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MAIO E JUNHO 2011 | N.º 9 | 2ª SÉRIE EDITORIAL ENTREVISTA ARTIGOS CONTABILIDADE & EMPRESAS

& EMPRESAS - jornalfiscal.ptce_ed9... · A “IVA” na Contabilidade Pública – aplicação do POCAL num município de média dimensão, por Miguel Gonçalves e Cláudio Correia

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MAIO E JUNHO 2011 | N.º 9 | 2ª SÉRIE

EDITORIAL�� �������������� ������ ���������������� �������

ENTREVISTA�� ���������� ����������� ��������������������

ARTIGOS�� ������ ������ ������ ������������ �������� ����������������� � ������������������ !��"������ ��������"� ��#������$���%&

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CONTABILIDADE& EMPRESAS

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AINDA A NORMA CONTABILÍSTICA PARA AS MICROENTIDADES

No número anterior foi destacada a NORMA CONTABILÍSTICA PARA AS MICROENTIDADES

(NCM), aprovada pelo Decreto-Lei n.º 36-A/2011, de 9 de Março, que justifica novo destaque no pre-

sente editorial, em artigo e texto autónomos, tendo em conta essencialmente alguns depoimentos a que

assisti, no passado dia 29 de Abril, no Seminário sobre Microentidades promovido pelo Grupo de Estudos

da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (GEOTOC), a rádio TSF e o Jornal de Notícias.

Num texto sobre o tema incluído nas páginas 29 e 30 do número anterior da C&E, apresentei a se-

guinte conclusão:

“Estritamente do ponto de vista da normalização contabilística, somos de opinião que a NCM seria dis-

pensável, pois, na verdade, as diferenças para a NCRF-PE não são significativas. Ou seja, a NCRF-PE

responderia às necessidades de relato financeiro das ME.”.

Foi neste contexto que registei o facto de dois dos principais oradores daquele evento, Carlos Lobo e

Leopoldo Alves, terem emitido opinião no mesmo sentido.

Posteriormente, em 14 de Março, foram também publicados os restantes instrumentos legais da NCM

(Portaria n.º 104/2011, Portaria n.º 107/2011 e Aviso n.º 6726-A/2011).

Pedindo desculpa por “ser juíz em causa própria”, julgo que os leitores compre-

enderão que releve a publicação do meu 8.º livro, sob o título “ESTUDOS SO-

BRE A NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA EM PORTUGAL”, editado

pelo Vida Económica, e apresentado em sessão pública no passado dia 5 de Maio,

integrada no Seminário “Reorganização Administrativa do País”, promovido pela

Ordem dos TOC, TSF

e Jornal de Notícias (ver

capa e foto).

Finalmente, sublinho a publicação de uma

entrevista ao Sr. Fernando Santos, Presidente da

Direcção da APECA – Associação Portuguesa

das Empresas de Contabilidade e Administra-

ção, na qual aborda os problemas actuais e fu-

turos daquelas sociedades, bem como dos TOC.

JOAQUIM CUNHAGUIMARÃES

[email protected]

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�� ��Profissões imprescindíveis, por Guilherme Osswald ......................................... 5

� ��������Fernando Santos, Presidente da Direcção da APECA ...................................... 6

� ����������Reflexões sobre o SNC, por Joaquim Fernando da Cunha Guimarães ............. 10 IX - O novo regime contabilístico das microentidades ............................ 10O reconhecimento das diferenças de câmbio em SNC, por Emília daConceição Rocha Gomes ................................................................................ 12A “IVA” na Contabilidade Pública – aplicação do POCAL num municípiode média dimensão, por Miguel Gonçalves e Cláudio Correia ......................... 17Despesas de investigação e desenvolvimento: cumprimento das divulgaçõesda IAS 38, por Ana Catarina Riquito Cunha e José António C. Moreira .......... 24As sociedades de contabilidade .................................................................... 28É um erro grave a Contabilidade estar orientada para o mercado de capitais ....... 29Limites definidos para as microentidades são exagerados .............................. 30

�����������A implementação do Regime Geral das Taxas das Autarquias Locais: o impacto nas receitas dos Municípios, por Maria Manuela Oliveira da Costae Sara Alexandra da Eira Serra ....................................................................... 31Informações vinculativas da DGCI .............................................................. 36Pressão fiscal e parafiscal asfixia empresas de construção ............................... 37Sector bancário tem novos impostos ............................................................ 38Aplicação uniforme do actual sistema de IVA .............................................. 38Governo divulga empresas com benefícios fiscais ......................................... 38Bruxelas avança com proposta de “harmonização” fiscal ............................... 39IVA deverá representar uma receita adicional anual de 410 milhões ............. 40Proposta de Directiva sobre a matéria colectável comum consolidada ........... 41Despesa do Estado desce 3% até Abril ....................................................... 42

��������A certificação legal da dedução dos prejuízos fiscais, por Joaquim Fernandoda Cunha Guimarães ................................................................................... 43Revisores oficiais de contas admitem continuidade de tempos difíceis .......... 45

���������� � ���SNC como instrumento de gestão, por Paulo Moura Castro .......................... 46

������������APPC altera Estatutos e passa a ter a denominação primitiva de APC .......... 48OTOC poderá passar a “Ordem dos Contabilistas” ..................................... 49Director da C&E nomeado Presidente da Comissão Administrativa da ADCES ... 49

�������TOC são fundamentais para as pequenas e médias empresas ........................ 50Crise cria maior propensão a que sejam cometidas infracções .................... 51

�������SIADAP abrange universo dos serviços da administração central .................. 52Contribuição sobre o sector bancário levanta dúvidas constitucionais .......... 52Comissão Europeia propõe revisão da tributação sobre a energia .................. 53

���������� ��������Homenagem ao Professor Doutor António Lopes de Sá ............................... 54Prémio “Professor Rogério Fernandes Ferreira 6.ª edição (2010/2011) ......... 54Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 7.ª Edição (2009) .............. 54Fusão de sociedades anónimas tem regras mais objectivas e transparentes ............ 55

������� ����Caso Prático nº 11 – Equivalência patrimonial ........................................... 56

�������Palavras Cruzadas ....................................................................................... 57

������Vida Económica e Liberty publicam livro sobre franquias nos seguros ......... 58Sistema europeu de contas .......................................................................... 58Normalização contabilística para microentidades ......................................... 58

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PROPRIEDADEVida Económica - Editorial S. A.

DIRECTORJoaquim Fernando da Cunha Guimarães

COLABORADORES PERMANENTESAgostinho Manuel dos Santos CostaGuilherme OsswaldJoaquim Fernando da Cunha GuimarãesJosé Alberto Pinheiro PintoMaria José FernandesMário da Cunha GuimarãesPaulo Moura Castro

COLABORADORES NESTE NÚMEROAna Catarina Riquito CunhaCláudio CorreiaEmília da Conceição da Rocha GomesGuilherme OsswaldJoaquim Fernando da Cunha GuimarãesJosé António C. MoreiraMaria Manuela Oliveira da CostaMiguel GonçalvesPaulo Moura CastroSara Alexandra da Eira Serra

O conteúdo dos artigos é da exclusivaresponsabilidade dos autores

PAGINAÇÃOJosé Barbosa

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO R. Gonçalo Cristóvão, 1116º Esq. 4049-037 Porto Telef.: 223 399 400Fax: 222 058 098E-mail: [email protected]

DELEGAÇÃO EM LISBOAAv. Fontes Pereira de Melo, nº 61069-106 Lisboa Telef.: 217 937 747Fax: 217 937 748

IMPRESSÃOUniarte Gráfica - Porto

Registo nº 108640 no ICS

MAI/JUN 2011 | Nº 9 - 2ª SÉRIE

Assinatura anual: 64 euros

Maio/Junho 2011 – Este suplemento faz parte integrante da Vida Económica nº 1398, de 03.06.2011

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PolíticaOs políticos continuama não ter políticas fiscais definidas e objectivas para o país.

tremamente preocupante. Os PEC sucessivos mais não foram do que a prova viva da necessidade de políti-cas fiscais consistentes e realistas, de acordo com a situação do país.

Como sucede ao nível legislativo, também ao nível fiscal se navega à vista. Mais não se trata do que verda-deiras mantas de retalhos, o que tem efeitos perniciosos. Não é por acaso que os investidores estrangeiros têm sérios receios de investirem no nosso país. O que hoje é uma certeza, ama-nhã poderá ser um disparate. Com a agravante que não há responsáveis. Caso assim fosse, haveria mais cuida-dos nas decisões a tomar.

Chegou-se a uma via sem retor-no. Não há margem para erros. Por-tugal tem que tomar consciência do que há a fazer para garantir o bem-estar dos contribuintes cumpridores. Infelizmente são estes que estão a pagar a crise, enquanto os responsá-veis “lavam daí as mãos”. Ponha-se os olhos na forma como funciona a maioria dos países europeus, em que os responsáveis pela má governação são responsabilizados.

*Editor

Profissões imprescindíveis

*GUILHERME OSSWALD

Portugal defronta-se com sérios problemas no que respeita às suas contas públicas e à sua capacidade competitiva. Mais uma vez, parece evidente que as profissões de técnico oficial de contas (TOC) e de revisor oficial de contas (ROC) mereciam um outro reconhecimento e, sobre-tudo, uma entrada efectiva no sector público.

No entanto, este é um país que tem uma clara tendência para de-saproveitar os seus recursos a todos os níveis. O mesmo se passa com a contabilidade e a auditoria, quando existem excelentes profissionais e a sua actividade está bem delineada e regulamentada. Ora, acontece pre-cisamente o contrário do que seria de esperar. Os dois últimos anos fo-ram dolorosos para os TOC, com o Parlamento a avançar com legislação que mais não reflectiu do que igno-rância quanto às “boas contas”. O cúmulo foi quando se quis isentar as empresas de menores dimensões de apresentarem declaração de ren-dimentos. Confundiu-se simplifica-ção com irrealismo. É um facto que Portugal tem o defeito de complicar para garantir interesses alheios, mas a simplificação obriga a certas respon-sabilidades e cautelas redobradas.

O estado a que o Estado chegou é lamentável. É caso para nos questio-narmos se não seria mais vantajoso pagar aos “senhores da Troika” para porem as nossas contas em dia. O que o poder político está a esquecer é que não basta seguir as directivas de-finidas externamente. Neste âmbito, os TOC e os ROC têm que ser re-

conhecidos como peças essenciais de um puzzle que levará anos a concluir. São estes profissionais que estão efec-tivamente no terreno e que têm uma ideia concreta do estado das contas das empresas. O que não se entende são as razões que estão por detrás da rejeição sistemática do envolvimento destes profissionais nas contas públi-cas. O Anuário Financeiro dos Mu-nicípios é um bom exemplo de como as entidades públicas continuam a ter muitas dificuldades em gerir o dinheiro dos contribuintes.

Um cenário negro

Olhando para os programas elei-torais dos dois principais partidos, não deixa de ser constrangedora a falta de informação fiscal e conta-bilística. Os políticos continuam a não ter políticas fiscais definidas e objectivas para o país, o que é ex-

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Contabilidade & Empresas – A APECA foi constituída há quase 23 anos (21 de Maio de 1988). Quais os principais objectivos então definidos?Fernando Santos - A APECA foi concebida com o

objectivo prioritário de tentar promover e defender os le-gítimos interesses e direitos das Empresas prestadoras de serviços de contabilidade e administração, o seu presti-gio e dignificação, para além do desenvolvimento de um espírito de solidariedade e apoio recíproco entre os seus Associados.

O artigo 5º dos Estatutos elenca de uma forma deta-lhada a missão essencial da Associação:“1 - No desenvolvimento dos fins definidos no artigo anterior,

compete, em especial, associação. a) O estudo, a defesa e a promoção dos direitos e interesses

das empresas associadas; b) A representação dos associados junto de quaisquer

entidades, publicas ou privadas, nomeadamente os Ministérios das Finanças, da Economia, da Justiça, da Segurança Social e do Trabalho e Serviços deles

dependentes, e a Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas;

c) A representação das empresas associadas junto das or-ganizações profissionais e empresariais, nacionais e estrangeiras, bem como dos organismos sindicais e da opinião publica;

d) Promoção de um espírito de solidariedade e apoio re-cíproco entre os associados, com vista ao exercício de direitos e obrigações comuns,

e) Promoção e criação de serviços de interesse comum para os associados, designadamente apoio logístico, consul-ta e assistência fiscal e jurídica sobre assuntos ligados ao sector de actividade económica que representa;

f ) Promoção de estudos e acções de formação, designada-mente profissional, com vista à melhoria técnica das empresas associadas;

g) Em geral, desempenhar outras funções ou promover ac-ções e iniciativas de interesse comum para as empresas associadas, no respeito pela lei e pelos estatutos.

2 - Com vista a alcançar os objectivos enunciados, a Asso-ciação poderá criar e manter em funcionamento secções

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Entrevista a Fernando Santos Presidente da Direcção da APECA

A Ordem dos TOC passou a ter,sob a sua alçada, todas as entidades que executam serviços de contabilidade seja qual for a sua forma jurídica

Fernando Santos é membro fundadore actual Presidente da Direcçãoda APECA - Associação das Empresasde Contabilidade e Administração.Nesta entrevista dá-nos uma visão históricae actual sobre a profissão de TOCe sobre os associados da APECA, os denominados "gabinetes de contabilidade".

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especializadas, assim como estabelecer formas de coopera-ção e colaboração com outras entidades representativas de actividades económicas, sociais e profissionais, nacionais e estrangeiras e com o Estado. “

É esta linha de orientação que os seus Órgãos Sociais procu-ram cumprir dentro das suas disponibilidades, capacida-des e competências. C&E - A actual realidade das empresasde contabilidade é diferente, nomeadamente no contexto do Estatuto da Ordemdos TOC. Como analisa a ligaçãoentre as duas Instituições?FS - A APECA, mesmo sendo uma entidade repre-

sentativa de Empresas de Contabilidade, mantém um normal relacionamento institucional e cordialidade com a Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas. Com a trans-formação de Câmara em Ordem e a consequente refor-mulação dos seus Estatutos, estes vieram contemplar a inclusão de Sociedades Profissionais de Técnicos Oficiais de Contas e Sociedades de Contabilidade no âmbito da sua jurisdição.

Ainda existem alguns aspectos a definir pela Ordem, alguns deles de vital importância para as Empresas de Contabilidade, e que se aguardam com expectativa pois deles dependem iniciativas e alterações de vulto nas suas estruturas e desenvolvimento.

Desta forma, a Ordem passou a ter, sob a sua alçada, todas as entidades que executam serviços de contabilidade seja qual for a sua forma jurídica.

C&E - As acções de formação da APECA primam pela qualidade e são reconhecidas pela OTOC para efeitos do Regulamento de Créditos. Como tem funcionado esta cooperação?FS - A APECA cumpre o que está determinado no

Regulamento da Formação com as adaptações necessárias do seu articulado à nossa realidade. As nossas acções de formação possuem equiparação às da OTOC dentro dos condicionalismos da sua duração e comunicação prévia dos parâmetros dentro dos quais se vão realizar. Para o efeito, fomos acreditados como entidade formadora com possibilidades de ministrar Formação Profissional, pelo que aos Técnicos Oficiais de Contas que participam nas nossas acções são atribuídos os respectivos créditos para efeitos do Controlo de Qualidade Procura-se incutir qualidade à formação mediante uma selecção rigorosa

dos Formadores como dos temas a abordar. É prioritário que o objecto das Acções seja constituído por matéria oportuna, bem esquematizada, com suporte documental adequado e um tempo de exposição suficiente para o seu tratamento e um indispensável período para o esclareci-mento de dúvidas.

C&E - Quais os principais objectivosda APECA para o futuro?FS - Os objectivos da APECA são os que sempre

foram: continuar na senda da defesa dos legítimos di-reitos das Empresas de Contabilidade e proporcionar-lhes todo o apoio possível, nomeadamente nas vertentes formativas e informativas. Estão a decorrer, junto das Instituições adequadas, diversas diligencias no sentido de corrigir situações consideradas anómalas, tais como as funções de gerência, a renuncia do Técnico Oficial de Contas, a representação fiscal, a residência fiscal e outras relacionadas com a nossa actividade profissional. Tem sido apanágio da Associação não dar ênfase às actuações que está a promover em prol da classe; reserva a sua pu-blicitação para o momento da obtenção dos resultados.

C&E - O Sr. é um dos associados fundadores da APECA, exercendo funções na Direcção desde a data da sua constituição. Há dois mandatos que é o Presidente da Direcção. Que balanço faz? FS - Em meu entender, é um balanço com um saldo

positivo. A nossa Associação tem envidado todos os es-forços para se consolidar e, sob um conjunto de regras nas quais pontifica a prudência, tem seguido um caminho coerente com os seus princípios.

Um dos principais pilares da estabilidade associati-va tem o seus alicerces na coesão e franco entendimen-to dos seus dirigentes, especialmente a nível da Direc-ção cuja actuação orgânica consiste na devida análise e discussão dos temas em apreciação e carentes de deci-são que, ponderadamente, são sempre objecto de de-cisão unânime. Felizmente, divisionismo é um pre-dicado que não existe no seio da Direcção da APECA. Obviamente que há opiniões contraditórias em alguns temas, mas o estudo, enquadramento e persuasão con-

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Acções de formaçãoAs nossas acções de formação possuemequiparação às da OTOC.

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duzem a que não haja decisões com “votos de vencido”. Creio que reside nesta coerência um dos factores essen-ciais para a indispensável estabilização na condução dos destinos da Associação.

Temos que ter em atenção que nenhum membro da Direcção ou de qualquer outro Corpo Social é remunera-do, seja a que título for. Logo assim, as funções estatutá-rias são exercidas gratuitamente o que exige, para além de uma entrega voluntária e sentimental em que a devoção se sobrepõe totalmente à obrigação, uma disponibilidade permanente e que conduz à capacidade de alcançar uma forte estabilidade nos recursos disponíveis.

Um aspecto essencial e que muito contribui para o entendimento generalizado da Direcção, é que to-dos os seus membros são Técnicos Oficiais de Contas em exercício, portanto vivendo o dia a dia com pro-blemas emergentes das mais variadas origens, coabi-tando com as dificuldades dos seus Clientes e muitas vezes relegados para o ultimo lugar da fila quando se trata de acolher benesses mesmo que estas consistam na simples avença à qual têm o mais legítimo direito. A APECA subsiste, exclusivamente, das quotizações dos seus Associados e das receitas que, eventualmente, vai obtendo com as Acções de Formação. Não está en-feudada a nenhum organismo, seja qual for a sua con-dição, e jamais teve qualquer tipo de apoio financeiro ou logístico.

Tenho por hábito dizer que “a APECA come em ga-mela própria o alimento que ela mesmo semeou, cultivou e colheu “.

A independência é um estandarte que podemos des-fraldar com direito e orgulho. A APECA é obra dos seus Associados, os quais nela se inscrevem e permanecem vo-luntariamente por lhe reconhecerem merecimento para tal.

C&E - O Boletim APECA está suspenso desde Dezembro de 2007. É intenção da Direcção retomar a sua publicação?FS - Está a ser equacionado o relançamento do Bole-

tim APECA com um novo figurino de forma e conteúdo. Há que atentar que uma publicação deste tipo, trimestral, possui características especiais, ou seja, deve conter arti-gos cuja essência não configure temas de oportunidade, de aplicação imediata. Para estes casos, os meios de divulgação existentes – mail, inserção no “site”, etc. – tornam-se mais expeditos e úteis pela sua chegada aos receptores interes-sados praticamente no momento em que são conhecidos. Nesta perspectiva, estão a ser desenvolvidos os esforços e

estudos necessários para que o Boletim APECA seja no-vamente publicado com a inclusão de textos de interesse para os seus destinatários.

C&E - Passando agora à sua actividade profissional de TOC, o que pensa da evolução da profissão a partir do momento da constituição, em 1995, da actual Ordem dos TOC? Quais os principais problemas actuais e futuros da profissão?FS - Em boa verdade e tentando uma visualização em

termos práticos, pessoalmente – repito: pessoalmente – não consigo alcançar um avanço profissional consubs-tanciado em proventos que tenham vindo melhorar a vida dos “ex-guarda-livros”, agora Técnicos Oficiais de Contas. Elencar os problemas actuais e futuros da pro-fissão seria um exercício de divagação que não tem lu-gar nesta entrevista. Talvez um dia possa desenrugar os pontos fortes e fracos que fui amarfanhando ao longo da minha carreira profissional e arquivando no meu íntimo, e então visionar as oportunidades e ameaças ( não é uma análise “swot”…) que aproveitei, que deixei escapar, e as que me obrigaram a aceitar, e tentar dar a conhecer as minhas atribulações de décadas de actividade ao serviço do débito e crédito.

Um elevado numero de Empresas de Contabilidade estão a debater-se com problemas de real gravidade e com reflexos de tal forma negativos na sua estrutura que colo-cam em risco a sua própria sobrevivência. Há que salien-tar as aflitivas dificuldades na cobrança dos serviços pres-tados e a concorrência grosseiramente desleal de diversos colegas de profissão bem como de algumas Associações de classe que não têm pejo em utilizar esquemas pouco correctos para se posicionarem no mercado da elaboração de contabilidades, distorcendo as regras mais elementares da decência profissional

C&E - Uma das principais matérias de debate do Estatuto dos TOC é a das suas funções/responsabilidades, previstas no art.º 6.º. Concorda com o âmbito deste articulado? Como analisa a questão da “regularidade técnica” que foi clarificada com a inclusão do n.º 3 naquele articulado pela última alteração do Estatuto através do Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de Outubro?FS - A definição de “regularidade técnica” impunha-se

e, em meu entender, está aceitável.

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Responsabilidade do TOCÉ minha convicção que a responsabilidade do Técnico Oficial de Contas termina com o cumprimentodas suas funções declarativas.

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C&E - Associada a essa problemática, está intimamente ligada a responsabilidade subsidiária tributária prevista no n.º 3 do art.º 24.º da Lei Geral Tributária, que também integra aquele conceito de “regularidade técnica”. Qual a sua opinião?FS - É minha convicção que a responsabilidade do

Técnico Oficial de Contas termina com o cumprimento das suas funções declarativas. O grande problema consiste num dilema interessante e revestido de forte dramatismo: “não custa cumprir; o que custa é saber como cumprir”.

As dúvidas são inúmeras sobre os mais díspares temas; procura-se a solução para uma questão num local, a res-posta é uma; vamos a outro local confirmar, a resposta é outra; vamos a um terceiro local e recebemos a resposta mais exacta: não sei !

Vejamos: é publicada uma lei ou conjunto de leis; é muito difícil obter esclarecimentos, expurgar dúvidas, cumprir escrupulosamente o seu teor. Assim, é normal haver falhas, erros, lapsos, interpretações incorrectas que somente irão ser detectadas anos depois, já quando a ma-téria está devidamente esclarecida.

E aqui estão as coimas, os juros, os acréscimos, as cor-recções, a chancela da incompetência e todos os atributos negativos…reportados a anos atrás !

C&E - Em defesa daquelas disposições legais, o Bastonário da OTOC tem defendido que a profissão só se afirma na sociedade com a assunção dessas responsabilidades. Concorda?As responsabilidades do Técnico Oficial de Contas es-

tão consagradas na respectiva legislação. Logo assim, não tenho que concordar ou discordar; tenho que cumprir.

C&E - O Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de Outubro, aditou aos Estatutos da OTOC os art.ºs 17.º-A, 17.º-B e 17.º-C. Como interpreta a figura de “responsável técnico das sociedades de contabilidade”, no âmbito dos associados da APECA?FS - Não vejo qualquer motivo para estar contra a fi-

gura do “responsável técnico” nas sociedades de contabili-dade. No entanto, este não deve ser penalizado por actos que não cometeu ou dos quais não teve conhecimento. Em meu entender deve haver uma especial ponderação numa possível actuação contra estes profissionais, espe-cialmente no apuramento e graduação da sua culpa em qualquer infracção que possa ter sido detectada.

C&E - Em 1 de Janeiro de 2010 entrou em vigor o novo modelo contabilístico nacional – Sistema de Normalização Contabilística (SNC). A APECA desenvolveu diversas acções de formação sobre o SNC. Qual a sua opinião sobre a adaptação dos profissionais a esta nova realidade?FS - Não me posso pronunciar favoravelmente sobre

a forma como foi introduzido o Sistema de Normali-zação Contabilística (SNC) especialmente pelo exíguo lapso de tempo que mediou entre o seu conhecimento e a sua aplicação. A formação sobre o SNC foi acele-rada e, em muitos pontos, extremamente confusa. A matéria sobre o SNC é complexa, com uma terminolo-gia diferente da habitual e conceitos invertidos. Temos que distinguir duas classes de profissionais: os jovens, que mal conheceram o POC e já estudaram pelo SNC, e aqueles que desde 1977 tinham o POC memorizado e cuja alteração constituiu um esforço suplementar. Para os primeiros, o SNC foi fácil visto tratar-se de um pro-longamento mais refinado do que já tinham aprendido; para os outros, a situação tornou-se complicada pela necessidade de revolver a memória e passar a adoptar uma seriação e nomenclatura bastante diferente. E há que atentar aqui nos profissionais menos jovens que, obviamente, serão menos expeditos a lidar com a mu-dança.

Há um trabalho realizado pela Drª Maria João Bei-ra Santos, no âmbito do seu mestrado na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, que trata exausti-vamente as reacções dos Técnicos Oficiais de Contas à implementação e acolhimento do SNC, sendo as con-clusões interessantes nomeadamente no seu aspecto es-tatístico.

C&E - Qual a sua opinião sobre o SNC nos seus aspectos teóricos e práticos?FS - Ainda é cedo para poder concluir quais as vanta-

gens da adopção, assaz apressada, do Sistema. Estando a decorrer os encerramentos de contas e a apresentação das declarações fiscais referentes a 2010, só após a conclusão desses trabalhos e da análise dos seus resultados, é que podemos efectuar uma primeira apreciação.

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O Decreto-Lei n.º 36-A/2011, de 9 de Março1, aprovou o novo regime contabilístico das microentida-des, designado por “regime da normalização contabilís-tica para as microentidades” (NCM).

A publicação do diploma surgiu na sequência da Lei n.º 35/2010, de 2 de Setembro, sob o título “Simplifi-cação das normas e informações contabilísticas das mi-croentidades”, que no n.º 1 do art.º 6.º estabelece que as normas contabilísticas simplificadas, a que se refere o n.º 1 do artigo 3.º, seriam objecto de regulamentação específica a aprovar pelo Governo no prazo máximo de 45 dias a contar da publicação da Lei, prazo este que não foi cumprido uma vez que Decreto-Lei n.º 36-A/2011 só agora (passados 180 dias, i.e., um atraso de 135 dias) foi publicado.

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Refira-se que o n.º 1 do art.º 3.º da Lei n.º 35/2010 determina:“1 — Nos termos da presente lei, ficam as microenti-

dades dispensadas da aplicação das normas conta-bilísticas previstas no Decreto -Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, devendo passar a adoptar normas contabilísticas simplificadas que serão objecto de re-gulamentação.”.De notar que o Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13

de Julho, aprovou o Sistema de Normalização Conta-bilística (SNC), que revogou o anterior regime contabi-lístico, constituído pelo Plano Oficial de Contabilidade (POC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 410/89, de 21 de Novembro, e alterado por alguns diplomas posteriores, bem como por 29 Directrizes Contabilísticas e 5 Inter-pretações Técnicas.

O SNC prevê dois regimes (níveis) contabilísticos: um de carácter geral, constituído por 28 Normas Con-tabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF) e 2 Notas Interpretativas e um outro modelo reduzido, composto por apenas uma norma aplicável às Pequenas Entidades (PE) definidas no art.º 9.º do diploma e designada por

Reflexões sobre o SNC

IX - O novo regime contabilístico das microentidades

JOAQUIM FERNANDO DA CUNHA GUIMARÃES*

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Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Pe-quenas Entidades (NCRF-PE).

O art.º 2.º - “Conceito de microentidades” da Lei n.º 35/2010 estabelece que se consideram microentida-des as empresas que, à data do balanço, não ultrapassem dois dos três limites seguintes: total do balanço — � 500 000; volume de negócios líquido — � 500 000 e núme-ro médio de empregados durante o exercício — 5. Esta definição que foi também acolhida no n.º 1 do art.º 2.º do citado Decreto-Lei n.º 36-A/20112.

Note-se, ainda, que o n.º 1 do art.º 5.º dessa Lei de-termina que as microentidades podem optar pela aplica-ção das normas contabilísticas previstas no Decreto-Lei n.º 158/2009, i.e., os dois mencionados regimes (níveis) contabilísticos do SNC constituem uma opção à NCM, existindo, desta forma, o que se designa de “intercomu-nicabilidade vertical” da NCM relativamente ao SNC.

De sublinhar que o legislador optou por instituir um diploma autónomo (Lei n.º 35/2010) para as microen-tidades, quando, em nossa opinião, teria sido uma me-lhor solução a alteração do Decreto-Lei n.º 158/2009 e a consequente integração como um terceiro nível do SNC, como resumimos no esquema seguinte:

Fonte: Elaboração própria

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Na verdade, a referida intercomunicabilidade vertical entre a NCM e o SNC, sugeria tal solução, que, repeti-mos, não foi seguida, considerando-se a NCM como um regime contabilístico autónomo, o que, na verdade, não se verifica, tendo em conta o conteúdo dos restantes ins-trumentos legais aprovados e nomeadamente o Aviso n.º 6726-A/2011, de 14 de Março, relativo à homologação da NCM. Ou seja, trata-se de uma autonomia aparente.

Finalmente, sublinhámos que em artigo anterior3 so-bre este tema concluímos:“Estritamente do ponto de vista da normalização contabi-

lística, somos de opinião que a NCM seria dispensável, pois, na verdade, as diferenças para a NCRF-PE não são significativas. Ou seja, a NCRF-PE responderia às necessidades de relato financeiro das ME.”.

*Licenciado em Gestão de Empresas e Mestreem Contabilidade e Auditoria, ambos pela Universidade do Minho,

ROC, TOC, Docente do Ensino Superior e Director da C&[email protected]

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SNC(3 Níveis)

1.º NÍVEL

28 NCRF

Aplicável à generalidade das entidades

que não aplicam as NIC/NIRF

e às entidades abrangidas

pela NCRF-PE ou pela NCM

que optem por não as aplicar

Aplicável às PE

dentro dos limites

do art.º 9.º

do DL 158/2009

Aplicável às ME

de acordo

com o Decreto-Lei

n.º 36-A/2011,

de 9 de Março

1 NCRF-PE 1 NCRF-PE

2.º NÍVEL 3.º NÍVEL

(+)

(+) O tracejado visa evidenciar a referida autonomia relativa da NCM em relação ao SNC

Autonomia das normasDe sublinhar que o legislador optou por um diploma autónomo (...) Ou seja, trata-se de uma autonomia aparente.

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EMÍLIA DA CONCEIÇÃO ROCHA GOMES*

IntroduçãoO Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, colo-

cou em vigor o Sistema de Normalização Contabilística (SNC)1 nos períodos que iniciem em ou após 1 de Janeiro de 2010. Em Anexo àquele diploma, o SNC é descrito nos seguintes termos:«O Sistema de Normalização Contabilística (SNC) propos-

to prefigura um modelo baseado em princípios e não em regras, aderente, portanto, ao modelo do IASB (Interna-tional Accounting Standards Board) adoptado na União Europeia, mas garantindo a compatibilidade com as Di-rectivas Contabilísticas Comunitárias. É um modelo em que se atende às diferentes necessidades de relato finan-ceiro, dado o tecido empresarial a que irá ser aplicado, e em que se permite uma intercomunicabilidade quer horizontal quer vertical das diversas normas. Por último, pretende-se que seja suficientemente flexível para acolher com oportunidade as alterações às normas do IASB adop-tadas na União Europeia».O SNC assenta em quatro pilares, a saber: apresen-

tação, reconhecimento, mensuração, e divulgação. Para abordar o tema em epígrafe, iremos debruçar-nos apenas sobre o pilar do Reconhecimento.

De acordo com os parágrafos (§§) 80 e 81 da Estru-tura Conceptual (EC)2, Reconhecimento é o processo de incorporar no balanço e na demonstração dos resultados um item que satisfaça simultaneamente a definição de um elemento e dois critérios de reconhecimento:

(a) Probabilidade de gerar qualquer benefício económico futuro para ou da entidade, e

(b) Fiabilidade na mensuração.Refere ainda o §82 da EC que, ao avaliar se um item

satisfaz estes critérios e, por esse facto, se qualifica para

1 A transição para o SNC encontra-se previsto na NCRF 3 – Adopção ela primeira vez das normas contabilísticas e de relato financeiro, que prevê como isenção a aplicação retrospectiva de diferenças de transposição acumu-ladas, nos termos estabelecidos nos parágrafos 15 a 23, 25A alíneas a) e b) e 25F da IFRS 1 — Adopção pela Primeira Vez das Normas Internacionais de Relato Financeiro.2 Homologada por Despacho n.º 589/2009/MEF do Senhor Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, de 14 de Agosto de 2009, em substituição do Senhor Ministro de Estado e das Finanças, aprovado pelo Decreto -Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, conforme Aviso n.º15652.2009, de 7 de Setembro.

reconhecimento nas demonstrações financeiras, é neces-sário ter em atenção as condições de materialidade. A in-ter-relação entre os elementos significa que um item que satisfaça a definição e os critérios de reconhecimento de um dado elemento (por exemplo, um activo), requer au-tomaticamente o reconhecimento de um outro elemento (por exemplo, rendimento ou um passivo).

Por seu turno, a Norma Contabilística e de Relato Financeiro 23 (NCRF 23) que trata os Efeitos de Alte-rações em Taxas de Câmbio, no seu §8, define Diferença de Câmbio como a diferença resultante da transposição de um determinado número de unidades de uma moeda para outra moeda a diferentes taxas de câmbio (rácio de troca de duas moedas).

O objectivo desta NCRF3 é o de prescrever como se devem incluir transacções em moeda estrangeira e uni-dades operacionais estrangeiras nas demonstrações finan-ceiras de uma entidade e como se devem transpor as de-monstrações financeiras para uma moeda de apresentação.

A necessidade de identificar qual a forma de reco-nhecimento de diferenças de câmbio surge em diversos momentos da actividade desenvolvida pela entidade, na medida em que esta pode:

(a) ter transacções em moeda estrangeira, ou(b) ter unidades operacionais no estrangeiro.Além disso, uma entidade pode apresentar as suas de-

monstrações financeiras numa moeda estrangeira. A questão que se coloca, num ou noutro caso, consiste

em determinar como se deve proceder à conversão cam-bial, a qual engloba duas vertentes distintas: (a) Conver-são das transacções; e (b) Transposição de demonstrações financeiras expressas em divisa diferente do euro.

Normalmente, a transacção (venda/compra, rendimen-to/gasto) fica registada pelo seu valor histórico, mas os seus elementos monetários (contas a receber e a pagar) são ob-jecto de actualização para a taxa de câmbio à data do ba-lanço. Coloca-se, então, a questão do reconhecimento das diferenças de câmbio: como gasto/rendimento, incluído no valor dos activos, custo diferido ou proveito diferido?

3 A NCRF 23 tem por base a Norma Internacional de Contabilidade IAS 21 – Os Efeitos de Alterações em Taxas de Câmbio, adoptada pelo texto original do Regulamento (CE) n.º 1126/2008 da Comissão, de 3 de No-vembro.

O reconhecimento das diferençasde câmbio em SNC

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Transacção

A data de uma transacção é aquela em que a transacção cumpre os requisitos para reconhecimento de acordocom as NCRF.

Relativamente à transposição das demonstrações fi-nanceiras, dependendo do país onde se situa o investi-mento, poderemos ter questões complexas a resolver, uma vez que, por vezes, a moeda local não é relevante, sendo as transacções efectuadas com referência a uma terceira divisa. Independentemente destes problemas, teremos de decidir como vamos converter cada conta do activo, pas-sivo, capital próprio, rendimentos e gastos.

Ao longo do presente trabalho, iremos abordar as si-tuações que originam diferenças de câmbio, identificando qual o tratamento inicial, subsequente e respectivo reco-nhecimento nas demonstrações financeiras.

1. Transacções em moeda estrangeiraAs transacções em moeda estrangeira surgem como

consequência da actuação da entidade, quer pela compra quer pela venda em moeda diferente da moeda interna – o euro.

O §20 da NCRF 23 define uma transacção em mo-eda estrangeira como sendo uma transacção que seja de-nominada ou exija liquidação numa moeda estrangeira, incluindo transacções que resultem de quando uma en-tidade:i. Compra ou vende bens ou serviços cujo preço seja denomi-

nado numa moeda estrangeira;ii. Pede emprestado ou empresta fundos quando as quantias

a pagar ou a receber sejam estabelecidas numa moeda estrangeira; ou

iii. Por qualquer forma adquire ou aliena activos ou incorre ou liquida passivos, denominados numa moeda estran-geira.

1.1 Reconhecimento inicialNo momento do reconhecimento inicial, uma tran-

sacção em moeda estrangeira deve ser registada na moeda funcional, pela aplicação à quantia de moeda estrangeira da taxa de câmbio entre a moeda funcional e a moeda estrangeira à data da transacção.

A data de uma transacção é aquela em que a tran-sacção cumpre os requisitos para reconhecimento de acordo com as NCRF. Por razões práticas, é muitas ve-zes usada uma taxa que se aproxime da taxa real à data da transacção, podendo para o efeito ser aplicada uma taxa média semanal ou mensal para todas as transac-ções em moeda estrangeira que ocorram durante esses períodos. Porém, se as taxas de câmbio variarem signi-ficativamente, o uso da taxa média de um período não é apropriado.

1.2. Reconhecimento subsequente Após o reconhecimento inicial importa abordar quais

as regras a aplicar no relato de datas subsequentes. Assim, à data de cada balanço, deverão ser aplicadas as regras de-finidas no quadro seguinte:

RECONHECIMENTO SUBSEQUENTEDAS TRANSACÇÕES

EM MOEDA ESTRANGEIRA

ITENSACTUALIZAÇÃO

À DATA DO BALANÇO

Monetários

A sua quantia escriturada tem de ser actualizada

segundo a taxa de câmbioà data do Balanço

Não Monetários

Registados pelo Custo Histórico

em moeda estrangeira

A sua quantia escriturada tem de ser actualizada

segundo a taxa de câmbioà data da transacção

Registados pelo Justo Valor em moeda

estrangeira

A sua quantia escriturada tem de ser actualizada

segundo a taxa de câmbioà data em que o justo valor

foi determinado

Fonte: Elaboração Própria

A norma alerta para o facto de que a quantia escritu-rada de um item é determinada de acordo com as NCRF relevantes. A título de exemplo, os activos fixos tangíveis podem ser mensurados pelo justo valor ou pelo custo histó-rico de acordo com a NCRF 7 — Activos Fixos Tangíveis.

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No entanto, quer a quantia escriturada seja determi-nada na base do custo histórico ou na base do justo valor, se a quantia for determinada numa moeda estrangeira, ela deve ser transposta para a moeda funcional de acordo com esta Norma.

A quantia escriturada de alguns itens poderá ainda ser determinada pela comparação de duas ou mais quantias. Ao determinar a quantia escriturada dos inventários é necessário atender à NCRF 18 — Inventários, que esta-belece que aquela quantia é a menor entre o custo e o valor realizável líquido. Da mesma forma, de acordo com a NCRF 12 — Imparidade de Activos, a quantia escritu-rada de um activo para o qual exista a indicação de im-paridade é a menor entre a sua quantia escriturada antes de considerar as possíveis perdas por imparidade e a sua quantia recuperável. Quando um activo é não monetário e é mensurado numa moeda estrangeira, a quantia escri-turada é determinada comparando:

a. O custo ou quantia escriturada, conforme apropria-do, transposto à taxa de câmbio na data em que a quantia foi determinada (i.e. a taxa à data da tran-sacção para um item mensurado em termos de custo histórico); e

b. O valor realizável líquido ou quantia recuperável, conforme apropriado, transposto à taxa de câmbio na data em que o valor foi determinado (por exem-plo, a taxa de fecho à data do balanço). O efeito desta comparação pode originar que uma perda por imparidade seja reconhecida na moeda funcional, mas não o seja na moeda estrangeira, ou vice-versa.

1.3. Reconhecimento de diferenças de câmbioComo regra, as diferenças de câmbio resultantes da

liquidação de itens monetários ou da sua mensuração sub-sequente devem ser incluídas na demonstração dos resul-tados do período. Contudo, a norma prevê que as diferen-ças de câmbio resultantes de um item monetário, que faça parte do investimento líquido numa unidade operacional estrangeira, devem ser incluídas em linha separada nos ca-pitais próprios e reconhecidas nos resultados no momento da alienação do investimento.

Por seu turno, quando se trata de itens não monetá-rios, a regra é reconhecer qualquer diferença de câmbio directamente no capital próprio se os ganhos ou perdas de um item não monetário forem reconhecidos directamente no capital próprio. Ou então como resultados do período, se os ganhos ou perdas com um item não monetário fo-rem reconhecidos nos resultados.

Esquematicamente, teremos:

RECONHECIMENTO DE DIFERENÇASDE CÂMBIO DAS TRANSACÇÕES

EM MOEDA ESTRANGEIRA

ITENSRECONHECIMENTO DE

DIFERENÇAS DE CÂMBIO

Monetários

Para além das actualizações realizadas à data do

balanço, tratando-se de itens monetários, sempre que ocorra a liquidação,

parcial ou total, das dívidas do activo ou do passivo, as

diferenças de câmbio devem ser reconhecidas no exercício respectivo por contrapartida

de resultados.

Não Monetários

Registados pelo Custo Histórico

em moeda estrangeira

As diferenças de câmbio devem ser reconhecidas da

mesma forma que os ganhos e perdas relativos a esses itens, ou seja, tendo como

contrapartida o capital próprio ou os resultados.

Registados pelo Justo Valor em moeda

estrangeira

Fonte: Elaboração Própria

2. Uso de uma Moeda de Apresentação Diferente da Moeda Funcional

Ao apresentar as suas demonstrações financeiras a en-tidade pode decidir utilizar uma moeda de relato diferente da sua moeda funcional, surgindo por esse facto o pro-blema da conversão da sua moeda funcional para a moe-da em que as demonstrações financeiras são apresentadas (moeda de apresentação).

A NCRF 23 (§§ 37 a 48) prevê esta situação e define algumas regras de aplicação, as quais não diferem subs-tancialmente das regras definidas para as transacções em moeda estrangeira, conforme analisado no ponto anterior deste relatório.

2.1. Conversão da moeda Funcional para a Moeda de apresentação

Uma entidade pode apresentar as suas demonstrações financeiras em qualquer moeda (ou moedas). Se a moeda de apresentação diferir da moeda funcional da entidade, ela transpõe os seus resultados e a sua posição financeira para a moeda de apresentação.

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Segundo a NCRF 23, os critérios a adoptar para a transposição das demonstrações financeiras, resultados e posição financeira, expressas numa moeda funcional4 para uma moeda de apresentação são as seguintes:

• Activos e Passivos – a sua quantia escriturada tem de ser actualizada segundo a taxa de câmbio à data do Balanço;

• Rendimentos e Gastos – a sua quantia escriturada tem de ser actualizada segundo a taxa de câmbio à data da transacção.

2.2. Reconhecimento de diferenças de câmbio

As diferenças de câmbio que resultam da aplicação das regras anteriores não são reconhecidas nos resultados uma vez que as alterações nas taxas de câmbio têm pouco ou nenhum efeito sobre os fluxos de caixa presentes e futu-ros das unidades operacionais. Com efeito, todas as dife-renças de câmbio daí resultantes devem ser reconhecidas como uma componente separada do capital próprio.

3. Transposição de uma unidade operacional estrangeira

Uma entidade pode levar a cabo a sua actividade atra-vés de investimentos em entidades estrangeiras ou desen-volvendo operações significativas em países estrangeiros, através, por exemplo, de uma sucursal.

De acordo com o § 3 da NCRF 23, esta aplica-se na transposição das demonstrações financeiras de uni-dades operacionais estrangeiras que sejam incluídas nas

4 Que não seja a moeda de uma economia hiperinflacionária, caso em que se terá de seguir as disposições da IAS 29.

demonstrações financeiras da entidade pela consolidação (integral), pela consolidação proporcional ou pelo méto-do de equivalência patrimonial (MEP).

3.1. As diferenças de câmbiona consolidação de contas

Quando um grupo inclui empresas localizadas em países diferentes, cujas demonstrações financeiras estão, naturalmente, expressas nas respectivas moedas, as mes-mas terão de ser convertidas na moeda em que se expres-sam as contas consolidadas. Trata-se de empresas que, na definição da NCRF 23 / IAS 21, são unidades ope-racionais estrangeiras, como as subsidiárias, associadas, empreendimentos conjuntos ou sucursais da empresa que relata, cujas actividades sejam baseadas ou condu-zidas num país que não seja o país que não seja o país que relata.

Um dos principais problemas que se coloca ao nível da tradução das demonstrações financeiras é a definição da taxa de câmbio a utilizar. Esta questão conduz-nos a diversas alternativas de tradução, através dos designa-dos métodos de tradução de contas em moeda estran-geira.

A utilização dos diferentes métodos aplicados às mes-mas demonstrações financeiras leva-nos à obtenção de resultados divergentes e, muitas vezes, ao paradoxo de traduzir contas de filiais com resultados positivos em mo-eda nacional que apresentam resultados negativos após transposição cambial (no caso de utilização do método monetário-não monetário).

As normas nacionais de consolidação de contas são omissas nesta matéria, sendo apenas exigível a divul-gação, na nota 24 do ABDRC5, das cotações utiliza-

5 O Decreto-Lei n.º 127/95, de 1 de Junho, aditou o seguinte à nota 24 do ABDRC: “Indicação da taxa do ecu em vigor à data do encerramento do ba-lanço, sempre que as demonstrações financeiras sejam também apresentadas em ecus.”. Por seu turno, O SNC na nota 24 do ANEXO, modelo geral (nota 13 do Anexo do modelo reduzido), exige a seguinte divulgação: quantia das diferenças de câmbio reconhecidas nos resultados (com excepção das resul-tantes de instrumentos financeiros mensurados pelo justo valor através dos resultados); diferenças de câmbio líquidas classificadas num componente separado de capital próprio e reconciliação da quantia de tais diferenças de câmbio no começo e no fim do período; razão para o uso de uma moeda de apresentação diferente da moeda funcional (quando aplicável), e, razão para a alteração na moeda funcional (quando aplicável e em relação quer à enti-dade que relata quer a uma unidade operacional estrangeira significativa).

Activos e passivos

A sua quantia escriturada tem de ser actualizada segundo a taxa de câmbio à data do balanço.

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das na conversão em moeda nacional dos elementos incluídos nas demonstrações financeiras consolidadas que sejam ou tenham sido originariamente expressos em moeda estrangeira. A 7.ª Directiva e o Decreto-Lei n.º 238/91, de 2 de Julho, não indicam qual o método a utilizar na conversão cambial, limitando-se a impor a divulgação do método utilizado no anexo às contas consolidadas6.

Existem diversos métodos para realizar essa conversão. No entanto, atendendo às normas internacionais sobre a matéria, verifica-se que são de aplicação recomendada os seguintes:

i. Taxa de fecho ou método corrente;ii. Taxa histórica ou método temporal;iii. Métodos específicos.Os dois primeiros métodos são de aplicação genérica

enquanto o método específico destina-se à conversão de contas elaboradas em situações particulares, nomeada-mente em países com taxas de inflação muito elevadas, isto é, em economias hiperinflacionárias.

3.1.1. Tratamento do GoodwillO goodwill deve ser determinado na data de aquisi-

ção, e corresponder à diferença positiva entre o custo de aquisição e o justo valor dos activos, passivos e passivos contingentes identificáveis.

A questão coloca-se no caso de a aquisição se tratar de uma entidade em moeda estrangeira. Assim, como deverá ser tratado o goodwill resultante dessa aquisição?

A NCRF 23 define que qualquer goodwill provenien-te da aquisição de uma unidade operacional estrangeira e quaisquer ajustamentos do justo valor nas quantias es-crituradas de activos e passivos provenientes da aquisi-ção dessa unidade operacional estrangeira serão tratados como activos e passivos da unidade operacional estran-geira. Desse modo, serão expressos na moeda funcional da unidade operacional estrangeira e serão transpostos à taxa de fecho. Assim, à data de cada balanço, aplicam-se ao goodwill os procedimentos de conversão dos restantes activos e como tal o valor do goodwill deve ser ajustado em conformidade.

6 “(...) o anexo deve incluir, pelo menos, indicações sobre:1. (...) Para os elementos contidos nas contas consolidadas que sejam ou

tenham sido na sua origem expressos em moeda estrangeira, devem ser indicadas as bases de conversão utilizadas para respectiva conversão na moeda na qual as contas consolidadas sejam elaboradas.” (Artigo 34.º da Sétima Directiva).

3.2. Alienação de uma unidade operacional estrangeira

Conforme já analisado, as diferenças de câmbio resul-tantes da transposição de unidades operacionais estran-geiras não são reconhecidas nos resultados líquidos do período em que são determinadas, mas sim nos capitais próprios da entidade.

No momento da alienação, o valor dessas diferenças de câmbio, previamente apresentadas como uma com-ponente separada dos capitais próprios, deverá ser reco-nhecido nos resultados período, e em simultâneo com o resultado da alienação.

O § 48 da NCRF 23 acrescenta ainda que, uma enti-dade pode alienar os seus interesses numa unidade opera-cional estrangeira pela venda, pela liquidação, pelo reem-bolso do capital por acções ou pelo abandono de parte ou da totalidade dessa entidade.

4. ConclusãoEm Portugal, até à aprovação do SNC em 13 de Julho

e à sua entrada em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2010, não existia qualquer norma específica sobre a aplicação desta temática, apesar de o primeiro passo já ter sido dado com a Directriz Contabilística (DC) n.º 21/97, de 9 de Dezembro, sob o título “Contabilização dos efeitos da in-trodução do euro”.

De notar ainda que, através da aplicação da DC n.º 18/97, de 18 de Dezembro, Revista em 2005 pelo Des-pacho n.º 20289/2005, de 23 de Setembro, “Objectivos das demonstrações financeiras e princípios contabilísticos geralmente aceites”, as Normas Internacionais de Conta-bilidade (NIC), nomeadamente a IAS 21, já eram aplica-das, supletivamente, em Portugal. Ora, com a entrada em vigor do SNC, esta matéria passa a estar regulamentada na NCRF 23, que tem precisamente por base a referida IAS 21. Assim, podemos concluir que não existirão diferenças significativas no reconhecimento de diferenças de câmbio decorrentes da adopção do SNC.

*Lic. Gestão de Empresas pela Universidade do Minho

Auditora Financeira e docente do ensino superior

Nota: Para aceso à blibliografia sugerimos que contacte o Director da C&E.

Goodwill

O Goodwill deve ser determinado na data de aquisição,e corresponder à diferença positiva entre o custode aquisição e o justo valor dos activos,passivos e passivos contingentes identificáveis.

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MIGUEL GONÇALVES*CLÁUDIO CORREIA**

RESUMO

O artigo objectiva estudar a conformidade das con-tas do município de Oliveira de Hospital nos termos da Contabilidade Patrimonial exigida pelo Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais. Analisaram-se as principais demonstrações financeiras reportadas ao período 2007-2009 e compararam-se alguns valores com os indicadores médios nacionais de 2008, à luz do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses de 2008. Concluiu-se que a base de acréscimo assume-se como a principal dificuldade na elaboração do relato financeiro, razão pela qual a imagem verdadeira e apro-priada das operações da autarquia resulta comprome-tida.

1. INTRODUÇÃO

A designação de “IVA” aqui utilizada inspira-se em Guimarães (2006, 2010). O autor faz-se valer do polissé-mico acrónimo para se referir à importância que a imagem verdadeira e apropriada (IVA) assume na Contabilidade e o imposto sobre o valor acrescentado (IVA) na tributação indirecta (Guimarães, 2006, 2010).

O artigo procura averiguar se um dos subsistemas de informação que o Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL) exige, a Contabilidade Pa-trimonial, transmite de forma verdadeira e apropriada as operações de um município em particular - a autarquia de Oliveira de Hospital.

