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CONTABILIDADE CRIATIVA E ÉTICA
Tânia Alves de Jesus
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa
José Luis Miguel da Silva
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa
Manuela Duarte
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa
Manuela Sarmento
Universidades Lusíada
Área temática: h) Responsabilidad Social Corporativa Palavras-Chave: Responsabilidade social, Qualidade dos Resultados, Contabilidade Criativa, Ética Empresarial, Idioma: Português
96h
Capítulo 6 – Bibliografia
RESUMO
Esta artigo investiga a influência da ética na contabilidade. Tem como objectivo
investigar a influência da ética empresarial na qualidade do relato financeiro. Para medir
a qualidade da informação contabilística divulgada são utilizadas diferentes métricas que
captam diferentes propriedades da informação contabilística tais como a contabilidade
criativa e a relevância. Investiga-se, por um lado, se um maior empenho ético das
empresas aumenta a qualidade no relato financeiro.
1. INTRODUÇÃO
A globalização e a nova economia, não impediram que a recessão económica se
instalasse a nível mundial no início do século, marcada pela falência fraudulenta de um
conjunto de empresas como a Enron, Arthur Andersen, Adelphia, Xerox e a WorldCom,
nos Estados Unidos , e também na Europa a Ahold e a Parmalat. Com o conhecimento
das práticas contabilísticas fraudulentas adoptadas instalou-se a desconfiança no
funcionamento do mercado de capitais, a necessidade de maior transparência na
informação e por outro lado, a urgência de normas contabilísticas universais de forma a
reduzir o custo da produção de informação e de modo a enviar uma mensagem única e
fiável para o mercado.
Tendo sido feitos esforços por um número de organizações no intuito de reduzir
as diferenças entre os sistemas contabilísticos, para compilar um conjunto de normas
internacionais foi fundada em 1973 pelo International Accounting Standards Committee
(IASC), actual IASB.
A União Europeia (UE) mostrou grande preocupação quanto à harmonização
contabilística e ao papel da auditoria. A aplicação das normas internacionais de
contabilidade tornou-se obrigatória com a aprovação do Regulamento (CE) nº 1606/2002
(CCE, 2002) do Parlamento Europeu que veio exigir que em relação a cada exercício
financeiro com início em ou depois de 1 de Janeiro de 2005, as sociedades regidas pela
legislação de um Estado membro elaborem as suas contas consolidadas em
conformidade com as normas internacionais de contabilidade, se à data do balanço
tiverem valores admitidos à negociação num mercado regulamentado de qualquer
Estado-Membro.
O objectivo principal da informação financeira de acordo com o documento
Framework for the Preparation and Presebtatuion of Financial Statements emitido pelo
Capítulo 6 – Bibliografia
IASB em 1989, é o de proporcionar informação sobre a posição financeira, desempenho
e alterações na posição financeira de uma entidade, que seja útil no processo de tomada
de decisões económicas a um amplo conjunto de utentes1. A informação deverá permitir
avaliar a capacidade da entidade gerar fluxos de caixa, momentos da ocorrência e a
probabilidade do acontecimento. Contudo, no contexto da harmonização contabilística
internacional em curso, e em particular, no âmbito do acordo “Norwalk Agreement”
celebrado em 2002 entre o FASB e o IASB, existem significativas alterações que se
avistam para as IFRS que passam por, com a adopção de um modelo de mensuração
vocacionado para o justo valor, privilegiar uma abordagem da manutenção do capital na
mensuração do resultado, com a orientação para a demonstração da posição financeira
passando a demonstração dos resultados a ser um demonstrativo financeiro secundário.
Neste contexto, a forma como a informação é divulgada ao mercado consiste
numa preocupação fundamental para assegurar-se a eficiência dos mercados, uma vez
que a avaliação do desempenho empresarial pode ser proporcionada pelos
demonstrativos financeiros. O resultado é uma das medidas de avaliação do
desempenho empresarial servindo como orientação e controlo na gestão empresarial.
Contudo, para ser útil, fiável e permitir comparabilidades, designadamente sectoriais, a
Contabilidade Financeira deve desenvolver-se num quadro conceptual exigente e bem
definido, à luz de um conjunto dinâmico de princípios e regras comummente
reconhecidos e geralmente aceites, o que, todavia, não impede que haja um certo grau
de subjectividade na aplicação de técnicas e normativos que norteiam a execução do
trabalho contabilístico. Sobretudo devido às assimetrias de informação entre utilizadores
externos e internos, e ao facto de – sem que daí resulte, necessariamente, distorção
informativa ou desrespeito legal – as normas e conceitos contabilísticos serem passíveis
de diferentes interpretações, originadas pelas várias sensibilidades e opiniões de quem
os utiliza, estão implicitamente criadas condições para que iguais factos patrimoniais
possam conduzir a distintas relevações contabilísticas, o que está subjacente àquilo que
habitualmente se designa por contabilidade criativa.
Trata-se de um fenómeno já longevo mas que, no entanto, tem conhecido grande
desenvolvimento nos últimos tempos, essencialmente devido à necessidade de, através
da contabilidade, registar-se novas e complexas transacções, sem prejuízo da
transparência e rigor exigidos pelos diferentes, e cada vez mais informados,
stakeholders.
1 A estrutura conceptual do IASB considera o investidor como o principal utilizador da informação financeira enquanto que o normativo americano do FASB identifica os credores em paralelo com os investidores.
