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gias de cadastramento diferenciado junto aos estados e municípios, esse número sofreu grande expansão ao longo do tempo, especialmente a partir do segundo se-mestre de 2013

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CRÉDITOS

COORDENAÇÃO

Maria Alice Melo de AraújoDepartamento do Cadastro Único

Denise do Carmo DireitoCoordenação-Geral de Apoio à Integração de Ações

AUTORES

Denise do Carmo DireitoFelipe Jardim Ribeiro LinsIara Monteiro AttuchJosé Roberto Alvarenga FrutuosoLuiza Lobato Andrade

DADOS ESTATÍSTICOS

Akina Sakamori

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Gustavo André B. T. de Sousa

AGRADECIMENTOS

Agradecemos às Coordenações Estaduais e Ges-tões Municipais do Cadastro Único o empenho permanente para dar visibilidade aos Grupos Po-pulacionais Tradicionais e Específicos. De igual forma, agradecemos aos demais órgãos relacio-nados ao longo do texto que contribuíram para ações e estratégias de inclusão dessas famílias.

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Agrá-rio. Cadastramento diferenciado. Diversidade no Cadastro Único - Respeitar e Incluir. -- Brasília, DF: MDSA; Secretaria Nacional de Renda de Cidadania, 2016.

1. Populações tradicionais, cadastramento, Brasil. 2. Grupos específicos, cadastramento, Brasil. 3. Comu-nidades tradicionais. 4. Cadastro Único para Progra-mas Sociais, Brasil. I. Secretaria Nacional de Renda de Cidadania.

EXPEDIENTE

Presidente da República Federativa do BrasilMichel Temer

Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Osmar Terra

Secretário ExecutivoAlberto Beltrame

Secretário Nacional de Renda de CidadaniaTiago Falcão

Secretária Nacional de Assistência SocialMaria do Carmo Brant de Carvalho

Secretário Nacional de Segurança Alimentar e NutricionalCaio Rocha

Secretário de Avaliação e Gestão da InformaçãoVinícius de Oliveira Botelho

Secretária Extraordinário de Superação da Extrema PobrezaElisabete Ferrarezi

SECRETARIA NACIONAL DE RENDA DE CIDADANIA

Secretário Adjunto SubstitutoWalter Shigueru Emura

Diretora do Departamento do Cadastro ÚnicoMaria Alice Melo de Araújo

Diretor do Departamento de OperaçãoCelso Lourenço Moreira Corrêa

Diretor do Departamento de CondicionalidadesEduardo da Silva Pereira

Diretor do Departamento de BenefíciosWalter Shigueru Emura

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SUMÁRIO

1. Introdução 5

2. Evolução do cadastramento dos grupos populacionais tradicionais e especí-

ficos (2014-2015) 9

3. Perfil socioeconômico dos GPTEs 14

3.1 — Variáveis relativas à localização 16

3.2 — Variáveis socioeconômicas 18

3.3 — Variáveis de infraestrutura do domicílio 24

4. Gênero e GPTEs 31

5. Considerações finais 35

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente, o Cadastro Único para Programas Sociais identifica 17 grupos popu-lacionais tradicionais e específicos (GPTEs). Para abordar essas famílias, respei-

tando a sua forma de viver – muitas vezes com saberes e tradições próprios, foi instituído o processo de cadastramento diferenciado1. Trata-se de um conjunto de orientações que esclarecem e norteiam a forma adequada para incluir essas famílias no Cadastro Único de forma a permitir que se tornem visíveis para um conjunto de políticas de proteção social2.

Esse processo teve início em 2004, com a possibilidade de se identificar famílias indígenas e quilombolas. Em 2010, uma nova versão do Sistema de Cadastro Único, possibilitou a identificação de outros treze GPTEs. Com a intensificação das estraté-gias de cadastramento diferenciado junto aos estados e municípios, esse número sofreu grande expansão ao longo do tempo, especialmente a partir do segundo se-mestre de 2013.

Seguindo o modelo utilizado no ano anterior (Brasil, 2014), neste documento fo-ram analisados dados socioeconômicos de cada grupo familiar, comparando-os com os dados de todas as famílias inscritas no Cadastro Único. Essa comparação permite visualizar que há fatores que reforçam ou inibem a melhoria de vida de parcelas específicas da população, ou seja, há grupos familiares que apresentam vulnerabili-dades maiores em praticamente todas as dimensões analisadas.

1. O Cadastramento Diferenciado segue o disposto no Artigo 24 da Portaria MDS Nº 177 de 16/6/2011.2. Para mais informações sobre o processo de inclusão dos Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos

no Cadastro Único, ver: Diversidade Brasileira: Respeitar e Incluir – ANO 2014 – https://youtu.be/MhzcqnkPYqU

Foto: Sergio Amaral

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Visando reduzir o impacto da sobreposição entre os grupos familiares e buscando entender de maneira mais sistêmica as similaridades que alguns grupos apresen-tam, os grupos populacionais foram agregados por categorias, seguindo o modelo utilizado no ano anterior (Brasil, 2014), conforme detalhado abaixo. Além disso, dois grupos foram incluídos em nossa análise, em face de alterações normativas ocorri-das em 2015, que justificaram a sua conceituação como GPTES. Trata-se das famí-lias com pessoas resgatadas do trabalho análoga ao de escravo e das famílias com indícios de trabalho infantil. Esquematicamente, os GPTEs identificados no Cadastro Único foram agrupados da seguinte forma:

Origem étnica

1) indígenas2) quilombolas3) ciganos4) pertencentes às comunidades de terreiro

Diz respeito ao conjunto de famílias com a autodeterminação de pertencer a um dado grupo social dotado de organização territorial, política, linguística, socio-cultural, econômica e histórica própria. Possuem costumes, tradições e modos de vida comunitários singulares, transmitidos de geração em geração, diferindo-os de outros grupos. São, portanto, grupos que compartilham valores e práticas culturais herdados de povos com estratégias próprias de sobrevivência e reprodução frente ao processo civilizatório.

Relação com o meio ambiente

5) extrativistas6) pescadores artesanais 7) ribeirinhas

São famílias que pertencem a comunidades tradicionais cuja subsistência ba-seia-se no extrativismo de recursos oferecidos pela natureza, seja em florestas, rios, manguezais, mar e demais ambientes similares. Complementarmente, essa popu-lação pode praticar agricultura de subsistência e criação de animais de pequeno porte, mas sempre em regime de economia familiar. Devido às suas características comuns, os grupos relacionados ao meio ambiente podem se sobrepor, cabendo à família escolher em qual categoria deseja ser identificada.

Relação com o meio rural

8) assentadas da Reforma Agrária9) acampadas rurais10) agricultores familiares11) beneficiárias do Programa Nacional de Crédito Fundiário

São grupos familiares que pleiteiam o acesso, a permanência e o uso sustentável da terra, bem como acesso a políticas públicas específicas, como a de crédito fun-diário. Podem, eventualmente, estar organizadas em movimentos sociais. Há ainda

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outros que já obtiveram regularização fundiária por meio do processo de reforma agrária, bem como aqueles que exploram o imóvel rural para a criação de animais, produção de artigos agrícolas para consumo da unidade familiar e comercialização em pequena escala.

