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Domínio das Relações Morfossintáticas, Semânticas e Discursivas Tipos de Questões Três são os tipos mais comuns de questões e convém conhecê-los. 1º Tipo: Comandos da questão: • Assinale V ou F, conforme julgue Verdadeira ou Falsa a informação: • Julgar os itens seguintes: • De acordo com o texto, pode-se afirmar: • As frases abaixo constituem seqüência lógica e coesa do enunciado seguinte: Seguindo-se as alternativas: (1) (2) (3) (4) (5) ou mais RESOLUÇÃO: Cada alternativa é independente das demais, podendo haver várias certas e várias erradas. Leia uma a uma e marque C ou E em cada, conforme a julgue certa ou errada. Pode também marcar V ou F, conforme a considere verdadeira ou falsa. Este tipo de questão você deve marcar com convicção, já que erradas anulam certas. 2º Tipo: Comandos da questão: • Assinale a alternativa correta. • Assinale a alternativa incorreta. Seguindo-se as alternativas: a) b) c) d) e) Ou (1) (2) (3) (4) (5) COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS LÍNGUA PORTUGUESA Página 1 de 47

01 compreensão e interpretação de textos

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Domínio das Relações Morfossintáticas,

Semânticas e Discursivas

Tipos de Questões Três são os tipos mais comuns de questões e convém conhecê-los. 1º Tipo: Comandos da questão: • Assinale V ou F, conforme julgue Verdadeira ou Falsa a informação: • Julgar os itens seguintes: • De acordo com o texto, pode-se afirmar: • As frases abaixo constituem seqüência lógica e coesa do enunciado seguinte: Seguindo-se as alternativas: (1) (2) (3) (4) (5) ou mais RESOLUÇÃO: Cada alternativa é independente das demais, podendo haver várias certas e várias erradas. Leia uma a uma e marque C ou E em cada, conforme a julgue certa ou errada. Pode também marcar V ou F, conforme a considere verdadeira ou falsa. Este tipo de questão você deve marcar com convicção, já que erradas anulam certas. 2º Tipo: Comandos da questão: • Assinale a alternativa correta. • Assinale a alternativa incorreta. Seguindo-se as alternativas:

a) b) c) d) e)

Ou

(1) (2) (3) (4) (5)

����

�����

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOSLÍNGUA PORTUGUESA

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RESOLUÇÃO: Cada alternativa depende das demais porque só uma poderá ser escolhida. Duas ou três delas são absurdas. Elimine as absurdas, leia as demais e compare-as para descobrir em que são diferentes. Opte por uma. Na dúvida, pode marcar a que julgar mais coerente, caso não haja a afirmação de que erradas anulam certas. 3º Tipo: Igual ao comando anterior, porém aparecendo seis alternativas:

a) b) c) d) e) f)

(1) (2) (3) (4) (5) (6) Desconheço a resposta correta ou Não sei.

RESOLUÇÃO: Se você não sabe, responda a letra (f) ou o número (6), porque, com certeza, erradas anulam certas. Tipos de Enunciados Os enunciados pedem ao candidato: • identificar, reconhecer, apontar elementos importantes do texto; • comentar, emitir juízo ou opinião, com base nos conhecimentos da teoria da comunicação, ou nos conceitos que se espera tenha o aluno absorvido, no segundo ou terceiro grau; • interpretar ou reaplicar a(s) idéia(s) do texto a outro contexto; • identificar a(s) idéia(s) de causa e efeito e suas relações de subordinação ou coordenação; • analisar ou afirmar as idéias com base em argumentos explorados no texto; • comparar, descobrir semelhanças e dessemelhanças entre as partes de um texto ou entre dois ou mais textos; • resumir, identificar as idéias principais ou agrupá-las sinteticamente; • parafrasear, isto é, reescrever, com outras palavras, as mesmas idéias. Erros Clássicos Freqüentemente, o candidato é conduzido, pelos examinadores, a três tipos de erros: extrapolação, redução e contradição. Fuja deles! a) Extrapolação • dizer mais que o texto; • generalizar o que é particular. Exemplo: Os portugueses José, Antônio e Joaquim são simpáticos.