O POCAL, apenso ao Decreto-Lei n.º 54-A/1999, de 22 de Fevereiro, encontra-se generalizadamente aplicado aos 308 municípios portugueses (Carvalho et al., 2010). Em linhas gerais, são três os subsistemas de informação exigidos pelo POCAL - Contabilidade Orçamental, Con-tabilidade Patrimonial e Contabilidade de Custos. Articu-lados entre si, devem contribuir para a imagem verdadeira

e apropriada (IVA) das operações da autarquia, mas tam-bém para a prestação de responsabilidades aos utilizadores da informação contabilística, nomeadamente o Tribunal de Contas e os munícipes.

No domínio da Contabilidade Autárquica, en-tendemos relevantes os trabalhos de (1) Carvalho e Fernandes (1999) e (2) Caiado (1999, 1999a), os pri-meiros (1) por deixarem claros os pontos de proximi-dade - mas também as zonas de divergência - entre o Plano Oficial de Contabilidade Pública (POCP) e o POCAL, e o último (2) por destacar os principais aspectos inovadores do POCAL. Ainda nesta temáti-ca, o contributo de Bernardes (2001) revelou-se fun-damental, na medida em que procedeu a uma com-paração crítica das características preconizadas pelo POCAL em relação ao anterior sistema contabilístico usado pelos municípios, salientando as mais-valias e valor acrescentado daquelas sobre estas. A um nível geral, Monteiro (2001, 2002) e, mais recentemente, Fernandes (2007), esta última em questões relaciona-das com a aplicação da nova Lei das Finanças Locais (LFL - Lei n.º 2/2007, de 15 de Janeiro), também ajudaram ao acréscimo de conhecimento associado à Contabilidade Pública Autárquica.

Todavia, em termos um pouco mais analíticos, ou seja, em sede de apenas um caso concreto, a literatura já não resulta tão generosa. De facto, tanto quanto tenhamos co-nhecimento, apenas a investigação de Carvalho e Jorge (2003) foca em especial uma municipalidade - a Câmara Municipal do Porto.

Ora, é aqui que o nosso trabalho pretende ganhar per-tinência, visando contribuir para o desenvolvimento do conhecimento associado à Contabilidade Pública, nome-adamente do seu subsector autárquico, por via do estudo das contas de um município em concreto.

A investigação utiliza como principais fontes de infor-mação os documentos de prestação de contas relativos a 2007, 2008 e 2009, recolhidos por meio de requerimento dirigido em Maio de 2010 ao Presidente da Câmara Mu-nicipal de Oliveira de Hospital (as contas foram dispo-

A “IVA” na Contabilidade Pública – aplicação do POCAL num municípiode média dimensão

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Estrutura conceptual(…) para referir a inexistência de uma estrutura conceptual da Contabilidade Públicaem Portugal.

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nibilizadas em suporte electrónico no dia 1 de Junho de 2010). Também se recorreu a estatísticas oficiais do Insti-tuto Nacional de Estatística (INE) e ao último1 Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, referente ao ano de 2008.

Para além da introdução, o texto está organizado em mais quatro secções. A secção seguinte caracteriza em termos gerais a edilidade. Na oportunidade da terceira secção, apresentam-se informações constantes do Balan-ço e da Demonstração dos Resultados por Naturezas da entidade. A quarta secção introduz a principal temática do artigo, ou seja, ela trata de produzir considerações em torno da notável locução imagem verdadeira e apropriada das contas da autarquia de Oliveira do Hospital. Por últi-mo, são apresentadas as conclusões e limitações do estu-do, bem como são deixadas pistas para futuros trabalhos de investigação.

2. CARACTERIZAÇÃO GERALDA ENTIDADE

O concelho de Oliveira do Hospital é um dos 308 municípios portugueses. Seguindo a classificação de Car-valho et al. (2010: p. 19), os concelhos podem ser agrupa-dos de acordo com a seguinte tipologia: “pequenos, com população menor ou igual a 20.000 habitantes; médios, com população maior que 20.000 habitantes e menor ou igual a 100.000 habitantes e grandes, com população superior a 100.000 habitantes”. Por conseguinte, Olivei-ra do Hospital, com 21.568 habitantes em 2009 (INE, 2010) consubstancia um município de média dimensão, registando o país, no total, 105 concelhos que respeitam esta taxonomia.

Em sede de localização geográfica, Oliveira do Hospi-tal, um dos 17 municípios do distrito de Coimbra, encon-tra-se limitado a norte pelo concelho de Nelas (distrito de Viseu), a leste por Seia (distrito da Guarda), a sul por Arganil (distrito de Coimbra), a oeste por Tábua (distrito de Coimbra) e a noroeste por Carregal do Sal (distrito de Viseu).

Numa outra perspectiva - a dos serviços desconcentrados - assinale-se que no que concerne a Serviços Municipali-zados2 (SM), nenhuma entidade autónoma foi criada pela Câmara Municipal. A mesma constatação pode retirar-se para o caso das entidades do Sector Empresarial Local3

1 Considere-se aqui o momento de redacção do texto - Março de 2011.2 Em 2008 existiam apenas 30 Serviços Municipalizados (SM) em Portugal, sendo que cerca de 90% dos municípios não os havia constituído.3 No mesmo contexto, havia no nosso país, no final do ano de 2008, 219

(SEL). Queremos com isto dizer que, para efeitos de con-solidação de contas, a autarquia de Oliveira do Hospital não possui organismo algum no âmbito de entidades mu-nicipais, entidades empresariais locais, entidades empresa-riais intermunicipais, sociedades anónimas ou sociedades por quotas, com o qual tenha de agregar informação con-tabilística. Destarte, parece pois poder prognosticar-se não existir num futuro próximo um potencial grupo autárquico a carecer de contas consolidadas, em conformidade com a nova Lei das Finanças Locais, designadamente o seu artigo n.º 6, o qual preceitua que os municípios que detenham Serviços Municipalizados ou a totalidade do capital de en-tidades do SEL obrigam-se à consolidação do Balanço e da Demonstração dos Resultados por Naturezas.

Neste particular, abra-se um parêntesis para referir a publicação muito recente, em 1 de Julho de 2010, da 1.ª orientação genérica relativa à consolidação de contas no âmbito do sector público administrativo, a qual define os requisitos mínimos para a preparação e apresentação das demonstrações financeiras consolidadas. Estas normas encontram-se na Portaria 474/2010 do Ministério das Fi-nanças e da Administração Pública (Diário da República, 2.ª série - n.º 126 - de 1 de Julho de 2010).

Detectados que estão alguns dos traços distintivos mais relevantes do concelho, oportuno nos parece agora orientar a discussão para a essência do trabalho a que nos propomos, começando pela apresentação do Balanço e da Demonstração dos Resultados por Naturezas.

3. BALANÇO E DEMONSTRAÇÃODOS RESULTADOS POR NATUREZAS

O propósito da secção é exclusivamente o de com-pulsar dados relativos aos elementos das demonstrações financeiras (activo, fundos próprios, passivo, custos e proveitos), para na oportunidade da secção seguinte te-cermos comentários acerca da sua “IVA”. Refira-se que os elementos da demonstração financeira do Balanço res-peitam ao triénio 2007-2009 e os da Demonstração dos Resultados ao biénio 2008-2009.

entidades do Sector Empresarial Local, instituídas em 56% dos municípios portugueses.

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3.1 Estrutura do ActivoNa figura 1 apresentam-se as componentes do activo referente aos últimos três anos:

Figura 1: ESTRUTURA DO ACTIVO DA CÂMARA MUNICIPALDE OLIVEIRA DO HOSPITAL

(triénio 2007-2009)

Unidade: � ANO % Activo 2007

% Activo 2008

% Activo 2009Componentes do Activo 2007 2008 2009

Bens de domínio público 12,207,499.49 13,411,163.86 13,519,815.02 51.69 50.52 42.97

Imobilizado incorpóreo 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Imobilizado corpóreo 8,048,748.48 7,796,133.51 7,862,972.26 34.08 29.37 24.99

Imobilizado em curso 2,113,366.40 4,326,814.53 8,407,431.00 8.95 16.30 26.72

Total do Imobilizado 22,369,614.37 25,534,111.90 29,790,218.28 94.71 96.19 94.69

Investimentos financeiros 504,780.01 504,780.01 504,780.01 2.14 1.90 1.60

Existências 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Dívidas a receber 101,181.96 105,787.70 117,429.83 0.00 0.00 0.00

Títulos negociáveis 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 1.00

Depósitos em inst. fin. e Caixa 642,447.78 402,011.48 1,048,104.84 2.72 1.51 3.33

Acréscimos de proveitos 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Custos diferidos 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Total do Activo 23,618,024.12 26,546,691.09 31,460,532.96

Fonte: Demonstração financeira do Balanço (contas da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital - triénio 2007 a 2009)

3.2 Estrutura dos Fundos PrópriosOs fundos próprios calculam-se pela diferença entre o activo e o passivo e representam aquilo que em Contabilidade

empresarial designamos por capital próprio. No triénio em causa, apuram-se os seguintes dados (figura 2):

Figura 2: COMPONENTES DOS ‘FUNDOS PRÓPRIOS’ DO MUNICÍPIODE OLIVEIRA DO HOSPITAL

(triénio 2007 a 2009)

Unidade: � ANO

Componentes dos Fundos Próprios 2007 2008 2009

Património 4,969,031.14 4,969,280.54 5,314,326.20

Reservas, Subsídios e Doações 603,809.24 710,517.24 1,140,365.32

Resultados Transitados 6,397,839.22 8,425,291.18 9,895,821.58

Resultado Líquido do Exercício 2,134,159.96 1,905,882.19 2,169,730.36

Fonte: Demonstração financeira do Balanço (contas da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital - triénio 2007 a 2009)

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3.3 Estrutura do PassivoEm continuação, abaixo coligem-se os elementos directamente relacionados com as componentes passivas. São estru-

turados como segue (figura 3):

Figura 3: COMPONENTES DO PASSIVO DO MUNICÍPIODE OLIVEIRA DO HOSPITAL

(triénio 2007-2009)

Unidade: � ANO% Passivo

2007% Passivo

2008% Passivo

2009

Componentes do Passivo 2007 2008 2009

Dívidas a MLP 1,871,995.90 2,975,192.94 4,439,905.91

Dívidas a CP 465,753.44 447,813.56 477,137.00

Passivo EXÍGIVEL 2,337,749.34 3,423,006.50 4,917,042.91 24.57 32.49 38.00

Provisões para Riscos e Encargos 0.00 0.00 0.00

Acréscimos de Custos 0.00 0.00 0.00

Proveitos Diferidos 7,175,435.22 7,112,713.44 8,023,246.59

Passivo NÃO EXÍGIVEL 7,175,435.22 7,112,713.44 8,023,246.59 75.43 67.51 62.00

Total do Passivo 9,513,184.56 10,535,719.94 12,940,289.50

Fonte: Demonstração financeira do Balanço (contas da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital - triénio 2007 a 2009)

3.4 Estrutura dos ‘Custos e Perdas’ e ‘Proveitos e Ganhos’A figura 4 apresenta uma súmula da informação contabilística reportada na Demonstração dos Resultados por Na-

turezas (DRN):

Figura 4: RESUMO DA ‘DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS’DO MUNICÍPIO DE OLIVEIRA DO HOSPITAL

(2008 e 2009)

Demonstração dos Resultados (em �)Ano de 2008

% do total

Ano de 2009% do totalCustos e Perdas

Custo das Mercadorias Vendidas e das Matérias Consumidas 99,162.48 0.87 83,199.51 0.72Fornecimentos e Serviços Externos 3,748,987.83 32.92 4,013,377.08 35.6

Custos com o Pessoal 4,079,003.97 35.82 4,136,433.37 35.88Transf. e Subsídios Correntes Concedidos e Prestações Sociais 862,518.42 7.57 932,344.04 8.08

Amortizações do Exercício 1,191,543.02 10.46 1,197,163.91 10.38Provisões 0.00 0 0 0

Outros Custos e Perdas Operacionais 5,801.16 0.05 28,794.61 0.25Custos e Perdas Financeiras 89,726.62 0.79 106,752.94 0.92

Custos e Perdas Extraordinárias 1,310,626.96 11.51 1,027,600.33 8.91Total dos Custos e Perdas do Exercício 11387370.46 100 11525665.89 100

Proveitos e Ganhos Vendas e Prestações de Serviços 1,063,254.49 8 1,143,919.20 8.35

Impostos e Taxas 3,302,482.72 24.84 3,115,731.24 22.75Trabalhos para a Própria Entidade 0.00 0 0 0

Proveitos Suplementares 9,641.48 0.07 8,181.97 0.06Transferências e Subsídios Obtidos 7,996,252.92 60.15 8,338,606.65 60.89

Outros Proveitos e Ganhos Operacionais 0.00 0 0 0Proveitos e Ganhos Financeiros 560,834.16 4.22 742,438.99 5.42

Proveitos e Ganhos Extraordinários 360,786.88 2.71 346,518.20 2.53Total dos Proveitos e Ganhos do Exercício 13,293,252.65 100 13,695,396.25 100

Resultado Líquido do Exercício 1,905,882.19 2,169,730.36

Fonte: Demonstração dos Resultados de Oliveira do Hospital (biénio 2008-2009)

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4. CONSIDERAÇÕES A PROPÓSITO DA “IVA”A secção tem como preocupação fundamental centrar

a discussão em torno do anglicismo a true and fair view que vimos pela primeira vez plasmado na IV Directiva da União Europeia4. Em complemento, o POCAL também lhe imprime destaque, no seu capítulo 3 ‘Princípios e Re-gras’, concretamente na secção 2 ‘Princípios Contabilísti-cos’, ao referir que “a aplicação dos princípios contabilísti-cos deve conduzir à obtenção de uma imagem verdadeira e apropriada [ênfase dos autores] da situação financeira, dos resultados e da execução orçamental da entidade”.

Os aspectos seleccionados para o estudo da “IVA” ali-nham-se como segue: (1) Amortizações; (2) Provisões; (3) Acréscimos; (4) Diferimentos e (5) Resultados Financeiros.

4.1 AmortizaçõesA presente subsecção levanta a questão de sabermos se

a entidade cumpre com os princípios contabilísticos con-sensualmente associados a esta problemática: os princípios da especialização e da prudência (ponto 3.2 do POCAL).

Cumpre assim verificar que o município em 2008 re-gistava o valor de 1.191.543,02 � na rubrica ‘Amortiza-ções do Exercício’ (conta 66 do POCAL), tendo a impor-tância aumentado 0,47% em 2009 para 1.197.163,91 �.

Pensamos que tendencialmente o peso das amortiza-ções na estrutura de custos aumentará, porque o muni-cípio continua a inventariar ‘Bens de Domínio Público’, conforme informação proporcionada pelo Anexo (em 2008 as amortizações cifravam-se em 10,5% do total de custos. A média nacional situava-se nos 15,8%).

Finalmente, ainda nesta dimensão, oferece-nos dizer que 9 municípios em 2008 não estavam em conformida-de com o POCAL, porque não registavam valores na con-ta 66 ‘Amortizações do Exercício’, pelo que a fiabilidade das suas contas não era neste capítulo a mais desejável. No pólo oposto, a este respeito, Oliveira do Hospital cumpre os princípios da especialização e da prudência.

4.2 ProvisõesA conta 67 ‘Provisões do Exercício’ não regista quais-

quer valores nos últimos 2 anos (também não assinala valores em 2007). Oliveira do Hospital é um dos 165 municípios que não apresenta nesta matéria uma “IVA”, particularmente em sede de provisões relacionadas com ‘Cobranças Duvidosas’ (conta 291).

4 Directiva 78/660/CEE, de 25 de Julho de 1978, relativa ao formato, con-teúdo, valorimetria, auditoria e publicação das contas e dos relatórios anuais de certas formas de sociedades. Em termos cronológicos, trata-se da 4.ª di-rectiva da União Europeia (então Comunidade Económica Europeia) sobre o direito das sociedades. As três primeiras datam de 1968, 1976 e 1978.

As notas ao Balanço (2008 e 2009) referem em 8.2.22 que as dívidas de cobrança duvidosa dizem respeito a clientes, ascendendo em 2009 ao total de 9.124,55 � (este exacto valor já constava do balanço de 2008). Apesar de se encontrarem evidenciadas na rubrica 218 ‘Clientes, Contribuintes e Utentes de Cobrança Duvidosa’, não foi corrigido o valor do activo e reconhecido o competente custo em 2009 a 100%, isto porque as dívidas em mora há mais de 12 meses são provisionadas pela totalidade (cf. POCAL 2.7.1), desde que não correspondam a dívidas do Estado, regiões autónomas ou autarquias.

Ora, as dívidas para as quais existe forte risco de in-cobrabilidade são de clientes. Salvaguardando a eventu-alidade pouco plausível de estarem cobertas por seguros, cauções ou garantias, temos como corolário que a “IVA” vem comprometida, principalmente ao nível do incum-primento dos princípios contabilísticos da prudência e da materialidade5 ínsitos no POCAL.

Na mesma linha de pensamento, a informação não está isenta de erros materiais, não é neutra nem completa adentro dos limites da materialidade e do custo; logo não é plena.

Abra-se aqui um parêntesis para referir a inexistência de uma estrutura conceptual da Contabilidade Pública em Portugal (Geraldes, 2006; Rua e Carvalho, 2006; Jor-ge et al., 2008). Assim, não havendo “nenhuma estrutura conceptual que atenda às especificidades e características da Contabilidade Pública, e que ultrapasse as lacunas conceptuais dos planos públicos, […] a questão reside em analisar a estrutura conceptual de âmbito empresa-rial” (Rua, 2010: p. 4). Portanto, fazendo a ponte com a estrutura conceptual versada no recente Sistema de Nor-malização Contabilística (SNC) pode concluir-se, à luz

5 As demonstrações financeiras devem evidenciar todos os elementos que sejam relevantes e que possam afectar avaliações dos interessados em geral.

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dos ensinamentos aí ministrados, que a ‘plenitude’, ‘pru-dência’ e ‘neutralidade’ são sub-atributos da fiabilidade. Sob este prisma, neste campo em particular, a informação contida não é fiável e, portanto, uma vez mais, a “IVA” está colocada em causa, na medida em que os custos estão sub-avaliados e o activo sobrevalorizado.

Quanto às provisões passivas (conta 292 – ‘Provisões para Riscos e Encargos’) também não aparecem constitu-ídas, mas, em boa verdade, da leitura das contas, anexos e algumas actas do executivo, nada apurámos que possamos assinalar como circunstância redutora de uma “IVA” da situação financeira e do desempenho da entidade.

4.3 Acréscimos A conta 273 ‘Acréscimos de Custos’ não apresenta mo-

vimentos no triénio em causa. Em particular, em 2008, Oliveira do Hospital insere-se no conjunto dos 39 muni-cípios que não cumprem o princípio da especialização (ou do acréscimo). Acresce que a conta 2732 ‘Acréscimos de Custos - Remunerações a Liquidar’ possui até uma adenda no capítulo 11 do POCAL (notas explicativas), fazendo referência ao tratamento contabilístico das remunerações e respectivos encargos patronais devidos por motivos de férias, cujo processamento e pagamento ocorram no ano seguinte [abono de Junho (14.º mês) e período de férias].

A principal conclusão que a consideração ut supra nos merece é a de que quando o Princípio da Competência, um dos mais ‘sãos princípios da Contabilidade6’ não vem res-peitado, a “IVA” está de facto em falência. Ademais, com custos subavaliados e passivos contabilizados por defeito, o resultado económico (resultado líquido do exercício) aparece aqui fortemente empolado.

Importa agora proceder a uma análise dos ‘Acréscimos de Proveitos’. Nestes termos, a conta 2711 ‘Acréscimos de Provei-tos - Juros a Receber’ também não apresenta quaisquer valores em 2007, 2008 e 2009. No nosso ponto de vista, trata-se de uma inconsistência, porque a entidade tem ‘Rendimentos de Propriedade’ (com a classificação económica 050201 - juros) relativos a depósitos em instituições financeiras.

A informação patrimonial e económica não é a dese-jável, porque o princípio do acréscimo não é respeitado nesta matéria.

4.4 DiferimentosNo que se refere aos diferimentos activos (conta 272 - ‘Cus-

tos Diferidos’) ressalvamos que a rubrica não apresenta valores

6 Como se sabe esta expressão não é nossa - extraímo-la do art.º 22.º do extinto Código da Contribuição Industrial.

no período 2007-2009. Naquilo que se prende com os passi-vos (conta 274 - ‘Proveitos Diferidos’), mais concretamente a subconta 2745 ‘Subsídios para Investimentos’, verifica-se ob-servância em relação ao princípio da especialização. Tal e qual a antiga 2745 do revogado Plano Oficial de Contabilidade/89, que bem conhecemos da Contabilidade empresarial, incluem-se nesta conta os subsídios/transferências para investimentos a que a autarquia local tem direito, os quais, estando associados a activos, são transferidos numa base sistemática para a conta 7983 ‘Proveitos e Ganhos Extraordinários - outros Proveitos e Ganhos Extraordinários - Transferências de Capital’, à medida que forem sendo reconhecidas as amortizações do imobilizado a que dizem respeito.

Na sequência, apenas 15 municípios não movimen-tam esta conta, o que classificamos de grave desconfor-midade com o POCAL. E escrevemos grave, na medida em que, salvo melhor interpretação, não nos parece que haja 15 autarquias no país que não recebam importâncias (subsídios ou transferências) com destino a investimentos em imobilizado, em consequência da própria legislação em vigor em Portugal, de contratos-programa e/ou pro-jectos de cooperação com outras entidades.

Neste particular, interessa aqui arquivar que, em li-nha com o POCAL, as contas da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital proporcionam uma “IVA” aos seus diversos utilizadores.

4.5 Resultados FinanceirosA resenha que se seleccionou para demonstrar algu-

mas questões cujo tratamento contabilístico lesou em grande parte o objectivo magno da Contabilidade, qual-quer que seja o seu ramo - a apresentação de uma “IVA” em observância aos princípios e regras contabilísticas - termina com um exemplo paradigmático que se traduz em alguma incongruência que pensamos poder suscitar reflexão.

A comprová-lo, notamos que a entidade apresen-ta em 2008 e 2009 ‘Rendimentos de Imóveis’ (conta 783) mas não regista as respectivas amortizações7 na 683

7 A entidade regista os ‘Investimentos Financeiros’ ao custo de aquisição, segundo o ponto 8.2.3 das ‘Notas ao Balanço e à Demonstração dos Resul-tados’, relativa aos critérios valorimétricos e contabilísticos utilizados.

A “IVA”Nesse particular, interessa aqui arquivar que, em linha com o POCAL, as contas da Câmara Municipalde Oliveira do Hospital proporcionam uma “IVA”aos seus diversos utilizadores.

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‘Amortizações de Investimentos em Imóveis’ (Custos Financeiros), nem tão pouco – e era aqui que pretendí-amos chegar - apresenta valores na 414 ‘Investimentos Financeiros – Investimentos em Imóveis’. Ora, se se-guirmos de perto o raciocínio de Costa e Alves (2005: p. 845), com o qual nos identificamos, além das amor-tizações, também os “restantes gastos relacionados com imóveis arrendados (conservação e reparação, vigilância e segurança, limpeza, higiene e conforto, seguros, elec-tricidade, água, etc.) […] devem também ser considera-dos perdas financeiras”.

Deste modo, não constituirá objectivo dos preparadores da informação financeira da entidade a manipulação do re-sultado económico, neste caso por intermédio do empola-mento dos resultados financeiros? Trata-se de facto de uma problemática que merece discussão e que não será tão des-picienda quanto se possa pensar, ou mesmo materialmente irrelevante. Segundo a informação do mapa relativo ao ponto 8.2.31 dos anexos às demonstrações financeiras (demonstra-ção dos resultados financeiros), o valor de Proveitos Finan-ceiros foi de 543.000 � em 2008 e de 737.000 � em 2009.

Terminando como poderíamos ter começado, “se a IVA está para a Contabilidade como a Justiça está para o Direito” (Guimarães, 2010: p. 1)8, ambas as disciplinas terão de se fazer munir de poderes judiciários que façam aplicar quer uma quer outra, sancionado em conformi-dade quem as desrespeitar. Serve este exemplo caricatural para colocar a tónica na (falta de) acção fiscalizadora por parte do Tribunal de Contas, que urge inflectir.

5. CONCLUSÕES, LIMITAÇÕESE RECOMENDAÇÕES

De uma forma global foram detectados diversos de-terminantes de incumprimento do POCAL, de entre os

8 Em bom rigor, Guimarães (2010) informa que a frase não lhe pertence, mas sim a um autor cuja identidade não conseguira ainda apurar. Regista-mos a dignidade do seu esclarecimento.

quais salientamos, no activo do município, o desrespeito pelo princípio da especialização (ou do acréscimo). Quan-to ao passivo, a lacuna essencial descortinada deteve-se com a ausência de ‘Acréscimos de Custos’. De salientar que estas reflexões passivas (mas também as activas) repe-tem-se de um exercício para o outro.

Posto isto, do nosso ponto de vista, os resultados do presente estudo confirmam a pouca fiabilidade da infor-mação patrimonial da entidade examinada, no que toca às contas de 2007, 2008 e 2009.

Conclusão semelhante pode retirar-se ao ser anali-sada a componente económica da informação tratada. Contudo, com uma agravante, a do resultado económi-co manipulado, como oportunamente demonstrámos, fundamentalmente devido ao empolamento dos resul-tados financeiros, à não contemplação de ‘Acréscimos de Custos’ com a devida contrapartida em ‘Custos do Exercício’ e à não consideração das provisões correctoras do activo, mormente as associadas a cobranças duvido-sas. Entendemos, desta forma, que em função do não cumprimento de alguns requisitos obrigatórios do PO-CAL, a entidade apresenta um desempenho económico que não é fiável.

A investigação contribui para mostrar que a grande la-cuna da informação contabilística autárquica diz respeito à informação em base de acréscimo, o que concorre para a diminuição da transparência das contas do município.

Uma limitação deve ser apontada na realização deste estudo - a que se relaciona com a robustez de alguma con-clusões que sairiam mais fortalecidas se os anos económi-cos em análise dissessem respeito a um período de tempo mais alargado (um quinquénio, por exemplo).

