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Instituto Vladimir Herzog comemorou um ano de existência juntando as mãos de público eclético. Ligar erudito ao popular é desafiador, mas foi a receita de sucesso para estimular o pensamento sobre democracia, educação e felicidade, sábado, 3/7, na Sala São Paulo. Surpreendeu positivamente o caldo sincrético regido pelo maestro João Carlos Martins com a Filarmônica Bachiana SESI-SP, a bateria da escola de samba paulistana Vai-Vai, a cantora Fafá de Belém e o coral A Música Venceu (o mesmo que participou da interpretação da Nona de Beethoven no último capítulo da novela Viver a Vida). O espetáculo comemorou o primeiro ano de existência do Instituto Vladimir Herzog, na Sala São Paulo, sábado, 3 de julho de 2010, às 21horas. A programação do Encontro Musical pela Educação, Cidadania e Feliciadade começou com Intermezzo, de Pietro Mascagni, suave e bem de acordo com o início. Na sequência, a Sinfonia nº4 em fá menor, Op.36, I Andante sostenuto e

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Instituto Vladimir Herzog comemorou um ano de existência juntando as mãos de público eclético.

Ligar erudito ao popular é desafiador, mas foi a receita de sucesso para estimular o pensamento sobre democracia, educação e felicidade, sábado, 3/7, na Sala São Paulo.

Surpreendeu positivamente o caldo sincrético regido pelo maestro João Carlos Martins com a Filarmônica Bachiana SESI-SP, a bateria da escola de samba paulistana Vai-Vai, a cantora Fafá de Belém e o coral A Música Venceu (o mesmo que participou da interpretação da Nona de Beethoven no último capítulo da novela Viver a Vida). O espetáculo comemorou o primeiro ano de existência do Instituto Vladimir Herzog, na Sala São Paulo, sábado, 3 de julho de 2010, às 21horas.

A programação do Encontro Musical pela Educação, Cidadania e Feliciadade começou com Intermezzo, de Pietro Mascagni, suave e bem de acordo com o início. Na sequência, a Sinfonia nº4 em fá menor, Op.36, I Andante sostenuto e Moderato con anima, de Tchaikovsky. Até esse ponto a Filarmônica Bachiana SESI-SP era regida pelo maestro João Carlos Martins.

Em Tributo a Ennio Marricone, João Carlos Martins assumiu o piano e interpretou a trilha do filme "Cinema Paradiso", junto com a Filarmônica Bachiana SESI-SP, regido por Sergei Eleazar de Carvalho (filho de um dos mais notórios maestros brasileiros: Eleazar de Carvalho, responsável pela fundação da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

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Sobiram ao palco Fafá de Belém e as crianças do coral A Música Venceu, da comunidade de Paraisópolis e Carapicuíba, que sob direção de Silvia Shuster, arranjo de José Antônio Almeia e regência de Sergei Eleazar de Carvalho interpretaram Aprendizes da Esperança de Kleitom Ramil e Beto Fogaça. João Carlos Martins voltou ao piano para todos juntos executarem a Melodia Sentimental de Heitor Villa-Lobos.

Em seguida Fafá de Belém cantou O Bêbado e a Equilibrista de João Bosco e Aldir Blanc, uma das músicas mais marcantes da época da ditadura em que há menção à Clarisse, viúva de Vladimir Herzog (“Choram Marias e Clarisses no solo do Brasil”). 1

A Bateria da Vai-Vai então veio a público para conferir uma poderosa batida popular às músicas seguintes que variaram desde a Sinfonia nº 5 em dó menor Op, 67 (I Allegro

1 O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco / Aldir Blanc – 1979) Intérprete: Elis Regina Disco: Elis Regina – 1999Letra: Caía a tarde feito um viaduto/ E um bêbado trajando luto/ Me lembrou Carlitos/ A lua, tal qual a dona do bordel,/ Pedia a cada estrela fria/ Um brilho de aluguel/ E nuvens, lá no mata-borrão do céu,/ Chupavam manchas torturadas, que sufoco/Louco, o bêbado com chapéu-coco/ Fazia irreverências mil pra noite do Brasil. / Meu Brasil./Que sonha com a volta do irmão do Henfil./Com tanta gente que partiu num rabo de foguete./ Chora a nossa pátria mãe gentil,/Choram Marias e Clarisses no solo do Brasil./ Mas sei que uma dor assim pungente/ Não há de ser inutilmente, a esperança/Dança na corda bamba de sombrinha/E em cada passo dessa linha pode se machucar/Asas, a esperança equilibrista/ Sabe que o show de todo artista/ Tem que continuar…Histórico: Composta em 1979, tornou-se um símbolo da luta pela anistia. Pela volta dos exilados e pela abertura política do regime militar. Carlitos, personagem mais famoso de Charles Chaplin, representa a população oprimida, mas que ainda consegue manter o bom humor, denunciava as injustiças sociais de forma inteligente e engraçada. A Equilibrista dançando na corda bamba, de sombrinha, é a esperança de todo um povo. Henrique de Sousa Filho, conhecido como Henfil, foi um cartunista, quadrinista, jornalista e escritor brasileiro. Seu irmão, Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho, foi um sociólogo e ativista dos direitos humanos brasileiro; concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Miséria e Pela Vida. Com o golpe militar, em 1964, mobilizou-se contra a ditadura, sem nunca esquecer as causas sociais. Mas, com o aumento da repressão, foi obrigado a se exilar no Chile em 1971.Maria era mãe de Betinho (irmão de Henfil) e Clarice mulher do jornalista assassinado na ditadura Vladimir Herzog. Mas Marias e Clarisses, no plural, fazem referência às mães, talvez irmãs ou mulheres de pessoas que se foram, ou mesmo deixaram o nosso país, lutando por um ideal, um sonho, de ver o Brasil livre para a informação e para a expressão das artes. http://ditaduranobrasil.wordpress.com/2007/07/04/29/

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con brio) de Ludwig van Beethoven até o Hino Nacional Brasileiro.

Maior que o desafio de ornar esse caldo musical tão heterogêneo e de reger músicos com bagagens tão diferentes foi escolher um repertório que agradasse ao público díspare em termos de idade, gosto musical e origem.

Independentemente se conseguiu agradar a gregos e a troianos, o evento valeu também pela oportunidade de relembrar a história, homenagear a memória de Vladimir Herzog e, de certa forma, promover a construção da democracia. Afinal a cultura é ferramenta

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importante que pode ser usada para a integração social e, consequentemente, para o aprofundamento da democracia brasileira.

Ouça entrevistas com o público:

José Luis del Roio 67 anos, Ana Isabel 9 anos, Paulo, 30 anos, Alessandro Ventura, 71, Ivo Herzog, engenheiro, Vladmir Saqueta, promotor cultural, Dácio Nitrini, jornalista.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro.