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1.Introdução Neste ensaio de Metodologia da Alfabetização comentarei sobre minha experiência de estágio na EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) José Bonifácio de Andrade e Silva e buscarei relacionar minha vivência com conjuntos de teorias e práticas vistas em sala de aula ao longo do semestre. O principal foco deste portfólio será a linguagem e o letramento na Educação Infantil, a partir de minha perspectiva do ensino público nas EMEIs. Irei discorrer desde o porquê da escolha desse tema, até a descrição de toda minha experiência de estágio, e após ter feito isso relacionarei a linguagem trabalhada no ensino da educação infantil com o início do letramento e escrita das crianças a partir de minha perspectiva das horas que observei, auxiliei e dei atividades em sala de aula na EMEI. 2. Sobre o Tema: Linguagem e Letramento na Educação Infantil Na educação infantil do ensino público de São Paulo não é encorajada a alfabetização formal das crianças, tendo esse objetivo como base no primeiro ano do ensino fundamental I; logo o tema de linguagem e letramento na educação infantil me parece adequado, pois há sim o contato com a linguagem, já que o ser humano e a mesma são intrínsecos, como descreve a autora Cláudia Riolfi em sua obra Linguagem e Pensamento: 1

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1. Introdução

Neste ensaio de Metodologia da Alfabetização comentarei sobre minha experiência de

estágio na EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) José Bonifácio de Andrade e Silva

e buscarei relacionar minha vivência com conjuntos de teorias e práticas vistas em sala de

aula ao longo do semestre. O principal foco deste portfólio será a linguagem e o letramento

na Educação Infantil, a partir de minha perspectiva do ensino público nas EMEIs. Irei

discorrer desde o porquê da escolha desse tema, até a descrição de toda minha experiência de

estágio, e após ter feito isso relacionarei a linguagem trabalhada no ensino da educação

infantil com o início do letramento e escrita das crianças a partir de minha perspectiva das

horas que observei, auxiliei e dei atividades em sala de aula na EMEI.

2. Sobre o Tema: Linguagem e Letramento na Educação Infantil

Na educação infantil do ensino público de São Paulo não é encorajada a alfabetização

formal das crianças, tendo esse objetivo como base no primeiro ano do ensino fundamental I;

logo o tema de linguagem e letramento na educação infantil me parece adequado, pois há sim

o contato com a linguagem, já que o ser humano e a mesma são intrínsecos, como descreve a

autora Cláudia Riolfi em sua obra Linguagem e Pensamento:

“Conseqüentemente, não é aqui o caso de pensar o homem como alguém que tem a

linguagem, mas, ao contrário, de concebê-lo como alguém que é feito por ela.

Admitir a idéia de que somos “seres de linguagem” exige abandonar a concepção de

que a linguagem verbal é um instrumento de comunicação como outro qualquer,

como, por exemplo, a utilização dos sinais de fumaça entre os indígenas.” (RIOLFI,

p. 32, 2008).

Me interessa muito a questão do incentivo à alfabetização na educação infantil

principalmente com minha perspectiva de estágio, já que mesmo não sendo oficialmente

alfabetizadas as crianças possuem muito interesse para com a língua oral e escrita, logo, me

parece uma ótima oportunidade trabalhar a questão da linguagem e o letramento, da oralidade

à escrita, do signo ao significado. Como já foi dito acima o ser humano enquanto si mesmo é

também linguagem, independente de sua escolaridade formal e contato com diferentes níveis

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de cultura, a simples existência já requer de nós o mínimo de linguagem no plano em que

estamos.

Em relação ao tema busco responder às seguintes perguntas: como a criança se

prepara ou é preparada para a alfabetização formal futura dentro da educação infantil? Como

o contato natural com a linguagem e as atividades na educação infantil auxiliam a criança a

ser iniciada no processo de alfabetização?

Acredito que a aprendizagem da escrita e leitura se dá a partir da vivência com sua

representação no mundo e não por algum modo mecânico aprendizagem através de um

manual de instruções, sendo o domínio da linguagem a capacidade de interpretar, e

transformar contextos de acordo com sua necessidade. Deve-se lembrar que a oralidade e a

escrita apesar de se complementar e se representar não são a mesma coisa, carregando cada

uma sua particularidade enquanto instrumento de linguagem humana assim como é o

pensamento.

A fala anda sozinha no sentido cultural dentro de um mesmo ambiente, variando

entonações e até palavras de acordo com a região, as pessoas e suas idades por exemplo, já a

escrita dentro de um território federal como o Brasil respeita uma cartilha de regras enquanto

ferramenta de difusão do conhecimento humano, não sendo algo técnico o bastante para ser

ensinado como um quebra-cabeças mas também não sendo tão flexível e informal quanto a

fala muitas vezes é. A linguagem escrita deve ser ensinada como instrumento de

conhecimento e não como uma etiqueta ou um procedimento, pois será a ferramenta mais

utilizada pelo homem que a souber manejar enquanto forma de historicidade, armazenamento

e reflexão da mente humana. Assim como descreve Emília Ferreiro:

“se a escrita é concebida como um código de transcrição, sua aprendizagem é

concebida como a aquisição de uma técnica; se a escrita é concebida como um

sistema de representação, sua aprendizagem se converte na apropriação de um novo

objeto de conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem conceitual.” (FERREIRO,

1995).