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A questão diz: Os portugueses são simpáticos. RESOLUÇÃO: O texto diz que aqueles três portugueses são simpáticos. A questão diz que todos os portugueses são simpáticos. b) Redução • particularizar o que é geral; • ater-se apenas a uma parte, esquecendo outras(s) importante(s); • desprezar o contexto e entender uma parte com outro significado. Exemplo: O estudo dá prazer, por isso deve ser cultivado. A questão diz: Quando se estuda bem, o estudo dá prazer. RESOLUÇÃO: O texto diz que o estudo dá prazer e não condicionou isso a um determinado modo de estudar. c) Contradição • concluir contrariamente ao texto; • omitir passagens importantes para fugir ao sentido original. Exemplo: O homem, racional, quando sob o domínio do ódio, pode agir como um animal selvagem. A questão diz: O homem é racional, porque pode agir como um animal. RESOLUÇÃO: O texto diz que o homem, embora racional, pode agir como irracional. A questão diz que o homem é racional, porque pode agir como irracional. INTELECÇÃO E INTERPRETAÇÃO Intelecção: significa entendimento, compreensão. Os testes de intelecção ou entendimento exigem do candidato uma postura muito voltada para o que realmente está escrito. Os comandos enunciam-se assim: • O cronista sugere que... • O texto diz que... • Segundo o texto, é correto ou errado... • O narrador afirma que... Interpretação: significa explicar, comentar, julgar a intenção, tirar conclusão. Os testes de interpretação querem saber o que o candidato conclui sobre o que está escrito. Os comandos enunciam-se assim: • Da leitura do texto, infere-se que... • O texto permite deduzir que... • Com base no texto pode-se concluir que... • Qual a intenção do narrador, quando afirma que...

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Postura do Candidato Normalmente, o candidato, no momento da prova, fica preocupado com o tempo, razão pela qual lê rapidamente o texto e vai direto às perguntas. Evite tal conduta. O tempo gasto com a leitura bem feita é compensado na hora de responder às questões. 1) Leia duas vezes o texto. A primeira para ter a noção do assunto geral; a segunda para prestar atenção às partes de cada parágrafo ou cada estrofe. Lembre-se de que cada parágrafo desenvolve uma idéia. 2) Leia duas vezes o comando da questão, para saber realmente o que está sendo pedido. 3) Leia duas vezes cada alternativa para eliminar o que é absurdo. Geralmente, um terço das afirmativas o é. 4) Durante a leitura, pode-se sublinhar o que for mais significante e/ou fazer observações à margem do texto. DICAS IMPORTANTES 1. Se o comando pede a idéia principal (ou tema), esta, normalmente, situa-se no primeiro ou último parágrafo (introdução ou conclusão). 2. Se o comando busca argumentação, esta se localiza nos parágrafos intermediários (desenvolvimento).

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LENDO E REDIGINDO TEXTOS Ao interpretar textos, aproveite para redigir. Não queremos que você apenas resolva questões, assinalando as proposições que já vêm prontas. É necessário também trabalhar com as idéias que você elaborou a partir de sua compreensão dos textos. Tente fazer com que as conclusões de suas interpretações sejam elaboradas em forma, pelos menos, de pequenas redações. Nesse sentido, apresentamos as seguintes sugestões:

• faça interpretação esquemática, retirando as idéias nucleares; • faça interpretação explicativa dessas idéias; • faça interpretação imaginativa ou criadora, supondo o sentido que o autor quis

dar ao texto; • redija um pequeno comentário ou uma conclusão pessoal a partir das sugestões

do texto. Você já estará dando um importante passo no tocante ao trabalho de produção textual;

• utilize linguagem própria. Explore o seu léxico internalizado. Vamos começar?

MÚSICA-TEXTO DE APOIO

QUEIXA

Caetano Veloso

Um amor assim delicado Você pega e despreza Não o devia ter despertado Ajoelha e não reza 5 Dessa coisa que mete medo Pela sua grandeza Não sou o único culpado Disso eu tenho certeza Princesa 10 Surpresa Você me arrasou Serpente Nem sente que me envenenou Senhora e agora 15 Me diga aonde vou Senhora Serpente Princesa Um amor assim violento 20 Quando torna-se mágoa É o avesso de um sentimento

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Oceano sem água Ondas: desejos de vingança Nessa desnatureza 25 Batem forte sem esperança Contra a tua dureza Princesa Surpresa Você me arrasou 30 Serpente Nem sente que me envenenou Senhor e agora Me diga aonde eu vou Senhora 35 Serpente Princesa Um amor assim delicado Nenhum homem daria Talvez tenha sido pecado 40 Apostar na alegria Você pensa que eu tenho tudo E vazio me deixa Mas Deus não quer que eu fique mudo E eu te grito essa queixa 45 Princesa Surpresa Você me arrasou Serpente Nem sente que me envenenou 50 Senhora e agora Me diga aonde vou Amiga Me diga

(Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, músico popular brasileiro. Um dos mais talentosos cantores e compositores do país, liderou com Gilberto Gil o movimento tropicalista na década de 1960.) Questões Propostas Interpretação: Com base na música-texto, julgue os itens a seguir. (Verifique o gabarito ao final desta lição). a) Há, no texto, uma expressão popular adaptada com a qual o poeta revela a não correspondência sentimental por parte da pessoa a quem se dirige. b) A “coisa” a que o poeta se refere no verso 5 é o amor.

