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DOCUMENTOS SPA & RTP NOTA: Estamos no início de 2007. Depois de vários contactos que fiz por telefone com a RTP para saber qual o modo mais adequado de obter cópias dos filmes que co-produzi e realizei para a empresa, foi-me sugerido que enviasse um email ao responsável do respectivo arquivo, ao cuidado da funcionária Filomena Fernandes. Email enviado a 16 de março de 2007 ao serviço de arquivos da RTP. Como resultado, ficou marcada uma reunião na sede da empresa. ricardo costa rua João de Deus Ramos, 5 - 1º esq 1700-246 Lisboa Tel / fax 351 21 849 10 76 E-mail [email protected] Web http://ricardocosta.net Arquivo da RTP A/c Filomena Fernandes (via e-mail: [email protected]) Assunto: cópias de filmes Lisboa, 16/03/07 Exma Senhora, Tal como ontem me solicitou por via telefónica, exponho por escrito a minha pretensão de obter cópias digitalizadas (Betacam digital) de alguns dos filmes que produzi e realizei em co-produção com a RTP. A lista desses filmes (séries Mar Limiar e Homem Montanhês) já é do vosso conhecimento. As cópias pretendidas destinam-se ao meu arquivo pessoal e sem qualquer objectivo comercial. O meu interesse reside apenas na necessidade de ter ao alcance da mão obras de que sou autor e que não voltei a ver desde que foram emitidas. Aproveito para a informar de que apenas me foram cedidas pela RTP, em suporte de 16mm, cópias das longas-metragens 1

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DOCUMENTOS SPA & RTP

NOTA:

Estamos no início de 2007. Depois de vários contactos que fiz por telefone com a RTP para saber qual o modo mais adequado de obter cópias dos filmes que co-produzi e realizei para a empresa, foi-me sugerido que enviasse um email ao responsável do respectivo arquivo, ao cuidado da funcionária Filomena Fernandes.

Email enviado a 16 de março de 2007 ao serviço de arquivos da RTP. Como resultado, ficou marcada uma reunião na sede da empresa.

ricardo costarua João de Deus Ramos, 5 - 1º esq1700-246 Lisboa Tel / fax 351 21 849 10 76E-mail [email protected] http://ricardocosta.net

Arquivo da RTP

A/c Filomena Fernandes(via e-mail: [email protected])Assunto: cópias de filmes

Lisboa, 16/03/07

Exma Senhora,

Tal como ontem me solicitou por via telefónica, exponho por escrito a minha pretensão de obter cópias digitalizadas (Betacam digital) de alguns dos filmes que produzi e realizei em co-produção com a RTP. A lista desses filmes (séries Mar Limiar e Homem Montanhês) já é do vosso conhecimento.

As cópias pretendidas destinam-se ao meu arquivo pessoal e sem qualquer objectivo comercial. O meu interesse reside apenas na necessidade de ter ao alcance da mão obras de que sou autor e que não voltei a ver desde que foram emitidas. Aproveito para a informar de que apenas me foram cedidas pela RTP, em suporte de 16mm, cópias das longas-metragens Castro Laboreiro e Longe é a Cidade (ambos do Homem Montanhês) em 1981, destinadas a ser exibidas em festivais internacionais e sem qualquer custo para mim. Longe é a Cidade foi exibido também, legendado em francês com o apoio do ICAM, no Museu do Homem, em Paris, e num ciclo de cinema português sobre Trás-os-Montes por mim organizado na Cinemateca Francesa em Outubro de 2002, em Paris também. Os filmes foram apresentados como longas-metragens e não em partes separadas.

Acresce que, depois da conversa que ontem tivemos, recebi um mail da Biblioteca Municipal de Melgaço, assinado por Margarida Codesso, que pretende também ter em arquivo alguns desses filmes: Castro Laboreiro e Pitões, Aldeia do Barroso. Pedem ainda uma cópia do filme que realizei para a

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série Viagem, intitulado Abril no Minho, produzido pela Arca Filmes (reversível). Respondi explicando a situação e referindo que, enquanto longas-metragens, haveria necessidade prévia de juntar as partes separadas e de dar a cada filme uma apresentação diferente daquela que têm em formato de emissão (três episódios separados por filme). Outros pedidos de cópias me têm sido dirigidos quer por particulares quer por entidades. As respostas que tenho dado são no sentido de aguardar um acerto de pormenores com a RTP e a certeza de que os filmes foram ou seriam digitalizados. Há particulares a pedir cópias (suponho que há pedidos feitos directamente à RTP) e tanto a Câmara Municipal do Redondo (O Pão e o Vinho) como a Câmara Municipal de Peniche (alguns filmes da série Mar Limiar) me têm contactado visto pretenderem cópias.

Havendo pormenores técnicos a acertar para uma tiragem correcta de cópias para qualquer fim, mesmo para eventual reemissão, como já aconteceu com O Pão e o Vinho, gostaria que me marcasse uma reunião a fim de acertarmos ideias sobre o assunto. Note que, além de produtor e realizador dos filmes, fui eu próprio que os montei, sendo portanto conhecedor em pormenor daquilo que há para ser feito.

Será também de comum interesse estarem as coisas organizadas de modo a encararmos a possibilidade de uma edição em DVD de alguns destes filmes, coisa que para mim é particularmente importante.

Com os meus melhores cumprimentos,

Ricardo Costa

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CARTA DOS SERVIÇOS JURÍDICOS DA SPA AOS DA RTP em 30 de novembro de 2011

RTP – Rádio e Televisão de Portugal

Direcção de Aquisições e Controlo de GrelhasA/ C Dra. Isabel CarvalhoAv. Marechal Gomes da Costa, 371849-030 LisboaLisboa, 30 de Novembro de 2011

Assunto: Contrato de Exibição e Comercialização em TV do Filme “Cravos de Abril”

Exma. Dra. Isabel de Carvalho,

receba, antes de mais, os nossos melhores cumprimentos. Vimos à presença de V/ Exa. no seguimento da recepção de uma cópia da carta enviada ao realizador Ricardo Costa, nosso cooperador, datada de 11 de Setembro p.ºp.º – em resposta a uma primeira informação transmitida por este Autor, quanto à caducidade do contrato de exibição e comercialização em TV do Filme “Cravos de Abril”, de sua autoria.

Ora, nos termos do artigo 6º, nº 1, alínea j) dos Estatutos desta Cooperativa, compete à Sociedade Portuguesa de Autores, entre outras atribuições, a de “...agir, em representação dos seus cooperadores e beneficiários, no exercício e na defesa dos direitos de propriedade intelectual de que eles sejam titulares, tanto de carácter patrimonial como moral”, diligenciando todas as medidas conducentes à sua eficiente protecção e ao seu integral respeito.

Por este motivo, e atendendo à salutar relação existente entre a SPA e a RTP, pautada pelo diálogo, transmitimos o nosso melhor entendimento, que expomos de seguida.