O ser humano está em eterno processo de aprendizagem desde seu primeiro dia na

terra até seu último; novos conceitos, objetos e ideias sempre surgirão, e a língua é algo que

ninguém tem 100% de domínio e sempre se modifica e ensina. Na educação infantil isso não

é diferente. Mesmo sem serem alfabetizados formalmente os alunos estão sempre em contato

com a língua, com a escrita e com a fala, logo já estão sendo alfabetizados. O que buscarei

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estudar nesse ensaio é de que forma isso se dá e o quão importante o contato com a leitura, a

cultura e o lúdico é para a iniciação da criança ao ensino formal.

A língua é a principal ferramenta de sobrevivência no mundo como conhecemos pois

sem ela não interpretamos, armazenamos ou comunicamos, mas ela também nos limita no

sentido de que o que conhecemos é iluminado mas sempre terá algo às sombras, enquadrando

nosso olhar ao que já possui legendas.

“Concluindo, por meio de um percurso de mais de 100 anos dessa ciência, fomos

paulatinamente compreendendo que a linguagem é, ao mesmo tempo, o que nos une e

o que nos separa das coisas e das pessoas. Liga-nos ao mundo porque fornece um

aparelho por meio do qual podemos manter o contato com a realidade: a possibilidade

de nomear os objetos. Por outro lado, a linguagem nos separa dos objetos justamente

porque nos torna dependentes de um conceito para apreendê-lo. Traduzindo: se é

verdade que ‘o que os olhos não vêem o coração não sente’, não é menos verdade que

‘o que a linguagem não nomeia a percepção não registra’ ”. (RIOLFI, p. 34, 2008).

Apesar de ser um grande instrumento de vivência não se pode esquecer do quão difícil

e complexo é o adquirir da linguagem, principalmente sem uma boa mediação cultural. É

aqui que entra a instituição escolar, a qual trabalha, dá desafios e ajuda a desenvolver a

complexidade da língua no intelecto infantil. Muitas vezes o escrever se difere do falar e

conseguir visualizar essa linha tênue de forma consciente e com sucesso é muito difícil e é

algo que se aprende acumuladamente ao longo dos anos, logo, o ensino deve ser dado desde

cedo e de maneira eficaz.

Ainda baseando-me na autora Cláudia Riolfi em sua obra Linguagem e Pensamento

no capítulo a respeito de como a capacidade para a linguística se ganha na cultura, reflito a

respeito de se trabalhar um amplo leque de metodologias e atividades na educação infantil

para o estímulo ao aprendizado da linguística. A autora cita Blikstein (1990) e como este

explorou a questão da influência da práxis social na complexidade e desenvolvimento da

linguagem e percepção e acredito que esta linha de pensamento venha a calhar neste ensaio já

que o foco do estudo é o período anterior à alfabetização formal, logo o contato com a cultura

é essencial para o sucesso futuro.

A ludicidade também pode ser encontrada na linguagem, já que a língua pode ser

utilizada como fonte de entretenimento. Na educação infantil métodos como cantigas,

músicas populares, trava línguas e histórias são grandes ferramentas para o incentivo e

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trabalho cognitivo com as crianças. Para que uma atividade como o prazer de um trava língua

ou uma piada seja experimentado é necessário certo nível de cultura, e isso também faz parte

do processo de alfabetização. O papel da escola aqui é dar a oportunidade da criança atingir

seu máximo potencial enquanto ser humano na fase de vida em que se encontra e realizar a

transição entre os conceitos espontâneos e os conceitos científicos, que serão pedidos

futuramente pelos currículos. Cláudia Riolfi expõe de maneira clara um argumento do porquê

é importante a intervenção da escola ou de um adulto na educação infantil para com a

alfabetização:

“Neste ponto, uma importante constatação se apresenta: a necessidade da organização

coletiva do grupo da escola, capaz de, às vezes, pelo simples testemunho do modo

como se organiza, dar a ver para um pequeno ser humano que certas soluções não são

passíveis de serem alcançadas pela observação direta, necessitando de um cálculo.