Capítulo 6 – Bibliografia
De uma maneira geral, esta investigação pretende enriquecer a literatura
seguindo um percurso no qual se procura contribuir para a ponte entre a contabilidade e
a ética, dois campos que não raro são vistos como opostos, pelo menos mutuamente
indiferentes. Esta ligação não é imediata, mas é necessária e não é apenas necessária
mas exequível.
Este artigo encontra-se dividido da seguinte forma: Após a introdução e descrição da
envolvente da contabilidade criativa, ética e responsabilidade social é apresentado o
estudo empírico e as conclusões do estudo.
2. ENVOLVENTE DA CONTABILIDADE CRIATIVA
Na gestão há uma pulsão tecnocrática que apresenta os gestores como
depositários da racionalidade empresarial e os únicos detentores de iniciativa,
remetendo os restantes stakeholders para a posição de meros objectos/meios.
O adopção de práticas de responsabilidade social e cidadania empresarial
levam a uma maior tendência para a adopção de uma racionalidade comunicativa,
contribuindo para organizações mais transparentes e nas quais o compromisso
ético seja efectivo.
Neste contexto a contabilidade como fonte fidedigna da realidade é
questionada. Pode questionar-se, por um lado, se a contabilidade é como um
retrato da situação real, de tal forma que quando falha a lógica é melhorar as
regras contabilísticas. Por outro, se a contabilidade não será entendida enquanto
práticas puramente técnicas, procedimentos formais com vista a alcançar um fim
e não enquanto interação. Se o fim da contabilidade é transmitir uma imagem
verdadeira e apropriada aos utentes através de informação fiável e relevante de
forma neutra, não deixa de ser curioso que a contabilidade seja dividida em duas
grandes áreas, uns para fins internos (a contabilidade de gestão) e outra para fins
externos (a contabilidade financeira).
A contabilidade financeira, doravante designada por contabilidade, consiste
na utilização de um método – o método contabilístico – de registo dos factos
patrimoniais ocorridos numa empresa, de forma a permitir a sua relevação
patrimonial geral e sistemática.
Capítulo 6 – Bibliografia
O método contabilístico é um processo de tratamento da informação sobre
alterações do património da empresa, baseando-se na classificação dos valores
patrimoniais em contas, as quais representam, por um lado, os vários tipos ou
classes do património existentes na empresa e, por outro, servem para registo
das transacções que ocorrem durante o desenvolvimento da actividade das
empresas/organizações.
Como indispensável instrumento de suporte às decisões empresariais, a
contabilidade presta um serviço vital ao fornecer a informação que os decisores
precisam para fazerem escolhas razoáveis entre as alternativas em presença,
usando os recursos escassos na condução do negócio e da actividade
económica. A contabilidade não é ela própria um fim, mas um sistema de
informação que mede, processa e comunica a informação contabilística acerca
duma determinada entidade económica.
As contradições e as falhas na representação do real levam alguns autores
a ir à base e a fazer a crítica não apenas da contabilidade como representação do
real, mas da própria ideia de representação. Segundo esta perspectiva, não
haverá realidade económica independente, sendo a contabilidade um meio entre
outros para a criação dessa mesma realidade (que depois se propõe representar).
Esta questão revela-se crucial na relação entre a contabilidade e o mundo
da vida, portanto, com os seus utilizadores e com os processos comunicacionais
ao nível social. A complexidade crescente nos conhecimentos envolvidos na
contabilidade tem promovido a multidisciplinaridade, o que não e
necessariamente positivo: a complexidade gera a fragmentação.
Simultaneamente, o alargamento das áreas de reporte de tipo contabilístico pode
significa um aumento das áreas de juridificação. Pode questionar-se se é
suficiente a necessidade efectiva que a contabilidade tem em escolher quais as
variáveis sociais e ambientais relevantes ou se mais relevante será uma real
alteração nas práticas empresariais.
Importante na ligação que se estabelece entre a contabilidade e a
transparência, e entre esta e a responsabilização, está a expressão
accountingization. Este conceito serve para criticar a possibilidade de a
contabilidade enquanto método poder eclipsar mais amplas questões de
accountability. Quem é responsável presta contas perante aqueles em relação a
Capítulo 6 – Bibliografia
quem é responsável. Consequentemente, uma alteração ou uma atenuação da
visão da contabilidade essencialmente como instrumento para a tomada de
decisão e para a fabricação de uma realidade favorável a determinados grupos,
introduzindo-lhe uma maior e mais vincada preocupação com a prestação de
contas face a todas as partes interessadas poderia revelar-se produtiva.
Embora se saiba que, num quadro conceptual bem definido, é
determinante a existência de um conjunto dinâmico de princípios, normas e
critérios que reduzam as distorções, involuntárias ou deliberadas, na quantidade e
qualidade de informação a prestar aos diversos stakeholders, também é verdade
que – quanto maior for o âmbito de aplicação daqueles elementos mais gerais e
flexíveis terão de ser os normativos estabelecidos, tendo em vista a satisfação
simultânea das necessidades dos diferentes sectores de actividade e dos
diversos tipos de entidades envolvidas. São, por exemplo, tais generalidade e
flexibilidade que proporcionam oportunidades de criatividade contabilística, a qual,
no entanto, pode ser dissociável de eventuais irregularidades no plano jurídico-
formal.
A harmonização contabilística é vista como um meio para alcançar o
desenvolvimento do mercado interno. Em 2001 a UE publicou um estudo onde se
defendia que a globalização das normas de contabilidade iria desenvolver os
princípios harmonizadores independentes. Mais tarde em 2003 defendeu que a
harmonização das normas de contabilidade permitem estabelecer uma base
comum. A Fundación de Estudios Financeiros (2003) defende que para o
mercado comunitário funcionar eficientemente terá que existir harmonização ao
nível do Direito das sociedades, de tal forma que as entidades operem em
diversos países da UE como num mercado único. Para este fim torna-se
necessário que as matérias contabilísticas e fiscais, uma vez sendo duas peças
fundamentais da harmonização legislativa, caminhem unidas pela sua importante
interconexão.