I. Do prazo de protecção dos Direitos de Autor

Cumpre agradecer a sucinta explicação cronológica, realizada ao N/ representado, a fim de transmitir que, à data da celebração do contrato em apreço, estava em vigor um outro compêndio jus-autoral (o Decreto-Lei n.º46.980, de 27 de Abril de 1966 – doravante CDA).

Ainda assim, afigura-se irrelevante para o Autor que a sua obra caia no domínio público 50 ou 70 anos após a sua morte – já não o será para os seus herdeiros ou legatários.

II. Do Contrato de exibição e comercialização da obra “Cravos de Abril”, assinado em 1976

Referem V/ Exas. que a transmissão exclusiva contratualizada, bem como o seu exercício e prazo de vigência, ficaram expressamente estabelecidos na Cláusula 5ª, preenchendo, assim, todos os elementos essenciais.

Vejamos:

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A Cláusula 5ª acorda, no n.º1, o direito exclusivo da RTP utilizar e ceder a utilização do filme “Cravos de Abril” em televisão ou exibições públicas, bem como o de efectuar, guardar, alugar ou vender quaisquer registos magnéticos dos programas que incluam o filme, ou cópias do mesmo.

Refere o n.º2 da mesma cláusula que tais direitos poderão ser exercidos de uma ou mais vezes, em todo o tempo e em qualquer lugar.

Pois bem, dispõe o artigo 124º, n.º2, do CDA, que o exclusivo concedido, na falta de cláusula expressa em contrário, caduca ao fim de sete anos sobre a celebração do respectivo contrato. Contudo, mesmo após 1983, continuou a RTP a utilizar, em exclusivo, o filme em referência.

Aliás, são V/ Exas. que possuem os negativos da película ainda hoje – razão pela qual, desde a celebração do contrato até à data, foram a única entidade com o privilégio de difundir, comunicar e reproduzir imagens irrepetíveis de tão marco histórico, não tendo mais o Autor fruído da sua obra.

Questionamo-nos se, ao longo destas décadas, actuaram V/ Exas. como se de uma cedência total se tratasse. Atente-se para as expressões contratuais “utilizar o filme” e “em qualquer lugar” - reveladoras de um âmbito indefinido e abrangente de cedência (ao contrário do entendimento de V/ Exas, em como as modalidades de uso se encontram especificadas).

Quanto a isso, alertamos que o contrato não foi celebrado por escritura pública (critério obrigatório de forma em caso de cedência total, sob pena de nulidade, nos termos do artigo 44º, n.º2 do CDA), pelo que não poderá estar em causa uma cedência total.

Como hipótese residual, sendo uma cedência parcial, a expressão “para todo o tempo” não delimita a sua vigência; o artigo 44º, n.º2, do CDA estatui a obrigatoriedade de tais informações constarem, especificamente, no contrato.Portanto, caso fosse uma cedência parcial e definitiva, teria de estar textualmentecontratualizado o seu carácter definitivo.

Ao invés, utilizaram as partes a expressão “para todo o tempo”, permitindo, assim, margem de manobra para, no âmbito da sua autonomia contratual, sem prejuízo das causas de resolução tipificadas na lei, poderem denunciar o presente negócio jurídico.

Efectivamente, o CDA nada dispunha quanto ao prazo de vigência de um Contrato de cedência de direitos, quando o mesmo era omisso nas cláusulas contratuais.

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de Março (Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos – seguidamente CDADC, alterado pelas Leis n.ºs 45/85, de 17 de Setembro, e 114/91, de 3 de Setembro, Decretos-Lei nºs 332/97 e 334/97, ambos de 27 de Setembro, pela Lei n.º 50/2004, de 24 de Agosto, pela Lei n.º24/2006, de 30 de Junho e pela Lei n.º 16/2008, de 1 de Abril ), tal prazo passou a ser de 25 anos em geral, e de 10 anos nos casos de obra fotográfica ou de arte aplicada, conforme o disposto no artigo 43º, n.º4.

Havendo sucessão de leis no tempo, estabelece o artigo 12º, n.º1, do Código Civil, o princípio da não retroactividade.

Porém, existem situações jurídicas constituídas no passado que se prolongam no futuro. Para esses casos, cujos efeitos decorrem durante a vigência da lei nova, é esta

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a competente, por força do disposto no artigo 12º, n.º2, segunda parte, do Código Civil.

Desta forma, o contrato em apreço, por subsistirem os seus efeitos à data da entrada em vigor do actual CDADC, encontra-se, por este, regulado.

Assim, observando-se o prazo preceituado de 25 anos, conclui-se pelo entendimento deste N/representado – em como o contrato se encontra caducado, desde Março de 2010, por decurso do tempo, revertendo os direitos de autor, na totalidade, para os titulares originários.

Por último, não podemos deixar de salientar ter conhecimento que V/ Exas. utilizaram trechos deste filme, no decorrer dos anos, com a indicação apenas “Arquivo RTP”, quando o artigo 130º do CDA (actual 142º do CDADC) determina o direito dos autores da obra cinematográfica verem os seus nomes indicados na projecção da película.

Pelo exposto, solicitamos, em representação do Autor Ricardo Costa, que os negativos do filme “Cravos de Abril” possam ser depositados na Cinemateca, a fim de serem restaurados, e objecto de novas utilizações, em condições a acordar, e sobre as quais manifestamos, desde já, todo o nosso interesse e disponibilidade.

III. Em respeito às restantes obras da autoria de Ricardo Costa

Aproveitamos, ainda, para solicitar que depositem, para restauro, na Cinemateca, os negativos da série televisiva “O Homem Montanhês” (contrato celebrado em 02 Fevereiro de 1979) e do filme televisivo “O Pão e o Vinho”, servindo a presente comunicação para informar que, em respeito a estes contratos, tecemos os mesmo comentários supra.

Certos do cabal esclarecimento desta questão, subscrevemo-nos, com os melhores cumprimentos.

Atentamente,

Inês LúcioServiços Jurídicos

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RESPOSTA DOS SERVIÇOS JURÍDICOS DA RTP AOS DA SPA a 11 de janeiro de 2012

RÁDIO E TELEVISÃO DE PORTUGAL SA

CARTA REGISTADA C/AR

Sociedade Portuguesa de AutoresServiços JurídicosA/C Dra. Inês LúcioAv. Duque de Loulé, 311069-153 Lisboa000235 12JAN06

Lisboa, 04 de Janeiro 2012

Assunto : contrato de exibição e comercialização em TV do filme “Cravos de Abril” de Ricardo Costa.