Para o professor, trabalhar no sentido de organizar o grupo é mais importante que

imitar um super-herói, um cavaleiro da luz que trabalha sozinho e anônimo para o

bem comum, tendo pouco ‘poder de fogo’.” (RIOLFI, p.91, 2008)

Analisando a citação da autora e seus estudos sobre autores como Vygotsky e Luria

em sua obra posso ressaltar a importância de um bom corpo docente e uma boa infra-

estrutura para o sucesso de seus alunos. A escola consegue resultados a partir de seus

investimentos educacionais sejam esses metodológicos, ideais ou monetários, mas sempre

focando na criança e seu desenvolvimento cognitivo. De acordo com o Ministério da

Educação e como já foi citado aqui a alfabetização formal é encorajada pelo ensino público

apenas a partir do Ensino Fundamental I, tendo que ter sido dada até o terceiro ano. Na

educação Infantil alguns dos objetivos são:

“As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil

devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e Garantir

experiências que: (...) Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da

ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem

movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos

da criança; (...) Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o

progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual,

verbal, plástica, dramática e musical; (...) Possibilitem às crianças experiências de

narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com

diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos (...).” (MEC, 2010).

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O convívio com a instituição escolar por si só já garante parte do sucesso cultural

necessário para a criança no processo de alfabetização já que a escola a partir do ensino

fundamental exige certa formalidade, atitudes e pensamentos que a instituição constrói desde

cedo. Mesmo assim, não se deve sufocar os pensamentos e desejos infantis, logo, a educação

infantil é a “pororoca” entre a vida social familiar e o início da vida acadêmica, sendo ela

quem prepara o aluno para os desafios que vai enfrentar, dando obstáculos, ferramentas, e

diferentes métodos para que o façam porém sem realmente o fazer, deixando que a infância

seja vivida e a educação formal seja introduzida no Fundamental I, mesmo que muitas vezes

as crianças aprendam a ler ou escrever antes pelo contato com o mundo e diferentes

estímulos.

3. Dados do Estágio

Realizei meu estágio de 60 horas de Metodologia da Alfabetização na EMEI José

Bonifácio de Andrade e Silva localizada na Zona Norte de São Paulo, bairro de Santana, na

Rua Dr. César, número 581. Iniciei meu estágio no meio do mês de Setembro de 2016, tendo

a oportunidade de acompanhar a Professora Erika do 6º ano B (alunos entre 4 e 6 anos, no

último ano da Educação Infantil) no período da manhã. A sala é composta por 34 crianças e

apenas uma professora para auxiliar a todas; dispostas em oito mesas de quatro lugares elas

sentam juntas de acordo com sua vontade e às vezes de acordo com os pedidos da professora

para um maior rendimento e harmonia em sala de aula.

Em relação à rotina do 6º B: eles entram às sete horas da manhã e saem entre onze

horas e meio dia e meia. A partir do horário que chegam as crianças vão se dispondo na sala

de aula e socializando até que chegue um número considerável para que a professora inicie a

realização do planejamento do dia. Para começar ela conversa com os alunos sobre o dia

anterior ou o final de semana se for o caso, perguntando à eles sobre as novidades e

geralmente realizando uma atividade de coordenação motora/visual ou leitura com as

crianças até a hora do café da manhã, às oito e quinze.

Após retornarem às atividades, as crianças continuam suas tarefas, sempre

socializando, tirando dúvidas e às vezes também perdendo o foco, já que são 34 crianças a

pleno vapor da infância com apenas um adulto para supervisão e mediação. Se houver tempo

a professora realiza outra atividade ou faz cantos de brincadeiras monitorados até a hora do

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parque, que varia de acordo com os dias entre Tanque de Areia, Parquinho, Casinha e

Quadra. Depois do parque as crianças se lavam e vão para o almoço e depois para casa.

Quando se fala na disposição e decoração da sala de aula, pode-se dizer que é um

espaço bastante organizado. Entrando pela porta à direita da sala, na parede do lado direito se

encontra um grande quadro negro de proporções grandes o bastante para uma criança

escrever à sua altura e a professora também; ao fundo da sala se encontram os armários e

prateleiras das crianças onde elas deixam suas malas e materiais para não atrapalhar os

caminhos entre as mesas, que se encontram no centro da sala dispostas de maneira variada

porém organizadas. No canto esquerdo da sala perto da porta se encontra a mesa da

professora, seu armário com atividades para realizar, atividades já realizadas e materiais a

serem usados, além de materiais de auxílio como caixas de lápis de cor para as crianças

usarem no dia a dia.

Ao lado da mesa da professora tem um armário que quando aberto dá acesso à uma

televisão onde ocasionalmente é televisado algum programa educativo ou em dias de chuva

as crianças podem levar algum DVD infantil para compartilharem com a sala também. Nas

paredes, acima da lousa estão o alfabeto em letras garrafais de E.V.A. e os números de 1 a 10.

Ao lado da lousa há um cartaz com todos os nomes das crianças, já bastante desgastado com

nomes de crianças que já saíram da escola ou sem o nome de algumas que já entraram. Na

parede paralela a esta se encontra um quadro de avisos onde há um calendário e novamente

acima deste, o alfabeto em letras garrafais e minúsculas também. No canto esquerdo da lousa

há o calendário do mês ou semana escrito bem grande para professora acompanhar dia por

dia com as crianças tanto em relação às atividades a serem realizadas, como as que já foram e

eventos da rotina social como um todo (feriados, dias importantes, etc).

