42
00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Page 2: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 2

Page 3: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 3

Page 4: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 4

Page 5: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Militantes e Ativismonos Partidos Políticos

Portugal em Perspetiva Comparada

Marco LisiPaula do Espírito Santo

(organizadores)

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 5

Page 6: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Capa e concepção gráfica: João SeguradoRevisão: Levi Condinho

Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 426870/171.ª edição: Junho de 2017

Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na PublicaçãoMilitantes e ativismo nos partidos políticos :

Portugal em perspetiva comparada / org., Marco Lisi, Paula do Espírito Santo. -

Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2017. - ISBN 978-972-671-395-1

CDU 329

© Instituto de Ciências Sociais, 2017

Imprensa de Ciências Sociais

Instituto de Ciências Sociaisda Universidade de Lis

Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 91600-189 Lisboa – Portugal

Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74

www.ics.ulisboa.pt/imprensaE-mail: [email protected]

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 6

Page 7: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

ÍndiceOs autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17Marco Lisi e Paula do Espírito Santo

Capítulo 1A evolução da militância em Portugal: enquadramento legal e tendências longitudinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Sérgio de Almeida Correia

Capítulo 2O declínio da filiação partidária em Portugal: respostas e estratégias das lideranças partidárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Júlio Fazendeiro

Capítulo 3Filiados e ativismo partidário em Portugal: enquadramento teórico e características do inquérito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

Marco Lisi, Paula do Espírito Santo e Bruno Ferreira Costa

Capítulo 4Ativismo e participação nos partidos portugueses . . . . . . . . . . . 125Marco Lisi e João Cancela

Capítulo 5Ideologia, cultura política e posições programáticas: as preferências dos filiados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155

Marco Lisi e Ekaterina Gorbunova

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 7

Page 8: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Capítulo 6A democracia intrapartidária em Portugal: uma análise comparada das perceções dos filiados do BE, CDS-PP, LIVRE, PS e PSD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187

Edalina Sanches e Isabella Razzuoli

Capítulo 7Padrões de comunicação interna nos partidos políticos portugueses: o caso do PSD, PS e CDS-PP . . . . . . . . . . . . . . 213

Rita Figueiras e Jaime R. S. Fonseca

Capítulo 8Filiados e ativistas partidários em perspetiva comparada . . . . . 247Anika Gauja e Emilie Van Haute

Capítulo 9Filiação partidária: desafios e notas finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271Paula do Espírito Santo e Marco Lisi

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 8

Page 9: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Índice de quadros e figuras

Quadros

1.1 Quadro-resumo estatutário dos membros dos partidos com assento parlamentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521.2 Taxas de militância na Europa com base em inquéritos 2002-2010 (%) 541.3 Evolução da militância (números absolutos) 1974-2014 . . . . . . . . . . 592.1 Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014 712.2 Congressos/Convenções realizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 772.3 Estratégias organizacionais (número absoluto e percentagem dos documentos analisados) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 793.1 Critérios e condições da filiação partidária em Portugal (2015) . . . . 1093.2 Direitos dos filiados nos estatutos dos partidos portugueses com representação parlamentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1093.3 Amostra dos filiados partidários nos inquéritos aos partidos portugueses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1123.4 Perfil dos filiados partidários em Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . 1133.5 Perfil dos filiados e dos delegados dos partidos portugueses (%) . . . 1164.1 Motivações da adesão nos partidos portugueses . . . . . . . . . . . . . . . . 1334.2 Perceção do ativismo nos partidos portugueses (%) . . . . . . . . . . . . . 1344.3 Intensidade de participação por partido e tipo de estrutura (%) . . . . 1354.4 Ativismo nos partidos portugueses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1374.5 Análise de componentes principais (variável «índice de participação») 1404.6 Caracterização das variáveis em análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1424.7 Resultados de regressão linear para a variável dependente «índice de participação» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1434.8 Determinantes de diferentes tipos de participação partidária . . . . . . 1454.9 Análises de componentes principais (ACP) das atividades conduzidas no quadro do partido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1515.1 Temas socioeconómicos e socioculturais: inquérito aos filiados . . . 166

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 9

Page 10: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

5.2 Diferenças no posicionamento ideológico dos filiados: comparações múltiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1725.3 Coesão intrapartidária nos temas socioeconómicos e culturais (desvio-padrão) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1725.4. Determinação de autoposicionamento na escala esquerda-direita: análise multivariada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1765.5 Codificação das variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1815.6 Características da escala esquerda-direita socioeconómica . . . . . . . . 1815.7 Características da escala GALTAN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1826.1 Grau de inclusividadedo selectorate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1986.2 Experiência partidária dos militantes (% que concorda ou discorda de cada uma das afirmações) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2016.3 Índice de participação em atividades político-partidárias, por partido . 2046.4 Índice de participação em atividades político-partidárias, de acordo com a experiência partidária dos militantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2067.1 Perfis do conjunto dos filiados (PS, PSD e CDS-PP) . . . . . . . . . . . . 2227.2 Perfis dos filiados (covariáveis) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2257.3 Perfis dos filiados – PS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2287.4 Perfis dos delegados – PSD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2307.5 Perfis dos delegados – CDS-PP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2327.6 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (PS, PSD, CDS-PP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2397.7 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (covariáveis) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2438.1 Critérios/condicionamentos à filiação partidária – visão geral comparativa (N = 77) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2518.2 Direitos e obrigações dos filiados – visão geral comparativa . . . . . . 2538.3 Perfil social dos filiados – visão geral comparativa (N = 57) . . . . . . . 258

Figuras

1.1 Evolução da militância em Portugal 1974-2014 . . . . . . . . . . . . . . . . 602.1 Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014 72

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 10

Page 11: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

2.2 Evolução do rácio F/E, 2000-2014 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 722.3 Classificação da resposta dos partidos políticos . . . . . . . . . . . . . . . . 734.1 Distribuição da variável «índice de participação» . . . . . . . . . . . . . . . 1405.1 Posicionamento na escala esquerda-direita: congruência entre filiados e partidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1655.2 Diferenças entre as posições dos filiados face a questões socioeconómicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1685.3 Diferenças entre as posições dos filiados face a questões socioculturais 1695.4 Posicionamento dos militantes nos eixos esquerda-direita socioeconómica e GALTAN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1716.1 Procedimento para a escolha do líder (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2036.2 Satisfação com a influência exercida no partido (%) . . . . . . . . . . . . . 203

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 11

Page 12: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 12

Page 13: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Os autoresAnika Gauja é professora no Departamento de Governo e Relações

Internacionais, na Universidade de Sydney. A sua investigação incidesobre a transformação organizacional de partidos políticos em respostaa mudanças sociais. Tem várias publicações sobre partidos políticos naAustrália e no Reino Unido.

Bruno Ferreira Costa é doutorado em Ciências Sociais, na especiali-dade de Ciência Política, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais ePolíticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), e tem desenvol-vido investigação na área da qualidade da democracia, sistemas políticose eleitorais e participação política. Atualmente é professor auxiliar daUniversidade da Beira Interior (UBI) e diretor do mestrado em CiênciaPolítica nesta Universidade.

Edalina Rodrigues Sanches é investigadora de pós-doutoramento emCiência Política no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lis-boa (ICS-UL) e no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI--UNL). É ainda professora auxiliar convidada no Instituto Superior deCiências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa(ISCTE-IUL). Recebeu o prémio de melhor tese de doutoramento da As-sociação Portuguesa de Ciência Política (2014-2016) pela investigação Ex-plaining Party System Institutionalization in Africa: From a Broad Comparisonto a Focus on Mozambique and Zambia. Os seus interesses de pesquisa in-cluem democratização, instituições e atitudes políticas em novas demo-cracias, com foco em África.

Ekaterina Gorbunova é doutoranda em Política Comparada no Ins-tituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) ebolseira de investigação no Instituto Português das Relações Internacio-nais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). A sua investigação

13

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 13

Page 14: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

tem-se centrado na democratização e qualidade da democracia, atitudespolíticas e cultura política, estudos europeus, governação global e desen-volvimento das políticas de educação. Recentemente, publicou «Portu-guese citizens support for democracy 40 years after the carnation revo-lution» (South European Society and Politics), em coautoria.

Emilie van Haute é professora na Université Libre de Bruxelles (ULB)e membro do Centre d’étude de la vie politique (Cevipol). É doutoradapela ULB (2008) e foi bolseira de pós-doutoramento pela fundação Fran -cqui (Universiteit Antwerpen) e FNRS (University of British Columbia).As suas áreas de investigação incluem a militância partidária, dinâmicasintrapartidárias, participação, eleições e comportamento eleitoral.

Isabella Razzuoli é doutoranda em Política Comparada pelo Institutode Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Na sua disser-tação analisa o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD)do ponto de vista da distribuição do poder interno e da relação entre aestrutura nacional e as estruturas no território. Os seus principais inte-resses de investigação incluem partidos políticos, democracia intraparti-dária, financiamento da política e relação partidos-grupos de interesses.

Jaime R. S. Fonseca é doutorado em métodos quantitativos (Statisticsand Data Analysis) pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho eEmpresa (ISCTE-Business School-IUL). Atualmente e professor auxiliarcom agregacao no Instituto Superior de Ciencias Sociais e Politicas daUniversidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), docente nos tres ciclos de es-tudos da area das Ciencias da Comunicacao e investigador no Centrode Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP/Ulisboa), ondecoordena o grupo de investigacao «Sociedade, Comunicacao e Cultura».Os seus interesses incluem a aplicacao dos metodos mistos deinvestigacao as Ciencias Sociais, nomeadamente aos aspetos da comu-nicacao.

João Cancela é doutorando em Ciência Política na Faculdade de Ciên-cias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL).Atualmente é também docente assistente convidado na FCSH-UNL e naEscola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (EEG-UM). Assuas áreas de interesse são a participação eleitoral, o envolvimento político,os partidos e a democracia.

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

14

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 14

Page 15: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Júlio Fazendeiro é licenciado em Ciência Política e Relações Interna-cionais pela Universidade da Beira Interior (UBI). Atualmente é douto-rando em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais da Uni-versidade de Lisboa (ICS-ULisboa) onde desenvolve uma investigaçãosobre a filiação partidária. Os seus interesses de investigação incluem par-tidos políticos, eleições e atitudes políticas.

