver políticas públicas que atendam às diversas camadas sociais. A exclusão
social, consequência inevitável deste descompromisso, vem aumentando a cada ano. Os
dados colhidos a cada dez anos e publicados por fontes confiáveis confirmam,
numericamente, o profundo fosso que separa os mais ricos dos mais pobres.
O índice de concentração de renda do Ceará, segundo dados do último censo
(IBGE - censo demográfico do Brasil, 2000), avaliado pelo índice de GINI, que
expressa o grau de concentração na distribuição de renda da população, é de 0,628. Isso
demonstra que a concentração de renda neste estado encontra-se consideravelmente alta.
O achatamento da chamada camada mediana tem se dispersado para níveis de renda
mais baixos. Isto indica uma distribuição desigual não somente na renda daqueles que
ainda se mantém assalariados, mas também uma crescente perda de postos de trabalho,
enfim, de padrões dignos de vida, expressos nas péssimas qualidades da educação, da
saúde, da habitação, da alimentação, transporte, segurança pública e moradia.
Ainda segundo dados do último censo do IBGE (2000), a totalidade de
residentes da cidade de Fortaleza é 2.141.402 habitantes. Destes, o maior número é de
pessoas entre os 10 e 19 anos, no total de 454.927. Em segundo lugar vem a população
que tem idade variando entre os 20 e 29 anos de idade: 400.640 pessoas. Segue-se a
faixa etária de 30 a 39 anos, alcançando uma totalidade de 339.951 habitantes na cidade
de Fortaleza. O restante da população distribui-se nas outras faixas de idade, numa
proporção menor do que as referidas neste estudo. Fica claro, portanto, que o número de
pessoas entre os 10 e 19 anos, faixa que compreende a nossa pesquisa, é a que atinge o
maior índice.
A escolaridade da população adulta é um dos indicadores-chave para o tema
Educação, em conjunto com os indicadores relativos à alfabetização de adultos, ao
analfabetismo funcional e ao acesso da população ao sistema educacional. A inserção a
um mercado de trabalho competitivo e exigente de habilidades intelectuais depende de
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um ensino prolongado e de qualidade. É possível perceber que, no Brasil, durante a
década de 90 houve um aumento no índice de escolaridade de adultos, mas ele ainda
está longe do desejável.
No Ceará, a média de anos de estudo da população de 25 anos, ou mais, de idade
foi de 4,1 anos. Tal índice, quando comparado com o mais elevado do país (8,1%,
Distrito federal), deixa ver o desnível existente no tocante à escolarização de nossos
jovens adultos.
A taxa de escolarização expressa o nível de escolarização da população infantil e
juvenil do país, evidenciando alguma característica do acesso à educação. Segundo
dados do IBGE de 2002, para a população de 7 a 14 anos, residentes no estado do
Ceará, o índice atingiu 94,8%,; de 15 a 17 anos, 79,3%; de 18 a 19 anos, 55,1% e de 20
a 24 anos, 25,1%. Tais dados deixam perceber que está se apresentando uma maior taxa
de escolarização na população mais jovem.
A taxa de alfabetização, que expressa a relação entre as pessoas adultas capazes
de ler e escrever e a população adulta total, vem aumentando durante a década de 90.
Segundo o IBGE (2002), a taxa de alfabetização do Ceará, para a população das pessoas
de 15 anos ou mais é de 72,2 %, colocando-se numa posição intermediária entre as taxas
dos outros estados brasileiros.
Observa-se que em Fortaleza a desigualdade social também se evidencia no
plano espacial, na segmentação da cidade, configurada em uma divisão de leste e oeste.
A primeira predominantemente habitada pela população de padrões médios e altos de
renda e a segunda pela população de baixa renda. Neste sentido é evidente que o uso do
solo da região oeste seja constituído com a presença de indústrias, pequeno comércio,
aterro sanitário e serviços realizados de forma precária, diferenciados notadamente do
espaço da população mais favorecida (BARREIRA, 1998).
A desigualdade de rendimento é um dos elementos responsáveis pela produção
diferenciada do espaço urbano. A população pobre tem como opção a apropriação do
espaço periférico onde a renda fundiária é consideravelmente inferior a das regiões
nobres da cidade. Em Fortaleza, como em grande parte das capitais do Brasil, tem-se
observado nas últimas décadas que as áreas periféricas estão cada vez mais distantes das
áreas centrais. Neste arremedo as dificuldades são maiores e a população de jovens que
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aí habitam, vêm-se condenados a exposição permanente a situações de riscos, como
também vêem-se dificultados na condições de ascensão social.
A divisão do espaço de Fortaleza parece se dar como descreve Carvalho (1996):
Existem assim duas Fortalezas: uma que reluz na face rosada e bonita dos
jovens que circulam na Volta da Jurema, estudam nos melhores colégios,
esbanjam com suas famílias seu alto poder aquisitivo nos shopping centers,
nas revendedoras de carros importados e, em regra, moram nas áreas leste ou
sudeste da cidade. Outra, situada predominantemente na área oeste, mostra-
nos a dura face resultante da acumulação de renda e das desigualdades sociais
(p. 47)
É dentro de toda esta realidade descrita acima encontram-se os jovens habitantes
do Conjunto Palmeiras.