A sala é bastante organizada e controlada para uma turma tão grande, sendo as

crianças responsáveis por sua limpeza de forma geral após as atividades tanto com papel e

outros materiais como com brinquedos. Elas também têm o dever de trazer suas agendas para

a professora se comunicar com os pais e manter organizadas suas mochilas assim como a

responsabilidade para com seus agasalhos e brinquedos às sextas-feiras; sendo pequenas

responsabilidades que já ajudam em toda a questão da cidadania e organização que serão

necessárias nos próximos anos de vida escolar.

Meu maior foco neste estágio foi a observação e auxílio em momentos autorizados

para com as crianças e seu contato com a língua, literatura e diferentes formas de linguagem.

Na educação infantil do ensino público de São Paulo as professoras não são encorajadas a

alfabetizar as crianças, mas sim a deixar que estas entrem em contato com a língua de forma

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mais natural possível com estímulos de leitura, imagens e brincadeiras. O objetivo principal

da EMEI atual é a convivência social entre as crianças, o aprendizado sobre saúde, cidadania

e a vivência infantil através de momentos lúdicos e educativos sem cunho de educação muito

formal, ainda.

4. Desenvolvimento: vivência no estágio e a alfabetização

4.1 A dinâmica da educação infantil na EMEI

Realizei minhas 60 horas de estágio em dias variados no período da manhã entre

setembro e dezembro de 2016. Este contato devagar e longo com as crianças do 6ºB me

proporcionou uma visão que acredito que em poucas semanas ou dias não teria o impacto que

teve em quase três meses. Em setembro fui apresentada às crianças como a estagiária que

ficaria ao lado da professora observando suas atividades do dia a dia. No início as crianças

comportavam-se diferente quando eu estava em sala de aula por medo, curiosidade ou até

irritação, mas ao longo das semanas foram se acostumando com minha presença e logo eu

estava recebendo abraços calorosos da turma ao chegar nas manhãs.

Apesar dos abraços e palavras de carinho me trazerem muita felicidade o que mais me

empolgou foi o acesso que tive ao mundo dos alunos como escola, e infância. Ver as crianças

entrarem em contato com a literatura, com a sociedade, com as brincadeiras e colegas foi uma

experiência interessantíssima especialmente quando se fala em alfabetização. Desde as

conversas matutinas com a professora sobre os finais de semana e acontecimentos em casa

até as discussões no parque sobre uma pedra ser terra, pedra ou meteoro, por exemplo.

Prestar atenção nos diálogos e contatos das crianças com o mundo a sua volta no dia a

dia e estando acompanhando a leitura teórica dos textos e livros de alfabetização me fez

perceber que este ensaio será para mim pessoalmente um aprendizado muito rico que espero

levar adiante de forma útil e calorosa. Irei discorrer neste tópico sobre a dinâmica dentro da

educação infantil da escola municipal baseando-me na vivência de estágio.

Na EMEI José Bonifácio da Silva ficou claro para mim a prioridade da escola para

com as crianças: a vivência social e experimentação do mundo sensorial. Assim como

descreve o MEC nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, para o governo

o foco é a independência pessoal, a autoconfiança, o dinamismo na rotina, o contato com a

natureza e colegas e a cidadania. A rotina das crianças gira realmente em torno disso tudo,

desde o início do dia onde as crianças chegam socializam com os colegas e a professora, até a

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organização na hora da merenda da manhã e a realização de atividades relacionadas à saúde e

natureza.

Dentro da sala de aula os alunos sentam em grupos como já foi descrito, e fica

bastante claro o quanto felizmente as crianças ainda não possuem julgamentos ruins umas

sobres as outras, assim como também ainda, muitas não entendem a ironia, logo existe uma

harmonia bastante grande entre elas como seres humanos de diferentes cores, classes e

contextos. A discriminação e chacota também se desenvolve junto com o aumento da

complexidade de entendimento e uso da linguagem, o que aumenta ainda mais a

responsabilidade da escola para com o ensino linguístico aliado à questões sociais de

cidadania e ética.

Irei ilustrar um pouco do tipo de público que a escola trabalha e suas particularidades,

focando na sala de aula que acompanhei, o 6º ano B da turma da manhã: são 34 alunos de

classes média e classe baixa, variando entre 4 e 6 anos, a maioria advindos de famílias

tipicamente nucleares exceto uma aluna do abrigo de Santana; a escola recebe um alto fluxo

de imigrantes, porém na sala que acompanhei há apenas uma aluna vinda da Nigéria que

ainda está aprendendo a falar português, mas sua habilidade com a língua só se desenvolve e

de maneira bastante rápida. Em relação à alfabetização, em sala de aula com o auxílio da

professora fizemos diversas sondagens para ver em qual nível de processo as crianças se

encontravam, descobrindo logo que a situação era bastante heterogênea.

