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UNIESP-ISE
O LATIM VULGAR.
O latim vulgar e o latim literário no primeiro milênio.
Diego Pires
Cláudio Cataldo
Leia Santos
Santiago Rei.
Setembro de 2008.
Trabalho aprsentado ao professor Vlademir Yrigoyen, na disciplina de Estudos Independentes II do curso de letras, com fins de obtenção de nota bimestral
ÍNDICE:
1. Sociolingüística do latim vulgar. ................................................................... 03
2. Latim vulgar e latim literário na idade média................................................. 06
3. Tipos de latim................................................................................................ 09
4. Bibliografia .................................................................................................... 10
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1. Sociolingüística do latim vulgar.
Toda língua viva apresenta variações, que se classificam em:
Verticais, que correspondem à estratificação da sociedade em classes.
Horizontais, que correspondem às diferenças geográficas.
Com o Latim não poderia ser diferente, a sociedade romana foi por muito tempo
estratificado em patrícios, plebeus e escravos (variações verticais) e quando era a
língua do Lácio e da Itália central, apresentava diferentes variedades geográficas.
Com a complexidade e articulação da sociedade romana, o uso da língua (o latim),
acabou sofrendo diversificações. Com essa diversificação, apareceu a literatura
latina , que fazia uso do latim clássico, que era bem representado nas obras de
Cícero e Virgílio. Porém, o latim clássico é apenas uma das variedades do latim,
ligada a uma literatura aristocrática e artificial, outra variedade era a língua
efetivamente falada no mesmo período.
Diez quis deixar bem claro que as línguas românicas não derivam do latim clássico,
mas das variedades populares, na qual aparece assim como um “proto-romance”.
Proto-romance seria a língua usada por um grupo de pessoas de cultura inferior à
clássica. O proto-romance não foi uma língua escrita, pois as pessoas por menor
que fosse a sua cultura procuravam escrever usando a variedade culta reforçando
uma tendência de imitar os modelos clássicos. Também é incorreto identificar o
proto-romance com o latim falado, já que na sociedade romana se falaram outras
variedades de latim.
Porém, Diez preferiu chamar essas variedades populares de Latim Vulgar - com o
objetivo de opô-la ao latim literário.
Mas o que é exatamente o latim vulgar?
O latim vulgar, um dialeto do latim, é o ancestral das línguas neolatinas (italiano,
francês, espanhol, português, romeno, catalão, romanche e outros idiomas e
dialetos regionais da área); muitas palavras adaptadas do latim foram adotadas por
outras línguas modernas, como o inglês. O fato de haver sido a lingua franca do
mundo ocidental por mais de mil anos é prova de sua influência.
Latim vulgar (em latim, sermo vulgaris) é um termo empregado para designar os
dialectos vernáculos do latim falado principalmente nas províncias ocidentais do
Império Romano.
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Considera-se que tenha perdurado até o século IX aproximadamente, ou seja, até a
diferenciação das línguas românicas.
Certas palavras do Latim clássico foram tiradas do vocabulário. O clássico equus,
"cavalo", foi substituído por caballus (mas note o romeno iapă, sardo èbba, espanhol
yegua, catalão euga e português égua e derivadas do clássico equa).
Uma lista parcial de palavras que são exclusivamente clássicas, e aquelas que são
produtos do Romance, são encontradas abaixo.
Clássico Pós-Clássico & Romance Português
Albus blancus branco
Bellum guerra guerra
Cogitare pensare pensar
Algumas dessas palavras, oriundas do Romance, foram emprestadas de volta ao
próprio Latim.
As mudanças de vocabulário afetaram mesmo as partículas gramaticais básicas do
Latim; há muitas que desapareceram sem deixar traços no Romance, tal como an,
at, autem, donec, enim, ergo, etiam, haud, igitur, ita, nam, postquam, quidem, quin,
quod, quoque, sed, utrum e vel.
Verbos com preposições prefixadas frequentemente apresentaram formas simples.
O número de palavras formadas por tais sufixos como -bilis, -arius, -itare e -icare
cresceu. Estas mudanças ocorreram frequentemente para evitar formas irregulares
ou para regularizar gêneros.
