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1 Estudo sobre a Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini do Santo Padre Bento XVI sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja Reunião de dirigentes dos Movimentos, Associações e Serviços Eclesiais Data: 9 e 10/4/2011 Local: Mariápolis Ginetta (Vargem Grande Paulista/SP) Pesquisa: Pe. Alexandre Awi, ISch – Movimento de Schoenstatt 1. Introdução Em 11 de novembro do ano passado, o Papa Bento XVI publicou a Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, que recolhe as conclusões da XII Assembleia do Sínodo dos Bispos, celebrada no Vaticano em 2008, com o objetivo de “revalorizar a Palavra divina na vida da Igreja”. Quase dois anos após o Sínodo, este longo documento sai à luz, explicando a quase totalidade das 55 “propostas” que surgiram daquela reunião eclesial centrada na “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. a) Números do Sínodo De fato o Sínodo aconteceu de 05 a 26 de outubro de 2008 e contou com a participação de cerca de 400 pessoas em representação da Igreja Católica nos cinco continentes: 51 dos delegados da África, 62 da América, 41 da Ásia, 90 da Europa e 9 da Oceania. 173 foram eleitos pelas Conferências Episcopais às quais pertencem; 38 participaram em virtude do cargo que ocupam; 32 foram nomeados por Bento XVI e 10 foram eleitos pelas Uniões dos Superiores Gerais. Entre os 253 padres sinodais havia: 8 patriarcas, 52 cardeais, 2 arcebispos maiores, 79 arcebispos e 130 bispos. Quanto ao seu cargo, 10 eram chefes de Igrejas orientais; 30 eram presidentes das Conferências Episcopais; 24 eram chefes de dicastérios da Cúria Romana; 185 eram arcebispos ou bispos titulares; e 17 eram auxiliares. b) Brasil no Sínodo Os bispos e arcebispos brasileiros participantes do Sínodo foram: Dom Odilo Pedro Scherer, nomeado pelo Papa; o arcebispo de Mariana e presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha; o arcebispo de Belo

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Estudo sobre a Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini do Santo Padre Bento XVIsobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja

Reunião de dirigentes dos Movimentos, Associações e Serviços EclesiaisData: 9 e 10/4/2011Local: Mariápolis Ginetta (Vargem Grande Paulista/SP)Pesquisa: Pe. Alexandre Awi, ISch – Movimento de Schoenstatt

1. Introdução

Em 11 de novembro do ano passado, o Papa Bento XVI publicou a Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, que recolhe as conclusões da XII Assembleia do Sínodo dos Bispos, celebrada no Vaticano em 2008, com o objetivo de “revalorizar a Palavra divina na vida da Igreja”. Quase dois anos após o Sínodo, este longo documento sai à luz, explicando a quase totalidade das 55 “propostas” que surgiram daquela reunião eclesial centrada na “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.

a) Números do Sínodo

De fato o Sínodo aconteceu de 05 a 26 de outubro de 2008 e contou com a participação de cerca de 400 pessoas em representação da Igreja Católica nos cinco continentes: 51 dos delegados da África, 62 da América, 41 da Ásia, 90 da Europa e 9 da Oceania. 173 foram eleitos pelas Conferências Episcopais às quais pertencem; 38 participaram em virtude do cargo que ocupam; 32 foram nomeados por Bento XVI e 10 foram eleitos pelas Uniões dos Superiores Gerais. Entre os 253 padres sinodais havia: 8 patriarcas, 52 cardeais, 2 arcebispos maiores, 79 arcebispos e 130 bispos. Quanto ao seu cargo, 10 eram chefes de Igrejas orientais; 30 eram presidentes das Conferências Episcopais; 24 eram chefes de dicastérios da Cúria Romana; 185 eram arcebispos ou bispos titulares; e 17 eram auxiliares.

b) Brasil no Sínodo

Os bispos e arcebispos brasileiros participantes do Sínodo foram: Dom Odilo Pedro Scherer, nomeado pelo Papa; o arcebispo de Mariana e presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha; o arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo; o arcebispo de Ribeirão Preto e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB, Dom Joviano de Lima Júnior; o bispo de Goiás e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética da CNBB; Dom Eugène Lambert Adrian Rixen; Dom Raymundo Damasceno de Assis e Dom Filippo Santoro, nomeados pelo Papa.

Segundo Dom Joviano, em entrevista ao site da sua arquidiocese, entre os maiores desafios levantados pelo Sínodo estava a formação do povo de Deus e dos futuros ministros, que deve estar centrada na Palavra de Deus. Ele destacou que no Sínodo “falou-se muito da importância da leitura orante da Palavra de Deus – lectio divina, da presença da mulher no ensino das Escrituras e como melhorar a proclamação litúrgica da Palavra de Deus.”1

1 Cf. BOLETIM Informativo da Arquidiocese de Ribeirão Preto. Sínodo dos Bispos: entrevista com Dom Joviano. Dez/2008. n. 198. Em: http://www.arquidioceserp.org.br/default2.asp?active_page_id=820#6 Acesso em 01/03/2011.

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c) Verbum Domini e Dei Verbum

A Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, “retoma a mesma mensagem 45 anos depois” da constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II. Assim afirmou o prefeito da Congregação para os Bispos, cardeal Marc Ouellet PSS, por ocasião da apresentação do documento pontifício na Sala de Imprensa da Santa Sé.2 Não há como não lembrar a “Dei Verbum”, um documento de poucas páginas que foi decisivo para a transformação da Igreja a partir do Concílio. A reforma litúrgica, que deu amplo espaço à Palavra de Deus na missa, é fruto da Dei Verbum. Também à luz da Dei Verbum, a catequese colocou a Sagrada Escritura na mão dos catequizandos, as ciências bíblicas tiveram um grande avanço, e se proliferaram os círculos bíblicos, colocando finalmente a Bíblia Sagrada nas mãos dos católicos.

A nova Exortação Pós-Sinodal Verbum Domini não exclui, antes retoma e avança na mesma direção da Dei Verbum, apresentando-a como passo consequente de toda a caminhada litúrgica e pastoral da Igreja. Ambos documentos estão em sintonia e se complementam no que se refere à reflexão eclesial sobre a Palavra de Deus. A Verbum Domini responde às necessidades da Igreja neste nascente terceiro milênio, afirmou o cardeal Ouellet. Disse também que, ainda que no século 20 tenha havido um renascer de consciência da necessidade da Palavra de Deus em temas como a reforma litúrgica, a catequese e os estudos bíblicos, "existe um déficit que deve ser suprido em relação à vida espiritual do povo de Deus". Segundo ele, "este tem o direito de ser mais inspirado e nutrido por uma aproximação mais orante e mais eclesial das Sagradas Escrituras".

O cardeal destacou também que Bento XVI, em vários pontos da exortação apostólica, insiste em que o cristianismo “não é fruto de uma sabedoria humana ou de uma ideia genial”, e sim “de um encontro e de uma aliança com uma Pessoa que dá à existência humana sua orientação e forma decisivas”. Concluiu ainda que a Verbum Domini “oferece, assim, a contemplação pessoal e eclesial da Palavra de Deus nas Sagradas Escrituras, na Divina Liturgia e na vida pessoal e comunitária dos fiéis".

