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MICHELOTTO

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MICHELOTTO

"traduzir deixa de ser uma atividade inútil ou invisível, que deve passar despercebida, e se assume como

uma inevitável forma de conquista ou de tomada de poder, que necessariamente reescreve o passado e se

apropria de outras culturas e linguagens"(Arrojo)

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01 Referências Teóricas

01.1 Definindo Tra+ducere p. 5

01.2 Toda tradução é impossível p. 5/7

01.3 Conceito de Discurso de Poder em Foucault p. 7/8

01.4 Contextos de Tradução p. 8

02. Referências em Anouillh p. 8 /9

03. A (in)visibilidade do tradutor p. 9/10

03.1 logocentrismo X deconstrução p. 10/1903.2 o parâmetro Borges p. 16/19

03.3 a (in)visibilidade no contexto cultural, econômico e social. p. 19/ 2303.4. transpor siginificados (in)stáveis p. 23/24

04 Referências para a introdução à tradução de Édipo que manca p. 25/26

05 Hermenêutica & Tradução p. 27/29

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01.1 Definindo: Tra+ducere Como definição parcial, estabeleçamos que traduzir é transferir os jogos de linguagem de uma língua para os jogos equivalentes” de uma outra língua.

·Existe equivalência?

· Não-equivalência entre línguas

· Tendências pós-estruturalistas - Desconstrução

· Jacques Derrida, Rosemary Arrojo

· Ilusão Logocêntrica

· Desconstruindo a desconstrução

· Conceitos desconstruídos

o Originalidade

o Fidelidade da tradução

o Sentido do texto dado, no próprio texto

o Tradução literal

o Tradução técnica/tradução literária

01.2 Toda tradução é impossível

Segundo HUMBOLDT (1936), os sistemas lingüísticos são parte intrínseca de uma dada cultura, e a necessidade que há de se expressar conceitos em uma dada língua é determinada pela própria cultura. Humboldt dizia que não há qualquer relação intrínseca entre as culturas do mundo, as formalidades “universais”, como: agradecer, saudar, pedir desculpas etc. são meras convenções. No entanto, o que estabelece a visão que um sujeito tem do mundo é sua cultura - socialmente compartilhada, mas única, singular - comum à seu grupo social, e ao mesmo tempo idiossincrática. A rigor, não existem relações entre conceitos culturalmente determinados de uma cultura x e outra y. Se x não tem qualquer contato físico com y, os conceitos de y pouca ou nenhuma importância têm para x. A isso equivale dizer que x, sendo uma cultura independente e auto-subsistente, assim como y, são mundos fechados, feudos culturais sem nenhuma sinapse com outros feudos. Se tal teoria for levada a fim e a cabo, fica-se estabelecido que não há qualquer relação entre a língua de x e a de y. As palavras destas línguas representam mundos diferentes, mesmo se consideradas equivalentes pelos dicionários. Ao se pensar por exemplo na palavra floresta, é possível imaginar que um

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MICHELOTTObrasileiro pensasse em um agrupado gigantesco de árvores tropicais, relativamente espaçadas umas das outras, cuja fauna é composta por onças-pintadas e macacos, com clima permanentemente quente e úmido - uma visão da Floresta Amazônica. É possível que para um alemão, no entanto, a palavra Wald (tida como “equivalente” em qualquer dicionário bilíngüe português-alemão) tenha como referência um símbolo completamente diferente - árvores coníferas, que formam um tecido de vegetação fechado, escuro, frio, habitado por ursos, veados e esquilos - uma visão da Floresta Negra. De que equivalência poder-se-ia falar aqui? A medida em que os mundos culturais são diferentes, estes precisam denotar símbolos diferentes, que não necessariamente correspondem a qualquer outro símbolo de qualquer outra cultura.

A desconstrução tem por objetivo desfazer as crenças na relação um a um entre palavra e sentido, entre palavras de uma língua e de outra, entre equivalências diretas e claras. Segundo ARROJO (1993), tudo não passa de ilusão logocêntrica, uma vez que só o que podemos fazer com o discurso é utilizá-lo para produzir mais discurso - que não passa de linguagem, não verificável, “desconstruível”.

A rigor, se levarmos as teorias humboldtianas e desconstrutivistas ao radicalismo, pode-se chegar à conclusão de que toda a tradução é impossível. O grande precursor da desconstrução na França, Jacques DERRIDA (1967:123 et seq.), chega mesmo a negar, em seu rigor teórico (e pouco prático), a possibilidade de toda e qualquer comunicação.

Tendo como porto-seguro a concepção de verificabilidade dos resultados, podemos dizer que a teoria desconstrutivista não é verdadeira, pelo menos parcialmente, já que o mundo vive e depende dos milhões de palavras traduzidas a cada hora, da comunicação de informações de maneira rápida e permanente entre as nações, da interpretação “correta” e “verificável” dessas informações.

Tem-se portanto, é impossível negar, algum “fenômeno” de equivalência que permite que traduções sejam realizadas pragmaticamente. Este fenômeno é justamente o consenso da concepção judaica, o convencionalismo lingüístico, adotado pelos povos através do fluxo da História. É, pois, a equivalência intra e/ou interlingüística utilizada como ferramenta na tradução, meramente consensual.

É evidente que não se trata aqui de uma percepção simplista do acordo social explicitado. Não se trata de uma reunião de cúpula da ONU, com representantes de entidades lingüísticas de diversas nações, para decidirem que palavras de suas línguas serão consideradas equivalentes a que palavras em outras línguas. Todo acordo lingüístico é fruto do desdobramento dos séculos e do deslocamento do Homem na História. Fala-se em História ao se mencionar toda trajetória orgânica, social, intelectual, ética, moral e, por fim, cultural do ser humano, desde sua aparição consciente no mundo.

