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REV.STA ~--- .NTERNAC.ONAL # DE I..NGUA PORTUGUESA Associa~ao das Universidades de lingua Portuguesa Janeiro 1991

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REV.STA~---.NTERNAC.ONAL# DE

I..NGUAPORTUGUESA

Associa~ao das Universidades de lingua Portuguesa

Janeiro 1991

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/0 FOCOI LlN6Ufsr/CA E ENS/NOOE llN6UAS r-:::::::::~~__ :::::~~JE::;;;:;;::;:=:-"i1!f[ff)

Quantificadores e Ensinoda Lingua Oficialem Moqambique

c );-;;;f Maria Jose Albarran Carvalhop

ff) Identificaram-se areas de variacao,quanta aos process os de quantifi-cacao do Portugues, numa man-cha populacional constituida por

utentes da lingua portuguesa (Lp) maiorita-riamente como lingua segunda e) (L2), denivel etario adulto (21-37 anos), provenien-tes sobretudo de Maputo e de instrucaoequivalente as classes terminais do ensinosuperior.

A mencionada faixa e constituida por gra-duandos da licenciatura em Ensino de Por-tugues, na sua quase totalidade formadosantes da independencia do pais e que, porconseguinte, foram submetidos a aprendi-zagem da Lp em condicoes de primeira lin-gua (L1) (2), interessando, portanto, verifi-car se existiria uma efectiva sistematizacaoda aprendizagem do portugues, institucio-nalmente regulado pelo estado e segundoalegados principios metodologico-didacticosrelativos a Iinguas estrangeiras/segundas.o criterio avaliador da adequacao do

ensino da lingua oficial (L of.) ao perfil dacomunidade de utentes em causa, sera aconformidade com:

i-as fases do desenvolvimento cognitivoinfantil;

ii - a realidade de uma L2;

iii - 0 imprescindivel paralelismo L of. parauso comum/ L of. para a escolaridade,muito particularmente no caso da areadisciplinar de Maternatica, abrangidapelo tema em estudo.

Urn significado da amostragem, reto-mando 0 paragrafo anterior, consiste nofacto de as construcoes examinadas pode-rem ser explicaveis pela realidade de 0

ensino-aprendizagem da Lp nao ter sido rea-lizado, para aquele conjunto de inquiridos,de acordo com a didactica inerente a umaL2, caracteristica do sistema de educacaocolonial.

(1) De acordo com 0 conceito de CRISPIM, Lurdes (1990) segundo 0 qual a lingua segunda e a "que assume 0 estatutode lingua oficial ou, pelo menos, 0 de Ifngua de cornunicacao e de unidade nacional e e, geralmente, a lingua deescolaridade», no contexto das ex-col6nias portuguesas. 53

(2) No sentido de ser a primeira lingua do falante.

Departamento de Lingua e Cultura Portuguesa cia Faculcladc de Letras da Universidade de Lisboa.

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Neste contexto, foi formulada a hipotesede a elevacao do nivel de condicoes deaprendizagem de uma L2/L of. fornecer afixacao de variantes entre utentes mais ins-truidos, com a constatacao, correlata, deserem corrigfveis as actualizacoes dos utili-zadores menos instruidos, revelando-seestes, por conseguinte, usuaries de uma Iin-gua ainda incompletamente adquirida. Nesteultimo caso, as ocorrencias nao seriam clas-sificaveis como variante.

Como objecto obrigat6rio do presentetrabalho, os manuais escolares da 1~-5~classes, I? grau do Ensino Primario, foramanalisados dentro da finalidade unica de seavaliar a actual sistematizacao/assisternatiza-<;ao do ensino-aprendizagem da L of. emfuncao:

i - da adequacao do desenvolvimento dosoperadores mentais infantis a gradacaodo processo na competencia cornuni-cativa,

ii - das necessidades do ensino-aprendiza-gem da Matematica.