Situações conjunturais

12) atingidas por empreendimentos de infraestrutura13) de presos do sistema carcerário14) de catadores de material reciclável15) aquelas compostas por pessoas em situação de rua16) de resgatados do trabalho análogo ao de escravo 17) indícios de situação de trabalho infantil

Por questões conjunturais, entendem-se situações em que a combinação de fatores diversos converge para a construção de determinado estado por perío-do de tempo limitado. Assim, foram agrupadas as famílias que podem estar mo-mentaneamente em situação de vulnerabilidade, mas que podem não mais per-tencer ao grupo se determinada situação social mudar. Portanto, diferentemente dos demais agregados – rural, meio ambiente e étnico – este é caracterizado pela transitoriedade de sua condição.

Nesse último grupo, conforme dito anteriormente, foram acrescidos dois grupos familiares. O primeiro está relacionada à implementação de Acordo de Cooperação Técnica entre o MDS e o Ministério do Trabalho e Previdência Social, que aperfeiçoou, além da troca de informações entre os Ministérios envolvidos, a identificação das fa-mílias com algum membro resgatado do trabalho análogo ao de escravo. Assim, o Responsável pela Unidade Familiar (RF)3 pode informar de maneira autodeclaratória se algum componente de sua família vivenciou essa situação. De igual forma, as famílias com indícios de trabalho infantil passaram a ser analisada sob a ótica do Ca-dastramento Diferenciado4, já que essa situação indica vulnerabilidade adicional da família e, por ser fenômeno complexo, merece ser avaliado com maior profundidade.

O presente estudo analisa o período de um ano, compreendido entre junho de 2014 a junho de 2015, quando se totalizou 1.692.135 famílias pertencentes aos 15 GPTEs (Gráfico 1).

3. O RF é o membro da família, com pelo menos 16 anos de idade e preferencialmente mulher, que presta as informações da família ao Cadastro Único.

4. A Instrução Operacional Conjunta nº 02 SENARC/SNAS/MDS, de 05 de agosto de 2014 normatiza a atu-ação conjunta da SNAS/SENARC na correta identificação do trabalho infantil. Do ponto de vista operacional essa identificação é feita no Bloco 10 do formulário do Cadastro Único e permite ao entrevistador registrar a ocorrência de trabalho infantil mesmo que a família não declare essa situação.

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Gráfico 1 — Evolução do total de famílias GPTEs no Cadastro Único (junho/2010 a junho/2015)

Fonte:

2.000.000

1.600.000

1.200.000

800.000

400.000

jun/10 dez/10 jun/11 dez/11 jun/12 dez/12 jun/13 dez/13 jun/14 dez/14 jun/15

114.791

1.692.135

Cadastro Único, junho/2010 a junho/2015.

Com o acréscimo dos grupos de resgatados do trabalho análogo ao de escra-vo e com indícios de membro em situação de trabalho infantil, o total de famílias identificadas como pertencentes aos 17 GPTEs alcança 1.965.768 famílias em junho de 2015.

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2. EVOLUÇÃO DO CADASTRAMENTO DOS GRUPOS POPULACIONAIS TRADICIONAIS E ESPECÍFICOS (2014-2015)

Nos últimos doze meses (junho/2014 a junho/2015), o Cadastro Único para Pro-gramas Sociais apresentou crescimento – entrada de novas famílias de 14%. Já o

crescimento da marcação de GPTEs foi de 33,5% (acréscimo de 424.493 famílias)5, ou seja, significativamente superior à média do Cadastro. Isso pode ser explicado pelo fato de que, diferentemente do que ocorre no Cadastro em geral, o aumento da marcação GPTEs não depende apenas da inclusão de novas famílias, mas também do processo de atualização cadastral, ou seja, famílias que já estavam inscritas pas-sam a se identificar aos grupos, aumentando o quantitativo total, mais adiante serão apresentados os números de novas inclusões e identificações.

O crescimento do número de GPTEs identificados no Cadastro Único no período analisado, englobando inclusões e atualizações cadastrais, pode ser observado no Quadro 1. Por possuírem diferentes características e presença no território nacional, o número absoluto de cada grupo varia bastante. O grupo predominante é o de agri-cultores familiares, com mais de 55% do total de GPTEs cadastrados, seguido por trabalho infantil, indígenas e quilombolas. Em 2015, o número de pescadores arte-sanais e assentados da Reforma Agrária ultrapassou 100 mil famílias cada.

5. Esse crescimento refere-se aos 15 grupos populacionais – retirando pessoas resgatadas de trabalho análoga ao de escravo e indicativo de Trabalho Infantil – ou seja, mesmos grupos analisados no ano de 2014.

Foto: Sergio Amaral

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Em comparação com junho de 2014, os grupos com maior crescimento foram de atingidos por empreendimentos de infraestrutura, acampados e pessoas em si-tuação de rua, todos com crescimento de mais de 50% no ano. Como esperado, as menores taxas de crescimento estão entre as famílias indígenas (15,3%) e as qui-lombolas (20,1%). Isso demonstra que o trabalho de cadastramento dessas famílias, que teve início em 2004, possibilitou uma cobertura representativa de sua presença no território nacional.

Quadro 1 — Evolução do número de famílias GPTEs no Cadastro Único (junho/2014 a junho/2015)6,7,8

Família GPTE Jun/14 Jun/2015 Crescimento% de

CrescimentoAgricultores familiares 702.219 946.025 243.806 34,7%Em situação de trabalho infantil6

- 213.834 - -

Indígenas 124.082 143.110 19.028 15,3%Quilombolas 114.368 137.313 22.945 20,1%Pescadores artesanais 88.151 126.900 38.749 44,0%Assentadas da Reforma Agrária 85.520 116.066 30.546 35,7%Resgatados do trabalho análogo ao de escravo6

- 93.485 - -

Ribeirinhas 55.355 81.841 26.486 47,8%Catadores de material reciclável 38.315 51.196 12.881 33,6%Acampadas 27.367 44.147 16.780 61,3%Pessoas em Situação de Rua 26.716 40.801 14.085 52,7%Extrativistas 23.662 32.086 8.424 35,6%Família de Preso do sistema carcerário

7.467 10.965 3.498 46,8%

Atingidas por empreendimentos de infraestrutura

5.300 8.915 3.615 68,2%

Pertencente às Comunidades de Terreiro

3.736 4.893 1.157 31,0%

Beneficiárias do PNCF 3.603 4.568 965 26,8%Ciganas 2.831 3.860 1.029 36,3%Total GPTEs (17 grupos) - 1.965.768 - -Total GPTEs (15 grupos) 7 1.267.642 1.692.135 8 424.493 33,5%

Fonte: Cadastro Único, junho/2014 a junho/2015.