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MICHELOTTOStanley Fish, pragmatista americano da Universidade de Harvard, tece, em seus textos,

sua própria teoria pragmatista (cf. FISH, 1980). Stanley Fish coloca sobre os ombros de uma denominada “Comunidade Interpretativa” o papel de uma espécie de juíza de valores. Os que discordam das determinações desta, estão “teologicamente errados” (FISH 1980:189). O texto passa a significar, portanto, tudo aquilo, e não mais que isso, que a Comunidade Interpretativa quer que ele signifique. O significado de um texto é, portanto, dissociado do texto por completo e atribuído à Comunidade Interpretativa. Por Comunidade Interpretativa (doravante CI) entende-se um grupo de pessoas (no caso de Fish, de acadêmicos), que expressam uma mesma leitura de um texto, interpretando-o de maneira equivalente.

Assim, ao observar-se o mundo com os olhos de Fish, é possível estabelecer (coerentes) relações entre todo significado - de um texto, de uma proposição filosófica, de uma equivalência tradutória - e a interpretação canônica que se faz dele. O Tudo significa somente aquilo que os detentores do poder de coerção social querem que ele signifique. O motivo que leva à eclosão de tal fenômeno só pode ser encontrado nas relações ideologizadores de Althusser. Para ALTHUSSER (1984), sendo o fator social ideológico e ideologizador inescapável, inevitável, perdem-se as concepções de estranhamento em relação aos fenômenos e estabelece-se o canônico, segundo o princípio da naturalização. Não se questiona o porquê de tal palavra ser “considerada” equivalente a uma outra, pois “é esta a ordem das coisas”. O fenômeno ideologizador leva à alienação. A concepção consensualista transforma-se num arquétipo de proposta onomatopaica. Isto é aquilo, diz-se. Perde-se a noção da origem, arbitrária e convencional - e ganha-se a (equivocada) impressão de Verdade absoluta, universal e imutável.

01. 03. Conceito de Discurso de Poder de Foucault

Michel Foucault, francês, filósofo e historiador do pensamento, desenvolveu, entre muitas outras, uma chamada “teoria genealógica” que tenta explicar mudanças nos sistemas de discurso através das conexões destes às práticas não discursivas de exercício do poder social. Assim como as genealogias de Nietzsche, as de Foucault refutaram qualquer esquema explanatório, como os de Marx ou Freud. Ao invés disso, ele encarava os sistemas de pensamento como produtos contingentes de muitas causas pequenas e não-relacionadas. Essencialmente, os estudos genealógicos de Foucault enfatizam a conexão real entre o conhecimento e o poder. Instâncias de conhecimento não são estruturas intelectuais autônomas que podem ser utilizadas como instrumentos baconianos de poder, mas estão essencialmente ligadas a um sistema de controle social.

Os escritos genealógicos de FOUCAULT (1975), que fazem parte de sua terceira e mais duradoura fase filosófica, começam com uma apologia de Nietzsche e suas teorias genealógicas originais.

O filósofo francês propõe uma complementação da teoria original de Nietzsche e afirma que “...todo e qualquer discurso é uma clara tentativa de exercício de poder social”

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MICHELOTTO(FOUCAULT, 1975). Esta conexão essencial foucaultiana entre conhecimento (discurso) e poder reflete a visão do autor francês de que o poder não é meramente repressivo, mas uma fonte de valores positivos, criativos, e sempre perigosos. Apesar de os sistemas de conhecimento expressarem uma verdade objetiva per se, estes estão sempre ligados aos regimes de poder correntes. Por outro lado, todo e qualquer regime de poder necessariamente dá vida a um sistema de conhecimento sobre os objetos que pretende controlar. Este conhecimento pode, no entanto, em sua objetividade, ir além do projeto de dominação a partir do qual foi criado.

01.04 Contextos de Tradução

Podemos elencar provisoriamente como elementos envolvidos no processo tradutório: o texto original, o autor, o contexto, o texto traduzido e o tradutor.

Dentro deste vasto contexto é que situamos Antígone, Medeia e Édipo que manca.

Antígone é a pequena magricela que desaparece diante da beleza da irmã, da imponência do tio, da estupidez dos irmãos, do devastador drama dos pais (Édipo e Jocasta).

Mas Antígone é sobretudo o segundo Coro refletindo sobre a Tragédia e como ela advém de um nada, um nadinha de visibilidade:

“É isso que é cômodo na tragédia, dá-se um empurrãozinho para que as coisas desandem, um nadinha, um olhada durante um segundo para a moça que passa e levanta seus braços na rua ...”

Édipo que manca, é uma peça de Anouilh, exemplar no aspecto das camadas de

transferência necessárias para uma tradução de dramaturgia. Possivelmente a mais difícil das

nossa tríade grega, uma vez que, tanto o tradutor quanto o leitor, o diretor, o ator, o cenógrafo,

nos confrontamos com um Édipo freudiano, além do Édipo original.

Médeia Anouilh vestiu admiravelmente bem de uma dessas ciganas que giram pela

Europa. Elas lêem em nossas mãos um destino amor, dinheiro, poder. Trindade de desejos da

qual elas mesmas se sentem excluídas tantas vezes.

Medéia de Anouilh é a cigana que lê constantemente a própria mão.

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MICHELOTTOQuando a traduzimos não nos preocupamos demais com nossa visibilidade ou não, com a

cultura para a qual ela era transposta ou não. Uma vez que Anouilh já nos dá isso de bandeja.

Para a presente tradução de Édipo que manca, inclusive a partir do próprio sub-título anexado

(boiteux), o capenga, que anda mal, não poderíamos encontrar material melhor de introdução

que o do tema da (in)visibilidade do tradutor.

Numa peça em que a (in)visibilidade dos passos do personagem é marcada no título como

num exórdio. Numa peça em que a visibilidade do personagem confunde-se no ocidente com a

(in)visibilidade de um outro, talvez dentro de nós complexamente estabelecido pela tradução

de Freud para uma das facetas do inconsciente.

Édipo é o personagem que fura os olhos, centro de toda problemática posterior entre teorias da

visibilidade/invisibilidade. Seja dos desejos. Seja da ciência.Seja da tradução.

O tema da (in)visibilidade do tradutor, a partir dos estudos de Venutti., é um dos que

criaram mais controvérsias entre os teóricos da tradução. Para alguns críticos e teóricos

logocêntricos, a tradução é vista como uma atividade mecânica, cabendo ao tradutor

transportar significados supostamente estáveis do texto de partida para o de chegada,

tornando-se possível a neutralidade do mesmo na tradução fluente de textos literários,

possibilitando o aparecimento da voz do autor do original. Neste trabalho busca-se contestar

tais colocações, seguindo de perto as formulações de Venuti sobre a estreita relação entre

tradução literária e tradução de elementos culturais considerando-se que:

1. A impossibilidade de invisibilidade do tradutor, dentro dos limites do

logocentrismo que se baseia na semiologia clássica de Saussure e que parte do

pressuposto de que há, por trás de todo signo, um referente externo ao sistema

lingüístico, é uma ilusão;

2. O escritor não é o autor soberano do texto que escreve. Cada leitor/tradutor faz

uma leitura, uma interpretação, fruto de suas inter-relações com outros textos,

contrariando o conceito logocêntrico de processo tradutório como uma

substituição ou transferência ingênua de significados estáveis de um texto para COMO SE APODERAR DE ANOUILH

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MICHELOTTOoutro e de uma língua para outra, isto é, cada tradutor tem uma experiência de

vida e conseqüentemente, uma visão de mundo, um conjunto de valores e

ideologias que influenciará, inevitavelmente os resultados das suas traduções;

3. Aceitar o pressuposto apregoado pelo logocentrismo implica na marginalização

e apagamento do tradutor e, conseqüentemente, na produção de traduções de

segunda categoria, pois sendo invisível o tradutor, suas responsabilidades

autorais serão menores.

Apesar de haver várias teorias com relação ao uso ou funcionamento da linguagem, toda

teoria lingüística, que está ligada ao logocentrismo, compartilha do pressuposto de que a

origem dos significados se encontra fora do receptor ou leitor. Assim, a teoria logocêntrica crê

que está no significante (no texto, na palavra) e/ou nas intenções do emissor/autor, a origem

do significado; a palavra está presa num invólucro duradouro e resistente que aprisiona,

através dos tempos, as intenções do autor. Arrojo compara as atribuições conferidas ao autor,

pela tradição logocêntrica, como lembrando a "figura paterna autoritária e controladora que

tem o direito indiscutível de determinar os destinos e os contornos de sua prole" e ao leitor

cabendo apenas "o papel filial e passivo, um papel essencialmente respeitador e protetor dos

desejos autorais intencionalmente inseridos no texto".(1992a: 36). Esse conceito embasa a

possibilidade de um significado subordinado à letra, plasmado no texto, que não sofre

influência de qualquer contexto e é imune à leitura, sendo o ler ou compreender somente o

resgate do que o autor quis realmente dizer, das suas reais intenções.

Ainda, seguindo a reflexão de Arrojo, desde, pelo menos, Aristóteles e Platão, a base de

grande parte das teorias, das filosofias e das visões de mundo da civilização ocidental foi a

crença nesse conceito de significados estáveis, de verdade e de realidade e na possibilidade de

algum nível de conhecimento em estado puro que se possa instalar nas palavras, na fala ou na

escrita, e que pode ser retirado e adequadamente resgatado das palavras, dos textos, das

circunstâncias - por não estar fundido a eles. Através de todos esses séculos, a tradição

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MICHELOTTOlogocêntrica tem feito inúmeras e incansáveis tentativas de produzir uma leitura de um texto

que resistisse ao tempo e às mudanças de contexto, porém todas elas infrutíferas.

Se levarmos às últimas conseqüências e pensarmos na tradução dentro dos pressupostos

logocêntricos, como um transporte de significados estáveis e determinados de um texto para

outro, de uma língua para outra, de uma cultura para outra e de uma época e lugar para outros,

toda tradução deverá ser também capaz de realizar o milagre de transformar a diferença em

igualdade, além da possibilidade de encontrar significantes que encaixem nos significados

transportados sem danos e perdas. Podemos ver também, tradutores que se acomodam ao ideal

impossível imposto por esta tradição e tentam justificar a não adequação da tradução às regras

logocêntricas, conforme observado nas entrelinhas da declaração de Paulo Rónai ao comentar

sobre as interpretações da palavra tradução:

Conduzir uma obra estrangeira para outro ambiente lingüístico significa querer adaptá-la ao máximo aos costumes do novo meio, retirar-lhe as características exóticas, fazer esquecer que reflete uma realidade longínqua, essencialmente diversa. Conduzir o leitor para o país da obra que lê, significa, ao contrário, manter cuidadosamente o que essa tem de estranho, de genuíno e acentuar a cada instante a sua origem alienígena (1981: 20).

Uma formulação exemplar apresentada por Eugene Nida (1975: 190), sobre o processo

de tradução é a que compara as palavras de uma sentença a uma fileira de vagões de carga. Há

vagões que carregam uma grande carga, tão grande que terá que ser dividida entre vários

vagões e outros uma carga pequena. Desta mesma forma, algumas palavras "carregam" vários

significados e outras, só juntas terão algum significado. Para Nida, o que importa no processo

tradutório é que todos os componentes significativos do original alcancem a língua-alvo, de tal

forma que possam ser entendidos pelos receptores; da mesma forma que o importante no

transporte de uma carga não é em quais vagões estão as cargas ou qualquer outra informação,

mas que cheguem ao seu destino.

A crítica ao conceito logocêntrico, ainda segundo Arrojo (idem) parte do pressuposto de

que todo sujeito está interligado com o objeto numa relação que sofre influência e é

determinada pelas circunstâncias contextuais. Esta crítica abala a crença na possibilidade da

existência de significados estáveis, supostamente presentes e resgatáveis de um sujeito, e faz

com que as questões teóricas da tradução deixem de ser marginalizadas pelos estudos da

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MICHELOTTOlinguagem, passando a ser objeto de estudo dos intercâmbios lingüísticos que acontecem

dentro de uma mesma língua, de um mesmo original.