A história da ocupação do conjunto Palmeiras é marcada por uma contínua
luta de seus moradores por melhores condições de vida e reflete o processo
de conscientização de uma comunidade pobre, que sob o patrocínio da
própria prefeitura municipal, foi sendo assentada em uma área distante do
mercado de trabalho, sem infra-estrutura urbana e sem a necessária
assistência dos serviços públicos elementares ( PRORENDA, p.10).
Supomos que a problemática da situação dos jovens que habitam o Conjunto
Palmeiras se agrava devido às deficiências em termos de políticas sociais compatíveis
com as necessidades da população, aliada à falta de perspectivas de um futuro com
estabilidade financeira e profissional e realização pessoal e afetiva.
A "situação de risco" implica em exclusão social a que estariam expostos os
adolescentes. Esta categoria, do mesmo modo que "jovens carentes", possibilita a
incorporação de um vasto leque de dificuldades relacionadas principalmente à situação
de pobreza. Segundo Reis (apud CASTRO, 1998, p.621):
Lida-se com uma população nos limites, em situação de risco e de
insegurança, que, a qualquer momento, pode ser vítima de uma arbitrariedade
policial, ou de um crime organizado, ou da delinqüência, e que tem que
enfrentar de uma hora para a outra, ter que dar prioridade a sobrevivência de
sua família de origem ou da que está constituindo, tendo que interromper
projetos de profissionalização e formação.
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A perda da qualidade de vida dos jovens se retrata nas condições de risco a que
estes estão submetidos, tais como a exposição ao comércio e consumo ilegal de drogas,
à violência intra-familiar e das ruas e à prostituição (ERIKSON, 1976; ABRAMO,
1994; REIS,2000). Acredita-se que estes seriam os maiores problemas com os quais os
jovens convivem, e que são de difícil enfrentamento. Por isto mesmo é preciso conferir
esta realidade, através de um estudo in locum, no qual os próprios jovens sejam os
atores principais.
Esta busca revela-se como objetivo nesta pesquisa, que pretende traçar um perfil
sócio-econômico de adolescentes pobres da periferia de Fortaleza, habitantes do
conjunto Palmeira. Busca-se compreender como esses jovens que vivem em situações
de risco social, lidam com as adversidades da periferia, conhecer a situação sócio-
econômica de suas famílias, seus projetos futuros, a relação educação formal-trabalho
em suas vidas, diversão e lazer, hábitos de consumo e mídia.
Um diagnóstico das políticas sociais, voltadas para crianças e adolescentes em
situação de risco, em nossa cidade, vem sinalizando a necessidade de novas formas de
enfrentamento da situação desses adolescentes e crianças em situação de risco
(CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
- COMDICA, 1995).
Esperamos que o diagnóstico do perfil dos adolescentes do conjunto Palmeiras
seja um dos elementos que, juntamente com as políticas públicas sociais, se alie na luta
pelo enfrentamento e busca de melhoria de vida para estes cidadãos.
2. Objetivos:
2.1 Objetivo Geral:
Desenvolver um estudo sobre as condições de vida dos adolescentes entre 10 e 19
anos, em situação de risco, habitantes do Conjunto Palmeiras.
2.2 Objetivos Específicos:
Traçar um perfil dos jovens, enfocando dados como idade, escolaridade, ocupação,
renda, sexo, estado civil, formação profissional, afetividade, sexualidade, saúde,
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consumo, lazer;
Analisar os papéis desempenhados por mulheres e homens jovens no bairro, mais
especificamente, aqueles que dizem respeito às atividades produtivas;
Propiciar reflexões, discussões e mobilizações entre os jovens, a partir da discussão
de grupos temáticos/focais.
3. Considerações Metodológicas
3.1. O Espaço:
O Conjunto Palmeiras encontra-se situado no bairro Jangurussu, zona oeste de
Fortaleza, a uma distância de 15 Km do Centro do município. Teve como início de sua
Formação o remanejamento de famílias de baixa renda em situação de risco de
alagamento do rio Cocó, em 1974, assim como famílias também remanejadas pela
prefeitura, de outras áreas de risco da cidade de Fortaleza (PRORENDA - URBANO
CEARÁ – CONJUNTO PALMEIRAS, 1999).
Segundo Carvalho (1996), a ocupação do conjunto Palmeira, além do
remanejamento de famílias, é resultado de outros dois fatores: primeiro, a vigilância
contra ocupações dos proprietários de terrenos destinados à especulação imobiliária, em
bairros como Aldeota, principalmente a partir da década de 70, quando se observa que o
número de favelas neste bairro declina enquanto aumenta a incidência na periferia; e,
ainda, os programas urbanísticos prioritários da administração municipal na gestão de
Vicente Fialho (1971-75), de “ higienização” da cidade, o que significava o
deslocamento para a periferia de “problemas” expostos à visão pública, e abertura de
largas avenidas onde residiam alguns destes “problemas”, como no caso, a avenida
leste-oeste.
Espaço desprovido de infra-estrutura básica, tem no período de chuvas um
agravante de seus problemas uma vez que seu terreno se constitui em um grande baixio,
cortado por um riacho, aliado a uma drenagem insuficiente e uma pavimentação
precária. Esta situação leva os moradores a conviverem com constantes desabrigos,
doenças e dificuldade de mobilidade de sair para o trabalho, escola e lazer.