Por último, considera-se que seria interessante a reali-zação de investigações de matriz quantitativa que pudes-sem inferir os factores que motivam as divergências e as lacunas apresentadas pelos municípios na sua preparação de informação em base de acréscimo. Afinal, no que res-peita às autarquias, o Decreto-Lei n.º 54-A/99 (POCAL) aqui operou a sua maior revolução.

Obs.: As referências blibliográfias poderão ser solicitadas aos autores ou ao Director da C&E.

*Professor no ISCA de Coimbra; Doutorando em Contabilidade pela Universidade do Minho / Universidade de Aveiro; Mestre em Contabilidade e Auditoria pela Universidade de Aveiro; Pós-Graduado em Economia pela

Universidade de Coimbra.

**Professor na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Oliveira do Hospital (ESTGOH); Doutorando em Contabilidade pela Universidade do

Minho / Universidade de Aveiro; Mestre em Contabilidade e Auditoria pela Universidade de Aveiro; TOC n.º 37898.

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1. INTRODUÇÃOA informação contabilístico-financeira tem um pa-

pel fundamental nas relações das empresas com os seus stakeholders. Não é por acaso, pois, que os organismos re-guladores e aqueles a quem incumbe zelar pelo eficaz fun-cionamento dos mercados de capitais e financeiros têm dedicado particular atenção à definição da informação mínima que as empresas são obrigadas a divulgar.

As normas do IASB – International Accounting Stan-dard Board (designadas por IAS/IFRS no presente tex-to), adoptadas pelos países da União Europeia a partir de 2005, são disso paradigma, pela quantidade e qualidade das divulgações que impõem às empresas que as adoptam.

Entre essas divulgações estão as que respeitam às ac-tividades de Investigação e Desenvolvimento, que, dora-vante, se designarão, abreviadamente, por I&D. Tais acti-vidades tendem a estar fortemente associadas com ganhos futuros de produtividade das empresas e, por inerência, com os resultados a gerar por estas. Por isso, essa informa-ção afigura-se de crucial importância para os investidores, ao permitir-lhes formular expectativas mais precisas do valor das empresas que são alvo da sua atenção (e.g. Sou-giannis, 1994; Lev e Sougiannis, 1999).

Em Portugal, no âmbito do normativo contabilístico baseado no POC – Plano Oficial de Contabilidade e nas DC – Directrizes Contabilísticas, as empresas não eram objectivamente compelidas a proceder à divulgação dos respectivos gastos com I&D. Embora o Código das Socie-dades Comerciais, no art.º 66º, refira que essa informação deve constar do Relatório de Gestão, o comportamento das empresas tendia a pautar-se pela não divulgação desse tipo de informação. Portanto, só em 2005, para as em-presas que adoptaram as IAS/IFRS, ou em 2007 para as restantes, por via da Interpretação Técnica nº 5, relativa à “Directriz contabilística 7 - contabilização das despesas de investigação e de desenvolvimento – Divulgações”, é que objectivamente passou a existir obrigatoriedade de divul-gação dos montantes investidos em I&D.

Dada a importância que se reconhece a tal informa-ção, o objectivo do presente estudo é averiguar, para os grupos de empresas não financeiros cotados na Euronext

Lisbon e obrigados à observância da IAS 38 – Activos In-tangíveis, se o respectivo comportamento na divulgação das despesas de I&D se alterou com a adopção do novo normativo contabilístico em 2005.

2. ENQUADRAMENTO CONTABILÍSTICOE DE DIVULGAÇÃO DAS DESPESAS DE I&D

Por uma questão de parcimónia, circunscreve-se o pre-sente enquadramento à discussão da IAS 38. O leitor in-teressado em documentar-se sobre o disposto no normati-vo POC/DC, para além do resumo constante da tabela 1, poderá consultar, por exemplo, Antão et al. (2007).

No que concerne às despesas com I&D, o tratamento contabilístico proposto na norma IAS 38 colhe bastantes semelhanças com o previsto na ex-DC n.º 7/92. A capita-lização dos gastos com I&D, isto é, a respectiva considera-ção como um activo, implica que esses dispêndios possam ser mensurados com fiabilidade e deles fluam para a em-presa “benefícios económicos futuros que sejam atribuíveis ao activo”. Isto faz com que só possam ser considerados activos intangíveis os gastos incorridos após o reconheci-mento da “fiabilidade técnica de concluir o activo intangível afim que esteja disponível para venda”.

A operacionalização desta exigência é efectuada nessa norma por via da distinção de duas fases nas actividades de I&D: a fase de pesquisa, ou investigação; e a fase de desen-volvimento. As despesas incorridas na fase de pesquisa são obrigatoriamente contabilizadas como gastos do exercício em que ocorrem; as incorridas na fase de desenvolvimento podem ser capitalizadas, salvaguardados que sejam os aspec-tos acima referidos, ou seja, que seja a geração de benefícios económicos futuros e a capacidade da empresa em mensurar as despesas incorridas na fase de desenvolvimento. Portan-to, comparativamente ao normativo POC/DC, as empresas abrangidas pela IAS 38 estão sujeitas a uma maior restrição

I&DTais actividades tendem a estar fortementeassociadas com ganhos futuros de produtividadedas empresas e, por inerência, com os resultadosa gerar por estas.

Despesas de investigação e desenvolvimento: cumprimento das divulgações da IAS 38ANA CATARINA RIQUITO CUNHA*JOSÉ ANTÓNIO C. MOREIRA**

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quanto às despesas que podem ser reconhecidas como activo, já que as despesas de investigação ficam totalmente excluídas e os critérios que permitem a capitalização das despesas de desenvolvimento tendem a ser mais exigentes.

Em matéria de divulgação, que é o aspecto que mais directamente se relaciona com o objectivo do presente estudo, o §107 da IAS 38 define as condições em que devem ser apresentados os activos intangíveis. Nos §115 e 116 exige-se a divulgação da quantia agregada das impor-tâncias dispendidas com investigação e desenvolvimento e reconhecidas como gastos durante o período. O montante das despesas capitalizadas está disponível, directamente, no balanço da empresa.

O quadro seguinte apresenta um resumo do tratamen-to contabilístico e das exigências de divulgação propostas pela norma IAS 38, comparativamente ao POC/DC. Nes-te último normativo não se considera o efeito da Interpre-tação Técnica nº 5, atrás mencionada.

Quadro 1 - RESUMO DOS CRITÉRIOSDE CONTABILIZAÇÃO E DIVULGAÇÃO

DAS DESPESAS DE I&D

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Constata-se, pois, que é ao nível da divulgação que a IAS 38 marca maior diferenciação relativamente ao nor-mativo contabilístico a que as empresas estavam anterior-mente obrigadas.

3. INFORMAÇÃO SOBRE AS DESPESASDE I&D DISPONIBILIZADA NOS RELATÓRIOS E CONTAS DAS EMPRESAS COTADAS NA EURONEXT LISBON

Tendo em conta o objectivo genérico prosseguido pelo presente estudo, na presente secção apresenta-se uma caracterização da informação sobre as despesas de I&D disponibilizada nos relatórios e contas das empre-sas (grupos) não financeiras cotadas na Euronext Lisbon, para os anos de 2002 a 2006.

A partir desses relatórios, disponibilizados no sítio da Internet da CMVM – Comissão do Mercado de Valores Mo-biliários, procurou-se aferir o tipo de divulgações de I&D no período e, de modo particular, se as empresas observa-ram os requisitos impostos pela IAS 38.

3.1. Tipos de divulgações das despesas de I&DAtendendo ao formato que podem adoptar, as em-

presas têm ao seu dispor dois tipos principais de divul-gações: as constantes do relatório de gestão, em que a in-formação aparece inserida nas considerações efectuadas pela gestão a propósito da actividade desenvolvida pela empresa durante o ano, e do modo como ela decorreu; as constantes das demonstrações financeiras e respectivo anexo, que têm subjacentes a contabilização de tais despesas, podendo aparecer nos mapas contabilísticos – essencial-mente no balanço – ou no anexo (notas adicionais) ao mesmo.

Procurou sistematizar-se a informação, considerando as frequências de divulgação na amostra de empresas se-leccionada. O quadro seguinte disponibiliza a evidência empírica recolhida. Optou-se por sombrear a informação relativa aos anos de 2005 e 2006, no sentido de permitir ao leitor ter sempre presente que nesses anos o normativo contabilístico para as empresas (grupos) da amostra foi alterado, passando a ser o do IASB (e no caso particular a norma IAS 38).

Quadro 2 - FREQUÊNCIA DE EMPRESASPOR TIPO DE DIVULGAÇÕES

(em % do total de empresas)

Tipo de divulgação 2002 2003 2004 2005 2006

1. Relatório de gestão 38% 44% 39% 37% 32%

2. Mapas Financeiros 85% 88% 82% 49% 43%

3. Anexo/Notas adicionais 79% 80% 80% 72% 64%

Nº de Empresas 39 41 44 43 44

Notas: Os valores referidos para os “mapas financeiros” respeitam à capi-talização acumulada de despesas de I&D no balanço; os do “anexo/notas adicionais” respeitam às referências à política de I&D seguida ou a outra informação sobre I&D constante do anexo.

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A frequência média de referências a actividades de I&D divulgada no relatório de gestão, no período de 2002 a 2006, é de cerca de 38%. No entanto, verifica-se nos últimos anos do período uma ligeira redução dessa frequência. Tal redução não parece ser explicada por uma eventual dimensão do volume de I&D na economia, de-vido a uma fase mais recessiva do ciclo económico, por-que os anos em causa tenderam a ser, para o conjunto do período, aqueles em que a actividade económica agregada se comportou mais favoravelmente.

Uma análise mais detalhada dos relatórios e contas (não tabelada) mostra que cerca de 36% das empresas que em 2006 capitalizaram despesas de desenvolvimento não inseriram no relatório da gestão qualquer menção a dis-pêndios com despesas de I&D. Isto poderia sugerir que as divulgações deixaram de ser efectuadas no relatório da gestão para serem efectuadas por outra via. Porém, como se pode constatar pela análise das linhas 2. e 3. do quadro precedente, também nos restantes tipos de divulgações se verificam reduções no período pós-normativo IASB. Por conseguinte, não se percebem as efectivas razões que po-dem ter levado à inesperada redução do número de em-presas que faz menção às despesas de I&D no respectivo relatório de gestão.

A evolução das frequências relativas de divulgações nos mapas financeiros, linha 2., já é mais consentânea com o na IAS 38. Parece não haver dúvida, como atrás se referiu, que este normativo é mais restritivo do que o anterior (POC/DC) no tratamento a dar às despesas de I&D, sobretudo quanto à impossibilidade de capitalizar as que respeitam a investigação. A redução da frequência das divulgações da linha 2. para quase metade em 2005 e 2006 tem a ver com a redução do número de empresas que, à luz do novo normativo, capitalizaram gastos com I&D.

A frequência de divulgações no anexo, linha 3., tam-bém sofreu no período 2005/2006 uma redução, ainda que mais modesta do que a mencionada na linha anterior da tabela. No anexo/notas adicionais, no período pré-nor-mativo IASB, as divulgações sobre I&D correspondiam na quase totalidade à referência à política contabilística utilizada para tais despesas. Assim continuou a ser no período subsequente. A referida redução parece ter a ver com o facto de existirem empresas que deixaram de efec-tuar capitalização dessas despesas e, por via disso, parecem ter-se sentido desobrigadas de mencionar tal política, tan-to mais que esta passou a estar muito claramente definida na IAS 38.

De realçar que a frequência das divulgações no ane-xo/notas adicionais é superior à soma das empresas que capitalizam I&D com as que referem o montante do res-pectivo dispêndio levado a custos – a analisar na secção seguinte –, o que sugere que ainda existirão empresas que, mecanicamente, fazem menção nesse anexo à política contabilística de I&D.

Em suma, a introdução do novo normativo contabi-lístico produziu efeitos na frequência das divulgações das despesas de I&D. Porém, contrariamente ao esperado, es-ses efeitos traduzem-se por uma redução nas divulgações no relatório de gestão que, relembre-se, à luz do Código das Sociedades Comerciais, art.º 66º, deveria conter refe-rência aos montantes dispendidos em tais actividades. A redução ocorrida nas divulgações nos mapas financeiros, que reflecte totalmente o que acontece no balanço, é mais consentânea com os efeitos esperados pela aplicação do novo normativo, muito mais exigente na definição das condições a observar para a capitalização de despesas de I&D.

Na secção seguinte procura-se complementar a evidên-cia empírica discutida, procurando averiguar da efectiva observância da IAS 38 por parte das empresas da amostra no que respeita à divulgação dos montantes investidos em I&D.

3.2. Observância da IAS 38 na divulgaçãodos dispêndios das despesas de I&D

Discute-se na presente subsecção em que medida as empresas cumprem o preceituado na norma IAS 38.

Dois aspectos são objecto de particular consideração: a capitalização das despesas de I&D no ano, que se espera observe uma redução devido ao carácter proibitivo da IAS 38 quanto à contabilização de despesas de investigação; a divulgação dos dispêndios com I&D, que passou a ser espe-cificamente obrigatória e, por esse motivo, se espera tenha verificado uma evolução positiva relativamente às divul-gações verificadas até 2004. O quadro seguinte sintetiza a informação recolhida.

Relatório de Gestão

Porém, contrariamente ao esperado,esses efeitos traduzem-se por uma reduçãonas divulgações no relatório de gestão que,relembre-se, à luz do Código das Sociedades Comerciais, art. 66º, deveria conter referências aos montantes dispendidos em tais actividades.

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Quadro 3 - OBSERVÂNCIA DO PRECEITUADO NA IAS 38

(em % do total de empresas)

Descrição 2002 2003 2004 2005 2006

1. Capitalização de I&D no ano 69% 71% 73% 33% 30%

2. Divulgação dos gastos de I&D 0% 5% 2% 7% 5%

Nº de Empresas 39 41 44 43 44

O quadro 3, linha 1., mostra que a frequência das empresas que capitalizam despesas com desenvolvimen-to se reduziu no período 2005/2006 para menos de metade da frequência verificada no período preceden-te. Esta evidência complementa a que o quadro 2 pro-porcionara em termos de valores acumulados (linha 2.), sendo consistente com a aplicação do novo normativo. O superior grau de exigência imposto pela IAS 38 pare-ce justificar esta redução. Daqui resulta, por exemplo, que o montante de I&D capitalizado pelas empresas da amostra tenha passado de 15,36 milhões de Euros em 2004 para 3,11 milhões em 2005.

Quanto à divulgação do montante agregado das des-pesas de I&D contabilizado como gasto do período, verifica-se que houve um ligeiro crescimento no período 2005/2006. Até 2004 apenas cerca de 2% das empresas da amostra, em média, procediam a tal divulgação, valor médio que subiu para 6% no período subsequente. Pare-ce poder tributar-se este crescimento ao efeito induzido pelo novo normativo. No entanto, dado o carácter im-perativo de tal divulgação, o facto de uma tão pequena proporção de empresas (3 em 2005, 2 em 2006) estar a seguir o preceituado leva a concluir que o normati-vo não está a ser efectivamente cumprido. Com efeito, tal falta de divulgação não resulta do facto das empresas não terem contabilizado como gastos, nesses dois anos, despesas com I&D. Com efeito, em 2006 pelo menos 9 empresas referiram ter actividades desta natureza e não capitalizaram tais despesas, o que implica que os tenham levado a gastos. Pelo menos estas tinham informação que deveria ter sido divulgada.

Não se percebe o porquê deste incumprimento. Sobre-tudo porque se trata de empresas (grupos) cotadas, dotadas de adequados recursos humanos e técnicos na área conta-bilístico-financeira e cujos relatórios e contas são objecto de revisão por parte dos mais conceituados revisores e ou sociedades de revisores de contas. Há algo que neste domí-nio não está a funcionar ou, pelo menos, não funcionou nos dois anos em análise, mas para o qual não se consegue encontrar uma justificação plenamente satisfatória.

Segundo Oliveras e Amat (2003), a crescente im-portância estratégica dos intangíveis tende a levar as empresas a evitar reportar informação com eles rela-cionada. Porém, no caso português em análise, o grau de agregação da divulgação exigida pela IAS 38 parece colocar de parte que o incumprimento seja determina-do por questões de concorrência. A evidência recolhida por Ferreira et al. (2001), de que as empresas tendem a seguir as regras fiscais na divulgação da informação, mais do que as normas contabilísticas, também não pa-rece ser explicação neste caso, até porque o tratamento fiscal das despesas com I&D não se distingue sobremo-do do tratamento previsto na IAS 38. Talvez a referida ausência de divulgação tenha a ver, como referem Ding et al. (2004), com o grau de desenvolvimento do mer-cado de capitais, que está associado a um dado nível de exigência de informação por parte dos investidores. Adicionalmente, ainda segundo estes mesmos autores, as divulgações de informação sobre I&D tendem a es-tar associadas à intensidade das empresas nesse tipo de gasto (investimento), com as mais intensivas a divulga-rem mais informação. Tendo em conta que a genera-lidade das empresas portuguesas da amostra utilizada no presente estudo são pouco intensivas em I&D, essa pode ser uma justificação para a evidência recolhida e a falta de divulgação detectada, mas apenas parcial, dado que se trata de divulgações obrigatórias.

4. CONCLUSÃOO presente estudo tinha como objectivo averiguar

se, na sequência da adopção do novo normativo IASB, em 2005, tinham ocorrido alterações na divulgação das despesas de I&D por parte das empresas (grupos) não fi-nanceiras cotadas na Euronext Lisbon e obrigadas à obser-vância desse normativo. De modo particular, pretendia-se verificar se tais empresas cumpriam as divulgações obriga-tórias previstas pela IAS 38.

A evidência discutida aponta no sentido de que o novo normativo causou algum impacto no tratamento contabi-lístico das despesas de I&D, sobretudo por via do carácter mais restritivo no acesso à capitalização de tais despesas. Porém, ao nível da divulgação dos montantes dispendidos em I&D, as alterações ocorridas no comportamento das empresas são de tal modo insignificantes que se tem de concluir pela manutenção do status quo anterior à adop-ção da IAS 38, isto é, pela não divulgação quase generali-zada dessa informação.

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BIBLIOGRAFIA

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DING, Y., G. ENTWISTLE e H. STOLOWY 2004. “International Differences in Research and Development Reporting Practices: A French and Canadian Comparison“, in Advances in International Accounting, J. Timothy Sale (ed.), vol. 17.

FERREIRA, L., H. ISIDRO e P. ALVES 2001. “The Role Of Research And Development (R&D) Capitalisation: the Case of Portuguese Listed Companies”, Journal for Man-agement Theory and Practice, vol. 24.

LEV, B. e T. SOUGIANNIS 1999. “Penetrating the Book-to-Market Black Box: The R&D Effect”, Journal of Business Finance & Accounting, Vol. 26, N.º 3/4, April 1999, pp. 419-449.

OLIVERAS, E. e O. AMAT 2003. “Ethics and Creative Accounting: Some Empirical Evidence on Accounting for Intangibles in Spain”, UPF Economics and Business Working Paper No. 732.

SOUGIANNIS, T. 1994. “The Accounting Based Valu-ation of Corporate R&D”, The Accounting Review, Vol. 69, N.º 1, January 1994, pp. 44-68.

*Mestre em Ciências Empresariais/Contabilidade (FEP/UP)[email protected]

**Professor AuxiliarFaculdade Economia Universidade do Porto /CEF.UP/OBEGEF

[email protected]

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O Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de Outubro, in-troduziu alterações significativas ao Estatuto da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (EOTOC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º452/99, de 5 de Novembro, das quais destacamos as relativas às sociedades de contabilida-de, vulgo “gabinetes de contabilidade”.

Dessas alterações, realçamos a alínea b) do n.º 1 do art.º 7.º do EOTOC que previa o exercício da activida-de pelos TOC como sócios, administradores ou gerentes de uma sociedade de profissionais, passando, agora, essa qualidade a poder ser exercida no âmbito das sociedades de contabilidade.

De notar que a alínea d) do mesmo articulado foi também adaptada para acolher o exercício profissional do TOC no âmbito de contrato individual de trabalho a celebrar com as mencionadas sociedades de profissionais.

Relevamos, ainda, que foram acrescentados os art.os 17.º-A e 17.º-B, referentes às regras de inscrição das sociedades de profissionais de TOC e das sociedades de contabilidade.

P.S.: Este texto vem a propósito da entrevista ao Sr. Fernando Santos, Pre-sidente da Direcção e um dos principais fundadores da APECA, publicada neste número da C&E.

As sociedades de contabilidade

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É um erro grave – criado em grande parte por académicos – co-locar como finalidade primeira da Contabilidade a informação dirigi-da ao mercado de capitais. Esta a opinião manifestada Hernâni Car-queja num trabalho publicado pela Revista TOC. Uma das vozes mais respeitadas do mundo contabilísti-co não tem pejo em afirmar que há muita inverdade na interpretação que o público faz das contas que são apresentadas. A realidade é que as contas, tal como são produzidas, pretendem fornecer dados úteis ao investidor.

Quanto à adopção das normas in-ternacionais de contabilidade, Hernâ-ni Carqueja que o que conduziu a tal situação foi a necessidade de competir no mercado internacional e seguir um modelo que outros criaram. “Para nós não foi o melhor modelo. Em vez de termos SNC e as normas, devíamos ter um só documento. Isso seria mui-to mais útil para a profissão. As PME deveriam ter tido uma solução que lhes fosse mais adequada.” A criação da norma para as microentidades po-derá atenuar, mas o profissional acha que a asneira ficou feita.

No entanto, admite que o cami-nho que está agora a ser seguido é mais razoável. “Os Portugueses tive-ram a sorte de contar com a OTOC para resolver os muitos problemas criados pela rápida alteração de pro-cedimentos. Foram estes profissio-nais que serviram de almofada para

absorver o choque principal e que resolveram a maioria da dificulda-des.”

Hernâni Carqueja salienta que tem sido muito meritório o trajec-to realizado pela profissão e que acabou por resultar na criação da actual Ordem. Adianta a este pro-pósito: “Os TOC têm revelado um desempenho particularmente bom, tornando possível as mudanças, por exemplo, nos procedimentos fiscais. Não obstante haver outras entidades a reclamarem para si esses créditos, penso que aos TOC cabe a maior parte desses créditos pela reforma que foi feita.” O docente afirma ainda que vê com bastante desagrado qualquer solução que se baseie em retirar ajudas aos gestores que têm como base os TOC.

TOC é um criador de valor

A realidade é que o TOC, des-de que existe e que cumpra bem as suas funções, é um criador de valor. “O TOC precisa de entender que é isso que ele é. É visto muitas vezes

apenas na perspectiva daquilo a que se chama contabilidade externa, mas o melhor dos TOC, no que toca à criação de valor, respeita à informa-ção que produzem para dentro da empresa. A informação oportuna, normalmente, desencadeia um pro-cesso de correcção que faz com que a empresa se defenda. Penso que os profissionais terão que desenvolver muito mais capacidades no âmbito da contabilidade de gestão”, defende Hernâni Carqueja.

Este profissional, entretanto, não vê o problema da contabilidade isolado de outros problemas políti-cos e económicos. Na sua opinião não existe a opção de adoptar ou não as normas internacionais. “Te-mos que as adoptar nas empresas que concorrem internacionalmente. Mas isso não é razão suficiente para impor regimes menos conformes à nossa tradição e forma de estar a empresas mais pequenas que não querem concorrer internacional-mente, não têm essa intenção ou não querem incorrer nos custos.” Adianta ainda que o que conduziu à adopção das normas internacionais de contabilidade foi a necessidade de competir no mercado interna-cional e seguir um modelo que ou-tros, maiores do que nós, criaram. O que significa que para nós pode não ser o melhor modelo. Por isso é que defende que em vez de ser ter um SNC e as normas, deveríamos ter apenas um documento.

De acordo com Hernâni Carqueja

É um erro gravea Contabilidade estar orientadapara o mercado de capitais

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De acordo com a Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas

Limites definidos para as microentidades são exagerados

A Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas (APPC) congratula-se com a aprovação do Decreto-Lei que aprova o regime de normalização contabilística para microentidades (NCM), já que estas devem beneficiar o mais possível da redução dos custos de contexto. No entanto, Carlos Baptista da Costa, director da “Revista de Contabili-dade e Finanças”, órgão da APPC aponta críticas ao diploma, bem como às subsequentes portarias.

Um dos primeiros problemas que levanta é que o diploma só foi aprovado quase cinco meses após a data legalmente estabelecida, que era Outubro. Ora, o Decreto-Lei nº 36-A/2011 é de 9 de Março, tendo uma semana depois sido aprovados os modelos das demonstrações finan-ceiras e o código de contas, o qual inclui o quadro síntese de contas, a lista codificada de contas e ainda as notas de enquadramento. Como é possível verificar houve um significa-tivo atraso na publicação do diploma e dos respectivos anexos, o que tem sempre custos para as entidades visa-das. Mas as críticas daquele respon-sável vão mais longe.

Uma outra crítica prende-se, des-de logo, com a definição de micro-entidade. Aliás, esta matéria sofreu bastante polémica desde o início do processo, com várias entidades a co-locarem dúvidas e a contestarem os princípios adoptados. A APPC de-fende que é um exagero os limites contemplados na Lei nº 35/2010, de 2 de Setembro, os quais condu-

zem a que 84% do tecido empre-sarial nacional seja constituído por microempresas. Por sua vez, o facto da Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades (NCRF-PE) se aplicar a cerca de 12% das empresas portuguesa, leva a que a aplicação integral do Siste-ma de Normalização Contabilística (SNC) se aplique apenas a 4% da totalidade do universo empresarial (acrescido das micro e pequenas em-presas, cujas demonstrações finan-ceiras estejam sujeitas a certificação legal das contas).

Perante esta realidade, a Associa-ção considera evidente que é neces-sário rever urgentemente os limites para classificar micro, pequena, mé-dia/grande empresas. Além disso, também deverá ser redefinido quais as empresas que devem aplicar nas suas contas individuais e consolida-das as normas internacionais de rela-to financeiro, tal como adoptadas na União Europeia.