Um aliado desta crítica é Nietzsche (apud Arrojo, 1992b: 421), o qual em suas reflexões

a respeito da linguagem elimina o mito de se encontrar "verdades" que estejam além da

perspectiva e do contexto em que ocorrem. Arrojo afirma que "a busca de conhecimentos e de

verdades que motiva a filosofia e a ciência é, para Nietzsche, apenas um sintoma do impulso à

formação de metáforas, que distingue os humanos das outras espécies animais" (p.421), e o

"conhecimento" deixa de ser apenas um invólucro de significados estáveis, e passa a ser um

instrumento produtor de "verdades". Desta forma, para estes autores supracitados, não existe

um significado fixo na origem de qualquer manifestação lingüística, não há um original, um

nível de conhecimento que anteceda à linguagem e que simplesmente se deixe envolver ou

macular por ela. Ainda citando Nietzsche, Arrojo (idem) reproduz suas palavras dizendo que

no início de tudo há apenas a formação de uma metáfora; "um estímulo nervoso que se

transforma em percepção", a qual segundo a autora está acoplada a um som. Para Nietzsche

(idem):

Quando falamos de árvores, cores, neves e flores, acreditamos saber algo a respeito das coisas em si, mas somente possuímos metáforas dessas coisas, e essas metáforas não correspondem de maneira alguma à essência do original. Da mesma forma que o som se manifesta como máscara efêmera, o enigmático X da coisa-em-si tem sua origem num estímulo nervoso, depois se manifesta como percepção e, finalmente, como som (p. 422).

Nietzsche parece estar eliminando qualquer tentativa de se estabelecer uma relação

própria ou uma tradução literal entre quaisquer esferas ao questionar a crença na possibilidade

de uma origem e ao sugerir que os significados se formam a partir de uma série de

metamorfoses apagadas de uma esfera para outra - "do estímulo nervoso para a percepção,

desta para o sonoro, do sonoro para o literal, do literal para o figurado e assim por diante"

(idem).

Apesar das reflexões de Nietzsche serem, basicamente, sobre a arbitrariedade da

linguagem, para os estudiosos da linguagem, o grande teórico do signo arbitrário é Ferdinand

de Saussure segundo o qual "o signo lingüístico é arbitrário. Assim a idéia de mar não está

ligada por relação alguma interior à seqüência de sons m-a-r que lhe serve de significante;

poderia ser representada igualmente bem por outra seqüência, não importa qual" (1971: 24).

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MICHELOTTOCom base no conceito saussuriano do signo arbitrário, Derrida (1987: 26) propõe que se

negue a qualquer pretensão de presença ou de plenitude em qualquer manifestação lingüística:

Esse jogo de diferenças supõe, na verdade, sínteses e referências que proíbem em qualquer dado momento, ou em qualquer sentido, que um simples elemento esteja presente nele próprio, e que se refira apenas a si mesmo. Quer na ordem do discurso oral ou escrito, nenhum elemento pode funcionar como um signo sem se referir a um outro elemento, este também não simplesmente presente.

Assim, todo e qualquer texto só pode ser formado a partir do entrelaçamento de signos,

produzido a partir da transformação de outros textos, num processo de adiamento infinito da

origem do significado.

Parafraseando o autor, toda presença, como toda origem, será sempre reconstruída, ou

seja, produto e resultado de um processo de interpretação, que implica a transformação, a

produção e não, simplesmente, o resgate de significados plenos e alojados no interior do

significante ou do texto.

Mesmo assim, todo e qualquer projeto logocêntrico se embasa na semiologia clássica

para afirmar que por trás de todo signo/sinal há um referente externo ao sistema lingüístico,

assim como existe uma presença real e resgatável por trás de toda reprodução ou cópia. O

signo, e em especial, a escritura ou a reprodução representa algo que deveria estar presente,

ora adiado, e que pretendemos resgatar. Comentando ainda sobre o signo, Derrida discute a

impossibilidade de se tomar ou mostrar a coisa, e de declarar o presente, o estar-presente,

quando o presente não pode ser apresentado e assim é que se recorre ao desvio fornecido pelo

signo. Por esta razão, o filósofo ratifica a questão de que, na verdade, o signo é uma presença

diferida, adiada sempre.

De acordo com o pensamento acima, o signo ou a escritura é concebível somente "como

agente do adiamento da presença", ou seja, é uma presença adiada que pretendemos resgatar;

conseqüentemente, a substituição da coisa-em-si pelo signo se torna tanto secundária quanto

provisória: “secundária em relação a uma presença original e perdida a partir da qual se deriva

o signo; provisória em relação a essa presença definitiva e ausente em cuja direção o signo,

nesse sentido, constitui um movimento de mediação” (1982: 09).

Com base nestes conceitos, a problemática da tradução e dos chamados textos

"originais" pode também ser enfocada. Podemos classificar na relação signo/referente, o

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MICHELOTTOprimeiro como adiamento, substituto daquilo a que se refere, enquanto que na relação

original(signo)/tradução, o signo já ocupa a posição da coisa-em-si e a tradução passa a ocupar

a posição incômoda e inadequada de representante do original, secundária e provisória.

Embasado neste conceito de signo e de suas relações com o seu referente, o

logocentrismo posiciona no processo tradutório, todo "original" como a coisa-em-si e condena

qualquer tradução como um adiamento incômodo da coisa-em-si, representante do "original"

do qual não temos acesso, em outra língua, em outro tempo e em outra cultura. Se na relação

signo/referente, o signo ocupa uma posição secundária de adiamento, na relação

"original"/tradução, os signos que constituem o texto a ser traduzido perdem sua posição de

inferioridade e se posicionam como estáveis e "originais". Seguindo o raciocínio da teórica

pós-moderna citada anteriormente devemos a essa concepção “a formulação da velha oposição

entre conteúdo e forma que sobrevive, inclusive, nas reflexões que a lingüística, a teoria

literária, a semiótica e a filosofia - todas de vocação logocêntrica - ainda tecem em torno da

distinção de Saussure entre significante e significado" (1992c: 59).

Derrida (apud Arrojo, 1992) propõe a desconstrução do logocentrismo tentando

demonstrar "que não há saída possível do labirinto inescapável de signos que se referem

sempre e tão-somente a outros signos, num processo de adiamento infinito que proíbe

qualquer encontro com uma suposta presença externa a esse labirinto”. Assim, não há nesse

jogo arbitrário de diferenças nenhum significado que pudesse estar presente em si e referir-se

apenas a si próprio e, por isso mesmo, ocupar um lugar privilegiado fora das regras do jogo.

Derrida usa um neologismo - différance do verbo francês différer - para se referir a esse

jogo de adiamento infinito. O verbo francês différer, como o verbo diferir no português, pode

significar: adiar, procrastinar, retardar, como também divergir, discordar, ser diferente, ser

outro. A palavra différance expressa dessa forma tanto a diferença como o adiamento e se

refere a uma diferença tanto temporal como espacial. Da mesma forma que a diferença entre

as palavras différence e différance não é perceptível audivelmente, sendo notada somente na

escritura, Derrida pretende que o "a" de différance marque "a diferença da escritura dentro e

antes da própria fala, subvertendo a distinção tradicionalmente estabelecida entre a fala e

escritura, além da própria tradição que sempre atribuiu à primeira a prioridade e a maior

intimidade com o verdadeiro" (1992c: 60).

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MICHELOTTODaí justificar-se o procedimento da tradição logocêntrica, a qual sempre precisou

reprimir essa relação de "mútua différance" entre original e tradução, através da "sacralização

do original" e da "marginalização do tradutor e de seu ofício" (1992c: 60), para que suas

concepções tivessem fundamento.

Aqui, começam a se delinear as razões do trabalho proposto. Consideremos o seguinte:

Observamos nas leituras feitas dentro da área de teorização da tradução mais ortodoxa que a

concepção logocêntrica parece sempre ter gerado preconceitos, noções de inadequação, de

inferioridade, em relação ao conceito de que toda tradução, ao considerar toda a atividade

tradutória como uma traição do original, uma deformação e, sobretudo, este preconceito

milenar tem imposto a todo tradutor uma tarefa impossível - a possibilidade de que seja não

apenas invisível e inconspícuo, mas também a de que possa colocar-se na pele, no lugar e no

tempo do autor que está traduzindo, sem deixar de ser ele mesmo e sem transgredir a sintaxe e

a fluidez de sua língua, de seu tempo e de sua cultura.

No entanto, à luz das teorias pós-modernas de tradução, onde vamos colocar o tradutor,

se é que temos que encontrar um lugar para ele, já que, de um lado, há a cobrança de uma

invisibilidade absoluta, coisa que de antemão, sabemos ser uma ilusão. Por outro lado, há, na

atualidade campanhas, incentivos para que o tradutor mostre seu trabalho, apareça através da

sua atividade tradutória. A questão é: Será que ele, o tradutor, tem escolha? Mesmo quando a

tradição logocêntrica exigiu dele toda uma “fidelidade” ao dito “original”, foi ele assim tão

fiel? A quem o foi? A ele mesmo? À comunidade de chegada? Ao autor do texto de partida?

Como avaliar algo como “fiel” ou “infiel” em se tratando de linguagem, de

différence/différance? A (in)visibilidade de quem traduz é algo consciente, planejado? A

fluidez da linguagem e das várias possibilidades de leitura, principalmente em relação aos

textos literários permite toda essa consciência que tanto é exigida pelas teorias de tradução

mais tradicionais?

Arrojo, (1992b: 412) nos dá várias pistas que nos permitem visualizar o que sempre foi

privilegiado ao longo da história de tradução, e até nos ajuda a compreender melhor o porquê

do ideal logocêntrico, justificando toda a idealização como o "culto ao logos - à razão, à

lógica, à verdade (dos textos literários) como palavra divina, livre de qualquer subjetividade" e

atribui-lhe "a crença na possibilidade, não apenas de se separar de forma objetiva os dois lados

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MICHELOTTOde qualquer dicotomia mas, também, de privilegiar um deles como primordial, essencial ou

superior”.

Por outro lado, a partir da reflexão desconstrutivista de Derrida (1982), estratégia de

leitura que aponta para inevitável aceitação de que a tradução falha quando tenta reproduzir

um original na sua totalidade, exatamente porque não existe "essa totalidade como uma

presença plasmada no texto e imune à leitura e à mudança de contexto, mesmo dentro do que

chamamos de uma única língua", é que a problemática da tradução passou a ocupar um lugar

de destaque no pensamento contemporâneo, desequilibrando "a concepção logocêntrica de

origem e plenitude e, conseqüentemente, a crença na possibilidade de significados estáveis e

independentes do jogo lingüístico”. E é a partir dessa nova forma de ver a questão textual que

parece ser possível defender o tradutor e seu ofício, buscando tirar-lhe a culpa, quando, por

alguma razão a crítica o denomina de infiel ou traidor.

Com base no que dissemos no capítulo anterior, segundo o conceito logocêntrico, o

processo tradutório é uma substituição ou transferência de significados estáveis de um texto

para outro, de uma língua para outra, de uma cultura para outra e de uma época(tempo) para

outra. Esse conceito permeia, naturalmente, todas as nossas concepções clássicas de

linguagem, sendo aceito pela grande maioria do conhecimento produzido pelo homem

ocidental e por tradutores de qualquer língua ou de qualquer época.

Por exemplo, Laplanche (1989), coordenador da primeira tradução francesa das Obras

Completas de Freud, declarou ter como objetivo traduzir Freud como se fosse o próprio Freud,

empregando não um francês germânico mas um francês freudiano, utilizando todos os

recursos do francês da mesma forma em que Freud utilizou os do alemão.

Outro exemplo é J. Dryden (apud Milton, 1998), que viveu no fim do século XVII. Em

seu Preface to Ovid's epistles, translated by several hands, cita alguns pré-requisitos para se

fazer uma boa tradução de textos poéticos e entre eles estão idéias como o fato de que não é

possível traduzir poesia sem ser poeta, ou que os significados de um autor são sagrados e

invioláveis, entre outros.