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Segundo dados fornecidos por uma pesquisa do PRORENDA (1999), O
Conjunto Palmeiras tem uma população estimada em 21.670 habitantes, com 45% desta
população compreendida pelo intervalo de zero a 19 anos. Apresenta baixos níveis de
escolaridade, uma vez que 32% da população acima de 10 anos são de analfabetos e
alfabetizados. É uma das áreas com a maior PNEA (População Não-Economicamente
Ativa), representando 62% da PIA (População em Idade Ativa), em torno de 9.539
pessoas (PRORENDA - URBANO CEARÁ – CONJUNTO PALMEIRAS, 1999).
AS principais características do conjunto Palmeira, conforme dados do (
PRORENDA, 1999) são como se seguem:
- Remuneração média do setor informal – 80% S.M.
- Área geográfica – 118 Ha
- Propriedades de utilidade pública – escolas públicas/ creches (4), casa do idoso,
postos de saúde (2), áreas de praça, centro social urbano (1)
- Número de habitações – 4.398 domicílios
- Equipamentos e serviços – água (2.932 ligações), esgoto (2.450 ligações), luz
(70%), coleta de lixo (2°, 4° e 6° nas ruas pavimentadas), drenagem (insuficiente),
telefone público comunitário (75), telefone particular ( 412).
3.2. Seleção da Amostra:
Consideramos para nossa amostra jovens na faixa etária de 10 a 19 anos. Para a
escolha da faixa etária desta pesquisa, partimos de sugestão do “Programa do
Adolescente”, programa de acompanhamento ao adolescente, oficializado pelo
Ministério da Saúde em 1998, através da coordenação Materno-Infantil.
Segundo resultados gerais do levantamento sócio-econômico do conjunto
Palmeiras feito em 1999, a população geral de jovens entre 10 a 19 anos era de 5.634.
Foi feita uma projeção desta população para 2001 (ano da pesquisa), com base na taxa
geométrica de crescimento. Desta estimativa, tiramos um percentual de 5%, que é o
tamanho da amostra utilizada nesse estudo. Deste modo, a amostra desta população de
adolescentes na idade de 10 a 19 anos foi de 334.
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3.3. Instrumentos:
Trabalhamos com questionários com questões fechadas, de múltipla escolha.
Para a elaboração final do questionário executamos uma pré-testagem, com o intuito de
aproximar a linguagem e opções de respostas com a realidade daqueles jovens.
Para a coleta de dados utilizamos a técnica de passeio aleatório, que consistiu no
seguinte: todas as ruas no sentido leste-oeste do Conjunto, foram incluídas no passeio.
O entrevistador selecionou uma casa e pulou duas outras, percorrendo a rua inteira e
voltando no percurso contrário.
4. O adolescente do Conjunto Palmeiras: Escola e Trabalho
4.1. O que é ser adolescente
Para a maior parte dos estudiosos do desenvolvimento humano, ser adolescente é
viver uma série de mudanças físicas, cognitivas, afetivas e sociais que, juntas, ajudam a
traçar o perfil desta população. Atualmente fala-se da adolescência como uma fase do
desenvolvimento humano que faz uma ponte entre a infância e a idade adulta. Nesta
perspectiva, de ligação entre a infância e a adultície, a adolescência é compreendida
como um período atravessado por crises, que encaminham o jovem na construção de sua
subjetividade. Porém, a adolescência, não pode ser compreendida somente como uma
fase de transição. Na verdade, ele está para além de ser uma ponte entre algo, uma vez
que sua importância é bem maior do que fazer ligação entre duas idades.
Adolescência, período da vida humano entre a puberdade e a adultidade, vem do
latim “adolescentia”. É associada à puberdade, palavra derivada do latim, pubertas-atis,
referindo-se ao conjunto de transformações psicofisiológicas ligadas à maturação
sexual, que traduz a passagem progressiva da infância à adolescência.
Diferentes teorias explicam a estruturação da personalidade do adolescente,
enfatizando um ou outro aspecto, ou dando múltiplas conceituações dessa idade. Porém,
é comum definir a adolescência como uma fase em que a busca da identidade é tida
como a tarefa mais importante a ser perseguida.
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Muss (1966) considera que a adolescência pode ter diferentes definições. Assim,
sociologicamente, exprime-se como um período de transição infantil para a auto-
suficiência do adulto; psicologicamente, é entendida como uma situação em que novos
comportamentos irão surgir, distinguindo-se dos de crianças; e cronologicamente como
o tempo compreendido entre os doze e vinte e dois anos. Para Osório (1989) a
adolescência é uma etapa peculiar ao ser humano, onde culmina todos os processos
maturativo biopsicosocial do indivíduo. Já Peter Bloss (1994) compreende a palavra
adolescência como indicação para os processos psicológicos de adaptação à condição de
pubescência. Fica claro, portanto, que diferentes autores, defendem distintas definições
da adolescência.
Embora a adolescência seja assinalada por modificações físicas, não é possível
estudá-la somente a partir desta ótica, mesmo que ela seja importante para a aquisição
de uma identidade adulta. No sentido fisiológico é possível falar que a adolescência é
um fenômeno universal, visto que em todos os tempos, em todas as culturas, os jovens
tornaram-se adultos, tornando-se aptos para a procriação. Deste modo, a adolescência,
enquanto associada à puberdade, em sombra de dúvidas, é universal. Entretanto,
voltamos nossa atenção para um aspecto psicossocial da adolescência e constatamos que
não é possível falar dela como um processo único. Jovens sempre existiram. No entanto,
épocas diferentes revestem a adolescência de traços peculiares. O significado histórico
da adolescência também se modifica, junto com a história da humanidade. Sendo assim,
posso afirmar que a experiência de ser adolescente é peculiar a cada jovem, mesmo que
dentro de um contexto histórico e sócio-cultural semelhante.