Há dois grupos familiares que merecem atenção por apresentarem número de famílias bastante reduzido e índices de crescimento inferiores à média dos demais GPTEs (que é 39,3%): comunidades de terreiro, com 4.893 famílias, e ciganos, com

6. Como não foi levantado o número de famílias em situação de trabalho infantil e com resgatados do traba-lho análogo ao de escravo em junho de 2014, não foi possível determinar seu crescimento no período analisado.

7. Total de GPTEs exceto famílias com indícios de trabalho infantil e com membro resgatado do trabalho análogo ao de escravo.

8. O total de famílias GPTEs é diferente da soma do número de famílias identificadas em cada grupo, pois o Cadastro Único permite a marcação de mais de um GPTE, de modo foram desconsideradas as sobreposições nas marcações das famílias no cômputo do total.

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3.860 famílias. Apesar de não haver estimativas oficiais em nível nacional sobre a presença desses grupos no território, informações preliminares apontam que são grupos subnotificados no Cadastro Único, devendo ser alvo de ações específicas de diagnóstico sobre estimativas de seu universo e de esclarecimento sobre o processo de cadastramento e identificação, de forma a reduzir as incertezas que essas famí-lias podem ter ao se cadastrar.

Como é grande a variação na quantidade de famílias pertencentes a cada GPTE, o Gráfico 2 demonstra a diferença entre o crescimento proporcional (barras) e abso-luto (pontos) do número de famílias identificadas no período.

Gráfico 2 — Crescimento do número de famílias GPTEs no Cadastro Único (junho/2014 a junho/2015)

Fonte:

Perc

entu

al d

e Cr

esci

men

to

% de Crescimento Crescimento Absoluto

Núm

ero

de F

amíli

as Id

entifi

cada

s80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

450.000

400.000

350.000

300.000

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0

Atingidas

Acampad

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P. Situ

ação

de RuaRibeirin

has

Família

s de Preso

Pescadores

Ciganas

Assentad

asExtr

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e Terre

iroPNFC

Quilombolas

Índigenas

Total

GPTEs (15 gr

upos)

Cadastro Único, junho/2014 a junho/2015.

Como verificado no ano anterior, em 2015, em geral, o crescimento do número de GPTEs no Cadastro Único se deve mais à atualização de famílias já cadastradas anteriormente e menos à ação de inclusão cadastral de novas famílias. Assim, 75,7% (560,2 mil) das novas famílias GPTEs já estavam cadastradas em junho de 2014, mas foram identificadas como pertencentes a algum grupo após ação de atualização cadastral nos últimos doze meses. Por outro lado, 24,3% (179,7 mil) das famílias já foram cadastradas com marcação de pertencimento a algum grupo.

O Gráfico 3 demonstra que os grupos com maior percentual de crescimento de identificação por atualização cadastral, sem que isso signifique inclusão de novas famílias, são as famílias em situação de trabalho infantil (97%), resgatados do traba-lho análogo ao de escravo (86,7%) e pescadoras artesanais (80,1%). Uma hipótese para explicação desse fato seria a melhor apropriação dos conceitos e dinâmica do cadastramento diferenciado por parte dos entrevistadores.

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Gráfico 3 — Percentual da contribuição das ações de atualização e inclusão cadastral sobre a totalidade de famílias GPTEs que passaram a ser identificadas

Fonte:

100%

80%

60%

40%

20%

0%

% Atualização % Inclusão

Trabalh

o Infan

tilResga

tados

Pescadores

Agricu

ltores

Família

de PresoRIbeirin

hasPNCF

Extrati

vistas

Catadores

Atingidas

C. de Te

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Ciganas

Assentad

asQuilo

mbolasAca

mpadas

Indígenas

P. Situ

ação

de RuaTo

tal GPTEs

Cadastro Único, junho/2014 a junho/2015.

As ações de inclusão cadastral foram mais significativas para as pessoas em situ-ação de rua (90,3%), famílias indígenas (75,9%), acampadas (65,8%) e quilombolas (49,9%). Observa-se que os grupos mais “antigos” no Cadastro Único – indígenas e quilombolas (desde 2004) e população em situação de rua (desde 2008) – são os que apresentam maior incidência de inclusão do que de identificação por atualiza-ção. Além desses grupos familiares já estarem habituados coma a identificação por estarem há mais tempo participando desse processo, deve-se considerar também o fato desses serem exatamente os grupos que possuem campos exclusivos no Formu-lário Principal e, no caso das pessoas em situação de rua, Formulário Complementar específico, para a sua identificação.

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Quadro 2 — Número de famílias com sobreposições de GPTEs mais frequentesQuilombolas e Agricultores Familiares 21.348Trabalho Infantil e Agricultores Familiares 13.581Indígenas e Agricultores Familiares 11.643Indígenas e Extrativistas 7.808Indígenas e Ribeirinhas 5.226Quilombolas e Pescadores 4.866Resgatados e Agricultores Familiares 4.839Quilombolas e Trabalho Infantil 2.598Trabalho Infantil e Pescadores 1.920Resgatados e Trabalho Infantil 1.774Quilombolas e Extrativistas 1.741Indígenas e Pescadores 1.603Quilombolas e Ribeirinhas 1.571Indígenas e Trabalho Infantil 1.279Pessoa em Situação de Rua e Catadores 1.127

Fonte: Cadastro Único, junho/2015.

O Cadastro Único permite que as famílias se declarem simultaneamente como pertencente a mais de um GPTE (com exceção para aquelas com identificação de trabalho infantil, que é marcado pelo entrevistador), de acordo com as possibilidades disponíveis pelos campos específicos de identificação de cada um desses grupos.9 No Quadro 2 é possível verificar as combinações mais frequentes e a quantidade de famílias cadastradas com essas sobreposições. Observa-se a alta interseção de identidade de agricultores familiares com vários outros grupos, como quilombolas (21.348), trabalho infantil (13.581)10 e indígenas (11.643). Também é significativa a interseção de indígenas com extrativistas (7.808) e ribeirinhos (5.226).

9. É possível que uma família se identifique concomitantemente da seguinte maneira: como indígena ou quilombola e apenas um dos 12 GPTEs identificados no campo 2.07 do Formulário Suplementar 1; como indí-gena ou quilombola e pessoa em situação de rua (Formulário Suplementar 2); como indígena ou quilombola e resgatado do trabalho análogo ao de escravo; e, como indígena ou quilombola e com identificação de trabalho infantil (não autodeclaratório).

10. Importante observar que o indicativo de trabalho infantil deve ser considerado à luz de outras variáveis, inclusive culturais, visto que pode haver uma falsa percepção ao se distinguir o que efetivamente é a exploração de mão de obra infantil com uma vivencia familiar que busca o envolvimento das crianças nas atividades de sub-sistência. Lembrando que a marcação do campo 10 – indício de trabalho infantil – se dá a partir da percepção do entrevistador, não há declaração da família.