Ex. mos:

Depois de analisada a vossa carta relativa à defesa dos direitos do seu representado, Dr. Ricardo Costa sobre o contrato celebrado em Abril de 1976 (adiante Contrato), cumpre dizer o seguinte:

Efectivamente os elementos essencial do contrato celebrado entre a RTP e o Dr. Ricardo Costa para cedência dos direitos de exibição e comercialização em televisão (constam na sua cláusula 5º e esta bastará para que sejam evidentes duas confirmações relativas à liberdade contratual que assistiu às partes signatárias (na altura como hoje):

I. Revela-se claro que o âmbito de cedência da obra pretende ser extensiva em todos os seus prismas tendo em conta, o estado da tecnologia da altura aplicada ao sector audiovisual e por isso mesmo apenas os direitos de televisão foram objecto do Contrato;

II. Ficou estipulado que qualquer âmbito de cedência é claramente balizado quanto ao tempo e quanto ao espaço, sem limitações, ou seja, por um lado “em qualquer lugar” e, por outro lado, “a todo o tempo”. Nada existe na letra (nem tão pouco no espírito) deste clausulado que leve a uma interpretação em contrário.

Assim, mais uma vez reiteramos que a expressão “a todo o tempo” merce ser considerada como manifestação da vontade das Partes quanto à cedência dos direitos de exploração da sua Obra. Parece-nos aliás um pouco paradoxal que se argumente que a expressão “a todo o tempo” não tenha qualquer significado legal já que, se assim fosse, muito simplesmente essa expressão não teria sido incorporada no clausulado do contrato. Se as Partes contratantes tivessem pretendido limitar o exercício dos direitos no tempo , o que não aconteceu, Tê-lo-iam, obviamente, estipulado!

Desta forma, se ao longo destas décadas a RTP utiliza a obra como de uma cedência total se tratasse é pela única e simples razão de que, se trata de uma

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cedência total no seu escopo temporal (e já agora também quanto ao número de utilizações contempladas).

Muito menos podemos estar de acordo quando é dito que a expressão “a todo o tempo” foi utilizada pelas partes para servir de “margem de manobra“ para poderem estas denunciar o contrato já que, para tal, servem e existem diversas cláusulas de denúncia e resolução contempladas na lei e que podem ser, como tal, incluídas no corpo do contrato servindo exactamente para esse propósito, ou, na falta de uma manifestação expressa nesse sentido, regem-se estas questões pela aplicação das normas supletivas de renúncia e resolução contratual. Aliás seria de todo incompreensível que as partes pretendessem regular as condições de denúncia do contrato no normativo respeitante ao exercício dos direitos sobre a obra.

Em jeito de remate na questão ora em apreço, reafirmamos que é da nossa opinião que o contrato não se encontra, de forma alguma caducado e os seus efeitos produzir-se-ão durante o tempo até que a obra entre em domínio público por imperativo legal segundo as normas do Decreto-Lei nº 63/85 de 14 de Março.

Por outro lado, quanto às obras “O Pão e o Vinho” e “O Homem Montanhês”, sobre as quais vem agora ser atribuída igual caducidade, nos mesmos termos empregados no exame da obra “Cravos e Abril”, em conformidade com o dispostos nas cláusulas 6ª e 7ª respectivamente de cada um dos contratos, ou seja, com exclusividade, para todo o tempo e em qualquer lugar.

Assim mesmo, no que diz respeito à alegada caducidade dos contratos de cedência de direitos sobre as demais obras já referenciadas como “O Pão e o Vinho” e o “Homem Montanhês”, a nossa posição assume os mesmos fundamentos legais anteriormente utilizados para o estudo da problemática relativa à pretensa caducidade dos direitos objecto do contrato “”Cravos de Abril”.

Finalmente, no que aos suportes materiais destas obras diz respeito, não nos afigura que a RTP tenha qualquer obrigação de os depositar na Cinemateca Nacional, conforme vossa pretensão, já que, os direitos de propriedade material existentes sobre estes suportes pertencem à RTP nos termos da cláusula 4ª do contrato referente ao Contrato “Cravos de Abril”, cláusula 6ª do contrato referente ao contrato “O Pão e o Vinho” e cláusula 8ª do contrato referente ao contrato “O Homem Montanhês”.

Sem outro assunto, subscrevemo-nos atenciosamente.

Direção de Aquisições e Controlo de Grelhas

(assina a dra. Isabel de Carvalho)

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EMAIL ENVIADO AOS SERVIÇOS DE CONTENCIOSO DA SPA a 1 março de 2012

Cara Dra. Andreia Andrade,

A resposta da RTP merece da minha parte os seguintes comentários:

1 – É omissa quanto à série MAR LIMIAR, de que sou produtor e realizador. Não foi assinado na época qualquer contrato entre mim e a RTP para a produção desta série, que se limitou a ceder a película, com revelação dos negativos e com tiragem de cópias para exibição, além de serviços de montagem. Foi-me pago por cada episódio (cerca de 25 minutos) uma quantia irrisória, mesmo para a época, destinada a cobrir os salários da equipa e como contribuição para reduzir os custos de produção. Recorria, filme a filme, a apoios autárquicos e outros para conseguir produzir os filmes.

Essa série inclui duas longas-metragens: AVIEIROS e MAU TEMPO, MARÉS e MUDANÇA, que a RTP nunca exibiu como tal: cada um dos filmes foi difundido em três partes, em três meses seguidos. Nunca me foram cedidas cópias desses filmes, o que representa um “buraco negro” na minha cinematografia.

Foi vendida uma cópia em DVD deste último filme há uns dois anos a um particular, pela quantia de 1500€, uma exorbitância. A cópia foi feita de um suporte digitalizado, sem necessidade de telecinema, e vendida sem meu conhecimento e sem pagamento de direitos.

Presumo que sou detentor por inteiro dos direitos de autor destes filmes.

Ver REFERÊNCIA: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mar_Limiar

2 – Longas-metragens da série HOMEM MONTANHÊS:

CASTRO LABOREIRO/ PITÕES, ALDEIA DO BARROSO / LONGE É A CIDADE / AO FUNDO DESTA ESTRADA

Os respectivos contratos, além do da longa-metragem O PÃO E O VINHO, foram assinados entre a SPA e a RTP. Neles está implícito serem exclusivamente meus os direitos enquanto obras cinematográficas, detendo a RTP os direitos para exibição televisiva: três episódios por filme. O suporte original desses filmes é em película a cores.

Pelo protocolo assinado entre a RTP e o Ministério da Cultura de um anterior governo, e independentemente do caso específico destas obras (o acordo abrange TODO O PATRIMÓNIO EM FILME DA RTP), aquela compromete-se a depositar esses originais no ANIM. Isso não terá sido feito visto a Cinemateca Portuguesa não ter ainda concluído a construção dos cofres em que todo esse material será guardado e preservado.

Todo esse património em película foi digitalizado pela RTP, que guarda nos seus arquivos os respectivos suportes. Essa operação foi paga pelo Estado. Não tem, por isso, qualquer justificação a pretensão de a RTP manter nos seus arquivos os suportes em película dos meus filmes.