Disparidades no tempo

O autor do trabalho publicado naquela revista apresenta uma outra crítica, a circunstância da mencio-

nada lei estabelecer que a entrada em vigor da NCM ocorre em 2010, sen-do pertinente o facto dos três men-cionados diplomas terem sido pu-blicados apenas em Março passado. É sabido que durante 2010 as mi-croentidades apenas tiveram como normativo para efectuarem os seus registos contabilísticos a NCRF-PE, razão pela qual a NCM se deveria aplicar somente a partir dos exer-cícios iniciados em 1 de Janeiro de 2011 ou, quando muito, relativa-mente a 2010, apenas os modelos das demonstrações financeiras nela contemplados.

Se uma microempresa fosse con-siderada aquela que não ultrapassa um volume de negócios líquido de 150 mil euros – que mesmo assim representaria cerca de 64% do total das empresas nacionais – teria tam-bém sido possível permitir que tais empresas pudessem adoptar o regi-me de caixa em vez do de acréscimo. De notar que a APPC sempre defen-deu em sede própria esta posição, en-quanto lhe foi permitido ter assento na Comissão de Normalização Con-tabilística (CNC).

Apesar destes problemas, a As-sociação admite que se deu um passo importante no que respeita à simplificação administrativa e à consequente redução dos encargos financeiros suportados pelas micro-empresas portuguesas, o que poderá contribuir, de forma consistente e decisiva, para a tão urgente e indis-pensável revitalização da economia nacional.

Simplificação

Apesar dos problemasque se colocam, foi dado um passo importante no que respeita à simplificação administrativa e à redução dos encargos financeiros das microempresas.

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As autarquias locais têm vindo a assumir uma impor-tância significativa na organização territorial portuguesa, representando uma forma de aproximar a Administração Pública dos cidadãos. Estas entidades são responsáveis pela prestação, de um número cada vez mais elevado, de bens e serviços públicos, resultante do processo de des-centralização de atribuições e competências1, que tem evoluído, significativamente, nos últimos anos. Por con-seguinte, as autarquias confrontam-se com o aumento das necessidades locais e com uma escassa forma de responder às mesmas, dado que nem todas as receitas são controla-das por si, embora estas disponham de património e fi-nanças próprias.

A expansão de receitas próprias advém do lançamen-to de taxas, preços e multas, dado que só aqui existe autonomia fiscal. Destas três fontes de rendimento, a escolha recai, maioritariamente, sobre as taxas. Segundo Lobo (2006: 47), esta opção é essencialmente de foro financeiro, pois “é urgente a angariação de receitas para a manutenção dos padrões de fornecimentos de utilida-des públicas”. Porém, esta preocupação tem conduzido à multiplicação das taxas locais, sobrecarregando os par-ticulares e empresas e desincentivando a prática das ac-tividades locais.

Com a Nova Lei das Finanças Locais2 e o Regime Ge-ral das Taxas das Autarquias Locais (RGTAL) torna-se obrigatória a fundamentação económico-financeira dos valores das taxas praticadas pelos municípios. Esta exigên-cia legislativa provocará, certamente, alterações nas taxas até agora praticadas e, consequentemente, na arrecadação de receitas. Este trabalho pretende, precisamente, aferir

1 As atribuições destas entidades e a competência dos seus órgãos, estando associadas à satisfação das necessidades das comunidades locais, respeitam, nomeadamente, ao desenvolvimento socioeconómico, ao ordenamento do território, ao abastecimento público, ao saneamento básico, à saúde, à edu-cação, à cultura, ao ambiente e ao desporto. As Leis nº 159/99 de 14 de Setembro e 169/99 de 18 de Setembro, alterada e republicada pela Lei n.º 5-A/2002 de 11de Janeiro, estabelecem, respectivamente, o quadro de atri-buições e competências para as autarquias locais. 2 Lei n.º 2/2007 de 15 de Janeiro

o impacto do RGTAL na fixação das taxas a cobrar aos munícipes, bem como das receitas a arrecadar pelas au-tarquias locais.

O regime geral das taxas das autarquias locais

Até há pouco tempo, a criação e fixação de taxas municipais, desde que devidamente regulamentadas e enquadradas na lei geral, regiam-se pelo princípio que sustenta a aplicação da generalidade dos impostos e taxas praticadas pelos demais serviços públicos: o da responsa-bilidade política.

A publicação do RGTAL, que entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2007, mas cuja aplicação efectiva teve lugar em Abril de 2010, veio alterar significativamente esta situação. Este diploma foca, entre outros aspectos, as relações jurídico-tributárias relativas ao pagamento de taxas. Nos termos do artigo 6º do RGTAL, as taxas locais incidem sobre utilidades prestadas aos particula-res ou geradas pela actividade dos municípios, desig-nadamente: a) pela realização e manutenção de infra-estruturas urbanísticas primárias e secundárias; b) pela concessão de licenças, prática de actos administrativos e satisfação administrativa de outras pretensões de ca-rácter particular; c) pelo aproveitamento do domínio público e privado municipal; d) pela gestão do tráfe-go; e) pela gestão de equipamento rural e urbano; f ) pela prestação de serviços no domínio da prevenção de riscos e da protecção civil; g) pelas actividades de pro-moção do desenvolvimento e competitividade local e regional.

Com a aprovação do RGTAL e da actual Lei das Fi-nanças Locais começaram a criar-se mecanismos de con-trolo às taxas praticadas pelos municípios. Até então, o controlo sobre a criação destas taxas e seus consequentes regulamentos pouco subsistia. Na verdade, como realça Vasques (2009: 25), “o relativo desinteresse da doutrina quanto às taxas veio a contribuir também para a perpe-

A implementação do Regime Geraldas Taxas das Autarquias Locais:o impacto nas receitas dos MunicípiosMARIA MANUELA OLIVEIRA DA COSTA*SARA ALEXANDRA DE EIRA SERRA**

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tuação de um vazio legislativo que só agora se começa a ultrapassar”.

Em boa verdade, o RGTAL, ao estabelecer exigên-cias precisas para a edição dos regulamentos locais de taxas procura pôr termo a certos vícios de fundo e de forma, obrigando as autarquias locais à expressão clara da base de incidência, da base de cálculo, das isenções, do modo de pagamento das taxas, da fundamentação económico-financeira, bem como da fundamentação das isenções.

Até então, os regulamentos de taxas continham uma quantidade exagerada de taxas, tornando-os extensos e de di-fícil compreensão. Além disso, continham taxas que, muitas vezes, os serviços nunca utilizaram. Isto acontecia porque as autarquias, raramente, revêem os seus regulamentos de taxas, limitando-se, muitas vezes, a criar cópias de taxas de outros municípios, cuja realidade é diferente e a actualizarem o seu valor, anualmente, em função da inflação.

A criação de textos regulamentares deficientes e de ta-xas inapropriadas originava problemas danosos ao Princí-pio da Igualdade Tributária, muitas vezes, apenas, solucio-nados com a intervenção dos tribunais. Desta forma, com o surgimento do RGTAL foram oferecidos às populações argumentos legais, até então em falta, para a contestação das taxas locais (Costa, Serra, Faria e Oliveira, 2009 e Vas-ques, 2009).

Face ao exposto, a publicação do RGTAL teve como principais objectivos: diversificar a base de incidência e simplificar as taxas, fixar os princípios estruturais para es-tes tributos públicos e aperfeiçoar tecnicamente os regula-mentos locais (Vasques, 2009).

No que concerne ao primeiro objectivo, embora o Legis-lador tenha mantido a monocultura do património, houve intenção de diversificar a base da incidência das taxas, uma vez que foi apresentado um elenco aberto e um conjunto diversificado de taxas, que até agora não haviam sido enfati-zadas, tais como as taxas referentes a actividades de promoção de finalidades sociais, territoriais e ambientais, de protecção civil e de competitividade (Costa, et al., 2009).

Face às inúmeras taxas existentes, esperava-se que o RGTAL promovesse a simplificação da Tabela de taxas. Porém, este continuou a atribuir discricionariedade às autarquias locais para criarem taxas para todos os bens e serviços disponibilizados, apresentando, para o efeito, um normativo com cláusulas abertas. Uma possível solução para este problema seria optar por um catálogo fechado de taxas, que constituiria uma tabela matriz e definiria os níveis máximos de fragmentação das mesmas.

Embora esta solução promova a homogeneização, com-parabilidade e, sobretudo, a simplificação da Tabela de ta-xas, descuraria as vicissitudes das autarquias locais e as suas necessidades. Assim, definir um catálogo de taxas, total-mente, fechado pode não ser a melhor alternativa, todavia, seria desejável que a Jurisprudência estabelecesse limites para a criação de taxas. Vasques (2009) considera que foi com o objectivo de simplificar as taxas, que o RGTAL im-pôs a fundamentação económico-financeira das mesmas, que certamente conduzirá à agregação e eliminação de mui-tas taxas e, consequentemente, à simplificação e redução da Tabela de taxas. Esta será, por certo, a maior exigência deste diploma, dado que, como refere Vasques (2009:140), “um dos principais vícios de que têm padecido as nossas taxas lo-cais está na falta de mecanismos que obriguem as autarquias a justificar de acordo com um princípio estruturante claro a quantificação que delas fazem parte”. Este diploma legal procura, assim, corrigir essas falhas, consagrando no seu ar-tigo 4º o Princípio da Equivalência Jurídica e exigindo, no seu artigo 8º, que os regulamentos locais sejam elaborados com base nos estudos de fundamentação económico-finan-ceira das taxas. No entanto, não será tarefa fácil, dado que uma fundamentação dessa extensão deverá ser suportada por um sistema de contabilidade de custos, implementa-do adequadamente, porém, tal como comprovou o estudo de Carvalho, Gomes, Fernandes (2009), grande parte dos nossos municípios ainda não dispõem deste mecanismo contabilístico e de gestão.

Na senda da sua filosofia, o Legislador procurou im-por neste diploma os princípios estruturais da Equivalên-cia Jurídica, da Justa Repartição dos Encargos Públicos e da Publicidade. O Princípio da Equivalência Jurídica estabelece que “o valor das taxas das autarquias locais é fixado de acordo com o Princípio da Proporcionalidade e não deve ultrapassar o custo da actividade pública local ou o benefício auferido pelo particular” (n.º 1, artigo 4.º do RGTAL).

A criação de taxas deve, também, respeitar o Princípio da Prossecução do Interesse Público local, que “visa a sa-tisfação das necessidades financeiras das autarquias locais e a promoção de finalidades sociais e de qualificação urba-nística, territorial e ambiental” (nº 1 do artigo 5º do RG-TAL). Ainda de acordo com este princípio, as autarquias podem criar taxas para financiamento de utilidades gera-das pela realização de despesa pública local, quando desta resultem utilidades divisíveis que beneficiem um grupo certo e determinado de sujeitos, independentemente da sua vontade (Costa, et al., 2009).

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Por seu lado, o artigo 13º do RGTAL, que consagra o Princípio da Publicidade, vem obrigar à divulgação, nos Websites das autarquias locais, dos regulamentos em vi-gor, bem como da fundamentação económico-financeira dos mesmos para, deste modo, garantir a sua clarificação, transparência e comparação entre os regulamentos dos di-versos municípios.

Objectivo e metodologia do estudo

A presente investigação visa observar o efeito da adopção do RGTAL nas receitas locais das autarquias de Guimarães, Esposende, Vizela e Ponte da Barca. Uma vez que a metodologia aplicada na fundamentação económico-financeira das taxas é comum, procurou-se comparar, em cada autarquia, os valores das taxas pra-ticadas antes e depois da implementação do RGTAL. Pretendeu-se, também, efectuar uma comparação entre os custos apurados para cada taxa, mediante a funda-mentação económico-financeira, com os valores das ta-xas propostos para 2010, após aplicados os coeficientes de desincentivo3, incentivo4 e benefício5. Como tal, será calculada e analisada a:

• Diferença entre o valor das taxas em vigor antes da implementação do RGTAL e valor do custo apurado para cada taxa mediante o estudo de fundamentação económico-financeira;

3 Tratam-se de custos que a autarquia local estipula para evitar ou reduzir o impacto negativo de certos actos no ordenamento global do concelho (exemplo: taxas cobradas pela publicidade). 4 Corresponde ao incentivo dado pela entidade para a prática de determi-nados actos que aumentam a qualidade de vida dos munícipes, para tal, a autarquia local suporta, normalmente, uma parte do custo (exemplo: taxas cobradas nas piscinas municipais). 5 Diz respeito ao benefício que o munícipe obtém com a utilização de deter-minado bem do domínio público, ou ao benefício que o mesmo pode obter com a remoção de um obstáculo jurídico por parte da Câmara Municipal (exemplo: taxas cobradas pela obtenção de uma licença de construção).

• Diferença entre o valor do custo apurado para cada taxa mediante o estudo de fundamentação eco-nómico-financeira e o valor da taxa proposta pela autarquia local após a fundamentação económico-financeira da mesma;

• Diferença entre o valor da taxa em vigor antes da implementação do RGTAL e o valor da taxa pro-posta pela autarquia local após a fundamentação económico-financeira da mesma.

Para simplificação da análise, e devido à natureza hete-rogénea das taxas praticadas nas diferentes autarquias lo-cais, agruparam-se as taxas por capítulos. Por outro lado, e por impossibilidade na determinação da quantidade mé-dia de taxas cobradas anualmente, presumiu-se que cada taxa é cobrada, apenas, uma vez durante o ano, pois só, deste modo, foi possível apurar o impacto do estudo da fundamentação económico-financeira no total de receitas a arrecadar pela autarquia.

Análise dos resultados obtidos com a aplicaçãodo Regime Geral das Taxas das Autarquias Locais

Após analisar os regulamentos das taxas das autarquias locais de Guimarães, Esposende, Vizela e Ponte da Barca, em vigor antes e depois da adopção do RGTAL, e depois de agrupar as taxas por capítulos, para as tornar compará-veis, elaboramos o seguinte quadro:

Pela análise ao Quadro n.º 1 verificou-se que, em geral, na autarquia local de Guimarães o custo apurado, resultante da fundamentação económico-financeira, é menor, 15,45%, que o valor das taxas vigentes antes do RGTAL. Desta forma, conclui-se que se esta entidade aplicar, como taxa, o valor apurado reduzirá, significa-tivamente, a sua receita.

Relativamente à análise efectuada entre os custos

Quadro n.º 1 - IMPACTO DO RGTAL NAS RECEITAS DAS AUTARQUIAS EM ESTUDO

Valor da Taxa antes da

fundamentação

Custo Apurado na

fundamentação

Diferença Valor da Taxa Proposta pela

Autarquia após a fundamentação

Diferença Diferença

Valores % Valores % Valores %

Autarquia Local (1) (2) (1) - (2) (1) - (2)

/ (1) (3) (3) - (2) (3) - (2) / (3) (3) - (1) (3) - (1) / (3)

Guimarães 42.977,54 � 36.335,78 � 6.641,77 � 15,45% 42.517,53 � 6.181,75 � 14,54% -460,01 � -1,08%

Esposende 11.526,17 � 9.306,63 � 2.219,54 � 19,26% 11.064,75 � 1.758,12 � 15,89% -461,42 � -4,17%

Ponteda Barca 21.825,66 � 9.142,98 � 12.682,68 � 58,11% 24.371,32 � 15.228,34 � 62,48% 2.545,66 � 10,45%

Vizela 15.136,01 � 8.350,89 � 6.785,12 � 44,83% 13.047,16 � 4.696,27 � 35,99% -2.088,85 � -16,01%

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apurados e o valor das taxas propostas pelo municí-pio após a fundamentação, verifica-se um aumento de 14,54%, que pode ser justificado pela aplicação dos coeficientes de benefício e desincentivo. Porém, com-parando o valor das taxas antes e depois da fundamen-tação, verificou-se que houve um decréscimo de 1,08% relativamente às taxas anteriores, o que significa que o RGTAL não teve um impacto muito significativo neste município.

Os resultados da autarquia local de Esposende são semelhantes aos da autarquia local de Guimarães, veri-ficando-se que, em geral, o custo apurado mediante o estudo da fundamentação económico-financeira é in-ferior aos valores das taxas em vigor antes do RGTAL, neste caso em cerca de 19,26%. O confronto entre os custos apurados e o valor das taxas propostas por este município após a fundamentação, também, evidenciou um aumento destas últimas em cerca de 15,89%.

Seguindo a mesma tendência da autarquia anterior, o valor das taxas após a fundamentação decaiu 4,17% relativamente às taxas praticadas antes da fundamen-

tação, o que significa que este município sofrerá um decréscimo nas suas receitas.

Os resultados obtidos em Ponte da Barca divergem dos anteriores, uma vez que as diferenças são mais sig-nificativas. Neste caso, os valores apurados pelo estudo das taxas são inferiores aos valores das taxas em vigor antes da fundamentação, em 58,11%, o que denota que as taxas praticadas por esta entidade estavam so-breavaliadas. Com a implementação do RGTAL estas taxas foram incrementadas, ainda mais em 10,45%, passando o valor das taxas proposto pela autarquia a ser superior, em cerca de 62,48%, ao custo das mesmas. Daqui se depreende que, neste caso, o município incor-rerá num aumento das suas receitas.

À semelhança das autarquias locais de Guimarães e Esposende, no município de Vizela o custo apurado é inferior aos valores das taxas em vigor anteriormente ao RGTAL, neste caso em cerca de 44,83%, o que indica que as taxas estavam, também, sobreavaliadas. Todavia, após a fundamentação, as taxas praticadas diminuíram em quase 16,01%, embora se verifique um acréscimo de 35,99% do valor das taxas publicadas no regula-mento após a sua fundamentação relativamente aos custos apurados, o que significa que se esta disparidade não fosse tão grande, as taxas diminuíram ainda mais.

Em jeito de síntese, pode dizer-se que nas quatro autarquias analisadas, de um modo geral, o custo das taxas, apurado mediante o estudo económico-finan-ceiro, é inferior aos valores das taxas praticadas até a data, denotando que todas elas estavam a cobrar taxas superiores aos custos dos bens e serviços prestados. Por outro lado, os valores propostos pelas autarquias locais, após a aplicação dos coeficientes de benefício, desincen-tivo e incentivo, aproximam-se dos valores praticados antes do RGTAL, o que indicia que as taxas continuam sobrevalorizadas e que houve uma intenção política de manter os valores das taxas praticadas. Ainda assim, a maioria dos municípios sofrerá um decréscimo nas suas receitas, em especial, Vizela.

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Custo das taxas

Pode dizer-se que nas quatro autarquias analisadas,de um modo geral, o custo das taxas, apurado mediante o estudo económico-financeiro, é inferior aos valores das taxas praticadas até a data, denotando que todas elas estavam a cobrar taxas superioresaos custos dos bens e serviços prestados.

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ConclusãoAs autarquias locais deparam-se, presentemente, com

a obrigatoriedade de fundamentar, do ponto de vista económico e financeiro, as taxas praticadas, conforme previsto na Lei n.º 53-E/2006, que aprovou o RGTAL. A inconformidade com as novas exigências legislativas implica a revogação dos regulamentos actualmente em vigor.

O trabalho apresentado teve como propósito analisar o impacto das imposições do RGTAL, que passou a exigir a fundamentação económico-financeira das taxas apro-vadas pelas autarquias locais, nas receitas locais. Assim, analisaram-se, em quatro autarquias locais, os estudos da fundamentação económico-financeira.

Do estudo efectuado conclui-se que, nas quatro autar-quias analisadas, de um modo geral, o custo apurado para as taxas, na justificação económico-financeira, é inferior aos valores das taxas praticadas até à data, o que signifi-ca que as taxas, até aí cobradas, estavam sobrevalorizadas. Por outro lado, os valores propostos, após fundamenta-ção, aproximam-se dos valores praticados antes da mes-ma, o que denota que o estudo económico efectuado não teve grande impacto no valor das taxas, talvez por haver intenção política de manter os valores praticadas, sobre-tudo, devido à crise económica. Conclui-se, também, que se as autarquias locais aplicassem taxas em função do valor apurado, sem recorrer a parte política, as receitas com ta-xas baixariam significativamente.

As novas Tabelas de Taxas e Licenças Locais, bem como os respectivos Relatórios de Fundamentação Eco-nómica e Financeira produzidos abrem campo a um interessante trabalho de investigação, que até pode ser desenvolvido sob alçada de vários organismos públicos. Estes estudos podem constituir um estímulo para as autarquias locais melhorarem os seus regulamentos de taxas. Ainda que tal não suceda, estes trabalhos propor-cionarão uma informação útil para o processo de gestão interna das autarquias locais portuguesas e serão, certa-mente, impulsionadores da implementação da contabi-lidade de custos, apesar de esta já ser obrigatória desde da introdução do Plano Oficial de Contabilidade para as Autarquias Locais.

BibliografiaCARVALHO, João. (1999), “Nova Contabilidade

traz transparência às contas públicas”, Eurocontas, No-vembro, p. 4-7.

CARVALHO, João; FERNANDES, Maria José e

TEIXEIRA, Ana. (2006), Plano Oficial de Contabilidade para as Autarquias Locais Comentado, Editora Rei dos Li-vros, Lisboa.

CARVALHO, João; GOMES, Patrícia e FERNAN-DES, Maria José. (2009), “Influence of institutional and contingency theories on the adoption and use of cost accoun ting system: evidence from Portuguese Local Gov-ernment”. Financial Accountabi lity and Management (un-der peer review).

COSTA, Teresa. (2005), A utilidade da Contabili-dade de Custos nas Autarquias, Dissertação de Mestrado em Contabilidade e Auditoria, Universidade do Minho, Braga.

COSTA, Teresa; SERRA, Sara; FARIA, Joni e OLI-VEIRA, Vítor. (2009), Regime geral das taxas na admi-nistração local – apuramento das taxas municipais, XVI Congresso Brasileiro de Custos – Custos Ambientais e Sua Importância Para a Competitividade das Empresas. Fortaleza, Brasil.

GOMES, Patrícia; CARVALHO, João. e FERNAN-DES, Maria José (2009). “Determinantes da adopção e desenvolvimento do Sistema de Contabilidade de Custos nos municípios Portugueses”. Portuguese Journal of Ac-counting and Management, n.º 8 pp.11-42.

LOBO, Carlos. (2006), Taxas enquanto instrumento de Finanças Públicas as responsabilidades acrescidas do Estado, Revista da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, Julho, n.º 76, pp. 43-48.

VASQUES, Sérgio. (2009), Regime das Taxas Locais, Almedina.

LegislaçãoLei Constitucional n.º1/2005 de 12 de Agosto, Cons-

tituição da República Portuguesa, Sétima revisão consti-tucional.

Decreto-Lei n.º 54-A/99, de 22 de Fevereiro, Aprova o Plano Oficial de Contabilidade para as Autarquias Locais.

Decreto-Lei n.º 84-A/2002, de 5 de Abril, Altera o Decreto-Lei n.º 54-A/99, de 22 de Fevereiro.

Lei 53-E/2006, de 29 de Dezembro, Aprova o Regime Geral das Taxas das autarquias Locais.

Lei n.º 5-A/2002, de 11 de Janeiro, Primeira alteração à Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro.

*Técnica do Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidadedo Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA); Campus do IPCA,

4750-810 Barcelos, Tel. 253 802 500, [email protected]

**Docente do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA);Campus do IPCA, 4750-810 Barcelos, Tel. 253 802 500, [email protected]

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Informações vinculativas da DGCI

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A Direcção Geral dos Impostos (DGCI) publicou as três Informações Vinculativas seguintes, relativas ao enquadra-mento de matérias fiscais em sede do Código de IRC e no contexto do SNC:

ASSUNTO ART.OS/CÓDIGOS PROCESSO N.º

Contratos de construção:Periodização do lucro tributável.

Art.º 19.º CIRC2010 004075. PIV n.º 1586

10-02-2011Valor da realização diferido na transmissão

de parte de capitalArt.º 46.º, n.º 1, f)

451/2011. PIV n.º 178711-03-2011

Tratamento fiscal da perda apuradapor SGPS em resultado da aplicação

do modelo do justo valor

Código de IRC-Art.os 18.º, n.º 9, a), 45.º, n.º 3 e 46.º, n.º 1, b)

EBF – Artigo 32.º, n.º 2

39/2011 24-02-2011

Os contratos de construção

Relativamente à Informação Vinculativa sobre os Contratos de construção, relevamos o teor do n.º 7 que transcrevemos:

“Face ao exposto, entendeu-se que:i) Na redacção do n.º 1 do art.º 19.º do CIRC, o legislador

pretendeu assegurar que a determinação dos resultados seja feita, obrigatoriamente, segundo o critério da per-centagem de acabamento, relativamente aos contratos de construção cujo ciclo de produção ou tempo de execu-ção seja superior a um ano;

ii) Nos restantes casos, o apuramento dos resultados fiscais é feito de acordo com a opção contabilística do sujeito passivo, numa óptica de balanceamento entre benefício e custo (ver § 44 da estrutura Conceptual do Sistema de Normalização Contabilística, publicada pelo Aviso n.º 15652/2009): 1) ou periodizando os réditos e gastos do contrato, tendo por referência a fase de acabamento no final do período de tributação 2) ou reconhecendo a to-talidade dos réditos e gastos em resultados apenas no final da actividade subjacente ao contrato.”De notar que a alínea ii) refere-se aos contratos de

construção com ciclo de produção inferior a um ano e no contexto de o contrato se iniciar num ano e terminar no ano seguinte.

Parece-nos que a referida opção é discutível, pois po-derá questionar-se porque não se aplica também o méto-

do de percentagem de acabamento a esses contratos (infe-riores a um ano), em obediência ao art.º 18.º do CIRC, o qual deverá ser considerado um artigo genérico de aplica-ção do “regime de acréscimo (periodização económica) ”, previsto como pressuposto contabilístico no SNC. Note-se, aliás, que essa Informação Vinculativa nem sequer faz referência a esse articulado.

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Fernando Paes Afonso, director-geral da AECOPS, lamenta

Pressão fiscal e parafiscalasfixia empresas de construção

A economia nacional cresceu consideravelmente entre 1986 e 2001. O peso dos impostos e de outros tributos públicos representava cerca de 50% do preço final de uma casa. “O crescimento registado na actividade da constru-ção, naquele período, ajudou a financiar, coercivamente, a expansão da administração pública, nela incluindo o Esta-do, os institutos públicos, as regiões e as autarquias”, na óp-tica de Fernando Paes Afonso, director-geral da AECOPS.