Marco Lisi é professor auxiliar no Departamento de Estudos Políticosda Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova deLisboa (FCSH-UNL) e investigador no Instituto Português das RelaçõesInternacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). Os seusprincipais interesses de investigação são partidos políticos, eleições, re-presentação política e campanhas eleitorais, sobre os quais tem publicadovários livros e artigos em revistas nacionais e internacionais.

Paula do Espírito Santo é professora auxiliar com agregação no Ins-tituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa(ISCSP-ULisboa), e investigadora do Centro de Administração e PolíticasPúblicas (CAPP/ISCSP-ULisboa). Colabora ainda como docente em ou-tras universidades nacionais e no estrangeiro. As suas áreas de investiga-ção e interesse centram-se no estudo da cultura política e filiação parti-dária, para além da comunicação política e metodologia das ciênciassociais. Entre as últimas contribuições de Paula do Espírito Santo está aobra com edição conjunta de Rita Figueiras (2016), Beyond Internet – Un-plugging the Protest Movement Wave, Routledge.

Rita Figueiras é doutorada em Ciências da Comunicação pela Uni-versidade Católica Portuguesa (UCP), onde é coordenadora do programade doutoramento em Ciências da Comunicação e docente nos três ciclosde estudos da área das Ciências da Comunicação. É Membro da Direçãodo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Ca-tólica Portuguesa (CECC-UCP).

Sérgio de Almeida Correia é licenciado em Direito, na menção deCiências Jurídico-Políticas, da Universidade de Lisboa (FDL-ULisboa)(1985), e mestre em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciênciasdo Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE--IUL) (2003), onde é atualmente doutorando de Ciência Política. Advo-gado de profissão, é colaborador regular da imprensa de Macau e umdos membros permanentes do programa de análise política internacional

Os autores

15

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 15

Page 16: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

da TDM-Rádio Macau. É autor do blogue «Visto de Macau» e coautordo blogue «Delito de Opinião».

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

16

00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 16

Page 17: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Edalina Sanches Isabella Razzuoli

Capítulo 6

A democracia intrapartidária em Portugal: uma análise comparadadas perceções dos filiados do BE,CDS-PP, LIVRE, PS e PSD*

Introdução Os estudos recentes sobre democracia intrapartidária (DIP) demons-

tram que os partidos políticos ocidentais têm vindo a adotar reformas or-ganizacionais importantes com vista a aumentar a participação dos filiadosem processos decisórios internos como a escolha do líder ou dos candi-datos a deputados (LeDuc 2001; Bille 2001; Kenig 2009; Hazan e Rahat2010; Cross e Pilet 2013; Seddone e Venturino 2013; Van Haute e Gauja2015). Esta tendência de incremento da DIP é vista como benéfica querdo ponto de vista interno quer externo. Por um lado, favorece o envolvi-mento dos militantes (e, no limite, dos eleitores) nas decisões dos partidos.Por outro lado, permite contrariar alguns dos sintomas de crise que ospartidos vêm enfrentando e que são visíveis na queda do número de mi-litantes e dos níveis de participação eleitoral, entre outros (Dalton e Wat-tenberg 2000; Dalton 2008; van Biezen, Mair e Poguntke 2012).

Apesar destes benefícios, também existem riscos. Aumentar o grau deDIP pode tornar menos eficazes e mais lentos os processos decisórios,secundarizar o papel das organizações intermédias dos partidos, e amea-çar os poderes dos filiados vis-à-vis com os simpatizantes e/ou eleitores(sobre este debate ver: Kittilson e Scarrow 2003; Saglie e Heidar 2004;Scarrow 2005; Rahat, Hazan, e Katz 2008; Hazan e Rahat 2010; Cross eKatz 2013). Para além disso, não há garantia de que aumentar a inclusi-

187

* As autoras agradecem os comentários dos organizadores deste livro, de dois refereesanónimos da Imprensa de Ciências Sociais, e dos membros do Grupo de InvestigaçãoRegimes e Instituições do Instituto de Ciências Sociais-Universidade de Lisboa.

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 187

Page 18: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

vidade no processo de escolha dos candidatos leve a que os candidatosselecionados sejam os mais representativos ou de que os militantes irãoaproveitar as novas oportunidades de participação oferecidas pelos par-tidos. Sandri e Amjahad (2015) revelam que são os militantes tradicio-nalmente mais ativos, mais satisfeitos com os procedimentos de DIP ecom mais anos de filiação que mais tiram proveito das novas oportuni-dades de participação geradas. Num estudo anterior, Sandri (2012) de-monstrou que as perceções que os militantes têm sobre o seu papel den-tro do partido estão correlacionadas com o seu grau de satisfação com aDIP. Indicando assim existir uma relação estreita entre participação e sa-tisfação com o grau de democraticidade interna.

Em Portugal, a maioria dos estudos analisa a dimensão estatutária daDIP (Belchior 2008; Lisi 2010 e 2011; Lisi e Freire 2014), embora contri-buições muito recentes tenham considerado a forma como os militantespercecionam este fenómeno (Coelho 2013; Lisi 2015). No entanto, per-manecem questões em aberto sobre o modo como os militantes de di-ferentes partidos avaliam o grau de democratização do seu partido e sobreas suas implicações políticas. Em concreto, até que ponto os militantesestão satisfeitos com a democracia interna do seu partido? E, em quemedida, estas avaliações influenciam o seu grau de ativismo político-par-tidário? O presente estudo apresenta respostas para estas questões utili-zando dados do projeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Portugal emPerspetiva Comparada», que consistiu num inquérito online lançado em2014 e no qual participaram os militantes do Bloco de Esquerda (BE),do Centro Democrático e Social-Partido Popular (CDS-PP), do PartidoSocialista (PS), do Partido Social Democrata (PSD) e do LIVRE-Liber-dade, Esquerda, Europa e Ecologia.1

Esta análise é importante por três razões. Em primeiro lugar, porqueexamina a DIP à luz das perceções dos militantes contrariando a tendên-cia predominante de estudar este fenómeno do ponto de vista formal eestatutário. Em segundo lugar, estudos recentes (Sandri 2012; Sandri eAmjahad 2015) têm demonstrado que existe uma correlação significativaentre, por um lado, a avaliação que os militantes fazem acerca da DIP e,por outro lado, o seu grau de envolvimento nas atividades do partido.Em terceiro lugar, porque em Portugal os principais partidos adotaraminovações organizativas importantes no sentido de alargar as esferas de

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

188

1 Este projeto foi coordenado por Paula Espírito Santo e Marco Lisi. Insere-se na redeinternacional Members and Activists of Political Parties (MAPP), coordenada por Emilievan Haute (http://www.projectmapp.eu). Não foi obtida resposta por parte do PartidoComunista Português.

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 188

Page 19: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

decisão aos militantes (por exemplo, no que se refere à escolha do lídere dos candidatos a nível nacional ou municipal). As inovações não foramidênticas em todos os partidos, mas são relevantes tendo em conta queos partidos portugueses são habitualmente caracterizados por um elevadograu de centralização dos processos decisórios, no que concerne aos pro-cessos de recrutamento e de formulação de políticas (Freire 1998; Lopes2002; Lobo 2007). Para além disso, estes partidos apresentam uma rele-vante variação em termos da sua génese e do seu modelo organizativo,o que pode influenciar a sua propensão para introduzir ou apoiar medi-das de maior inclusão e participação dos seus membros. Com efeito, sepor um lado os partidos «tradicionais» – PS, PSD e CDS-PP – apresen-tam traços hierárquicos e verticalizados, os novos partidos da esquerdalibertária, como o BE e mais recentemente o LIVRE, são formações es-truturadas de forma mais flexível e não-hierárquica e com enfâse em prin-cípios de democracia direta (Lisi 2011).

Estudar a DIP à luz das perceções dos militantes permite descobrir oque estes pensam sobre as disposições formais que regem o seu partidoe nesse sentido constitui uma oportunidade singular para a compreensãodo funcionamento interno dos partidos em Portugal.

Começamos por apresentar as principais perspetivas sobre a definiçãode DIP, assim como as suas implicações e consequências práticas, dandoparticular destaque ao caso de Portugal. De seguida analisamos a confi-guração estatutária das áreas em que os partidos têm encetado mais mu-danças: a seleção do líder, a seleção dos candidatos para cargos públicose a formulação das políticas do partido. Aqui o objetivo é o de fornecerum enquadramento normativo que permita uma melhor compreensãodas perceções dos militantes. Apresentamos depois as perceções dos mi-litantes sobre o funcionamento interno do seu partido e examinamos osefeitos destas na militância ativa. Concluímos com a síntese das princi-pais conclusões deste estudo.

Democracia intrapartidária: operacionalização e implicações

Os partidos são essenciais para a democracia na medida em que de-sempenham funções vitais que ligam os cidadãos aos governos eleitos(Sartori 1976). Para Schattschneider (1942), esta componente democráticados partidos, que se concretiza na competição eleitoral interpartidária, émais relevante do que a sua expressão a nível intrapartidário, uma vezque não há garantia de que a mera existência de estruturas formais de-

A democracia intrapartidária em Portugal

189

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 189

Page 20: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

2 Num cenário em que o universo eleitoral para a seleção do líder inclui militantes esimpatizantes, as estruturas intermédias do partido a nível territorial perdem poder dedecisão, e o processo ganha um cariz nacional. Daí que métodos mais inclusivos – e. g.,primárias abertas – estejam por vezes associados a maior centralização. No mesmo sentidover Hazan e Rahat (2010) sobre a seleção de candidatos. Contudo, como nota Scarrow,enquanto a inclusividade indica claramente a expansão do acesso a tomada de decisões– isto é, uma democratização –, descentralização territorial e democratização não estãonecessariamente associadas (Scarrow 2005, 6).

mocráticas leve à adoção de práticas democráticas por parte dos partidos.Na verdade, elas podem encobrir práticas oligárquicas, quer por parte departidos de massas onde seriam menos expectáveis – como argumenta-ram Duverger (1959) e Michels (1962) – quer por parte de partidos-cartelonde apesar de os membros terem mais poderes formais estes são menosefetivos porque exercidos de forma mais atomizada (Katz e Mair 1995;Saglie e Heidar 2004).