Na verdade, a adolescência parece ser uma construção sociocultural,
caracterizada por seu caráter limítrofe. Situa-se e transita entre as margens móveis da
dependência infantil e da autonomia da idade adulta, entre a imaturidade sexual e a
possibilidade de produzir outra vida, e entre a falta e a aquisição de autoridade e poder
do adulto, que decide as coisas. Assim, os limites fisiológicos e jurídicos são
insuficientes para compreender a adolescência. O que melhor permite compreendê-la é
uma antropologia cultural das diferentes sociedades, e seus modos de atribuir ordem e
sentido ao transitório. Assim, como afirmam Levi e Schmidt (1996) “ de um contexto a
outro, de uma época a outra, os jovens desenvolvem outras funções e logram seu
estatuto de fontes diferentes” (p. 3).
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O desenvolvimento sócio-psicológico conhecido como adolescência apresenta
fatores de riscos e desafios aos quais os jovens são expostos e que requerem uma
compreensão particular dos estudiosos caracterizada por algumas particularidades,
como mudanças biológicas e psicossociais, a adolescência como diversos eventos da
modernidade tem na idade um elemento utilizado no seu processo de categorização.
Para Amaral (1997), a idade não é porém um dado natural e sim uma construção
social que expressa em números de anos representa uma prática social específica cujo
grau de precisas na sociedade moderna é necessária principalmente por questões legais.
Já nos primórdios da humanidade os homens procuravam atribuir o simbolismo
dos números a diversas situações e a fenômenos da natureza. A idade, que nas
civilizações modernas é mensurável em números, é elemento nestas culturas para
designar diferentes fases da vida como infância, adolescência, idade adulta e velhice.
A adolescência porém só começa a ser reconhecida como categoria social na
segunda metade do século XIX, quando problemas e tensões a ela associada tornaram-
se objetos de consciência social. O envolvimento de jovens em grupos de amigos assim
como a identificação e seu comportamento em uma categoria social foram variáveis
responsáveis para a construção de uma cultura adolescente (PAIS, 1996).
Se o século XIX foi o século da infância, o século XX foi o da adolescência. A
consciência da adolescência trouxe ao mundo moderno a associação com sentimentos
ligados a força física, agilidade, destreza e beleza, características almejadas por todos.
Assim passamos de uma época sem adolescência a uma época em que
adolescência é a idade favorita. “Deseja-se chegar a ela cedo e nela permanecer por
muito tempo” (ARIÉS, 1981, p. 46-47).
Socialmente a adolescência nas modernas culturas ocidentais tem sido associada
a determinados problemas sociais como droga, delinqüência e rebeldia. Convém
lembrar que, apesar de existir alguns comportamentos padrões que caracterizam esse
processo, não podemos esquecer que cada cultura, classe social, raça tem suas
peculiaridades, não podendo atribuirmos este processo uma uniformidade. Assim, é
possível dizer que não existe uma adolescência, e sim, adolescentes (FROTA, 2001).
A partir deste referencial é que procedemos à análise dos questionários aplicados
10
a amostra de adolescentes do Conjunto Palmeiras. Neste momento, passamos a mostrar
e discutir alguns dos dados coletados, deixando claro que a pesquisa ainda não está
concluída. Portanto, os dados aqui exposto e discutidos ainda são parciais.
4.2. Escola
Da amostra de adolescentes estudada nesta pesquisa, 32,39% encontram-se na
faixa etária de 13-15 anos, atingindo o maior índice de pessoas; 30,97%, entre 10 a 12
anos; 28,98% entre os 16-18 anos; e 7,67% com 19 anos. Desta amostra, 51,14% são
mulheres e 48,86%, homens. Não é, portanto, muito significativa a diferença entre a
população masculina e feminina.
É marcante a quantidade de adolescentes solteiros: 93,18%. Somente 4,83% são
juntos; 1,14%, separados judicialmente; e 0,85%, são casados.
60,51% nasceu no Conjunto Palmeiras; 29,55% em outros bairros de Fortaleza,
mudando-se para lá depois do nascimento.
A religião católica é predominante no Conjunto (55,11%), o que seria esperado,
uma vez que a atuação da Pastoral da Criança e do Adolescente é bastante atuante no
bairro. Já em 1978 foi construída a primeira Igreja Católica do conjunto. Inicialmente, o
trabalho da Igreja era de cunho mais doutrinário. Foi a partir do Encontro de Medellin
(1978), inspirado na Teologia da Libertação, que definiu como posição da Igreja
Católica na América Latina, a chamada “opção preferencial pelos pobres”, que a ação
tornou-se um trabalho de reflexão sobre a realidade de cunho crítico, no qual se buscava
o porque das relações contraditórias e injustas. Como afirma Carvalho (1996) : “ O
trabalho da Igreja no Palmeiras tem sido marcante em mobilizações coletivas, não
somente através das CEBs”, mas também das pastorais1 (p. 67).