A adopção das normas do IASB pela UE é vista como um dos grandes
eventos da história do reporte financeiro que fará com que este corpo normativo
se torne como o mais mundialmente aceite como modelo ou sistema
contabilístico. No entanto várias críticas têm surgido.
Capítulo 6 – Bibliografia
Aspectos relacionados com a diversidade contabilística como uma das
principais barreiras que se coloca à análise internacional. A diversidade
contabilística implica custos não só para as empresas que terão de ajustar as
suas demonstrações financeiras ao normativo imposto como também para aos
analistas institucionais, que terão de realizar o mesmo trabalho para poderem
comparar a informação financeira num determinado mercado em termos globais.
Espera-se que o processo de harmonização contabilística internacional reduza
estes custos permitindo que a informação financeira se torne consistente e
comparável internacionalmente contribuindo para o bom funcionamento do
mercado de capitais e para a tomada de decisões dos investidores.
Contudo, apesar da Estrutura Conceptual (EC) do IASB evidenciar que o
objectivo dos demonstrativos financeiros ser o de proporcionar informação útil,
aquando da tomada de decisões económicas, sobre a posição financeira,
desempenho e alterações na posição financeira, as características qualitativas
dos demonstrativos financeiros encontram-se sujeitas aos constrangimentos
colocados pela análise custo-benefício. Permite a ocorrência de conflitos entre
características qualitativas, por vezes evidenciados e fundamentados nas Notas,
cuja solução exige um juízo ponderado por parte das entidades, sobre como a
sua aplicação conduz a demonstrativos financeiros fieis ou verdadeiros.
Acrescenta-se o facto de internacionalmente ser reconhecido que o relato
do desempenho financeiro realizado a partir do resultado não ser adequado. A
revisão da IAS 1 em 2007 definiu o que deve ser integrado e não integrado nos
conceitos de Comprehensive Income e de Other Comprehensive Income, alterou
as designações, conteúdo e apresentou novos modelos de demonstrações
financeiras. Estão previstas novas alterações na apresentação das
demonstrações financeiras com a introdução do Discussion Paper (2009) que
prevê sejam separadas em actividades operacionais, de investimento e de
financiamento e a apresentação de demonstrações financeiras reconciliadas.
Por outro lado, as definições de activo e de passivo na actual (e ainda em
vigor) EC do IASB são fundamentais para o relato segundo as IFRS, pois
implicam que alguns activos e passivos podem não ser reconhecidos, quando a
sua mensuração fiável não for possível. Deste modo, as definições de activo e de
passivo apresentam uma orientação para a posição financeira que é contraditória
Capítulo 6 – Bibliografia
com a orientação da demonstração dos resultados convencional com base no
custo histórico. No contexto da harmonização contabilística internacional em
curso, e em particular, no âmbito do acordo “Norwalk Agreement” celebrado em
2002 entre o FASB e o IASB, existem significativas alterações que se avistam
para as IFRS que passam por, desenhar uma nova EC com o objectivo de
enquadrar a adopção de um modelo de mensuração vocacionado para o justo
valor, privilegiando uma abordagem da manutenção do capital na mensuração do
resultado, com a orientação para a demonstração da posição financeira. Deste
modo, estão a ser revistas as actuais estruturas conceptuais do FASB e do IASB,
que foram desenhadas para o modelo convencional de contabilidade baseado no
custo histórico e nos princípios contabilísticos da realização do rédito e do
conservantismo que o caracterizam.
Deste modo, as definições actuais de activo e passivo foram na maior parte
dos casos orientadas para a o desempenho ou demonstração dos resultados,
numa perspectiva do modelo do tradicional com base no custo histórico que tem
sido criticada. Contudo, presentemente, quer as normas do FASB quer as do
IASB são orientadas para a desmonstração da posição financeira, apesar de
futuramente pretenderem apresentar novas soluções de mensuração de activos e
passivos, omissas na actual EC do IASB.
Neste contexto, é reconhecido pelo IASB e pelo FASB as limitações das
informações incluídas nos demonstrativos financeiros. Embora consideradas
fiáveis, muitas informações baseiam-se em estimativas e não em mensurações
exactas, implicando juízos de valor com significativa subjectividade. Com o
objectivo de esclarecer o cálculo das estimativas e os pressupostos utilizados
pela gestão, a consulta de outras fontes de informação relevantes acerca dos
efeitos das transacções que causam alterações nos activos e nos passivos são
sugeridas no ED de 2008 e CFFR 2010.
Por outro lado, a contabilidade tem que responder às necessidades dos
diversos stakeholders, pelo que a utilização das práticas contabilísticas é
fortemente condicionada por essas necessidades. Actualmente, a informação
sobre o desempenho refere-se, concretamente, ao relato financeiro dos
resultados da entidade. O resultado integral, que engloba todas as alterações
ocorridas no capital próprio que não sejam provenientes de transacções de capital
Capítulo 6 – Bibliografia
com detentores e distribuições a detentores, tem gerado grande controvérsia e é
um tema ainda em desenvolvimento pelos principais organismos internacionais de
normalização contabilística. A contabilidade criativa orientada para manipulação
de resultados com o intuito de obter um maior ou menor resultado contabilístico,
depende dos fins e das necessidades dos diversos utentes das demonstrações
financeiras, de acordo com os objectivos definidos pelo órgão de gestão da
empresa. Deste modo, a contabilidade criativa aparece devido à existência de
assimetrias de informação entre os utilizadores internos e os utilizadores externos
das demonstrações financeiras das empresas, e de algumas limitações na
contabilidade susceptíveis de gerarem diferentes interpretações, consoante a
opinião ou a sensibilidade de quem as utiliza, sem que daí resulte qualquer
fraude.
Contudo, as empresas devem dominar a sua imagem externa junto dos
diferentes stakeholders através da comunicação clara dos elementos-chave da
sua identidade, seguindo, cada vez mais um caminho orientado pela crença de
gestão em que a formalização das regras éticas favorece as relações com os
accionistas e permite obter e conservar a confiança dos investidores
2.1 CONCEITO DE CONTABILIDADE CRIATIVA
O resultado é uma das medidas fundamentais na avaliação do
desempenho de uma empresa, servindo também de base para avaliações tais
como o resultado por acção e outros rácios. Existem pressões sobre a gestão
para a apresentação de resultados positivos ou lisonjeiros, por parte daqueles que
têm interesse ou potenciais interesses no negócio. Assim sendo um proprietário
que dirija a sua própria empresa é indiferente à utilização da contabilidade criativa
nos relatórios contabilísticos anuais que mostram o estado económico-financeiro
da sua própria empresa. Neste contexto, pode dizer-se que a contabilidade
criativa é um fenómeno de grande alcance e complexidade, pois manipular a
informação ainda que sem ser de maneira fraudulenta, procura muitas vezes
apresentar (alterando) a imagem da empresa de um modo mais favorável para os
interesses da mesma ou melhor para os interesses dos seus agentes (gestores).
Consequentemente, a contabilidade criativa tem relação com a teoria da agência.
A teoria da agência tem a ver principalmente com a separação entre os indivíduos
Capítulo 6 – Bibliografia
que elaboram a informação contabilística e aqueles que são os donos da
organização ou empresa. Tem também a ver com a característica humana de
querer sempre mostrar que o seu desempenho foi bom, neste contexto, os que
elaboram a informação contabilística ou de seja os gestores, são tentados a
publicar informação financeira que dê aos seus utilizadores, fundamentalmente
aos donos da empresa, a visão de que o seu desempenho à frente dos negócios
da empresa foi o melhor possível.
As discussões sobre a contabilidade criativa centram-se basicamente no
impacte que pode ocasionar para as decisões dos investidores na bolsa. Entre as
razões possíveis que levam os gestores das empresas cotadas na bolsa para
tentar manipular as contas destacam-se as seguintes:
- Estabilizar os resultados: as empresas preferem, geralmente, reflectir uma
tendência estável no crescimento do lucro, em vez de mostrar uns lucros
voláteis com séries de dramáticas subidas e descidas. Isto consegue-se
criando elevadas e desnecessárias provisões e ou perdas por imparidade
que actuam nos resultados dos anos bons, de forma que possam reduzir-
se, melhorando os resultados dos anos maus. Os defensores desta
aproximação dizem que é uma medida contra a visão de curto prazo, de
usar uma inclusão baseando-se no rendimento conseguido nos anos
seguintes. Também evita crescentes expectativas, tão altas nos anos
bons que a empresa é incapaz de cumprir com os seus compromissos.
- Ajudar a manter ou a aumentar o preço das acções, tanto reduzindo os
níveis aparentes de endividamento e fazendo portanto, com que a
empresa pareça exposta a um risco menor, como criando a aparência de
uma boa tendência do resultado. Esta situação ajuda a empresa a
conseguir capital de novos investidores, oferecer as suas próprias acções
em oferta pública de venda, resistir às ofertas públicas de aquisição de
outras empresas e ainda ao financiamento bancário.
- Se os gestores estão comprometidos em operações internas com as
acções da sua própria empresa, podem utilizar a contabilidade criativa
para atrasar a chegada da informação ao mercado, aproveitando esta
oportunidade para beneficiar-se da sua informação privilegiada.
Capítulo 6 – Bibliografia
- Se as empresas estiverem sujeitas à autoridade do Governo, que
prescreve as tarifas máximas que podem ser cobradas, se estas
empresas reflectem altos proveitos, o organismo regulador responderá
moderando os preços. Portanto, estas empresas poderão estar
interessadas na aplicação de métodos contabilísticos que tendam a
reduzir os rendimentos reflectidos.
- Um modelo de gestão com retribuições ligadas aos resultados ou ao
preço das acções que a empresa terá, no caso em que estão ligadas ao
preço das acções, os gestores poderão estar motivados em apresentar
contas que impressionem na Bolsa. Se a primeira está ligada ao
resultado, somente estará de forma que seja uma percentagem do
rendimento quando este superar um determinado limite e pagar-se até
que o rendimento chegue a outro limite superior.
A Contabilidade Criativa ou Earnings Management é a gestão de
resultados contabilísticos dentro dos limites legais, dadas a discricionariedade e a
flexibilidade permitidas pelas normas e práticas contabilísticas. A questão é que
os gestores e os contabilistas, por conveniências e motivações de diversas
naturezas, podem escolher, as alternativas legais, que não reflectem a melhor
apresentação da realidade económica, financeira e patrimonial das entidades.
No contexto opera-se dentro dos limites do que prescreve a legislação,
mas nos pontos em que as normas facultam alternativas e julgamentos ao gestor.
O gestor, neste caso, não realiza as escolhas em função da realidade concreta
dos negócios, mas em função de outros incentivos, que o levam a desejar
reportar um resultado específico.