COMO SE APODERAR DE ANOUILH

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MICHELOTTOEntretanto, aceitar os pressupostos logocêntricos implica questões, na área de teoria da

tradução, que são particularmente problemáticas. Implica, na possibilidade do tradutor

encontrar significantes que substituam os significados, sem perdas nem danos e na crença de

se poder resgatar as reais intenções do autor estrangeiro; uma utopia, um milagre, pois quem

poderá saber o que o autor queria dizer quando escreveu o seu texto há anos ou séculos atrás?

Stephen Mackenna (apud Steiner, 1975), tradutor de Enneades de Plotino, entre 1917 e

1930, referindo-se ao seu trabalho definiu-o como um "milagre": "o que fiz com Plotino é um

milagre, o milagre de persistentemente recuperar uma mente que afunda e se agita e

desaparece como uma rolha nas ondas" (p. 269). A pergunta é, conseguiu o tradutor o milagre

que diz ter alcançado? Esta recuperação, “busca de algo que se pressupõe já existir”, realmente

aconteceu, ou trata-se do ideal ilusório de todo tradutor, numa tentativa de auto-apagamento

para reproduzir a tradição de que o autor “original” contém as regras absolutas de verdade

sobre "seu texto"?

Jorge Luís Borges (1989), ao escrever vários contos e ensaios sobre a linguagem,

literatura e a tradução, exemplifica com o conto que integra a coletânea Ficciones - Pierre

Menard, autor del Quijote, essa busca ilusória, pelo tradutor, dos significados estáveis e

plenos no processo tradutório. Diante da impossibilidade de alcançar a verdade absoluta, de

não se poder repetir a identidade do texto "original", toda escritura é transformada em

tradução, do mesmo modo que toda tradução é também escritura.

Pierre Menard (poeta, tradutor e crítico) é um personagem criado por Borges que

consumiu sua vida na tentativa de realizar uma "obra invisível" - a reprodução dos capítulos

IX e XXXVIII da primeira parte do livro Dom Quixote de Miguel de Cervantes e parte do

capítulo XXII. Menard assume a tarefa de se transformar na própria origem dos significados,

recriar o verdadeiro Quixote, recuperando o mesmo texto escrito por Cervantes no século

XVII, ao invés de somente trazer os significados de Cervantes para seu tempo e lugar. Para

alcançar tal objetivo, a primeira estratégia usada é transformar-se literalmente em Cervantes,

isto é, "conhecer bem o espanhol, recuperar a fé católica, guerrear contra os mouros ou contra

os turcos, esquecer a história da Europa entre os anos 1602 e de 1918, ser Miguel de

Cervantes" (apud Arrojo 1992b: 418).

COMO SE APODERAR DE ANOUILH

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MICHELOTTOO intento de Menard, desse modo, parece-nos ridículo e impossível, e permite-nos

questionar àqueles que querem ser extremamente fiéis à tradução com um certo ar cético e

irônico. Esta estratégia parece-lhe pouco estimulante, por isso abandona-a e passa, então, a

outra estratégia - continuar sendo Pierre Menard e chegar ao Quixote através das experiências

de Menard, impondo-se o "misterioso dever de reconstituir literalmente a obra espontânea de

Cervantes".

Arrojo (1992b) afirma ser esse o sonho de todo tradutor formado na tradição

logocêntrica e acrescenta que "a empresa quixotesca de Menard, conseqüência de sua teoria

lingüística, pressupõe significados perfeitamente determináveis, interpretações definitivas, a

possibilidade e a necessidade de recuperar as intenções do autor" (p. 418). Também para o

narrador de Borges, a "obra invisível" de Menard, por este tida como um milagre e como

"reprodução total" do texto de Cervantes, é considerada como "diferente", apesar da

identidade verbal com a obra que foi traduzida, da repetição de palavra por palavra.

Arrojo (idem) diz que ao se fazer a leitura de um texto, a interpretação não é exclusiva

daquele leitor, assim como nenhum escritor é o autor soberano do texto que escreve. Da

mesma forma, a interpretação que o narrador propõe do Quixote de Menard é um produto de

suas leituras de outros textos, assim como a interpretação que Dom Quixote faz da realidade

não é exclusivamente sua, mas produto de sua própria biblioteca, ou do que M. Foucault (apud

Arrojo, 1992b) chama de "arquivo", isto é, aquilo que possibilita a produção de uma leitura e

torna-a aceitável.

Ao tentar compreender e desvendar os mistérios borgianos, Arrojo diz que o narrador

encontra ecos de Menard e Shakespeare em Dom Quixote somente depois de ter sido

informado de que Menard havia tentado recriar o texto de Cervantes e complementa

afirmando que nossa própria leitura de Borges e de Cervantes também é produto de nossa

biblioteca, o arquivo de nosso tempo, que nos permite ler a teoria textual de Borges como

precursora de teorias lingüísticas e literárias contemporâneas.

Desta forma, toda tradução possui, inevitavelmente, marcas do tradutor que se trai e se

revela, como bem conclui Arrojo (1992a: 68):

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MICHELOTTOToda tradução, por mais simples e breve que seja, trai sua procedência, revela as opções, as circunstâncias, o tempo e a história de seu realizador. Toda tradução, por mais simples e breve que seja, revela ser produto de uma perspectiva, de um sujeito interpretante e, não, meramente, uma compreensão neutra e desinteressada ou um resgate comprovadamente correto ou incorreto dos significados supostamente estáveis do texto de partida.

Como poderiam textos ser invisíveis?

É o que tentaremos ler a seguir.

O logocentrismo traz ao tradutor sérias conseqüências sociais, culturais e econômicas,

conforme observamos até aqui. Na tradução idealizada pelo logocentrismo, o tradutor não

interfere, mas apenas limita-se a transferir, supostamente, significados de uma língua para

outra e a reproduzir as intenções do autor, sem aparecer ou misturar-se a eles. De acordo com

esta visão tradicional, o texto traduzido deve ser transparente, no sentido de não conter marcas

do processo tradutório. Shapiro (apud Venuti, 1995: 01), exemplificando tal idéia, declara:

Eu vejo a tradução como uma tentativa de produzir um texto tão transparente que não pareça traduzido. Uma boa tradução é como um painel de vidro. Você apenas percebe que está lá quando há pequenas imperfeições - arranhões, bolhas. Idealmente, não deveriam existir. Nunca deveria chamar atenção para si mesma.

