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- a c a r t a -
Já era noite quando
finalmente voltou para casa,
após mais um dia de
trabalho. Planejava, como
sempre fazia, comer alguma
coisa, assistir algum
programa de tv e sucumbir ao
cansaço. Amanhã seria
outro dia, seguido por outro,
seguido por outro...
Ao chegar na sua
residência, como sempre
fazia, foi conferir a sua
correspondência.
para sua
surpresa, um envelope
Contas, extratos bancários,
publicidade, e
-
o mais bonito que jamais vira.
Inicialmente hesitou - e,
por uns breves segundos,
pensou: - quem me enviaria
uma correspondência tão
bela? Deve ter havido
algum engano na entrega.
Tal dúvida se desfez, tão logo viu seu nome e
constatou que a carta realmente se lhe destinava.
Com cautela, abriu o
envelope - assim como se
abre um belo presente.
Quão fino aquele papel,
Dentro estava - em letras
primorosamente bordadas -
a carta
. quão
agradável ao toque - .
pensou.
, que assim se iniciava...
. e qual parte, ao que é eterno?
Ó Filho do Supremo!
Ao eterno,
Que te afastou de
Nosso desejo
. Eu te
chamo,
. .
mas tu buscas o
que perece.
. e te fez
buscar o teu próprio?
Antes de prosseguir, pensou:. - Qual parte do meu tempo
dedico ao que é passageiro;
e passou à próxima página...
...ajuntai tesouros no
céu, . onde nem a traça
. nem a ferrugem
consomem, . e onde os
ladrões não minam
nem roubam.
Porque onde estiver o
vosso tesouro,
. .aí estará também
o vosso coração.
Que tesouros ajuntara até aquele
momento de sua vida? - pensou,
após ler a passagem.
Os bens que valorizava - o seu
modesto imóvel, que com tanto
sacrifício adquirira; - seu carro e as
prestações que ainda deviam ser
pagas; - e todo o restante.
Estavam todos, invariavelmente,
expostos à deterioração pelo tempo
e sujeitos à ação
das traças e dos ladrões.
Mas e aqueles tesouros no céu,
aos quais a passagem se referia? -
refletiu.
“Quando é que me sobrará
tempo para começar a me
empenhar, de fato, na sua
aquisição?”
E, absorto em tal pensamento,
prosseguiu a leitura...
.
. .
é ela a vida.
Esta vida terrena não é senão . - um
passatempo, um jogo.
.
. A morada
eterna,
.
. .
. Se soubessem!
não se perde nada
daquilo
Com a morte,
.
que a alma .
adquiriu.
E quais eram as aquisições
de sua alma?
”Com que freqüência faço orações? O que é que peço? Com que
freqüência pratico: o amor, a compaixão, a bondade, o perdão...?”
-, refletiu.
A fé será a
sua
riqueza,
a sinceridade dará
um doce sabor à
sua vida,
e acumular
virtudes será a sua
sagrada tarefa.
Sobre tudo o que se
deve guardar, guarda
o teu coração,
Filho meu,
alegrar-se-á o Meu
coração,
. se o teu
coração for sábio,
sim, o Meu próprio.
. porque
dele procedem as
saídas da vida.
E, sem perceber, chegou
ao final da leitura.
Leu, então, a última
passagem, que dizia...
Ó Filho da Visão Maravilhosa!
Insuflei em ti um sopro de
Meu próprio Espírito,
Por que me abandonaste e
quiseste outro, senão a Mim,
como teu bem-amado?
. a fim de
que Me pudesses amar.
Ao final da leitura,
permaneceu imóvel,
segurando a carta
encostada ao peito.
Em silêncio,
Naquela sala - longe da comoção
infrutífera da multidão - o tempo
parecia ter-se congelado.
agradeceu.
Do lado de fora, a vida prosseguia.
Sentia que, a partir daquele
instante, a sua vida seria
transformada;
sabia que aquela escolha iria resultar em mudanças;
mudanças na sua rotina, mudanças na sua vida;
certo estava que era aquilo por que a
sua alma, há tempos, almejava;
simplesmente não podia recusar àquele amoroso
convite que, pelo correio, recebera...
Palavras que, após a leitura da
carta, ganharam uma nova
dimensão.
Sabedoria x Ignorância
Luz x Escuridão
Sem hesitar, atendeu ao
amoroso convite;
e dirigiu seus passos
. - ao chamado
para o Eterno -
à Porta...
Batei, e abrir-
se-vos-á;
Porque, ao que bate,
se abre.
Naquela noite, ainda sob o efeito daqueles
abençoados instantes, recolheu-se para
dormir.
Agradeceu, em seu coração, novamente,
pela carta que recebera.
Encostando a cabeça no travesseiro, apagou
a luminária e pensou:
“Aquelas passagens todas, elas sempre
estiveram ao meu dispor, porém, fez-se
necessária a carinhosa carta para que eu
finalmente lhes dedicasse a merecida
atenção.”
Antes de adormecer, houve tempo ainda para
um último pensamento:
“Se não fosse por meio da bela carta, poderia ter sido por um sonho bom,
ou um email amigo...” e pegou no sono.
p e n s e - r e f l i t a - p o n d e r e
F o n t e d a s C i t a ç õ e s
1) “Ó Filho do Supremo! Ao eterno, Eu te chamo...” - dos Escritos Bahá’ís - As
Palavras Ocultas de Bahá’u’lláh, parte 1, nº 23 (Editora Bahá’í do Brasil);
2) “...ajuntai tesouros no céu...” - Bíblia Sagrada - Novo Testamento, S. Mateus 6,
20-21 (Sociedade Bíblica do Brasil);
3) “Esta vida terrena não é senão - um passatempo...” - Sagrado Alcorão - Sura 29,
versículo 64 - Associação Cultural Internacional Gibran;
4) “Com a morte não se perde...” - Bhagavad Gîtâ - 6, 44 (Editora Pensamento);
5) “A fé será a sua riqueza...” - A Doutrina de Buda - Aforismos Sagrados, nº 07 -
pág. 191 - Bukkyo Dendo Kyokai Foundation;
6) “Sobre tudo o que se deve guardar...” & “Filho meu, se teu coração for sábio...”
- Bíblia Sagrada - Antigo Testamento, Provérbios 4, 23 & 23, 15;
7) “Ó Filho da Visão Maravilhosa! Insuflei em ti um sopro...” - dos Escritos Bahá’ís -
As Palavras Ocultas de Bahá’u’lláh, parte 1, nº 19 (Editora Bahá’í do Brasil).
“Batei, e abrir-se-vos-á...” - Novo Testamento, S. Mateus - 7, 7-8
Onde estiver o teu tesouro,
ali também estará o teu coração...
. .
Ao eterno, Eu te chamo...
- f i m -