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as contributos de LOPES, O. para 0

ensino basico de Lp, como Ll (1972) e parao da L of. (1979), nortearam 0 presenteestudo pelo facto de ser enfatizar, emambas as publicacoes, a produtividade deserem primeiramente introduzidas, na aulade Ifngua, as propriedades dos diferentesquantificadores do Portugues, se for objec-tivo uma optimizacao do acesso as verda-des maternaticas. De facto, a aprendizagemdaqueles em condicoes de uso comum,deve preceder a respectiva introducao emtermos de terminologia matematica, deacordo com os pressupostos psicolinguisti-cos de 0 menos complexo anteceder 0 maiscomplexo e abstracto.

Embora, na existencia da Lp como L of.,o pr6prio ensino-aprendizagem da Materna-tica parta da linguagem natural para poste-riores enunciados de rigor matematico,devendo estes, sempre que mais comple-xos, ser desenvolvidos em classes nao ini-ciais do grau em analise, a questao da Lpcomo lingua de escolaridade exige, tam-bem, ponderacao interdisciplinar.

2. Passa-se a analise das reais condicoesde ensino-aprendizagem dos quantificado-res.

No arras mencionado corpo de dados,estes ocorrem como se segue, numa opo-sicao de frase (F) afirmativa/F negativa:

(1) Bebi algum vinho. (afirm.) I * Naobebi algum vinho. (neg.).

(2) * Tenho alguns dinheiros. (afirm.) I* Nao tenho alguns dinheiros. (neg.).

(3) Todos vieram. (afirm.)1 * Nao vieramtodos, * Alguns nao vieram, * Nin-guem nao veio. (neg.).

(4) Urn qualquer pode ver (afirm.) I* Nem urn qualquer pode ver. (neg.).

Registaram-se, ainda, F fora da actualnorma do portugues europeu como sejam.

(5) * Comi uma mapira.

(6) * ? Ha muitas publicidades.

Tais registos atestam tendencias derivan-tes quanta a quantificacao universal I exis-tencial, (1)-(4), aos nominais contaveis e naocontaveis, (2), (5)-(6), e a negacao, (1)-(4),para alern da atribuicao/reconhecimento devalores pragmaticos, (4). A estranheza dasF, face ao Portugues europeu contempora-neo, reside no escopo da quantificacao eda negacao, nas propriedades sernanticas ena pluralizacao dos nominais.

Manifestam estes falantes de Lp/L of. aespecificidade de projectar, na L2, tracesdecorrentes da configuracao particular dasua Ll, Ifngua banta (Lb). Mas, por urn lado,pressupostos psicolingufsticos como a rea-lidade de, na aprendizagem, a antonirniapreceder a sinonimia, face a maior desta-que das fronteiras conceptuais, implicamque a quantificacao total, em oposicao asua negacao, seja adquirida antes da quan-tificacao parcelar, afirmativa ou negativa.Do principio de se proceder do concretopara 0 abstracto resulta que alguns proces-sos de quantificacao devam ser introduzi-dos na area disciplinar da Lp, num uso dife-rente do da terminologia cientffica, antesde matematicamente formalizados em ter-mos necessariamente mais abstractos, por-tanto de maior complexidade. Do mesmo

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principio decorre que a metafora nuncapreceda os sentidos directos, menos com-plexos. A veracidade destes pressupostosreduz, portanto, 0 peso da mencionadainterferencia lingufstica. Por outro lado,ainda, dados recolhidos a aprendentes daLp, igualmente de nivel superior mas devariado substrato lingufstico, tal como Fproduzidas por filhos de emigrantes, nasProvas Gerais de Acesso aquele grau deensino, apontam, pela sua similaridade com(1)-(6), para explicacoes diversas da proble-matica da interferencia.

Percorrern-se, de seguida, os menciona-dos manuais escolares de Portugues, parabreve confronto com os de Maternatica.

2.1. Da oferta de dados para 0 ensino--aprendizagem dos process os de quantifi-cacao na Lp, apresenta-se uma listagemcomentada dos itens que se seguem, julga-dos de incorrecta insercao nos actuaismanuais escolares de Portugues.