É um facto que o crescimento económico, em tempos passados, foi muito alavancado pelo aumento explosivo do endividamento das famílias, das empresas e do Estado. O que permitiu que as empresas obtivessem níveis aceitáveis de rentabilidade, apesar da elevada carga fiscal e parafiscal que incide sobre a actividade da construção, em particular. “Este fenómeno levou a que, no caso das autarquias locais, os respectivos orçamentos se tornassem muito dependentes das receitas arrecadadas ao longo do processo construtivo, desde a produção de solo urbano até à venda dos imóveis construídos”, defende aquele dirigente associativo.

Perante este cenário, a partir de 2001 e à medida que se foi verificando uma diminuição da actividade da cons-trução, foram subindo, por iniciativa do Estado, as taxas efectivas de impostos, como o IMI e o IMT, em conse-quência da reforma destes impostos sobre o património, e aumentando e multiplicando as taxas relativas a operações urbanísticas, por iniciativa da quase totalidade das câmaras municipais, tendo como objectivo financiar as suas despe-sas crescentes, designadamente com pessoal. Fernando Paes Afonso não deixa de criticar a política fiscal que foi enceta-da para garantir receita, tendo como alvo principal o sector da construção, muito afectado nos últimos anos.

É um facto que a quebra da actividade na construção se acentuou nos últimos anos, de modo que o volume de produção global representa hoje cerca de 65% do nível atingido no ano de 2001, destacando-se pela negativa a produção de habitação que se situa, actualmente, em ape-nas 25% da realizada naquele ano. “Naturalmente, mes-mo com maiores taxas as receitas fiscais e parafiscais ge-radas pelas empresas de construção têm decrescido. Ora, o Estado vai sendo cada vez mais criativo na criação de novas formas de tributar.”

O caso paradigmático da tributação autónoma

Um caso paradigmático é o da tributação autónoma de 10% das despesas com ajudas de custo e com deslo-cações que, ainda que efectivamente documentadas, não sejam facturadas aos clientes. “Este facto suscitou imedia-ta e enérgica reacção de repúdio por parte da federação re-presentativa do sector, que através de exposição elaborada em 2008 e dirigida ao Governo chamou a atenção para a impossibilidade de, no caso específico da construção, facturar aquelas despesas aos seus clientes finais.”

Foram, aliás, dados exemplos concretos a este propósi-to. A venda de uma casa, por exemplo, concretiza-se atra-vés de uma escritura pública, sem que seja possível factu-rar, autonomamente, aquele tipo de despesas. Um outro caso, nas empreitadas de obras públicas, a facturação ao cliente faz-se por reporte a um auto de medições em que também não é possível autonomizar os referidos custos.

Acontece que só passados três anos é que foi dada uma resposta por parte do poder político. A resposta levantou ainda mais dúvidas e apenas dá razão à associação de que as empresas de construção estão a ser asfixiadas através da forte pressão fiscal. Atente-se então na resposta do Gover-no: “Embora possamos admitir que não tem sido prática do sector mencionar expressamente nos documentos de venda dos fogos ou moradias ou na facturação das em-preitadas o montante relativo aos encargos com ajudas de custo ou com compensação pela deslocação em viatura própria do trabalhador ao serviço da entidade patronal, estamos certos que esse montante está perfeitamente quantificado e entrou na formação do preço de venda, pelo que não se torna impossível dar cumprimento à obri-gação prevista no CIRC para obviar à sua tributação au-tónoma.”

Actividade na construçãoÉ um facto que a quebra da actividade na construção se acentuou nos últimos anos, de modo que o volume de produção global representa hoje cerca de 65% do nível atingido no ano de 2001

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Sector bancário tem novos impostosEstá em vigor a Portaria nº 121/2011, a qual regula-

menta um conjunto de aspectos relativo à contribuição sobre o sector bancário, nomeadamente a quantificação da base de incidência, as taxas aplicáveis e o procedimento de liquidação e pagamento da contribuição.

A portaria fixa em 0,05% a taxa aplicável ao valor do passivo – deduzido dos fundos próprios de base e com-plementares e dos depósitos abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos – e em 0,00015% a taxa aplicável ao valor nocional dos instrumentos financeiros derivados

fora do balanço. Também são estabelecidas diversas ex-clusões aos elementos a constar da base de incidência da contribuição, como determinados elementos específicos do passivo ou o valor nocional de instrumentos financei-ros derivados de cobertura ou cujas posições em risco se compensam mutuamente.

O diploma vem ainda aprovar o modelo de declaração nº 26, o qual deverá ser preenchido e submetido pelos sujeitos passivos para efeitos da liquidação anual da con-tribuição.

Foi publicado no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE) o Regulamento de Execução nº 282/2011 do Conselho, de 15 de Março de 2011, o qual estabelece me-didas de aplicação da Directiva 2006/112/CE, relativa ao sistema comum do IVA.

O objectivo do regulamento consiste em assegurar a aplicação uniforme do actual sistema de IVA, estabelecendo disposições de aplicação da Directiva 2006/12/CE, designa-

damente no que respeita aos contribuintes, às entregas de bens e prestações de serviços e ao lugar das operações tribu-táveis. Em conformidade com o princípio da proporciona-lidade, o regulamento não excede o necessário para atingir aquele objectivo. Por sua vez, a uniformidade da aplicação é melhor assegurada através de um regulamento, uma vez que este instrumento é obrigatório e directamente aplicável em todos os países da União Europeia.

Aplicação uniforme do actual sistema de IVA

Ficou definido na Lei do Orçamento do Estado que se procedesse, todos os anos, à divulgação das pessoas colec-tivas que têm benefícios fiscais e o respectivo valor, o mais tardar até ao final de Setembro. O Ministério das Finanças divulgou uma listagem que representa um primeiro en-saio e uma antecipação desse trabalho.

Para já, a lista não inclui valores, pretendendo servir de base ao trabalho mais completo a realizar no referi-do mês de Setembro, depois de realizada a liquidação dos impostos sobre o rendimento. Considera o Ministério das Finanças que “a divulgação destas listagens serve um pro-pósito de transparência na gestão do sistema fiscal, para

além de contribuir para um melhor juízo crítico sobre o modo de aplicação dos dinheiros públicos”.

à listagem já apresentada não é, pois exaustiva, pelo que será mais tarde complementada por outros regimes de benefícios fiscais. Na listagem aparecem as empresas com benefícios contratuais ao investimento, instaladas na Zona Franca da Madeira, com benefícios à criação de emprego, com taxas reduzidas de IRC para a interiori-dade, com incentivos à investigação e desenvolvimento, cooperativas com taxa reduzida de IRC, instituições de ensino particular com taxa reduzida de IRC e empresas com benefícios de ISV.

Governo divulga empresascom benefícios fiscais

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A proposta de directiva da Comissão Europeia relativa a uma matéria colectável comum consolidada do imposto sobre as sociedades (MCCCIS) prende-se com o facto das empresas que, no espaço comunitário, realizam operações além fronteiras se depararem com vários entraves de na-tureza fiscal. São os casos dos custos adicionais de cum-primento da legislação associados à obrigação de respeitar diferentes regimes fiscais nacionais e regras em matéria de preços de transferência, da dupla tributação e da tributação excessiva.

Considera Bruxelas que o actual quadro de 27 regimes fiscais nacionais diferentes para o IRC obsta a um bom funcionamento do mercado interno. Os principais facto-res indutores de custos de cumprimento da legislação para as empresas multinacionais estão ligados – directa ou indi-rectamente – às formalidades relacionadas com preços de transferência. Acresce que as formalidades administrativas relacionadas com os preços de transferência têm aumentado, devido às exigências documentais mais rigorosas por parte das autoridades fiscais, acompanhadas de inspecções por parte das mesmas e a ajustamentos e alterações do tipo e do âmbito das actividades empresariais em todo o mundo.

O novo regime representará economias substanciais em termos de tempo e de meios para as multinacionais que pretendam criar novas filiais noutro país europeu (por exemplo, em média, uma empresa gasta mais de 140 mil euros na abertura de uma nova filial, sendo que esses cus-tos poderão ser reduzidos em cerca de 87 mil euros). Por sua vez, as economias esperadas representarão perto de oito pontos percentuais no tempo necessário para o cumpri-mento da legislação.

Considera a Comissão que a MCCCIS tem efeitos mais favoráveis na prosperidade, tendo em conta os vários ce-nários estudados. Assim, a incidência final traduz-se num ligeiro ganho líquido de cerca de 0,02% do PIB, em termos agregados para a União Europeia, o que corresponde a per-to de 2,4 mil milhões de euros. A decomposição dos efeitos das várias componentes revela que a incidência económica positiva da consolidação e do método de repartição é devi-da, essencialmente, aos custos inferires de cumprimento da legislação. A passagem de uma contabilidade separada para

o método de repartição não tem efeitos significativos no PIB e na prosperidade. Resulta de efeitos contrários, menos incentivos à transferência de lucros e de capital para países com elevada carga fiscal, mas mais distorções em termos de afectação dos factores a integrar no método de repartição para as economias com uma fiscalidade mais leve.

Por sua vez, a consolidação das perdas tende a reduzir a base tributável. Dadas as hipóteses do modelo, é provável que seja necessário um aumento das taxas de imposto para equilibrar o orçamento do Estado. A combinação de uma carga fiscal menos onerosa, graças a uma consolidação das perdas e a uma maior carga fiscal devido a taxas de imposto mais elevadas, poderá induzir um aumento do custo do capital. Em consequência, o investimento diminui ligeira-mente, mas o emprego aumenta, devido aos custos mais baixos do trabalho.

Eliminar obstáculos fiscais no mercado interno

Bruxelas chama a atenção para o facto do objectivo fundamental desta iniciativa residir na eliminação dos obs-táculos fiscais que subsistem no mercado interno, isto é, os custos adicionais do cumprimento da legislação relacio-nados com a actividade internacional, assim como a dupla tributação e a tributação excessiva. Em consequência, será possível atingir um objectivo geral de maior eficiência eco-nómica na afectação de capital produtivo na UE, através da redução das distorções fiscais nas decisões de investimento e de mais oportunidades de investimento transfronteiras.

A desejada melhoria, em termos de simplicidade e efi-ciência do regime de tributação das sociedades na UE, po-derá contribuir de forma significativa para a realização dos objectivos da estratégia Europa 2010 e para o reforço do mercado interno. Trata-se de estabelecer um conjunto de regras comuns para a determinação da matéria colectável para as empresas da União Europeia. É ainda sublinhado que os efeitos no volume e na repartição da matéria colec-tável do IRC na UE não constituem, em si mesmos, um objectivo explícito da iniciativa em causa. Daí não serem fixados quaisquer objectivos em matéria de repartição ou de neutralidade das receitas para os Estados-membros.

No âmbito do imposto sobre as sociedades

Bruxelas avança com propostade “harmonização” fiscal

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O memorando de entendimento celebrado entre o Governo, a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Inter-nacional e o Banco Central Europeu integra um conjun-to importante de medidas de política fiscal. Os principais impostos são sujeitos a várias alterações, no sentido de um agravamento da carga fiscal, a par de medidas mais exigen-tes no que toca ao combate à fraude e à evasão fiscais. A consultora KPMG definiu as alterações mais importantes.

No IRC está prevista uma redução das deduções e dos regimes especiais, com o objectivo de arrecadar uma re-ceita fiscal adicional de cerca de 150 milhões de euros em 2012 e de 175 milhões no ano seguinte. As medidas pre-vistas neste âmbito incluem a abolição de todas as taxas reduzidas de IRC, a introdução de limites à dedução de prejuízos fiscais reportáveis de exercícios anteriores, a par da redução para três anos do período de reporte, e a revo-gação de isenções subjectivas de IRC (incluindo as pessoas colectivas de utilidade pública e de solidariedade social).

Está também prevista a eliminação dos benefícios fis-cais sujeitos à norma de caducidade prevista no artigo 3º do EBF. Os benefícios consagrados à criação de emprego, aplicáveis às SGPS e à interioridade serão, em princípio, eliminados. Haverá também um agravamento da tribu-tação autónoma dos encargos suportados pelas empresas com viaturas automóveis e uma alteração da Lei das Fi-nanças Regionais para limitar a redução da taxa de IRC em vigor nas regiões autónomas a 20% da taxa geral em vigor no Continente. A taxa mais elevada passará a ser pelo menos aquela percentagem.

Limite máximo aplicável às deduçõesà colecta em sede de IRS

Como sucede no IRC, também o IRS terá uma re-dução dos benefícios fiscais e deduções, tendo em conta um aumento da receita de 150 milhões de euros no pró-ximo ano e de 175 milhões no seguinte. Está prevista a introdução de um limite máximo aplicável às deduções à colecta, em função do escalão de rendimento colectável dos contribuintes, e de um limite máximo para a dedu-ção de despesas na saúde. De igual modo, procede-se à

eliminação da dedução da colecta referente aos encargos com imóveis, o que implica a eliminação das deduções correspondentes ao valor das amortizações do emprésti-mo, a eliminação faseada da dedução respeitante às rendas pagas e aos juros suportados no âmbito de empréstimos já contraídos com vista à aquisição de habitação e o fim da dedução relativa ao valor dos juros pagos para novos empréstimos.

Um outro aspecto tem a ver com a redução do tipo de despesas dedutíveis à colecta. Além das deduções referen-tes aos imóveis haverá outras deduções à colecta que serão eliminadas, como são os casos dos encargos com lares e com prémios de seguros. De igual modo, de salientar a revisão da tributação dos benefícios em espécie. A revisão vai incidir sobre a atribuição ao trabalhador do direito à utilização pessoal de viatura pela entidade patronal e sobre os empréstimos efectuados pela entidade patronal a favor dos respectivos trabalhadores.

Redução de isenções no IVA

No âmbito do IVA, a intenção é arrecadar receita fiscal adicional anual no valor de 410 milhões de euros, por via da redução das isenções e da transferência de determina-das categorias de bens e serviços sujeitos às taxas reduzida e intermédia para a taxa normal. A alteração das Lei das Finanças Regionais vai impedir que a redução das taxas de IVA aplicadas nas regiões autónomas possa ser superior a 20% das praticadas no Continente. Esta medida impli-cará o aumento das actuais taxas de IVA praticadas nas regiões autónomas de 4%, 9% e 16% para, pelo menos, 5%, 10% e 18%, respectivamente.

Em termos de impostos especiais sobre o consumo, trata-se de aumentar a receita fiscal em 250 milhões de eu-ros por ano, através do aumento do imposto de venda de automóveis e eliminação das respectivas isenções, do au-mento do imposto sobre o tabaco e da introdução de im-postos sobre o consumo de electricidade, estabelecendo-se um novo quadro normativo no que toca à tributação dos produtos energéticos em função do seu teor energético e do seu nível de emissões.

No âmbito do plano de resgate para Portugal

IVA deverá representar uma receita adicional anual de 410 milhões

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Proposta de Directiva sobre a matéria colectável comum consolidada

A Comissão Europeia disponi-bilizou o documento sob o título “Proposta de Directiva do Conselho relativa a uma matéria colectável co-mum consolidada do imposto sobre as sociedades (MCCCIS)”.

Desse documento destacamos os art.os 9.º a 16.º relativos ao cálculo da matéria colectável que a seguir transcrevemos.

CÁLCULO DA MATÉRIA COLECTÁVEL

Artigo 9.ºPrincípios gerais

1. No cálculo da matéria colectá-vel, os lucros e as perdas só são consi-derados se se concretizarem.

2. As transacções e os factos gera-dores de obrigações fiscais devem ser objecto de avaliação individual.

3. O cálculo da matéria colectá-vel é efectuado segundo um método uniforme, salvo se circunstâncias excepcionais justificarem uma alte-ração.

4. A matéria colectável é determi-nada em relação a cada exercício fiscal, salvo disposição em contrário. Um exercício fiscal é composto de um perí-odo de 12 meses, salvo disposição em contrário.

Artigo 10.ºElementos da matéria colectável

A matéria colectável é calculada com base nos réditos líquidos, sub-traindo-se os réditos isentos, os en-cargos dedutíveis e outros elementos dedutíveis.

Artigo 11.ºRéditos isentos

Beneficiam da isenção do imposto sobre as sociedades:

a) As subvenções directamente rela-cionadas com a aquisição, cons-trução ou melhoramento de ac-tivos fixos sujeitos a depreciação em conformidade com os artigos 32.º a 42;

b) Os proventos da alienação de conjuntos de activos a que se refere o artigo 39.º, n.º 2, in-cluindo o valor de mercado dos donativos não monetários;

c) As distribuições de lucros rece-bidos;

d) Os proventos de uma alienação de acções;

e) Os rendimentos provenientes de um estabelecimento estável situ-ado num país terceiro.

Artigo 12.ºEncargos dedutíveis

Os encargos dedutíveis devem in-cluir todos os custos de vendas e as despesas, líquidos de imposto sobre o valor acrescentado dedutível, incor-ridos pelo contribuinte para obter ou garantir o rendimento, incluindo os custos de investigação e de desenvolvi-mento e os custos incorridos na subs-crição de capital próprio ou de dívida no âmbito da actividade.

Os encargos dedutíveis também devem incluir os donativos feitos a instituições de utilidade pública, na acepção do artigo 16.º, que estejam estabelecidas num Estado-Membro ou num país terceiro que aplique um acordo sobre a troca de informações a pedido, comparáveis com as dispo-sições da Directiva 2011/16/UE. O valor dedutível máximo relativo a do-ações ou donativos feitos a instituições de utilidade pública é de 0,5 % dos réditos do exercício fiscal.

Artigo 13.ºOutros elementos dedutíveis

Pode ser efectuada uma dedução

proporcional relativamente à deprecia-ção dos activos fixos, nos termos dos artigos 31.º a 42.º.

Artigo 14.ºEncargos não dedutíveis

1. Os seguintes encargos devem ser consideradas como não dedutíveis:

a) Distribuições de lucros e reem-bolsos de capitais próprios ou de dívidas;

b) 50% das despesas de represen-tação;

c) Transferência dos resultados não distribuídos para uma reserva que faça parte do capital próprio da empresa;

d) Imposto sobre as sociedades;e) Comissões ilegais;f ) Coimas e sanções pecuniárias

devidas a uma autoridade públi-ca em caso de violação de qual-quer legislação;

g) Custos incorridos por uma so-ciedade para obtenção de um rendimento que esteja isento nos termos do artigo 11.º; esses custos devem ser determinados a uma taxa fixa de 5 % desse ren-dimento, salvo se o contribuinte puder demonstrar que o custo incorrido foi inferior;

h) Donativos e doações monetá-rios que não sejam os efectuados a instituições de solidariedade social, na acepção do artigo 16.º;

i) Salvo o previsto nos artigos 13.º e 20.º, os custos relacionados com a aquisição, construção ou melhoramento de activos fixos, com excepção daqueles que di-gam respeito à investigação e ao desenvolvimento;

j) Impostos enumerados no anexo III, com excepção dos impostos especiais sobre o consumo, dos impostos sobre os produtos ener-géticos, do álcool e das bebidas

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Despesa do Estado desce 3% até AbrilA despesa do Estado registou uma descida de 3% nos

primeiros quatro meses do ano. Em contrapartida, as re-ceitas aumentaram 17,4%, o que se traduziu numa bai-xa do défice de cerca de 45%, no período em análise, de acordo com os números veiculados pelo Ministério das Finanças.

O défice do Estado era, no final de Abril, de 2,539 mil milhões de euros. O que significa que a descida an-dou muito próxima dos 2,1 mil milhões, face a igual período do ano passado. Estes números reflectem que a consolidação está a ter um contributo mais significativo do lado da receita, com esta a apresentar um aumento de 17,4%, tendo em conta o agravamento dos impostos. Na administração central e na segurança social o défice cifrou-se em 822 milhões de euros, o que traduziu uma quebra de 75,5%, o equivalente a 2,53 mil milhões de euros.

A redução comparável na despesa do Estado foi de

6,6%, depois de utilizados os valores implícitos no Or-çamento de 2010, nomeadamente as transferências para a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde, a par da alteração da taxa da Caixa Geral de Aposentações. Muito importante para a descida da despesa foi o corte nos sa-lários da função pública. Na segurança social verificou-se um excedente de 726 milhões, nos quatro primeiros me-ses, mais 250 milhões de euros do que em período homó-logo, com as despesas com pensões a apresentarem o mes-mo ritmo de crescimento das receitas das contribuições e das quotizações (isto é, 2,9%).

O Serviço Nacional de Saúde teve um défice de 13,5 milhões de euros, contra os 157,2 milhões do ano tran-sacto. O que se terá ficado a dever a uma quebra de 5,4% na despesa. Nas administrações local e regional houve um saldo positivo de 11,6 milhões de euros, num acréscimo de 36 milhões, adianta o Ministério das Finanças em co-municado.

alcoólicas e do tabaco manufac-turado.

2. Sem prejuízo do disposto no n.º 1, alínea j), um Estado-Membro pode prever a dedução de um ou de vários dos impostos enumerados no anexo III. No caso de um grupo, tal dedução é aplicada à quota-parte dos membros do grupo residentes ou situados nesse Estado-Membro.

3. A Comissão pode adoptar actos delegados nos termos do artigo 127.º e nas condições previstas nos artigos 128.º, 129.º e 130.º, a fim de alterar o anexo III na medida necessária para incluir todos os impostos similares que correspondem a mais de 20% do mon-tante total do imposto sobre as socie-dades no Estado-Membro em que são cobrados.

As alterações ao anexo III começam a aplicar-se aos contribuintes a partir do exercício fiscal a seguir à alteração.

Artigo 15.ºDespesas efectuadas em benefício

dos accionistas

Os benefícios concedidos a um ac-cionista que seja uma pessoa singular, o seu cônjuge, ascendente ou descen-dente directo ou a empresas associa-das, que detenham uma participação, directa ou indirecta, no controlo, na gestão ou no capital do contribuinte, nos termos do artigo 78.º, não são considerados como encargos dedutí-veis se tais benefícios não forem conce-didos a um terceiro independente.

Artigo 16.ºInstituições de solidariedade social

Uma instituição pode ser conside-rada de solidariedade social se reunir as seguintes condições:

a) Ser dotada de personalidade ju-

rídica e a sua missão de solida-riedade social reconhecida nos termos da legislação do país em que está estabelecida;

b) Ter como exclusiva ou principal finalidade e actividade o interes-se público; uma finalidade edu-cativa, social, médica, cultural, científica, filantrópica, religiosa, ambiental ou desportiva é consi-derada de interesse público des-de que seja de interesse geral;

c) Os seus activos serem irrevoga-velmente dedicados à prossecu-ção da sua finalidade;

d) Estar sujeita a exigências em matéria de divulgação de infor-mações em relação às suas contas e actividades;

e) Não ser um partido político, como definido pelo Estado-Membro em que se encontra es-tabelecida.

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INTRODUÇÃO

O presente artigo visa, essencialmente, analisar a Por-taria n.º 111-A/2011, de 18 de Março, publicada para dar cumprimento ao n.º 11 do art.º 52.º do Código do IRC na redacção que lhe foi conferida pelo art.º 99.º da Lei n.º 55-A/2010, de 31 de Dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado para 2011 (OE/2011).

Já abordámos esta temática em artigo anterior sob o título “A certificação por ROC da dedução (reporte) dos prejuízos fiscais em IRC na proposta do OE/2011”1.

1. ESTRUTURA DA PORTARIA

A Portaria contém três artigos:- Art.º 1.º - “Âmbito subjectivo da certificação”;- Art.º 2.º - “Âmbito objectivo da certificação”;- Art.º 3.º - “Nomeação do revisor oficial de contas”.Nos itens seguintes desenvolvemos estes articulados.

2. ÂMBITO SUBJECTIVO DA CERTIFICAÇÃO

O âmbito subjectivo (ou pessoal) da certificação des-tina-se a dar resposta à questão: Quem está sujeito à cer-tificação?

O n.º 1 estabelece que a certificação referida no n.º 11 do art.º 52.º é aplicável às sociedades comerciais cujas contas não se encontrem sujeitas a certificação legal nos termos da legislação aplicável, o qual abrange, nomeada-mente, as sociedades anónimas e as sociedades por quotas abrangidas pelo art.º 262.º do CSC.

Em primeiro, realçamos que não estamos de acordo com a expressão “sujeitas a certificação legal”2, uma vez que a certificação legal das contas (CLC)3 é a designação do re-latório que o ROC emite na sequência do seu trabalho de revisão legal das contas no âmbito do art.º 44.º “Certifica-ção legal das contas” do Estatuto da OROC (EOROC)4.

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O próprio art.º 43.º - “Processamento da revisão legal das contas” do EOROC clarifica este nosso entendimento.

O que pretendemos sublinhar é que, do ponto de vista conceptual, a expressão mais correcta seria “sujeitas a revi-são legal das contas”.

O clausulado em análise não se refere às sociedades comerciais que sujeitam as suas contas a “auditoria às contas”5, no âmbito do art.º 45.º - “Auditoria às contas” do EOROC, pelo que se questiona se as mesmas estarão também abrangidas. Em caso afirmativo, poderá dar azo a alguma confusão, pois tais entidades passariam a estar sujeitas, simultaneamente, a “auditoria às contas” e a “re-visão legal das contas”, quando é comummente sabido que ambos os trabalhos assentam nas mesmas normas de auditoria/revisão de contas. Bastará apenas a auditoria às contas? É um assunto que deverá ser esclarecido.

O n.º 2 do art.º 1.º da Portaria complementa o âm-bito subjectivo da certificação, excluindo as sociedades comerciais que sejam qualificadas como microentidades de acordo com o conceito previsto no art.º 2.º da Lei n.º 35/2010, de 2 de Setembro6, e cujo prejuízo fiscal dedu-

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- Total do balanço — 500 000;- Volume de negócios líquido — 500 000;- Número médio de empregados durante o exercício — cinco.Estes limites estão também previstos no art.º 2.º do Decreto-Lei n.º

36-A/2011, de 9 de Março, que aprovou, nomeadamente, o normati-vo contabilístico das microentidades e o normativo contabilístico das Entidades do Sector não Lucrativo (ESNL).

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A certificação legal da deduçãodos prejuízos fiscaisJOAQUIM FERNANDO DA CUNHA GUIMARÃES*

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zido, nos dois últimos exercícios, seja inferior a 150.000 euros. Ou seja, a exclusão da certificação apenas ocorre se verificadas essas duas condições em simultâneo.