Outro tema importante desta exortação apostólica, e que a aproxima também da Dei Verbum, é a preocupação com a correta interpretação das Escrituras, já que Bento XVI dedicou quase 40 páginas a este tema, um destaque ainda maior que o encontrado nas “propostas” dos bispos sinodais. O Papa sublinha a necessidade de apresentar uma hermenêutica de forma clara, construtiva, situando a ciência bíblica, exegética e teológica no interior e ao serviço da fé da Igreja. Faz-se necessária, portanto, uma interpretação das Sagradas Escrituras que deve ser complementada com uma leitura teológica e científica e que, além disso, exige "o valor da exegese patrística" e que convida "os exegetas, teólogos e pastores a um diálogo construtivo para a vida e para a missão da Igreja".

Outro aspecto a se destacar é a relação da meditação da Palavra de Deus com a atividade missionária e a evangelização, pois a Sagrada Escritura “renova a consciência da Igreja de ser amada e sua missão de anunciar a Palavra de Deus com audácia e com confiança na força do Espírito Santo”.

2 Cf. VILLA, Carmen Elena. Verbum Domini: Exortação Apostólica em sintonia com a Dei Verbum. Em: http://www.promotoresdavida.org.br/noticias/286-verbum-domini-exortacao-apostolica-em-sintonia-com-a-dei-verbum. Acesso em 01/03/2011.

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2. Apresentação Geral

Na apresentação oficial da Exortação Apostólica3, no dia 11/11/2010, na Sala de Imprensa do Vaticano, o arcebispo Nikola Eterovic, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos, expôs uma breve explicação geral sobre o documento. Ele esclareceu que os objetivos da exortação são múltiples: comunicar os resultados da Assembleia sinodal; redescobrir a Palavra de Deus como fonte de renovação constante da Igreja; promover a animação bíblica da pastoral e a formação bíblica de todos os fiéis; ser testemunhas da Palavra; continuar, com renovado entusiasmo, a missão ad gentes e retomar com todas as forças a nova evangelização; promover o diálogo ecumênico; amar cada vez mais a Palavra de Deus.

O documento consta de uma introdução, três partes e uma conclusão. O arcebispo explicou que na primeira parte, intitulada “Verbum Dei”, o Papa insiste no “papel fundamental de Deus Pai, fonte e origem da Palavra, como também da dimensão trinitária da revelação”.

No primeiro capítulo, “O Deus que fala”, acentua-se “a vontade de Deus de abrir e manter um diálogo com o ser humano, no qual Deus toma a iniciativa e se revela de diferentes maneiras”. Também “se destaca o aspecto cristológico da Palavra, sublinhando ao mesmo tempo a dimensão pneumatológica”. Nesta parte se enfrenta a relação entre Escritura e Tradição, como também o tema da inspiração e verdade da Bíblia.

O segundo capítulo tem como título “A resposta do homem ao Deus que fala”. “O homem está chamado a entrar na Aliança com Deus, que o escuta e responde a suas perguntas. Ao Deus que fala, o homem responde com a fé. A oração mais indicada é a realizada com as palavras que o próprio Deus revelou, e que se encontram escritas na Bíblia”.

O terceiro capítulo está dedicado ao tema “A hermenéutica da Sagrada Escritura na Igreja”. Afirma-se que a Sagrada Escritura deveria ser, como o diz a Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Divina Revelação, “a alma da sagrada teologia”. Recorda-se que “a hermenêutica bíblica do Concílio Vaticano II deve ser redescoberta a fim de evitar um certo dualismo da hermenêutica secularizada, que poderia dar lugar a uma interpretação fundamentalista e espiritualista da Sagrada Escritura. A reta hermenêutica exige a complementaridade do sentido literal e espiritual, uma harmonia entre fé e razão. No concernente à relação entre cristãos e judeus com referência às Escrituras”, se sublinha que é muito especial, porque partilham boa parte delas.

A segunda parte tem como título “Verbum in Ecclesia”. No primeiro capítulo, “A Palavra de Deus e a Igreja”, “se sublinha que graças à Palavra de Deus e à ação sacramental, Jesus Cristo é contemporâneo aos homens na vida da Igreja”.

“A Liturgia, lugar privilegiado da Palavra de Deus” é o título do segundo capítulo, no qual se insiste “no nexo vital entre a Sagrada Escritura e os sacramentos, em particular, a Eucaristia”. Recorda-se a importância do Leccionário, do ministério do leitorado, da Palavra de Deus na Liturgia das Horas e no Ritual de Bênçãos. Além disso, um tema de grande importância e que

3 Cf. http://www.caminocatolico.org/web/index.php?option=com_content&task=view&id=1941&Itemid=1. Acesso em 01/03/2011.

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sobre o qual o Papa insiste nesta exortação pós-sinodal é a boa preparação da homilia, mencionando a necessidade de um diretório homilético.

O terceiro capítulo está dedicado à “Palavra de Deus na vida eclesial”, onde se destaca a importância da animação bíblica da pastoral, a dimensão bíblica da catequese, a formação bíblica dos cristãos, a Sagrada Escritura nos grandes encontros eclesiais, e a Palavra de Deus em relação com as vocações. Neste capítulo se dá especial destaque a um dos pontos fortes do Sínodo: a insistência na “lectio divina”, como forma privilegiada de leitura orante da Palavra de Deus (lectio, meditatio, oratio, contemplatio et actio). Dá-se um destaque também às formas de oração mariana (Rosário, Angelus, Akatistos, etc) e à importância da relação da Palavra com a Terra Santa.

A terceira parte tem como título “Verbum mundo” e destaca “o dever dos cristãos de anunciar a Palavra de Deus no mundo em que vivem e trabalham”.

O primeiro capítulo fala da “Missão da Igreja: anunciar a Palavra de Deus ao mundo”, assinalando que a Igreja está orientada ao primeiro anúncio, “ad gentes”, a todos os que ainda não conhecem o Verbo, a Palavra de Deus, mas também aos já batizados que necessitam de uma nova evangelização para redescobrir a Palavra de Deus. Insiste também na coerência que deve haver entre anúncio e testemunho cristão, para que a Palavra anunciada seja digna de fé.

“Palavra de Deus e compromisso no mundo” é o título do segundo capítulo. Nele se recorda que “os cristãos estão chamados a servir o Verbo de Deus nos irmãos menores e, por tanto, a se comprometer na sociedade com a reconciliação, a justiça e a paz entre os povos”.

O terceiro capítulo está dedicado à “Palavra de Deus e as culturas”. Coloca-se em destaque “o desejo de que a Bíblia seja melhor conhecida nas escolas e universidades, e que os meios de comunicação social usem todas as possibilidades técnicas para sua divulgação. O tema da inculturação da Sagrada Escritura está vinculado às traduções e à difusão da Bíblia, que se deve incrementar”.

“Palavra de Deus e diálogo inter-religioso” é o tema do quarto capítulo. “Depois de destacado o valor e a atualidade do diálogo inter-religioso, a ‘Verbum Domini’ oferece algumas indicações úteis sobre o diálogo entre cristãos e muçulmanos, como também com os pertencentes a outras religiões não cristãs, no marco da liberdade religiosa, que implica não só a liberdade de professar a própria fé em privado e em público, mas também a liberdade de consciência, ou seja, de escolher a própria religião”.