Por outro lado, uma vez que o Latim vulgar e o próprio latim foram por muito tempo
em sua história diferentes registros da mesma língua, antes que diferentes línguas,
algumas línguas românicas preservam palavras latinas que usualmente foram
perdidas. Por exemplo, a palavra italiana ogni ("tudo/todo") preserva a latina omnes.
Outras línguas usam cognatos de totus (acusativo totum) para o mesmo significado;
por exemplo tutto em italiano, tudo/todo em português, todo em espanhol, tot em
catalão, tout em francês e tot em romeno.
Algumas vezes, uma palavra em latim clássico foi mantida ao lado de uma em Latim
Vulgar. Em Latim Vulgar, a clássica caput, "cabeça", tornou-se testa (originalmente
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"pote") em algumas formas de Romance ocidental, incluindo francês e italiano. Mas
o italiano, o francês e o catalão mantiveram a palavra latina sob a forma de capo,
chef e cap as quais conservaram muitos significados metafóricos de "cabeça",
incluindo "chefe". A palavra latina com o significado original é preservada em
romeno como cap, junto com eastă, ambas significando 'cabeça' no sentido
anatômico. Dialetos do sul da Itália também preservam capo como a palavra normal
para "cabeça". Espanhol e português têm cabeza/cabeça, derivadas de *capetia,
uma forma modificada de caput, enquanto em português testa foi conservada como
a palavra para a parte frontal da cabeça. Frequentemente, palavras emprestadas
diretamente do latim literário em alguma época posterior, em vez de evoluída do
latim vulgar, são encontradas lado a lado com a forma evoluída do vulgar. A falta de
esperados desenvolvimentos fonéticos é uma pista que a palavra foi emprestada.
Por exemplo, latim vulgar fungus (acusativo fungum), "fungo, cogumelo", a qual
tornou a italiana fungo, catalã fong, portuguesa fungo, tornou-se hongo em
espanhol, mostrando o f > h mudança comum no espanhol primitivo (cf. filius >
espanhol hijo, "filho" ou facere > espanhol hacer, "fazer"). Mas o espanhol também
têm fungo, a qual por sua falta da esperada mudança de som mostra que foi
emprestada diretamente do latim clássico.
O Latim Vulgar continha grande número de palavras de origem estrangeira não
presentes nos textos literários. Muitas palavras na medicina foram escritas em
grego, e palavras frequentemente emprestadas dessa fontes. Por exemplo, gamba
( 'junta do joelho' ), originalmente um termo veterinário somente, substituiu a clássica
palavra latina para "perna" (crus) na maioria das línguas românicas. (cf. Fr. jambe, It.
gamba). Termos culinários também foram frequentemente emprestados de fontes
gregas, por exemplo o calco da palavra grega deu ficatum (iecur)' (fígado de ganso),
e o particípio ficatum tornou-se a palavra comum para "fígado" latim vulgar(cf. es.
higado, fr. foie, it. fegato, ro. ficat). Importantes termos religiosos foram também
tomados de termos escritos em grego, tais como episcopos (bispo), presbyter
(presbítero), martyr. Palavras emprestadas do gaulês incluem caballos ("cavalo" cf.
caballus), e karros ("carro" cf. carrus).
Uma visão nas mudanças de vocabulário do latim vulgar tardio na França podem ser
vistas no Reichenau Glosses, escritas nas margens de uma Bíblia Vulgata,
explicando palavras em latim vulgar do século IV cuja leitura não era mais
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compreensível no século VII, quando os glossários eram escritos. Estes glossários
demonstram mudanças vocabulares típicas nas línguas galo-românicas.
2. Latim vulgar e Latim literário na Idade Média
O período da Idade Média foi tradicionalmente delimitado com ênfase em eventos
políticos. Nesses termos, ele teria se iniciado com a desintegração do Império
Romano do Ocidente, no século V (476 d. C.), e terminado com o fim do Império
Romano do Oriente, com a Queda de Constantinopla, no século XV (1453 d.C.).
Na Idade Média o latim literário apareceu como uma língua extremamente estável
tanto na escrita como na fala, ao passo que o latim vulgar inova constantemente, se
derivando com as variedades regionais que prefiguram as atuais línguas românicas.