No próximo tópico discutirei a questão da alfabetização na educação infantil, porém

gostaria de ressaltar aqui a importância de se lembrar das particularidades e contextos de cada

aluno antes de começar sua sondagem e julgamentos a respeito de seu trato com a língua.

Logo percebi que algumas crianças variam seu desempenho de acordo com eventos externos

como problemas em casa, desatenção no dia ou até um déficit de estímulos fora da escola,

mas isso não quer dizer nada quando se fala de capacidade e intelecto.

4.2. O letramento na educação infantil do ensino público

Ao longo do estágio para saber o nível que as crianças se encontravam em relação à

alfabetização a professora realizava algumas sondagens: ditados de animais, números e

palavras populares por exemplo (irei aprofundar neste conteúdo no próximo tópico) e partir

disso ela trabalhava o que julgava ser necessário para uma melhor compreensão dos alunos.

Com os resultados percebi que há uma heterogeneidade ampla das crianças em relação ao seu

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entendimento com a língua. Existem crianças nessa turma que ainda estão utilizando a grafia

do nome a partir de rabiscos, como se imitando uma letra cursiva; outras que escrevem todas

as palavras como acham que é escrita porém utilizando apenas as letras de seus nomes, que

colocam letras decoradas aleatórias, outras que só escrevem seus nomes e outras que já

utilizam certo raciocínio lógico para o uso de certas letras. São menos de cinco alunos os que

conseguem escrever algumas palavras inteiras na turma.

Emília Ferreiro estuda as questões das diferentes fases da escrita em sua obra A

Representação da Linguagem e o Processo de Alfabetização, demonstrando como é natural e

progressivo o desenvolvimento da caligrafia, da relação da oralidade com a escrita e o

raciocínio linguístico. Ela trabalha desde os primórdios da escrita na infância que são as

linhas onduladas ou quebradas, ou uma padronização de formas, e destaca que nesta fase

deve-se valorizar sim a grafia mas não pode-se deixar esquecer de toda a significação por trás

deste gesto. Ela chama de aspecto construtivo o que a criança tenta representar a partir de

seus desenhos caligráficos e como seu contato com a cultura e mundo influenciam em seu

desenvolvimento.

A autora destaca três grandes momentos da escrita infantil: a distinção entre o modo

de escrita icônico e não icônico, a construção de formas de diferenciação, e a fonetização da

escrita. O primeiro pode ser descrito como a consciência da criança de saber diferenciar um

desenho de uma palavra, no sentido de que a forma de representação de algo não

necessariamente irá lembrar o objeto por sua forma ou textura. O segundo se dá a partir do

entendimento de que cada objeto e conceito possui uma decodificação diferente no sentido de

que suas grafias variam, porém a criança aqui ainda não possui domínio linguístico do

alfabeto ou silábico, logo nomeia objetos variando letras que já conhece, como quando a

criança escreve usando apenas letras de seu nome.

No primeiro e segundo estágio o que determina a inspiração à grafia é ela mesmo e o

desejo pela capacidade de representação que o mundo utiliza. O terceiro estágio se diferencia

dos outros dois exatamente porque sua essência se dá a partir da oralidade; o mesmo

acontece quando a criança começa a relacionar a fonética à sua escrita, o som das vogais com

as consoantes, e o início da relação dos fragmentos de palavras que logo se tornarão sílabas

que logo se tornarão palavras (seguindo o método silábico). E finalmente como discorre

Emília Ferreiro:

“O período silábico-alfabético marca a transição entre os esquemas prévios em via de

serem abandonados e os esquemas futuros em vias de serem construídos. Quando a

criança descobre que a sílaba não pode ser considerada como uma unidade, mas que

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ela é, por sua vez. reanalisável em elementos menores, ingressa no último passo da

compreensão do sistema socialmente estabelecido. E, a partir dai, descobre novos

problemas: pelo lado quantitativo, que se por um lado não basta uma letra por sílaba,

também não se pode estabelecer nenhuma regularidade duplicando a quantidade de

letras por sílaba (já que há sílabas que se escrevem com uma, duas. três ou mais

letras); pelo lado qualitativo, enfrentará os problemas ortográficos (a identidade de

som não garante a identidade de letras, nem a identidade de letras a de sons).”

(FERREIRO, 1995).

No próximo tópico irei ilustrar com as atividades realizadas em sala no estágio alguns

exemplos destas fases citadas, assim como a descrição dos diferentes níveis que as crianças

se encontram e como a professora trabalha com isso. Vale ressaltar aqui que o foco deste

ensaio é nas EMEIs, logo no ensino público de São Paulo, pois em colégios particulares a

dinâmica é completamente diferente, tanto em relação à metodologia quanto às idades de

alfabetização e ideais pedagógicos.

Cagliari também destaca bastante em sua obra Leitura e Alfabetização como o

professor deve estar sempre relacionando a fonética à escrita, já que uma influencia tanto a

outra e que muitas vezes falar de um jeito e escrever de outro não é errado, mas sim

completamente comum, por isso a importância de se ressaltar esta diferenciação e auxiliar na

distinção da escrita, da fala e do pensamento.