De notar que esta disposição apenas se refere aos li-mites (indicadores) das microentidades, pelo que se uma microentidade optar por aplicar a Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades (NCRF-PE) ou o primeiro nível de normalização contabilística do SNC constituído por 28 Normas Contabilísticas e de Relato Fi-nanceiro (NCRF), não deve prejudicar a dedução dos pre-juízos. Ou, por outras palavras, a dedução de prejuízos das microentidades não depende da opção por qualquer dos três níveis de normalização contabilística do SNC.

3. ÂMBITO OBJECTIVO DA CERTIFICAÇÃO

O preâmbulo do n.º 1 do art.º 2.º da Portaria deter-mina o seguinte:“A certificação a que se refere o n.º 11 do artigo 52.º do Có-

digo do IRC é realizada sem prejuízo das normas generi-camente estabelecidas para a certificação legal das contas, devendo o revisor oficial de contas, no seu âmbito.”.Como sublinhámos no nosso artigo anterior em des-

taque7, e repetindo o que já atrás referimos, a certificação legal das contas é o relatório emitido pelo ROC no âmbi-to da revisão legal das contas.

O n.º 11 do art.º 52.º refere mesmo a expressão “cer-tificação legal das contas”, pelo que não compreendemos o reforço de que “é realizada sem prejuízo das normas genericamente estabelecidas para a certificação legal das contas”, pois parece-nos redundante.

As alíneas a) e b) do n.º 1 do art.º 2.º clarificam:“a) Certificar as contas relativas ao ano em que se pretende

deduzir o prejuízo a que se refere o n.º 11 do artigo 52.º do Código do IRC;

b) Realizar um trabalho específico sobre a razoabilidade do montante do prejuízo fiscal acumulado, adoptando para o efeito normas relativas a trabalhos com finalidade espe-cial.”.Em relação à alínea a), sublinhamos que a certifica-

ção legal das contas se refere ao ano em que se pretende deduzir o prejuízo fiscal e não aos anos em que os mes-mos surgiram. É óbvio que se esse ano não for suficiente para deduzir a totalidade dos prejuízos, a revisão legal das contas também deverá abranger os anos seguintes até à sua dedução total, o que não se depreende objectivamente dessa norma.

7 Conforme rodapé n.º 1 deste artigo.

Relativamente à alínea b), refere-se à realização de um trabalho específico sobre a razoabilidade do montante do prejuízo fiscal acumulado, i.e., estão abrangidos os pró-prios períodos em que os prejuízos fiscais foram gerados. Este articulado refere ainda que o ROC deverá adoptar as “normas relativas a trabalhos com finalidade especial”, sen-do que o n.º 2 complementa o âmbito e extensão desse trabalho referindo que a Ordem dos ROC emitirá normas ou orientações nesse sentido, que se aguardam, e que, ob-viamente, serão complementares à Directriz de Revisão/Auditoria 800 (DRA 800), de Dezembro de 2001, sob o título “Relatório do Revisor/Auditor sobre Trabalhos com Finalidade Especial”.

O n.º 3 determina que a condição prevista no n.º 11 do art.º 52.º do CIRC não se considera verificada nos casos em que o ROC:“a) Emita escusa de opinião ou opinião adversa sobre as con-

tas, em resultado da intervenção a que se refere a alínea a) do n.º 1 deste artigo, ou;

b) Conclua pela irrazoabilidade do montante do prejuízo fiscal acumulado ou pela impossibilidade de confirmar a sua razoabilidade, em resultado da intervenção prevista na alínea b) do n.º 1 deste artigo.”.No que concerne à alínea a), fica de fora a certificação

legal das contas com reservas, o que não nos parece correcto no caso de as mesmas descreverem factos patrimoniais e res-pectivas políticas contabilísticas com impacto no resultado líquido do período ou nos capitais próprios e, por conse-quência, no lucro tributável do IRC. Estamos a lembrar-nos, por exemplo, da situação de contingências fiscais (ou contabilístico-fiscais) com impacto materialmente relevan-te nas demonstrações financeiras e no lucro tributável, que poderiam condicionar a dedução dos prejuízos fiscais.

De notar ainda que uma vez que esse trabalho será efectuado à posteriori, i.e., o ROC não acompanhou a actividade da entidade durante o(s) período(s) a que se refere(m) a dedução de prejuízo(s), certamente que po-derão existir “reservas por limitação no âmbito” (v.g. não assistência à contagem física dos inventários) que deverão ser descritas na certificação legal das contas e no relatório

Certificação com reservasNo que concerne à alínea a), fica de fora a certificação legal das contas com reservas, o que não nos parece correcto no caso com as mesmas descreverem factos patrimoniais e respectivas políticas contabilísticas com impacto no resultado líquido do período ou nos capitais próprios e,por consequência, no lucro tributável no IRC.

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Revisores oficiais de contasadmitem continuidadede tempos difíceis

A Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC) assume que a crise económica que o país atravessa vai continuar a influenciar a sua actividade e as respectivas organizações profissionais. Isto mesmo está patente no Relatório e Contas da Ordem, relativo ao ano passado.

Ciente das dificuldades existentes, o conselho di-rectivo já tinha inscrito no Plano de Actividades para o ano passado importantes medidas que considerou ade-quadas para ajudar a reduzir os impactos da crise nas

estruturas profissionais, sobretudo de pequena e média dimensões. Este rigor terá sido mantido no Plano de Actividades para o presente exercício. “O ano de 2010 continuou a apresentar perspectivas pouco positivas e grandes incertezas quanto ao futuro. Todavia, conti-nuamos a acreditar que com a mobilização de todos iremos ser capazes de vencer as batalhas que a crise económica e financeira nos obriga a travar”, adianta o referido relatório.

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complementar a emitir no âmbito da alínea b) do n.º 1 e do n.º 2 do art.º 2.º da Portaria em análise.

Ainda em relação à alínea b) do n.º 1, é óbvio que o ROC terá que desenvolver trabalho nesse sentido e de acordo com as futuras orientações da OROC, que, cer-tamente, serão plasmadas, repetimos, numa Directriz de Revisão/Auditoria específica e complementar à DRA 800.

Passando, por fim, à cláusula do n.º 4, estatui:“Sempre que o revisor oficial de contas conclua pela existên-

cia de distorções que afectem parcialmente o montante do prejuízo acumulado, tais distorções podem dar lugar a correcção pela administração fiscal do montante do pre-juízo fiscal dedutível.”.Esta situação diz respeito a factos susceptíveis de con-

tingências fiscais que possam ter implicações negativas no lucro tributável, e que, por conseguinte, possam originar correcções pela administração fiscal ao montante dos pre-juízos fiscais dedutíveis, as quais deverão ser objecto de relato por parte do ROC.

4. NOMEAÇÃO DO ROC

O art.º 3.º da Portaria refere-se à nomeação do ROC, que deverá ser efectuada oficiosamente pela OROC, sob pedido das sociedades comerciais, ou melhor, dos repre-sentantes do órgão de gestão na entidade.

Este articulado visa, essencialmente, assegurar uma maior independência do ROC relativamente à socieda-

de, pelo que certamente a OROC deverá, a exemplo de situações semelhantes, enviar uma Circular aos ROC no sentido de se indagar da disponibilidade para esse efeito.

Desta forma, a norma exclui a possibilidade de desig-nação de ROC no âmbito do art.º 50.º do EOROC, no-meadamente pela assembleia geral de sócios/accionistas.

5. CONCLUSÕES

A Portaria n.º 111-A/2011, de 18 de Março, refere-se essencialmente aos âmbitos subjectivo e objectivo da cer-tificação legal das contas da dedução dos prejuízos fiscais prevista no n.º 11 do art.º 52.º do CIRC, com a redacção dada pelo artigo 99.º da Lei n.º 55 -A/2010, de 31 de Dezembro, que aprovou o OE/2011.

No presente artigo pretendemos dar alguns contribu-tos interpretativos da Portaria.

A OROC deverá emitir uma Directriz de Revisão/Au-ditoria específica e complementar à DRA 800, no sentido de definir as regras do trabalho do ROC no âmbito do art.º 2.º da Portaria.

O ROC nomeado para esse trabalho deverá, nos ter-mos das alíneas a) e b) do n.º 1 do art.º 2.º daquela Por-taria, emitir a certificação legal das contas e um relatório específico no contexto da futura DRA.

*Licenciado em Gestão de Empresas e Mestreem Contabilidade e Auditoria, ambos pela Universidade do Minho,

ROC, TOC, Docente do Ensino Superior e Director da C&[email protected]

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SNC como instrumento de gestão

Evolução ou Revolução?

A entrada em vigor, no dia 1 de Janeiro de 2010, do novo Sistema de Normalização Contabilística (SNC) re-presentou a maior alteração na contabilidade em Portugal das últimas décadas, com impacto nos critérios de reco-nhecimento, mensuração, apresentação e divulgação, não devendo, por isso, ser encarada como uma simples con-versão do plano de contas.

Dito desta forma, parece que estamos claramente pe-rante uma revolução na contabilidade em Portugal. Im-porta referir, no entanto, que a génese do SNC são as Normas Internacionais de Contabilidade e Relato Finan-ceiro (IAS/IFRS) que, opcionalmente, as empresas por-tuguesas não cotadas em bolsa já tinham possibilidade de aplicar. Deste modo, em bom rigor, podemos afirmar que estamos perante uma evolução mais do que propriamente uma revolução.

Qualquer que seja a leitura, a adopção do SNC re-presenta uma mudança de paradigma: passámos de um modelo de base jurídica para um modelo de base eco-nómica. Por outras palavras, passámos de uma conta-bilidade orientada para o cumprimento de obrigações fiscais para uma contabilidade orientada para a Gestão e a tomada de decisão de todos os stakeholders.

Contabilidade Orientadapara a Tomada de Decisão

A preocupação em produzir e transmitir informação útil para a tomada de decisão é transversal a todo o SNC. Ao nível das Demonstrações Financeiras, a mesma é particularmente visível nas seguintes situações:

i. Generalização da Demonstração dos Fluxos de Cai-xa, que passa a ser obrigatoriamente elaborada pelo método directo;

ii. Divulgação de informação por segmentos e sobre actividades descontinuadas;

iii. Novo formato da Demonstração dos Resultados, com especial destaque para a introdução da rubrica de Resultado antes de depreciações, gastos de finan-ciamento e impostos (EBITDA – Earnings Before Interest, Tax, Depreciation and Amortization);

iv. Introdução da Demonstração das Alterações no Capital Próprio;

v. Reformulação do papel do Anexo, que passa a ser, provavelmente, a peça mais importante da prestação de contas em SNC.

Impacto do SNC

Para além do natural e inevitável impacto ao nível dos números, resultante do processo de transição, a adopção do SNC tem impactos não menos importantes em áreas-chave da organização, nomeadamente:

• Órgão de Gestão: o SNC vem conferir um papel preponderante e, diríamos, intransmissível, ao órgão de gestão, que podemos destacar em três vertentes:

i. Ao nível da responsabilidade: o órgão de gestão tem a responsabilidade primária pela prepara-ção e apresentação das suas demonstrações fi-nanceiras;

ii. Ao nível da informação divulgada: não obstan-te ter acesso a informação adicional de gestão e financeira que o ajude a assumir as suas res-ponsabilidades de planeamento, de tomada de decisões e de controlo, as demonstrações finan-ceiras publicadas são baseadas na informação usada pelo órgão de gestão acerca da posição financeira, desempenho e alterações na posição financeira da entidade;

PAULO MOURA CASTRO*

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iii. Ao nível das políticas contabilísticas: é ao ór-gão de gestão que compete aferir da adequação das diferentes normas à realidade do seu negó-cio. Sempre que tal não se verifique, o mesmo ajuizará quanto ao desenvolvimento e aplicação de uma política contabilística que resulte em informação que seja relevante e fiável para a tomada de decisões económicas por parte dos utentes.

• Direcção Financeira: pelo acima exposto, facilmen-te se depreende que a função do responsável finan-ceiro terá forçosamente de mudar. Exige-se com o SNC um assessor contabilístico-fiscal, altamente conhecedor do negócio e da área financeira, capaz de interpretar a estratégia da organização e sugerir as melhores políticas para a sua correcta relevação. No relacionamento com os restantes stakeholders, espera-se que o responsável financeiro actue como uma espécie de investor relations.

• Sistemas de Informação: em nossa opinião, a adopção do SNC na sua plenitude apenas será pos-sível se a organização dispuser de um Sistema de Informação (SI) competente. São vários os factos que sustentam esta opinião, entre os quais desta-camos:

i. A existência de uma informação por segmen-tos pressupõe uma moderna contabilidade de gestão, por centros de responsabilidade, capaz de identificar os rendimentos e gastos mas tam-bém os activos e passivos que lhes estão afectos;

ii. Para que a informação seja disponibilizada em tempo útil (e não de acordo com o calendário fiscal), o SI deverá estar perfeitamente integra-do (ERP), com todos os componentes e proces-sos da organização dentro da mesma estrutura de informação;

iii. A exigência de uma Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo método directo requer um SI evoluído e cuidadosamente parametri-zado

iv. A maior separação entre a Contabilidade e a Fiscalidade obriga a vários ajustamentos às De-monstrações Financeiras (tanto maiores quanto maior o grau de customização destas), pratica-mente impensáveis sem a intervenção do SI.

Em suma, pretende-se com o SNC acabar com a exis-tência de duas contabilidades, uma para a Gestão, e outra para o Fisco, o que só poderá acontecer com uma participa-

ção activa da gestão de topo, um melhor conhecimento do negócio dos responsáveis financeiros, formação do pessoal e um sistema de informação flexível e competente.

Obstáculos de curto prazo: Comparabilidade

Um dos grandes objectivos do SNC é o de aumentar a comparabilidade das Demonstrações Financeiras, apro-ximando o relato financeiro em Portugal à harmonização contabilística internacional.

De facto, a necessidade de as empresas portuguesas operarem cada vez mais nos mercados internacionais, quer ao nível operacional quer financeiro, estava condi-cionada, do ponto de vista contabilístico, pela manuten-ção do Plano Oficial de Contabilidade (POC), demasiado orientado para a realidade (e fiscalidade) nacional.

No entanto, somos de opinião que, no curto prazo, e a nível doméstico, a comparabilidade das Demons-trações Financeiras sairá prejudicada, uma vez que:

i. As opções de contabilização são agora muito mais am-plas, pelo que a discrepância entre políticas contabi-lísticas utilizadas entre empresas tenderá a ser maior;

ii. O Anexo, onde essas eventuais discrepâncias serão detalhadamente explicadas, não consta das bases de dados tradicionalmente utilizadas pelos analistas fi-nanceiros para emitirem a sua notação de risco;

iii. O processo de transição em si mesmo coloca pro-blemas de comparabilidade quanto à informação histórica da própria empresa.

Em todo o caso, será expectável que, a prazo, haja uma certa uniformização de políticas contabilísticas entre empresas do mesmo sector, o que reduz os problemas de comparabilidade acima mencionados. Por outro lado, os próprios utilizadores da informação financeira, nomea-damente os analistas, terão de adaptar as suas práticas a esta nova realidade, incorporando nas suas avaliações mais elementos qualitativos.

*Pós-Graduado em Finanças e em Controlo Empresariaise Especialização em Corporate Finance ambos pelo ISCTE.

Sócio-administrador da PARTNERtoPARTNER– Consultores de Gestão, S.A.

www.p2p.com.pt

UtilizadoresPor outro lado, os próprios utilizadores da informação financeira, nomeadamente os analistas, terão de adaptar as suas práticas a esta nova realidade, incorporando nas suas avaliações mais elementos qualitativos.

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A Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas (APPC) convocou uma assembleia geral para o dia 18 de Maio, para introdução de algumas alterações ao Es-tatuto, das quais destacamos a alteração para a deno-minação social primitiva de Associação Portuguesa de Contabilistas (APC).

Pela sua importância a seguir transcrevemos o texto que acompanhou aquela convocatória:“Colega,A criação ou alteração da denominação social de qualquer

entidade obedece a um duplo critério: sugerir o objecto da actividade e enquadrar-se na envolvente nacional e, muitas vezes também na internacional.

Anteriormente a Associação já tinha alterado a sua de-nominação social (de APC para APPC) no sentido de tornar-se mais abrangente quanto à origem académica dos seus associados (inicialmente eram só oriundos dos ISCA’s e dos Pupilos do Exército) e, simultaneamente aproximar-se de algumas práticas internacionais.

Entretanto, a experiência adquirida, mas sobretudo as alterações internacionais que se foram observando, de-signadamente com a adequação a normativos globais, que implicam novos conceitos de índole profissional, levaram-nos, de novo, à necessidade de alterar os Es-tatutos, procurando adequá-los o mais possível aos re-feridos normativos e aproximá-los, no que respeita à estrutura consignada, às formas de intervenção e con-dições de funcionamento associativo às organizações similares estrangeiras.

Nestas circunstâncias, foi elaborada uma nova proposta de Estatutos na qual se introduziram algumas correcções, mas sobretudo três alterações substanciais, a saber:1. Regresso da APPC à denominação social primitiva

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CONTA-BILISTAS, com o que se consegue uma melhor aderência identificadora dos associados ao concei-to de Contabilista estabelecido pelo IFAC (Inter-national Federation of Accountants), bem como à Classificação de Profissões, tanto a estabelecida pelo Organização Mundial do Trabalho (OIT)

como pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) na Classificação Portuguesa de Profissões (CPP), que não contemplam a categoria de Perito Conta-bilista, mas sim a de Contabilista.

Apesar do trabalho empenhado que desenvolvemos nos últimos anos, no sentido de promover a cate-goria profissional do Perito Contabilista, junto das várias instituições nacionais que regulam a nossa profissão, verificamos que, ao contrário das nos-sas congéneres internacionais, o termo Perito está muito associado na sociedade portuguesa com a figura da peritagem judicial, razão pela qual não existiu aceitação, por parte do grupo de trabalho que elabora a Lista da Classificação Portuguesa de Profissões, para a sua inclusão.

A profissão em Portugal e na generalidade dos países compreende contabilistas que exercem a actividade em contrato de trabalho ou em prestação de ser-viços e, em qualquer dos casos, desempenhando funções na contabilidade interna ou de gestão, na contabilidade externa ou financeira, nas audito-rias interna ou externa, na docência nos diversos níveis de Ensino e Formação Profissional e, por vezes, na investigação. Ao longo da carreira pro-fissional transitam entre actividades, exercendo-as, por vezes, em simultâneo.

Os contabilistas têm em comum uma formação aca-démica com conteúdos semelhantes e um conheci-mento teórico e prático da Contabilidade domi-nante para o desempenho profissional, qualquer que ele seja. O que distingue os contabilistas de quaisquer outros profissionais é a utilização da Contabilidade como elemento essencial, indepen-dentemente do tipo de tarefas que desempenham no exercício profissional, embora também utili-zem conhecimentos de outras áreas com carácter complementar. A Contabilidade é o campo cen-tral do conhecimento e será o elemento identifi-cador dos membros da Associação Portuguesa de Contabilistas.

APPC altera Estatutose passa a ter a denominaçãoprimitiva de APC

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2. Criação de uma estrutura designada por Conselho Consultivo, constituída por personalidades convi-dadas, possuidoras de reconhecida experiência e sa-ber, que possam apoiar a Associação em múltiplos aspectos, projectando uma imagem favorável da sua actividade.

3. Criação de uma nova categoria – Associado Estu-dante – com vista a, tão brevemente quanto possí-vel, os estudantes da actualidade contactem com a Associação, condição para que ela possa dar conti-nuidade à sua actividade, considerando os amplos e importantes objectivos a atingir no interesse do

País, mas também dos próprios contabilistas, de-signadamente de acompanhamento e cooperação técnicos, científicos e de representação.

Complementarmente aproveitou-se a revisão dos estatutos para proceder à harmonização das designações dos ór-gãos sociais, nacionais e regionais, dada a similitude de competências e funções, sem contudo deixarem de ser claras as diferenças de níveis de competência.

Do que fica dito ressalta a importância dos actos subja-centes à aprovação da nova proposta de estatutos, que será submetida a discussão e votação em Assembleias Regionais e finalmente em Assembleia-Geral.”.

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Na Assembleia-Geral Ordinária de apreciação e vota-ção do Relatório e Contas da OTOC de 2010, aprovado por larga maioria, realizada no passado dia 19 de Março no auditório do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro (ISCAA), o bastonário, António Domingues de Azevedo, assumiu a promessa aos TOC

presentes que irá lutar pela alteração da denominação da OTOC para “Ordem dos Contabilistas”.

Essa informação também mereceu destaque na revista TOC n.º 132, de Março de 2011, p. 13.

O Director da C&E, através de diversos artigos, tem sido também um acérrimo defensor dessa alteração.

OTOC poderá passara “Ordem dos Contabilistas”

No passado dia 19 de Maio realizou-se a Assembleia Geral Ordinária da ADCES – Associação de Docentes de Contabilidade do Ensino Superior com a seguinte ordem de trabalho:

1.º - Análise da situação actual da Associação, nome-adamente no que se refere aos actuais Órgãos asso-ciativos e aos relatórios e contas dos exercícios de 2009 e 2010;

2.º - Eleições para o biénio 2011/2012**;3.º - Outros assuntos de interesse.A Assembleia-Geral foi presidida por Joaquim Cunha

Guimarães, na qualidade de Presidente do Conselho Fiscal da ADCES.

Relativamente ao primeiro ponto da Ordem de Tra-balhos a actual Direcção da ADCES, presidida pela docente do ISCAC, Guilhermina Freitas, não esteve presente nem apresentou os relatórios e contas de 2009 e 2010, o que mereceu reprovação por unani-midade dos associados presentes.

Dado o impasse a que se chegou e sob proposta do associado, Carlos Alberto Baptista da Costa, foi no-meada uma Comissão Administrativa constituída por três associados, e presidida por Joaquim Guima-rães, a qual desenvolverá os esforços para a reposição da regularidade da Associação e a preparação do acto eleitoral.

Director da C&E nomeado Presidente da Comissão Administrativa da ADCES

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Seminário da CILEA conclui

TOC são fundamentaispara as pequenas e médias empresas

Os técnicos oficiais de contas (TOC) têm cada vez mais uma importância determinante na actividade das peque-nas e médias empresas. O TOC é um criador de valor e, por outro lado, há um campo de intervenção mais amplo que se abre aos profissionais. Estas algumas das principais conclusões que se retiram do XXII Seminário Internacional do Comité de Integração Latino Europa-América (CILEA) que, pela primeira vez, decorreu numa região autónoma, no Funchal. O tema em debate foi “A contabilidade e o contabilista nas PME”, numa organização da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC).

Alberto João Jardim, presidente da região autónoma da Madeira,não poupou elogios aos TOC, considerando que o país deve muito a estes profissionais. Acrescentou a este propósito: “O país deve-lhes muito. Certamente muitas empresas não teriam encontrado o rumo certo sem o vosso trabalho. Sem os TOC, isto teria descambado e as PME – que são garante das liberdades democráticas – não teriam sobrevivido. O que vai agora acontecer depende do vosso talento e da vossa arte para aguentar as PME e a sustenta-bilidade democrática. Tenho esperança na vossa atitude.”

Domingues de Azevedo, bastonário da OTOC, chamou a atenção para a necessidade dos profissionais se adaptarem às novas necessidades do mercado e que também abrem novos oportunidades, como organização, implementação de meios e processos de custeio, resposta às questões de ordem legal, informação, acompanhamento permanente e análise e estudo de oportunidades. Para o bastonário é preciso repensar o pa-pel dos TOC nas PME. “O profissional só poderá ser criador de valor se conhecer as necessidades da empresa. Algo de mui-to grave se está a passar na União Europeia. Os contabilistas têm que se fazer ouvir aos níveis europeu e mundial. Quem sugere a isenção de contabilidade em muitas destas entidades é porque nunca esteve, nem sabe, o que é uma empresa. A falta de organização deixa as empresas mais vulneráveis.”

Por seu lado, Alberto Braz, membro do conselho disci-plinar da Ordem, considera que é tempo de reforçar a for-mação permanente e proceder ao abandono da formação formal, no sentido da formação à medida. Hoje procura-se quem está melhor preparado, portanto aqueles que sabem tirar partido da sua formação. Na sua opinião, existe uma

vasta lista de sectores e actividades onde é possível – e dese-jável – uma maior intervenção dos TOC, desde a adminis-tração pública, em geral, até director financeiro, passando por administrador de insolvências.

Ensino da contabilidade está desadequado

Repensar o papel dos objectivos, o papel e a estrutura curricular do ensino superior na formação dos TOC foi a perspectiva apresentada por Sandra Alves, docente da Uni-versidade de Aveiro, sobre o que deve ser o TOC enquanto criador de valor. Na sua opinião, o ensino da Contabilida-de não forma profissionais capazes de se adaptarem de for-ma constante à evolução da sociedade e os currículos nem sempre são adequados à realidade empresarial. “Às escolas exige-se que tenham uma perspectiva global e aos empresá-rios e associações profissionais um papel mais activo junto das instituições do ensino superior”, concluiu.

Neste momento, o acesso ao crédito é uma das grandes dificuldades sentidas pelas PME. Artur Costa, responsável da CGD, admite que a banca também está com dificulda-des em obter crédito e apontou alguns dos problemas que as PME apresentam quando chega a hora de pedir dinhei-ro à banca: descapitalização, elevada carga fiscal, excessiva burocracia, morosidade da Justiça e a nem sempre percebi-da importância da Contabilidade. “É impossível gerir uma empresa sem existirem elementos contabilísticos. Há muitos empresários que não dão a devida importância a este aspecto. Por outro lado, o TOC nem sempre valoriza a nobreza do seu trabalho.”

A intervenção de Phillipe Arrou, do Conselho Superior da Ordre des Experts Comptables (França), criticou dura-mente a iniciativa da Comissão Europeia para reduzir em 25% os cargos administrativos e contabilísticos nas empre-sas, num período de quatro anos. Ora, defende que o tra-balho dos TOC visa, precisamente, proteger o mercado das PME. “As empresas precisam de contabilidade e de dados como fonte de informação para o empresário. É inaceitável invocar o argumento da economia de cargos. É fundamen-tal que a voz da profissão se faça ouvir contra este projecto, que pode comprometer o futuro da contabilidade.”