Sabemos que a escolaridade da população no Brasil teve, durante a década de
90, um aumento no índice de escolaridade de adultos. Não temos nenhum índice de
escolaridade da população do Palmeiras obtido por dados de censos. Porém, é notória a
1 Vale ressaltar que este estudo é parte de uma demanda por parte da Igreja Católica, preocupada em melhor conhecer o perfil dos jovens que moram no Conjunto, a fim de iniciar um trabalho preventivo com eles. A Universidade foi procurada pelo vigário do Palmeiras, solicitando ajuda neste sentido.
11
importância da escolarização para o crescimento profissional e inserção no mercado de
trabalho formal.
A importância da escola para o desenvolvimento do sujeito é grande. Seu papel
como agente socializador é inegável. Também cabe a ela a transmissão da riqueza
cultural da humanidade, assim como dos saberes necessários para o treinamento
profissional. Contudo, a taxa de escolarização do Palmeiras é baixa, assim como é
grande a repetência entre os jovens. Segundo dados do PRORENDA (1999), 41% da
população é composta por pessoa que têm somente o 1° grau completo; 29% são
alfabetizados; 25% analfabetos; e somente 5% galgaram uma instrução mais elevada.
A partir dos dados obtidos neste estudo, 88,92% dos sujeitos freqüentam a
escola. As faltas não são muito comuns. 32,67% raramente falta as aulas e 32,10%,
nunca deixam de ir à escola. Somente 2,27% afirma sempre faltar as aulas.
A importância atribuída à escola é grande por parte dos jovens. A mesma
constatação já havia sido feita por Damasceno (2001), em uma pesquisa feita com
jovens da cidade de Fortaleza. Segundo esta autora referida, “uma parte considerável
dos jovens ressalta que a escola é fundamental para a vida das pessoas porque ensina a
viver, e a formar o cidadão, desenvolve o caráter das pessoas, ensina a falar, pensar e
agir” (p. 18).
Para nossos sujeitos, a escola representa garantia para uma vida melhor
(53,13%), local onde aprende coisas importantes para a vida (24,43%), local para
receber educação (25%). É grande a expectativa de melhoria de vida que a escola pode
proporcionar. É mesmo, para algumas famílias, a única via de acesso de ascensão social.
Porém, como bem ressalta Lindemberg (1993), esta via não dá garantia absoluta de
melhoria nas condições de vida, o que não parece ser percebido pela maioria da
população.
Damasceno (2001) pensa semelhante quando avalia a falibilidade da escola
como esperança absoluta de sucesso profissional:
Convém deixar claro que essa via nem sempre produz os frutos anunciados e
almejados, por isso, nem todos conseguem a escolaridade básica, e parte
daqueles que obtém um pouco de estudo acabou preso pelas teias de uma
sociedade perversa, que os exclui. Sendo assim, uma parcela dos jovens da
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periferia, e não só eles, como também velhos, mendigos, bêbados, prostitutas,
enfim esta infinidade de pessoas excluídas do processo social encontram-se
perdidos no seu próprio mundo, desorientados, diante de uma sociedade que
deixou de lado o mundo vivido, suas características valorativa espontânea e
se firmou na instrumentalização e automatização da vida social (p. 21).
Porém, apesar de sabermos que à escola não cabe todo o papel de passaporte
para uma vida socialmente mais abastada, ela é, de fato, uma possibilidade real de
mobilidade social. E os sujeitos deste estudo percebem esta realidade, o que pode ser
constatado nas respostas dadas. Apesar da pauperização desta população estudada,
somente 1,14% referiram-se a importância da merenda escolar e 2,56% à bolsa escola
como elementos atrativos para a permanência na escola.
59,38% já repetiu o ano, fazendo uma percentagem muito alta. 31,25% repetiu
uma vez; 19,5%, duas; 6,25%, três e 1,42%, quatro. A repetência escolar encontra-se
como um dos problemas mais sérios da educação e é possível constatar como é grande o
número de repetência destes jovens. Apesar disso, eles continuam na escola, o que nos
leva a referendar a importância dada a esta instituição. Tal fato já foi defendido por
Madeira e Rodrigues (1998) ao afirmar que
o aluno médio permanece na escola fundamental durante 8 anos e meio, mas
somente avança até a quarta série. Assim, a esmagadora maioria dos alunos
que se encontram com enorme defasagem idade/série não entrou tardiamente
no sistema escolar por falta de escola ou necessidade de trabalho, como
sempre se considerou (p. 449).
O problema parece ser de outra ordem e necessita ser melhor conhecido. O que
faz com que estes jovens repitam tantas vezes as séries escolares? O que lhes mantém
na escola por tanto tempo? Segundo dados de pesquisa da UNESCO nas escolas
públicas e privadas de Fortaleza, 27% dos alunos não gostam dos professores, 52% dos
professores não gostam de seus alunos, 21% dos alunos não gostam das aulas (O
POVO, 24/6/2002). Estarão estes fatores relacionados com a realidade detectada no
Palmeiras?
Nas área educacional já se acumulou um número significativo de estudos que
mostram que os educadores dirigem-se a um aluno ideal, e não ao aluno real. Ribeiro
13
(1993) atribui grande parte da responsabilidade do nosso péssimo desempenho escolar a
um forte traço da cultura escolar brasileira que é responsável pela construção da
representação social do aluno ideal. “Trata-se de um pressuposto básico que permeia a
atuação dos professores constituindo-se na tentativa constante de obter homogeneidade
cognitiva nas salas de aula” (p. 448).