2.1.1. Registo, apenas em exemplos, por-tanto assistematico, da pluralizacao, que eapenas brevemente introduzida no Livro doProfessor (1. Prof.) 2~ cl. v. 2. 0 sistemaessencialmente morfologico da pluralizacaoem portugues exige urn doseamento esca-lar. A lnteriorizacao dos plurais -o/-s, come sem alteracao do trace silabico e metafo-nia, v.g. «casa/casas», «rapaz/rapazes» e«ovo/ovos», passando pelas alteracoes -em/--ens e -l/-is, ate as formas historicamentemotivadas do tipo -ao/-aos, -oes, -aes eincluindo variadas excepcoes, e diffcilmesmo para discentes de Lp como L1.o recurso a especificadores para deter-

minacao de singular/plural e, ainda, de defi-nido/indefinido, exprime uma quantificacaouniversal, generica (7) ou nao (8), ernpre-gos nao sistematicamente introduzidos eimprescindiveis a Matematica, v.g.:

(7) Um paralelogramo e urn quadrilaterocom os lados paralelos dois a dois,(V generico).

(8) Os lados de urn losango sao iguais.(V nao generico)

A relacao singular/plural dos nomes con-taveis deve ser adquirida antes da extrac-

cao de partes plurais de nao contaveis, i.e.,massivos, v.g. «Bebi dois copos de leite»,«Esses vinhos sao bons». Quanto aos nomesabstractos, a agramaticalidade de pluraiscomo em (9):

(9) * Faltam algumas simpatias.

remete para uma sisternatizacao do uso doplural, preocupacao inexistente. Destaque--se que as Lb variam em classes, devendo--se sistematizar, portanto, esta morfologiada Lp.

2.1.2. Ausencia de uma gradacao do uni-versal para 0 existencial, alem de uma faltade analise do quantificador «todo» como«todo em conjunto», nao distributivo, e«todo e cada urn», distributivo. Tambernnao ha introducao de «qualquer» (1. Prof:4~ classe), quantificador de valor poliva-lente, que equivale tanto a «todo» distribu-tivo como a «algum» e «nenhum».

Logo na 2 ~ classe sao introduzidosdodo», «algum», «sempre» e «as vezes», aolado da quantificacao partitiva «uma das coi-sas». «Tudo» surge apenas na 4~ classe.Mas os quantificadores negativos, v.g.«nenhum», «nada», «nunca», «ninguern» saoiniciados por este ultimo na 2~ classe(V. 2:84), seguindo-se-lhe «nada» numadupla negativa na 3 ~ classe (92), «nenhum»na 4.a classe (54) e «nunca» na 5~ classe(42), alias numa metafora. Saliente-se que«ninguem» surge no 1. Prof (2.a classe) emcontexto de uma negacao complexa.

Nao so esta ausente a progressao dogeral para 0 particular - universal paraexistencial - como tarnbem a aprendiza-gem por fronteiras de antonimos, ja quenao ha correlacao entre binonimos comotodo/nenhum; tudo/nada; sempre/nunca;alguem/ninguem.

Alias, e dada a existencia da negacao daquantificacao, v. g. «nern todos» (V), «naomuitos» (3), observe-se que nao se sistema-tizam, da 1~ a 5~ classes, os process os danegacao em portugues, 0 primeiro regis toescrito de frase negativa encontra-se na2.a classe numa construcao estereotipada,v. g. (10):

(10) Enquanto gira e nao gira (2 ~ cl.: 55v. 2:8).

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No L. Prof a sucessao dupla negativa (1~dasse), trip Ia negativa (2 ~ dasse), cumula-tiva com 0 par «pois sim-z-pois nao. devalor contrastivo e enfatico apresenta cons-trucoes de frequencia duvidosa na L of.