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Como vos referi em contactos anteriores, há um precedente nesta matéria em que a SPA interveio: um filme de Dórdio Guimarães, que a RTP teve de depositar no ANIM, em nome do autor.

Deduzo que o teor da resposta que vos foi dada pelos respectivos serviços jurídicos denota total ignorância destes factos ou inqualificável prepotência.

Sublinho que a impossibilidade de eu comercializar ou simplesmente divulgar estas obras me traz consideráveis prejuízos.

Faço notar que a RTP deverá aceitar ainda a cedência A PREÇOS DE MERCADO de cópias digitalizadas de qualquer destes filmes, caso eu as solicite. Um princípio deontológico a isso a obriga, não só por ter beneficiado a baixo custo com a produção destas obras como também, e particularmente, porque será para mim incomportável proceder a novas digitalizações a partir da película.

Agradecendo a vossa atenção, solicito o vosso empenho em dar a mais rápida solução a este caso.

Os meus cumprimentos,

Ricardo Costa

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EMAIL ENVIADO AO ADMINISTRADOR DA SPA dr PEDRO CAMPOS a 8 de julho de 2012

Caro Pedro Campos,

Volvido cerca de um ano, depois da reunião que tive consigo e com a Drª Ana Cardoso, na qual acordámos quais seriam as soluções para resolver problemas que me afectam como autor e membro da SPA, nada foi resolvido e nenhumas ou só vagas e contraditórias respostas me são dadas quando vos contacto por email ou telefone. É uma situação incompreensível e grave, da inteira responsabilidade de uma instituição idónea e prestigiada como a SPA.

Por esse motivo, nos últimos contactos que fiz com funcionários vossos, tais como a Drª Mariana Guerreiro ou com João Pousadas (não consegui falar consigo nem com a Drª Ana), insisti para que me fosse marcada uma reunião urgente ainda esta semana com vista a encontrarmos soluções para tais problemas, que se arrastam interminavelmente. Dada a situação muitíssimo delicada em que me encontro, não posso esperar nem mais um dia. Estão em causa direitos geridos pela SPA que não são cobrados e usurpação de obras minhas na posse da RTP que, tal como verificámos, me pertencem de facto.

Aproveito para o informar que continuo a trabalhar na montagem do meu filme, DERIVAS, sem quaisquer apoios, como é do vosso conhecimento. Uma boa parte do filme está já montada mas não poderei conclui-la sem os apoios de que nesta fase necessito. O guião de montagem, em versão final, em que se encontram incluídos os diálogos improvisados, que não figuravam nas versões anteriores, poderá ser consultado neste endereço: http://drifts.eu

Os meus cumprimentos,

Ricardo Costa

RELATO DA REUNIÃO NA RTP em agosto de 2012 (redigido a 20 de junho de 2016)

Pedi à SPA para ser acompanhado para esta reunião por um elemento dos serviços jurídicos, o que me foi negado. Fui sozinho à reunião, que teve lugar na sede da RTP nos Olivais. Por parte da RTP estiveram presentes dois advogados, o director do arquivo e um representante da direcção, se bem me lembro umas 5 pessoas no total.

Expliquei os motivos por que pretendia obter as cópias: em formato digital, feitas a partir dos masters do arquivo da RTP, transcritos dos originais em película, operação paga com dinheiros públicos (Ver: 1 Arquivo audiovisual da RTP recuperado a pensar no futuro, 2 UM ESCÂNDALO DE IGNORÂNCIA FEITO!, 3 CINEMATECA PORTUGUESA – CONFERÊNCIA, 4 O arquivo que toma conta do cinema português). Declarei que essas cópias não se destinariam a fins comerciais mas sim à necessidade de as ter, na qualidade de autor e produtor, facilmente disponíveis para visionamento privado ou para projecções não comerciais em eventos em Portugal ou no estrangeiro.

Para reforçar essa pretensão referi os pareceres inequívocos da SPA sobre a LEI DO DIREITO DO AUTOR : os contratos draconianos impostos pela RTP a colaboradores externos (pertença a seu favor da propriedade intelectual para sempre e em qualquer lugar) eram ilegais e de facto pertença do autor. No final da conversa foi-me dito o seguinte por um dos ilustres participantes: «Por esse caminho o senhor não vai lá!». Saí da reunião frustrado. Transmiti o resultado à SPA que, desde então e até agora, nada mais me disse e nada mais fez.

Ricardo Costa

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EMAIL ENVIADO AOS SERVIÇOS JURÍDICOS DA RTP a 7 de Agosto de 2012 (forward para SPA : dra Andrea Andrade e dra Mariana Guerreiro)

Cara Dra. Isabel Carvalho,

Na última reunião que tive com os serviços jurídicos da SPA foi-me sugerido que entrasse pessoalmente em contacto consigo para que estabelecemos algum consenso sobre os direitos dos filmes que realizei e produzi para a RTP. Passo a citar quais são esses filmes e, sumariamente, quais as questões mais urgentes que gostaria de ver resolvidas.

SÉRIE MAR LIMIAR

Todos os filmes da série foram por mim realizados e produzidos. Nenhum contrato de direitos foi assinado entre mim e a RTP. Os suportes originais são em película negativa p/b de 16mm. De cada um dos negativos foram feitas cópias de exibição. A série inclui duas longas-metragens (três episódios cada) : 1 – AVIEIROS, 2 – MAU TEMPO, MARÉS E MUDANÇA, nunca exibidas nesse formato. Sublinho que não possuo cópias desses filmes e que nunca mais os voltei a ver depois da primeira e única exibição na RTP, à excepção de TI ZARAGATA E A BATEIRA, primeira parte de Avieiros, documentário legendado em alemão que figurou nos festivais de cinema de Oberhausen e de Cracóvia (ver minha filmografia).

SÉRIE HOMEM MONTANHÊS

Tetralogia de longas-metragens em negativo cor de 16mm: 1 – CASTRO LABOREIRO, 2 – PITÕES, ALDEIA DO BARROSO, 3 – LONGE É A CIDADE, 4 – AO FUNDO DESTA ESTRADA. Cada filme foi dividido em três partes para exibição televisiva. Aquando da assinatura do contrato ficou estipulado que me pertenceriam os direitos cinematográficos (longas-metragens) e que me seriam cedidas cópias a cor de cada um dos filmes. Foram-me cedidas cópias dos três primeiros, mas nunca do quarto filme. À excepção deste, os filmes foram exibidos em vários festivais de cinema. Longe é a Cidade foi legendado em francês e exibido em Paris no Museu do Homem e na Cinemateca Francesa. A RTP exibiu a série em duas emissões.

O PÃO E O VINHO

Longa-metragem produzida para a RTP2 em reversível cor de 16mm. O modelo de contratação é semelhante ao da série Homem Montanhês. O Filme foi exibido em três episódios separados, em meses diferentes. Por sugestão minha, o filme voltou a ser exibido há cerca de quatro anos, no formato de longa-metragem, numa sexta-feira de Páscoa.