Esta transparência proposta, por sua vez, se reflete no ideal exigido de fluência na leitura

pelo qual a maioria dos leitores, incluindo críticos e editores, avaliam as traduções. Esta

avaliação é feita com base na presença ou ausência de construções não idiomáticas e frases

desajeitadas com significados confusos. A maioria deles lê ou pelo menos quer ler os textos

traduzidos como se estivesse lendo na sua própria língua, como se não fossem originalmente

escritos em outra língua. Quando tal fato ocorre, este é atribuído à falta de competência

lingüística do tradutor, como afirma Francis Aubert (1994: 59):

(...) uma sensível discrepância de competência lingüística do tradutor (...) pode levar este a incorporar em si estruturas e idiomatismos do código de partida, resultando, no geral, em um produto tido por qualitativamente insatisfatório deste ponto de vista ("com cara de texto traduzido").

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MICHELOTTOPor outro lado, Lawrence Venuti (1995: 286-287) atribui à fluência cobrada pelos

críticos, autores e leitores, a causa da invisibilidade do tradutor. Para Venuti, a fluência torna a

tradução transparente e, conseqüentemente, provoca a invisibilidade do tradutor, pois ela

acontece somente quando a tradução é lida fluentemente, quando não há fraseações estranhas,

construções não-idiomáticas ou significados confusos, quando conexões sintáticas claras e

pronomes consistentes criam inteligibilidade para o leitor. Partindo deste pressuposto, Venuti

(1986: 190), propõe uma prática tradutória que resista à fluência, a visibilidade intencional,

afirmando:

A tradução deve ser vista como um tertium datum que "soe estrangeiro" ao leitor e que apresente uma opacidade que o impeça de parecer uma janela transparente aberta para o autor ou para o texto original: é essa opacidade - um uso da linguagem que resiste à leitura fácil de acordo com os padrões contemporâneos - que tornará visível a intervenção do tradutor, seu confronto com a natureza alienígena de um texto estrangeiro.

Contrárias às crenças logocêntricas, temos concepções que estão ligadas à desconstrução

e ao pós-estruturalismo. A desconstrução, proposta por Derrida, questiona as bases do

pensamento tradicional e desconstrói a noção logocêntrica de que a origem dos significados se

encontra fora do sujeito/leitor ou receptor, revisando-a e redimensionando-a. O leitor não é

meramente um simples receptor passivo que decodifica os significados contidos no texto que

lê, mas passa a se conscientizar de sua interferência autoral.

Arrojo (1993:81) difere de Venuti quanto à visibilidade intencional do tradutor. Para ela,

que segue a linha desconstrutivista, é impossível o tradutor não deixar suas marcas e não se

fazer presente mesmo quando pensa estar ou pretende ser invisível: "o tradutor, implícita ou

explicitamente, impõe ao texto que traduz os significados inevitavelmente forjados a partir de

seus próprios interesses e circunstâncias". Há também relação de concordância entre a teoria

de tradução defendida por Arrojo e a de Derrida, cujos teóricos defendem o pressuposto de

que é impossível se fazer uma tradução, na qual não se deixe rastros, "vestígios"; uma

tradução "silenciosa". Arrojo continua, dizendo que:

Qualquer tradução, por mais simples e despretensiosa que seja, traz consigo as marcas de sua realização: o tempo, a história, as circunstâncias, os objetivos e a perspectiva de seu realizador. Qualquer tradução denuncia sua origem numa interpretação, ainda que seu realizador não a assuma como tal.

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MICHELOTTONenhuma tradução será, portanto, neutra ou literal; será, sempre e inescapavelmente, uma leitura (1992a: 78).

Com relação à proposta de Venuti de resistência intencional à fluência, Arrojo (idem)

também se posiciona, até certo ponto, questionando a proposta do autor da (in)visibilidade,

argumentando que além de pressupor que o tradutor possa, ou não, aparecer no texto traduzido

caso opte pela "resistência" ou pela "fluência", Venuti, em sua reflexão não considera que,

mesmo que o tradutor faça uma dessa opções, sua "intenção consciente" não poderá se fixar no

texto como uma origem estável e, portanto, passível de ser resgatada por seu leitor. Nesse

sentido, além de amparar uma contradição básica, tal argumentação parece ingênua, caindo na

própria armadilha que pretende montar ao desalojar do processo de tradução a figura do autor

como origem controladora dos significados.

A sugestão da teórica pós-moderna ao criticar Venuti é uma proposição de aceitação da

presença de um outro autor no texto traduzido e a conscientização de que o leitor/tradutor

participa e interfere duplamente no processo autoral; partindo deste reconhecimento de que há,

pelo menos, um "outro" autor a habitar o texto traduzido, há a possibilidade de realmente se

aceitar que nenhum tradutor é inocente diante do texto que traduz e nem está diretamente

empenhado numa busca cega por fidelidade ao texto de partida. Arrojo (1992b: 70), referindo-

se à atitude que o tradutor deve assumir, acrescenta :

Uma das implicações fundamentais da aceitação da presença do outro autor no texto traduzido é a possibilidade de que tradutores e tradutoras deixem de fingir uma neutralidade e uma ausência impossíveis e, conseqüentemente, uma inocência e uma fidelidade também impossíveis, abrindo caminho para o início de uma nova tradição instalada fora dos limites da invisibilidade e da culpa milenares que têm constituído o cenário e o enredo de seu trabalho. Quanto mais visível se tornar a presença do tradutor no texto traduzido, quanto maior sua visão acerca do processo do qual é agente e promotor, menores serão as chances de que seja ignorado, marginalizado e indignamente remunerado.