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c) O autor do texto utiliza substantivos ao final de cada movimento que expressam apenas duas imagens: a da mulher envolvente e sedutora e a da mulher delicada, bela e formosa. d) Não há antítese no texto apresentado. e) No segundo movimento da música-texto, existe um neologismo. f) No último movimento, o poeta retoma a imagem inicial do texto, autovalorizando-se. g) A palavra “pecado” (l. 39) se relaciona a sentimentos e estados negativos. h) O sentimento que sobrevive no fim do poema é a amizade. Redação: Utilizando os dados que você pôde retirar do texto, explique a razão pela qual o autor escolheu o título “Queixa” para caracterizar a canção. Procure expressar suas idéias com linguagem própria.

DOMINANDO BASES CONCEITUAIS Ao responder às questões acima, você deparou com algumas dúvidas. Compreender um texto, de fato, não é fácil. Tal ação exige técnica. O item 2, por exemplo, evidencia apenas duas imagens expressas pelos substantivos, quando, na verdade, são três: Senhora (mulher orientadora, a quem o poeta respeita; Serpente (mulher envolvente e sedutora); Princesa (mulher delicada, bela e formosa). No item 6, a palavra destacada, “pecado”, é, no dia-a-dia, associada a sentimentos e estados negativos. No texto, porém, isso não acontece: “Talvez tenha sido pecado / Apostar na alegria”. Considerações importantes: Os concursos públicos e exames vestibulares apresentam questões que têm por finalidade a identificação do leitor autônomo. Por isso, não faltam situações que visam a verificar não só o conhecimento do sistema lingüístico, mas também o conhecimento dos mecanismos de estruturação do significado. Hoje, portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado. É importante saber que texto, palavra de origem latina, significa “tecido”. Assim, é fundamental considerar que o texto não é um aglomerado de frases estanques, independentes umas das outras. As frases, na verdade, produzem significados diferentes de acordo com o contexto em que estão inseridas. Torna-se necessário sempre fazer o confronto entre todas as partes que compõem um texto. Além disso, é importante apreender o pronunciamento contido por trás do texto, já que este é sempre produzido para marcar uma postura ideológica frente a uma questão qualquer.

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Os diversos órgãos responsáveis pela elaboração de concursos públicos e exames vestibulares seguem praticamente os mesmos procedimentos estratégicos. As provas de língua portuguesa são, literalmente, provas de interpretação de textos com a seguinte estrutura básica:

• Questões de interpretação textual (elementos estruturais) • Questões de interpretação semântica (relações de sentido) • Questões de interpretação gramatical (níveis estruturais da língua)

Observação: Vale ressaltar que todas as questões elaboradas estabelecem uma ligação estreita com o TEXTO. Como ler e entender o texto? Basicamente, o candidato deve ser conduzido a dois tipos de leitura: A informativa - requer a leitura seletiva, a identificação dentro de cada parágrafo da palavra-chave, além daquelas que estruturam as frases constituintes da base de informação. A interpretativa - A segunda requer o reconhecimento das capacidades de compreensão, análise e síntese das informações contidas no texto. I. Compreensão: capacidade de entender a mensagem literal contida em uma comunicação. As questões propostas versam, geralmente, sobre a tese defendida, a postura ideológica do autor, a idéia central do texto. II. Análise: capacidade de desdobrar o material em suas partes constitutivas, percebendo-se suas inter-relações e modos de organização. III. Síntese: capacidade de colocar em ordem os pensamentos essenciais do autor. Ao ler o texto, defina, portanto, dois campos importantes: I. Campo Semântico – Sublinhe sempre as palavras cujos significados, inicialmente, são desconhecidos. O contexto, muitas vezes, vai ajudá-lo a identificar os sinônimos de tais palavras. Tente buscar a acepção que melhor se coadune ao contexto. II. Campo Lexical – Em cada parágrafo, investigue qual a palavra-chave que constitui o núcleo da idéia apresentada pelo autor. Você estará definindo os Lexemas Essenciais, que são palavras ou expressões de significação mais importante naquele parágrafo. Uma vez definidos os lexemas, procure chegar a uma síntese, à palavra ou expressão que constitui o núcleo da tese defendida pelo autor durante todo o texto. Nesse momento, surge o Arquilexema. GABARITO: a) C - b) C - c) E - d) E - e) C - f) C - g) E - h) C

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PROCESSOS COESIVOS DE REFERÊNCIA