Para os autores, Earnings Management ocorre quando os gestores utilizam
o julgamento (ao tomar decisões) no processo de reporte, com o intuito de
enganar alguns utentes a respeito do desempenho económico da empresa ou
influenciar resultados que dependam da informação contabilística.
O Earnings Management é diferente de fraude contabilístico. A fraude
contabilística é formada por práticas que violam os pressupostos contabilísticos e
demonstram claramente a intenção de enganar, tais como: registo de vendas
Capítulo 6 – Bibliografia
fictícias, antecipação da data de realização das vendas e alteração do registo de
inventários e registo de activos fictícios.
Conforme Santos e Grateron (2003), as principais causas de Earnings
Management, residem nas características dos princípios e das normas
contabilísticas e nas características sociais e de comportamento humano.
Ao nível das características dos pressupostos e das normas contabilísticas
o autor refere a existência de múltiplas estimativas, a flexibilidade, arbitrariedade
e subjectividade na aplicação, a interpretações diferentes, contudo válidas, dos
princípios e das normas contabilísticas, conceito-base de imagem fidedigna pouco
claro ou indeterminado ecuidados da administração na aplicação de pressupostos
como prudência. Ao nível das características sociais e de comportamento
humano, o autor refere os valores éticos e culturais e atitude do administrador
face a fraude.
2.2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL GLOBAL
Segundo Duarte e Sarmento (2004), cada vez mais se assume que a
responsabilidade social é pertinente para todo o tipo de empresa, pertencente a
qualquer sector de actividade e seja qual for a sua dimensão. Deste modo, a
responsabilidade social e ambiental de uma empresa extravasa a sua própria
esfera de acção, estendendo-se à comunidade local onde a empresa está
inserida. As empresas são um bem público, pois dão um significativo contributo
para a vida das comunidades, em termos de emprego, remunerações, outros
benefícios e impostos. Devido ao efeito transfronteiriço de muitos dos problemas
relacionados com a sua actividade, as empresas são também agentes no meio
global, podendo, por conseguinte, propor-se objectivos de responsabilidade social
local, nacional e internacional.
A ética e a responsabilidade de uma empresa em relação a terceiros
inscreve-se numa lógica de relações a longo prazo, pois o respeito pelo parceiro
actual é uma necessidade, porque ele pode vir a ser também o parceiro no futuro
(La Bruslerie, 1998: 78).
A responsabilidade social das empresas implica práticas éticas e
transparentes em relação à comunidade, aos trabalhadores e suas famílias, aos
Capítulo 6 – Bibliografia
fornecedores, ao ambiente, ao Estado, aos clientes e aos consumidores, à
sociedade e aos investidores e deve ser considerada como um investimento a
longo prazo.
No decurso da gestão empresarial e da elaboração da informação
económico-financeira colocam-se diariamente problemas vários, levando a
questionar-se o que deve ser feito, aceite ou não, suscitando-se o debate sobre o
que é legal ou ilegal. Por isso, a ética lida com conceitos como o direito, a justiça,
a honestidade, a integridade, a equidade, a igualdade, a obrigação, o dever, a
responsabilidade ou mesmo o não injuriar. As decisões éticas são influenciadas
por normas ou princípios culturais e profissionais, por regras profissionais ou leis,
ou ainda por valores.
Quando os valores de ética e de moralidade, se encontram em decadência,
as pessoas frequentemente procuram ajuda no Estado. Contudo, nas sociedades
modernas, o Estado pouco poderá fazer para ajudar, quando os cidadãos, eles
próprios, não apresentam uma postura ética.
O comportamento íntegro ou honesto é o resultado de uma larga
aprendizagem que começa nos primeiros anos da infância, para o qual,
fundamentalmente, intervêm os conhecimentos, as vivências, as normas de
comportamento e de conduta.
Neste contexto, os conceitos mais utilizados serão os da moral, da ética e
da deontologia; assim e segundo Mercier (2003: 5), ética e moral são dois termos
pela sua origem etimológica, equivalentes: ética remete para uma raiz grega,
ethos e moral, palavra latina proposta por Cícero (106-43 a.C.) para traduzir a
palavra grega ética, remete para a raiz latina mores; isto explica a dificuldade de
escolher um ou outro dos dois termos.
De acordo com Rojot (1992) a ética permite elaborar um certo número de
regras que norteiam a conduta dos indivíduos para distinguir a boa e a má
maneira de dirigir.
Concretamente no que diz respeito às práticas contabilísticas parece ser
necessário começar, nalguns casos, noutros já faz parte de curriculos de escolas
do ensino superior, a dar ênfase a toda a problemática da ética que deve estar
presente na profissão de contabilista.
Capítulo 6 – Bibliografia
As práticas da contabilidade criativa estão directamente ligadas à ética
profissional, isto é assim, na medida em que a contabilidade financeira como
disciplina socialmente construída não tem leis nem regras imutáveis ou perenes.
A legislação, as regras e os conceitos contabilísticos que compõem em
largos termos a contabilidade financeira, são assunto para diferentes
interpretações pelos preparadores e utilizadores, havendo mesmo entre cada um
destes dois grupos diferenças na interpretação de determinadas regras e
conceitos.
De entre a legislação, as regras e os conceitos contabilísticos que são
aplicados em termos da própria profissão, é dever profissional e obrigação moral
do contabilista apresentar as demonstrações financeiras de um modo que reflicta
o verdadeiro, fiel e justo estado ou imagem dos negócios de uma empresa, com o
alcance de reflectir a substância sobre a forma legal de uma qualquer transacção.