A crença na possibilidade e invisibilidade do tradutor, apregoada pelo logocentrismo,

marginaliza e influi na visão que a sociedade tem do tradutor, ocasionando e justificando a

exploração econômica do ofício tradutório, políticas trabalhistas injustas, bem como falta de

espaço nas instituições de ensino e de pesquisa da tradução como objeto de reflexão. Segundo

Arrojo (p. 64), força os tradutores a abrirem mão de quaisquer direitos autorais e a aceitarem

uma remuneração baseada no número de palavras ou no número de laudas traduzidas,

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MICHELOTTOseparando-os do produto de seu trabalho e assemelhando-o ao produto de indústrias

manufatureiras e de serviços. Separa o autor do tradutor, posicionando o autor como aquele

que detém o controle - em mais de um sentido - de seus direitos autorais, reverenciado como

criador, ocupando lugar de destaque nas capas de livros e bibliografias, e ao tradutor atribui-

lhe uma função mecânica e coadjuvante, a de alguém que está sempre se escondendo, se

desculpando pela inadequação que a tradição lhe impõe, e sendo assim, digno apenas de um

reconhecimento e remuneração secundários.

É possível olhar um pouco além e analisarmos o que Arrojo (1992b: 419) fala também

sobre as conseqüências do reflexo que o logocentrismo tem sobre a profissionalização do

tradutor. Para a autora, "ao lhe atribuir o papel de mero transportador invisível de significados,

que deve ignorar-se e a seu tempo e lugar ao realizar sempre desajeitadamente as operações

desse transporte de risco, a sociedade humilha e aliena o tradutor e seu ofício”.

Outros resultados dos pressupostos logocêntricos e das expectativas que a tradição

logocêntrica projeta para o processo de tradução são comentados por Arrojo e parafraseados

aqui. Quando se atribui caráter de deidade ao chamado "original", pressupondo-o capaz de se

manter o mesmo apesar das diferenças inevitáveis, da passagem do tempo, das mudanças

ideológicas e contextuais, o logocentrismo necessariamente espera de toda tradução uma

eficiência sobre-humana, capaz de interromper o fluxo do tempo e de neutralizar quaisquer

diferenças.

No entanto, esse "milagre", segundo Arrojo (1992b: 419), nunca ocorre, e permanece

uma fantasia, por mais que se esforcem os tradutores comprometidos com a fidelidade total ao

"original", e ela aponta a repetição do anseio tradicional e caso este não se manifesta como o

esperado, toda tradução passa a estar sempre, em algum nível e para algum crítico, associada à

frustração e ao insucesso; toda tradução passa a ser sempre "menor", sempre "insatisfatória",

sempre apenas uma derivação desajeitada de um original idealizado e inatingível. Esse destino

de fracasso e de impossibilidade, de acordo com Arrojo (idem), faz do tradutor um Quixote

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MICHELOTTOempobrecido, um cavaleiro de triste figura, dono de um mísero nome que merece ser apagado,

escondido, da mesma forma que seu trabalho, vagamente indecente, tem que passar

despercebido, tem que ser invisível.

E não é por acaso que essa "invisibilidade" e essa marginalidade têm sido,

historicamente, também associadas à mulher e às suas atribuições na sociedade. A tradução é,

até hoje, uma atividade exercitada, em grande parte, por mulheres que podem trabalhar em

casa, nos intervalos de seus afazeres domésticos, e que se conformam com a desvalorização e

a má remuneração de seu trabalho. John Florio, (apud Arrojo), destacado tradutor inglês de

Montaigne, desculpava-se por suas incursões nessa atividade degradada, já que todas as

traduções são sempre defeituosas e, portanto, aparentadas com o sexo feminino. (1992b; 418-

419).

O preconceito com a profissão de tradutor também é visto em anedotas populares como

a que é expressa através do trocadilho italiano "traduttore-traditore", que devido às

semelhanças sonoras entre os dois vocábulos, usam-no para associar a tradução à traição.

Outro exemplo é visto na comparação machista e depreciativa que relaciona as traduções com

as mulheres: quando fiéis, não podem ser bonitas, e quando bonitas, não podem ser fiéis.

Ao aceitar o papel que a tradição logocêntrica lhe impõe como mero transportador de

significados estáveis, o tradutor não se reconhece como intérprete do texto que traduz,

portanto, pode tornar-se assim visível? Conseqüentemente, não necessita de uma formação

acadêmica, mas somente do conhecimento das línguas envolvidas. Também não há a

necessidade de que assuma a responsabilidade autoral que lhe cabe e por isso não terá direito a

reivindicar qualquer reconhecimento. Mas quando o tradutor se torna visível no texto

traduzido, reconhecido e remunerado dignamente por seu ofício, suas responsabilidades

autorais serão maiores, bem como maior será a probabilidade de que realize um trabalho mais

meticuloso e bem-feito. A visibilidade chama o tradutor à realização de um trabalho mais

apurado tendo em vista a avaliação de seu trabalho por aqueles que estarão se utilizando dele.

Concluindo, retomo a teórica pós-moderna, que muito bem expressa a virada de mesa

que devem tradutores comprometidos com sua profissão proceder. Uma "virada" que só terá

sentido quando abrirem mão da crença na possibilidade de significados estáveis e começarem

a se conscientizar de que o tempo e as circunstâncias influenciam na leitura, deixarem de

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MICHELOTTOpensar na tradução como a responsável pela morte do original e passarem a aceitá-la como

aquela que dá sobrevida ao original, segundo W. Benjamim, como a própria sobrevivência do

original, ou seja, é através da tradução que o original sobrevive e se expande.

Tal reconhecimento libertará a tradução do complexo de inferioridade e do desejo

compulsivo de pedir desculpas pelos "remendos" feitos por ela. A partir daí, a tradução perde

também a sua inocência e passa a ser feita de forma mais consciente das intervenções

realizadas nos textos traduzidos. Assim, conforme Arrojo, "traduzir deixa de ser uma atividade

inútil ou invisível, que deve passar despercebida, e se assume como uma inevitável forma de

conquista ou de tomada de poder, que necessariamente reescreve o passado e se apropria de

outras culturas e linguagens" (1992b: 437).(grifo nosso)

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