ENTENDENDO OS MECANISMOS DE COESÃO E COERÊNCIA

MÚSICA-TEXTO DE APOIO

É PROIBIDO FUMAR

(Roberto e Erasmo Carlos)

É proibido fumar Diz o aviso que eu li É proibido fumar Pois o fogo pode pegar. 5 Mas não adianta o aviso olhar Pois a brasa que agora eu vou mandar Nem bombeiro pode apagar. Se pego uma garota E canto uma canção 10 E nela dou um beijo Com empolgação Do beijo faz faísca E a turma toda grita Que o fogo pode pegar. 15 Nem bombeiro pode apagar O beijo que eu dei nela assim Nem bombeiro pode apagar Garota pegou fogo em mim. Sigo incendiando bem contente e feliz 20 Nunca respeitando o aviso que diz É proibido fumar.

(Roberto Carlos e Erasmo Carlos são cantores e compositores brasileiros. Comandaram, na década de 1960, ao lado da cantora Vanderléia, o movimento da Jovem Guarda e o programa de mesmo nome na TV Record. Líderes nas paradas de sucesso, atingiram fama nacional prolongada. Quero que vá tudo pro inferno (1965), Eu sou terrível (1967), Detalhes (1971), Emoções (1981) são alguns dos seus sucessos.)

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Questão Proposta 1. Com base na leitura da música-texto, julgue os itens. a) A letra da música “É proibido fumar” é motivada pelo trinômio uma garota / um beijo / uma canção. b) Predomina, no texto, a denotação. c) Os versos 20 e 21 sugerem o gosto de transgredir a interdição. d) No tocante à forma, haja vista a banalidade dos versos, é possível afirmar que as rimas estão ausentes. e) Os elementos coesivos pois (l. 4) e Mas (l. 5) remetem, respectivamente, às idéias de explicação e oposição. f) Os versos 2 e 5 apresentam a expressão o aviso. Caso o autor optasse por não a repetir, seria igualmente correto o emprego da expressão a advertência. g) Em “Nunca respeitando o aviso que diz” (l. 20), o elemento coesivo que retoma o antecedente “o aviso”. h) Em “E nela dou um beijo” (l. 10), o elemento destacado remete a “uma garota” (l. 8). DOMINANDO BASES CONCEITUAIS A partir da leitura do texto e da resolução da questão proposta, você percebeu que todas as frases enunciadas mantêm um vínculo entre si. Percebeu, ainda, que determinados vocábulos retomam idéias anteriores ou são reforçados posteriormente. Manter os elos coesivos significa encaminhar o texto numa só direção. Para isso, é preciso saber usar com precisão os recursos de coesão e coerência. Qual a Relação Existente entre Coesão e Coerência? A coerência se relaciona com a linearidade do texto. Constitui, em linhas gerais, um princípio de interpretabilidade e compreensão do texto caracterizado por tudo de que o processo aí implicado possa depender. Dessa forma, a coerência se relaciona com a coesão do texto, uma vez que esta é entendida como a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem o texto. Essa conexão pode ser sintática e gramatical, mas também semântica, pois, em diversos casos, os mecanismos coesivos se baseiam numa relação entre os significados de elementos do texto.

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A seguir, apresentamos uma síntese dos principais mecanismos de coesão, divididos em duas grandes modalidades: coesão referencial e coesão seqüencial. 1. Coesão referencial: estabelecida entre dois ou mais elementos do texto que remetem a um mesmo referente. Pode ser obtida por meio da substituição (anáforas, pronomes, verbos, elipses e outros) e da reiteração (epítetos, sinônimos, nomes genéricos, nominalizações, repetições e outros). 2. Coesão seqüencial: obtida por meio da recorrência (paralelismos, paráfrases, aspectos fonológicos e outros). Nesse processo, é sempre importante garantir a manutenção temática e os encadeamentos, buscando os elementos lógicos e operadores da seqüência lingüística que constitui o texto. Vale ressaltar que, embora a coesão auxilie no estabelecimento da coerência, ela não é garantia de se obter um texto coerente. O mau uso dos elementos lingüísticos de coesão pode provocar incoerências pela violação de sua especificidade de uso e função. Observe: Sem dúvida, o texto deve apresentar seqüências lingüísticas coesas para que seja possível estabelecer um sentido global que as faça coerentes. Com o Texto Extra desta lição, Procuraremos entender, minuciosamente, os principais mecanismos dos quais estamos falando: GABARITO: a) C - b) E - c) C - d) E - e) C - f) C - g) C - h) C