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Há mais propensão aos técnicos oficiais de contas cometerem infrac-ções na área disciplinar, tendo em con-ta a actual situação de crise. O aviso é de Pereira Silvão, presidente do Conse-lho Disciplinar da Ordem dos Técni-cos Oficiais de Contas (OTOC). Por outro lado, as infracções assumem con-tornos de uma cada vez maior sofistica-ção. Em trabalho publicado na revista TOC, assume que é fundamental o Conselho Disciplinar ter uma actuação o mais rápida possível.

Pereira Silvão é de opinião que os profissionais da contabilidade estão melhor preparados para os desafios que agora se lhes coloca, no entanto, acentua que “esse crescimento técni-co deverá ser acompanhado também pelas respectivas vertentes ética e de-ontológica e aconselho muito caute-la quando estiverem em causa, por exemplo, serviços de consultoria”. Há uma regra fundamental e básica que tem que ser seguida pelos profissio-nais, não assumir responsabilidades para as quais não se têm as necessárias competências técnicas.

O responsável do CD baseia as suas afirmações em factos concretos, na medida em que é organizado um conjunto de estatísticas, no âmbito do seu relatório anual de actividades, que permite analisar a forma como a pro-fissão vai evoluindo, designadamente através da quantificação e da qualifica-ção de elementos, como as infracções denunciadas e o seu sancionamento (ou não), os motivos que levaram ao arquivamento das denúncias ou os ti-pos de penas aplicadas. A partir destes

dados, é possível chegar a algumas con-clusões e Pereira Silvão não se coíbe de fazer as respectivas críticas.

“No seu conjunto, os profissionais da contabilidade, apesar das melho-rias que têm que ser reconhecidas, têm ainda um longo caminho a per-correr, quer no domínio técnico pro-fissional, quer no comportamental.” São apontados factores como a falta de pagamento tempestivo de quotas, o incumprimento de obrigações pe-rante os seus clientes, os deveres pe-rante os colegas, a angariação ilícita de clientela, a retenção de documentos, o incumprimento de obrigações peran-te a Ordem. “Estas são algumas das infracções que o CD tem sancionado de forma rigorosa e definitiva”, refere.

Um dos principais objectivos da-quele órgão da Ordem passa agora por reduzir o tempo médio de conclusão dos processos. É um objectivo que tem sido, aliás, conseguido, de forma gradual. “Justiça demorada é negação da Justiça. E em matéria disciplinar é mais evidente essa necessidade”, afir-ma Pereira Silvão.

O conselho não possui meios pró-prios que possa rentabilizar o tempo dos juristas e demais pessoal que lhe é colocado à disposição. Tem recomen-dado, cada vez mais, o uso dos meios informáticos e procurado definir e estabelecer procedimentos céleres, “sem prejudicar a qualidade consen-tânea com o rigor formal e material indispensáveis”. Por outro lado, tem recomendado acções de formação adequadas para o pessoal técnico e ad-ministrativo.

Profissional está melhor preparado

Relativamente aos profissionais, é seu entendimento que o TOC está bastante melhor preparado para os novos desafios. “Temos em mãos a implementação do SNC ou as novas responsabilidades previstas no artigo 6º do estatuto. Interessa, contudo, que a ética e a deontologia acompa-nhem aquela melhoria técnica. Mas é preciso também ter algum cuidado. Fala-se muito em novas responsabili-dades, em janelas de oportunidades. Ora, a responsabilidade é algo que não se delega. O contribuinte não pode delegar a sua responsabilidade fiscal. O TOC, quanto muito, poderá ser co-responsável.”

O que significa que o TOC não pode assumir responsabilidades para as quais não tenha competência téc-nica. “Temos ainda a supervisão do cumprimento das obrigações em Se-gurança Social e para-fiscalidade. As funções de execução e supervisão são incompatíveis tecnicamente. Como é que quem executa pode supervisionar o que ele próprio fez?”

Para Pereira Silvão a necessidade de mais ética é evidente. É que muitas infracções dos TOC são de natureza comportamental e a crise que se atra-vessa não as farão diminuir. O CD vai desenvolver sempre esforços para que o profissional conviva com os proce-dimentos éticos. “Seja como for, os TOC podem ficar descansados quan-to ao rigor que o conselho colocará nas acções da sua jurisdição.”

Na opinião de Pereira Silvão, presidente do CD da OTOC

Crise cria maior propensãoa que sejam cometidas infracções

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Pelo segundo ano consecutivo foram avaliados os ser-viços e organismos da administração central do Estado, no âmbito do SIADAP, pelo respectivo desempenho em 2009. Este ano regista-se a avaliação, pela primeira vez da totalidade do universo desses serviços e organismos (num total de 231), de acordo com métricas e parâmetros har-monizados de avaliação.

Desses serviços e organismos, nos 11 ministérios onde assim foi entendido, foram 29 aqueles que recolheram a distinção de mérito pelos respectivos ministros que po-

diam atribuir esse desempenho excelente até 20% do universo dos serviços do seu ministério. Um dos efeitos previstos na lei para a atribuição aos serviços da referida distinção de mérito é o aumento das percentagens máxi-mas legais para as menções SIADAP dos respectivos tra-balhadores de “relevante” e “excelente”, respectivamente, de 20% para 35% e de 5% para 10%, o que se efectiva-rá este ano, quando os serviços e organismos concluam a avaliação de desempenho dos trabalhadores em 2009, garante o Ministério das Finanças.

A portaria nº 121/2011 regulamenta a contribuição sobre o sector bancário. Esta nova contribuição tem sido objecto de várias críticas, face a dúvidas suscitadas quan-to à sua conformidade com a Constituição. Há elementos que parecem ir além da mera liquidação e cobrança, o que poderá colidir com o princípio e reserva de lei em matéria fiscal, explica a sociedade de advogados A. M. Pereira, Sár-raga Leal, Oliveira Martins, Júdice & Associados (PLMJ).

“Acresce que a questão da definição da nova taxa traz consigo outro problema e que pode implicar com o prin-cípio da não-retroactividade da lei fiscal. Com efeito, a en-trada em vigor desta contribuição esteve prevista para 1 de Janeiro passado, mas a respectiva regulamentação e taxas concretas só vieram a ocorrer nesta portaria, pelo que só agora estão reunidas todas as condições necessárias à sua aplicação.” A PLMJ chama a atenção para o facto do “du-plo propósito” de reforçar o esforço fiscal exigido ao sector financeiro, bem como diminuir os riscos sistémicos que lhe estão associados, o OE criou a “contribuição extraordinária sobre o sector bancário”.

São considerados como contribuintes desta contribui-ção extraordinária as instituições de crédito com sede prin-cipal e definitiva em Portugal, as filiais em território nacio-nal de instituições de crédito com sede principal e efectiva fora do nosso país e sucursais de instituições de crédito que

tenham sede principal e efectiva da sua administração situ-ada fora da União Europeia.

“A contribuição incidirá sobre todos os elementos do passivo, em primeira linha (Base I), independentemente da sua forma ou modalidade, que representem dívida para com terceiros, sendo deduzidos os fundos próprios de base (Tier 1) e complementares (Tier 2), bem como os depó-sitos abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Excluem-se os passivos que decorram de elementos que – segundo as normas de contabilidade aplicáveis – sejam reconhecidos como capitais próprios, de responsabilidades com planos de benefício definido, de provisões, de reavalia-ção de instrumentos financeiros derivados, de receitas com rendimento diferidos (excepto quanto a operações passi-vas) e de activos não reconhecidos em operações de titu-larização.” De salientar que sobre a referida Base I incidirá uma taxa de 0,05% sobre o valor apurado. O que significa que o legislador optou pela taxa máxima permitida pela Lei do OE, já que a taxa mínima era de 0,01%.

A nova contribuição incidirá ainda sobre o valor no-cional dos instrumentos financeiros derivados fora do ba-lanço, com excepção daqueles que sirvam para cobertura, bem como aqueles cujas posições em risco se compensem mutuamente. Sobre estes incide uma taxa de 0,00015%, fixando-se assim uma taxa intermédia.

SIADAP abrange universo dos serviços da administração central

Contribuição sobre o sector bancário levanta dúvidas constitucionais

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Bruxelas pretende incentivar a eficácia energética

Comissão Europeia propõe revisãoda tributação sobre a energia

A Comissão Europeia apresentou uma proposta de di-rectiva que tem objectivo rever as normas obsoletas que regem a tributação de energia na União. Através das novas normas pretende reestruturar o modo de tributação dos produtos energéticos, de modo a corrigir os actuais dese-quilíbrios e poder considerar tanto as emissões de CO2 como o seu valor energético.

A tributação actualmente incidente sobre a energia será divida em duas componentes que, em conjunto, determinarão a taxa global de tributação do produto. “A Comissão quer promover a eficiência energética e o con-sumo dos produtos mais respeitadores do ambiente, bem como evitar distorções de concorrência no mercado úni-co. A proposta ajudará os países a redefinirem as suas es-truturas fiscais globais, de uma forma que contribua para o crescimento e o emprego, transferindo para o consumo a carga fiscal incidente sobre o trabalho”, de acordo com Bruxelas.

A directiva revista entraria em vigor a partir de 2013, pelo quew a indústria disporá de tempo suficiente para se adaptar à nova estrutura de tributação até 2013, tendo em conta os longos períodos de transição previstos para o alinhamento completo da tributação relativa ao valor energético. Considera a Comissão Europeia que é neces-sária uma fiscalidade da energia equitativa e transparente para alcançar os objectivos em matéria de energia e clima. “A meta comum é uma economia da UE mais eficiente na utilização dos recursos, mais ecológica e mais competitiva. Esta proposta traduz um forte sinal relativamente ao pre-ço do CO2 para as empresas e os consumidores privados, representando também uma oportunidade para transferir para o consumo a carga fiscal incidente sobre o trabalho, incentivando, assim, uma fiscalidade que potencia o cres-cimento.”

De notar que a tributação dos produtos energéticos está, parcialmente, harmonizada ao nível da União Euro-peia. Na directiva relativa à tributação da energia são es-tabelecidos níveis mínimos de tributação da electricidade e dos produtos energéticos utilizados como carburantes e combustíveis para aquecimento. Contudo, de acordo com a Comissão, “a directiva tornou-se obsoleta e incoerente”.

Estados podem fazer melhor uso da fiscalidade

A directiva relativa à tributação da energia revista per-mitirá aos Estados-membros fazerem o melhor uso possí-vel da fiscalidade. Para esse efeito, a proposta assenta na divisão da taxa mínima do imposto em duas partes. Uma teria por base as emissões de CO2 dos produtos energé-ticos, fixada em 20 euros por tonelada de dióxido de car-bono. A outra teria como base o valor energético, isto é, a energia real que gera um produto (medido em gigajoules). A taxa mínima de tributação é fixada em 9,6 euros/GJ para carburantes e 0,15 euros/GJ para combustíveis para aquecimento.

Estas taxas aplicam-se a todos os combustíveis uti-lizados, tanto para transporte como para aquecimento. “Os aspectos sociais são tidos em conta, através da pos-sibilidade dos países poderem isentar completamente a energia consumida pelas famílias para o seu aquecimen-to, independentemente do produto energético utilizado. A indústria disporá de tempo suficiente para se adaptar à nova estrutura de tributação até 2013, tendo em conta os longos períodos de transição previstos para o alinha-mento completo da tributação relativa ao valor energé-tico.”

No que respeita à redução das emissões de gases de efeito estufa, a revisão da directiva visa complementar o regime de comércio de licenças de emissão da UE vigen-te através da aplicação de um imposto sobre o CO2 aos sectores não abrangidos por aquele regime – transportes, famílias, agricultura e pequenas indústrias. “Estes sectores são responsáveis por metade das emissões da UE, pelo que é importante que também sejam alertados por um sinal de preço relativamente ao CO2”, conclui a Comissão Eu-ropeia.

Directiva

A directiva relativa à tributação da energia revista permitirá aos Estados-membros fazerem o melhoruso possível da fiscalidade.

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HOMENAGEM AO PROFESSOR DOUTOR ANTÓNIO LOPES DE SÁ

Em 8 de Abril de 2011 realizou-se, em Belo Horizonte (Brasil), uma ses-são de homenagem ao Professor Doutor António Lopes de Sá, tendo sido atribuído o seu nome ao edifício da sede do Conselho Regional de Con-tabilidade de Minas Gerais, e inaugurado um busto. Foi com muita honra que estive presente no evento, na companhia do Bastonário da OTOC e do Membro-Honorário e Membro do Conselho Superior da OTOC, Dr. António José Alves de Silva, em representação da OTOC (da foto também constam o Presidente do Conselho Federal de Contabilidade do Brasil, Jua-rez Domingues Carneiro, e a viúva do Professor, Édila Lopes de Sá).

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ANÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES7.ª EDIÇÃO (2009)

No passado dia 5 de Maio, a OTOC, em parceria com o Jornal de Notícias e a TSF, realizou uma Conferência, «Reorganização Administrativa do País», no Seminário de Vilar, no Porto, su-bordinada ao tema na qual foi apresentado o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, referente às contas de 2009 (5.ª Edição). O evento reuniu presidentes de autarquias, membros do Governo, TOC e um representante do Comité das Regiões da União Europeia, num grande debate sobre o estado financeiro dos municípios e a sua reorganização administrativa.

O Anuário foi apresentado pelo Presidente do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), de Barcelos, Professor Doutor João Baptista da Costa Carvalho, coordenador do Grupo de Traba-lho, o qual também integrou os docentes do ensino superior Maria José Fernandes, Pedro Camões e Susana Jorge.

O Anuário é a “fotografia” financeira das contas dos Municípios portugueses e encontra-se dividido nos 8 capítulos seguintes:

Capítulo 1: Os Municípios PortuguesesCapítulo 2: Contabilidade e Finanças MunicipaisCapítulo 3: Análise da Execução Orçamental dos MunicípiosCapítulo 4: Análise Financeira, Económica e Patrimonial dos MunicípiosCapítulo 5: Rácios de Endividamento (Lei das Finanças Locais)Capítulo 6: O Sector Empresarial Local e os Serviços Municipalizados no Sector AutárquicoCapítulo 7: Ranking GlobalCapítulo 8: Conclusões.

PRÉMIO “PROFESSOR ROGÉRIO FERNANDES FERREIRA6.ª EDIÇÃO (2010/2011)

De acordo com informações constantes dos sítios da OROC e da OTOC, foi prorrogado até 15 de Julho de 2011, o prazo de entrega dos trabalhos do Prémio “Professor Rogério Fernandes Ferreira / 2011”.

A cerimónia de entrega do prémio será realizada no dia 21 de Setembro de 2011, evento este que será integrado numa Conferência de homenagem ao Professor. O Prémio foi criado em 2000 e teve, até à data, 5 edições, tendo sido institu-cionalizado por três organismos: CEGE (Centro de Estudos de Gestão do ISEG), OROC e OTOC.

O Regulamento do Prémio poderá ser consultado nos sítios desses Organismos.

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As regras relativas à fusão das sociedades anónimas foram várias vezes alteradas de modo substancial. Pelo que por razões de lógica e clareza tornou-se convenien-te proceder à codificação da respectiva regulamentação. É o que pretende a Comissão Europeia através da Di-rectiva 2011/35/UE, de 5 de Abril passado, no âmbito da codificação relativa à fusão das sociedades anónimas. Bruxelas quer a introdução de uma maior coordenação entre todos os países da União Europeia. Os governos nacionais têm agora que estar preparados para esta nova realidade.

A protecção dos interesses dos sócios e de terceiros requer, de facto, uma coordenação da legislação dos Estados-membros a respeito da matéria relativa à fusão das sociedades anónimas, sendo conveniente introdu-zir na legislação de todos os países o instituto da fusão. Assim, no quadro dessa mesma coordenação, torna-se importante assegurar aos accionistas das sociedades par-ticipantes na fusão uma informação adequada e tanto quanto possível objectiva. No entanto, a directiva refere que não é necessário exigir uma análise do projecto das condições de concentração por um perito independente para os accionistas se todos concordarem em prescindir dessa análise.

Por sua vez, a protecção dos direitos dos trabalhado-res, em caso de transmissão de empresas, de estabeleci-mentos ou de partes de empresas ou estabelecimentos já é regulada pela Directiva 2001/23/CE, de 12 de Março, relativa à aproximação das legislações dos vários países, respeitantes à manutenção dos direitos dos trabalhadores em caso de transferência de empresas ou de estabeleci-mentos, bem como de respectivas partes, como anterior-mente referido.

Os credores, incluindo os obrigacionistas e os por-tadores de outros títulos das sociedades participantes na fusão deverão ser protegidos, isto de modo a evitar que a realização de uma eventual fusão prejudique os seus legí-timos interesses.

Interessados devem estarconvenientemente informados

Um outro aspecto importante nesta matéria é que a publicidade prevista pela Directiva 2009/101/CE, de 16 de Setembro, relacionada com a coordenação das garantias que para protecção dos interesses dos sócios e de terceiros são exigidas nos Estados-membros às sociedades, a fim de tornar equivalentes essas garantias, deverá ser extensiva às operações relativas à fusão, naturalmente para que as par-tes terceiras se mantenham adequadamente informadas.

Não menos relevante é a necessidade de alargar as ga-rantias previstas a favor dos sócios e de terceiros, no quadro do processo de fusão, a certas operações jurídicas que, em certos pontos essenciais, têm características análogas às da fusão, de modo a que esta protecção não possa ser iludida.

Além disso, a fim de assegurar a segurança jurídica nas relações entre as sociedades interessadas – entre estas e terceiros – e entre os accionistas, é fundamental limitar os casos de invalidade e estabelecer, por um lado, que os vícios do acto sejam sanáveis sempre que possível, encur-tando, por outro lado, o prazo em que a invalidade pode ser invocada.

Finalmente, importa referir que a presente directiva não deverá prejudicar as obrigações dos Estados-membros relativas aos prazos de transposição para o direito nacio-nal das diversas directivas relacionadas. A regulamentação aqui em causa provém de uma directiva já com mais de três décadas, pelo que ainda mais se justifica a sua apli-cação, tendo em conta a nova realidade do mercado e da actividade empresarial.

Directiva tem que ser transposta para o Direito nacional

Fusão de sociedades anónimastem regras mais objectivase transparentes

Protecção

A protecção dos interesses dos sócios e de terceiros requer a coordenação da legislação dos Estados--membros e a introdução do instituto da fusão

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Equivalência patrimonialCASO PRÁTICO NO 11

CONTA DESCRIÇÃO MONTANTE

1. Ajustamentos a fazer pela empresa Alfa em 1/1/n

4121 a 12Partes de capitalDepósitos à ordemValor de aquisição da participação

100

4121 a 551

Partes de capitalAjustamento de partes de capitalAjustamento do valor do capital próprio de Beta em 1/1/n(a)

200

2. Ajustamentos a fazer pela empresa Alfa em 31/12/n

4121 a 5713

Partes de capitalDecorrentes de outras variações nos capitais próprios das participadasAjustamento da variação do capital próprio de Beta em 31/12/n(a)

100

4121 a 7851

Partes de capitalAplicação do método da equivalência patrimonialResultado do período Beta imputável à participação no período de 19n(a)

60

3. Ajustamentos a fazer pela empresa Alfa no período n+1

264 a 4121 3.

Resultados atribuídosPartes de capitalLucros distribuídos por Beta no período n+1(b)

50

59 a 5712

Resultados transitadosLucros não distribuídosLucros de Beta do período n não atribuídos a Alfa no período n+1

10

A empresa Alfa adquiriu 20% do capital da empresa Beta, por 100, sendo o capital próprio desta, em 1 de Janeiro do período n, de 1.500, tendo aumentado para 2.000 em 31 de Dezembro período n, e apresentando nessa data o resultado do período de 300. A Assembleia-geral realizada em 30 de Março período n+1 deliberou distribuir 250.

(a) Não considerado proveito fiscal de alfa no período n(b) considerados como proveito fiscal de Alfa no período n+1

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PALAVRAS CRUZADAS - CONTABILIDADE*SOLUÇÃO DO NÚMERO ANTERIOR

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HORIZONTAIS:1 - Pertence a ‘Meios Financeiros Líquidos’ (plural); o primeiro era de 1977. 2 - É dos americanos (sigla); ordena cronologicamente. 3 - Todas as contas abertas o têm (plural); negativo (invertido). 4 - Símbolo gráfico da conta; lá são 230 (sigla); ela mudou o mundo; é uma consoante. 5 - Vinham antes das amortizações (sigla); usa-se depois da(s) conta(s) que se debita(m); significado português da expressão “a true and fair view“ contida na IV Directiva 78/660/CEE, de 25 de Julho de 1978 (sigla). 6 - Quociente entre o perímetro e o diâmetro de uma moeda de um euro; é vogal; a ela pertencem as ‘Despesas de Representação’ (sigla). 7 - Um cento para os romanos; uma das componentes do activo (singular); o seu ex-líder tem nome de bebida estimulante. 8 - Contrário de vir; é uma consoante; faz parte do saldo de caixa (singular). 9 - Em Espanha diz-se ‘Libro Mayor’; o FASB é daqui (sigla). 10 - Eram os dálmatas (num. romana); costumava assistir aos exames da Aula de Comércio; denominação jurídica comercial (sigla).

VERTICAIS:1 - Na vigência do POC influenciava negativamente o resultado; uma das especialidades do saudoso Professor Saldanha Sanches (sigla). 2 - Faz parte do avião; riqueza de uma empresa (sigla); sobre eles incide a taxa de imposto (sigla). 3 - Quatrocentos e cinquenta e um para os antigos (invertido); produção total de bens e serviços realizada num dado país num determinado período de tempo; é a última. 4 – Símbolo matemático; é afluente do Mondego; trata as águas (sigla). 5 - Pneu (invertido); oferece o primeiro Doutoramento em Contabilidade do país (sigla); documento financeiro que mostra as receitas e despesas de uma nação (sigla). 6 - Dizem que é secreto; é a primeira; mil para os romanos; um para os mesmos. 7 - Utiliza-se no Diário; usa-se no razão esquemático; é consoante; partícula de disjunção. 8 - Contabilizavam-se em homenagem ao Princípio Contabilístico da Prudência antes da publicação do Decreto-Lei n.º 35/2005. 9 - Pertence a Oliveira do Bairro; é a primeira nos ‘Rendimentos’. 10 - Gonçalves da Silva, no ‘Contabilidade Geral’, costumava defini-la como o “conjunto de elementos patrimoniais comuns expresso em unidades de valor”; o Presidente da Comissão de Normalização Contabilístiica é aqui professor (sigla); artigo definido.

*MIGUEL GONÇALVES - Docente do ISCAC

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O grupo editorial Vida Económica e a Li-berty Seguros publicaram a obra “As franquias nos seguros – Preços versus comportamentos”, da autoria de José Carlos Pedro. Trata-de de uma obra que pretende abranger um vasto pú-blico, na medida em que se trata de uma maté-ria que respeita a toda a gente.

Com este livro pretende-se verificar a influ-ência das franquias na diminuição do custo dos seguros e também como estas poderão afectar o comportamento dos segurados. É feita uma breve resenha histórica dos seguros e da sua evolução e realça-se, por via do recurso a vários exemplos, as funções económicas e so-ciais que se lhe associam. É ainda sublinhada a importân-

cia da incerteza, da qualidade da informação e do risco moral no cálculo do valor dos prémios, recorrendo-se a duas utilizações comerciais das franquias. Conclui-se que, pelo menos para al-gumas pessoas, o custo dos seguros é injusto, é muito difícil determinar o valor adequado de uma cobertura e o número de participações de sinistros diminui à medida que aumenta o valor da franquia.

O livro está estruturado em origem, evolu-ção e importância do seguro, as funções e a necessidade do seguro, a incerteza e o valor da informação, a teoria das probabilidades aplicada aos seguros, estudos de casos e notas finais. A obra está disponível por 15 euros.

Neste livro são analisados os diversos diplo-mas legais relacionados com o novo regime de normalização contabilística para microentida-des, com recurso a esquemas e ilustrações que facilitam o seu enquadramento.

Este regime foi regulamentado pelo Decre-to-Lei nº 36-A/2011, de 9 de Março, aplican-do-se já ao exercício do ano passado, diferen-ciando-se do normativo aplicável às pequenas entidades, designadamente pela simplicidade na elaboração do anexo. Esta medida está em estreita sin-tonia com as recomendações da União Europeia, visando a redução dos custos de contexto das PME, tornando-as

mais competitivas. O livro é da autoria de João Manuel Lopes Gomes e Jorge Manuel Rodri-gues Pires, numa publicação do grupo editorial Vida Económica. A obra está disponível por 22 euros.

Contém o regime de normalização contabi-lística para microentidades, os procedimentos contabilísticos aplicáveis ao exercício passado, modelos de demonstrações financeiras simplifi-cados, o novo código de contas para microenti-

dades, o enquadramento fiscal das mesmas e ainda 50 ca-sos práticos resolvidos com ilustrações de microentidades. O livro destina-se a qualquer tipo de público.

Esta obra descreve a evolução do pensamen-to económico, as suas repercussões na Conta-bilidade nacional e a consequente génese dos sistemas internacionais, cuja transformação tem respondido a necessidades crescentes de informação.

“Sistema Europeu de Contas” também ex-plica a linguagem económica do modelo con-tabilístico adoptado por várias peças informa-tivas, como o quadro de contas económicas integradas e os balanços. Também é feita a análise das várias expressões da crise económica e financeira através de indicadores construídos com base na informação das

contas nacionais. O livro está estruturado em quatro capítulos.

O primeiro fala da Contabilidade nacional, enquanto uma linguagem em evolução. No segundo é apontado o “European System of Accounts” como linguagem económica da Eu-ropa. Segue-se o mesmo modelo, numa pers-pectiva de observação e de análise económica e guia de governação. O quarto capítulo respeita a uma análise económica e de governação de

crise. A obra é da autoria de Virgínia Maria Costa e Sousa, está disponível por 22 euros e é uma publicação do Grupo Editorial Vida Económica.

Vida Económica e Liberty publicam livro sobre franquias nos seguros

Normalização contabilística para microentidades

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Sistema europeu de contas

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