8
OS LIMITES DA CLÁUSULA AD JUDICIA NA PROCURAÇÃO Inacio de Carvalho Neto coletânea

00379 - Os Limites da Cláusula Ad Judicia na Procuração.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • OS LIMITES

    DA CLUSULA

    AD JUDICIA

    NA

    PROCURAO

    Inacio de Carvalho Neto

    coletnea

  • OS LIMITES DA CLUSULA AD JUDICIA NA PROCURAO

    Inacio de Carvalho Neto1

    Determina o art. 38 do Cdigo de

    Processo Civil que:

    A procurao geral para o foro, conferida por instrumento pblico, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citao inicial, confessar,

    1 Promotor de Justia no Paran, Professor de Direito de Famlia e Sucesses na Universidade Paranaense - UNIPAR e de Direito de Famlia na Fundao Escola do Ministrio Pblico-FEMPAR e na Escola da Magistratura, Especialista pela UNIPAR e Mestrando em Direito Civil pela Universidade Estadual de Maring - UEM. Publicou diversos artigos jurdicos nas revistas especializadas, entre os quais se destacam O Suprimento de Idade para Casamento, publicado na RT 745/691 e na Doutrina (coordenao de JAMES TUBENCKLACK), vol. 4, p. 458; Renunciabilidade da Penso Alimentcia entre Cnjuges, publicado na Doutrina, vol. 6, p. 206; A Transmissibilidade da Obrigao Alimentar, publicado na Doutrina, vol. 7. Autor tambm das seguintes obras doutrinrias: Separao e Divrcio - Teoria e Prtica. 2. Tiragem. Curitiba: Juru, 1999. Aplicao da Pena. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

  • reconhecer a procedncia do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ao, receber, dar quitao e firmar compromisso. Estabelece-se, assim, o princpio

    de que a clusula ad judicia confere ao Advogado poderes amplos para todos os atos do processo, com as s excees consagradas no citado dispositivo.

    A questo que se pretende discutir

    no presente trabalho justamente sobre os limites da clusula ad judicia, ou seja, at que ponto tem o causdico munido de procurao geral para o foro poderes amplos para litigar em nome do mandante.

    Em outras palavras: Pode o

    Advogado, utilizando-se da procurao com clusula ad judicia, propor qualquer ao judicial representando seu cliente? Da anlise da doutrina no se encontra resposta a esta questo.

    primeira vista, poderia-se

    responder afirmativamente a esta questo

  • simplesmente pela aplicao do princpio estabelecido no citado art. 38. E assim decidiu o Superior Tribunal de Justia:

    A circunstncia

    de constar no instrumento de mandato a clusula ad judicia suficiente para permitir ao outorgado estar em juzo, ainda que tenha o outorgante tambm concedido poderes especiais para promover ao diversa daquela na qual foi juntada a procurao2. Entretanto, este princpio no pode

    ser extremado, sob pena de se permitir ao Advogado munido de uma procurao com clusula ad judicia propor qualquer ao em nome de seu cliente, sem que este sequer saiba da existncia da mesma.

    A interpretao que, a nosso ver,

    deve ser dada a este dispositivo a de que a

    2 STJ - 4. Turma Resp. n. 110.289-MA Rel. Min. Slvio de Figueiredo j. 26.2.97.

  • clusula ad judicia habilita o causdico a todos os atos (salvo os expressamente excludos) no processo para o qual foi ele contratado para propor, no o habilitando a propor processo diverso.

    Alis, a prpria interpretao

    literal do dispositivo j conduz a este entendimento. Com efeito, o dispositivo em comento diz que a procurao habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, no a propor qualquer processo.

    Ou seja, o que estamos a afirmar

    que a clusula ad judicia s confere ao Advogado poderes para praticar todos os atos do processo para o qual foi ele contratado, no o habilitando a propor aes outras no especificadas na procurao.

    Tangenciando a questo, PONTES

    DE MIRANDA dizia que a procurao para o foro em geral d poderes para interpor quaisquer recursos, inclusive o recurso extraordinrio, no

  • para propor a ao rescisria da sentena no processo em que o advogado funcionou3.

    Embora o consagrado mestre no

    seja expresso ao afirmar a tese que ora apregoamos, afirmou ele o princpio: a clusula ad judicia se limita ao objetivada pelo outorgante, no podendo o mandatrio propor outras aes no especificadas.

    claro que tal limite no se aplica

    s aes interligadas ao objeto da ao contratada. Seria, v.g., o caso do Advogado constitudo para a defesa em determinada ao de conhecimento, em que seu cliente foi vencido, sendo, em seguida, executado, propor Embargos do Devedor. Obviamente, em casos que tais, no se faz necessria outra procurao especfica.

    Mas, no tendo a nova ao

    nenhuma ligao com os fatos referidos na procurao que contm a clusula ad judicia, faz-se necessria a especificao, em nova procurao, 3 FRANCISCO C. PONTES DE MIRANDA, Comentrios ao Cdigo de Processo Civil, tomo I, 5. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 436.

  • de poderes especiais para a propositura da ao que se pretende.

    Note-se que esta tese tem sido

    aplicado em casos especficos. Veja-se, por exemplo, o caso da reconciliao. Seria possvel um Advogado com procurao ad judicia, que a obteve para promover a separao consensual do casal, utilizar-se desta procurao para pedir a reconciliao do casal, sem que os ex-cnjuges assim o desejem? praticamente pacfico o entendimento negativo, exigindo-se poderes especficos para tanto:

    A reconciliao

    tem de ser feita em petio assinada pelos cnjuges e seu(s) advogado(s), ou s por este(s), desde que com poderes especiais4.

    A reconciliao

    do casal separado judicialmente

    4 INACIO DE CARVALHO NETO, Separao e Divrcio Teoria e Prtica. 2. Tiragem. Curitiba: Juru, 1999, p. 256.

  • ato de importncia, no pode ser efetuado por advogado sem poderes especiais para tanto. ...5. No vemos razo para que no se

    estenda este princpio a qualquer processo, firmando-se tese neste sentido.

    Conclumos, portanto, ser

    necessria a incluso, na procurao (ainda que com clusula ad judicia), de referncia especial ao que se pretenda propor, ou, ao menos, aos fatos que serviro de suporte a tal ao, no podendo o Advogado propor qualquer ao com base simplesmente na clusula ad judicia.

    5 TJSP - 5. Cm. Cv. - AI n. 190.854.1/3 - Rel. Des. Silveira Netto - RT 701/67.

    CapaOS LIMITES DA CLUSULA AD JUDICIA NA PROCURAO