No entanto, porque a democracia implica a existência de instituiçõese de procedimentos democráticos (Saglie e Heidar 2004, 386), importadefinir e avaliar os critérios que qualificam um partido como interna-mente democrático (Linz 2002, 309-311). E, isso passa por responder aquestões como: A participação deve ou não estar limitada aos militantes?Os eleitores devem ou não poder votar nas decisões dos partidos? As de-cisões devem ser tomadas por delegação ou participação direta? (Sagliee Heidar 2004, 386).

Segundo Scarrow (2005, 3) «A ‘democracia intrapartidária’ é um con-ceito muito abrangente, que compreende um conjunto diverso de mé-todos que visam a inclusão dos militantes nos processos intrapartidáriosde deliberação e de tomada de decisão». Segundo a autora, a inclusivi-dade e a centralização são os dois critérios que permitem descrever aforma como os partidos definem o acesso a decisões-chave como a esco-lha do líder ou dos candidatos a cargos públicos (2005, 6). A inclusivi-dade indica o grau de abrangência do círculo de decisão dentro do par-tido; se as regras são tendencialmente exclusivas, apenas o líder ou umpequeno grupo de dirigentes participam no processo de tomada de de-cisões, e se são mais inclusivas todos os militantes e, no limite, todos osapoiantes do partido podem participar (Scarrow 2005, 6). A centralizaçãoindica até que ponto as decisões estão centralizadas no órgão executivo(nacional) do partido ou estão descentralizadas ao longo dos vários níveisgeográficos do partido (Scarrow 2005, 6). Este continuum inclusividade/ex-clusividade e descentralização/centralização é utilizado em vários estudossobre DIP.2

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

190

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 190

Page 21: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Para Rahat e Hazan (2001) e Hazan e Rahat (2006), o grau máximo deinclusividade permite que, no limite, os eleitores possam participar na es-colha dos candidatos a deputados; enquanto o grau mais elevado de des-centralização garante um maior envolvimento dos órgãos subnacionaisno processo de seleção dos candidatos. Mais recentemente, um esforçonotável de operacionalização quantitativa propõe medir o grau de DIPcom base em perto de 100 indicadores, agregados em três domínios es-pecíficos: direitos dos membros, estrutura organizacional e processo detomada de decisão (Von dem Berge et al. 2013). Este exercício resultounuma ferramenta exaustiva e útil para medir a DIP em vários níveis daestrutura organizativa dos partidos, permitindo ainda lidar com a suacomplexidade. Mas que fatores levam os partidos a aumentar a demo-cracia interna?

Os partidos têm diferentes entendimentos sobre a DIP e podem seguirdiferentes estratégias consoante os desafios internos e externos que vãoenfrentando, nomeadamente: aumento das formas de ação política não--convencionais e alternativas à militância clássica; atitudes crescentes dedesafeição política e de desconfiança face aos partidos, declínio dos níveisde filiação partidária e apelos de maior abertura e modernização dos par-tidos (Scarrow 1999; Kittilson e Scarrow 2003; Van Haute 2009; Wauters2009; Scarrow e Gezgor 2010; Whiteley 2011; Van Biezen, Mair e Po-guntke 2012).

Para Scarrow (2005), se os partidos atribuem grande relevância aos as-petos processuais, ou seja, aos elementos participativos da democracia,procurarão criar internamente estruturas que permitam aos cidadãos in-fluenciar as propostas que apresentam aos seus eleitorados, ao passo quese estiverem mais focados nos resultados, conforme a visão liberal da de-mocracia, procurarão criar estruturas que facilitem a apresentação de op-ções programáticas claras aos eleitores (Scarrow 2005, 3-4). Cross e Katz(2013) convergem com Scarrow (2005) neste ponto, mas também salien-tam o facto de que os partidos enfrentam desafios específicos em termosde participação, inclusividade ou descentralização que influenciam assuas escolhas em termos de DIP (Cross e Katz 2013, 2).

A este propósito, uma das interpretações mais provocadoras para in-terpretar a tendência de inclusão dos membros nos processos de tomadade decisão é dada pela teoria do partido cartel de Katz e Mair (1995 e2009). Segundo estes autores, os líderes partidários mudam as regras in-ternas, no sentido de democratizar os processos decisórios, com o obje-tivo de disfarçar a centralização do poder e o reforço da sua própria au-tonomia dentro da organização (Katz e Mair 1995 e 2009). Isto é possível

A democracia intrapartidária em Portugal

191

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 191

Page 22: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

porque os partidos reforçam os poderes dos militantes «tendencialmentemais atomizados e passivos» à custa dos poderes dos delegados, dos ati-vistas e dos líderes subnacionais, alegadamente mais radicais. O resultadoé pois o enfraquecimento das estruturas intermédias e o reforço da auto-nomia do líder (Katz 2001).

Os estudos até aqui mencionados indicam que a DIP é um conceitoempiricamente difícil de balizar mas que está particularmente associadoao continuum inclusividade/exclusividade e ao grau de abertura dos proces-sos internos a novos atores. Este tem sido o ponto de partida para váriosestudos que mediram a DIP a partir dos estatutos dos partidos, mesmoque focando fenómenos distintos como a democratização do processode escolha do líder ou dos candidatos a eleições. Dentro desta literaturaencontram-se alguns estudos, ainda que em menor número, sobre as per-ceções, as preferências e o grau de satisfação dos militantes no que dizrespeito aos mecanismos de democracia interna e às oportunidades departicipação e de influência formalmente oferecidas pelos seus partidos.Estes estudos sugerem, de um modo geral, que existem diferenças signi-ficativas entre militantes de diferentes partidos e entre diferentes tiposde militantes quando avaliam o grau de DIP do seu partido (Young eCross 2002; Saglie e Heidar 2004; Wauters 2009; Van Holsteyn e Koole2009; Baras et al. 2012; Sandri 2012; Sandri e Amjahad 2015).

Estudos sobre a democracia intrapartidária em Portugal

Em Portugal, a DIP tem sido investigada principalmente do ponto devista estatutário (Belchior 2008; Lisi 2010 e 2011; Lisi e Freire 2014) em-bora existam alguns estudos que tenham considerado as perceções doscandidatos (Freire e Teixeira 2011) ou dos militantes a este respeito (Coe-lho 2013; Lisi 2015). A análise dos estatutos tem demonstrado que os par-tidos portugueses, tradicionalmente caracterizados por um elevado graude centralização – em matérias como formulação de políticas e recruta-mento político (Freire 1998; Lopes 2002; Lobo 2007; Lisi 2015) – têmvindo a adotar importantes medidas de democratização interna. Em con-creto, nos últimos anos, os três partidos com experiência governativa –CDS-PP, PS e PSD – adotaram medidas no sentido de democratizar oprocesso de seleção dos líderes (Lisi 2011), ainda que o PS habitualmentefigure como o partido com maior adesão aos princípios e procedimentosdemocráticos no contexto partidário português (Belchior 2008). A expli-cação para a implementação destas mudanças é interna e externa. Segundo

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

192

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 192

Page 23: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Lisi (2011) os partidos deram mais poder aos militantes por razões essen-cialmente instrumentais, seja por necessidade de reforçar a autonomia daliderança perante fações internas, seja por questões de competição eleito-ral. No que diz respeito às consequências, argumenta que a competiçãopela liderança, com base em primárias fechadas, não tem estimulado oaumento da filiação, nem uma mobilização significativa por parte dosmembros.

Os estudos sobre os militantes são recentes e incidem, especialmente,sobre as elites intermédias.3 Jalali e Lobo (2007) conduziram um inquéritoaos delegados do XV Congresso do PS e testaram a «Lei da disparidadecurvilinear» de May (1973), segundo a qual as elites intermédias tendema adotar posições políticas mais radicais do que as bases eleitorais. Uminquérito de Freire e Viegas (2009) demonstrou que os candidatos parla-mentares dos partidos de esquerda (BE, CDU e PS) têm uma perceçãomais positiva do grau de inclusividade do seu partido do que os da direita(CDS-PP e PSD). No que diz respeito à centralização, enquanto os can-didatos dos dois principais partidos (PS e PSD) consideram que a seleçãodos candidatos a deputados é decidida sobretudo a nível distrital e na-cional, os do BE, CDS-PP e CDU elegem os níveis distrital e regionalcomo os mais influentes (Freire e Teixeira 2011, 43-44).

Mais recentemente, um inquérito aos filiados da Federação da ÁreaUrbana de Lisboa do PS e da Distrital de Lisboa do PSD indicou que osfiliados têm perceções diferentes sobre o processo de seleção do líder(Coelho 2013). Os militantes do PSD mostraram-se menos a favor deuma maior democratização deste processo do que os do PS; o que po-derá indiciar uma tendência de maior atomização dos militantes socia-listas (Coelho 2013). Partindo de dados de um inquérito aos delegadosao XVIII Congresso do PS (Braga, 9-11 de setembro de 2011) e do in-quérito online do projeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Portugal emPerspetiva Comparada», Lisi (2015) chegou a conclusões importantes re-lativamente aos «ativistas» do PS (incluindo militantes de base e umgrupo substancial da elite intermédia): nomeadamente que querem maisdemocracia interna, mesmo quando exibem baixos níveis de ativismo ede identificação com as posições políticas do partido. O conjunto destesestudos sugere que existem diferenças importantes quer entre os partidosquer entre os seus militantes no que toca à DIP. As próximas secçõesirão analisar estas diferenças.

A democracia intrapartidária em Portugal

193

3 Com exceção das investigações seminais levadas a cabo por Stock (1985) e Stock eRosa (1985).

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 193

Page 24: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Democracia intrapartidária à luz das regras estatutárias

Nesta secção apresentamos as regras estatutárias que incentivam a par-ticipação dos membros nos processos decisórios internos. Em particular,a análise debruça-se sobre três âmbitos onde se têm registado importantesmudanças nos últimos anos: a seleção do líder, a seleção dos candidatospara cargos públicos e a formulação das políticas do partido (e. g., mani-festo eleitoral). Esta análise inclui todos os partidos que participaram noprojeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Portugal em Perspetiva Com-parada» – BE, CDS-PP, LIVRE, PS e PSD – e reporta as principais alte-rações até ao período em que o inquérito esteve ativo para cada partido.4

Ela é útil pois permite um melhor enquadramento das perceções dos mi-litantes sobre o funcionamento do seu partido.

