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Indexação de imagens fotográficas em meio digital

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Text of Indexação de imagens fotográficas em meio digital

  • 1. 1 Universidade de Braslia Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade e Cincia da Informao e Documentao (FACE) Departamento de Cincia da Informao e Documentao KELLY PEREIRA MARQUES RUTHLA ELIENNAI DIAS DO NASCIMENTO INDEXAO DE IMAGENS FOTOGRFICAS DE ACERVO PESSOAL EM MEIO DIGITAL Braslia 2009

2. 2 KELLY PEREIRA MARQUES RUTHLA ELIENNAI DIAS DO NASCIMENTO INDEXAO DE IMAGENS FOTOGRFICAS DE ACERVO PESSOAL EM MEIO DIGITAL Monografia apresentada ao Departamento de Cincia da Informao e Documentao como requisito para a obteno do ttulo de bacharel em Biblioteconomia Orientadora: Profa. Miriam Paula Manini Braslia 2009 3. 3 N244i Nascimento, Ruthla Eliennai Dias do Indexao de imagens de acervo pessoal em meio digital / Ruthla Eliennai Dias do Nascimento e Kelly Pereira Marques. Braslia, 2009. 59 p. : Il. Monografia (Graduao) Universidade de Braslia, Departamento de Cincia da Informao e Documentao, 2009. Orientadora: Prof Dr Miriam Paula Manini 1. Indexao de imagens. 2. Acervo pessoal. 3. Ambiente digital. 4. Folksonomia. I. Marques, Kelly Pereira. II. Ttulo 4. 4 5. 5 DEDICATRIA s nossas mes, por seu amor e apoio incondicional. 6. 6 AGRADECIMENTOS So muitas as pessoas que nos marcaram em todos esses anos de vida e de UnB tambm. Algumas, no entanto merecem especial deferncia de nossa parte: Professora Miriam Paula Manini, nossa orientadora, pelo apoio inestimvel esse trabalho, por sanar nossas dvidas de forma simples e rpida. Tnia Cristina de Oliveira, nossa amiga, por revisar a monografia para ns e nos aturar nos momentos de histeria (e compartilhar do sentimento) causados por esse trabalho. Kelly Agradeo a Deus, em primeiro lugar, por tudo o que Ele tem realizado em minha vida. Agradeo minha me e herona, Terezinha, por no me deixar desanimar nos momentos difceis e me confortar. Tambm agradeo minha irm, Kamila, por tornar a fase de monografia mais divertida, me distraindo, me fazendo rir e me aturando. Aos amigos por todo apoio. E amiga e colega de monografia, Ruth, por tornar o processo de execuo do trabalho menos rduo e mais divertido. Em memria de Maria Zeferina, uma pessoa muito querida que cuidou de mim. Ruthla Agradeo em primeiro lugar a Deus, que tem me abenoado muito, permitindo entre outras coisas, que eu chegasse at aqui. Agradeo minha me, Carmelita, por ser a melhor me do mundo, no me deixar parar na hora do cansao e me mostrar a luz no fim do tnel mesmo quando tudo parece perdido. Ao meu pai, Edmilson, por ser um pai maravilhoso e minha tia Elenita, pelo apoio. minha amiga Kelly, por compartilhar comigo essa jornada, dividindo o fardo e tornado-o at agradvel para ser sincera. minha pinscher Kitty, minha chihuahua Bibi e minha vira-lata Mila, por serem fontes constantes de alegria e me ajudarem a relaxar durante a execuo desse trabalho. 7. 7 a fotografia um intrigante documento visual cujo contedo a um s tempo revelador de informaes e detonador de emoes. Boris Kossoy. 8. 8 RESUMO O presente trabalho apresenta uma proposta de indexao para imagens fotogrficas de acervos pessoais de usurios leigos. Para tal, baseia-se nos modelos de indexao de imagens de Erwin Panofsky, Corinne Jrgensen e Sara Shatford e estuda as caractersticas da folksonomia. A metodologia utilizada pesquisa bibliogrfica e para melhor embasar o estudo, define-se o conceito de fotografia e sua diferenciao de imagem fotogrfica. Realiza-se um breve estudo histrico desde a imagem at a fotografia digital. Explanam-se as possibilidades de uso da fotografia a partir das reflexes de Phillipe Dubois, Jean-Marie Schaeffer e Miriam Manini. Faz uma abordagem da imagem fotogrfica no acervo pessoal, e levanta questes a respeito da manipulao de imagens. Conclui fazendo uma anlise dos modelos vistos na pesquisa bibliogrfica e recomendando o que pode ser mais til para o usurio domstico. Palavras-chave: Indexao, Imagem fotogrfica, Acervos pessoais, Fotografia, Folksonomia 9. 9 ABSTRACT This assignment presents a suggestion on photographic images indexing in personal collections of layman users. For such, the assignment is based on the image indexing models of Erwin Panofsky, Corinne Jrgensen and Sara Shatford, and it studies the characteristics of folksonomy. The methodology used is the bibliographic research. In order to provide a better understanding and foundation for this study, the concept of photography is defined and its differentiation from photographic image is explained. A brief historic study from the age of image to the age of digital photography is also performed. The possibilities of the use of photography are explored, based on the reflections made by Philippe Dubois, Jean-Marie Schaeffer and Miriam Manini. The photographic image in the personal collection is approached, raising questions concerning the image manipulation. The study is concluded by making an analysis of the indexing models that were cited in the bibliographic research and by a recommendation of what can be more useful to the domestic user. Keywords: Indexing, Photographic image, Personal collection, Photography, Folksonomy 10. 10 LISTA DE ILUSTRAES Figura 1 - Vista da janela em Les Gras/Nicphore Nipce p. 19 Figura 2 - A conquista da honra/Joe Rosenthal p.22 Figura 3- Ruthla e Kelly Acervo pessoal p. 23 Figura 4 - Ruthla e Kelly Acervo pessoal p. 23 Figura 5 - "A ponte japonesa", de Claude Monet p. 27 Figura 6 - Japanese bridge at Giverny p. 28 Figura 7 - Imagem capturada do DVD filme "Closer - perto demais" p. 31 Figura 8 - Imagem capturada do DVD filme "Closer - perto demais" p. 31 Figura 9 Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito p. 33 Figura 10 - Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito p. 33 Figura 11 - Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito p. 34 Figura 12 - Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito p. 34 Figura 13 - Mila / Ruthla Nascimento Acervo pessoal p. 43 Figura 14 - Lembranas da UnB/Acervo pessoal p. 45 Figura 15 - Mrs. Siddons as the Tragic Muse, de Joshua Reynolds p. 46 Figura 16 - "A primavera", de Botticelli p. 48 Figura 17 Kitty / Ruthla Nascimento - Acervo pessoal p. 50 Figura 18 - Pgina do Flickr. p. 51 Figura 19 - Pgina de busca do Flickr p. 52 Figura 20 - Pgina do Flickr. p. 53 Figura 21 - Gustavo/ Kelly Marques - Acervo pessoal p. 55 Figura 22 - Janela de navegao da Galeria de imagem do Windows Vista Home Premium. p. 56 11. 11 Sumrio 1 INTRODUO....................................................................................................12 2 OBJETIVOS........................................................................................................14 2.1 Objetivo geral...............................................................................................14 2.2 Objetivos especficos ...................................................................................14 3 JUSTIFICATIVA..................................................................................................15 4 METODOLOGIA.................................................................................................16 5 REVISO DE LITERATURA...............................................................................17 5.1 A imagem fotogrfica ...................................................................................17 5.1.1 A imagem ..............................................................................................17 5.1.2 A fotografia ............................................................................................18 5.1.3 Fotografia digital, imagem fotogrfica e manipulao da realidade.......20 5.1.4 Possibilidades de uso da fotografia .......................................................24 5.1.5 A fotografia de acervo pessoal ..............................................................36 5.2 Indexao de imagens .................................................................................39 5.2.1 Indexao com base em conceitos........................................................40 5.3 Folksonomia.................................................................................................49 6 A FOLKSONOMIA NA INDEXAO DE IMAGENS FOTOGRFICAS DE ARQUIVOS PESSOAIS ............................................................................................55 7 CONCLUSES...................................................................................................58 8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................60 Glossrio ...................................................................................................................63 12. 