Neste contexto, pode afirmar-se que a dimensão e o nível negativo que existe na
contabilidade criativa está directamente dependente da atitude ética do
contabilista.
3. QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO
(1) A estrutura dos demonstrativos financeiros afecta a tomada de decisão
sobre contabilidade criativa?
(2) O clima ético de trabalho afecta a decisão sobre contabilidade criativa?
4. OBJECTIVOS
Esta investigação tem como objectivo investigar a influência da ética
empresarial na qualidade do relato financeiro. Para medir a qualidade da
informação contabilística divulgada são utilizadas três métricas distintas que
captam diferentes propriedades da informação financeira: a transparência, a
contabilidade criativa e a relevância. Investiga-se, investiga-se se um maior
empenho ético das empresas aumenta a qualidade no relato financeiro e qual o
efeito da orientação ética e empenho profissional no comportamento dos
contabilistas na contabilidade criativa.
Capítulo 6 – Bibliografia
5. HIPOTESES DE INVESTIGAÇÃO
O principal objectivo consiste em investigar se maior transparência no
relato do resultado integral reduz a disposição dos gestores para a contabilidade
criativa na área onde a transparência aumenta.
Para medir a qualidade da informação contabilística divulgada são
utilizadas três métricas distintas que captam diferentes propriedades da
informação contabilística: transparência, gestão dos resultados, relevância.
H1: O formato adoptado para divulgação do resultado integral afecta a
transparência da informação financeira.
O formato adoptado para divulgação do resultado integral pode ser
separado em dois. Deste modo, o formato adoptado pode afectar a decisão do
contabilista sobre práticas de contabilidade criativa, surgindo a segunda hipótese
de investigação:
H2: Existe associação entre o formato adoptado para divulgação do
resultado integral e o nível de contabilidade criativa.
A informação sobre o resultado integral independentemente da forma como
é divulgada poderá estar incorporada no preço das acções. O preço é assim
usado para testar se a informação contabilística (capital próprio, resultados líquido
e resultado integral) traduz informação relevante e ajudam a definir o preço das
acções. Deste modo existirá uma relação entre o preço e o resultado integral:
H3: A informação sobre o resultado integral é incorporada no preço das
acções.
Se as empresas adoptarem um formato de divulgação do resultado integral
que resulta na divulgação menos transparente da informação financeira, é
possível que o resultado integral apresente valor relevante, mas espera-se que a
associação com o preço seja menos significativa em empresas com maiores
níveis de contabilidade criativa:
H4: A informação sobre o resultado integral em empresas com maiores
níveis de contabilidade criativa é também incorporada no preço das acções mas
com menor significância.
Capítulo 6 – Bibliografia
A segunda questão genérica que se pretende responder é se o clima ético
de trabalho afecta a decisão sobre contabilidade criativa. Se assim suceder,
existirá um grau de associação entre a contabilidade criativa e a ética
empresarial. Daqui decorre a quinta hipótese que relaciona os níveis de
contabilidade criativa com os níveis de ética empresarial:
H5: Empresas com menores (maiores) níveis de contabilidade criativa têm
maiores (menores) níveis de ética empresarial
A informação financeira de empresas com maiores níveis de ética está
associada ao desempenho operacional futuro.
H6: A informação financeira de empresas com maiores níveis de ética está
associada ao desempenho operacional futuro.
Para detectar as situações de manipulação de resultados utiliza-se uma
metodologia baseada nos accruals discricionários, semelhante a outros estudos
(Bartov, 2001; Butler, 2004 e Piot, 2004).
Por outro, com base em indicadores que permitam averiguar sobre o nível
de manipulação dos resultados na empresa, a hipótese será testada com o intuito
de medir a sensibilidade dos investidores face ao resultado integral.
Espera averiguar-se se o resultado líquido tem poder explicativo quando
comparado com as outras variáveis explicativas. Os modelos utilizados são dados
pelas seguintes equações:
MV i,t = ? 0 + a1BVEIFRS,t + ? 2DI i,t + ? 3NI IFRS
i,t + ?i t
M (1)
MV i,t = ? 0 + a1BVEIFRS,t + ? 2DI i,t + ? 3RI IFRS
i,t + ?i t
M (2)
Tabela: Definição das variáveis
MV i, t + 6 Valor de Mercado das acções seis meses após o fecho do exercício t, após adopção das IFRS
BVEIFRS,t
BVE é o valor contabilístico do capital próprio da empresa i no final do exercício t, de acordo com as IFRS
NIIFRSi,t
Resultado liquido da empresa i no final do período t, após adopção das IFRS
Capítulo 6 – Bibliografia
DI i,t Dividendos pagos pela empresa i no período t, após a adopção das IFRS
CIFRSi,t
Resultado integral da empresa i no final do período t, após adopção das IFRS
MV i,t = ? 0 + a1BVEIFRS,t + ? 2RI IFRS
i,t + ? 3EARNMANG i,t + ?i t
M (3)
Tabela Definição das variáveis
MV i, t + 6 Valor de Mercado das acções seis meses após o fecho do exercício t, após adopção das IFRS
BVEIFRS,t
BVE é o valor contabilístico do capital próprio da empresa i no final do exercício t, de acordo com as IFRS
RIRSi,t
Resultado integral da empresa i no final do período t, após adopção das IFRS
EARNMANG i i,t Práticas de contabilidade criativa .