Na conclusão, recordou o arcebispo Eterovic, o Santo Padre reitera a exortação aos cristãos a se esforçarem para ter, cada vez mais, familiaridade com a Sagrada Escritura, a exemplo de Maria, “Mater Verbi et Mater laetitiae”.

3. Algumas Chaves de Leitura para a Verbum Domini

O texto da exortação Verbum Domini é denso e nem sempre de fácil leitura. Assemelha-se a um tratado, bem concatenado, de Teologia Bíblica e, em algumas partes, de Teologia Fundamental. Embora dirigido ao Povo de Deus em geral (episcopado, clero, pessoas consagradas e fiéis leigos), é possível que uma parcela mínima dos fiéis tenha acesso ao texto e o compreenda com facilidade, precisando, portanto, ser “traduzido” e esmiuçado para o público em geral. Neste sentido se deve

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entender o esforço de destacar algumas “chaves de leitura”, que visam destacar alguns pontos claves para a compreensão do documento como um todo.4

As três partes do documento estão guiadas pelo Prólogo do Evangelho de João, numa perspectiva sugestiva e original. A Palavra de Deus pela qual tudo foi criado (Verbum Dei – primeira parte), sai do Pai e se faz presente no meio da humanidade (Verbum in Ecclesia – segunda parte), fecundando este mundo e levando-o de volta ao Pai (Verbum mundo – terceira parte).

Como o próprio Papa explica: “pretendo apresentar e aprofundar os resultados do Sínodo, tomando por referência constante o Prólogo do Evangelho de João (Jo 1, 1-18), que nos dá a conhecer o fundamento da nossa vida: o Verbo, que desde o princípio está junto de Deus, fez-Se carne e veio habitar entre nós (cf. Jo 1, 14). Trata-se de um texto admirável, que dá uma síntese de toda a fé cristã” (VD 5). Ou como reafirma no final do documento: “Como nos leva a contemplar o Prólogo do Evangelho de João, todo o ser está sob o signo da Palavra. O Verbo sai do Pai e vem habitar entre os Seus e regressa ao seio do Pai para levar consigo toda a criação que n’Ele e para Ele fora criada. Agora a Igreja vive a sua missão na veemente expectativa da manifestação escatológica do Esposo: ‘O Espírito e a Esposa dizem: Vem!’ (Ap 22,17). Esta expectativa nunca é passiva, mas tensão missionária de anúncio da Palavra de Deus que cura e redime todo o homem; ainda hoje Jesus ressuscitado nos diz: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura’ (Mc 16, 15).” (VD 121)

A primeira parte “A Palavra de Deus” (Verbum Dei) é mais teológica, na qual se encontra em miniatura uma apresentação muito original chamada “Cristologia da Palavra” (n. 11-13) que marca todo o conjunto. De fato, a expressão “Palavra de Deus” se aplica de forma analógica (n. 7), tanto à Escritura como à Pessoa de Jesus Cristo, que a partir do Novo Testamento se converte no sentido principal da “Palavra de Deus”. Isto quer dizer, na interpretação da Bíblia, que toda ela está dirigida a Jesus Cristo, tendo presente que a Palavra de Deus precede e supera a Sagrada Escritura, embora esta, pelo fato de ser inspirada por Deus, contém a Palavra de Deus de modo totalmente singular (cf. VD 17).

Outro aspecto teológico central se expressa na clara formulação: “o lugar originário da interpretação da Bíblia é a vida da Igreja” (n. 29), afirmação que retoma a Dei Verbum (DV) n. 12. Este, segundo observação de Salvador Pié, é o texto mais recordado da Dei Verbum e muito citado pelo Papa! Neste contexto, Bento XVI fala dos três critérios de interpretação bíblica a se ter presente: a unidade de toda a Escritura, a Tradição viva de toda a Igreja e a coerência com a fé da Igreja.

A segunda parte do documento, chamada – como já mencionamos – “A Palavra na Igreja” (Verbum in Ecclesia) – traz uma valiosa reflexão sobre a liturgia como lugar privilegiado da Palavra de Deus, tendo presente que “a Igreja é a Casa da Palavra”, que pode ajudar a “uma compreensão mais unitária do mistério da Revelação realizada ‘com gestos e palavras intimamente vinculados’ (DV 2)” (VD 56). Acentua-se, ao mesmo tempo, a importância da “animação bíblica da pastoral” (VD 73), como também da “leitura orante ou lectio divina”, o que Pié chama “o método estrela do Sínodo”, com seus passos de leitura, meditação, oração e contemplação, aos quais o Papa acrescenta como conclusão o passo da “ação” (VD 87).

4 Sigo de perto a apresentação de Salvador Pié, de Catalunia Cristiana. Ele foi um dos especialistas convocados para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus. Cf.: PIE, Salvador. Claves de lectura de la nueva exhortación apostólica. Em: http://www.temesdavui.org/es/online/analisis/claves_de_lectura_de_la_nueva_exhortacion_apostolica. Acesso em 01/03/2011.

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A terceira parte – “A Palavra pelo mundo” (Verbum mundo) – começa com a preocupação do anúncio da Palavra de Deus no mundo (VD 90), com um forte acento na nova evangelização (VD 96) – questão que mereceu a criação de uma nova Comissão Pontifícia – e o testemunho (VD 97ss). De forma brilhante se destaca a dimensão de compromisso com o mundo (os “pequenos”, a justiça, a paz, a caridade, os jovens, os imigrantes, os pobres, a criação). Outro ponto significativo é a reflexão sobre a Palavra de Deus e as culturas, trazendo a bela afirmação sobre “a Bíblia como grande código para as culturas” (VD 110) e uma breve indicação sobre o diálogo inter-religioso, particularmente com os muçulmanos (VD 118).

Vale destacar aqui, como uma de suas chaves de leitura, o acento missionário do documento.5 O Sínodo dos Bispos reiterou com insistência a necessidade de fortalecer na Igreja a consciência missionária que o Povo de deus teve desde a sua origem. Portanto, a missão da Igreja não pode ser considerada como algo facultativo ou adicional da vida eclesial. A própria Palavra nos leva aos irmãos, ao serviço. A Igreja, como mistério de comunhão, é toda ela missionária e, cada um, segundo seu próprio estado de vida, está chamado a dar uma contribuição incisiva ao anúncio cristão (VD 92-94). A Palavra de Deus impulsiona à missão, como mostra o exemplo de São Paulo: “Assim também hoje o Espírito Santo chama incessantemente ouvintes e anunciadores convencidos e persuasivos da Palavra do Senhor” (VD 122). Eles estão chamados a ser “anunciadores credíveis da Palavra de salvação no mundo”, comunicando a “fonte da verdadeira alegria (...) que brota do ser conscientes de que só o Senhor Jesus tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6,68)” (VD 123).

Em sua conclusão, o texto traz uma formulação nova, que a teologia recente tem acunhado: dizer Palavra de Deus quer dizer que se trata da “Palavra definitiva de Deus sobre o cosmos e a história” (VD 121), que encontra em Maria a “Mãe da Palavra de Deus e da alegria” (VD 124).