12 1 INTRODUO As imagens sempre exerceram grande importncia na histria da humanidade. Foram a primeira forma de registro informacional, bem antes do surgimento da escrita. Sendo inicialmente algo prtico, com o passar do tempo foram se sofisticando cada vez mais e sua utilidade se ampliando. Das cavernas s cmeras digitais foi um longo percurso. Atualmente, a produo de informao enorme. Estima-se que o volume informacional dobra a cada sete minutos1 . Com as novas tecnologias, grande parte das pessoas passa a ser tambm consumidora e, ao mesmo tempo, produtora de informao. As imagens fazem parte dessa revoluo. Basta observar o sucesso que redes sociais como Flickr e Picasa fazem. Isso sem contar os lbuns no Orkut, Facebook, entre outros. Com o advento das cmeras digitais, cada vez mais modernas, acessveis e simples, todos somos fotgrafos. Eis ento que, com essa exploso imagtica, chega-se a problema semelhante ao causado pela exploso informacional em meados dos anos 1950: como organizar essas imagens de arquivos pessoais de forma a permitir uma recuperao precisa? Aumont (1995, apud Lopes, 2006, p. 202) afirma que (...) o problema do sentido da imagem , pois, o da relao entre imagem e palavras, entre imagem e linguagem e que para ser compreendida, uma imagem necessita do domnio da linguagem verbal.. A afirmativa de Amount, juntamente com as anteriores, leva-nos a indagar: como esse usurio leigo de informao aqui considerado como o produtor- consumidor da informao e que organiza suas informaes, utilizando critrios prprios e, geralmente, subjetivos poder fazer a relao entre imagens e palavras da qual fala a autora, se dificilmente conta com um profissional da informao para 1 Informao verbal fornecida por Andr Siqueira, doutorando em Cincia da Informao, na disciplina Seminrio em Biblioteconomia Arquitetura da Informao, em 28/8/2009. 13. 13 auxili-lo? Sabe-se que ele organiza individualmente seu arquivo de imagens fotogrficas, geralmente usando o que a literatura cientfica chama de folksonomia. Seu significado ser visto no decorrer deste trabalho, mas , essencialmente, neste trabalho, uma maneira de indexar informaes utilizando linguagem natural. 14. 14 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Encontrar um modelo de indexao de imagens presente na literatura que possa ser aplicado pelo usurio leigo na organizao de seu arquivo pessoal de imagens. 2.2 Objetivos especficos Identificar na literatura os modelos de indexao de imagens com base em conceitos; Baseando-se na literatura, definir folksonomia e abordar suas vantagens e desvantagens; Fazer uma breve abordagem histrica da imagem fotogrfica, delineando suas possibilidades de uso e questionamentos ticos que envolvem as novas tecnologias. 15. 15 3 JUSTIFICATIVA O volume informacional vem crescendo rapidamente e o usurio se tornou tambm produtor de informao (usurio leigo). Por ser ele mesmo o responsvel por organizar seus prprios arquivos, faz-se necessrio definir diretrizes para auxiliar esse usurio leigo a organizar de forma clara a informao que produz e/ou consome. 16. 16 4 METODOLOGIA Optou-se neste trabalho de concluso de curso por realizar uma reviso de literatura terica, mtodo que melhor atende aos objetivos definidos. A base do trabalho foram os estudos de Miranda (2007), Lancaster (2004) e Manini (2002), que oferecem uma viso geral sobre o assunto abordado. 17. 17 5 REVISO DE LITERATURA A reviso de literatura do presente trabalho ir abordar os seguintes tpicos: acervos pessoais, histrico da imagem fotogrfica e indexao de imagens. Apesar de no estar intimamente relacionado ao tema, achou-se por bem fazer uma reviso sobre o histrico da imagem fotogrfica para dar um maior embasamento pesquisa. 5.1 A imagem fotogrfica 5.1.1 A imagem O dicionrio Houaiss (2008) define imagem como sendo a representao, reproduo ou imitao da forma de uma pessoa ou objeto. Para Cavalcanti e Cunha (2008, p. 190), imagem a representao bidimensional de um ou de vrios objetos ou formas. Trata-se de um tipo de documento icnico. Apesar das diferenas entre os conceitos, ambos tm em comum um ponto: a imagem simplesmente como representao. Por isso, recorreu-se tambm semitica2 ; Greimas e Courts (1979) definem imagem como uma unidade de manifestao auto-suficiente, como um todo de significao, capaz de ser submetida anlise. Marcondes (2005) afirma que, desde o tempo das cavernas, a imagem utilizada como forma de registro. De acordo com Smit (1996), o termo imagem, 2 Semitica a cincia geral dos signos, que estuda todos os fenmenos culturais como se fossem sistemas sgnicos, isto , sistemas de significao. Ocupa-se do estudo do processo de significao ou representao, na natureza e na cultura, do conceito ou da ideia. Esta cincia tem por objeto qualquer sistema sgnico. 18. 18 propriamente dito, abrange um leque de documentos iconogrficos ou de ilustraes, incluindo pinturas, gravuras, posters, cartes postais, fotografias, etc.. 5.1.2 A fotografia Cavalcanti e Cunha (2008, p. 175) definem fotografia como tcnica ou arte de produzir imagens visveis pela ao da luz, que fixa essas imagens de modo direto e durvel sobre uma superfcie sensibilizada. Jean-Marie Schaeffer (1996, p. 16) diz que fotografia o fluxo fotnico emitido ou refletido pelo impregnante, sendo esse fluxo fotnico um canal de informao. Foi a cmera escura, conhecida desde o sculo XVI, que levou cmera fotogrfica. O objeto era uma caixa com apenas um orifcio por onde os raios luminosos penetravam e projetavam a imagem no interior da caixa sobre uma superfcie branca e oposta a esse orifcio (MARCONDES, 2005, p. 2). Todavia, tanto a cmera escura quanto a cmera fotogrfica tinham como grande problema a efemeridade das imagens por elas produzidas e um grande desafio para os pesquisadores da poca era tentar fix-las (MARCONDES, 2005). Assim, a fotografia surgiu no contexto da Revoluo Industrial, poca de grandes transformaes no mbito econmico, social e cultural. Segundo Kossoy (2001, p. 25), a inveno da fotografia naquele contexto seria uma possibilidade inovadora de informao e conhecimento, instrumento de apoio pesquisa nos diferentes campos da cincia e tambm como forma de expresso artstica. Todavia, Marcondes lembra que a fotografia s se popularizou quando houve a possibilidade de reproduo imagem. Em 1826, o francs Joseph Nicphore Nipce obteve a imagem que se consagrou como a origem da fotografia (Figura 1), mas o termo fotografia s foi cunhado anos mais tarde por Hrcules Florence (MARCONDES, 2005), que descobriu sozinho o processo de gravao atravs da luz, em 1832, antes de Jacques Louis Mand Daguerre. Mas foi Daguerre que 19. 19 acabou levando a fama de inventor da fotografia, aps publicar sua inveno, o Daguerretipo, em 1839. Figura 1 - Vista da janela em Les Gras/Nicphore Nipce. Fonte: . Acesso em: 16/11/2009. De acordo com Simionato (2009), a utilizao da fotografia em grande escala pela imprensa mundial para realizar grandes reportagens fotogrficas despertou nos fabricantes o interesse de investir mais no setor. Talvez esse grande interesse da imprensa pela fotografia possa ser explicado por Kossoy, quando afirma que: Microaspectos do mundo passaram a ser cada vez mais conhecidos atravs de sua representao. O mundo, a partir da alvorada do sculo XX, se viu (sic), aos poucos, substitudo por sua imagem fotogrfica. O mundo tornou- se, assim, porttil e ilustrado. (KOSSOY, 2001, p. 27) Outro motivo da rpida popularizao da fotografia apresentado por Manini (2002, p. 67). A autora afirma que a fotografia mais fcil de ler que a palavra, no sentido em que ela imita, representa ou copia as atitudes e o gestual prprio do ser humano. 