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3. PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS GPTES

Em junho de 2015, o Cadastro Único continha famílias cadastradas (mais de 82,4 milhões de pessoas). Dessas, 1.965.768 se identificam como pertencentes a GP-

TEs, correspondendo a 7,1% do total de famílias no Cadastro Único, e abrangendo mais de 6,2 milhões de pessoas11.

De forma a dar continuidade ao estudo realizado em 201412, a partir das infor-mações de famílias pertencentes a GPTEs no Cadastro Único, foi construído o perfil socioeconômico de cada grupo, com o objetivo de destacar o elevado grau de vulne-rabilidade que essas famílias enfrentam, mesmo em comparação com a totalidade de famílias de baixa renda cadastradas. Assim, foram analisadas variáveis relativas à localização do domicílio da família, à caracterização socioeconômica das pessoas ou famílias, à infraestrutura do domicílio e ao acesso a serviços básicos.

Em função das múltiplas variáveis que algumas das questões apresentam e visando viabilizar a análise desses quesitos, principalmente os relacionados à es-colaridade e infraestrutura do domicílio, foram agregadas as possibilidades de res-postas, considerando que algumas apontam para maior precariedade no acesso a determinadas políticas do que outras (Quadro 3). É fundamental salientar que no âmbito dessa classificação há uma valoração que nem sempre encontra amparo na realidade, no sentido que nem sempre apontam efetivamente para maior vulnerabili-dade das famílias. Por exemplo, algumas vezes famílias indígenas aldeadas, que não possuem acesso à água encanada, nem saneamento por rede coletora ou coleta de

11. As informações apresentadas são de famílias com dados cadastrais atualizados a menos de 48 meses.12. Brasil. Diversidade no Cadastro Único: respeitar e incluir. Identificação e perfil socioeconômico de gru-

pos populacionais tradicionais e específicos. Brasília: MDS, 2014.

Foto: Sergio Amaral

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lixo, estão muito menos vulneráveis e expostas à desnutrição e à escassez do que fa-mílias indígenas que moram nas periferias das cidades e, muitas vezes, têm acesso a essas facilidades.

Portanto, trata-se de uma simplificação que pode indicar uma possível maior vul-nerabilidade, mas deve sempre ser analisada considerando os aspectos culturais e sociais dos vários grupos familiares.

Quadro 3 — Critérios de classificação das variáveis de escolaridade e infraestrutura do domicílio

Variáveis Menor precariedade Maior precariedadeEscolaridade Fundamental completo ou

maiorSem instrução ou fundamental

incompletoMaterial das paredes externas

Alvenaria/tijolo ou madeira aparelhada

Taipa, madeira aproveitada, palha ou outro material

Forma de abastecimento de água

Rede geral de distribuição Poço ou nascente, cisterna ou outra forma

Escoamento sanitário Rede coletora de esgoto ou pluvial ou fossa séptica

Fossa rudimentar, vala a céu aberto ou direto para rio, lago ou mar

Destino do lixo Coletado diretamente ou indiretamente

Queimado ou enterrado na propriedade, jogado em terreno

baldio, logradouro, rio, lago ou mar ou outro destino

Forma de iluminação Elétrica com medidor próprio ou comunitário ou sem

medidor

Óleo, querosene, gás, vela ou outra forma

O estudo apresenta os dados para cada grupo, distribuídos em gráficos que per-mitem a comparação das situações de vulnerabilidade tanto entre os diferentes GPTEs (Total GPTEs) como em relação com o total de famílias do Cadastro Único incluindo GPTEs (sempre a última coluna dos gráficos “Total CadÚnico”). A maioria dos dados analisados toma como unidade de análise a família cadastrada, porém, as variáveis de sexo, cor/raça e escolaridade referem-se à/ao Responsável pela Unidade Familiar (RF).

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3.1 — VARIÁVEIS RELATIVAS À LOCALIZAÇÃO

• Distribuição por região

Gráfico 4 — Famílias GPTEs por região

Fonte: Nordeste Norte Sudeste Sul Centro-Oeste

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

C. de Te

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Indígenas

Família

de PresoRibeirin

hasAca

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de RuaTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

A região Nordeste, onde vivem 42% das famílias do Cadastro Único e 60% das famílias GPTEs, concentra também a maior parte dos grupos familiares do agregado étnico. Cerca de 80% das famílias de comunidades de terreiro, 70% das quilombolas e praticamente 60% das famílias ciganas estão nessa região. Apenas as famílias in-dígenas desse agregado tem maioria na região Norte, chegando a 43,2%. Os GPTEs relacionados ao meio ambiente também têm maior concentração na região Norte, especialmente no caso das famílias ribeirinhas (80,5%) e extrativistas (68,4%). Já o grupo do meio rural tem presença significativa no Centro-Oeste, por exemplo, os acampados (51,3%), assentados e beneficiários do PNCF, com cerca de 30% cada. A região Sudeste, por sua vez, concentra os grupos populacionais mais relacionados com os problemas urbanos, no caso, população em situação de rua (71,6%), famílias de preso do sistema carcerário (49,2%) e de catadores de material reciclável (35%).

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17

• Local do domicílio

Gráfico 5 — Famílias GPTEs por local do domicílio

Fonte: Rurais Urbanas

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

Assentad

asRibeirin

hasQuilo

mbolasPNCF

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tados

C. de Te

rreiro

Atingidas

Ciganas

Catadores

Família

de PresoTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

Observa-se que todos os grupos ligados ao meio rural e a maioria daqueles liga-dos ao meio ambiente – ribeirinhos e extrativistas – possuem domicílios majoritaria-mente localizados em áreas rurais, de maneira coerente com a identidade desses grupos. O mesmo acontece com quilombolas e indígenas, devido às características dos territórios em que vivem. O local de domicílio dos grupos em situação conjuntu-ral é igualmente coerente com os seus modos de viver fortemente ligados à vida na cidade, de maneira que todos os grupos desse agregado concentram-se em áreas urbanas. É interessante notar a presença de grupos de agregados étnicos em áreas urbanas, no caso as comunidades de terreiro, com 84,5%, e os ciganos, com 90,3%, apontando para a importância de se trabalhar nessas áreas com estratégias para superar a invisibilidade e diminuir a subnotificação desses GPTEs no Cadastro Único.