4. Algumas passagens significativas da Verbum Domini

Após apresentar uma visão geral do documento e sugerir algumas chaves de leitura para cada uma das partes do mesmo, vale aqui o esforço de destacar algumas das passagens mais representativas da exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini. Tal esforço é sempre temerário, pois corre o perigo de deixar de lado outros aspectos, que sob outros pontos de vista, podem ser igualmente significativos. Contudo, uma tentativa desta natureza se justifica devido a seu inegável valor pedagógico e pastoral, no sentido de tornar mais acessível, direto e popular um texto em si bastante teológico e relativamente complexo para o público em geral.6

Objetivo: "Desejo assim indicar algumas linhas fundamentais para uma redescoberta, na vida da Igreja, da Palavra divina, fonte de constante renovação, com a esperança de que a mesma se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial." (n. 1)

Religião da Palavra, não do livro: A fé cristã não é “uma 'religião do Livro': o cristianismo é a

5 Cf. AGENCIA Fides. Exhortación Apostólica Verbum Domini: un acento misionero. Em: http://portal.omp.cl/noticias/44-destacados/460-exhortacion-apostolica-verbum-domini-un-acento-misionero.html Acesso em 01/03/2011.6 Reproduz-se aqui a síntese apresentada pela agência de notícias Zenit, por ocasião da publicação da exortação: Verbum Domini em cápsulas: Passagens representativas da exortação apostólica de Bento XVI Em: http://www.zenit.org/rssportuguese-26515 Acesso em 01/03/2011.

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'religião da Palavra de Deus', não de 'uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo'.” (7)

Tradição e Escritura: "É a Tradição viva da Igreja que nos faz compreender adequadamente a Sagrada Escritura como Palavra de Deus." (17)

Sagrada Escritura, inspiração e verdade: "A Sagrada Escritura é 'Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito de Deus'. Deste modo se reconhece toda a importância do autor humano que escreveu os textos inspirados e, ao mesmo tempo, do próprio Deus como verdadeiro autor." (19)

Deus escuta o homem: "É decisivo, do ponto de vista pastoral, apresentar a Palavra de Deus na sua capacidade de dialogar com os problemas que o homem deve enfrentar na vida diária. (...) A pastoral da Igreja deve ilustrar claramente como Deus ouve a necessidade do homem e o seu apelo." (23)

Exegese: "No seu trabalho de interpretação, os exegetas católicos jamais devem esquecer que interpretam a Palavra de Deus. A sua tarefa não termina depois que distinguiram as fontes, definiram as formas ou explicaram os processos literários. O objetivo do seu trabalho só está alcançado quando tiverem esclarecido o significado do texto bíblico como Palavra atual de Deus." (33)

Antigo Testamento e judaísmo: "A compreensão judaica da Bíblia pode ajudar a inteligência e o estudo das Escrituras por parte dos cristãos. (...) O Novo Testamento está oculto no Antigo e o Antigo está patente no Novo. (...) Desejo afirmar uma vez mais quão precioso é para a Igreja o diálogo com os judeus." (41/43)

Bíblia e ecumenismo: "Na certeza de que a Igreja tem o seu fundamento em Cristo, Verbo de Deus feito carne, o Sínodo quis sublinhar a centralidade dos estudos bíblicos no diálogo ecumênico, que visa a plena expressão da unidade de todos os crentes em Cristo." (46)

Traduções, serviço ao ecumenismo: "A promoção das traduções comuns da Bíblia faz parte do trabalho ecumênico. Desejo aqui agradecer a todos os que estão comprometidos nesta importante tarefa e encorajá-los a continuarem na sua obra." (46)

Escritura e Liturgia: "Exorto os Pastores da Igreja e os agentes pastorais a fazer com que todos os fiéis sejam educados para saborear o sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano na liturgia, mostrando os mistérios fundamentais da nossa fé." (52)

A homilia: "É preciso que os pregadores tenham familiaridade e contato assíduo com o texto sagrado; preparem-se para a homilia na meditação e na oração, a fim de pregarem com convicção e paixão." (59)

Celebrações da Palavra de Deus: "Os Padres sinodais exortaram todos os Pastores a difundir,

nas comunidades a eles confiadas, os momentos de celebração da Palavra. (...) Tal prática não pode deixar de trazer grande proveito aos fiéis, e deve considerar-se um elemento importante da pastoral litúrgica." (65)

Acústica: "Para favorecer a escuta da Palavra de Deus, não se devem menosprezar os meios que

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possam ajudar os fiéis a prestar maior atenção. Neste sentido, é necessário que, nos edifícios sagrados, nunca se descuide a acústica, no respeito das normas litúrgicas e arquitetônicas." (68)

Canto litúrgico: "No âmbito da valorização da Palavra de Deus durante a celebração litúrgica, tenha-se presente também o canto nos momentos previstos pelo próprio rito, favorecendo o canto de clara inspiração bíblica capaz de exprimir a beleza da Palavra divina por meio de um harmonioso acordo entre as palavras e a música. Neste sentido, é bom valorizar aqueles cânticos que a tradição da Igreja nos legou e que respeitam este critério; penso particularmente na importância do canto gregoriano." (70)

Atenção aos portadores de deficiência: "O Sínodo recomendou uma atenção particular àqueles que, por causa da própria condição, sentem dificuldade em participar ativamente na liturgia, como por exemplo os cegos e os surdos." (71)

A animação bíblica da pastoral: "O Sínodo convidou a um esforço pastoral particular para que a Palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja, recomendando que 'se incremente a pastoral bíblica, não em justaposição com outras formas da pastoral, mas como animação bíblica da pastoral inteira'." (73)

Dimensão bíblica da catequese: "A atividade catequética implica sempre abeirar-se das Escrituras na fé e na Tradição da Igreja, de modo que aquelas palavras sejam sentidas vivas, como Cristo está vivo hoje onde duas ou três pessoas se reúnem em seu nome." (74).

Lectio Divina: "Nos documentos que prepararam e acompanharam o Sínodo, falou-se dos vários métodos para se abeirar, com fruto e na fé, das Sagradas Escrituras. Todavia prestou-se maior atenção à lectio divina, que 'é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva'." (87)

Palavra de Deus e Terra Santa: "Os Padres sinodais lembraram a expressão feliz dada à Terra Santa: 'o quinto Evangelho'. Como é importante a existência de comunidades cristãs naqueles lugares, apesar das inúmeras dificuldades! O Sínodo dos Bispos exprime profunda solidariedade a todos os cristãos que vivem na Terra de Jesus, dando testemunho da fé no Ressuscitado." (89)

Anúncio e nova evangelização: "Há muitos irmãos que são 'batizados mas não suficientemente evangelizados'. É frequente ver nações, outrora ricas de fé e de vocações, que vão perdendo a própria identidade, sob a influência de uma cultura secularizada. A exigência de uma nova evangelização, tão sentida pelo meu venerado Predecessor, deve-se reafirmar sem medo, na certeza da eficácia da Palavra divina." (96)

Testemunho: "A Palavra de Deus alcança os homens através do encontro com testemunhas que a tornam presente e viva." (97)

Compromisso pela justiça: "A Palavra de Deus impele o homem para relações animadas pela retidão e pela justiça, confirma o valor precioso aos olhos de Deus de todas as fadigas do homem para tornar o mundo mais justo e mais habitável." (100)

Direitos humanos: "Quero chamar a atenção geral para a importância de defender e promover os direitos humanos de toda a pessoa (...). A difusão da Palavra de Deus não pode deixar de reforçar a consolidação e o respeito dos direitos humanos de cada pessoa." (101)