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FAZENDO CONEXÕES

LENDO E ENTENDENDO O TEXTO

MÚSICA-TEXTO DE APOIO

SE... Djavan

Você disse que não sabe se não Mas também não tem certeza que sim Quer saber? Quando é assim 5 Deixa vir do coração Você sabe que eu só penso em você Você diz que vive pensando em mim Pode ser Se é assim 10 Você tem que largar a mão do não Soltar essa louca, arder de paixão Não há como doer para decidir Só dizer sim ou não Mas você adora um se... 15 Eu levo a sério mas você disfarça Você me diz à beça e eu nessa de horror E me remete ao frio que vem lá do sul Insiste em zero a zero e eu quero um a um Sei lá o que te dá, não quer meu calor 20 São Jorge por favor me empresta o dragão Mais fácil aprender japonês em braile Do que você decidir se dá ou não

(Djavan Caetano Viana, músico popular brasileiro. Cantor e compositor nordestino. Seu trabalho se caracteriza por original tratamento rítmico e pela exploração poética da sonoridade das palavras. Meu bem querer, Oceano são alguns dos seus maiores sucessos.)

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Questões Propostas 1. Julgue os itens abaixo de acordo com a análise da música-texto. a) O título do poema remete-nos a uma circunstância que exprime condição a qual vem expressa pela conjunção. b) O título proposto por Djavan é uma referência direta à pessoa a quem o eu-poético fala. c) A pessoa a quem o poeta se refere possui as seguintes características: indecisa, dissimuladora, incoerente e convicta. d) Em “Você tem que largar a mão do não” (l. 10) temos linguagem com valor conotativo. e) Em “Sei lá o que te dá, não quer meu calor” (l. 19) a palavra sublinhada pode ser substituída por dragão, uma vez que existe afinidade semântica entre elas. f) O verso 20 permite entrever o desespero do eu-poético diante da indecisão da amada. g) No verso 21, há uma figura de palavra denominada hipérbole. 2. Julgue os itens abaixo. a) A palavra que (l. 1) constitui um pronome relativo. b) A locução conjuntiva “mas também” (l. 2) apresenta o sentido de adversidade. c) No verso 4, temos uma conjunção subordinativa temporal. d) No verso 13, a conjunção exprime negação. e) A conjunção presente no verso 14 possui o mesmo valor semântico da que está no verso 2. f) A conjunção encontrada no verso 18 apresenta o valor de adição. g) No último verso, identificamos três idéias expressas pelas conjunções: comparação, condição e alternância. DOMINANDO BASES CONCEITUAIS Ao resolver a segunda questão proposta, você foi convidado a pensar sobre os conectores ou conectivos. Eles desempenham um papel importante nos contextos morfossintático e semântico de um texto e são responsáveis pela coesão de nosso pensamento.

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Esses conectores – preposições, advérbios, pronomes relativos, conjunções, termos denotativos – precisam ser usados com precisão a fim de que os segmentos das frases fiquem bem ajustados. Valor Representativo: a terceira classe de palavras, pois, é a do conectivo – do latim conectere = unir, juntar – classe que depende inteiramente das outras duas (= do nome e do verbo). Conectivos, portanto, são partículas que representam no universo da linguagem as ligações existentes entre os elementos constitutivos do universo humano. Neste, basicamente há três tipos de ligações:

a que se estabelece entre dois seres (= ente, coisa ou fenômeno); a que se estabelece entre um processo ou ação e um ser; e a que se estabelece entre dois processos, ou ações.

No universo da linguagem a ligação entre seres, isto é, nomes, é representada fundamentalmente pelo conectivo nominal: preposição; e a ligação entre processos, isto é, verbos, é representada também de modo fundamental pelo conectivo verbal: conjunção. Há outras possíveis, no entanto. O esquema global seria: 1. Ligações entre dois nomes: a) Por subordinação de um nome ao outro, representadas por preposição – “O livro de Pedro.” b) Por coordenação de um nome ao outro, representadas pelas conjunções “e”, “ou” – “O cavalo e o cão”; “o menino ou a menina.” 2. Ligações entre um verbo, ou oração, e um nome: a) Por subordinação do nome ao verbo, representadas pela preposição – “Olhou para mim”; “Fugiu do colégio”. b) Por subordinação do verbo ao nome, representadas pelo pronome relativo – “O homem que eu vi.” 3. Ligações entre dois verbos, ou orações: Por coordenação ou subordinação, representadas por conjunções a) “Ele lutou mas não venceu” (coordenação); b) “Ele chegou quando a chuva caiu” (subordinada).