Talvez a problemática maior surgida nas salas de aula seja a postura autocrática
dos professores assim como a rigidez de horários, a disciplina exagerada e rígida (Pais,
1997). Para os adolescente é difícil se adaptar a exigências que lhes pareçam sem
sentido e pouco criativas. Não raras vezes os professores são olhados como inimigos, o
que dificulta o vínculo com eles.
Tais questões necessitam passar por reflexões mais aprofundadas e, para tanto,
serão melhores estudadas por ocasião dos grupos focais, no segundo momento desta
pesquisa.
A escolaridade dos pais dos jovens habitantes do Conjunto Palmeiras é muito
semelhante entre homens e mulheres. Dos homens, a maior incidência foi a
escolaridade até a 4° série (16,19%); 12,78% estudou até a 5° série; 8,81% cursou a 8°
série. Entre analfabetos e aqueles que só sabem assinar o nome obtivemos o percentual
de 9,38%2.
Segundo dados obtidos, 20,17% da amostra de adolescentes habitantes do
Conjunto Palmeiras cursa a 5º série; 16,76% está matriculado na 6°; 15,06% faz a 7°;
11,08% cursa a 4º série e 10,80% é aluno da 8º série do ensino fundamental. Somente
17,61% cursam séries do ensino médio. O restante da amostra da população de 10 a 19
anos de adolescentes do Conjunto Palmeiras (9,37%) cursam as primeiras séries do
ensino fundamental. Tal resultado aponta para uma tendência de nível de escolarização
formal com maior índice nos anos intermediários do ensino Fundamental (5°, 6° e 7°
séries). Há, contudo, uma indicação de escolaridade nos nível de Ensino Formal Médio,
distinguindo-se dos índices de educação formal dos pais exibido nos dados coletados.
2 É importante ressaltar que ainda não dispomos dos cruzamentos entre os dados coletados.
14
4.3. Trabalho
Com cinco séculos de história, o Brasil ainda defronta-se com o desafio de
diminuir os níveis de pobreza, desemprego e desigualdades sociais. Romper porém com
uma herança de exclusão e injustiça social é trabalhar no sentido de uma política que
não tenha somente como objetivo o crescimento da atividade econômica, estratégia do
"milagre brasileiro", e sim enfatizar esforços em estratégias redistribuitivas.
Após a Segunda guerra mundial o Brasil passou por uma transformação
surpreendente. A decolagem da industrialização, que teve inicio na década de 30, tem
no pós-guerra as condições necessárias para o seu processo de consolidação nacional.
Vargas e Juscelino acreditavam que a industrialização era um dos mecanismos para
superação do subdesenvolvimento em que se encontrava o país.
O Governo Vargas protegia a indústria nacional através do modelo de
substituição de importações, onde foi expressivo a indústria têxtil e de alimentos.
Juscelino, com sua política desenvolvimentista, abriu as portas às
multinacionais. Observa-se que nesse período o Brasil contou com um surpreendente
fluxo de bens industrializados e serviços que vieram mudar o cotidiano das famílias
brasileiras. A produção de bens, que era realizada ainda em grande parte na esfera
privada, encontra agora no mercado os produtos necessários para suprir as necessidades
das famílias.
O êxito alcançado na atividade econômica não repercutiu em uma distribuição
mais eqüitativa da renda. A perversa desigualdade social é apresentada no século XXI
no Brasil, como um retrato de desemprego, violência e drogas. Esta realidade é
facilmente percebida nas famílias de baixa renda.
Os dados referentes a renda familiar das famílias em estudo é um elemento
importante que confirma o que foi exposto anteriormente. A população que convive
com uma baixa renda, sua inconstância ou, até mesmo, sua inexistência, faz com que
seus membros não tenha acesso aos benefícios da evolução tecnológica dos últimos
anos no Brasil, encontrando-se numa situação desfavorecida em relação às famílias com
renda mais elevada.
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Na década de 80 e 90 do século XX, o Brasil tem um movimento inverso na
transnacionalização do capital. A globalização da economia nesse período apresenta
transformações substanciais nas suas características. Com o seu aceleramento e uma
nova divisão internacional do trabalho, o mercado vem demandando um novo tipo de
trabalhador. A 3ª revolução industrial, ainda em percurso, vem afetando os processos de
trabalho, expulsando do mercado pessoas que cumprem tarefas rotineiras, com uma
gama limitada de conhecimento e, sobretudo, nenhuma necessidade de improvisar em
face de situações imprevisíveis (SINGER, 2000).
Nesse contexto, é evidente que os indivíduos que têm uma maior
quantidade de anos de ensino formal tenham mais condições de inserção no mercado de
trabalho. Segundo Rocha (2000) "o mercado vem rapidamente se especializando,
exigindo trabalhadores com maior nível de qualificação. Como conseqüência reduziu-se
drasticamente o número de ocupados de menor qualificação" (p.11).
A desigualdade na repartição de renda, característica da economia brasileira,
decorre da desigualdades de salários (REIS E BARROS, 2000): "No Brasil, a
desigualdade salarial é mais elevada do que a desigualdade dos rendimentos do
trabalho, uma vez que a extensão da jornada de trabalho tende a ser maior entre os
trabalhadores com menores salários" (p. 70).