A essas variedades costuma-se chamar “romances”, com estas variações designou
dois tipos de cultura com as expressões latine loque e romanace loqui epor causa
dos romances acabaram assumindo algumas funções que era apenas do latim
literário.
Um exemplo da influencia exercida pelo latim vulgar sobre o literário é o número
cada vez maior do vulgarismo na língua literária. Mas o latim literário influencia o
romance no período da chamada “Renascença Carolíngio”. Carolíngios é o nome
da dinastia franca que sucedeu aos merovíngios (751), com Pepino, o Breve, e
pretendia restabelecer o Império Romano do Ocidente. Renascença carolíngia, ou
Renascimento Carolíngio, é o nome dado à idéia controversa, mas recorrente, de
um renascimento da literatura e das artes que teria ocorrido principalmente no
reinado de Carlos Magno. No final do século VIII Carlos Magno conseguira reunir
grande parte da Europa sob seu domínio. Para unificar e fortalecer o seu império
decidiu executar uma reforma na educação. O monge inglês Alcuíno elaborou um
projeto de desenvolvimento escolar que buscou reviver o saber clássico
estabelecendo os programas de estudo a partir das sete artes liberais: o trivium, ou
ensino literário (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium, ou ensino científico
(aritmética, geometria, astronomia e música). A partir do ano 787, foram emanados
decretos que recomendavam, em todo o império, a restauração de antigas escolas e
a fundação de novas. Institucionalmente, essas novas escolas podiam ser
monacais, sob a responsabilidade dos mosteiros; catedrais, junto à sede dos
bispados; e palatinas, junto às cortes.
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Essa reforma ajudou a preparar o caminho para o Renascimento do Século XII. O
ensino da dialética (ou lógica) foi fazendo renascer o interesse pela indagação
especulativa, dessa semente surgiria mais tarde a filosofia cristã da escolástica; e
nos séculos XII e XIII, muitas das escolas que haviam sido fundadas nesse período,
especialmente as escolas catedrais, ganharam a forma de universidades
medievais.- Quanto às interferências do latim vulgar escrito, elas foram cada vez
mais numerosas com o passar do tempo, na pena de escrita que pensavam de fato
em vulgar, desconhecendo os modelos clássicos, e dominavam o latim de maneira
primaria. A “ Renascença Carolíngia” teve um papel muito importante em mostrar
que esse latim tinha muito pouco a ver com o verdadeiro latim literário, criando
condições para que os romances começassem a se utilizados na escrita.
Com esta influência da aproximação entre a língua vulgar e o latim literário, a Igreja
teve uma iniciativa de redigir em um latim tanto quanto possível popular os textos da
bíblia.Esta versão da Bíblia ficou conhecida Vulgata. A '''Vulgata''' é uma tradução
para o latim da Bíblia escrita em meados do Século IV por São Jerónimo , a pedido
do Papa Dâmaso I(366-384) , que foi usada pela Igreja Católica e ainda é muito
respeitada.
Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo da língua grega . Foi nesta
língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Epístola aos Romanos|
Carta aos Romanos , de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos
seguintes.
No século IV , a situação mudara e é então que o importante biblista São Jerónimo
traduz pelo menos o Antigo Testamento para latim e revê a Vetus Latina. A Vulgata
foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas
predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o
Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecido
como Septuaginta. No Novo Testamento, São Jerônimo selecionou e revisou textos.
Ele inicialmente não considerou canônicos os sete livros, chamados por católicos e
ortodoxos de deuterocanônicos. Porém, trabalhos seus posteriores mostram sua
mudança de conceito, pelo menos a respeito dos livros de Judite, Sabedoria de
Salomão e o Eclesiástico (ou Sabedoria de Sirac), conforme atestamos em suas
últimas cartas a Rufino. Chama-se '''Vulgata''' a esta versão latina da Bíblia, que foi
usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte
para diversas traduções. Hoje a que nós lemos é a tradução Neo-Vulgata, isto é, a
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mesma do São Jerônimo, porém com mais recursos lingüísticos.