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Palavra de Deus e paz: "No contexto atual, é grande a necessidade de descobrir a Palavra de Deus como fonte de reconciliação e de paz, porque nela Deus reconcilia em Si todas as coisas (cf. 2 Cor 5, 18-20; Ef 1, 10): Cristo 'é a nossa paz' (Ef 2, 14), Aquele que derruba os muros de divisão." (102)

Palavra de Deus e proteção da criação: "O compromisso no mundo requerido pela Palavra divina impele-nos a ver com olhos novos todo o universo criado por Deus e que traz já em si os vestígios do Verbo, por Quem tudo foi feito (...). A arrogância do homem que vive como se Deus não existisse, leva a explorar e deturpar a natureza, não a reconhecendo como uma obra da Palavra criadora." (108)

Internet: "No mundo da internet, que permite que bilhões de imagens apareçam sobre milhões de monitores em todo o mundo, deverá sobressair o rosto de Cristo e ouvir-se a sua voz, porque, 'se não há espaço para Cristo, não há espaço para o homem'." (113)

Diálogo inter-religioso: "A Igreja reconhece como parte essencial do anúncio da Palavra o encontro, o diálogo e a colaboração com todos os homens de boa vontade, particularmente com as pessoas pertencentes às diversas tradições religiosas da humanidade, evitando formas de sincretismo e de relativismo." (117)

Diálogo e liberdade religiosa: "O respeito e o diálogo exigem a reciprocidade em todos os campos, sobretudo no que diz respeito às liberdades fundamentais e, de modo muito particular, à liberdade religiosa. Tal respeito e diálogo favorecem a paz e a harmonia entre os povos." (120)

5. Verbum Domini e os Movimentos, Associações e Serviços Eclesiais

Como o presente estudo se realiza no marco de um encontro nacional de dirigentes de movimentos, associações e serviços eclesiais, promovido pela Comissão do Laicato da CNBB, vale a pena perguntar-se que referências o a Exortação Apostólica Verbum Domini faz aos movimentos e associações eclesiais.

Como membros do corpo eclesial, os integrantes destes organismos devem considerar todo o documento como dirigido diretamente a eles e, certamente, tirarão muito proveito da aplicação integral das reflexões e recomendações da exortação apostólica. Contudo, em dois lugares do texto o Papa faz uma menção explícita a esses organismos.

No âmbito da animação bíblica da pastoral, as associações e os movimentos são chamados a tomar a sério o lugar central a Palavra de Deus em suas atividades, não como um agregado ao que já se faz, mas como um convite ao encontro pessoal com Cristo que se faz presente em Sua Palavra. Neste contexto se menciona também a viva recomendação dos padres sinodais de que se favoreça a formação de “pequenas comunidades” nas quais se promovam a formação, oração e estudo da Bíblia, sejam elas vinculadas às paróquias ou aos diversos movimentos e novas comunidades. O texto diz:

“Nesta linha, o Sínodo convidou a um esforço pastoral particular para que a Palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja, recomendando que ‘se incremente a pastoral bíblica, não em justaposição com outras formas da pastoral mas como animação bíblica da pastoral

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inteira’. Não se trata simplesmente de acrescentar qualquer encontro na paróquia ou na diocese, mas de verificar que, nas atividades habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nas associações e nos movimentos, se tenha realmente a peito o encontro pessoal com Cristo que Se comunica a nós na sua Palavra. Dado que ‘a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo’, então podemos esperar que a animação bíblica de toda a pastoral ordinária e extraordinária levará a um maior conhecimento da Pessoa de Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina.(...) Além disso, como foi sublinhado durante os trabalhos sinodais, é bom que, na atividade pastoral, se favoreça também a difusão de pequenas comunidades, ‘formadas por famílias ou radicadas nas paróquias ou ainda ligadas aos diversos movimentos eclesiais e novas comunidades’, nas quais se promova a formação, a oração e o conhecimento da Bíblia segundo a fé da Igreja”. (VD 73)

A segunda menção aparece no âmbito da responsabilidade de todos os batizados pelo anúncio da Palavra de Deus, sugerindo que esta consciência seja despertada em cada associação e movimento eclesial: “Uma vez que todo o Povo de Deus é um povo ‘enviado’, o Sínodo reafirmou que ‘a missão de anunciar a Palavra de Deus é dever de todos os discípulos de Jesus Cristo, em conseqüência do seu batismo’. Nenhuma pessoa que crê em Cristo pode sentir-se alheia a esta responsabilidade que deriva do fato de ela pertencer sacramentalmente ao Corpo de Cristo. Esta consciência deve ser despertada em cada família, paróquia, comunidade, associação e movimento eclesial. Portanto toda a Igreja, enquanto mistério de comunhão, é missionária e cada um, no seu próprio estado de vida, é chamado a dar uma contribuição incisiva para o anúncio cristão”. (VD 94)

O documento continua, neste mesmo número, falando da responsabilidade de anunciar o Evangelho por parte dos bispos, sacerdotes e dos membros dos institutos de vida consagrada. Fala, em seguida, da missão dos fiéis leigos. Neste contexto, o Papa manifesta o reconhecimento e gratidão do Sínodo dos Bispos pela grande força de evangelização que os movimentos eclesiais e novas comunidades constituem na Igreja atual, pois têm impelido o desenvolvimento de novas formas de anúncio da Palavra. A exortação afirma: “Os fiéis leigos são chamados a exercer a sua missão profética, que deriva diretamente do batismo, e testemunhar o Evangelho na vida diária onde quer que se encontrem. A este respeito, os Padres sinodais exprimiram ‘a mais viva estima e gratidão bem como encorajamento pelo serviço à evangelização que muitos leigos, e particularmente as mulheres, prestam com generosidade e diligência nas comunidades espalhadas pelo mundo, a exemplo de Maria de Magdala, primeira testemunha da alegria pascal’. Além disso, o Sínodo reconhece, com gratidão, que os movimentos eclesiais e as novas comunidades constituem, na Igreja, uma grande força para a evangelização neste tempo, impelindo a desenvolver novas formas de anúncio do Evangelho”. (VD 94)

6. Uma análise crítica da Verbum Domini

“Uma Exortação oportuna... mas longa” é o título de uma análise realizada pelo monge cisterciense espanhol Francisco R. de Pascual em relação à Verbum Domini.7 O teólogo, que atúa em Cóbreces (Cantábria), destaca que este documento chegou em um momento oportuno, além de conveniente e necessário. Destaca que o texto aparece com uma “apresentação impecável, pulcra, cuidadíssima nos detalhes”. Considera admirável que o texto esteja dirigido “ao Povo de Deus”, pois a responsabilidade de ensinar e transmitir o amor à Palavra de Deus é, de fato, de todo cristão. Acredita também que se virá a colher bons frutos desta exortação.

7 PASCUAL, Francisco. Una exhortación oportuna… pero larga. In: Eclesalia, 18/11/2010. Em: http://eclesalia.wordpress.com/2010/11/18/una-exhortacion-oportuna-pero-larga/. Acesso em 01/03/2011.

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Contudo, o autor se atreve a fazer algumas observações críticas sobre a mesma. O documento, afirma Pascual, “parece mais uma extrusão e moldado ‘ao estilo Vaticano’ do que um conjunto de contribuições e experiências de um Sínodo”. Ele reconhece que alguns dirão que “um texto ‘assim’ tem que ser ‘assim’”. Ele discorda, porém, desta opinião e dá suas razões: um texto assim precisa ser relido, explicado, esclarecido, etc, “e voltará a cair em mãos de ‘especialistas’, porque o ‘Povo de Deus’ certamente o achará longo, técnico, com muitas notas (excessivas), e com muita repetição de idéias”.