Seguem-se-lhe varies redobros da nega-tiva na mesma dasse, alguns tambern devalor contrastive, portanto a ser introdu-zido mais tarde> (11):

(11) - Nao, hoje nao ha bolachas, hifarinha, arroz (2. a classe: v. 2:34).

Ora nao e introduzida a diferenca nega-<;;ao sintactica/incornpatibilidade lexical,v.g. (12):

(12) a) Ela esta sentada. Ela nao estasentada.

b) Ela esta de pe.

E, apenas na 5~ d., mas a prop6sito daaquisicao de processos derivacionais, seregis tam do is casos de incompatibilidadecomo «felizs/dnfeliz», «capazs/dncapaz. -introducao tardia em simultaneo com«ver»/«rever» e «colhers/srecolher», deriva-coes de outro tipo.

Negacoes parciais de tipo adjecti-val/adverbial, v.g. «E diffcil», «Dificilmente»,«E raro», «Raramente», nao estao presentes,muito embora a primeira seja de uso fre-quente. De igual modo, nada se indui.quanto a posicao preferencial dos opera-dores de negacao na frase, i.e., pre-verbal(vnao», «nunca», «jarnais») e pre-verbal +nominal + preposicional + adverbial (snao»,«nern»).

Nao se apresentam, em suma, os opera-dores frasais de negacao do portugues, nemsequer as linhas gerais do seu sistema.

2.1.3. A quantificacao comparativa, degrau ou relativamente a uma media, querem termos de quantidade, quer de quali-dade, e introduzida na 2.a d. (v. 1:108, v.2:22), tendo sido apenas oralmente exern-plificada (L Prof: P cl.: v. 2), ap6s empregona Matematica. Nao ha sistematicidade nagradacao, aparecendo os graus irregularesna 5~ d. (108).

Na 2.a d. (v. 2:29) insere-se a sufixacao-inho como processo comparativo reto-mado, para os nomes, na 3.a d. (L Prof).Sendo conhecida a diferente tipologia das

Lb, na configuracao das construcoes degrau, destaca-se a inexistencia do necessa-rio escalonamento por pares em antonfmia.

«Tanto» surge na 2.a cl. (v. 1:91) assimcomo «multo. (id: 108), etapa ainda pre-matura para a aprendizagem da quantifica-cao relativa a uma media dada a sua poucaprecisao.

2.1.4. Lancado na 3~ d. (37) 0 distribu-tivo «cada», definidor de uma aplicacao,surge em «cada dia», «cada vez», naoregendo cardinais, v.g. «cada cinco», nemcolectivos, v.g. «cada rebanho». E prece-dido no L Prof (P d.) pela perifrase «sera vez de». Processos morfol6gicos de quan-tificacao distributiva como «diario», «serna-nal», por sufixacao, e 0 processo sintactico«x para + por Y» nao sao integrados nascinco dasses do primeiro grau, como deresto, tambern 0 nao e a relacao«uns ... outros. de exclusao de sequenciasbipartidas. Outros usos, tipo:

(13) a) Eles fazem cada uma.

b) Diz-se cada disparate.

deveriam ser introduzidos, ainda que maistarde.

3. Face a tais dados, questiona-se a capa-cidade de 0 ensino-aprendizagem da L of.poder, na situacao descrita, constituir aurgente e necessaria plataforma de compe-tencia lingufstica para a aprendizagem dosquantificadores maternaticos, ja que se tratada Iingua de escolaridade, mesmo apesarde, como Ifngua natural, divergir da lingua-gem Iogico-matematica.