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18

3.2 — VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS

• Sexo

Gráfico 6 — Famílias GPTEs por sexo da/o Responsável Familiar

Fonte: Feminino Masculino

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

Trabalh

o Infan

til

Família

de PresoResga

tados

Extrati

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Pescadores

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ltores

Atingidas

Indígenas

Ribeirinhas

C. de Te

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QuilombolasCiga

nasCata

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ntadas

PNCFAca

mpadas

P. Situ

ação

de RuaTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

O Cadastro Único tem como recomendação que a pessoa indicada como Res-ponsável pela Unidade Familiar (RF) seja preferencialmente do sexo feminino. Dessa forma, 87,3% dos RFs do Cadastro são mulheres e o perfil dos GPTEs segue a mesma tendência, com 83,5%. Pode-se perceber que os grupos com maiores percentuais de RFs femininos são o de famílias com marcação de trabalho infantil (93,9%) e o de famílias de presos do sistema carcerário (93,1%). O alto percentual de RFs mulheres para famílias com marcação de trabalho infantil pode ser uma consequência da de-sigualdade de remuneração entre homens e mulheres presente no mundo do traba-lho13, que impõe a necessidade de mais membros de famílias numerosas e em situa-ção de pobreza extrema, como é o caso da maioria com tal marcação, envolverem-se em atividades para aumentar a renda familiar e assim sustentar a família. Já para o grupo identificado como de famílias de presos, o alto percentual pode ser explicado pelo fato de que a maioria absoluta da população carcerária é masculina, de forma que, na ausência dos homens no âmbito familiar, as mulheres assumem, ainda mais, a chefia dos domicílios. Por outro lado, o grupo que tem menor percentual de RFs femininos (apenas 11,6%) são as famílias compostas por pessoas em situação de rua, pois esse é um grupo majoritariamente masculino e com famílias unipessoais, como pode ser visto no Gráfico 7 a seguir. Também é significativo o número de RFs homens entre as famílias acampadas, chegando a 40,1% do total.

13. O relatório Progresso das Mulheres no Mundo 2015-2016: Transformar as economias para realizar os direitos, divulgado pela ONU [Organização das Nações Unidas] Mulheres, mostra que no mundo, em média, os salários das mulheres são 24% inferiores aos dos homens.

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Gráfico 7 — Famílias GPTEs por sexo das pessoas

Fonte: Feminino Masculino

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

C. de Te

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Família

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PNCFAca

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Trabalh

o Infan

til

P. Situ

ação

de RuaTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

Segundo dados do IBGE, 51,6% da população brasileira é composta por mulhe-res14. No Cadastro Único, elas são 55,8% do total de pessoas. Esse percentual ligei-ramente superior em relação à média brasileira se justifica, pois é fato conhecido que as mulheres são super-representadas no mundo da pobreza, tanto no contexto brasileiro, quanto latino-americano15. Em relação ao sexo das pessoas registradas como GPTEs, observa-se regularidade em relação à média do Cadastro, sendo a úni-ca exceção o grupo de famílias de pessoas em situação de rua, que são em sua maioria compostas por homens sozinhos (87,1%).

14. Dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD 201415. Segundo dados da PNAD 2014, 22% das mulheres acima de 10 anos possui rendimento médio mensal

de até meio salário mínimo, contra 13% dos homens na mesma faixa etária. Para mais informações sobre outros países, visitar a Bases de Dados Estatísticos e Indicadores da América Latina e Caribe, disponível em: http://estadisticas.cepal.org

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• Cor/raça

Gráfico 8 — Famílias GPTEs por cor/raça da/o Responsável Familiar

Fonte:

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

Quilombolas

C. de Te

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Pescadores

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PNCF

P. Situ

ação

de Rua

Família

de PresoIndíge

nasTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Negra Branca Indígena AmarelaCadastro Único, junho/2015.

Na população brasileira, os negros (compostos pela somatória dos que se decla-ram pretos e dos que se declaram pardos) representam 54,1% do total de habitan-tes16. No Cadastro Único, o grupo representa 68,9% do total de RFs, e no total de GPTEs no Cadastro esse número sobe para 73,4%, deixando evidente que, no Brasil, raça/cor e pobreza estão estreitamente relacionadas. Interessante notar também que o conceito de raça/cor compreende, mas também transcende o pertencimento étnico, o que pode ser percebido no caso das famílias indígenas, das quais 12,3% se declaram de raça/cor negra.

• Grau de instrução

Gráfico 9 — Famílias GPTEs por grau de instrução da/o Responsável Familiar (25 anos ou mais)

Fonte:

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

Ciganas

Indígenas

Extrati

vistas

Quilombolas

Ribeirinhas

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P. Situ

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de Rua

Família

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tal GPTEs

Total

CadÚnico

Sem instrução Fundamental incompleto Fundamental completo ou maiorCadastro Único, junho/2015.

16. Dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD 2014

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Os Responsáveis Familiares das famílias GPTEs apresentam, em sua maioria, baixo grau de escolaridade. Para além das questões culturais, que para vários gru-pos remete ao conhecimento ligado às tradições orais, como no caso de ciganos e indígenas, os indicadores apontam para a vulnerabilidade dos grupos nesta variável, superior à média do Cadastro Único. Enquanto no total de famílias do Cadastro Único aquelas sem instrução, com fundamental incompleto e fundamental completo ou maior correspondem respectivamente a 14,2%, 48,5% e 37,3 % das famílias, respecti-vamente, no total de GPTEs, esses números apresentam crescimento nos níveis mais baixos de escolarização, correspondendo a 19,4%, 54,4% e 26,3%, respectivamente.

• Renda familiar per capita

Gráfico 10 — Famílias GPTEs por faixa de renda familiar mensal per capita

Fonte:

P. Situ

ação

de RuaRibeirin

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ativis

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Trabalh

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Total

CadÚnico

100%

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70%

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10%

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Até R$77,00 De R$77,01 até R$154,00 De R$154,01 até R$394,00 Acima de R$394,00Cadastro Único, junho/2015.

Nota-se que a renda familiar mensal per capita dos GPTEs é significativamente inferior à média do Cadastro: cerca de 80% das famílias identificadas como GPTEs estão abaixo da linha da pobreza (R$154,00) e 68% abaixo da linha da extrema po-breza (R$77,00), contra 63% e 47% das famílias do Cadastro, respectivamente17. Tal fato evidencia, mais uma vez, a maior vulnerabilidade das famílias GPTEs em compa-ração com a média das famílias do Cadastro Único.

Chama a atenção a renda das famílias acampadas, que pelo estágio que estão em luta pelo acesso a terra, deveriam ser mais vulneráveis do que, por exemplo, os assentados da Reforma Agrária, que, em princípio, estão mais amparados por cré-ditos e processos cooperativos de produção. Avaliamos que dois fenômenos devem impactar essa variável de renda para os acampados. Primeiro, o fato de os acampa-dos agregarem tanto os sem teto – realidade mais urbana, que pode se traduzir em renda um pouco maior – como os sem-terra. Além disso, existe a percepção de que algumas famílias podem estar confundindo o Cadastro Único com o cadastro para

17. Importante ressaltar que esses valores excluem algumas transferências de renda governamentais, como o Bolsa Família, programa do qual a grande maioria das famílias GPTEs é beneficiária.

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obtenção de terras e, apesar de estar fora do foco do Cadastro, demandam inserção das suas famílias, entendendo que esse é passo necessário para pleitear participa-ção nos processos de assentamento18.