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Valor Estilístico: a presença, ausência ou acúmulo de conectivos pode ter uma grande significação estilística. Assim, só o desvio da norma lingüística é que oferecerá interesse para a análise do conectivo, do ponto de vista literário. O que é um conectivo? Conectivo é uma designação genérica de diferentes vocábulos, invariáveis ou variáveis, que estabelecem ligação entre palavras, frases e entre palavras e frases. Abrange preposições, conjunções e pronomes relativos. 1. Conetivos conjuntivos Assim como as preposições ligam duas outras palavras entre si, estabelecendo entre elas determinadas relações, as conjunções ligam orações ou termos com a mesma função sintática. Chama-se de conjunção o conectivo (palavra ou locução) que liga duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração. Isso pode ser feito por coordenação:

quando as orações ou termos da oração são sintaticamente independentes, ou por subordinação, quando uma das orações interligadas (a subordinada)

depende da outra (a principal) para completar seu sentido. Há também as chamadas locuções conjuntivas, formadas pela partícula que precedida por advérbios, preposições ou particípios (antes que, desde que, dado que etc.). Vamos rever as aulas de gramática. As conjunções coordenativas dividem-se em cinco tipos: (1) aditivas, que expressam idéia de soma: “O trabalho gera riqueza e produz alegria.”; “Não hesitaremos nem desistiremos.” (2) adversativas, que relacionam elementos contrastantes: “Foi a Roma, mas não viu o papa.” (3) alternativas, que relacionam elementos excludentes: “Dinheiro demais ou é bênção ou maldição.”; “Quer queiras, quer não queiras, irás comigo.” (4) conclusivas, que exprimem idéia de conclusão: “Estudou bastante, logo deve ser aprovado.” (5) explicativas, que exprimem explicação, motivo: “Não vás, porque te arrependerás.”

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A Nomenclatura Gramatical Brasileira reconhece dez tipos de conjunção subordinativa: (1) integrantes, que encabeçam orações que servem de sujeito, objeto, complemento nominal, predicativo ou aposto a outra: “É necessário que acabemos logo.”; “Não sei se isto é válido.” (2) causais, que justificam o exposto na oração anterior: “Os preços caíram porque cresceram as importações.”; “Por que não vais a ele, se é tão amigo teu?” (3) concessivas, que indicam um fato contrário à ação principal, mas insuficiente para anulá-la: “Insistiu em sair, embora fosse tarde.” (4) condicionais (se, caso, contanto que etc.), que põem a oração subordinada em relação de condição, hipótese ou suposição para com a principal: “Caso viaje, não poderei estar contigo.” (5) conformativas, que exprimem a conformidade da oração subordinada com a principal: “Esses dados, conforme já anunciado, são falsos.” (6) finais, que iniciam orações indicativas da finalidade da principal: “Fale baixo, para que Marta não acorde.” (7) proporcionais, que introduzem orações nas quais menciona-se na subordinada um fato realizado ou a realizar-se simultaneamente com o da principal: “À medida que a cidade crescer, mais difícil será resolver seus problemas.” (8) temporais, que iniciam uma oração subordinada indicadora de circunstância de tempo: “Quando estiveres irado, conta até dez.”; “Mal chegou, foi começando a gritar.” (9) comparativas, que ligam à principal uma subordinada que encerra comparação: “Nada é mais caro que a ignorância.” (10) consecutivas, que iniciam uma oração na qual se indica conseqüência do que foi declarado na anterior: “Trabalhe sério, de modo que o respeitem.” Em síntese, veja quais são os principais conectivos conjuntivos: Uma preocupação de quem lê e escreve é verificar se os conectores estão empregados com precisão. A toda hora estamos fazendo uso deles. Por isso, damos a seguir uma lista sucinta desses conectivos e suas respectivas funções.

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1. Conjunções, locuções conjuntivas, preposições e locuções prepositivas: 1. adição – e, nem, também, não só... mas também. 2. alternância – ou... ou, quer... quer, seja... seja. 3. causa – porque, já que, visto que, graças a, em virtude de, por (+ infinitivo). 4. conclusão – logo, portanto, pois. 5. condição – se, caso, desde que, a não ser que, a menos que. 6. comparação – como, assim como. 7. conformidade – conforme, segundo. 8. conseqüência – tão... que, tanto... que, de modo que, de sorte que, de forma que, de maneira que. 9. explicação – pois, porque, porquanto. 10. finalidade – para que, a fim de que, para (+ infinitivo). 11. oposição – mas, porém, entretanto. 12. proporção – à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto menos. 13. tempo – quando, logo que, assim que, toda vez que, enquanto. 14. concessão – embora, ainda que, conquanto, mesmo que, apesar de (+ infinitivo). 2. Pronomes relativos: que – quem – cujo – onde Ao empregar um pronome relativo, devemos ter o seguinte cuidado: observar a palavra a que ele se refere para evitar erros de concordância verbal. Exemplos: a) Encontramos um bom número de pessoas que estavam reivindicando os mesmos direitos dos vinte funcionários vitoriosos. b) Os militares possuíam um foro particular que os livrava da submissão à Igreja. Ao empregar um pronome relativo, devemos ter o seguinte cuidado: > observar a palavra a que ele se refere para evitar erros de concordância verbal. Use a palavra “onde” somente se estiver fazendo referência a lugar. Exemplos: Errado: Tal fato aconteceu nos anos 80, onde a música era agente de transformação social. Correto: Tal fato aconteceu nos anos 80, quando a música era agente de transformação social. 3. Termos de transição (entre períodos e parágrafos) Quando redigir, lembre-se de utilizar os operadores de seqüenciação adequados. Não deixe que as idéias fiquem soltas, como se tivessem sido registradas mecanicamente. Use expressões do tipo: Sendo assim, além desses elementos, a par dessas dificuldades, nesse sentido, nesse contexto, outros indicadores, vale ressaltar ainda, de um lado, de outro lado, (...).