Seleção do líder

O PS, o PSD e o CDS-PP são os partidos com representação parla-mentar que mais têm vindo a abrir o selectorate 5 para a seleção do líder,6

transferindo o poder de decisão dos delegados, eleitos ao Congresso Na-cional, para todos os membros. No entanto este processo não foi idênticoem todos os partidos nem unidirecional, como detalhamos de seguida.

O Partido Socialista foi o primeiro partido a democratizar a seleçãodo líder, introduzindo em 1998 o sistema de primárias fechadas (Lisi2009). Conforme este sistema, o selectorate é composto pelos filiados comcapacidade eleitoral, ou seja, na posse de seis meses de filiação no mínimoe com as quotas atualizadas. O requisito de seis meses, como tempo mí-nimo de filiação, foi repristinado pelo atual secretário-geral, AntónioCosta, depois de o anterior líder, António José Seguro, ter estendido omesmo requisito de seis para doze meses. Neste sentido, a alteração efe-tuada por Seguro restringia o grau de inclusividade, podendo ser inter-

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

194

4 Período em que o questionário esteve ativo online: BE (25-11-2014 – 30-12-2014);CDS-PP (05-1-2014 – 15-2-2014); LIVRE (15-11-2014 – 30-12-2014); PS (15-5-2015 – 15--7-2014) e PSD (15-2-2014 – 30-3-2014).

5 O termo selectorate é comummente utilizado na literatura para indicar o universo depessoas que têm o direito de participar na seleção do líder e dos candidatos. Ao longodeste estudo será usado o termo em inglês, como fazem outros estudos (Freire e Teixeira2011).

6 Em concomitância com a escolha do líder, os membros elegem os delegados das or-ganizações de base para o Congresso.

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 194

Page 25: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

pretado como uma intenção de favorecer os ativistas mais seniores vis-à--vis com os mais novos. Oito anos depois do PS, em 2006, o PSD intro-duziu as primárias fechadas para selecionar o líder. Até então, o presi-dente da Comissão Política Nacional era escolhido no Congresso. O selectorate do PSD – tal como o do PS – inclui os membros com capa-cidade eleitoral, ou seja, com seis meses de filiação e quotas atualizadas.Este mesmo sistema é utilizado para selecionar os líderes intermédios,ou seja, os presidentes das comissões políticas federativas/distritais, emambos os partidos. Saliente-se que os sociais-democratas escolhem os lí-deres distritais desta forma desde 1996. No entanto, nesta altura não con-seguiram reunir apoio suficiente para alargar esta medida ao líder parti-dário, uma vez que ela não gerava consenso entre as personalidadesrelevantes do aparelho partidário (Pereira 2007; Lisi 2011).

Também o CDS-PP tornou mais inclusivo o universo eleitoral para aseleção do presidente, estendendo o poder de voto aos membros comcapacidade eleitoral ativa. Similarmente ao PS e ao PSD, vigorava umsistema de primárias fechadas, embora aqui os membros precisassem deestar inscritos apenas três meses antes da data da eleição e ter as quotasem dia. Contudo, no CDS-PP esta experiência foi relativamente breve,durando entre 2005 e 2011. Com efeito, em 2011 o Congresso restringiuo grau de inclusividade do processo de eleição do presidente e decidiuregressar ao sistema de delegação em que o poder de decisão recai sobreos delegados eleitos pelas assembleias concelhias. Esta repentina mu-dança organizativa é interessante pois mostra como a introdução de re-formas para democratizar os procedimentos dos partidos não é neutra.Na medida em que afeta a distribuição do poder internamente pode seralvo de resistências e de conflitos significativos.7

Diferente dos partidos do «arco da governação» e analogamente a ou-tros partidos europeus da esquerda libertária ou verdes, o BE não detalhanos estatutos a figura do líder, sendo este considerado como um «coor-denador» ou um «porta-voz» da Comissão Política. O coordenador é es-colhido na Convenção Nacional, portanto por um universo eleitoralmais restrito e menos inclusivo dos aderentes.8 Na mesma linha o LIVREnão se estrutura à volta de uma liderança personalizada e, portanto, nãodefine a figura do líder. Contudo, relativamente aos cargos internos os

A democracia intrapartidária em Portugal

195

7 Note-se a este propósito que o regresso ao anterior sistema foi o resultado de uma al-teração aos estatutos votada no Congresso de março de 2011, após apresentação de umamoção da Juventude Popular (Lisi 2011, 232).

8 O Bloco de Esquerda define estatutariamente os seus membros como «aderentes».

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 195

Page 26: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

estatutos admitem que todos os membros, com quotas em dia, têm «odireito de eleger e de ser eleitos para cargos internos».9

Estudos que analisaram variações no posicionamento dos partidos emrelação à democracia interna indicam que estas variações podem ser con-tingentes à cultura política e à ideologia dos mesmos. Em particular sus-tentam que os partidos que enfatizam os aspetos mais participativos dademocracia – como em geral os partidos de esquerda e principalmenteos da esquerda libertária – são mais propensos a desenvolver estruturasorganizativas onde os cidadãos têm um maior envolvimento político.São também nestes partidos que os membros apresentam posicionamen-tos mais favoráveis em relação à introdução de medidas que ampliam aDIP (Pedersen 2010, 238; Baras et al. 2012, 6).

Seleção de candidatos para cargos públicos

Entre os partidos considerados, o PS é o único com representação par-lamentar a ter democratizado este processo. A direção de Seguro intro-duziu mecanismos de democratização do processo para a formação daslistas de candidatos à Assembleia da República durante a revisão estatu-tária de 2012. Os militantes eram chamados a votar se uma lista alterna-tiva desafiasse a lista da Comissão Política da Federação (art.º 78.º c).Princípios semelhantes foram aplicados para a escolha do candidato àCâmara Municipal: os militantes inscritos na Concelhia tinham poderde voto caso se apresentassem dois candidatos (art.º 78.º b).10

As regras relativas à seleção de candidatos para cargos públicos foramalteradas pelos estatutos aprovados em 2015 com a nova direção de An-tónio Costa, no sentido de possibilitar a escolha de candidatos atravésde primárias, cujo carácter é definido com regulamento próprio (art.º59.º 6). Esta alteração vem na sequência do sucesso das primeiras primá-rias abertas organizadas pelo partido em 2014 para a escolha do candi-dato a primeiro-ministro. As primárias abertas não constavam nas regrasestatutárias vigentes na altura e foi adotada excecionalmente por decisãode Seguro, então secretário-geral, na sequência da vitória pouco expres-siva do partido nas eleições europeias. A escolha entre Seguro e Costafoi sujeita aos votos de membros, simpatizantes e independentes que es-tivessem inscritos nos cadernos eleitorais desde que não pertencessem aoutros partidos. Neste caso, o PS estendeu o grau de inclusividade do

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

196

9 http://livrept.net/participar (consultado a 3 de janeiro de 2015)10 Este sistema foi aplicado nas eleições autárquicas de 2013.

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 196

Page 27: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

processo, embora seja importante sublinhar a relação entre a adoção destamedida e a contestação que atingiu a liderança do partido nesse especí-fico momento.

Neste domínio o PSD difere significativamente do PS. Embora tenhamsurgido internamente propostas a favor da introdução de primárias (aber-tas ou fechadas) para a seleção dos candidatos, o líder do partido e a Co-missão Política continuam a ter um papel crucial neste processo (Lobo2007). Contudo, existem elementos de descentralização, como por exem-plo a auscultação das secções na fase em que as Comissões Políticas Dis-tritais elaboram a proposta de composição das listas a submeter à Comis-são Nacional (Teixeira 2009, Teixeira e Freire 2011). Do mesmo modo oCDS-PP não garante nenhum poder de influência aos militantes na sele-ção de candidatos, sendo o processo para a formação das listas fortementecentralizado (Teixeira 2009). No caso do BE não há nos estatutos nenhummecanismo formalizado para a escolha dos candidatos. No entanto, naprática, os órgãos distritais e locais parecem ter influência nesse processo(Teixeira e Freire 2011). Essa é, pelo menos, a perceção que os candidatostêm (ibid.). O LIVRE é o partido mais inovador e inclusivo deste pontode vista, sendo que os seus estatutos atribuem aos apoiantes, e não apenasaos membros, o direito de eleger e de serem eleitos pré-candidatos. Ado-tando o sistema de primárias abertas o LIVRE apresenta em absoluto omaior grau de inclusividade dos partidos abrangidos neste estudo.

Formulação das políticas do partido

A área da formulação das políticas do partido (e. g., elaboração de mani-festos eleitorais e de outros documentos programáticos) é a que tem regis-tado menos mudanças ou avanços em matéria de democratização interna.

Os estatutos do PSD, PS e CDS-PP sempre incluíram referências à figurado «referendo interno» para decidir sobre questões políticas importantes,contudo este mecanismo quase não é utilizado. O PSD admite a convo-cação de um referendo no intervalo entre congressos, sobre «quaisquergrandes opções políticas ou estratégicas», cujo regulamento é aprovadopelo Conselho Nacional (art.º 66.º). O estatuto do CDS-PP define gene-ricamente o «referendo interno» «como instrumento de participação na es-colha das opções políticas fundamentais» na secção sobre as competênciasdo Conselho Nacional (art.º 29.º). O PS vincula estatutariamente o refe-rendo à «auscultação dos militantes» (art.º 58.º) e admite ainda a «partici-pação de cidadãos independentes nas fases de debates e reuniões dos ór-gãos, exceto no período destinado à tomada de deliberações» (art.º 18.º).

A democracia intrapartidária em Portugal

197

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 197

Page 28: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Estes partidos recorrem também a grupos de trabalhos abertos a inde-pendentes para a formulação e definição das suas políticas, embora maisenquanto um recurso de expertise do que com o objetivo de tornar esteprocesso mais inclusivo. Nos estatutos de 2014 o BE propôs «referendos»(art.º 18.º) vinculativos para a Mesa Nacional e que podem ser realizadossobre «questões relevantes para a intervenção política» do partido. Con-vém, no entanto, referir que em diversas ocasiões, o BE tornou mais in-clusivos os processos de formulação das políticas do partido através dasua plataforma online,11 coerentemente com o princípio da «cultura cívicade participação» que promove nos seus estatutos (art.º 1.º).