O autor defende a necessidade de um “documento mais ágil, mais vivo, mais compreensível e mais pastoral”. Algo mais parecido com as parábolas de Jesus, que impactam por si mesmas e despertam entusiasmo, que é o que não acontecerá (e não está acontecendo) com esta exortação apostólica. Trata-se de uma falha pedagógica, ele argumenta, dizendo que se deveria reduzir o documento à metade, dando-lhe uma linguagem “mais acessível, mais próxima, mais fluida”. Diz que preferiria um texto “fácil de difundir, até de presentear (em reuniões e na catequese, ou em família,...)”.

Mas, como o texto já está pronto, nos toca agora “destrinchá-lo” para tentar entusiasmar, transmitir e ensinar o seu conteúdo, que em si é impecável e muito apropriado. De fato, segundo o autor, o documento “não diz muito mais do que o que se deveria estudar nos cursos de Sagrada Escritura”. Mas talvez a maior pena é que o texto “pouco incorpora das experiências partilhadas de muitas comunidades cristãs diante da Palavra. E, em verdade”, acredita Pascual, “não recolhe o frescor dos diálogos sinodais, nem retrata as experiências narradas ali. Assinala problemas, situações passadas e atuais, abre portas e novos caminhos... Mas, a seu ver, “falta o empurrão entusiasta, a explicação viva e ardente de Jesus aos discípulos de Emaús...” Esta tarefa, sob o influxo do Espírito Santo, corresponde a nós realizar!

7. Maria na Verbum Domini

Felizmente não se está sozinho nesta tarefa de transmitir (traduzir, destrinchar) os ensinamentos da Verbum Domini e de entusiasmar os católicos em um amor mais ardente à Palavra de Deus. Maria, a Mater Verbi Dei, acompanha a Igreja, e em particular os movimentos, associações e serviços eclesiais nesta missão.

De fato, quando Urs Von Balthasar desenvolve o tema do “princípio mariano” da Igreja, vê nos movimentos eclesiais e novas comunidades um sinal deste princípio no tempo atual.8 Elas pertencem a esta dimensão mariana da Igreja, que tudo abarca e penetra, “estão no coração da Igreja, em seu centro, justamente por surgirem no âmbito da polaridade eclesial mariana”9. Talvez por isso exista tanta identificação entre os movimentos (ou associações) eclesiais e Maria. Muitos deles estão marcados, seja no nome, no carisma ou na devoção própria dos seus fundadores, por uma clara presença da Mãe de Jesus, a Virgem Maria. Desta forma, parece oportuno concluir o presente estudo com uma referência explícita ao lugar de Maria na Exortação Apostólica Verbum Domini.

8 Cf. LEAHY, Brendan. Movimentos, associações e novas comunidades eclesiais. In: Leahy, Brendan. O princípio mariano na Igreja. São Paulo: Cidade Nova, 2005. p. 213-215. Cf. também: BALTHASAR, Hans Urs Von. Die Nachfolge Christi im Neuen Testament. In: ALBRECHT, Barbara; BALTHASAR, Hans Urs von. Nachfolge Jesu Christi mitten in der Welt. Freising: [s.n.], 1971. p. 11-26, especialmente p. 17.9 Leahy, Brendan. Movimentos, associações e novas comunidades eclesiais. In: Leahy, Brendan. O princípio mariano na Igreja. São Paulo: Cidade Nova, 2005. p. 214.

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Primeiramente pode-se afirmar que neste documento, como em outros do Magistério recente da Igreja, o tema mariano é transversal, ou seja, não tem um único lugar específico, mas aparece em várias partes do texto. A referência à Mãe de Deus aparece mais de 40 vezes ao longo do mesmo. Identifica-se, contudo, alguns pontos de concentração, que representam valiosas reflexões mariológicas, em alguns casos bastante originais, que ajudam a perceber a grandeza de Maria em sua relação explícita com a Palavra de Deus.

Em dois sub-capítulos, Maria aparece explicitamente mencionada como “Mater Verbi Dei et Mater fidei” (VD 27) e como “Mater Verbi et Mater Laetitiae” (VD 124).

No n. 27, Bento XVI nos convida a “olhar para uma pessoa em Quem a reciprocidade entre Palavra de Deus e fé foi perfeita, ou seja, para a Virgem Maria, ‘que, com o seu sim à Palavra da Aliança e à sua missão, realiza perfeitamente a vocação divina da humanidade’.” A fé obediente de Maria em todos os momentos de sua vida, da Anunciação ao Pentecostes, a levou a viver “em plena sintonia com a Palavra divina”. Por isso, o Papa exorta a que “os fiéis sejam ajudados a descobrir melhor a ligação entre Maria de Nazaré e a escuta crente da Palavra divina”, e convida “os estudiosos a aprofundarem ainda mais a relação entre mariologia e teologia da Palavra”. Pois Maria “é a figura da Igreja à escuta da Palavra de Deus que nela Se fez carne”. É também “símbolo da abertura a Deus e aos outros; escuta ativa, que interioriza, assimila, na qual a Palavra se torna forma de vida”.

Além disso, o documento destaca a “familiaridade de Maria com a Palavra de Deus” (VD 28): Maria conhece a Palavra, se identifica com ela e nela penetra, como se pode notar no Magnificat, retrato da alma de Maria, cântico tecido de fios tirados da Palavra de Deus. E neste contexto o Papa recorda aquela afirmação magistral da sua Encíclica Deus Caritas est: “Desta maneira se manifesta que Ela Se sente verdadeiramente em casa na Palavra de Deus, dela sai e a ela volta com naturalidade. Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se Palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, fica assim patente que os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o d’Ela é um querer juntamente com Deus. Vivendo intimamente permeada pela Palavra de Deus, Ela pôde tornar-Se mãe da Palavra encarnada” (DCE 41).

Maria também é paradigma para a ação apostólica e pastoral do cristão: “ tanto na atitude de escuta orante como na generosidade do compromisso em prol da missão e do anúncio”. A exemplo do que aconteceu com Maria, a fé do cristão permite que ele também, em certo sentido, conceba Cristo em si, pela Palavra e pelos sacramentos, como ensina Santo Ambrósio: “se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a fé, porém, Cristo é o fruto de todos”. (VD 28)

Ao falar da inspiração da Sagrada Escritura, o Papa sugere uma analogia: “assim como o Verbo de Deus Se fez carne por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, assim também a Sagrada Escritura nasce do seio da Igreja por obra do mesmo Espírito” (VD 19). Desta forma se reconhece a importância do autor humano que escreveu os textos inspirados da Sagrada Escritura, da mesma forma que Maria foi importante para a Encarnação do Verbo, e, ao mesmo tempo, se reconhece que o próprio Deus é o autor do texto sagrado, pois este foi inspirado pelo Espírito Santo.