O problema não existe se uma criança escreve uma palavra exatamente como a ouve,

mas sim se um professor não souber trabalhar com isso de maneira com que o aluno entenda

as variações sonoras com as variações gráficas. A fala e a escrita se complementam porém

não se compõe uma dentro da outra. A fala possui particularidades e tendências que a escrita

raramente segue, assim como a formalidade e regras da segunda raramente se aplicam à

primeira também. São realidades linguísticas diferentes.

Em relação ao professor, a autora Cláudia Maria de Alencar em sua dissertação de

mestrado Da imagem ao símbolo: a escrita do nome próprio por crianças de três anos trata da

questão do educador ser na verdade um intérprete nesta fase da alfabetização, já que é um

processo extremamente autoral da criança, apesar da mediação do professor:

“Considerando, ainda, que a interpretação não se origina no adulto, mas no discurso

em que ambos, professor e criança, são significados, reitero que a interação do

professor com a criança é essencial para favorecer a ressignificação. É dos discursos

representantes do Outro, que já se encontra no lugar simbólico da escrita constituída,

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que virão os significantes que serão utilizados pela criança na produção de seus textos

escritos e será ele que interpreterá a escrita da criança, permitindo que ela [a escrita]

se transforme.” (ALENCAR, p. 61, 2012).

No próximo tópico apresentarei as atividades realizadas no estágio com os alunos e

tentarei relacioná-las aos estudos feitos até agora neste ensaio, porém espero que já seja claro

o quanto as crianças na educação infantil do ensino público já se encontram em um certo

nível de alfabetização mesmo sem a formalidade desta dentro da instituição. Para nós

educadores prestarmos atenção no quanto o ser humano é aprendiz do mundo à sua volta,

sendo estimulado linguísticamente desde uma placa de rua até uma grande obra literária

clássica.

4.3. Atividades feitas em sala

Neste tópico irei descrever as atividades realizadas em sala pelas crianças e com as

crianças, relacionando-as com o que vimos até agora neste ensaio e buscando demonstrar seu

desenvolvimento em relação à alfabetização mesmo sem estarem sendo alfabetizadas

formalmente.

Uma das principais atividades que a professora realiza com as crianças no dia a dia

para deixá-las em contato com a língua é a leitura de um livro algumas vezes por semana. A

professora leu livros como A Galinha Gananciosa, Os Bichos são Todos Bichos, O Ursinho

Apavorado, O Velho e Sábio Ganso, O Que é Que Tem o Meu Cabelo? e muitos outros. A

partir da leitura em voz alta e da conversa com as crianças a respeito da história a professora

geralmente aplica alguma atividade de imagem e escrita.

Após a leitura o livro A Galinha Gananciosa por exemplo, a professora escreveu o

título da obra no quadro negro, entregou os cadernos às crianças e falou para escreverem o

título (baseando-se na lousa) e desenharem alguma cena da história que lhes agradaram, Ao

longo da atividade as crianças vinham até a mesa da professora, explicavam a cena que

gostavam e mostravam o título escrito. Muitas delas conseguiam copiar o que estava escrito

na lousa por já ter contato e desejo de representação do alfabeto como conhecemos, porém

haviam crianças que ainda não o faziam escrevendo seus nomes ou até linhas padronizadas.

Para dar sentido à atividade a professora lia em voz alta o título escrito na lousa,

discorria sílaba por sílaba baseando-se nos sons e sempre questionando as crianças para fazê-

las refletir a respeito das palavras. Recapitula alguns nomes de personagens e soletra-os com

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as crianças (geralmente são nomes simples como Boni e Dudu) e na maioria das vezes as

crianças o fazem com o auxílio da professora mas deduzindo sozinhas.

Cagliari em sua obra Análise dos “erros” ortográficos ressalta a importância de dar

margem ao erro nesta fase da criança, e de encorajar os professores a estimular a

espontaneidade e a tentativa livre, sem preocupações com técnicas e acertos. A professora

Erika da EMEI seguia bastante esta linha de pensamento, sempre ressalvando às crianças a

importância de tentar escrever o que soubesse, o que quisesse e de forma livre.

A educadora trabalhava bastante também atividades de relação entre figuras e

palavras, pois mesmo não sendo alfabetizadas as crianças já identificavam diversas palavras

apenas por perceberem a diferença da grafia e reconhecer certas letras e tamanhos. As

crianças tinham disponível diversas imagens e cerca de 80% dos nomes escritos na lousa:

deveriam relacionar os nomes às imagens e as imagens sem a escrita deveriam ser nomeadas

pelas próprias crianças como estas imaginassem que deveria ser escrito.