Para analisar a relevância ao adoptar as normas do IASB as empresas
divulgam nas Demonstração de Alterações no Capital Próprio ou na
Desmonstração dos resultados Integral os ganhos e perdas levados directamente
ao capital próprio. Por este motivo é possível analisar se os investidores
percepcionam estes ganhos e perdas e se estes tem um impacto significativo
quando comparado com o resultado liquido. Pretende-se (i) comparar o impacto
do resultado líquido com o resultado integral e (ii) analisar o valor relevante do
resultado integral e do resultado líquido.
Sub hipóteses de H3:
H3.1) H 0 = As variáveis capital próprio, resultado liquido não explicam a
variação do valor de mercado da empresa
O teste desta hipótese permite medir a sensibilidade de cada uma das
variáveis em relação ao valor de mercado da empresa, medido pelo preço das
acções, testando deste modo a sua relevância. A rejeição da hipótese nula, dada
através do teste t, significará que pelo menos uma das variáveis independentes
tem valor relevante em relação ao valor de mercado da empresa, medindo a sua
relevância através dos resultados que se obterão ao nível da significância
estatística dos coeficientes associados e derivados da aplicação do modelo de
regressão.
Capítulo 6 – Bibliografia
H3.2) H 0 = O resultado integral não tem maior valor relevante que o
resultado líquido
O teste desta hipótese permite medir a sensibilidade dos investidores face
ao resultado integral como medida de avaliação de desempenho.
H4: A informação sobre o resultado integral em empresas com maiores
níveis de contabilidade criativa é também incorporada no preço das acções mas
com menor significância.
Com base em indicadores que permitam averiguar sobre o nível de
manipulação dos resultados na empresa, a hipótese será testada com o intuito de
medir a rendibilidade da empresa. Espera averiguar-se o resultado líquido tem
poder explicativo quando comparado com as outras variáveis explicativas.
Por um lado, com base em indicadores que permitam averiguar sobre a
postura ética das empresas face ao meio envolvente, a hipótese será testada com
o intuito de medir a sensibilidade dos investidores face ao resultado integral tendo
em conta a postura ética das empresas na contabilidade criativa.
De acordo com Jones, (1991) o modelo de decisão com base em
julgamentos éticos tem influência em comportamentos futuros. Ética da empresa
e corporate governance tem efeitos económicos futuros.
Verschoor, (1998) mostra associação entre o compromisso ético da
empresa e a performance favorável.
Tendo em conta que o regime do acréscimo (Accrual Basis), o lucro líquido
de uma empresa não será igual ao seu fluxo líquido de caixa (salvo em
circunstâncias muito especiais – ausência de accruals). Deste modo, os accruals
são todos os rendimentos/gastos que entraram no apuramento dos resultados,
mas que não implicaram necessariamente fluxo financeiro.
Para identificar a natureza dos possíveis ajustamentos que podem ter sido
efectuados.distinguimos dois tipos de accruals:
Capítulo 6 – Bibliografia
• Os accruals não discricionários, que resultam do normal funcionamento e
natureza do negócio;
• Os accruals discricionários, que têm como objectivo a manipulação do
resultado líquido.
Os accruals discricionários serão considerados como indicador (proxy) da
gestão de resultados, considerando que não existe manipulação dos fluxos de
caixa.
Os Total accruals são calculados pela diferença entre os resultados e
os cash flows operacionais (Total accruals = EARN – CFO).
Já com os valores apurados do total accruals para cada uma das
empresas, e de acordo com o seguinte modelo de Jones (1991):
ACCR i,t = ? 0 + a1?Net Sales,t + ? 2 AFT Gross i,t + ?i t
M (4)
Tabela Definição das variáveis
ACCR Total accruals
?Net Sales Variação entre vendas Líquidas (Vendas Líquidas t+1 – Vendas Líquidas t)
AFT Gross Activos Fixos Tangíveis Brutos
Todas as variáveis são deflacionadas pelo total do activo, com o objectivo
de reduzir o efeito de escala que possa existir entre as diferentes empresas e
variáveis. Através da regressão linear, apurou-se os non-discretionary accruals
(NDAC) de cada empresa analisada.
Os discretionary accruals resultam da diferença entre os total accruals e os
non-discretionary accruals (DAC = Total Accruals – NDAC), novamente de acordo
com o modelo de Jones (1991).
Com o objectivo determinar se o nível de ética e transparência reduz o
nível de manipulação de resultados medido através dos accruals discricionários
apresenta-se o seguinte modelo:
ACCR i,t = ? 0 + a1ÉTICA,t + ? 2 TRANSP i,t + MKVALUE ?i t
M (5)
Capítulo 6 – Bibliografia
Tabela Definição das variáveis
ACCR Total accruals
ÉTICA Índice de ética
TRANSP Índice de transparencia
MKVALUE Valor de mercado dividido pelo capital próprio
6. AMOSTRA
Seleccionamos entidades com valores emitidos no mercado regulamentado
(Euronext Lisboa) que engloba as empresas com títulos admitidos à negociação
na Euronext Lisboa. As condições para a selecção da amostra, além de a
empresa estar cotada na Euronex Lisboa foram: as empresas cuja actividade
principal não é financeira, seguradora ou similar, pois nestas as regulamentações
económicas são diferentes das restantes; as empresas têm de estar cotadas
durante o período em análise. Tendo em conta as limitações para a recolha da
amostra, foram analisadas 34 empresas, no período de 2005 a 2010 (5 anos).
Capítulo 6 – Bibliografia
8. RESULTADOS
8.1 ESTATÍSTICA DESCRITIVA
A completar.