O LIVRE define estatutariamente a participação de membros comquotas em dia na «deliberação e voto nos documentos que estruturam opartido (estatutos, regulamentos)». No que diz respeito aos documentosprogramáticos para campanhas e atos eleitorais específicos, o LIVRE es-tende este direito aos apoiantes. Neste sentido, é formalmente o partidomais inclusivo entre os incluídos neste estudo (ver o quadro 6.1).

Para concluir esta secção referimos brevemente em que medida estespartidos têm ampliado os seus confins organizativos a novos atores. Entreos partidos analisados, apenas o PS e o LIVRE têm formalmente diversostipos de filiação: no PS os estatutos reconhecem «membros» e «simpati-zantes» (art.os 6 e 8) e no LIVRE «membros e apoiantes» (art.os 1.º e 7.º).Além da atribuição de incentivos de participação como o direito de voto,os partidos têm criado mecanismos de abertura a não-inscritos (ou inde-pendentes), assinalando a exigência de se modernizarem e de se abrirem

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

198

11 No caso das eleições legislativas de 2009, durante seis meses todos os cidadãos foramconvidados a contribuir com sugestões para o programa eleitoral.

Quadro 6.1 – Grau de inclusividadedo selectorate

Inclusividade

+ –

PS Seleção do líder (1) PSD BE

LIVRE CDS-PP

Seleção de candidatos para

cargos públicos LIVRE PS BE PSD CDS-PP

Formulação das políticas do partido LIVRE BE PSD PS CDS-PP

Fonte: elaboração própria.Nota: (1) Para o BE e o LIVRE considerou-se a posição de coordenador/porta-voz.

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 198

Page 29: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

mais à sociedade civil. No PS os «grupos temáticos» e os «gabinetes deestudos» estão abertos à participação de independentes (art.º 81.º) e noPSD encontramos um cenário idêntico no que diz respeito à participaçãona «Comunidade virtual» (art.º 79.º) e nos «Grupos temáticos» (art.º 78.º).Também o BE admite a formação de «grupos de trabalho» onde, nãoapenas os aderentes mas também os simpatizantes, possam debater eeventualmente elaborar propostas e recomendações.

O conjunto desta análise comparativa dos estatutos demonstra que oLIVRE e o PS são os partidos que mais implementaram reformas de DIPtornando mais inclusivos os seus processos internos (ver o quadro 6.1).

A experiência democrática dentro dos partidos: a visão dos militantes

Na secção anterior demonstrámos que os partidos incluídos neste es-tudo têm introduzido mudanças estatutárias inovadoras, nomeadamenteno que diz respeito ao processo de seleção do líder, mas que continuamreticentes em algumas áreas, por exemplo na escolha dos candidatos paracargos públicos e na formulação das políticas do partido. Vimos aindaque existem diferenças importantes entre os partidos, sendo o PS, deentre os partidos com experiência governativa, aquele que mais avançounesta matéria, e o LIVRE o mais inclusivo dentro do espectro da es-querda. Nesta secção analisamos as perceções que os militantes têm desteprocesso. Esta passagem das regras formais às práticas é fundamental por-que as estruturas democráticas formais podem esconder práticas oligár-quicas (Schattschneider 1942; Duverger 1959; Michels 1962; Saglie e Hei-dar 2004) e porque as perceções dos militantes são importantes paracompreender o funcionamento dos partidos políticos e o impacto queas medidas de democratização têm na mobilização dos militantes (Sandri2012; Sandri e Amjahad 2015; Lisi 2015).

Consequentemente, esta secção irá analisar 1) as perceções que os mi-litantes têm sobre a DIP, e 2) as consequências destas perceções no seugrau de envolvimento em atividades político-partidárias. Para isso serãoutilizados os dados do projeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Por-tugal em Perspetiva Comparada», que consistiu num inquérito que com-preendeu uma amostra global de 2915 militantes divididos entre BE (N = 669), CDS-PP (N = 443), LIVRE (N = 143), PS (N = 1347) e PSD(N = 313). Os resultados deste inquérito devem ser lidos com cautela noque toca ao tipo de comparações e generalizações que permite efetuar.Em primeiro lugar, porque não se trata de uma amostra representativa;

A democracia intrapartidária em Portugal

199

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 199

Page 30: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

os questionários foram preenchidos online e voluntariamente, daí que te-nhamos amostras bastante diferentes por partido. Em segundo lugar, por-que enquanto no caso do PS, do BE e do LIVRE a amostra é constituídapor filiados, no caso do CDS-PP e do PSD ela é constituída por delega-dos; esta diferença condiciona a comparabilidade dos resultados, umavez que de acordo com a «Lei da disparidade curvilinear» de May (1973),podemos esperar posicionamentos mais críticos por parte das elites in-termédias vis-à-vis com as bases dos partidos. Ainda assim, estes dadossão importantes para efeitos comparativos e descritivos e são únicos nocontexto português.

Relativamente às perceções dos militantes sobre o funcionamento doseu partido, o questionário incluiu uma bateria de oito questões relacio-nadas com a DIP, nomeadamente: a importância das regras estatutárias,o grau de autonomia do líder, o modelo de participação, o nível de de-mocracia interna, a influência nas políticas do partido e a importânciadada às opiniões dos militantes. Para cada uma destas questões foi pedidoaos militantes que se posicionassem numa escala de quatro pontos comvariação entre 1 (discorda totalmente) e 4 (concorda totalmente). Parasimplificar a apresentação e a leitura dos dados em cada uma das afirma-ções agregamos as respostas em duas categorias: «concorda» e «discorda».Os resultados são apresentados no quadro 6.2 em forma de percentagemsendo as diferenças entre os grupos estatisticamente significativas.

Mais de dois terços dos militantes discordam que as regras estatutáriasnão influenciam o funcionamento interno do partido (69%). Este posi-cionamento é particularmente elevado nos partidos da nova esquerda(LIVRE: 86% e BE: 73%) e mais baixa no CDS-PP (63%) – ainda quemaioritária. Apesar da perceção generalizada de que as regras estatutáriassão importantes, a maioria esmagadora dos militantes (74%) concordacom a afirmação de que o funcionamento interno do partido está de-pendente das tendências/divisões que existem dentro do partido. O LIVRE é o partido onde a proporção de militantes que concorda comesta afirmação é mais baixa (56%) seguido do CDS-PP (62%), do BE(73%), do PSD (74%) e finalmente do PS (78%).

No que concerne à autonomia do líder, 76% dos militantes conside-ram que os líderes gozam de autonomia suficiente, sendo essa percenta-gem particularmente mais elevada entre os militantes do CDS-PP (92%),do LIVRE (91%) e do PSD (83%). Complementarmente, vale a pena sa-lientar que, quando questionados sobre a forma preferencial de eleiçãodo líder, os militantes tenham oscilado entre duas formas específicas:eleição pelos filiados e eleição pelos delegados (ver a figura 6.1). A maioria

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

200

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 200

Page 31: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

A democracia intrapartidária em Portugal

201

Qua

dro

6.2

– E

xper

iênc

ia p

artid

ária

dos

mili

tant

es (%

que

con

cord

a ou

dis

cord

a de

cad

a um

a da

s af

irm

açõe

s)

N

T

otal

BE

CD

S-PP

L

IVR

E

PS

PSD

Nív

eis

de

sign

ificâ

ncia

(x2 )

C

D

C

D

C

D

C

D

C

D

C

D

As r

egra

s est

atut

ária

s não

influ

enci

am

o fu

ncio

nam

ento

inte

rno

do p

artid

o

2

598

3

1

6

9

2

7

7

3

3

7

6

3

14

8

6

3

3

6

7

30

45

x2 (1

2)=

46,

169*

**

O fu

ncio

nam

ento

inte

rno

depe

nde

das t

endê

ncia

s/di

visõ

es d

entr

o do

par

tido

2

597

7

4

2

0

7

3

1

9

6

2

2

8

56

3

2

7

8

1

7

74

20

x2 (1

2)=

80,

166*

**

O lí

der d

o pa

rtid

o nã

o te

m u

ma

auto

nom

ia su

ficie

nte

2 59

3

24

76

26

74

8

92

9

91

3

0

7

0

17

83

x2 (1

2)=

160

,731

***

A p

artic

ipaç

ão in

tern

a do

s mili

tant

es

depe

nde

dos b

enef

ício

s que

pod

em

rece

ber d

o pa

rtid

o

2

600

3

0

7

0

1

0

9

0

2

7

7

3

9

91

4

1

5

9

32

68

x2(1

2)=

288

,571

***

É de

sejá

vel a

umen

tar a

dem

ocra

cia

inte

rna

do p

artid

o

2

593

7

7

2

3

7

9

2

1

5

8

4

2

50

5

0

8

6

1

4

72

29

x2(1

2)=

246

,176

***

A e

stru

tura

do

part

ido

não

perm

ite

a ex

pres

são

do p

lura

lism

o in

tern

o

2

589

3

2

6

8

2

3

7

7

2

7

7

3

5

95

4

1

5

9

27

73

x2

(12)

= 1

93,2

68**

*

Os f

iliad

os n

ão in

fluen

ciam

as

pol

ítica

s do

part

ido

2 59

8

46

55

31

70

41

59

10

90

57

43

47

53

x

2(1

2)=

270

,521

***

Os d

irige

ntes

não

se in

tere

ssam

pe

las o

pini

ões d

os m

ilita

ntes

2

606

4

5

5

5

2

9

7

1

3

5

6

5

5

95

5

7

4

3

55

45

x2(1

2)=

328

,565

***

Font

e: P

roje

to «

Filia

dos

e D

eleg

ados

dos

Par

tidos

. Por

tuga

l em

Per

spet

iva

Com

para

da»

(Esp

írito

San

to e

Lis

i 201

4).