Tabela 1 — Média e mediana do valor da renda familiar per capita de GPTEsGPTEs Média (R$) Mediana (R$)

Acampadas 322,13 200,00Beneficiárias do PNCF 232,90 100,00Atingidas por empreendimentos de infraestrutura 217,07 80,00Assentadas da Reforma Agrária 206,58 76,00Resgatados do trabalho análogo ao de escravo 190,16 85,00Pertencentes a Comunidades de Terreiro 185,81 66,00Família de Preso do Sistema Carcerário 134,65 77,00Catadores de material reciclável 134,29 66,00Agricultores familiares 117,30 40,00Quilombolas 115,56 36,00Ciganas 93,14 50,00Indígenas 85,25 30,00Pescadores artesanais 85,24 50,00Trabalho infantil 75,15 40,00Extrativistas 69,98 26,00Ribeirinhas 66,51 28,00Pessoas em Situação de Rua 55,97 0,00Total GPTEs 120,96 45,00Total Cadastro Único 197,41 90,00

Fonte: Fonte: Cadastro Único, junho/2015.

18. Entendimento equivocado, visto que o INCRA mantém a sua própria base para seleção das famílias-com foco na obtenção de terras, sendo o Cadastro Único apenas utilizado como critério de priorização de famílias, em alguns casos.

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• Quantidade de pessoas na família

Gráfico 11 — Média e mediana da quantidade de pessoas na família por GPTE

Fonte:

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,0

Média Mediana

Trabalh

o Infan

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hasIndíge

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Família

de PresoAgri

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Catadores

C. de Te

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Acampad

as

P. Situ

ação

de RuaTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

No Cadastro Único, o conceito de família é definido como a “unidade nuclear com-posta por uma ou mais pessoas, eventualmente ampliada por outras que contribuam para o rendimento ou tenham suas despesas atendidas por ela, todas moradoras de um mesmo domicílio” (art. 4º, inciso I, do Decreto nº 6.135, de 26 de junho de 2007). Os dados sobre quantidade de pessoas na família caracterizam os GPTEs como possuindo famílias um pouco maiores (3,4) quando comparadas a média do total do Cadastro Único (3). As famílias em situação de trabalho infantil têm a maior média de pessoas na família, chegando a 4,4, seguidas pelas ribeirinhas, indígenas e extrativistas, todas com média e mediana próximas ou igual a 4 pessoas.

Por outro lado, as famílias de comunidade de terreiro, acampadas e em situação de rua têm média inferior à do Cadastro em geral. As famílias acampadas podem sofrer da desagregação da família, impactando sobre a sua composição familiar no Cadastro Único. Essa situação pode ser explicada pelo fato de que parte da família fica nos acampamentos como forma de pressão e reinvindicação de terra e outra – geralmente os filhos – se estabelece em locais onde há maior disponibilidade de escolas, por exemplo. Já as famílias em situação de rua, como visto anteriormente, são em grande maioria unipessoais.

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3.3 — VARIÁVEIS DE INFRAESTRUTURA DO DOMICÍLIO19

• Espécie do domicílio

Gráfico 12 — Famílias GPTEs por espécie do domicílio

Fonte:

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

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Pescadores

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Família

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Indígenas

Ribeirinhas

Atingidas

Ciganas

Acampad

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tal GPTEs

Total

CadÚnico

Particular Permanente Particular Improvisado ColetivoCadastro Único, junho/2015.

Apesar de os GPTEs serem constituídos por famílias vulneráveis por diversos fa-tores, a variável espécie do domicílio indica que a maioria se declara na categoria particular permanente. Os acampados diferem do padrão, pois 60,2% das famílias declaram residir em domicílio improvisado ou coletivo. Isto corrobora com a noção desse grupo ter como característica a vida em acampamentos como espaço de tran-sição para conquista de moradia ou terra.

Também é significativo o número de famílias com domicílios não permanentes entre as famílias ciganas (29%) e atingidas por empreendimentos de infraestrutura (18,1%). O último grupo se difere do restante, devido ao caráter de transitoriedade da situação domiciliar de suas famílias - a sua situação domiciliar está relacionada ao fato de terem suas residências deslocadas devido ao impacto da construção de grandes obras de infraestrutura. Já os povos ciganos apresentam questões culturais relacionadas à prática de nomadismo entre algumas famílias, que justifica o cresci-mento proporcional nas características domiciliares de particular improvisado e co-letivo, já que conjuntos de famílias ligadas por laços de parentesco podem viver em situação de itinerância, montando e desmontando acampamentos.

19. As famílias em situação de rua foram retiradas das análises relativas às variáveis de domicílio e infra-estrutura, considerando que os campos destinados a tais informações não são preenchidos neste caso, de forma coerente àquilo que caracteriza o grupo.

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• Material das paredes externas

Gráfico 13 — Famílias GPTEs por material predominante das paredes externas do domicílio

Fonte: Taipa, madeira aproveitada, palha ou outro material Alvenaria/tijolo ou madeira aparelhada

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

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Indígenas

Extrati

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Acampad

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o Infan

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Catadores

Resgatad

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e Terre

iroPNCF

Família

de PresoTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

Os domicílios da maioria dos grupos analisados têm paredes de alvenaria, tijolo ou madeira aparelhada, caracterizando uma condição de menor vulnerabilidade nes-te quesito, em especial quando analisado conjuntamente à variável anteriormente apresentada, espécie do domicílio. Os grupos com maior percentual de famílias na categoria de paredes feitas de taipa, madeira aproveitada, palha ou outro material podem apresentar essas características por questões socioculturais, como é o caso dos indígenas (35%), extrativistas (33,8%), quilombolas (28,4%), ribeirinhas (23,4%) e ciganos (18,4%); ou ainda devido ao caráter transitório do domicílio, no caso das famílias acampadas (30,6%).

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• Abastecimento de água

Gráfico 14 — Famílias GPTEs por forma de abastecimento de água

Fonte: Poço, nascente, cisterna ou outra forma Rede geral de distribuição

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

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Assentad

asRibeirin

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Ciganas

Catadores

C. de Te

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Família

de PresoTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

A rede geral de distribuição como forma de abastecimento de água é maior entre as famílias de grupos com maior proporção de domicílios declarados como urbanos, indicando a fraca presença deste tipo de serviço nas áreas rurais. Assim, enquanto no total das famílias do Cadastro Único a rede de distribuição de água canalizada alcança cerca de 75%, entre as famílias GPTEs mais da metade dos domicílios são abastecidos por poço, nascente, cisterna ou outra forma.

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• Escoamento sanitário

Gráfico 15 — Famílias GPTEs por forma de escoamento sanitário

Fonte:

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

Ribeirinhas

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Catadores

Família

de PresoTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Rede coletora de esgoto ou pluvial ou fossa séptica

Fossa rudimentar, vala a céu aberto ou direto para rio, lago ou marCadastro Único, junho/2015.