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Outros termos: 1. afetividade: felizmente, queira Deus, pudera, oxalá, ainda bem (que). 2. afirmação: com certeza, por certo, certamente, de fato. 3. conclusão: em suma, em síntese, em resumo. 4. conseqüência: assim, conseqüentemente, com efeito. 5. continuação: além de, ainda por cima, bem como, também. 6. dúvida: talvez, provavelmente, quiçá. 7. ênfase: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só. 8. exclusão: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão. 9. explicação: a saber, isto é, por exemplo. 10. inclusão: inclusive, também, mesmo, até. 11. oposição: pelo contrário, ao contrário de. 12. prioridade: em primeiro lugar, primeiramente, antes de tudo, acima de tudo, inicialmente. 13. restrição: apenas, só, somente, unicamente. 14. retificação: aliás, isto é, ou seja. 15. tempo: antes, depois, então, já, posteriormente. GABARITO: 1. a) C - b) C - c) E - d) C - e) E - f) C - g) C 2. a) E - b) E - c) C - d) E - e) E - f) E - g) E

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RESUMINDO I

DOMINANDO BASES CONCEITUAIS

TEXTO DE APOIO • Observe o plano de estruturação do seguinte texto: [Imagens do nosso planeta: na França, aconteceram eleições dentro de uma perfeita calma, com a pitada de surpresa necessária para despertar o interesse. No mesmo dia, em Ruanda (África Negra), 5 mil ou talvez 8 mil hutus foram assassinados por soldados tutsis, essa mesma Ruanda que no ano passado assistiu a um genocídio traduzido em meio milhão de cadáveres. Ainda no mesmo dia, mas dessa vez na Itália, aconteceram eleições regionais, enquanto nos Estados Unidos se descobria, com ânsia de vômito, que a carnificina de Oklahoma City foi obra de americanos de verdade, patriotas, totalmente brancos, que amam as árvores e os pássaros. Finalmente em Tóquio, o número dois da seita Aum, Shinri Kyo, suspeito de ter organizado o atentado com gás de combate ao metrô de Tóquio, foi apunhalado por um fanático de extrema direita. É difícil para um jornalista descobrir suas âncoras e suas observações entre tantas imagens incompatíveis, cujo espectro abrange desde a rotina eleitoral à mais pura erupção de loucura coletiva. Devemos confessar que às vezes temos certos escrúpulos de dedicar extensos comentários a acontecimentos tão clássicos, simplistas e ordenados quanto as eleições presidenciais, por exemplo, ao mesmo tempo em que a demência do planeta nos faz assistir, de Tóquio a Michigan e a Ruanda, ao início do apocalipse. Esses acontecimentos tão díspares merecem, no entanto, uma interrogação comum. A cerimônia eleitoral tão terna, tão pouco romântica, ocorrida no domingo não extrairia seu mérito precisamente do abominável espetáculo que nos foi oferecido pelo mundo (Japão, Ruanda), quando a democracia não esteve presente para erradicar os impulsos da morte e de assassinato que devastam os homens e as sociedades humanas? Sem dúvida, a democracia não tem nada de cômico. Falta-lhe talento. Ela não conseguiria competir com o genial diretor teatral, trágico e sádico, que joga centenas de milhares de crianças perdidas nas suaves colinas da África tropical, em Ruanda. É verdade: falta brilho à democracia. Ela é aborrecida, sem imaginação, repetitiva, medíocre. E no entanto... [No entanto, ela constitui a última proteção, tão frágil e poderosa ao mesmo tempo, que as sociedades podem opor ao desencadear de suas pulsões mais sombrias, mais diabólicas. Pulsões que vemos se desencadear assim que saltam os marcos da democracia.