Not

a: *

** p

< 0

,001

. O q

uadr

o ap

rese

nta

perc

enta

gens

em

linh

a. N

= A

mos

tra,

C =

Con

cord

a (a

greg

a as

opç

ões

conc

orda

tota

lmen

te e

con

cord

a) e

D =

Dis

cord

a(a

greg

a as

opç

ões

disc

orda

tota

lmen

te e

dis

cord

a).

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 201

Page 32: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

dos militantes do BE (59%) e do CDS-PP (45%) prefere que o líder sejaeleito pelos delegados, enquanto os militantes do PS (68%), do PSD(53%) e do LIVRE (43%) preferem a eleição pelos filiados. Em certa me-dida estes resultados acompanham os resultados obtidos na análise dosestatutos: no BE o coordenador «é eleito» pelo congresso (o principalproponente da moção é eleito) enquanto o CDS-PP regressou ao sistemade eleição pelos delegados após breve experiência de primárias fechadas.LIVRE e PS são os mais inclusivos deste ponto de vista, mesmo que con-sideremos que no caso do PS este inquérito tenha sido aplicado antesdas primárias abertas de 2014.

Relativamente às motivações da participação, 70% discordam que elaseja dependente dos benefícios que os militantes esperam receber do par-tido. Esta perceção menos utilitária ou instrumental da participação estámais vincada no LIVRE e no BE, onde 91% e 90% dos militantes, res-petivamente, expressam este posicionamento. Apesar de maioritária, estapercentagem é mais baixa nos dois principais partidos do sistema políticoportuguês, o PS (59%) e o PSD (68%).

No que diz respeito ao nível de democracia interna a grande maioriados militantes (77%) concorda que ela precisa de ser aumentada. Comexceção do LIVRE em que há um empate entre aqueles que concordame que discordam (50%) desta afirmação, nos restantes partidos a opiniãomaioritária é a de que é desejável aumentar a democracia interna. No en-tanto, isto não significa que os atuais regulamentos sejam desfavoráveisà participação dos militantes. Com efeito, mais de dois terços dos mili-tantes (68%) discordam da afirmação de que a estrutura do partido nãopermite a expressão do pluralismo interno. A quase totalidade dos mili-tantes do LIVRE (95%) tem essa opinião, sendo essa perceção tambémelevada no BE (77%), no CDS-PP (73) e no PSD (73%) e mais baixa noPS (59%) – ainda que maioritária.

Na mesma linha, mais de metade dos respondentes concordam comas afirmações de que os militantes têm influência nas políticas do partidoe de que os dirigentes se interessam pelas suas opiniões. Concretamente,55% dos militantes discordam da afirmação de que não influenciam aspolíticas do partido e outros 55% da afirmação de que os dirigentes nãose interessam pelas suas opiniões. O LIVRE destaca-se claramente dosoutros partidos; 90% e 95% dos militantes, respetivamente, discordamdestas duas afirmações. Logo a seguir está o BE (69% e 71%, respetiva-mente) e o CDS-PP (59% e 65%, respetivamente). No PSD e no PS en-contramos perceções menos positivas a este respeito: 53% dos militantessociais-democratas discordam da afirmação de que não influencia as po-

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

202

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 202

Page 33: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

líticas do partido mas uma maioria de 55% concorda que os dirigentesnão se interessam pelas suas opiniões. No PS, único partido onde a maio-ria concorda com ambas as afirmações, 57% dos militantes concordamque não influencia as políticas do partido e que os dirigentes não se in-teressam pelas suas opiniões.

Assim se justifica que grande parte dos militantes esteja pouco ou nadasatisfeita com a influência que tem no partido (58%) (ver a figura 6.2).Contrariamente ao que seria de esperar, a proporção de insatisfeitos émaior no PS (68%) e no BE (54%) do que no PSD (47%) e no CDS-PP(49%) uma vez que estes são menos inclusivos do ponto de vista formal.Este resultado decorrerá em parte do facto de as amostras do CDS-PP edo PSD serem constituídas por delegados e não por filiados, mas tam-bém pode ter razões ideológicas. O facto de os inquiridos dos partidosda direita estarem mais satisfeitos com o nível de democracia interna dosseus partidos pode ter a ver com questões de cultura política (Baras et al.2012).

Será que a experiência partidária dos militantes (quadro 6.2) está cor-relacionada com o seu grau de participação em atividades político-parti-dárias? Será que existem diferenças significativas entre os militantes dediferentes partidos? Antes de responder a estas questões consideremos aforma como os militantes avaliam o seu grau de ativismo.

O questionário incluiu uma bateria de nove questões (medidas numaescala de cinco pontos entre 1 = nunca e 5 = frequentemente) em que

A democracia intrapartidária em Portugal

203

Figura 6.1– Procedimento para a escolha do líder (%)

Figura 6.2 — Satisfação com a influência exercida no partido (%)

Fonte: ver o quadro 6.2.Nota: teste do x 2 é estatisticamente significativo(x 2 (12) = 182,818, p < 0,001). As percentagensnão incluem não-respostas.

Fonte: ver o quadro 6.2.Nota: teste do x 2 é estatisticamente significativo(x 2 (24) = 1227,845, p < 0,001). As percentagensnão incluem não-respostas.

EleitoresDelegadosOutro

FiliadosÓrgãos nacionais

8 9 59 22 2

10 43 45 21

21 43 14 21

22 68 7 13

13 53 30 1 2

17 50 26 5 2

BE

CDS

LIVRE

PS

PSD

Total

Nada satisfeitoBastante satisfeito

Pouco satisfeitoMuito satisfeito

11 43 41 5

8 41 43 8

4 26 52 18

17 51 29 3

3 44 50 3

12 46 37 5

BE

CDS

LIVRE

PS

PSD

Total

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 203

Page 34: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

os militantes foram questionados sobre a frequência com que realizamum conjunto de atividades político-partidárias, nomeadamente: ajudamna organização de reuniões locais, de convívios ou de encontros com acomunidade, se reúnem com colegas para discutir política, doam di-nheiro ao partido ou participam em atividades de campanha.12 No qua-dro 6.3 apresentamos dados de um índice que agrega as respostas dadasa este conjunto de questões.

De um modo geral, encontram-se valores relativamente baixos de en-volvimento ou de participação dos militantes no conjunto de atividadesconsideradas. Com efeito, perto de 50% dos militantes posicionam-senos dois pontos mais baixos (1 e 2) da escala de frequência. Apenas 2%referem participar frequentemente nas várias atividades mencionadas.

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

204

12 Numa escala em que 1 é Nunca e 5 é Frequentemente indique com que regularidadedesenvolve as seguintes atividades: a) Ajudar na organização das reuniões locais do par-tido; b) Ajudar na organização das atividades e convívios do partido; c) Ajudar na orga-nização de encontros do partido com a comunidade; d) Livre doação de dinheiro parao partido, além das quotas; e) Encontro com colegas de partido para discutir política; f) Encontro com colegas de partido para realizar atividades não políticas; g) Encontrocom pessoas fora do partido para falar sobre política; h) Distribuição de propaganda ematerial no período de campanha eleitoral; e i) Desempenho de outras atividades no pe-ríodo de campanha eleitoral.

Quadro 6.3 – Índice de participação em atividades político-partidárias, por partido

1 2 3 4 5 Nunca Frequentemente Total

Total N 586 716 825 526 42 2695 % 22 27 31 20 2 100BE N 148 172 174 108 8 610 % 24 28 29 18 1 100CDS-PP N 25 82 144 89 5 345 % 7 24 42 26 1 100LIVRE N 66 29 22 12 1 130 % 51 22 17 9 1 100PS N 338 384 361 208 17 1308 % 26 29 28 16 1 100PSD N 9 49 124 109 11 302 % 3 16 41 36 4 100

Fonte: ver o quadro 6.2.Nota: teste do qui2 é estatisticamente significativo (p < 0,001); as percentagens revelam diferençassignificativas entre os partidos. As percentagens não incluem as não-respostas. Alfas de Cronbach,por partido: BE = 0, 904, CDS-PP = 0, 867; LIVRE = 0,909; PS = 0,897; PSD = 0,846; Global:0,900.

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 204

Page 35: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Note-se que estes valores não se distribuem de forma homogénea emtodos os partidos, e que as diferenças de percentagem encontradas são es-tatisticamente significativas. O PSD é o partido cujos militantes parecemser mais participativos, enquanto o PS é aquele em que estes se dizemmenos participativos. Entre os militantes do LIVRE os níveis de partici-pação são excecionalmente baixos, o que se pode dever ao facto de o par-tido se ter formado em Março de 2014 e, logo, de os militantes teremexercido menos as atividades político-partidárias incluídas no estudo.

Para analisar até que ponto militantes com diferentes perceções sobrea DIP diferem significativamente no seu grau de participação em ativi-dades político-partidárias, comparamos as médias do índice acima des-crito em função do posicionamento dos militantes nas questões apre-sentadas no quadro 6.2. Os resultados (apresentados no quadro 6.4)evidenciam que no PS as diferenças entre os militantes são sistematica-mente significativas: os que têm perceções mais negativas apresentamsistematicamente níveis mais baixos de participação. Com efeito, aquelesque concordam que as regras estatutárias não influenciam o funciona-mento do partido têm níveis mais baixos de participação quando com-parados com os que discordam desta afirmação. O mesmo padrão é en-contrado entre os militantes que concordam que o funcionamentointerno do partido depende das suas divisões internas, que o líder nãotem autonomia, que os militantes participam porque antecipam benefí-cios, que é desejável aumentar a democracia interna, que a estrutura in-terna não permite a expressão do pluralismo, que os filiados não influen-ciam as políticas do partido e que os dirigentes não se interessam pelosfiliados. Todos os que concordam com estas afirmações participammenos do que os que têm uma opinião oposta, e esta diferença é estatis-ticamente significativa.

No BE e no CDS-PP também se encontram várias diferenças impor-tantes no grau de participação dos militantes em função das suas perce-ções sobre o funcionamento do partido (ver o quadro 6.4). No BE, comexceção da questão sobre a importância das regras estatutárias, todas asoutras questões distinguem significativamente os militantes. No entanto,a tendência é idêntica à encontrada no PS. Lido de outra forma, os quediscordam que o funcionamento interno depende das tendências dentrodo partido, que o líder não tem autonomia suficiente, que os militantesparticipam em função de benefícios, que o partido não permite a expres-são do pluralismo interno, que os filiados não influenciam as políticasdos partidos e que os dirigentes não se interessam pelas opiniões dos mi-litantes, participam mais.