O quesito escoamento sanitário comporta-se de maneira similar à variável abas-tecimento de água. Os grupos que acessam a rede coletora de esgoto ou pluvial ou fossa séptica concentram-se em locais urbanos, enquanto grupos que vivem em áre-as rurais possuem acesso reduzido a esse tipo de serviço. As famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único apresentam 78,3% de acesso à rede coletora de esgoto ou à fossa séptica. Porém, as famílias identificadas como pertencentes a GPTEs re-velam baixo acesso a saneamento básico adequado: 66,8% dos domicílios despeja detritos em fossa rudimentar, vala a céu aberto ou rio, lago ou mar. Isto sujeita essas famílias a estarem mais expostas a doenças, além de prejudicar a qualidade dos recursos hídricos a que têm acesso, agravando ainda mais suas vulnerabilidades.

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• Coleta de lixo

Gráfico 16 — Famílias GPTEs por forma de coleta de lixo

Fonte:

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

Assentad

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Família

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tal GPTEs

Total

CadÚnico

Coletado diretamente ou indiretamente

Queimado, enterrado, jogado em terreno baldio, rio ou mar ou outro destinoCadastro Único, junho/2015.

No total das famílias cadastradas 78,3% têm domicílio com acesso ao serviço de coleta direta ou indireta de lixo. Entretanto, entre os GPTEs cadastrados, 58,7% não têm o lixo coletado. Tal como ocorre nos demais serviços de infraestrutura do domicílio, a coleta direta ou indireta de lixo é proporcionalmente mais comum para os grupos urbanos, enquanto GPTEs localizados em zonas rurais precisam dar outros destinos aos resíduos enterrando-os, queimando-os ou os dispensando em locais que muitas vezes podem prejudicar a saúde das próprias famílias, já que poluem recursos naturais fundamentais para a sobrevivência dos grupos, como solo e águas.

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• Iluminação

Gráfico 17 — Famílias GPTEs por tipo de iluminação

Fonte: Óleo, querosene, gás, vela ou outra forma Elétrica com ou sem medidor próprio ou comunitário

100%

90%

80%

70%

60%

50%

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30%

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0%

Ribeirinhas

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Indígenas

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Trabalh

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Família

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Total

GPTEsTo

tal Cad

Único

Cadastro Único, junho/2015.

Apesar da lógica de acesso à energia elétrica apontar para a mesma dinâmica das variáveis anteriores, em que os grupos urbanos possuem acesso mais constante a soluções menos precárias, e os GPTEs possuem menos acesso do que as outras famílias do Cadastro, chama atenção a alta abrangência da rede elétrica mesmo jun-to aos GPTEs. A exceção é verificada no caso das famílias ribeirinhas, para as quais quase metade (48,3%) ainda não possui acesso à rede de energia elétrica. Extrati-vistas, indígenas e acampadas também têm acesso reduzido, com pelo menos um quarto dos domicílios com iluminação por óleo, querosene, gás, vela ou outra forma que não a rede elétrica regular.

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• Acesso simultâneo a serviços básicos

Gráfico 18 — Número de famílias com domicílio com acesso simultâneo a serviços básicos por GPTEs

Fonte: Não tem os 4 serviços Tem os 4 serviços

100%

90%

80%

70%

60%

50%

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30%

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Assentad

asRibeirin

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mbolasPNCF

Indígenas

Agricu

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Pescadores

Acampad

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o Infan

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C. de Te

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Catadores

Família

de PresoTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

Neste gráfico buscou-se captar o acesso simultâneo das famílias aos quatro ser-viços básicos citados: abastecimento de água por rede geral de distribuição, escoa-mento sanitário por rede coletora de esgoto ou fossa séptica, coleta de lixo e ilumi-nação elétrica, conforme analisado acima. Assim, verifica-se diferença significativa entre percentual de famílias GPTEs que têm acesso simultâneo a esses serviços (16,2%) e a média de acesso das famílias do Cadastro Único em geral (49,4%), re-forçando, mais uma vez, que os Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos são expressivamente mais vulneráveis e acessam políticas públicas com muito mais difi-culdade que a população de baixa renda em geral.

Os grupos com menor proporção de domicílios com acesso simultâneo aos qua-tro serviços básicos são os de famílias assentadas, com somente 3%, seguido pelas ribeirinhas (4,6%), extrativistas (6,1%), quilombolas (8,6%) e beneficiárias do PNCF (9,7%). Por outro lado, as famílias de preso do sistema carcerário, de catadores de material reciclável e pertencentes a comunidades de terreiro apresentam mais da metade dos domicílios com acesso concomitante aos serviços.

Importante salientar esse resultado também é reflexo de significativa presença dos GPTEs no meio rural, que, como visto anteriormente, têm acesso menos frequen-te a soluções mais sofisticadas de provisão desses serviços básicos, enquanto os GP-TEs majoritariamente urbanos têm maior possibilidade de acessar serviços públicos.

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4. GÊNERO E GPTES

Gráfico 19 — Média da renda familiar per capita das famílias GPTEs por sexo da/o RF

Fonte:

500,00

450,00

400,00

350,00

300,00

250,00

200,00

150,00

100,00

50,00

0,00

Masculino Feminino

Acampad

asAgri

culto

resAsse

ntadas

Atingidas

PNCFCata

doresCiga

nasC. d

e Terre

iroExtr

ativis

tas

Família

de PresoIndíge

nasPesca

dores

P. Situ

ação

de Rua

Trabalh

o Infan

tilQuilo

mbolasResga

tados

Ribeirinhas

Total

GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

Ressalta-se, no gráfico 19, que para praticamente todos os GPTEs, assim como nas médias totais, as famílias com Responsáveis pela Unidade Familiar (RF) mas-culino possuem renda superior à renda das famílias com RF feminino. Na média do Cadastro Único, as mulheres que são RF têm renda familiar per capita que equivale

Foto: Sergio Amaral

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a 55% da renda familiar per capita dos RFs que são homens. Já entre os GPTEs, a renda per capita das famílias com RF feminino corresponde a 57% da renda dos homens. A maior diferença absoluta entre a média da renda familiar per capita por sexo do RF ocorre entre as famílias atingidas por empreendimentos de infraestrutu-ra: as famílias com RF feminino têm renda em média R$ 272,57 menor do que a dos homens na mesma posição.

Tais dados estão de acordo com a média brasileira, na qual as mulheres possuem rendimento mensal que equivale a 60% da renda dos homens20. Nas famílias GPTEs do meio rural, essa diferença é ainda mais acentuada, possivelmente pela presença de aspectos machistas mais resistentes na área rural.

Gráfico 20 — Famílias GPTEs por sexo da/o RF e tipo de arranjo familiar

Fonte:

1. Unipessoal 2. Casal sem filhos 3. Casal com filhos

4. Monoparentais

7. Pessoa sem parentesco

5. Estendida 6. Composta

Feminino

Total CadÚnico Total GPTEs (17 grupos)

Masculino Feminino Masculino

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

11%7%

31%

40%

10%

0% 0%

46%

11%

21%

14%

7%

0% 0%

7%9%

47%

29%

9%

0% 0%

48%

9%

24%

13%

5%0% 0%

Cadastro Único, junho/2015.