SOLICITO:

1 – Que os suportes originais destes filmes sejam depositados no ANIM a curto prazo para conservação e restauro. Os respectivos depósitos deverão ser feitos em meu nome. Caso a a RTP prefira fazer o depósito dos suportes em seu nome, um protocolo deverá ser assinado salvaguardado todos os direitos que me pertencem enquanto propriedade intelectual e o acesso aos respectivos suportes para tiragem de cópias em qualquer formato.

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2 – Que a RTP proceda à tiragem gratuita de cópias digitais, a partir dos masters em seu poder, para suportes por mim fornecidos: cassetes BETACAM digitais ou DISCOS. Como prioridade, serão feitas cópias das longas-metragens. Sou membro da Cinemateca Francesa e, a exemplo de iniciativas minhas anteriores, tenciono propor-lhes um ciclo de filmes de minha autoria.

3 – Caso a RTP se mostre interessada em exibir alguns destes filmes futuramente, novas condições deverão ser acordadas.

CRAVOS DE ABRIL

O negativo foi restaurado e encontra-se depositado no ANIM. Há consenso entre mim e a SPA quanto à propriedade actual dos direitos deste filme.

Estarei inteiramente ao seu dispor para discutirmos em pormenor estes assuntos em reunião que poderá ser marcada para breve. Terei disponibilidade durante esta semana (de preferência de tarde). Estarei indisponível durante a próxima.

Com os meus melhores cumprimentos,

Ricardo Costa

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EMAIL ENVIADO AO ANIM E SPA a 25 de agosto de 2012

Cara Joana Pimentel, caro Rui Machado,

No seguimento de uma reunião que tive na passada quinta-feira, dia 23, com dois advogados e dois responsáveis do arquivo da RTP, solicito que o ANIM envie à RTP, tão cedo quanto possível, um pedido em meu nome nos termos a seguir indicados. O pedido deverá ser feito aos serviços de arquivo e dirigido a Hilário Lopes, um dos elementos desse departamento que esteve na reunião e que referiu que os filmes poderiam ser depositados desde que solicitados pelo ANIM.

PEDIDO:

A pedido do realizador e produtor de filmes Ricardo Costa, solicitamos que nos sejam entregues para conservação e restauro os suportes originais dos seguintes filmes de sua autoria:

- AVIEIROS (negativo p/b e banda magnética de 16 mm)

- MAU TEMPO, MARÈS E MUDANÇA (negativo p/b e banda magnética de 16 mm)

- CASTRO LABOREIRO (negativo cor e banda magnética de 16 mm)

- PITÕES, ALDEIA DO BARROSO (negativo cor e banda magnética de 16 mm)

- LONGE É A CIDADE (negativo cor e banda magnética de 16 mm)

- AO FUNDO DESTA ESTRADA (negativo cor e banda magnética de 16 mm)

- O PÃO E O VINHO (inversível cor e banda magnética de 16 mm)

Os meus melhores cumprimentos,

Ricardo Costa

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CARTA ENVIADA AOS SERVIÇOS JURÍDICOS DA SPA a 10 de dezembro de 2012

RICARDO COSTARua João de Deus Ramos, 5 1º esq1700-246 Lisboa Tel: 21 849 10 76

SPA: Serviços JurídicosAv. Duque de Loulé, 311069 - 153 Lisboa

Carta registadaASSUNTO: Filmes ANIM/RTPCópia e-mail para Dr. Pedro Campos e ANIM (Joana Pimentel)

Lisboa, 10 de dezembro 2012

Cara Dra. Ana Cardoso e Andreia Andrade,

Não tendo havido resposta à questão que vos enviei no meu último e-mail a 24 de setembro e que a seguir transcrevo, solicito que essa resposta me seja inequivocamente dada até ao final do corrente mês.

QUESTÃO:

«Questão fulcral ficou sem resposta: a legitimidade que tenho de aceder aos negativos para reprodução das obras sem que a RTP me impeça de exercer esse direito. Afinal quem é o detentor dos direitos de autor desses filmes? O que a SPA sempre me disse e sistematicamente defende é que esses direitos me pertencem. É isso que vos incumbe transmitir ao ANIM e é isso que eles aguardam, não só porque sou por vós representado como também por ser obrigação vossa defender direitos de autor, em todos os casos e em particular em ostensivos casos de abuso como este, prática apregoada com pompa e circunstância pela SPA em inúmeras declarações e comunicados: a SPA é autoridade no assunto.»

Dessa resposta depende quase inteiramente poder eu libertar parte fundamental dos meus filmes, que há anos se mantêm cativos nas mãos da RTP, circunstância que me afecta seriamente.

Aproveito para vos informar que o ANIM continua sem condições para poder arquivar o grosso dos filmes da RTP a curto prazo. Lembro que aceita entretanto o depósito dos meus.

Junto em anexo documento Word com cópia dos nossos últimos contactos.

Com os meus cumprimentos,

Ricardo Costa

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Email enviado a 12 de junho 2016 à SPA (serviços jurídicos)

Cara dra. Maria Inês Moreira, Como lhe referi, era já do meu conhecimento que a RTP colocara em linha para acesso público um dos meus filmes da série MAR LIMIAR intitulado Às Vezes Custa sem me dar uma só palavra.  O filme era precedido de publicidade forçada de cerca de 20 segundos, o que agora não verifico. Tive este fim-de-semana a surpresa de constatar a existência de outro: Das Ruínas do Império. Verifiquei além disso que ambos estão a ser vendidos em condições descritas no texto acessível no último dos links que junto a seguir. ÀS VEZES CUSTAhttp://www.rtp.pt/arquivo/index.php?article=141&tm=30&visual=4DAS RUÍNAS DO IMPÉRIOhttp://www.rtp.pt/arquivo/index.php?article=3452&tm=30&visual=4 Venda dos filmeshttp://www.rtp.pt/arquivo/servicos/141 O que ponho em causa é não só direitos de autor mas também o dever da RTP me pôr ao corrente do que faz dos filmes que para eles realizei. Se não estou em erro, julgo estarmos perante um abuso inadmissível. Por tal motivo, este assunto torna-se para mim prioritário. Peço-lhe assim o favor de me darem o vosso parecer tão cedo quanto possível. Os meus melhores cumprimentos, Ricardo Costa 

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EMAIL PARA A SPA (Serviços: Audiovisual e Contencioso), 17 de junho de 2016

A/C dra. Maria Inês Moreira (com encaminhamento para o ANIM)

Cara Maria Inês Moreira,

Questões de última hora obrigam-me a voltar a contactá-la.