Se compararmos a renda familiar dos nossos sujeitos com a da população
economicamente mais favorecida, a discrepância é aviltante. A precarização do trabalho
pode ser constatada em nosso estudo, através da renda familiar dos adolescentes em
estudo: 44, 03% tinha uma renda familiar até 1 salário mínimo; 0,57%, entre 1 e 2
salários; 36,65% uma renda entre 2 e 3 salários mínimos. Somente 10,38% da
população deste estudo atingiam uma renda familiar entre 3 a 4 salários, enquanto
1,42% oscilava entre 4 ou mais salários mínimos. 4,55% não soube precisar a renda da
família e 1,42% não auferia renda no momento.
No Brasil, o estabelecimento do valor per capta, utilizado como parâmetro de
renda mínima, estabelece a chamada linha de pobreza. Segundo Rocha (2000) a linha de
pobreza é definida em termos de salários mínimos. Deste modo, as famílias com renda
abaixo de 2 salários mínimos, ou uma renda per capta de meio salário, estão abaixo da
linha de pobreza. Além disso, afirma a autora, que
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tal procedimento tem a desvantagem de estabelecer um parâmetro sem
garantia de que lhe permita cobrir o custo associado ao atendimento do
conjunto das necessidades básicas, além, de negligenciar a existência de
diferencias geográficos deste custo (p. 17).
Na realidade dos jovens habitantes do conjunto Palmeiras, 44,60% encontram-se
na faixa abaixo da linha de pobreza . Ressaltamos que ainda não foi feito o cruzamento
entre os dados primários, como renda familiar e número de pessoas por grupo de
família. Certamente, após obtermos estes dados, haverá novas informações a serem
examinadas, o que faremos posteriormente.
Podemos constatar que tal realidade corrobora para o empobrecimento da
população, uma vez que a renda familiar neste patamar não consegue suprir as
necessidades básicas da família.
As transformações ocorridas no mundo do trabalho podem ser consideradas
causadoras do empobrecimento de grande parte dos brasileiros nesse final de século.
Quando analisamos os dados estatísticos, em termos de macro região geográfica,
constatamos que indicadores sócio-econômicos da região Norte/Nordeste apresentam
um padrão de desenvolvimento inferior ao Centro-Sul.
Estudos mostram as diversidades regionais no que diz respeito a distribuição de
renda (ROMÃO, 2000). Para o autor, as desigualdades espaciais de renda acompanham
os diferentes ciclos econômicos. O Sudeste, região que passou a ser a mais importante
beneficiária do crescimento econômico, vem aumentando cada vez mais seu quinhão de
produto interno bruto. O mesmo não acontece com o Nordeste.
Quando analisamos em termos de macro-região geográfica constatamos que,
como outros indicadores sócio-econômicos, a região Nordeste-Norte apresenta um
padrão de desenvolvimento inferior ao Centro-Sul. Segundo Rocha (2000) as regiões
Nordeste e Norte não exibem índices para romper com sua herança de pobreza e alterar
sua posição relativa desfavorável. A evolução dos anos de 1993-1997, no que concerne
a sua participação no número de pobres no país, mostra agravamento da dicotomia
Norte-Nordeste versus Centro-Sul (p. 10).
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Um dos índices que permitem perceber o empobrecimento da região Nordeste é
a precarização dos modos de sobrevivência das famílias. Este é um dos dados por nós
avaliado neste estudo.
Os pais dos adolescentes por nós estudados sobrevivem em atividades
econômicas precárias. No que diz respeito ao pai, 22,44% trabalha na construção civil;
9,09% é autônomos; 7,10% operário e 6,53% compõe-se de prestador de serviço. Outras
categorias como vigia (3,69%), comerciário (4,83%), funcionário público (2,56%),
eletricista (1,70%) e moto-taxista (0,85%), foram também citados.
Ressalta-se que 11,65% da população dos pais estavam desempregados por
ocasião da coleta de dados. A maior significância referente à atividade econômica dos
pais é para o trabalho em construção civil, trabalho que quase sempre é contratado sem
carteira assinada e com contrato de trabalho temporário, o que furta o trabalhador de
seus benefícios sociais3.
No que diz respeito a mãe, constatou-se uma ligeira predominância de
ocupações relacionada ao "universo feminino": 17,90% são empregadas domésticas;
2,27% são costureiras e 2,27 professoras. Ocupações como autônomas (9,38%),
operária (2,56%), funcionária pública (2,84%) também foram citadas. É relevante a
quantidade de mulheres que são donas de casa (44,03%).
De acordo com Singer (2000) a falta de escolaridade é um dos elementos
fortemente atrelado a exclusão social. É isto que acontece com os pais de nossos
sujeitos: exercem funções que não exigem, ou exigem muito pouco ensino formal.
Numa sociedade de classe como a nossa, onde grande parte da população é
sobrevivente de um regime perverso, a falta de perspectiva de ascensão social leva essas
pessoas a destruir sonhos em busca de uma sobrevivência imediata. Deste modo são
forçados, muitas vezes, a trocar os bancos escolares por uma ocupação que lhes garanta
uma remuneração.