Além disso, o Papa indica que o “sim de Maria” é paradigma também para a interpretação da Escritura, que só pode acontecer dentro da fé da Igreja (VD 29). Maria, “Virgo audiens e Rainha dos Apóstolos” (VD 79), ensina aos fiéis e aos ministros ordenados também a silenciar diante da Palavra (VD 66) e a ser, em primeiro lugar, ouvinte da Palavra. Por isso, na pessoa de Maria encontram-se, de forma sublime, sintetizados e resumidos os passos da lectio divina, pois Ela

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“conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração” (L c 2, 19; cf. 2, 51), e “sabia encontrar o nexo profundo que une os acontecimentos, os atos e as realidades, aparentemente desconexos, no grande desígnio divino”. (VD 87)

Um apartado especial mereceu, na Verbum Domini, a relação entre a Palavra de Deus e as orações marianas (rosário, Angelus, Akatistos, etc). Estas além de ser promovidas, deveriam ajudar a “meditar os santos mistérios narrados pela Sagrada Escritura”, pois rezar “com estas palavras dilata a alma e dispõe-na para a paz que vem do Alto, de Deus – a paz que é o próprio Cristo, nascido de Maria para a nossa salvação.” (VD 88)

Mantendo o costume de outros documentos eclesiais, as últimas palavras do Papa nesta exortação apostólica se dirigem a Maria, chamada aqui de “Mater Verbi et Mater laetitiae”, pois a “relação íntima entre a Palavra de Deus e a alegria aparece em evidência precisamente na Mãe de Deus.” (VD 124) A alegria de Maria provém, como mostra o Evangelho de Lucas (8,21; 11,28) do escutar a Palavra de Deus e pô-la em prática. Nestas passagens, “Jesus manifesta a verdadeira grandeza de Maria, abrindo assim também a cada um de nós a possibilidade daquela bem-aventurança que nasce da Palavra acolhida e posta em prática” (VD 124).

8. Conclusão

Concluo este estudo com algumas acertadas palavras de Dom João Bosco, Bispo de União de Vitória, e atual presidente do Regional Sul 2, fazendo eco de seu desejo e esperança:

“Meu desejo é que a Exortação Verbum Domini não corra o risco de ser acolhida como uma novidade que passa, ‘mais um documento’ que fica na estante ou na gaveta, como fazemos com as novidades descartáveis que compramos nas lojas. A gente sabe que o Meios de Comunicação não valorizam nem divulgam os documentos da Igreja. Para a imprensa mundial, uma notícia de um pronunciamento do Papa sobre preservativos é destaque de primeira página, enquanto um documento, como esse, ganha duas linhas, num canto qualquer, sem importância. Será necessário, então, que os padres, religiosas, as lideranças de todos os grupos de pastoral, grupos de reflexão, movimentos, comecem já a ler e estudar as páginas desse documento. Que seja assunto das homilias, das reuniões e dos planejamentos. Que o convite do Santo Padre chegue, pouco a pouco, a toda nossa gente através da ação evangelizadora, missionária e espiritual.”10

10 SOUZA, João Bosco. Verbum Domini: o esperado documento sobre a palavra de Deus na vida da Igreja. Em: http://dbosco.org/2010/11/verbum-domini-o-esperado-documento-sobre-a-palavra-de-deus-na-vida-da-igreja/. Acesso em 08/4/2011.

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Anexo 1: Esquema Geral da Exortação Apostólica Verbum Domini11

A fim de ter uma melhor visão de conjunto da exortação apostólica, convém olhar com atenção o esquema geral do texto, pois em si os títulos já revelam muito do conteúdo e da linha de pensamento seguida pelo Papa Bento XVI em sua exposição.

Introdução [1]

Para que a nossa alegria seja perfeita [2] Da “Dei Verbum” ao Sínodo sobre a Palavra de Deus [3] O Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus [4]O Prólogo do Evangelho de João por guia [5]

Primeira Parte: VERBUM DEI

1. O Deus que falaDeus em diálogo [6] Analogia da Palavra de Deus [7] Dimensão cósmica da Palavra [8] A criação do homem [9] O realismo da Palavra [10] Cristologia da Palavra [11-13] Dimensão escatológica da Palavra de Deus [14] A Palavra de Deus e o Espírito Santo [15-16] Tradição e Escritura [17-18] Sagrada Escritura, inspiração e verdade [19] Deus Pai, fonte e origem da Palavra [20-21]

2. A resposta do homem a Deus que falaChamados a entrar na Aliança com Deus [22] Deus escuta o homem e responde às suas perguntas [23] Dialogar com Deus através das suas palavras [24] A Palavra de Deus e a fé [25] O pecado como não escuta da Palavra de Deus [26] Maria «Mater Verbi Dei» e «Mater fidei» [27-28]

3. A hermenêutica da Sagrada Escritura na IgrejaA Igreja, lugar originário da hermenêutica da Bíblia [29-30] «A alma da sagrada teologia» [31] Desenvolvimento da investigação bíblica e Magistério eclesial [32-33] A hermenêutica bíblica conciliar: uma indicação a acolher [34] O perigo do dualismo e a hermenêutica secularizada [35] Fé e razão na abordagem da Escritura [36] Sentido literal e sentido espiritual [37] A necessária superação da «letra» [38]

11 Cf. http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20100930_verbum-domini_po.html

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A unidade intrínseca da Bíblia [39] A relação entre Antigo e Novo Testamento [40-41] As páginas «obscuras» da Bíblia [42] Cristãos e judeus, relativamente às Sagradas Escrituras [43] A interpretação fundamentalista da Sagrada Escritura [44] Diálogo entre Pastores, teólogos e exegetas [45] Bíblia e ecumenismo [46] Consequências sobre a organização dos estudos teológicos [47] Os Santos e a interpretação da Escritura [48-49]

Segunda Parte: VERBUM IN ECCLESIA

1. A palavra de Deus e a Igreja A Igreja acolhe a Palavra [50] Contemporaneidade de Cristo na vida da Igreja [51]

2. Liturgia, lugar privilegiado da palavra de DeusA Palavra de Deus na sagrada Liturgia [52] Sagrada Escritura e Sacramentos [53] Palavra de Deus e Eucaristia [54-55] A sacramentalidade da Palavra [56] A Sagrada Escritura e o Leccionário [57] Proclamação da Palavra e ministério do leitorado [58] A importância da homilia [59] Conveniência de um Directório homilético [60] Palavra de Deus, Reconciliação e Unção dos Doentes [61] Palavra de Deus e Liturgia das Horas [62] Palavra de Deus e Cerimonial das Bênçãos [63] Sugestões e propostas concretas para a animação litúrgica [64] a) Celebrações da Palavra de Deus [65] b) A Palavra e o silêncio [66] c) Proclamação solene da Palavra de Deus [67] d) A Palavra de Deus no templo cristão [68] e) Exclusividade dos textos bíblicos na liturgia [69] f) Canto litúrgico biblicamente inspirado [70] g) Particular atenção aos cegos e aos surdos [71]

3. A palavra de Deus na vida eclesialEncontrar a Palavra de Deus na Sagrada Escritura [72] A animação bíblica da pastoral [73] Dimensão bíblica da catequese [74] Formação bíblica dos cristãos [75] A Sagrada Escritura nos grandes encontros eclesiais [76] Palavra de Deus e vocações [77] a) Palavra de Deus e Ministros Ordenados [78-81] b) Palavra de Deus e candidatos às Ordens Sacras [82] c) Palavra de Deus e vida consagrada [83] d) Palavra de Deus e fiéis leigos [84] e) Palavra de Deus, matrimónio e família [85]