Na sequência do pedido de cedência do filme CASTRO LABOREIRO, o primeiro da série Homem Montanhês, para o festival FILMES DO HOMEM, tomei a iniciativa de contactar o ANIM para saber se tinham em arquivo alguma cópia. Foi afirmativa a resposta. Essa cópia encontra-se no entanto degradada, tendo perdido a cor e o mesmo acontece com a do segundo filme, PITÕES, ALDEIA DO BARROSO. Os suportes em negativo de todos os filmes da série (incluindo LONGE É A CIDADE e AO FUNDO DESTA ESTRADA) encontram-se na RTP, lá continuando em condições inadequadas, degradando-se cada vez mais, ano a ano. Foi-me dito que estes originais não foram ainda enviados para o ANIM porque, embora os novos cofres que albergarão a segunda leva do património em película da RTP tenham sido construídos há já bem dois anos, a Cinemateca Portuguesa não dispõe das verbas necessárias para adquirir de imediato as prateleiras onde serão colocados.

Quanto aos negativos dos filmes da série MAR LIMIAR, confirmei que já lá se encontram todos ou quase todos. Aproveitei para levantar a questão dos meus direitos sobre esses filmes, na medida em que foram por mim concebidos, realizados e produzidos sem contrato. Foi-me respondido que tais direitos teriam sido restringidos em consequência da alteração do Código dos Direitos de Autor pela Lei n.º 49/2015. Ao precisar a questão, fui alertado para a eventualidade de a RTP considerar, ao abrigo desta nova e surpreendente lei, que os direitos de propriedade intelectual lhes pertenceriam, o que explicaria o facto de terem colocado à venda na NET dois deles. Aconselham-me a consultar-vos sobre este assunto.

Com fundamento legal ou sem ele, não posso deixar de considerar isso um abuso. Esse trabalho que fiz para a RTP em nada se assemelha ao de um jornalista que pertence aos quadros de um jornal ou cadeia de televisão, com ordenado mensal e despesas cobertas. Nunca fui empregado da RTP. Sendo admissível que tal empresa considere, ao abrigo dessa lei, que o trabalho ocasional de qualquer colaborador resulte no mesmo, não é admissível que:

1 – entenda ser a obra propriedade sua, atendendo aos mais elementares princípios do direito de autor (ou de produtor),

2 – despreze ainda princípios éticos e deontológicos fundamentais, como o dever de consultar ou tão só de informar o autor ou quem o representa sobre aquilo que anda a fazer com a sua obra,

3 – cobre, neste preciso caso, valores exorbitantes por um DVD, cujo custo de produção pouco mais é que zero,

4 – venda no mercado screeners (algo que não se vende), ao preço de 75 € por unidade (DVDs),

5 – exija o pagamento de 1500 € por três desses DVDs à filha do protagonista de um desses filmes (MAU TEMPO, MARÉS E MUDANÇA), que se sacrifica desembolsando tal maquia em memória do pai porque alguém o quis honrar num humilde festival organizado na terra onde trabalhou a vida inteira (seu pai, Manuel Pardal, pescador da Quarteira, era

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pobre, passou fome). E ela também, por tabela. E ele, homem honrado, acedeu a não pedir um tostão por se retractar em troca da honra que lhe davam.

Faço aqui ponto final, embora o assunto merecesse mais vírgulas.

Em relação a este assunto ainda, aproveito para acrescentar o seguinte: se porventura o procedimento da RTP tem fundamento legal, exijo, em nome próprio e de quem quer que seja vítima do mesmo, que a administração da SPA tome contra essa lei medidas tão adequadas e tão meritórias como as que tem tomado contra a pirataria. (Ver : Vitória do direito de autor sobre a pirataria: SPA empenhada na defesa dos autores)

Em relação ao que por vós me foi recomendado quanto aos direitos anexos (consultar a GEDIPE) aproveito também para acrescentar mais algumas palavras:

1 – A fim de cobrir os custos de produção dos filmes da série, para além da ajuda generosa da RTP (3.000 escudos e 6.000 mais tarde, por episódio) vi-me obrigado a mendigar ajuda suplementar a autoridades locais (umas vezes bem sucedido outras nem por isso) apenas para duas pessoas, eu próprio e um operador de som.

2 – Além dessa benesse, a RTP contribuía, na qualidade de co-produtor, com fornecimento de película, serviços de laboratório, de montagem e com um locutor, quando havia voz over. A minha comparticipação incluía todo o equipamento de filmagem, carro e tudo o resto, além da orientação do trabalho de montagem e do acabamento dos filmes. Todos os outros filmes que fiz em co-produção com a RTP foram feitos em idênticas condições.

3 – Ao analisar quais as vantagens em consultar a GEDIPE, verifico tratar-se de uma associação em que não só não teria lugar mas também e sobretudo porque representa interesses que são o oposto dos meus. Nada beneficiaria com uma consulta a uma organização que representa tão importantes e poderosas entidades, em que a própria RTP se encontra honrosamente incluída. Sobre esta questão poucas dúvidas me restam, todos nós vemos diariamente quais são os seus resultados.

Insisto em que a resposta a estas questões me seja dada por escrito.

Com os meus respeitosos cumprimentos e sinceros desejos dos maiores sucessos,

Ricardo Costa

VER :

* C omemorações do centenário do nascimento do poeta Pardal em Quarteira – notícia do Câmara Municipal de Loulé, 10 agosto de 2016

* Reeditada obra de Manuel Pardal, "a voz" da comunidade piscatória de Quarteira – notícia da RTP, 16 agosto de 2016

* Quarteira recorda Poeta Pardal e reedita «Em Cima do Mar Salgado» – artigo de Daniel Pina

* Manuel Pardal - Um rastro de génio popular – artigo publicado em Loulé Cidadania

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RC filmesRua General Taborda, 65. 1º esq 1070 -138 LisboaTel : + 351 21 849 10 76 Portugalhttp://ricardocosta.net [email protected]

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Ao ANIM, carta enviada via email a 23 de junho e reformulada a 1 de julho de 2016(Ver rodapé)

PROPOSTA DE CEDÊNCIA DE DIREITOS AO ANIM

É minha intenção doar ao ANIM para domínio público os meus direitos de autor dos seguintes filmes:

- CRAVOS DE ABRIL

- O PÃO E O VINHO

- série MAR LIMIAR (29 curtas metragens incluindo duas longas)

- série HOMEM MONTANHÊS (4 longas-metragens)

As cópias destes filmes serão fornecidas pelo ANIM em qualquer suporte (com boa qualidade) ao preço de tiragem, acrescido de uma percentagem destinada, enquanto retorno, ao restauro e preservação das obras cinematográficas portuguesas depositadas nos seus cofres. O montante dessa percentagem será, caso a caso, determinado pelo ANIM. Pressuponho que esse montante poderá ser fixo quando os filmes se destinam a fins de utilidade pública e variável se destinados a fins comerciais. O mesmo princípio será aplicado no caso de cedência de excertos ou de fotogramas.