Urn rapido confronto dos manuais dePortugues com os de Matematica, segundoCARVALHO. M. ]. e J. SILVA (1990), com-prova discrepancias como sejam.

i-a introducao de quantificadores detempo e da quantificacao universal, dis-tributiva ou nao, nos manuais de Mate-matica, a excepcao de "CADA», sem arespectiva previa aprendizagem na Iin-gua de escolaridade;

ii - a escassez da quantificacao partitiva aolado do nao tratamento da omissao do

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/0 fOCOJlIN6U!STlCA E ENS/NOOf lfN6/JAS "--_- -- __ ==-"'-artigo e da ausencia tanto da quantifi-cacao de massivos como dos quantifi-cadores duais - «pelo menos metade»,«rnais de metade» - nos manuais dePortugues, lingua veicular do ensino--aprendizagem da Matematica:

iii - a introducao da negacao dos quantifi-cadores existenciais, v.g. «nenhum»,nos manuais de Maternatica, sendo ape-nas posteriormente tratada nos de Por-tugues, agravada pela omissao do ope-rador «nunca».

Verificado 0 facto da inexistencia decoordenacao entre a cornpetencia adquiridana L of. e 0 suporte linguistico exigido paraa escolaridade em Matematica, reafirrna-sea necessidade de, na L of., haver uma«oferta», escalonada, para aprendizagem, emuso, dos quantificadores segundo as ineren-tes propriedades semantico-pragmaticas esintacticas. 56 ap6s este trabalho previa seraadequada uma aprendizagem de enuncia-dos matematicos, em linguagem nao ambi-gua, i.e. 16gica.

Sem coordenacao interdisciplinar, nemsistematizacao dos quantificadores na Iin-gua natural em causa, e de prever que, deacordo com a hip6tese previamente forrnu-lada, os falantes sujeitos a aprendizagemoferecida pelos presentes manuais do Sis-tema Nacional de Educacao realizem, defuturo, F identicas as da mancha popula-cional aqui apresentada, sem que delasdecorra a conclusao de se estar perantenova variante.

Embora deva ser relativizada a importan-cia do substrato linguistico das Lb, este ternsignificado em factos como:

i-a concordancia em nurnero/genero daLp em oposicao ao sistema de classesdas Lb;

ii - a existencia de divergencias, quanta aosistema lexical, que apontam para umanao correspondencia entre nao conta-veis, particularmente abstractos, emambas aquelas Ifnguas, apesar de, nageneralidade, nao serem pluraliziveisem nenhuma delas,

iii - 0 facto de a negacao em Ifnguas comoo macua (41 % de falantes) e 0 tsonga

,

(19%) constituir processo essencial-mente aspectual. Na primeira Ifngua, 0

processo e continuo e prefixal, prece-dendo, este afixo, 0 morfema de con-cordancia do sujeito. Na segunda trata--se de processo descontinuo, prefixale sufixal, com as caracteristicas descri-tas para 0 caso anterior. A negacao, nes-tas linguas, altera-se com a relativiza-cao e a flexao em tempo. Sendo anegacao na Lp essencialmente pre--verbal, exige-se urn particular trata-mento do ensino-aprendizagem dosoperadores desta lingua, com especialatencao a relacao ternpo/negacao,

iv - diferentes interpretacoes de itens como«qualquer» , equivalente a «todo»,«cada», «algum», «nenhum» e ainda ele-menta. de lexias como «de qualquermodo + maneira», etc.) e que e porta-dor de diferente valor pragmatico nopar de F: «l~ urn aluno qualquer que fazissov-Nao e urn aluno qualquer que fazisso», constituem, igualmente, facto resde dificuldade na aprendizagem. Sao,no entanto, frequentes. Anote-se quequestoes de identica natureza sernan-tico-pragrnatica ocorrem nas Lb e) domesmo modo, nao tern eco na Lp.

Ha, portanto, condicoes para fen6menosde transferencia e de sobregeneralizacao deregras, em fases de aquisicao da L of., nasareas L- iv.

Repete-se, no entanto, que) no caso daquantificacao, aprendentes da Lp, falantesde doze diferentes L1, produziram F iden-ticas a (1)-(6), sendo de destacar, por con-seguinte, implicacoes do sistema da pr6priaLp) v.g.:

(1)' "Nao tenho alguma explicacao. (Cas-telhano, 17 an os)

(2)' "Nao tenho alguns ouros. (Chines,28 anos)

(3)' "Todos os medicos nao responde-ram. (Alemao, 22 anos)

(4)' * Falo uma qualquer lingua. (Dina-marques, 30 anos)

(5)' *Recebi dois dinheiros no troco. 7(Persa, 31 anos).