20. 20 Assim, enquanto as palavras representam por conveno, a imagem o faz por projeo. Para compreender as palavras, faz-se necessrio um treinamento, um estudo do alfabeto. Em se tratando de imagens, mesmo bebs conseguem fazer associaes entre imagem e objeto. Foi to intenso e rpido o interesse pela fotografia no sculo XX, que Abbott chegou a prever o fim da palavra escrita: O mundo hoje est condicionado, irresistivelmente, a visualizar. A imagem quase substituiu a palavra como meio de comunicao. Tablides, filmes educativos e documentais, pelculas de massa, revistas e televiso rodeiam- nos (sic). Parece at que a existncia da palavra est ameaada. A imagem um dos principais meios de interpretao, e sua importncia est se tornando cada vez maior. (ABBOTT, 1951, apud FABRIS, 2007, p. 1) Abbott foi infeliz ao cogitar o fim da existncia da palavra, mas inegvel a importncia da imagem (e mais ainda da fotografia) na atualidade. Na busca por mtodos cada vez melhores e mais simples de tirar fotografias, no final da dcada de 1980 surgiu a fotografia digital. 5.1.3 Fotografia digital, imagem fotogrfica e manipulao da realidade A fotografia digital surgiu como uma evoluo da fotografia analgica. Uma diferena entre ela e sua antecessora que ela armazenada em arquivos digitais ao passo que a fotografia analgica armazenada em filmes fotogrficos. Claro que as diferenas no param por a. A fotografia digital trouxe possibilidades impensveis para a fotografia analgica. possvel ver como a fotografia vai ficar antes mesmo de tir-la e, se o resultado no for o almejado, s apagar e tirar outra fotografia. A fotografia digital d a possibilidade de manipular com facilidade o registro do momento. Com ela ouve uma mudana de paradigma. A fotografia deixou de ser um simples registro para se tornar uma construo, aproximando-se da pintura. Por causa desse distanciamento 21. 21 da fotografia analgica (ou fotografia tradicional), especialistas tm sugerido que seja usado o termo imagem fotogrfica para diferenciar a fotografia digital de sua antecessora3 . Simionato (2009) lembra que a evoluo dos aparatos digitais contribuiu para o desaparecimento gradual da fotografia analgica e para sua transformao em objeto primitivo. A tecnologia e seus avanos fizeram com que o mundo se tornasse mais receptvel ao mundo digital e o que se tem hoje o uso dessa tecnologia, em massa. Todavia, cedo para afirmar que a fotografia analgica ir desaparecer. Isso porque o grupo de apaixonados por essa tcnica ainda grande. A fotografia analgica mais romntica, dado o nvel de tcnica e habilidade que exige. Amantes da fotografia analgica reclamam da imagem fotogrfica por sua facilidade de manipulao e, de fato, a imagem fotogrfica tem suscitado inmeros questionamentos a respeito de sua veracidade e o principal : at que ponto possvel confiar no que vemos numa imagem fotogrfica? Os defensores da fotografia analgica afirmam que no possvel saber se o que a imagem fotogrfica representa real ou no. Defensores da imagem fotogrfica rebatem, citando casos famosos de manipulao da fotografia analgica. Um caso famoso de manipulao a fotografia A conquista da honra, do fotgrafo americano Joe Rosenthal (Figura 2). 3 Informao verbal dada por Miriam Manini no Seminrio Aberto do Grupo de Pesquisa Imagem, Memria e Informao, Braslia, 11/11/2009. 22. 22 Figura 2 - A conquista da honra/Joe Rosenthal. Disponvel em: . Acesso em: 19/11/2009. Tirada em 1945, durante a II Guerra Mundial, a fotografia mostra seis fuzileiros navais americanos hasteando a bandeira de seu pas no monte Suribachi, aps a conquista da ilha de Iwo Jima, no Japo. Vemos a bandeira americana tremulando ao vento e o esforo dos homens para erguer o smbolo de seu pas. Rosenthal ganhou o prmio Pulitzer e a fotografia chegou a ser considerada a foto do Sculo XX, e uma das mais poderosas imagens de propaganda de guerra no perodo. Qual no foi ento a surpresa ao se descobrir que Rosenthal chegou atrasado ao monte Suribachi, quando a bandeira j tinha sido hasteada, e pediu aos soldados que repetissem o gesto vrias vezes para que ele fotografasse. No caso da fotografia de Rosenthal no ouve manipulao na tcnica fotogrfica. Ele no precisou recorrer a alteraes qumicas nem a nada parecido; no entanto, houve manipulao da realidade quando ele pediu que o gesto fosse repetido. O patriotismo retratado na fotografia no autntico (j que, como j foi 23. 23 dito, a cena foi repetida vrias vezes). A fotografia de Rosenthal, mesmo analgica, no pode ser considerada como um testemunho. A manipulao da realidade nas imagens pode acontecer em qualquer circunstancia, independente da tcnica fotogrfica empregada. A diferena que a imagem fotogrfica permite que isso seja feito de forma rpida e simples, depois de tirada a fotografia, mesmo por quem no tem conhecimentos avanados de fotografia ou softwares de edio de imagens. Tem-se um exemplo na Figura 3: Figura 3 23- Ruthla e Kelly Acervo pessoal. Figura 4 - Ruthla e Kelly Acervo pessoal. A imagem fotogrfica esquerda a original, tirada durante uma reunio de amigos. direita, v-se a mesma imagem fotogrfica, mas alterada com o auxlio do software de edio de imagens Photoshop . Retirou-se a cor da imagem fotogrfica e manchas de espinha do rosto da jovem de blusa rosa esquerda, Ruthla. Obteve-se uma imagem diferente, que no corresponde realidade das duas jovens naquele contexto. Supondo-se que a primeira imagem fotogrfica fosse destruda: futuramente, um interpretante que no conhecesse Ruthla teria uma imagem dela 24. 24 que no corresponderia realidade dela, assim como o mundo teve em relao fotografia A conquista da honra. Ambas as fotografias foram alteradas com uma finalidade e interessante no estudo da fotografia conhecer suas possibilidades de uso. 5.1.4 Possibilidades de uso da fotografia A imagem a representao de algo e a fotografia uma forma de fazer essa representao. Mas para que representar algo, desenvolver tcnicas para fixar essa representao? Por que e para que representar? Buscando responder a essas perguntas, vejamos a seguir as respostas de Phillipe Dubois, Jean-Marie Schaeffer e Miriam Manini. 5.1.4.1 Phillipe Dubois O uso da fotografia foi investigado por Phillipe Dubois, que, baseando-se tambm na semitica e nos conceitos definidos por Peirce4 , definiu trs grandes momentos5 de uso e percepo da fotografia: 4 Charles Sanders Peirce (1839-1914): qumico, matemtico, fsico e astrnomo americano. Foi o criador da Semitica. 5 Momento, aqui, refere-se a fases; todavia, essas fases no se contrapem. O surgimento de uma no leva ao fim das anteriores, ou seja, momentos (ou fases) apenas uma maneira de melhor delimitar os fatos. 25. 25 5.1.4.1.1 Fotografia como cone ou espelho do real Essa fase ocorreu no sculo XIX, quando a fotografia era vista como uma reproduo fiel da realidade. Peirce (2008, p. 64) define cone como qualquer coisa que capaz de ser um substituto para qualquer coisa com a qual se assemelhe e afirma que a nica maneira de se comunicar uma idia diretamente atravs do cone. cone representao por excelncia. A Wikipdia, no verbete cone, cita como exemplo um retrato que se toma pela pessoa retratada. Dubois (2008) relata que, na poca do discurso da fotografia como a imitao mais perfeita da realidade, incio do sculo XIX, houve quem enxergasse a fotografia como uma expresso artstica. Assim como houve quem desprezasse qualquer tipo de associao entre fotografia e arte. Baudelaire6 foi um dos que se opuseram a aceitar a fotografia como expresso de arte, pois, para ele, arte era associada pintura, e a fotografia estava associada indstria. portanto necessrio que ela volte ao seu verdadeiro dever, que o de servir cincias e artes, mas de maneira bem humilde, como a tipografia e a estenografia 7 , que no criaram nem substituram a literatura (BAUDELAIRE apud DUBOIS, 2008, p. 29). Pode-se perceber, no trecho acima, o temor de que a fotografia viesse a ocupar por completo o mundo das artes. Ainda de acordo com Dubois, Baudelaire dizia que a foto no poderia ser ao mesmo tempo arte e documento, pois a arte uma forma de fuga da realidade. Mas existiram tambm discursos totalmente favorveis fotografia, inclusive de pintores, como, por exemplo, Picasso: 6 Charles Baudelaire, Le public moderne et la fotografia, 1999. 