Tabela – Estatística descritiva da amostra
Variável Média Mediana Desvio-Padrão Mínimo Máximo
Total de accruals
Accruals discricionários
Variação das vendas Activo Fixo Tangível Bruto Endividamento Resultado Liquido Cash flow operacionais Valor de mercado Activos no início do ano Capital próprio
Matriz de correlação Spearman / Pearson para as variáveis estudadas
Variável ACCR ETICA TRANSP MKVALUE
Total de accruals
ACCR
ETICA
TRANSP
MKVALUE
8.1 RESULTADOS DA REGRESSÃO
Os resultados em baixo apresentados são parte do estudo efectuado a
empresas Inglesas. Contudo o estudo será ainda efectuado às empresas
Portuguesas, assim como serão realizadas as restantes regressões apresentadas
no ponto 5.
Capítulo 6 – Bibliografia
Tabela 1: Regressão do modelo do resultado líquido
MV i,t = ? 0 + a1BVEIFRS,t + ? 2DI i,t + ? 3NI IFRS
i,t + ?i t
M (2)
n = 82
Variável Coeficientes
Prob.
B Constante 1423,431 0,630 BVEIFRS 3,760 0,000 DI 1,467 0,033 NIIFRS 4,245 0,000
Estatística de regressão Quadrado de R
0,740
Quadrado de R ajustado 0,735
Estatistica F 66,532
Prob (F-statistic) 0,000
Pode concluir-se que as variáveis independentes são estatisticamente relevantes. Na amostra seleccionada o capital próprio, o resultado líquido e os dividendos apresentam-se como indicadores materialmente relevantes na explicação do valor de mercado das empresas relevando-se extrema importância para os investidores aquando a análise dos seus investimentos. A tabela 14 apresenta os resultados do modelo de regressão do resultado extensivo.
Tabela 2: Regressão do modelo do resultado extensivo
MV i,t = ? 0 + a1BVEIFRS,t + ? 2DI i,t + ? 3CI IFRS
i,t + ?i t
M (3)
Variável Coeficientes
Prob.
B Constante 1414,238 0,670 BVEIFRS 1,272 0,000 DI 5,881 0,031 CIIFRS 4,056 0,000
Estatística de regressão Quadrado de R
0,790
Quadrado de R ajustado 0,749
Estatistica F 65,612
Prob (F-statistic) 0,000
Pode concluir-se que as variáveis independentes são estatisticamente relevantes. A percentagem da variação do valor de mercado da empresa que é explicada
Capítulo 6 – Bibliografia
pelo modelo, dada pelo R2 , também demonstra robustez uma vez que em todas
as equações analisadas o seu valor encontra-se acima dos 70%. Sendo o R2
ajustado o indicador que mede a sensibilidade aquando a introdução de novas variáveis explicativas no modelo, verificou-se que a aplicação do modelo demonstra robustez nas conclusões. Tendo em conta os resultados do teste t e a sua significância, constata-se que os coeficientes associados são estatisticamente significativos. Comparando os resultados do modelo de regressão do resultado líquido com o modelo de regressão do resultado extensivo pode constatar-se que o resultado extensivo apresenta um R2
superior. Pode concluir-se que o resultado extensivo apresenta um maior poder explicativo, no entanto esta diferença não parece ser estatisticamente significativa na amostra seleccionada. Deste modo o resultado extensivo está relacionado com o valor da empresa e parece ser útil na avaliação de desempenho dos gestores e na tomada de decisão. Parece acrescentar algo de novo em relação ao resultado líquido e em relação ao preço de mercado das acções. Estes resultados são consistentes com estudos anteriores (Ohlson, 1995; Watts e Zimmerman, 1996; Giner e Prado, 2004).
9. CONCLUSÕES
De uma maneira geral, esta investigação pretende enriquecer a literatura seguindo
um percurso no qual se procura contribuir para a ponte entre a contabilidade e a ética, dois
campos que não raro são vistos como opostos, pelo menos mutuamente indiferentes. Esta
ligação não é imediata, mas é necessária e não é apenas necessária mas exequível.
Genericamente, segue o caminho iniciado pela investigação contabilística que tem como
objecto o estudo da harmonização das normas contabilísticas internacionais contribuindo
para o esclarecimento sobre a transparência no relato financeiro.
Tem dois grandes objectivos. O primeiro objectivo passa por investigar a influência
da ética empresarial na qualidade do relato financeiro. Para medir a qualidade da
informação contabilística divulgada são utilizadas três métricas distintas que captam
diferentes propriedades da informação financeira: a transparência, a contabilidade criativa
e a relevância. Investiga-se, por um lado, se maior transparência no relato do resultado
integral reduz a disposição dos gestores para a contabilidade criativa na área onde a
transparência aumenta. Por outro lado, investiga-se se um maior empenho ético das
empresas aumenta a qualidade no relato financeiro e qual o efeito da orientação ética e
empenho profissional no comportamento dos contabilistas na contabilidade criativa.
Capítulo 6 – Bibliografia
O segundo objectivo consiste em investigar se a orientação ética e atitudes dos
professores de contabilidade do ensino superior afectam as decisões de natureza ética na
contabilidade, e a sua percepção quanto à necessidade dos estudantes de contabilidade
receberem formação ética adicional. Pretende-se deste modo, contribuir para o
esclarecimento sobre a necessidade de inclusão de formação em valores éticos e
responsabilidade social no ensino superior tendo em vista o desempenho ético das
empresas e harmonia nas suas relações com os stakeholders Por outro lado contribuir para
a sensibilização da necessidade de maior investimento, por parte das universidades, na
formação em ética e responsabilidade social para dar resposta aos desafios colocados aos
gestores pelo mercado global.
A completar.
Capítulo 6 – Bibliografia
10. BIBLIOGRAFIA
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