Para ter uma idéia de estabilidade do latim literário em confronto com a mobilidade
do romance, compensa comparar essa atitude da Igreja do século IV com a decisão
que a mesma fez valer cinco séculos mais tarde, a partir do Concilio de Tour ( 813),
que representa uma guinada na história, um momento fundamental. No cânon 17, a
comunidade dos padres conciliares estabelece que os textos da pregação herdados
pela grande tradição cristã patrística anterior não fossem mais repetidos em latim,
mas em “rusticam Romanam linguam aut Theodiscam, quo facilius cuncti possint
intellegere quae dicuntur”, ou seja, na língua rústica “romana” ou na língua “alemã”,
para que todos pudessem compreender mais facilmente o que era dito. Trata-se do
reconhecimento dos dois grandes componentes geoculturais que constituíam o
império de Carlos Magno: o mundo que fora romano, o mundo romance, de tradição
latina, até a região do Reno; e o mundo germânico, da região do Reno em diante.
No concílio de Tours, havia bispos de um ou de outro componente. Na vertente
romance, a pregação passaria a ser, daquele momento em diante, feita em língua
“romana”, mas “rústica”, ou seja, nos falares que descendiam do latim; no outro lado,
nos falares germânicos. Essas duas grandes realidades geopolíticas - o romance
ex-gálico, hoje francês, e o germânico - tornaram-se nações protagonistas da
história da Europa e do mundo.Esta decisão do Concilio tem como objetivos
semelhantes o do São Jerônimo e São Agostinho: representa uma iniciativa da
Igreja em adaptar-se da língua falada, para ser melhor compreendida pelo povo;
com esta segunda iniciativa da Igreja.Consagra-se um importante avanço dos
romances em direção à plenitude de usos lingüísticos.
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3. Tipos de Latim.
Latim arcaico: latim usado no Império Romano entre o século III. a. C. e o início do
século I. a . C. Nota: manifesta-se em antigos textos literários - obras de Névio,
Plauto, Ênio, Catão -, bem como em epitáfios e textos legais.
Latim clássico: latim usado no Império Romano florescendo a partir do segundo
quartel do século I. a . C. quando são compostas grandes obras literárias em
poesias e prosa como as obras de Cícero, Virgílio, Horácio, Tito Lívio e numerosas
outras figuras de relevo. Nota: caracteriza-se pelo apuro do vocabulário, pela
correção gramatical, pela elegância do estilo, numa palavra, por aquilo que Cícero
clamava com propriedade urbanita. Sin.: latim escrito.
Latim coloquial: latim usado por várias camadas da população romana, incluindo a
aristocracia e, principalmente, o povo que não teve acesso à cultura escolar. Nota:
era uma espécie de denominador comum, que se sobrepunha às gírias (jargões)
das várias profissões, como um instrumento familiar de comunicação diária. O latim
coloquial é para muitos, o proto-romance, isto é,o ponto de partida da formação das
línguas românicas. Com a criação do método comparativo de Diez, ficou claro que
as línguas românicas se originaram do latim coloquial.
Latim literário: latim usado no Império Romano relativamente estável como língua
da escrita e como língua falada em todas as situações formais.
Latim pós-clássico: latim usado nas obras literárias compostas entre os séculos I e
V de nossa era. Nota: embora ainda surjam textos de grande valor, a língua começa
a perder a pureza e a perfeição que haviam caracterizado no período anterior.
Latim pré-histórico: latim usado pelos habitantes do Lácio, anterior ao
aparecimento dos documentos escritos.
Latim proto-histórico: latim usado para registrar os primeiros documentos oficiais.
Nota: São exemplos dessa fase as inscrições encontradas na fábula de Preneste -
uma fivela do século VIII ou Vi a.C. - no cipó do Fórum - provavelmente do século VI
a.C. - e no vaso de Duenos, de fabricação um pouco mais recente, talvez do século
IV. a. C.
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Bibliografia.
LIVRO:
ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. São Paulo. Ática. 2007.
INTERNET:
www.filologia.org.br
www.catequisar.com.br/txt/ad/apostila/b_07.htm
http://articles.gourt.com/pt/Renascen%C3%A7a%20carol%C3%ADngia
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