7 Tambm conhecida como taquigrafia, (do grego taqui = rpido e grafia = escrita) um termo geral que define todo mtodo abreviado ou simblico de escrita, com o objetivo de melhorar a velocidade da escrita ou a brevidade, em comparao a um mtodo padro de escrita (WIKIPEDIA). Acesso em 26/11/2009. 26. 26 Quando voc v tudo o que possvel exprimir atravs da fotografia, descobre que o que no pode ficar por mais tempo no horizonte da representao pictorial. Por que o artista continuaria a tratar de sujeitos que podem ser obtidos com tanta preciso pela objetividade de um aparelho de fotografia? [...] A fotografia chegou no momento certo para libertar a pintura de qualquer anedota, de qualquer literatura e at do sujeito. Em todo caso, um certo aspecto do sujeito hoje depende do campo da fotografia (DUBOIS, 2008, p. 31). Dubois cita ainda que muitos retratistas oficiais acabaram se tornando fotgrafos profissionais. Isto mostra que dificilmente a fotografia poderia substituir a pintura e vice-versa. Ambas tm uma funo particular na vida das pessoas, seja como fuga ou enfrentamento da realidade e no deveriam ser comparadas. Como exemplo, apresenta-se as Figuras 4 e 5, que so representaes diferentes de um mesmo lugar: o jardim japons da casa do pintor francs Claude Monet, em Giverny, na Frana. A diferena que uma imagem a pintura feita pelo prprio Monet e a outra uma imagem fotogrfica. 27. 27 Figura 5 - "A ponte japonesa", de Claude Monet/Fonte: . Acesso em: 19/11/2009. 28. 28 Figura 6 - Japanese bridge at Giverny/Fonte: . Acesso em: 19/11/2009. 5.1.4.1.2 Fotografia como smbolo ou transformao do real A fotografia torna-se uma representao relativa da realidade, aps sofrer uma leitura cultural e ideolgica. Na definio peirceana, smbolo alguma coisa que representa algo para algum. Ainda sobre a segunda fase da fotografia, Dubois (2008) relata que o discurso de sua desconstruo foi mais forte no sculo XX. A fotografia foi vista como uma transformao da realidade por causa da sua incapacidade de representar perfeitamente o real. Citando os escritos de Rudolf Arnheim, o autor destaca algumas diferenas entre a imagem fotogrfica e o real: os ngulos, que so escolhidos, o contraste 29. 29 entre as cores, a dimensionalidade e o fato de no conseguir transmitir outros efeitos perceptivos, como o olfato e o tato; ou seja, o que se tem apenas uma viso parcial da realidade. Dubois (2008) tambm coloca que o significado das imagens fotogrficas determinado culturalmente, reforando, assim, o uso antropolgico das fotografias. E afirma que, para que a leitura dessas imagens seja feita de forma correta, faz-se necessrio um aprendizado dos cdigos de leitura (DUBOIS, 2008, p. 42). Como exemplo, cita um relato de Alan Sekulla, no artigo On the invention of photographic meaning, em que o antroplogo Melville Herskvitz mostra a fotografia de seu filho a uma aborgine. Esta foi incapaz de reconhecer a foto, at que o antroplogo lhe mostrasse os detalhes da imagem e lhe explicitasse os cdigos que a compunham. De acordo com o pensamento de Dubois, a fotografia desloca sua ateno da realidade mensagem, incluindo aqui o trabalho, a codificao envolvida, especialmente no plano artstico. Neste plano, segundo o autor, a fotografia revela uma verdade interior, que no emprica. Para exemplificar, citada a forma de retratar da fotgrafa Diane Arbus: Contra a imagem capturada, Arbus joga a imagem convocada e construda. Contra a espontaneidade, a pose. por meio da imagem plstica que querem dar de si mesmas e que a artista as leva a produzir que se revela a verdade, a autenticidade das personagens de Arbus. Eis o deslocamento: a interiorizao do realismo pela transcendncia do prprio cdigo (DUBOIS, 2008, p. 43). Dubois afirma que, na fotografia como transformao do real, existe a dicotomia entre a realidade aparente e a realidade interna, que remonta ao mito da caverna, de Plato. O mito8 apresenta uma caverna, separada do mundo exterior por um muro bem alto. Dentro dela h um grupo de homens, quem nasceram e cresceram ali dentro. H um feixe de luz, que entra por uma fresta da caverna. Porque esto acorrentados de costas para a entrada, os dois homens esto impossibilitados de se mexerem. A nica viso que tem so sombras de outros homens e de objetos que eles transportam, que esto alm do muro e mantm uma fogueira acesa. 8 Wikipedia. Acesso em: 28/11/2009. 30. 30 Os prisioneiros crem que as sombras so a realidade. Se um deles for liberto, o que acontecer? Primeiro, ele ficaria confuso pela exposio luz, at que se acostumasse. Depois que conseguisse distinguir os objetos sua volta, acharia que estava vendo uma sombra daqueles objetos que ele via na parede da caverna. Passado algum tempo, ele finalmente entenderia que estava diante da realidade e que, o que ele via na caverna era apenas sombra do real. O homem, ento, voltaria caverna e tentaria contar o que viu e libertar seus companheiros. Mas eles no acreditariam e poderiam at tentar mat-lo, caso ele insistisse em sua viso do mundo exterior. Plato explica que ns somos como os prisioneiros. O mundo em que acredita-se ser o real apenas uma sombra. O mundo real, que o das idias, alcana-se no pelo senso comum, mas pela contemplao. Ou seja, na fotografia como trao do real, aquilo que se v apenas sombra do real. Faz-se necessrio um esforo maior para que a realidade por trs da sombra possa ser vista. O interpretante que visualiza a imagem deve ser capaz de ler nas entrelinhas, a verdadeira mensagem da imagem e no a inteno do autor. Para fazer um paralelo com a afirmao acima, foi transcrito um trecho do filme Closer perto demais (NICHOLS, 2004): LARRY: Estou falando srio. O que voc acha? ALICE: uma mentira. um bando de estranhos tristes lindamente fotografados, e todos os ricaos babacas que apreciam arte dizem que lindo, porque isto o que eles querem ver. Mas as pessoas nas fotos esto tristes, e sozinhas, mas as fotos fazem o mundo parecer belo. Ento a exposio reconfortante, o que faz dela uma mentira, e todos amam uma grande mentira. O contexto do dilogo uma exposio, intitulada Estranhos, em que a fotgrafa utilizou como modelos pessoas desconhecidas e supostamente tristes, como diz a personagem (o filme no mostra a exposio inteiramente). Ou seja, o trecho revela exatamente o que foi tratado anteriormente: os estranhos em questo esto tristes, mas foram fotografados de tal maneira que se obteve um efeito alm do esperado tristeza retratada de forma bela segundo a personagem. Na Figura 7, tem-se uma das cenas, em que se mostra uma parte da exposio, onde se pode ver a fotografia da prpria Alice, que chora: 31. 31 Figura 7 - Imagem capturada do DVD filme "Closer - perto demais". A Figura 8 apresenta o contexto em que a fotografia foi tirada: Figura 8 - Imagem capturada do DVD filme "Closer - perto demais". 32. 