Naquela atividade o que estava em jogo era mais a capacidade da criança reconhecer

grafias e se já for familiar ao alfabeto que talvez encontrasse respostas a partir de alguns dos

sons das letras. São pequenas atividades que requerem apenas um lápis e um papel, porém

que aliados ao estímulo do educador e da instituição para com as crianças e uma mediação

lúdica e dinâmica podem resultar em grandes avanços intelectuais.

Uma das atividades mais simples porém mais interessantes eram as sondagens que a

professora realizava com as crianças: dava um pedaço de papel para cada uma delas e fazia

uma forma de ditado de palavras utilizadas recentemente como animais e comidas. A seguir

anexarei algumas das sondagens para uma análise mais detalhada.

FIGURA 1

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FIGURA 2

FIGURA 3

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Ao lado das palavras escritas pelas crianças a professora escreveu para meu auxílio e

futura referência as palavras do ditado. Nota-se pelas figuras como existe uma

heterogeneidade quando se fala nos diferentes níveis em relação à alfabetização. Em uma

mesma sala se tem uma criança que como na Figura 1 já escreve de certa forma

acompanhando a fonética (“Mkro” e “Leo” por exemplo) porém ainda sem o domínio das

regras da escrita, na Figura 2 uma criança que possui pouco domínio do alfabeto mas já

possui a noção de diferença de grafias entre palavras e a Figura 3 onde a aluna está num

processo de transição entre a escrita fonética e a de representação de grafias.

Nas três figuras também fica claro como as três alunas apesar de ainda não serem

completamente alfabetizadas já possuem o domínio da escrita sobre o próprio nome. Isso

porque o nome é a primeira coisa a ser trabalhada com as crianças em relação à escrita e

leitura, já que envolve também um processo de auto descoberta no mundo linguístico.

Citando Cláudia Maria Alencar:

“O trabalho da professora com a escrita do nome próprio faz com que a criança passe

a espelhar-se nessa escrita, iniciando a grafia de traços. Ao interpretar um traço da

criança como uma letra, a professora causa um efeito sobre a criança que passará a

usar variações desses traços em seus escritos. Segundo a autora [BOSCO] ‘ as letras

revelam-se umas às outras pela relação de natureza metafórica que se estabelece’

(BOSCO, 1999, p. 106) Essa relação pode levar à percepção de semelhanças entre os

traçados das letras “ (ALENCAR, 2012).

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Em relação à escrita do nome e por um interesse em qual pé as crianças estariam em

relação a isso eu apliquei uma atividade em sala: distribui as letras de cada nome das crianças

embaralhadas junto com um pedaço de papel colorido, tendo as crianças que desembaralhar

as letras dos nomes e colar na ordem correta no papel colorido. Depois utilizamos dessa

atividade para realizar um painel com os nomes de autoria das crianças para que se vissem

nele, o consultassem e socializarem sobre. A seguir, algumas fotos do projeto já terminado.

FIGURA 4

FIGURA 5

FIGURA 6

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Como se vê a grande maioria das crianças conseguiu organizar as letras do nome de

maneira organizada. Ao lado dos recortes os nomes foram escritos por nós professora e eu

para que as crianças pudessem consultar caso alguém não conseguisse organizar suas letras.

Grande parte dos alunos realizou a tarefa de maneira rápida e fácil, os que não o fizeram

foram três especialmente: Ryan que colou as letras horizontalmente porém linearmente,

trocando o N pelo A, escrevendo “RyNA”, a Giovanna que se embaralhou um pouco com as

letras e a Suzanna, aluna Nigeriana em processo de aprendizagem do português. Tanto Ryan

como Giovanna e Suzanna são perfeitamente capazes de o fazer porém por problemas

externos (a imigração de Suzanna, a gagueira de Ryan e problemas pessoais de Giovanna)

sua efetividade foi interrompida. A professora Erika realiza delicadamente com estes alunos

um atendimento não individual porém com mais atenção, para que esses pequenos problemas

sejam domados e quem sabe superados até o Fundamental I para que não atrapalhem sua

alfabetização formal.

O ponto que quero trazer à luz aqui é de que mesmo não estando em contato com a

alfabetização formal na educação infantil estes alunos como muitos outros já possuem um

bom senso de controle do alfabeto, da escrita e às vezes até da leitura. Como educadores

devemos nos atentar aos problemas externos dos alunos, encontrar como ajudar e estar

presente para dar o auxílio necessário para que este se encontre, se inspire e continue

aprendendo sempre.

Ilustrei aqui algumas das atividades que vi serem feitas e ajudei a fazer na minha

experiência de estágio, buscando entender como muitas vezes as crianças se desenvolvem em

relação à linguística e à escrita mesmo sem estarem sendo formalmente apresentadas à ela. O

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professor se faz aqui um importantíssimo mediador como intérprete de cultura, expositor de

novas informações e aprendizados além de um apoio sólido às dificuldades e dúvidas. O

ímpeto mais importante de querer aprender parte do aluno, porém o papel para implantá-lo é

do professor.