No Cadastro Único, as famílias com RF feminino, além de possuírem menor renda, são em grande parte monoparentais, ou seja, compostas de apenas um dos pais (no caso, a mãe) e filho/s (40%), enquanto quase metade das famílias com RF masculino são unipessoais (46%), ou seja, compostas de homens sozinhos. Essa informação traz outro dado implícito: as famílias com RF feminino têm, em média, mais membros do que as com RF masculino. Os gráficos 19 e 20 deixam claro o grande diferencial de vulnerabilidade entre famílias a partir da diferença de sexo do RF: grande parte das mulheres RFs do Cadastro Único cuida dos filhos sozinha e com renda familiar per capita média que é pouco mais da metade da renda dos RFs homens.

Já entre as famílias GPTEs, nota-se perfil um pouco diferente: as famílias com RF feminino são, em maior percentual, compostas por casal e filhos (47%), seguidas pelas de mulheres com filho/s (29%). Entre as famílias de RF masculino, acentua-se ainda mais o percentual de homens sozinhos, chegando a 48% do total, o que se explica pelo perfil das famílias com pessoas em situação de rua.

20. Dados da Pnad 2014, referente a homens e mulheres com 10 anos de idade ou mais.

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Gráfico 21 — Média de anos de estudo da/o RF por sexo e GPTEs

Fonte:

7,0

6,0

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,0

Masculino Feminino Total

C. de Te

rreiro

P. Situ

ação

de RuaAtingid

asResga

tados

Família

de PresoAca

mpadas

PescadoresPNFC

Quilombolas

Assentad

asAgri

culto

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doresExtr

ativis

tasRibeirin

hasIndíge

nas

Trabalh

o Infan

tilCiga

nasTo

tal GPTEs

Total

CadÚnico

Cadastro Único, junho/2015.

Em praticamente todos os GPTEs, nota-se que a média de anos de estudo das mulheres RF é superior a dos homens RF, o que confirma a tendência da população brasileira. As duas exceções são comunidades de terreiro e população em situação de rua. O grupo que mais se diferencia são as famílias ciganas, que apesar de seguir o padrão de ter as mulheres mais escolarizadas que os homens, apresentam, na média total, menos da metade dos anos de estudo do que o Cadastro como um todo (2,4 e 5,8 anos de estudo, respectivamente). Isso se deve a fatores culturais, como a dificuldade de conseguir seguir frequentando a escola, dado o nomadismo de parte dos ciganos. Em média, tanto homens quanto mulheres pertencentes a GPTEs são menos escolarizados que a média das famílias cadastradas.

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Gráfico 22 — Famílias GPTEs e tipo de trabalho principal da/o RF por sexo

Fonte:

60%55%50%45%40%35%30%25%20%15%10%

5%0%

Feminino

Total CadÚnico Total GPTEs

Masculino Feminino Masculino

1. Trabalhador por conta própria (bico, autônomo) 2. Trabalhador temporário em área rural

3. Empregado sem carteira de trabalho assinada 4. Empregado com carteira de trabalho assinada

7. Trabalhador não-remunerado

5. Trabalhador doméstico sem carteira de trabalho assinada 6. Trabalhador doméstico com carteira de trabalho assinada

8. Militar ou servidor público

9. Empregador 10. EstagiárioCadastro Único, junho/2015.

No Cadastro Único, as mulheres RFs possuem vínculos mais precários com o mercado de trabalho do que os homens RF, sendo que mais da metade delas traba-lha autonomamente ou fazendo bico e representam quase 100% dos trabalhadores domésticos sem carteira assinada. Cerca de 21% dos homens RF trabalham com carteira assinada, contra 18,6% das mulheres. Por outro lado, eles têm maior pre-sença no trabalho temporário em área rural.

Já quando se analisa os grupos populacionais tradicionais e específicos, perce-be-se um perfil distinto: para ambos os sexos, os tipos de trabalho predominantes, com percentuais muito semelhantes, são o temporário em área rural, o que pode ser explicado pelo grande contingente de GTPEs do meio rural, e o trabalhador autôno-mo. Também se destaca a categoria “trabalhador não remunerado”, que abrange 14% das mulheres e 5% dos homens. As categorias que representam um vínculo mais forte e estável com o mercado de trabalho são sub-representadas entre os GPTEs, demonstrando maior vulnerabilidade desses grupos também em relação a esse aspecto.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Cadastro Único tem se firmado como importante registro que dá visibilidade às várias dimensões da pobreza e contribui para a sua mitigação, na medida em que

instrumentaliza os entes da federação para a elaboração de políticas públicas que colaborem na superação desta situação.

Os dados apresentados reforçam o entendimento de que os Grupos Populacio-nais Tradicionais e Específicos são marginalizados tanto em termos de renda quanto em termos de acesso às políticas públicas e aos serviços de infraestrutura. A análise desses aspectos contribui para uma melhor compreensão sobre a situação social e econômica desses grupos, evidenciando que, mesmo quando em comparação com as demais famílias de baixa renda presentes no Cadastro Único, enfrentam questões muito mais profundas.

Além das dificuldades socioeconômicas, é necessário considerar o efeito do pre-conceito institucional vivenciado por esses grupos, que funciona como uma barreira para o exercício de seus direitos. Como resultado, as várias estruturas de prestação de serviços públicos, sistema educacional e mercado de trabalho tornam-se ainda mais distantes dos grupos tradicionais e em situações específicas, aumentando suas dificuldades de acesso a melhores condições de vida.

Sendo assim, é fundamental que haja, por parte do poder público, constante re-forço de políticas transversais que contribuam tanto para a superação do preconceito institucional, como para a valorização de suas identidades e conscientização das fa-mílias sobre a importância de autodeclarar a sua identidade nos registros do Cadastro.

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Os dados apontam para a necessidade de expansão do cadastramento e identi-ficação dos grupos cujas evidências sugerem subnotificação. Isso exige a contínua adoção de estratégias de busca ativa para o cadastramento qualificado dos GPTEs, por meio do constante reforço no trabalho de capacitação das equipes e gestões municipais para correta identificação das famílias pertencentes a esses grupos. É fundamental ainda o envolvimento de outros órgãos públicos que lidam diretamen-te com esses públicos, bem como de coletivos e lideranças representativas desses povos, comunidades e grupos específicos. A partir dessas parcerias e da articula-ção com as gestões municipais espera-se angariar maior conhecimento sobre a lo-calização das famílias no território nacional, subsidiando o planejamento de ações para a inclusão cadastral.

Os resultados no crescimento da identificação de famílias pertencentes a GP-TEs demonstram que o Cadastro Único vem se consolidando como a principal base de dados socioeconômicos dessas populações, conferindo-lhes visibilidade. A par-tir desses dados, diferentes políticas podem ser formuladas ou aprimoradas para atender a esse público, levando em conta suas especificidades culturais, sempre com a finalidade de combater os fatores que os colocam na condição de pobreza e demais vulnerabilidades.

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