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Leitura orante da Sagrada Escritura e «lectio divina» [86-87] Palavra de Deus e oração mariana [88] Palavra de Deus e Terra Santa [89]

Terceira Parte: VERBUM MUNDO

1. A missão da Igreja: anunciar a palavra de Deus ao mundo A Palavra que sai do Pai e volta para o Pai [90] Anunciar ao mundo o «Logos» da Esperança [91] Da Palavra de Deus deriva a missão da Igreja [92] A Palavra e o Reino de Deus [93] Todos os baptizados responsáveis do anúncio [94] A necessidade da «missio ad gentes» [95] Anúncio e nova evangelização [96] Palavra de Deus e testemunho cristão [97-98]

2. Palavra de Deus e compromisso no mundo Servir Jesus nos seus «irmãos mais pequeninos» (Mt 25, 40) [99] Palavra de Deus e compromisso na sociedade pela justiça [100-101] Anúncio da Palavra de Deus, reconciliação e paz entre os povos [102] A Palavra de Deus e a caridade activa [103] Anúncio da Palavra de Deus e os jovens [104] Anúncio da Palavra de Deus e os migrantes [105] Anúncio da Palavra de Deus e os doentes [106] Anúncio da Palavra de Deus e os pobres [107] Palavra de Deus e defesa da criação [108]

3. Palavra de Deus e culturasO valor da cultura para a vida do homem [109] A Bíblia como grande código para as culturas [110] O conhecimento da Bíblia nas escolas e universidades [111] A Sagrada Escritura nas diversas expressões artísticas [112] Palavra de Deus e meios de comunicação social [113] Bíblia e inculturação [114] Traduções e difusão da Bíblia [115] A Palavra de Deus supera os limites das culturas [116]

4. Palavra de Deus e diálogo inter-religiosoO valor do diálogo inter-religioso [117] Diálogo entre cristãos e muçulmanos [118] Diálogo com as outras religiões [119] Diálogo e liberdade religiosa [120]

ConclusãoA palavra definitiva de Deus [121] Nova evangelização e nova escuta [122] A Palavra e a alegria [123] «Mater Verbi et Mater laetitiae» [124]

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Anexo 2: As 55 propostas do Sínodo da Palavra realizado em Roma em 200812

Estas propostas, principal resultado do Sínodo, são o fruto do trabalho realizado em círculos menores ou círculos lingüísticos. Foram apresentadas ao Papa como resumo do Sínodo e das inquietações e prioridades pastorais detectadas pelos participantes do Sínodo. Normalmente o Papa as tem em conta em vistas à redação da Exortação Apostólica Pós-sinodal. Até o Sínodo de 2005 – o primeiro de Bento XVI – as propostas permaneciam em segredo. Desta vez, o Papa novamente permitiu sua publicação, que está disponível aqui em língua italiana. Observe-se a grande semelhança entre o esquema e os conteúdos abordados pelo Papa na Exortação Pós-sinodal e as 55 propostas do Sínodo.

O texto disponível traz a seguinte “Nota prévia da Santa Sé”, traduzida aqui ao português:

“De acordo com o Ordo Synodi Episcoporum (cf. Art, 15 e 39) a Lista Final das Propostas das Assembléias Gerais Ordinárias do Sínodo dos Bispos, cujo texto oficial está em latim,objeto de voto pessoal por parte dos Padres Sinodais, está destinada ao Sumo Pontífice, a quem ela foi devidamente entregue. Tal texto, devido a sua natureza, é reservado e não será publicado para respeitar o caráter consultivo da assembléia sinodal. Este texto, de fato, tem caráter propositivo.

Por benévola decisão, o Sumo Pontífice Bento XVI concede, nesta ocasião uma versão em língua italiana, provisória, oficiosa e não oficial, a cargo da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, que se publica no Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé.

A esse respeito, se precisa também que as Propostas são um momento do longo processo do Sínodo aberto à eventual promulgação de um documento pontifício. Elas não esgotam a riqueza das contribuições das Linhas de Orientação (Lineamenta), do Documento de Trabalho (Instrumentum Laboris), da Discussão (Disceptatio) em plenário, da Relação anterior à Discussão (Relatio ante disceptationem), da Relação depois da Discussão (Relatio post disceptationem) e da Mensagem (Nuntius). O trabalho dos Círculos Menores permitiu o amadurecimento do consenso sinodal, num clima de intensa comunhão episcopal cum Petro e sub Petro através da escuta recíproca, mesmo na imediatez da discussão espontânea.”

ELENCO FINALE DELLE PROPOSIZIONI(Versione non ufficiale in lingua italiana).

Introduzione1. Documenti che si presentano al Sommo Pontífice2. Dalla Costituzione Dogmatica Dei Verbum al Sinodo sulla Parola di Dio3

Prima parteLa Parola di Dio nella fede della Chiesa3. Analogia Verbi Dei4. Dimensione dialogica della Rivelazione5. Spirito Santo e Parola di Dio

12 Cf. Ecclesia Digital, em: http://revistaecclesia.com/content/view/6602/248/

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6. Lettura patristica della Scrittura7. Unità tra Parola di Dio ed Eucaristia8. Parola di riconciliazione e conversione9. Incontro con la Parola nella lettura della Sacra Scrittura10. L’Antico Testamento nella Bibbia cristiana11. Parola di Dio e carità verso i poveri12. Ispirazione e verità della Bibbia13. Parola di Dio e Legge naturale

Seconda parteLa Parola di Dio nella vita della Chiesa14. Parola di Dio e Liturgia15. Attualizzazione omiletica e “Direttorio sull’omelia”16. Lezionario17. Ministero della Parola e donne18. Celebrazioni della Parola di Dio19. Liturgia delle Ore20. Parola di Dio, matrimonio e famiglia21. Parola di Dio e piccole comunità22. Parola di Dio e lettura orante23. Catechesi e Sacra Scrittura24. Parola di Dio e vita consacrata25. Necessità di due livelli nella ricerca esegetica26. Allargare le prospettive dello studio esegetico attuale27. Superare il dualismo tra esegesi e teologia28. Dialogo tra esegeti, teologi e pastori29. Difficoltà della lettura dell’Antico Testamento30. Pastorale biblica31. Parola di Dio e presbiteri32. Formazione dei candidati all’ordine sacro33. Formazione biblica dei cristiani34. Animazione biblica e giovani35. Bibbia e Pastorale della Salute36. Sacra Scrittura e unità dei cristiani37. Presenza di Sua Santità Bartolomeo I

Terza parteLa Parola di Dio nella missione della Chiesa38. Compito missionario di tutti i battezzati39. Parola di Dio e impegno nel mondo40. Parola di Dio e arte liturgica41. Parola di Dio e cultura42. Bibbia e traduzione43. Bibbia e diffusione44. Mezzi di comunicazione sociale45. Parola di Dio e Congresso mondiale46. Lettura credente delle Scritture: storicità e fondamentalismo47. Bibbia e fenomeno delle sette48. Bibbia e inculturazione

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49. Missio ad gentes50. Bibbia e dialogo interreligioso51. Terra Santa52. Dialogo tra cristiani ed ebrei53. Dialogo tra cristiani e musulmani54. Dimensioni cosmiche della Parola di Dio e custodia del creato

Conclusione55. Maria Mater Dei et Mater fidei