A doação passará a ser válida após a assinatura de um protocolo entre mim e o ANIM. Uma minuta desse protocolo será redigida uma vez estudadas quais serão as condições mais adequadas para que o pretendido legado se efectue. Na qualidade de representante dos meus direitos e de participante na revisão em curso do código do direito e autor a SPA será desde já informada desta proposta. Caso se verifique ser conveniente, o formulado da proposta poderá entretanto ser corrigido ou melhorado.

Os motivos que me levaram a tomar esta decisão e se fundamentam na documentação que pode ser consultada em linha ressumem-se no seguinte:

1 – Todos os filmes da série MAR LIMIAR foram exibidos apenas uma vez, entre 1975 e 1977, em horário regular aos domingos de manhã. Eu próprio nunca mais os vi. O público em geral a que se destinam só então teve oportunidade de os ver.

2 – Incluindo as outras obras acima mencionadas, não tenho qualquer interesse em obter retorno enquanto autor, realizador e co-produtor.

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3 – O meu único interesse é que este património, por certo com valor histórico e porventura com algum artístico, possa ser preservado e divulgado. Julgo, sem equívoco, que nenhum motivo justifica que trabalhos como estes fiquem esquecidos, quer nos depósitos empoeirados da RTP quer nos cofres do ANIM.

4 – Estou certo que pessoas como eu se desesperam por razões idênticas, ao ponto de se calarem e, pior ainda, deixarem que tão pesado motivo se afunde no esquecimento. Há já dez anos esquecido, quantos ainda assim vai ficar?

5 – É verdade ou não que se encontram em risco de extinção obras de que sou autor e as de outros, de certeza mais relevantes que as minhas?

Por todos estes motivos solicito a vossa melhor atenção.

NB: na sequência de contactos hoje tidos com o ANIM, decidi reformular a proposta nos presentes termos e enviá-la directamente ao Snr. MINISTRO DA CULTURA e ao Snr. PRESIDENTE DA SPA. Tratando-se de algo do interesse público, sinto-me ainda no dever de publicamente o divulgar.

Com meus respeitosos cumprimentos,

Ricardo Costa

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NB – texto do email enviado ao Ministério da Cultura e à SPA:

Cara Dra. Sá Marques, Caro José Jorge Letria, Junto em anexo o documento em Word de uma proposta com implicação na revisão em curso do código do direito de autor e direitos anexos para a qual  solicito a vossa melhor atenção. Com os meus melhores cumprimentos, Ricardo Costa

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NOTÍCIA DA SPA DE 20 DE JUNHO 2016:

Objectivos da SPA na audiência com o Ministro da Cultura em 22 de Junho

NOTÍCIA DA SPA DE 23 DE JUNHO 2016:

Ministro da Cultura reconhece importância e qualidade do trabalho da SPA e abre portas para formas concretas de cooperação

CITAÇÃO das referências desta notícia quanto à revisão do Código do Direito do Autor:

« … o ministro da Cultura assegurou que vai ser analisada pelo seu gabinete a proposta de revisão do Código de Direito de Autor … »

« O ministro da Cultura sublinhou ainda o interesse do seu ministério em trabalhar regularmente com a SPA para a concretização de vários projectos de interesse comum e do interesse dos criadores e do público em geral. Outras reuniões de trabalho com representantes do Ministério da Cultura virão a decorrer em breve. »

NB: Ficamos no entanto sem saber se estas boas notícias obrigam a RTP a reparar certos atropelos que entretanto cometeu. Se a isso não se sentir obrigada, as feridas que causou a criadores e ao público em geral não ficarão saradas.

24 de junho 2016

Ricardo Costa

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NB: email por mim enviado a 13 julho de 2016 a destinatário aqui não identificado-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

DUAS QUESTÕES FULCRAISA PRIMEIRA questão é a necessidade e urgência em salvaguardar o património fílmico português que se encontra em sério risco de se tornar irrecuperável por falta de medidas adequadas, quer por a Cinemateca Portuguesa não ter qualquer hipótese de restaurar milhares de metros de película arrecadados nos seus cofres quer por aqueles que se encontram ainda na RTP, em condições bem mais precárias, não poderem ser para lá transferidos por falta de dinheiro para comprar prateleiras onde os colocar. O restauro da película é um processo lento e acarreta custos vultuosos. Pelo andar da carruagem, décadas se passarão para que meia dúzia de longas metragens sejam salvas por esse processo.

Para este mal não vejo outro remédio que não seja a digitalização por telecinema dos suportes originais. Este processo permitirá arquivar a baixo custo centenas de filmes em discos rígidos que ocuparão pouco espaço, mesmo sendo duplicados em back-up e colocados por precaução em arquivos que não os do ANIM. Os custos de tal precaução serão incomparavelmente inferiores aos da preservação em película e mais ainda graças aos progressos tecnológicos que a curto prazo o futuro nos trará.

Sendo de esperar que os fundos de que o Estado possa dispor para esta opção continuem a ser escassos, julgo haver soluções para isso. Uma delas poderá servir de exemplo e honrará qualquer realizador: a doação de algumas obras suas à Cinemateca para que esta possa cobrar uma pequena taxa de retorno na venda de cópias ao público. Se todos o fizerem, a cooperação será relevante.

A SEGUNDA questão (esta relativa a certos desmandos da RTP ou de quem quer que os imite) está contida no formulado do

CAPÍTULO VI DOS DIREITOS MORAIS :

“ARTIGO 56º Definição 1 – Independentemente dos direitos de carácter patrimonial e ainda que os tenha alienado ou onerado, o autor goza durante toda a vida do direito de reivindicar a paternidade da obra e de assegurar a genuinidade e integridade desta, opondo-se à sua destruição, a toda e qualquer mutilação, deformação ou outra modificação da mesma e, de um modo geral, a todo e qualquer acto que a desvirtue e possa afectar a honra e reputação do autor.”

Naquilo que descrevo nos documentos SPA & RTP é isso que faço, denunciando mutilação e deformação de imagens e do formato de dois filmes meus que a RTP pôs à venda sem meu conhecimento e sem qualquer legitimidade. Vejo que é prática corriqueira. Sei, por exemplo, que algo de semelhante foi feito recentemente com a venda de uma cópia do filme Dom Roberto do Ernesto de Sousa para exibição no Brasil, facto que é do conhecimento do ANIM.

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Que tais atropelos ao direito do autor sirvam de exemplo à SPA, que tanto tem feito para reprimir a pirataria. Que não nos iludam com proclamados direitos que mais consistem em arrecadar do que alguma coisa dar, da parte de quem tem esse dever. Que pessoa é o autor (ou quem o representa) que só pensa em vender aquilo que ele faz e que nada dá? Que público é o seu que perante isso não ergue o dedo? Só quem tem dinheiro no bolso tem o direito de ler um livro ou de ver um filme?

Questões melindrosas, julgo eu, que exigem respostas cuidadas mas urgentes.