Com uma jornada de trabalho exaustiva, trabalhando muitas vezes em localidades
distante de sua moradia, torna-se muitas vezes necessária a “opção” entre o trabalho e a
3 Importante ressaltar que os cruzamentos entre os dados primários se farão necessário para uma análise mais completa da realidade investigada.
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escola. Muitas vezes o sentimento da busca do “tempo perdido” leva esse trabalhador a
procura a escola publica noturna, na sua maioria os cursos supletivos.
Um ano a mais de estudo torna a mão de obra mais valorizada. O homem é um
acumulador de informação, principalmente por meio da educação formal (LEAL E
WERLANG, 2000). Os pais de nossos sujeitos não têm uma educação formal completa,
atingindo no máximo a 8º série.
Os jovens de classe e de renda menos favorecidos são os que mais são atingidos pela
exclusão social. As dificuldades de acesso a uma escola que o preparem para competir
com uma categoria de jovens que têm acesso a uma boa educação formal, leva ao jovem
carente a viverem uma espécie de pobreza crônica.
Conforme dados levantados, 85,51% dos jovens não estão ocupados no
momento. A explicação que eles dão por não estarem exercendo alguma atividade
econômica é, principalmente, 31,53% por ainda estarem só estudando; 30,40 por ser
menor de idade; 23,30% por ser difícil conseguir emprego; 6,53% por não ter formação
para conseguir trabalho.
Para aqueles que já têm ocupação, as mais comuns são trabalho doméstico
(2,84%), vendedor (2,27%), babá (1,42%), padeiro (0,85%), ajudante de mercadinhos
(0,57%), feirante (0,57%).
Da totalidade de jovens 97,73% não recebeu nenhum tipo de treinamento
profissionalizante. Aqueles que já trabalham e que já receberam algum treinamento,
tiveram em familiares (8,53%), seus principais mestres.
As atividades referidas como as que eles mais sabem fazer foram: cuidar de casa
(52,84%), cuidar de crianças (34,09), digitação (14,77%), empacotador de
supermercado (12,78%), artesanato (12,78%), reforço escolar (9,66%), dentre outros.
Segundo a percepção de nossos colaboradores, 22,44% deles acha que tem
condições atuais de trabalhar em casa de família; em mercantil (20,45%); em lojas,
como vendedor (15,34%); como telefonista (9,09%).
19,60% dos jovens estudados avalia que não têm condições de trabalhar.
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Interessante perceber como as ocupações referidas são aquelas características de
uma população de baixa renda. Segundo Pais (1997), ente os jovens de mais baixas
camadas sociais os sonhos de emprego que acalentam a vida inteira (empregada
doméstica, empacotador de supermercado, vendedor, etc)
não se encontram muito distanciados dos trabalhos que acabam por encontrar. “Estes
jovens reconhecem que as hipóteses de terem um bom emprego, um emprego com “bata
branca”, são mínimas (p. 251-2).
Neste mesmo sentido vai a análise de Pais (2001), que afirma que
a vivência precária do emprego e do trabalho envolve modalidades múltiplas
de “ luta pela vida” que compreendem trabalho doméstico, eventual,
temporário, parcial, oculto ou ilegal, pluri-emprego, formas múltiplas de
desensrascanço a que a linguagem comum se refere com as sugestivas
expressões de ganchos, tachos e biscates” (p. 7)
Certos de que este diagnóstico de trabalho é superficial e incompleto,
consideramos que eles já apontam para a realidade de trabalho dos jovens do
Conjunto Palmeiras.
5. Conclusão
Os índices apontados neste estudo nos leva a concluir que o nível de
escolaridade dos jovens do Palmeiras encontra nos limites do Ensino fundamental.
Somente uma pequena percentagem de jovens cursa o Ensino Médio (17%) e nenhum
deles ingressou no Ensino Superior. A taxa de repetência é muito alta (59,38%). Apesar
disso, a grande maioria deles está freqüentando a escola (88,92).
A importância atribuída à escola é unânime para todos os colaboradores deste
estudo (100%). Os analfabetos e aqueles que só sabem assinar o nome totalizam um
percentagem pequena de adolescentes (9,38%).
Com relação à condição sócio-econômica dos jovens habitantes do
conjunto Palmeiras obtemos que 44,60% da população encontra-se na faixa abaixo da
linha de pobreza . Seus pais sobrevivem em atividades econômicas precárias, como
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construção civil, serviços autônomos, operários, prestadores de serviço, vigia,
comerciário, funcionário público, eletricista e moto-taxista. 11,65% da população dos
pais esta desempregada por ocasião da coleta de dados.
Enquanto isso, suas mães desenvolvem ocupações relacionadas ao "universo
feminino": empregadas domésticas, costureiras, professoras. Ocupações como
autônomas, operária e funcionária pública também foram citadas. É relevante a
quantidade de mulheres que são donas de casa (44,03%).
Da população deste estudo a grande maioria (85,51%) não está ocupada no
momento. Para alguns, a explicação para isso é ainda estar só estudando (31,53%); para
outros, por serem menores de idade (30,40%). Alguns referem ser difícil conseguir
emprego (23,30%), enquanto outros dizem que não têm formação para conseguir
trabalho (6,53%).
Para aqueles que já têm ocupação, as mais comuns são trabalho doméstico,
vendedor, padeiro, ajudante de mercadinhos e feirante.
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