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(6)' "Nao ha muitas criminalidades emPortugal. (Sueco, 33 anos)

Adicionam-se, ainda, os ja referidos dadosrecolhidos a filhos de emigrantes portugue-ses na America Latina e na Europa, em con-tacto com 0 castelhano, a variante brasi-leira do portugues e 0 trances.

(3)" *... Todas as pessoas nao sabiam ler.(= algumas sabiam)

(4)" *0 menino nao pode dizer a suamae qualquer das suas necessidades.

(6)" *Ja se podia comunicar com muitomais facilidades com outras pessoas.

Nao estando ainda concluidos, na faseactual deste estudo, os inqueritos a falan-tes nativos de outras lfnguas ou expostosao contacto da Lp com outras, e possivelafirmar, contudo e des de ja, que as F pro-duzidas pel os inquiridos mocambicanos naoresultam apenas, nem talvez sobretudo, deinterferencias do substrate bantu, conformecomprova 0 argumento das frases realiza-das por falantes sem 0 mencionado subs-trato. Corrobora, tambern, nesta posicao,a realidade percentual de as F respeitarem,maioritariamente, a comprovada tendencia,nas lfnguas naturais, de os nomes nao con-taveis evoluirern para contaveis (PERES, ].cornunicacao pessoal 1990), ja que seenquadram nesta tipologia 50% das frasesrealizadas pel os falantes de lfnguas nao ban-tas, havendo outras produzidas por uten-tes do pr6prio portugues europeu contem-poraneo, v.g.:

(14) ... esses desenvolvimentos, nao inte-ressam ao pais, (Radio-Televisao Por-tuguesa)

Anote-se, ainda, que uma pesquisa darelacao de F como (2), (6) e (14) com adefinitude podera par em evidencia pro-priedades da pluralizacao de abstractos noPortugues, area igualmente nao incluida naproblernatica da interferencia,

584. Do breve exame realizado, propoe-se,

finalmente:

i - sistematizar, escalonadamente, a apren-dizagem dos quantificadores da Lp,tendo-se em conta:

- os princfpios da psicolinguistica maismoderna,

- a natureza da quantificacao nas lfn-guas naturals,

- as dificuldades de aprendizagem dosfalantes de Lp como Ll/L2;

- as areas de variacao preferencial naslfnguas naturais

ii - pesquisar formas de utilizacao das aulasde Portugues, L of., como forma de,na perspectiva da gramatica cornunica-tiva, se usarem solucoes das linguasnaturais, do quotidiano, que facilitema imprescindivel introducao de enun-ciados maternaticos na respectiva dis-ciplina, sem, no entanto, se misturaremos objectivos, necessariamente distin-tos, de ambas as areas;

iii - promover a interdisciplinaridade paracoordenacao dos objectivos de cadamateria e do desenvolvimento dos ope-radores mentais infantis.

REFERENCIAS

CARVALHO, Maria Jose e joaquina SILVA (1990)."Problemas de quantificacao e conectividadena lingua oficial», Palestra no Instituto Supe-rior Pedag6gico, Maputo.

CRISPIM, Lurdes (1990). «Portugues - uma lin-gua estrangeira- In: Revista Internacional deLingua Portuguesa 3, Lisboa: AULP.

LOPES, 6scar (Ed. 1972). Gramatica Simb6licado Portugues. Lisboa: Instituto Gulbenkiande Ciencia,

LOPES, 6scar (1979) «Irnplicacoes de urn pro-blema de interdisciplinaridade: a de Portu-gues e Matematica». In: Tempo n." 451.

VYGOTSKY, Lev (Ed. 1962) Thought and Lan-guage. Cambridge Massachusetts: The MITPress.

Edicoes escolares do Sistema Nacional deEducacao:

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