32 5.1.4.1.3 Fotografia como trao do real A fotografia continua remetendo ao referente, mas sem a obrigao de ser uma representao da realidade, incorporando a relatividade cultural da percepo da imagem. Ela se torna um trao da realidade, no uma representao desta, sendo interpretada, no mais aceita como verdade absoluta. a fotografia como ndice, o qual definido por Peirce como: [...] um signo [...] que se refere a seu objeto no tanto em virtude de uma similaridade ou analogia qualquer com ele, nem pelo fato de estar associado a caracteres gerais que esse objeto acontece ter, mas sim por estar numa conexo dinmica (espacial, inclusive) tanto com o objeto individual, por um lado, quanto, por outro lado, com os sentidos ou a memria da pessoa a quem serve de signo. (PEIRCE, 2008, p. 74) Dubois afirma que: [...] a lgica do ndice que hoje assinalamos no centro da mensagem fotogrfica utiliza plenamente a distino entre sentido e existncia: a foto- ndice afirma a nossos olhos a existncia do que ela representa (o isso foi 9 de Barthes), mas nada nos diz sobre o sentido dessa representao; ela no nos diz isso quer dizer aquilo(DUBOIS, 2008, p. 52). Em outras palavras, o autor quer diz que a significao da foto permanece desconhecida, a no ser que aquele que visualiza a imagem tenha sido participante do contexto no qual ela foi feita. Como exemplo, apresentada uma srie de imagens, as quais se tornam difceis de interpretar sem que haja a explicao do acontecido e do contexto. A sequncia foi capturada do DVD do filme Orgulho e Preconceito (Wright, 2005). A cena em questo mostra Sr. Darcy auxiliando Elizabeth Bennet a descer da charrete (Figura 9). O que chamou a ateno nesta cena foi a reao que Darcy teve aps tocar a mo de Elizabeth, mostrada na Figura 12. No fica claro o que ele realmente sentiu, mas a sequncia permite ver que foi uma reao mtua, mostrada 9 Significa a representao de um tempo vivido (do sentido) e no de um tempo cronolgico, linear, fsico e emprico (LIMA, 2004, p. 2). 33. 33 tanto pelo olhar de Elizabeth (Figura 11) e pelo rpido olhar de Darcy (Figura 10), seguido do movimento que ele faz com a mo (Figura 12). Figura 9 Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito. Figura 10 - Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito. 34. 34 Figura 11 - Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito. Figura 12 - Imagem capturada do DVD do filme Orgulho e preconceito. Se a Figura 12 fosse entregue a uma pessoa, sem qualquer informao adicional, provavelmente essa pessoa ficaria um tanto desorientada sobre o que a imagem representa. Ou seja, apenas o envolvido ou responsvel por capturar a ltima figura tm conhecimento sobre o contexto dessa imagem. 35. 35 5.1.4.2Jean-Marie Schaeffer e Miriam Manini Tal como Dubois, Jean-Marie Schaeffer, em seu livro A imagem precria (1996), tambm trata das funes da fotografia e tambm se baseia nos conceitos da Semitica desenvolvidos por Charles S. Peirce, afirmando que, para compreender as funes da fotografia, preciso primeiro compreender a distino e a relao entre representamen, interpretante e objeto, sendo que representamen sinnimo de signo e definido por Peirce (apud Schaeffer, 1996, p. 48) como qualquer coisa que ocupa o lugar, para qualquer um, de qualquer coisa em qualquer relao ou sob qualquer ttulo [...] ocupa o lugar de alguma coisa: de seu objeto. Representamen a representao visual do objeto. Buscando compreender a relao entre representamen, interpretante e objeto, Schaeffer desenvolveu um quadro no qual se v as possibilidades de uso da fotografia. Quadro 1 O representamen, o interpretante e o objeto (Schaeffer, 1996, p. 66). Como se pode observar no quadro, o autor define oito funes para a fotografia, que se diferenciam pela predominncia ou no do cone e do ndice e 36. 36 pela prevalncia ou no de temporalidade e espacialidade. A fotografia de recordao caracterizada por ter predominncia de temporalidade em detrimento da espacialidade; predominncia do cone sobre o ndice. E por que isso se d? Antes de passar para uma explicao pormenorizada da fotografia de recordao, interessante conhecer as divises de uso da fotografia, que Manini (2007) enumera: Uso comercial: a imagem fotogrfica para o marketing. Com esse fim, a imagem fotogrfica no precisa ser verdadeira em seu sentido denotativo, mas deve passar tal imagem na idia que vende. Priorizam-se critrios estticos, artsticos e ilustrativos; Uso para exposio/publicao: uma imagem com essa finalidade pode ter diversos fins especficos, como ser publicada num livro ou exibida numa exposio. Assemelha-se imagem fotogrfica de cunho comercial por ser priorizado o critrio esttico em detrimento da verossimilhana; Uso probatrio: a imagem fotogrfica como prova, testemunho. Prioriza a verossimilhana e a representatividade; Uso didtico/cientfico: utilizao da imagem fotogrfica em eventos de cunho educacional, como aulas e palestras. So fundamentais a verossimilhana, a representatividade e a ilustrao, embora alguns campos do conhecimento, como as artes, considerem importantes critrios artsticos e estticos; Uso pessoal/familiar: imagens fotogrficas de famlia e amigos. Nessa categoria predomina a verossimilhana e a representatividade. Critrios artsticos e estticos, quando aparecem, esto em segundo plano. 5.1.5 A fotografia de acervo pessoal A expresso arquivo pessoal corrente na literatura e, portanto, seria a mais adequada a ser utilizada neste trabalho. No entanto, optou-se por utilizar a 37. 37 expresso acervo pessoal, que pode ser melhor associada com a coleo de imagens fotogrficas de cunho pessoal e, geralmente, de valor sentimental, ao passo que arquivo traz uma idia mais tcnica e objetiva, desprovida de emoo. Sobre a fotografia, Kossoy (2001, p. 131), afirma que ao mesmo tempo, uma forma de expresso e um meio de informao e a comunicao a partir do real e, portanto, um documento da vida histrica. O autor tambm diz que: A experincia visual do homem quando diante da imagem de si mesmo, retratado por ocasio das mais corriqueiras e importantes situaes de seu passado, leva reflexo do significado que tem a fotografia na vida das pessoas. (KOSSOY, 2001, p. 99) Partindo-se destas afirmaes, pode-se fazer um paralelo com a ideia de Ribeiro (1998), sobre o que ele chama de coleo de si em seu artigo. O autor coloca que: o desejo de perpetuar-se, mas, mais que isso, o de construir a prpria identidade pelos tempos adiante, responde ao anseio de forjar uma glria. Como elemento iconogrfico dos arquivos pessoais, a fotografia tem a essncia de registro para a posteridade. Traz a idia de que o dono do arquivo queira recordar e transmitir os momentos que registrou. Garat (apud Artire, 1998) afirma que: Em toda famlia, existe, com efeito, o hbito de dedicar regularmente longas tardes a reunir e a organizar as fotos relacionadas com a vida de cada um dos seus membros. Um casamento, um nascimento, uma viagem so objeto de uma ou de vrias pginas. No colamos qualquer foto nos nossos lbuns. Escolhemos as mais bonitas ou aquelas que julgamos mais significativas; jogamos fora aquelas em que algum est fazendo careta, ou em que aparece uma figura annima. E depois as ordenamos esforando- nos para reconstituir uma narrativa. Quando a foto muito enigmtica, acrescentamos um comentrio. Identifica-se at aqui todo o ritual que envolve o ato de recordar o passado, onde a famlia se rene para reviver momentos muitas vezes importantes e marcantes, que fizeram parte de sua trajetria. Geralmente essas imagens evocam lembranas agradveis, mas: 38. 38 Acontece tambm, com o tempo, de algumas fotos serem retiradas, porque so comprometedoras, porque no so condizentes com a imagem que queremos dar de ns mesmos e da nossa famlia. Pois o lbum de retratos constitui a memria oficial da famlia; (...) No lbum, fazemos figurarem (sic) tambm os nossos antepassados; a tambm trata-se (sic) de comprovar que pertencemos a uma linhagem, que temos razes. (...) Se as ausncias nos lbuns so toleradas, no manter arquivos fotogrficos da famlia, em compensao, constitui uma falta. um dever produzir lembranas; no faz-lo reconhecer um fracasso, confessar a existncia de segredos. O lbum uma garantia de transparncia, um passaporte de sinceridade e uma prova de ajustamento (GARAT apud ARTIRE, 1998). Fica clara a grande importncia que a fotografia tem na vida das pessoas. A fotografia, principalmente como forma de recordao, tem grande valor talvez no to latente no que diz respeito memria de uma pessoa. Como j foi dito, no muito comum ver algum que no esteja relativamente bem na foto. H a necessidade de deixar registrada uma imagem positiva, ainda que manipulada, para a posteridade, o que Ribeiro (1998) chama de reconhecimento por uma identidade digna de glria. Kossoy (2001, p. 100) diz, sobre a fotografia, que estamos envolvidos afetivamente com os contedos dessas imagens; elas nos dizem respeito e nos mostram como ramos, como eram nossos familiares e amigos.. Dado o status importante das imagens fotogrficas, faz-se necessrio que estas sejam devidamente organizadas da melhor maneira possvel, de forma a facilitar o acesso do dono do arquivo s suas prprias memrias, ou permitir o acesso de outros que estejam autorizados e/ou que possam vir a se interessar. A necessidade de organizao se torna ainda mais latente com as imagens fotogrficas, pois o usurio, que geralmente transfere um grande nmero de imagens da mquina fotogrfica digital para o computador, pode encontrar dificuldades no momento em que quiser organizar seus arquivos. Isso ocorre porque, ao serem transferidas, as imagens no trazem outra informao adicional que no seja um cdigo de nmeros e/ou letras como ttulo. A resposta para esse problema pode ser encontrada na indexao. 