A democracia intrapartidária em Portugal

205

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 205

Page 36: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

206

Font

e: v

er o

qua

dro

6.2.

Not

a: N

ívei

s de

sig

nific

ânci

a: †

p<

0,1

0; *

p<

0,0

5; *

*p<

0,0

1; *

**p

< 0

,001

, ass

ocia

dos

a te

stes

de

com

para

ções

de

méd

ias

(AN

OVA

). O

Índ

ice

de p

artic

ipaç

ão e

mat

ivid

ades

pol

ítico

-par

tidár

ias v

aria

ent

re 1

(nun

ca) e

5 (f

requ

ente

men

te);

logo

qua

nto

mai

s ele

vada

a m

édia

mai

or o

gra

u de

par

ticip

ação

. As p

erce

ntag

ens n

ão in

clue

mas

não

resp

osta

s.

Qua

dro

6.4

– Ín

dice

de

part

icip

ação

em

ativ

idad

es p

olíti

co-p

artid

ária

s, d

e ac

ordo

com

a e

xper

iênc

ia p

artid

ária

dos

mili

tant

es

BE

Dis

cord

aC

onco

rda

Tota

l

CD

S-PP

Dis

cord

aC

onco

rda

Tota

l

LIV

RE

Dis

cord

aC

onco

rda

Tota

l

PSD

isco

rda

Con

cord

aTo

tal

PSD

Dis

cord

aC

onco

rda

Tota

l

As

regr

as e

sta-

tutá

rias

não

influ

enci

am o

func

iona

men

toin

tern

o do

pa

rtid

o

2,88

2,83

2,87

3,42

3,22

3,34

*

2,25

2,38

2,27

2,85

2,69

2,80

*

3,68

3,56

3,65

O fu

ncio

nam

ento

inte

rno

depe

nde

das

tend

ênci

as/d

ivisõ

es

dent

ro d

o pa

rtido

3,07

2,80

2,88

**

3,55

3,22

3,34

**

2,58

1,98

2,25

**

3,01

2,74

2,80

***

3,61

3,67

3,66

O lí

der d

o pa

rtid

o nã

ote

m u

ma

auto

nom

ia

sufic

ient

e

2,93

2,71

2,88

*

3,33

3,45

3,34

2,30

1,92

2,27

2,85

2,69

2,80

*

3,66

3,63

3,65

A p

artic

ipaç

ão

inte

rna

dos

mili

tant

es

depe

nde

dos

bene

fício

s qu

epo

dem

rece

ber

do p

artid

o

2,90

2,63

2,87

3,35

3,31

3,34

2,23

2,57

2,26

2,90

2,65

2,80

***

3,67

3,58

3,64

É d

esej

ável

au

men

tar a

de

moc

raci

a in

tern

a do

pa

rtid

o

2,69

2,92

2,87

*

3,44

3,27

3,34

2,16

2,38

2,27

2,98

2,77

2,80

*

3,65

3,65

3,65

A e

stru

tura

do

part

ido

não

perm

ite

a ex

pres

são

dopl

ural

ism

o in

tern

o

2,96

2,61

2,88

**

3,43

3,11

3,34

**

2,30

1,89

2,28

2,91

2,64

2,80

***

3,66

3,62

3,65

Os

filia

dos

não

influ

enci

amas

pol

ítica

s do

part

ido

2,97

2,65

2,87

**

3,46

3,18

3,34

**

2,31

1,87

2,27

2,93

2,70

2,80

***

3,62

3,66

3,64

Os

dirig

ente

snã

o se

in

tere

ssam

pela

s op

iniõ

esdo

s m

ilita

ntes

2,92

2,77

2,88

3,42

3,19

3,34

*

2,28

1,87

2,27

2,94

2,70

2,80

***

3,65

3,64

3,64

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 206

Page 37: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

No CDS-PP o nível de participação não difere significativamente, queros militantes concordem ou discordem sobre se o líder tem uma auto-nomia suficiente, se a participação interna depende de benefícios e se édesejável aumentar a democracia interna. Contudo, em todas as outrasquestões consideradas, existem diferenças significativas. No LIVRE ape-nas encontramos diferenças significativas relativamente a uma questão:os que concordam que o funcionamento interno depende das tendên-cias/divisões dentro do partido exibem um nível de participação signifi-cativamente mais baixo do que os que discordam. Por último, no PSDas diferenças de médias de participação em cada uma das questões con-sideradas não são estatisticamente significativas.

Conclusão

Este capítulo teve como objetivo principal analisar a DIP em cincopartidos portugueses, considerando dois aspetos em particular. Em pri-meiro lugar, as perceções dos militantes relativamente ao funcionamentointerno do seu partido e em, segundo lugar, a forma como estas perceçõesinfluenciam o seu grau de ativismo político-partidário.

Começámos com a análise dos estatutos com vista a criar o pano defundo para o enquadramento das perceções dos militantes. Esta análisecomparada considerou três domínios em que se têm registado mudançasnos últimos anos – a seleção do líder, a seleção dos candidatos para car-gos públicos e a formulação das políticas do partido – e confirmou oque tem sido escrito sobre o grau de inclusividade dos órgãos de seleçãodos partidos portugueses. Em particular, o PS é o partido que mais temavançado nesta matéria, promovendo a participação para além da esferada militância tradicional e tornando estatutariamente mais inclusivo oprocesso de elaboração das listas de candidatos a deputados. Porém, oLIVRE, organizado sob preceitos de democracia interna desde a sua fun-dação, parece ser o partido que permite níveis mais elevados de partici-pação aos seus membros e apoiantes. No BE os mecanismos de parti -cipação surgem elencados de forma mais difusa, no PSD a abertura dosprocessos decisórios é apesar de tudo limitada, embora se tenha permi-tido que membros com capacidade eleitoral ativa possam eleger o lídere os presidentes das estruturas distritais. A este respeito o CDS-PP apre-senta um desenho menos inclusivo na medida em que reintroduziu oprocesso de eleição do líder pelos delegados eleitos ao Congresso Na-cional.

A democracia intrapartidária em Portugal

207

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 207

Page 38: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

A análise empírica revelou que existem diferenças importantes entreos militantes dos diferentes partidos, na forma como percecionam o fun-cionamento do seu partido. De entre todos, os militantes do LIVRE sãoaqueles que mais concordam que o seu partido permite a expressão dopluralismo interno, que mais sentem que influenciam as políticas do par-tido, que mais concordam que os dirigentes se interessam pelas suas opi-niões e que mais satisfeitos estão com o grau de democracia interna doseu partido. No PS temos um cenário inverso, na medida em que en-contramos as percentagens mais baixas de concordância com estes itens,e encontramos a percentagem mais elevada de militantes que gostariamque a democracia interna fosse aumentada. Estes resultados sugerem umadissonância entre os avanços mais recentes de democracia interna ado-tados pelo PS e as perceções dos militantes, podendo ser indicadores deestes serem tendencialmente mais «críticos» e mais exigentes em relaçãoàs oportunidades de participação ou, por outro lado, mais atomizados emenos próximos das formas tradicionais de militância (Lisi 2015).

Finalmente, a análise dos efeitos destas perceções no ativismo polí-tico-partidário relevou diferenças importantes entre os militantes dentrode cada partido. Particularmente, para o caso do PS encontramos dife-renças significativas entre as perceções que os militantes têm sobre o fun-cionamento do partido e o seu grau de ativismo político-partidário: per-ceções mais negativas estão sistematicamente correlacionadas com níveismais baixos de participação. As diferenças são também relevantes no BEe no CDS-PP e menos expressivas no LIVRE. Note-se que no PSD nãoforam encontradas diferenças significativas entre satisfação com o fun-cionamento do partido e grau de participação, talvez pelo facto de aamostra ser composta exclusivamente por delegados, ou seja, por umgrupo mais uniforme e com características específicas de um maior graude envolvimento nas decisões do partido e de ativismo.

Estes resultados são importantes, mas devem ser lidos com cautela namedida em que as amostras não são idênticas (nuns casos temos delega-dos e noutros filiados) e não são representativas do universo de militantesdentro de cada partido. No entanto, ajudam a compreender o alcancedas reformas levadas a cabo pelos partidos. E isto é importante porqueum dos propósitos da democracia interna é envolver os militantes (e empotencial os eleitores) nos assuntos dos partidos. Para os partidos portu-gueses, os resultados não demonstram que as medidas de democratizaçãotenham contribuído para uma maior mobilização dos militantes. Estudosanteriores de Sandri (2012) e Sandri e Amjahad (2015) indicam que talpode estar relacionado quer com as diferentes perceções que os militantes

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

208

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 208

Page 39: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

têm sobre o seu papel dentro do partido, quer com o facto de serem osmilitantes tradicionalmente mais ativos (os delegados) os que mais ten-dem a aproveitar as novas oportunidades de participação geradas. Nestesentido, a introdução de mecanismos de DIP não conduz necessaria-mente a uma maior participação dos militantes de base, que à partidatendem a ser mais passivos. Estudos posteriores deverão analisar maisprofundamente as implicações destas reformas considerando diferentesperfis de militantes; em termos de anos de filiação, motivações para en-trar nos partidos e de características sociopolíticas.

Referências bibliográficas

Baras, M., J. Rodríguez Teruel, Ò. Barberà, e A. Barrio. 2012. «Intra-party democracy andmiddle-level elites in Spain». Working Paper n.º 304. Barcelona: Institut de CiènciesPolítiques i Socials.

Belchior, A. 2008. «Democracia nos partidos políticos portugueses». Sociologia, Problemase Práticas, 58: 131-154.

Bille, L. 2001. «Democratizing a democratic procedure: myth or reality? Candidate se-lection in western European parties, 1960–1990». Party Politics, vol. 7, n.º 3: 363-380.

Coelho, M. 2013. «Os partidos políticos e o recrutamento do pessoal dirigente em por-tugal: o caso do PS e do PPD/PSD», tese de doutoramento, Lisboa, UniversidadeLusófona.