5. Intervenção: O ponto cruz e a escrita

Para este ensaio foi encorajada uma intervenção autoral artística que relacionasse

nossa experiência de estágio à matéria de Metodologia do Ensino de Português: a

Alfabetização, e a perspectiva de um futuro profissional alfabetizador. Escolhi fazer um

bordado de ponto cruz de uma letra do alfabeto pois acredito que assim como a alfabetização

e muitas outras aquisições de conceitos de aprendizagem são ações que não são esquecidas

uma vez que absorvidas e requerem trabalho manual e raciocínio para sua execução.

Assim como o bordado do ponto cruz, cada passo é observável na aprendizagem

linguística, e cada ponto é um progresso, mesmo que pequeno, pois é acumulativo. O bordado

é algo que quando pronto é delicado, preciso e esteticamente agradável, porém se você virar o

tecido que bordou do avesso ou do contrário verá todo o trabalho árduo por trás, desde nós

irremediáveis, até retalhos, acumulação de linha em alguns pontos e casas feitas e refeitas

várias vezes.

Novamente a alfabetização também se dá da mesma maneira: ao dominarmos o

bastante da língua carregaremos para sempre em nós essa capacidade de produzir desde

textos delicados como a poesia e literatura até os trabalhos mais técnicos como manuais e

muitos outros gêneros textuais. Ao escrevermos um texto não transparecemos o quanto

investimos em nossa educação desde os primeiros anos de vida para que o fizéssemos com

sucesso. Por trás de um belo texto há também trabalho árduo, erros reparados, infindas

edições e horas a fio, assim como em um bordado.

Tendo um tecido, uma linha, uma agulha um bastidor e a absorção do conceito da

costura é possível criar do mais simples bordado até o mais complexo, sendo assim também

na escrita. Uma infinidade de possibilidades nas linhas de uma folha de papel, um lápis e o

pensamento humano. Quanto mais se produz mais se melhora na ação de produzir e é assim

em ambas as ações. Aprendi a bordar em ponto cruz nas férias de Julho de 2016 e evoluí

bastante ao longo do ano, porém sei que tenho um longo caminho pela frente, e sei que a

situação é a mesma quando se trata da escrita e do contato com a linguística para as crianças

da Educação Infantil.

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5. Conclusão Vimos neste trabalho como muitas vezes a linguagem e o letramento se dão antes

mesmo de serem trabalhados dentro da instituição escolar, pois somos seres humano e o

aprendizado ocorre de forma natural a partir do momento em que nascemos, principalmente

pelo fato de sermos seres linguísticos e nos mantermos assim até o fim de nossos dias. Não é

nada diferente na Educação Infantil, sendo o foco do ensaio estudar como muitas vezes as

crianças já estão em pleno desenvolvimento da alfabetização antes do ensino fundamental,

onde pelas Diretrizes Curriculares Nacionais o aluno deve ser alfabetizado formalmente.

Acredito que minha experiência de estágio tenha sido algo enriquecedor e informativo

a respeito do tema escolhido, e que este ensaio tenha ilustrado bem meu prazer de estudar a

Educação Infantil e sua substância como nível educacional e vivência de infância. Ficou claro

o quão o nível de desenvolvimento infantil está diretamente relacionado com o contato com a

cultura e o interesse pelo mundo que nos rodeia.

Assim como o bordado de ponto cruz a alfabetização se dá, ponto por ponto, se

desenvolvendo progressivamente até formar um belo bordado cheio de detalhes e vida, com

muito esforço, criatividade, trabalho, erros e edições por trás. Como tudo na vida que cresce

com o interesse e a dedicação a alfabetização não poderia ser diferente, logo fica claro o quão

importante é a educação infantil trabalhar questões culturais, literárias e musicais, pois o

sucesso no ensino fundamental se dará a partir dos fundamentos adquiridos aqui.

6. Referências Bibliográficas

● RIOLFI, Cláudia. Concepção do Homem como Ser de Linguagem. In: Linguagem e

Pensamento. Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. Curitiba - Brasil. 2008

● FERREIRO, Emília. A Representação da Linguagem e o Processo de Alfabetização.

In: FERREIRO, Emília. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 1995. p 9-

41.

● MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação Infantil. 2010. Acesso em

30.11.16. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?

option=com_docman&view=download&alias=9769-diretrizescurriculares-

2012&category_slug=janeiro-2012-pdf&Itemid=30192

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● CAGLIARI, Luiz Carlos. Leitura e Alfabetização. Cadernos de Estudos Linguísticos,

Nº 3, 1982. UNICAMP - Campinas.

● CAGLIARI, Luiz Carlos. A produção de textos. In: Alfabetização e Linguística. 10º

edição. Editora Scipione: São Paulo. 1997.

● ALENCAR, Claudia Maria Barbosa de. Da imagem ao símbolo: a escrita do nome

próprio por crianças de três anos. 2012. 234. Dissertação (mestrado): Faculdade de

Educação, Universidade de São Paulo, 2012.

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