39. 39 5.2 Indexao de imagens Cavalcanti e Cunha (2008) definem indexao como a representao do contedo temtico de um documento por meio dos elementos de uma linguagem documentria ou de termos extrados do prprio documento. Para Duque (2006, p. 799), a indexao um processo que consiste em nomear palavras-chave de um documento (as palavras-chave so a representao do documento). Oliveira (2009, p. 15), por sua vez, oferece-nos uma definio mais clara e simples. Ela define indexao como a atividade de elaborar ndices de assuntos, nomes e lugares. De acordo com Lancaster (2004), o propsito da indexao criar representaes dos documentos para que eles sejam includos em bases de dados. Como o foco deste trabalho a indexao de imagens, faz-se necessrio uma abordagem mais especfica da indexao. Lancaster afirma que a indexao de imagens se diferencia da indexao de textos porque o usurio, ao buscar as primeiras, tem uma gama de variedades na busca, podendo realiz-la tanto por nome de artista, ttulo da obra at cor, textura e dimenses. Tanta variedade acaba gerando problemas. Afinal, qual a melhor forma de indexar as imagens? Que atributos levar em considerao? Cleveland e Cleveland (2001) afirmam que, desde a dcada de 1960, profissionais da informao discutem e pesquisam sobre o problema da indexao de imagens, e que no decorrer dos anos, a discusso continua. Ainda no se chegou a um modelo preciso de indexao de imagens. Miranda (2007), na introduo de sua dissertao de mestrado, destaca dois grandes grupos de indexao de imagens: indexao com base no contedo e indexao com base em conceitos, sendo o primeiro baseado em anlises computacionais, que levam em considerao aspectos como cor e textura da imagem, e o segundo atribuindo palavras-chave que se referem s informaes presentes na imagem. Como esse trabalho tem como foco a indexao de acervos pessoais, vamos nos ater ao segundo grupo, indexao com base em conceitos. 40. 40 5.2.1 Indexao com base em conceitos Lancaster (2004) define indexao com base em conceitos como a descrio de imagens feita por humanos utilizando a linguagem textual. Atribuir conceitos s imagens, num processo de traduo de linguagem iconolgica para linguagem verbal. A indexao com base em conceitos uma tcnica bastante pesquisada. Isso se deve ao fato de ter maior aplicabilidade que a indexao com base no contedo, uma vez que a maioria dos usurios de bases de dados de imagens provavelmente no far buscas sobre aspectos mais abstratos como cor, forma e textura, o foco da indexao com base no contedo (Lancaster, 2004). Miranda (2007) divide a indexao com base em conceitos em dois grupos: representao do contedo visual da imagem e representao do contedo no visual. A representao do contedo visual consiste em representar elementos da imagem utilizando descritores, palavras-chave. a traduo da informao iconogrfica para a informao escrita. A respeito da representao do contedo no visual, o autor afirma: A representao do contedo no visual est relacionada com a descrio da informao extrnseca imagem, ou seja, a informao que no est presente na imagem, mas que de alguma forma est relacionada a ela e que pode ser til para melhorar a recuperao de imagens (MIRANDA, 2007, p. 28) A representao do contedo no visual abarca a interpretao da imagem. a anlise da imagem como smbolo e ndice. Miranda alerta para o fato de que, como em toda traduo, na indexao com base no contedo h perda de informao, uma vez que o indexador nunca conseguir representar verbalmente com preciso plena a informao imagtica. E tamanha a dificuldade de realizar essa representao de forma satisfatria, que 41. 41 Jrgensen (1996) lembra que diversos estudos tm sido realizados buscando desenvolver um bom sistema de recuperao de imagens, mas, at agora, os sistemas desenvolvidos sempre so voltados para grupos especficos de usurios ou imagens, o que diminui a abrangncia do sistema, o qual, para atender bem a um grupo de usurios, precisa abrir mo de muitos grupos de usurios. A seguir, uma breve abordagem da obra de trs autores que criaram modelos de indexao de imagens com base em conceitos e que so muito citados na literatura sobre o assunto: Erwin Panofsky, Sara Shatford e Corinne Jrgensen. Objetiva-se conhecer os modelos propostos a fim de verificar se podem ser teis para o problema citado nesse tpico. 5.2.1.1 Nveis de anlise da imagem de Panofsky Dentro da indexao de imagens baseada em conceitos, provavelmente um dos modelos mais conhecidos o proposto por Erwin Panofsky, historiador de arte. O autor props que a anlise da imagem fosse dividida em trs nveis: pr- iconogrfico, iconogrfico e iconolgico. Baseando-se em Smit (1996), os trs nveis podem ser assim definidos: Nvel pr-iconogrfico: descrio genrica dos objetos e aes representados na imagem, de seu referente; Nvel iconogrfico: descreve o assunto secundrio ou convencional ilustrado pela imagem. Trata-se da determinao do significado mtico, abstrato ou simblico da imagem, sintetizado a partir de seus elementos componentes, detectados pela anlise pr-iconogrfica. Panofsky (1991, apud Manini, 2002, p. 54) lembra que esse nvel depende do anterior, j que o reconhecimento de assuntos e conceitos pressupe que se tenha identificado corretamente os motivos primrios; 42. 42 Nvel iconolgico: nesse terceiro nvel, Panofsky prope a interpretao do significado extrnseco do contedo da imagem. A anlise iconolgica constri- se a partir das anteriores, mas, conforme Manini (2002) depende de significados/contedos somente detectveis levando-se em conta o contexto da imagem fotogrfica (ou do indexador), seja ele cultural, social, filosfico ou ideolgico. Nesse nvel no possvel haver perfeita sintonia entre a inteno do emissor e a imaginao do receptor. Shatford (1986, p. 45) resume da seguinte forma os trs nveis de Panofsky: [O nvel] pr-iconogrfico uma descrio, [o nvel] iconogrfico uma anlise e o iconolgico interpretao. Baseando-se nos nveis de Panofsky, possvel indexar a imagem abaixo da seguinte forma: Pr-iconogrfico: Cachorro, Co; Iconogrfico: Vira-Lata, Animal de estimao, Mila; Iconolgico: Euforia, Alegria. 43. 43 Figura 13 - Mila / Ruthla Nascimento Acervo pessoal. 5.2.1.2 Modelo de Jrgensen Corinne Jrgensen (1996) afirma que o maior problema intelectual envolvendo a indexao de imagens como index-las. Isso ocorre, segundo ela, por falta de estudos sobre a percepo humana de imagens pictricas. No possvel realizar uma boa indexao de imagens sem compreender como o ser humano l, compreende a imagem. Faz-lo seria semelhante a traduzir um texto da lngua espanhola para a lngua portuguesa sem compreender bem os idiomas. Porm, a falta de compreenso sobre a percepo humana de imagens no impediu que fossem desenvolvidos inmeros sistemas de indexao de imagens, s que esses sistemas tendem a ser desenvolvidos visando a alvos especficos, limitando o acesso s imagens, o que pode piorar ainda mais com o rpido aumento 44. 44 das imagens digitais e colees de imagens. Jaim (1993 apud Jrgensen 1996) afirma que o nmero de imagens digitais aumenta na casa dos milhes diariamente. Buscando resolver o problema, Jrgensen realizou estudos com a comunidade acadmica para compreender como o ser humano percebe as imagens pictricas e assim chegou a trs classes de atributos de imagens: Atributos descritivos: so assim denominados por serem resposta direta a estmulos visuais como cor ou objetos; Atributos interpretativos: so aqueles que requerem interpretao dos atributos descritivos, o que se faz com algum conhecimento e geralmente leva a idias abstratas; Atributos reativos: descrevem reaes pessoais s imagens, sensaes que as imagens despertam nas pessoas, como confuso, incerteza. Para uma melhor compreenso do modelo de Jrgensen, a Figura 14 foi indexada utilizando as trs classes de atributos criadas pela autora. Dentre os atributos descritivos, obtiveram-se termos como: pessoas, gramado e refeio. Como atributos interpretativos, os termos: reunio, confraternizao e Universidade de Braslia (UnB). J como atributos reativos, obtiveram-se os termos: amizade, alegria, unio e at mesmo nostalgia. 45. 45 Figura 24 - Lembranas da UnB/Acervo pessoal. 5.2.1.3 Modelo de Shatford Em artigo publicado em 1986, Sara Shatford busca analisar o objeto da imagem e seu significado, e fazer uma proposio terica. Para a autora, muito difcil indexar uma imagem baseando-se em seu significado porque essa pode ter diversos significados para diversas pessoas. Porm, index-la baseando-se no que ela mostra pode significar menor recuperao na hora da busca. Um usurio que busca imagens que representam a vaidade, dificilmente a encontraria se a imagem de um pavo fosse indexada apenas como pavo, como a prpria autora exemplifica. A autora baseia-se nos trs nveis de Panofsky para afirmar que uma imagem representativa de e sobre alguma coisa, sendo que o de se divide em de 46. 46 genrico e de especfico. A autora comenta que, assim como o de, o sobre tambm pode se subdividir em genrico e especfico em alguns casos. Isso se deve ao fato de estar relacionado a palavras que descrevem emoes e conceitos abstratos, naturalmente imaginveis como genricos. Como exemplo do que foi dito acima, Shatford cita o retrato Mrs. Siddons as the Tragic Muse, de Joshua Reynolds e ressalta que a imagem da Sr. Siddons pode ser sobre Melpomene10 , que um exemplo especfico da Musa genrica. Figura 15 - Mrs. Siddons as the Tragic Muse, de Joshua Reynolds/Fonte: Royal Academy of Arts < http://www.royalacademy.org.uk/exhibitions/citizensandkings/the-allegorical- portrait,321,AR.html>. Acesso em: 16/11/2009. Para se fazer uma melhor anlise, a autora prope que sejam respondidas as seguintes perguntas associadas ao de e ao sobre: 10 Uma das nove musas da Mitologia Grega. Considerada a musa da tragdia, embora seu canto fosse alegre. 47. 47 1. Quem? o De quem esta foto, especificamente? o De quem esta foto, genericamente? 2. O qu? Descreve eventos, aes, condies e emoes. o O que os envolvidos nesta imagem esto fazendo? o Quais so suas condies ou estado de existncia? o Que emoes so transmitidas por essas aes ou condies? o Que ideias abstratas essas aes ou condies simbolizam? 3. Onde? Refere-se a espaos geogrficos, cosmogrficos e arquitetnicos, ou seja, ao local retratado na imagem. o Em que espao est localizada a imagem? No de genrico, o onde se refere a tipos de lugar e, no sobre, subdivide-se em duas perguntas: a. O local representa um lugar diferente ou mtico? Exemplo: Monte Olimpo; b. O local representa a manifestao de um pensamento abstrato? Exemplo: Paraso. 4. Quando? Envolve datas especficas, perodos e tempos recorrentes (dia, noite, estaes do ano). O tempo linear pode ser descrito por termos no de especfico e o tempo cclico no de genrico. O sobre raramente usado nesta faceta, mas possui termos que respondem seguinte questo: o elemento de tempo representado na imagem uma manifestao de uma ideia abstrata? A autora cita como exemplo A primavera, de Botticelli, onde se nota uma alegoria. E completa, afirmando que 48. 48 uma imagem de primavera pode ser sobre esperana ou fertilidade ou juventude (SHATFORD, 1986, p. 54, traduo nossa). Figura 25 - "A primavera", de Botticelli/Fonte: . Acesso em: 16/11/2009. Dependendo da necessidade do usurio leigo, ele pode definir um ou mais termos para o de e o sobre. No existe a obrigatoriedade de responder todas as perguntas propostas acima, pois h casos em que simplesmente no h o que se colocar. Shatford alerta que a reproduo de uma pintura, por si s, um tipo de assunto, que pode ser descrito de acordo com as normas criadas para o catlogo descritivo. Ou seja, no caso do usurio leigo, ele pode decidir qual a maneira mais eficaz de utilizar a descrio a seu favor. 49. 49 5.3 Folksonomia Folksonomia um neologismo criado pelo arquiteto da informao Thomas Vander Wal a partir das palavras folk (povo) e taxonomy (taxonomia), ou seja, uma taxonomia criada pelas pessoas. Wal (2006, apud Catarino e Baptista 2007), afirma que folksonomias so criadas quando pessoas atribuem etiquetas a informaes ou objetos visando sua recuperao, atribuio essa que ocorre livremente e feita com critrios pessoais. Porm, definir o conceito de folksonomia no tarefa fcil. As definies para o termo na literatura variam bastante. H quem defina como sendo um processo e at quem defina folksonomia como um vocabulrio ou uma indexao livre em linguagem natural. O nico consenso entre os autores que se trata de algo feito pelo usurio para o usurio (CATARINO E BAPTISTA, 2007). Para esse trabalho, interessante defini-la levando em considerao as definies apontadas pela literatura cientfica, como: a atribuio de palavras-chave em linguagem natural sem um controle ou vocabulrio controlado. Tal como a Web 2.011 , a folksonomia vem se popularizando cada vez mais, sendo utilizada inicialmente em redes sociais, mas, ultimamente, em sites comerciais como o da Amazon (Neal, 2007). Para as empresas, a folksonomia representa um elo a mais entre elas e seus clientes. A grande vantagem da folksonomia na Web a liberdade que proporciona ao usurio que pode atribuir termos e recuper-los posteriormente, alm da interao com os sites (interao essa que a marca da Web 2.0). Outra vantagem da folksonomia, especialmente em se tratando das imagens, que o usurio, ao atribuir os termos, geralmente j possui conhecimento prvio sobre o assunto, o que Schaeffer (1996) chama de conhecimento lateral, a interpretao identificante. Ora, quem pode melhor conhecer a imagem do que seu autor? Evita-se erros; afinal, como diz Schaeffer: 11 Web 2.0: termo criado por Tim OReilly em 2005, assim definido por ele: plataforma onde so compartilhados todos os dispositivos conectados (Catarino e Baptista, 2007). A web 2.0 diferencia-se de sua antecessora por ter como carro-chefe o compartilhamento, a troca de informaes. 50. 50 O interpretante, mesmo se quisesse, no conseguiria reencontrar o conhecimento lateral e a intencionalidade do fotgrafo, no importa quanto se esforasse para perscrutar a imagem. (SCHAEFFER, 1996, p. 76) Com a imagem fotogrfica a seguir (Figura 17), possvel perceber claramente o que Schaeffer quis dizer sobre interpretante e conhecimento lateral. Tem-se a imagem de um pinscher que aparenta estar nervoso, rosnando para algum. No entanto, a imagem foi capturada enquanto a pintcher brincava com outra cadelinha e, na verdade, no estava nervosa e tampouco rosnando. Tal informao, porm, s se faz conhecida pela fotgrafa ou com a ajuda de uma legenda, caso a fotgrafa a insira junto com a imagem. Figura 17 Kitty / Ruthla Nascimento - Acervo pessoal. Mas, assim como apresenta boas vantagens, a folksonomia tambm apresenta problemas, semelhantes aos da indexao, como os profissionais da informao a conhecem. 51. 