Cross, W., e R. S. Katz. 2013. The Challenges of Intra-Party Democracy. Oxford: Oxford Uni-versity Press.

Dalton, R. J. 2008. Citizen Politics: Public Opinion and Political Parties in Advanced IndustrialDemocracies. 5.ª ed. Washington, DC: CQ Press.

Dalton, R. J., e M. P. Wattenberg. 2000. Parties without Partisans: Political Change in Ad-vanced Industrial Democracies. Oxford: Oxford University Press.

Duverger, M. 1959. Political Parties: Their Organization and Activity in the Modern State. NovaIorque: Willey.

Espírito Santo, P., e M. Lisi. 2014. Filiados e Delegados dos Partidos: Portugal em PerspetivaComparada. Base de Dados, Lisboa: ISCSP-UL e FCSH-UNL.

Freire, A. 1998. «Lógicas de recrutamento parlamentar». Sociologia Problemas e Práticas,28: 115-147.

Freire, A., e C. Pequito Teixeira. 2011. «A escolha antes da escolha: a seleção dos candi-datos a deputados – parte II: teoria e prática». Revista de Ciências Sociais e Políticas, 2:31-47.

Freire, A., e J. M. Leite Viegas, orgs. 2009. Representação Política. O Caso Português em Pers-pectiva Comparada. Lisboa: Sextante.

Hazan, R. Y., e G. Rahat. 2006. «Candidate selection: method and consequences». InHandbook of Party Politics, orgs. Richard S. Katz e William J. Crotty. Londres: Sage,109-121.

Hazan, R. Y., e G. Rahat. 2010. Democracy within Parties. Oxford: Oxford University Press.Jalali, C., e M. Costa Lobo. 2007. «Party activism in a third wave democracy: a portrait

A democracia intrapartidária em Portugal

209

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 209

Page 40: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

of Portuguese Socialist Party delegates». Comunicação apresentada na ECPR JointSessions, Helsinki.

Katz, R. S. 2001. «The problem of candidate selection and models of party democracy».Party Politics, 7 (3): 277-296.

Katz, R. S., e P. Mair. 1995. «Changing models of party organization and party demo-cracy: the emergence of the cartel party». Party Politics, 1 (1): 5-28.

Katz, R. S., e P. Mair. 2009. «The cartel party thesis: a restatement». Perspectives on Politics,7, (4): 753-766.

Kenig, O. 2009. «Democratization of party leadership selection: do wider selectoratesproduce more competitive contests?». Electoral Studies, 28 (2): 240-247.

Kittilson, M. C., e S. E. Scarrow. 2003. «Political parties and the rhetoric and realities ofdemocratization». In Democracy Transformed? Expanding Political Opportunities in Ad-vanced Industrial Democracies, orgs. Bruce E. Cain, Russell J. Dalton e Susan E. Scarrow.Oxford: Oxford University Press, 59-80.

LeDuc, L. 2001. «Democratizing party leadership selection». Party Politics, 7 (3): 323-341.Linz, J. 2002. «Parties in contemporary democracies: problems and paradoxes». In Political

Parties: Old Concepts and New Challenges, orgs. Richard Gunther, José R. Montero eJuan J. Linz. Oxford: Oxford University Press, 291-317.

Lisi, M. 2009. A Arte de Ser Indispensável. Líder e Organização no Partido Socialista Português.Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

Lisi, M. 2010. «The democratization of party leadership selection: the Portuguese expe-rience». Portuguese Journal of Social Sciences, 9 (2): 127-149.

Lisi, M. 2011. Os Partidos Políticos em Portugal: Continuidade e Transformação. Coimbra: Al-medina.

Lisi, M. 2015. «Democracia intrapartidária, filiados e elites intermédias: o caso do PartidoSocialista Português». Análise Social, 214l: 160-190.

Lisi, M., e A. Freire. 2014. «The selection of party leaders in Portugal». In The Selection ofPolitical Party Leaders in Contemporary Parliamentary Democracies, orgs. Jean Benoit Pilete William Cross. Londres: Routledge, 124-140.

Lobo, M. Costa. 2007. «Partidos e líderes: organização partidária e voto no contexto eu-ropeu». In Eleições e Cultura Política, orgs. André Freire, Marina Costa Lobo e PedroMagalhães. Lisboa: Imprensa Ciências Sociais, 253-273.

Lopes, F. Farelo. 2002. «Os partidos portugueses numa perspectiva organizacional: ques-tões preliminares». In Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais: Uma Introduçao, orgs. Fer-nando Farelo Lopes e André Freire. Oeiras: Celta, 43-87.

May, J. D. 1973. «Opinion structure of political parties: the special law of curvilinear dis-parity». Political Studies, 21 (2):135-151.

Michels, R. 1962. Political Parties: A Sociological Study of the Oligarchical Tendencies of ModernDemocracy. Nova Iorque: Collier Books.

Pedersen, H. Helboe. 2010. «Differences and changes in Danish party organisations: cen-tral party organization versus parliamentary party group power». The Journal of Legis-lative Studies, 16 (2): 233-250.

Pereira, J. Pacheco. 2007. O Paradoxo do Ornitorrinco: Textos sobre o PSD. Lisboa: AlêtheiaEditora.

Pilet, J. B., e W. Cross. orgs. 2014. The Selection of Political Party Leaders in ContemporaryParliamentary Democracies. Londres: Routledge.

Rahat, G., e R. Hazan. 2001. «Candidate selection methods: an analytical framework».Party Politics, 7 (3): 297-322.

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

210

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 210

Page 41: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Rahat, G., R. Y. Hazan, e R. S. Katz. 2008. «Democracy and political parties: on theuneasy relationship between participation, competition and representation». PartyPolitics, 14 (6): 663-683.

Saglie, J., e K. Heidar. 2004. «Democracy within Norwegian political parties: complacencyor pressure for change?». Party Politics, 10 (4): 385-405.

Sandri, G. 2012. «Perceptions of intra-party democracy and their consequences on acti-vism: a comparative analysis of attitudes and behaviors of grass-roots party members».Comunicação apresentada na World Congress of Political Science, Madrid, 8-12 dejulho.

Sandri, G., e A. Amjahad. 2015. «Party membership and intra-party democracy: how domembers react to organizational change within political parties? The case of Bel-gium». Partecipazione e Conflitto, 8 (1): 190-214.

Sartori, G. 1976. Parties and Party Systems: A Framework for Analysis. Cambridge: Cam-bridge University Press.

Scarrow, S. E. 1999. «Parties and the expansion of direct democracy: who benefits?».Party Politics, 5 (3): 341-362.

Scarrow, S. E. 2005. Political Parties and Democracy in Theoretical and Practical Perspectives:Implementing Intra-Party Democracy. Washington, DC: National Democratic Institutefor International Affairs.

Scarrow, S. E., e B. Gezgor. 2010. «Declining memberships, changing members? Euro-pean political party members in a new era». Party Politics, 16 (6): 823-843.

Schattschneider, E. E. 1942. Party Government. Nova Iorque: Holt Rinehart and Winston. Seddone, A., e F. Venturino. 2013. «Bringing voters back in leader selection: the open

primaries of the Italian Democratic Party». Modern Italy, 18 (3): 303-318.Stock, M. J. 1985. «Delegados, activistas, quadros médios: importância de uma aborda-

gem empírica». Economia e Sociologia, 38-39: 7-25.Stock, M. J., e L. F. Valente Rosa. 1985. «Perfil dos delegados aos Congressos dos partidos

políticos em 1981». Economia e Sociologia, 38-39: 59-94.Teixeira, C. Pequito. 2009. O Povo Semi-Soberano. Partidos Políticos e Recrutamento Parlamen-

tar em Portugal (1990-2003). Coimbra: Almedina.Van Biezen, I., P. Mair, e T. Poguntke. 2012. «Going, going... gone? The decline of party mem-

bership in contemporary Europe». European Journal of Political Research, 51 (1): 24-56. Van Haute, E. 2009. «Party membership and discontent». Comunicação apresentada na

Conferência da Canadian Political Science Association, Ottawa, maio.Van Haute, E., e A. Gauja, orgs. 2015. Party Members and Activists. Abingdon: Routledge.Van Holsteyn, J,. e R. Koole. 2009. «Is it true what they say? Dutch party members and

their opinion on internal party democracy». Comunicação apresentada na ECPRJoint Sessions workshops, Lisboa, 14-19 de abril.

Von dem Berge, B., T. Poguntke, P. Obert, e D. Tipei. 2013. Measuring Intra-Party Demo-cracy: A Guide for the Content Analysis of Party Statutes with Examples from Hungary, Slo-vakia and Romenia. Heidelberg: Springer.

Wauters, B. 2009. «Intra-party democracy in Belgium: On paper, in practice and throughthe eyes of the members». Comunicação apresentada na ECPR Joint Sessions work -shops, Lisboa, 14-19 de abril.

Whiteley, P. 2011. «Is the party over? The decline of party activism and membershipacross the democratic world». Party Politics, 17 (1): 21-44.

Young, L., e W. Cross. 2002. «The rise of plebiscitary democracy in Canadian politicalparties». Party Politics, 8 (6): 673-699.

A democracia intrapartidária em Portugal

211

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 211

Page 42: 00 Militantes Intro.qxp Layout 1 23/05/17 18:00 Page 1

Documentos estatutários

BE. 2012. Estatutos do Bloco. Lisboa: Bloco de Esquerda.BE. 2014. Estatutos do Bloco. Lisboa: Bloco de Esquerda.CDS. 2014. Estatutos do Partido Popular CDS-PP. Lisboa: Centro Democrático e Social.CDS. 2009. Estatutos do Partido Popular CDS-PP. Lisboa: Centro Democrático e Social.LIVRE. 2014. Regulamentos de Membros e Apoiantes do LIVRE. Lisboa: Livre.LIVRE. 2014. Código da Ética do LIVRE. Lisboa: Livre.PS. 2012. Estatutos. Lisboa: Partido Socialista.PSD. 2012. Estatutos nacionais do PSD. Lisboa: Partido Social Democrata.

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

212

06 Militantes Cap. 6.qxp_Layout 1 23/05/17 18:03 Page 212