Ao vosso dispor, com um abraço,

Ricardo Costa

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E-MAIL DE CARLOS VIANA (director do festival de cinema FILMES DO HOMEM de Melgaço) relativo à exibição da longa metragem CASTRO LABOREIRO (16 de julho 2016)

Bom dia Ricardo Costa, Infelizmente, por não termos conseguido atempadamente autorização para a projeção em Castro Laboreiro, não o incluímos na programação deste ano (tínhamos um tempo limite para o fazer).

Ainda tentámos a Cinemateca, mas a resposta foi:

“Na sequência do vosso e-mail, gostaríamos de começar por referir que, como sabem, enquanto museu e arquivo nacional de cinema, a Cinemateca é uma instituição dedicada à salvaguarda e à divulgação museológica do património cinematográfico e não uma distribuidora cultural. A Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema através do seu serviço de arquivo (ANIM - Arquivo Nacional das Imagens em Movimento), tem por atribuições a guarda, a conservação e a preservação do património fílmico português. Grande parte dos materiais fílmicos em arquivo são elementos de preservação dos próprios filmes – materiais esses que respeitam o suporte original das obras, maioritariamente em película. Como compreenderão, nesta fase de transição tecnológica, não temos possibilidade de converter sistematicamente o nosso acervo, por questões de natureza financeira e logística, além de questões de padronização tecnológica.

Relativamente ao filme Castro Laboreiro, Ricardo Costa, 1979 esclarecemos que conservamos apenas em arquivo material positivo, de época, no suporte original 16mm, com elevada degradação cromática, parte dele incompleto. “ Na próxima edição do Festival será certamente incluído. (…) Com os melhores cumprimentos

Carlos Viana 

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CINEMATECA PORTUGUESA : salvaguarda e divulgação do património cinematográfico português “ … como sabem, enquanto museu e arquivo nacional de cinema, a Cinemateca é uma instituição dedicada à salvaguarda e à divulgação museológica do património cinematográfico e não uma distribuidora cultural ... “ (CIT.)

COMENTÁRIO à explicação dada pela Cinemateca Portuguesa (documento por mim redigido a 20 de julho deste ano : ver página anterior)

UMA BIBLIOTECA DO CINEMA

O conceito que motivou a criação da Cinemateca Portuguesa é inspirado pelo que deu origem à Cinemateca Francesa. Nesta mímica há no entanto um elemento fundamental que ficou pelo caminho: o acesso ao visionamento dos filmes em arquivo (no caso português, o do ANIM) e à documentação com eles relacionada em local de fácil acesso (como o da cinemateca, em Lisboa).

A Cinemateca Francesa criou, juntamente com um arquivo destinado à salvaguarda de obras cinematográficas, uma biblioteca em Paris, em local bem central, onde essas obras podem ser vistas todos os dias e onde documentação exaustiva pode ser consultada por cinéfilos, historiadores, investigadores, por qualquer pessoa, em suma. Chama-se BIFI (Bibiothèque du film). No que toca a Cinemateca Portuguesa nada disso existe. Declarar ser sua função apenas a conservação do património fílmico nacional e não exercer funções de agente de difusão cultural é uma estranha contradição (“museu e arquivo destinado à divulgação do património cinematográfico”). Se o faz, embora sem fins lucrativos, “distribui” cultura: difunde informação e conhecimento, estimula a arte do cinema. É uma nobre função. Dizer que não é distribuidora cultural é um sofisma. A conotação desta palavra converte-se em denotação negativa para nos iludir, para esconder a miséria a que a cultura é votada há décadas por governos da nação que subestimam o seu valor económico, facto que a Sociedade Portuguesa de Autores não se cansa de alardear com toda a razão e mais alguma. Que outra instituição que não a Cinemateca Portuguesa terá a competência e o dever de divulgar o cinema que se fez e se faz em Portugal?

Que investimento terá o Estado que fazer para superar esta pobreza? Meio caminho andado será adquirir um telecinema para digitalização dos filmes: um simples projector que, em vez de projectar a imagem num ecrã a converte em sinal electrónico. Para o resto do percurso, basta armazenar as cópias digitalizadas em discos rígidos, cada vez mais fiáveis e mais baratos graças às novas tecnologias e facilmente substituíveis caso os mais antigos se tornem obsoletos. Fácil será visionar cópias num simples monitor em formatos duradouros como o MP4 ou em DVD. Diga-se de resto que poucos arquivos nacionais de filme haverá no mundo que não tenham um telecinema. Por que carga de água não tem nenhum a Cinemateca Portuguesa? Só por falta de

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dinheiro? Só porque ninguém lhe acode, nem mesmo os responsáveis pela pobreza, mesmo quando o direito moral a isso os obriga? O DIREITO MORAL

O código do Direito Moral postula implicitamente o direito ao respeito pelo autor (bem expresso na lei francesa). É direito seu que a sua obra se mantenha intocável e preservada. Sendo representativa de algo particular na vida de um povo ou de uma nação, sendo história, será para além de tudo o resto, obra de interesse público. Sendo irresponsavelmente ignorada por quem, em plena consciência, faz com que seja esquecida, a coisa é grave. Particularmente grave será se valores colectivos com ela se perdem, se, muito pior ainda, muitas, muitas como ela se extinguem.

Por outras palavras: o direito moral é o alicerce de toda a arquitectura do direito do autor e, bem lá no fundo, da própria democracia. Nenhum cidadão, nenhum agente cultural, nenhum partido político deverá ignorar ou ser excluído da avaliação de tal problema em momentos de decisão. Se assim não for nada passará do mesmo. Desiludidos, fartos de responsáveis e irresponsáveis, veremos então o futuro escapar-nos por entre as mãos.

Ricardo Costa

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CONCLUSÕES

Mais de dez anos de vida à espera de nada é tempo mais que muito para qualquer mortal. Havendo outros como eu, resta saber de quanto será a soma.

Por que motivo serão coisas insustentáveis como esta tal como são na verdade ? : catástrofe anunciada, mais umas décadas túnel fora sem que se veja raiozinho de luz. Que pensar sobre a infindável tristeza que não nos larga, no dia a dia, por causa de coisas tão insensatas?

Por quê empedernir assim o futuro? Quem o faz terá de sair à vassourada, antes que o pesadelo nos faça mossa.

Alguém perdeu a cabeça. A minha ainda não saiu do lugar. Penso que outras há tão assentes como a minha. Umas tantas não perderam a esperança. Serão muitas? Quanto mais houver mais curto será o caminho. Nem eu nem tu, que em nada contribuíste para tão indigna governança, podemos alhear-nos, mesmo que isso custe, da inevitabilidade de lhe dar a volta.

Será que conseguimos? Se pouco ou nada conseguirmos, que voltas vai ela dar? Perante o inefável, somos então levados a imaginá-la, a vê-la em ficção científica… E até nos divertimos…

Ricardo Costa

documento criado a 15 de setembro de 2016

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