51 Um dos problemas da folksonomia e da indexao de imagens a relevncia. Cleveland e Cleveland (2001) afirmam que o problema da relevncia que ela muda conforme a necessidade do usurio e seu contexto, ou seja, o significado de uma imagem muda conforme a perspectiva do individuo, o que confirmado por Lopes ao afirmar que a anlise da imagem denotativa (o que mostra) e conotativa (o que se entende). Nem sempre o que uma pessoa considera um bom critrio de busca o ser para outra pessoa ou mesmo para ela mesma depois de algum tempo. Ainda tratando dos problemas causados pela folksonomia, Catarino e Baptista (2007) e Gouvea e Loh (2007) citam a polissemia, a sinonmia e a ambiguidade, que acontecem exatamente porque a folksonomia realizada sem padres, critrios pr- definidos e objetivos. Cada um atribui as etiquetas que lhe parecem mais convenientes, sem analisar se outros usurios julgaro o mesmo, problema esse que se torna ainda maior quando se trata de atribuir etiquetas a imagens, elas prprias subjetivas. Como exemplo disso, vejamos as Figuras 18, 19 e 20. Nesse exemplo, realizou-se uma busca na rede social Flickr onde usurios podem publicar suas imagens fotogrficas e atribuir etiquetas a elas. A etiqueta selecionada foi dia nublado. A escolha se deu por j se ter conhecimento prvio da existncia da imagem fotogrfica na Figura 18 com a etiqueta: 52. 52 Figura 18 - Pgina do Flickr. Disponvel em: . Acesso em 16/11/2009 Na Figura 19 temos a pgina de busca com os resultados obtidos. Observa- se que uma das imagens uma flor, mas, pesquisando melhor, encontra-se outro resultado que, aparentemente, tambm difere da etiqueta procurada. 53. 53 Figura 19 - Pgina de busca do Flickr. Disponvel em: . A usuria da rede social Paula Ferrari atribuiu, para a imagem fotogrfica na Figura 20, intitulada 27 andar vrias etiquetas sendo que duas delas foram dia e nublado, recuperadas quando foi buscada a expresso dia nublado. A legenda informa que a fotografia foi retirada num dia nublado, mas a foto em si no d qualquer indicao desse fato e, a menos que esse dia tenha sido marcante para a fotgrafa, se perder a legenda por alguma razo, dia e nublado podem deixar de fazer sentido at para ela. E para algum que no conhece a fotgrafa e o contexto da foto, recuperar essa fotografia para a busca de dia nublado seria perda de tempo. 54. 54 Figura 20 - Pgina do Flickr. Disponvel em: Acesso em 16/11/2009. Pettersson (1988, apud Shatford Layne, 1994) desenvolveu um estudo onde solicitava aos 97 participantes que atribussem termos de indexao para cinco imagens. Dos 43 termos diferentes atribudos, o autor percebeu que os termos mais comuns eram os principais e mais objetivos, em nveis descritivos, e concluiu que haver menos coerncia nos aspectos secundrios e subjetivos, o que reafirma o grande problema da folksonomia. 55. 55 6 A FOLKSONOMIA NA INDEXAO DE IMAGENS FOTOGRFICAS DE ARQUIVOS PESSOAIS Como j foi dito na introduo, o usurio leigo costuma utilizar a folksonomia na hora de realizar a indexao de suas imagens e acaba tendo problemas na hora da recuperao pelos motivos que j foram citados. Aps a leitura dos conceitos, viu-se que, em sua definio mais ampla, a folksonomia utilizada pelo usurio leigo no apenas na Web, mas tambm em seu computador e outros suportes tecnolgicos sem que haja necessariamente relao com a internet. Um exemplo de utilizao da folksonomia que pode ser encontrado no computador pessoal a Galeria de Fotos do Windows, aplicativo do Windows Vista Home Premium. Abaixo uma imagem que foi indexada usando o programa citado: Figura 21 - Gustavo/ Kelly - Acervo pessoal. 56. 56 O programa ainda permite que o usurio navegue pelas etiquetas que j foram criadas, por datas (ano, ms e dias), pela classificao (quantidade de estrelas atribudas s imagens) e pela pasta em que as imagens esto localizadas, como pode ser visto abaixo: Figura 22 - Janela de navegao da Galeria de imagem do Windows Vista Home Premium. Aps a anlise dos modelos de indexao de imagens de Shatford, Jrgensen e Panofsky, percebe-se que o mtodo mais recomendvel para indexao de imagens de acervos pessoais abarca o segundo nvel dos trs autores, pois, se uma imagem fotogrfica for indexada de acordo com os nveis iconogrfico, interpretativo e de especfico, obter-se- resultados mais eficientes na 57. 57 hora da recuperao, afinal, levando em considerao, por exemplo, a imagem Mila: no interessante para os donos da cadelinha realizar uma busca por cachorro ou euforia. Na hora de realizar a busca por essa imagem, provavelmente eles vo querer a imagem fotogrfica da Mila (Figura 13, p. 41). Quanto aos outros nveis, o primeiro (pr-iconogrfico, descritivo e de genrico) muito generalista e o terceiro nvel (iconolgico, reativo, sobre) foca-se na abstrao. No faz sentido indexar a foto de um casal de namorados com o termo amor. Caso haja um rompimento na relao, amor pode fazer com que a imagem no seja mais recuperada. Indexar imagens fotogrficas de arquivos pessoais requer objetividade por parte do indexador, seja ele um profissional ou um usurio leigo. Sabe-se que quase impossvel afastar a parte afetiva quando se fala de imagens de entes queridos (ou nem tanto), mas preciso, para haver recuperao posterior. Sobretudo, indexar imagens fotogrficas de arquivos pessoais requer conhecimento lateral com relao ao seu contedo. 58. 58 7 CONCLUSES Ao trmino desse trabalho de concluso de curso, notou-se que as pesquisas na rea de indexao de imagens baseada em conceitos ainda tem muito que avanar. Muitos estudos foram e esto sendo desenvolvidos, mas nenhum garante uma recuperao satisfatria quando as imagens so buscadas por um pblico diversificado. Os trs estudos identificados na reviso de literatura so muito semelhantes entre si. Panofsky, Jrgensen e Shatford utilizam trs nveis de anlise de imagens, com diferenas muito sutis entre si e objetivos semelhantes. Nas trs pesquisas, percebem-se traos da Semitica, o que se explica por ser ela a cincia que estuda os signos (as representaes) e a imagem definida por vrios autores como sendo um signo, uma representao do objeto. Em relao folksonomia, o mtodo tanto pode levar a resultados precisos quanto afastar o usurio do documento almejado. Isso pode acontecer na Web, mas pequenos arquivos pessoais no esto livres, uma vez que diversos fatores influenciam a indexao, entre eles o humor do indexador (ou usurio leigo) ou seu contexto, que pode mudar a qualquer momento. Quanto aos objetivos propostos, no chegou-se a um modelo de indexao de imagens que atendesse ao problema levantado, mas com a combinao dos modelos analisados, obteve-se os resultados desejados. Embora tenham sido abrodadas as vantagens e desvantagens da folksonomia, o usurio leigo quem deve escolher o que mais lhe mais til e prtico; j que, geralmente, ele o responsvel pela organizao dos prprios arquivos. Encontrar uma maneira de unir folksonomia e tcnicas de organizao da informao certamente no fcil, todavia pode ser um grande passo para a Web Semntica, afinal diminuiria a polissemia, a ambiguidade e problemas correlatos, e ainda abarcaria um grande nmero de pessoas que identificariam com mais facilidade os termos propostos. Com a exploso imagtica, isso se torna essencial para que o usurio leigo possa organizar seus arquivos. 59. 59 Esse trabalho no teve pretenses de oferecer a soluo para o problema da folksonomia. um tema longo, que exige uma anlise mais apurada. Essa pesquisa buscou apenas indicar um caminho a seguir na organizao de arquivos pessoais. 60. 60 8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ARTIRE, Philippe. Arquivar a prpria vida, in Revista de Estudos Histricos., n. 21, 1998. CATARINO, Maria Elisabete; BAPTISTA, Ana A. Folksonomia: um novo conceito para a organizao dos recursos digitais na Web, in Revista DataGramaZero, v 8, n 3, jun. 2007. Disponvel em: . Acesso em: 01/11/2009. 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Orkut rede social filiada ao Google, com o objetivo de aproximar as pessoas a fazer amizades e a manter relacionamentos Picasa Programa de computador que permite a edio e organizao de imagens fotogrficas presentes no computador visando uma melhor recuperao. Rede social - Uma das formas de representao dos relacionamentos afetivos ou profissionais dos seres entre si ou entre seus grupos de interesse, onde ocorre compartilhamento de idias entre pessoas e/ ou grupos.