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É o que ocorre em Ruanda, onde massacres se sucederam ao fracasso do pacto democrático. No Japão, o crime do metrô foi perpetrado por uma seita antidemocrática: militarizada, hierarquizada, fúnebre, secreta e mórbida. E se a matança de Oklahoma City foi cometida num país absolutamente democrático, os EUA, seus atores são homens que declararam guerra principalmente à democracia. Esses “bárbaros” brancos, que se autodenominam patriotas, querem voltar aos bons velhos tempos dos pioneiros, do desbravamento das fronteiras e em seu ódio irracional por Washington – quer dizer, pela lei democrática – matam centenas de cidadãos ao acaso.] Nesse sentido é que continua sendo, sem dúvida, legítimo escrever longos artigos sobre as eleições democráticas na França ou na Itália. Precisamente para tentar lutar contra essas outras notícias do dia que, de Ruanda a Michigan, só nos falam sobre o fascínio da morte. (Gilles Lapouge. O Estado de S. Paulo. 26/4/95, A8.) • Observe, agora, o plano de condensação: 1ª parte (dois primeiros parágrafos) : concomitância de acontecimentos contraditórios no mundo: rotina eleitoral versus massacres e chacinas; 2ª parte (terceiro parágrafo): escrúpulos do jornalista em tratar de acontecimentos não espetaculares, quando acontecimentos dramáticos ocorrem; 3ª parte (quarto parágrafo): o mérito da rotina eleitoral surge do contraste com os impulsos da morte; 4ª parte (quinto parágrafo): ausência de uma dimensão espetacular da democracia; 5ª parte (sexto e sétimo parágrafos): democracia – última proteção contra as pulsões mais sombrias da sociedade, como o comprovam todos os casos de massacres e chacinas; 6ª parte (oitavo parágrafo): validade de escrever artigos sobre eleições democráticas – luta contra as pulsões da morte. • Possível redação do resumo do texto: Acontecimentos contraditórios ocorrem todos dias no mundo: de um lado, eleições realizadas na mais absoluta ordem; de outro, massacres e atos terroristas. Um jornalista, diante desse quadro, sente escrúpulos em tratar de acontecimentos não dramáticos, como eleições. O mérito da rotina eleitoral, entretanto, surge do contraste com os acontecimentos que revelam os impulsos da morte. A democracia não tem uma dimensão espetacular. No entanto, é a última proteção contra as pulsões mais sombrias da sociedade, pois, como o comprovam recentes acontecimentos, massacres e atos de terror são devidos à falta de democracia ou ao ódio a ela. O que legitima, portanto, escrever artigos sobre eleições democráticas é que eles fazem parte da luta contra o desejo de matar. (Francisco Savioli e José Luiz Fiorin. Manual do candidato/Português. Brasília, Funag, 1995, p. 214.)

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Distorções conceituais sobre o resumo: a) Não é um plano, um esquema de notas dispostas em ordem e redigido telegraficamente, ou seja, a partir de palavras-chave. b) Não é uma colagem de fragmentos do texto original, um mosaico de frases ou expressões do autor, uma montagem de citações do texto a ser resumido, uma justaposição de trechos do original. Não reproduza frases inteiras ou segmentos de frases, ainda mais sem aspas. c) Não constitui uma redução mecânica do texto original. Não se deve construir um resumo com tantos parágrafos quantos forem os do texto original. Embora a ABNT recomende a redação do resumo em um só parágrafo, não existe tal obrigatoriedade. O plano de estruturação do texto original é que vai determinar o plano de condensação. d) Não é um comentário, nem um julgamento de valor. É imprescindível que haja submissão ao pensamento do autor, fidelidade ao sentido do texto original. Não se pode fazer objeções, nem críticas. Por isso, evite expressões do tipo: “No texto lido, o autor comenta...”. e) Não é uma análise, em que se explica o que o objetivo do autor, o modo de argumentação, a forma de divisão ou estruturação de idéias, etc. Concepções corretas acerca do resumo: a) É um texto redigido com períodos completos que sintetizam, numa determinada proporção, um texto mais longo, sem acrescentar-lhe nenhum dado pessoal, e cuja articulação corresponde à organização geral do texto original. Nos concursos, recomenda-se, em geral, que o tamanho do resumo corresponda a ¼ da extensão do texto a ser condensado. b) É uma condensação que evidencia o entendimento do texto e isso só se demonstra por meio de uma formulação pessoal. Apresentam-se, com suas próprias palavras, os pontos relevantes do texto. c) É uma redução do texto original, procurando captar suas idéias essenciais na progressão e no encadeamento que aparecem no texto. Por isso, para resumir é preciso estar atento a três aspectos do texto: suas partes, sua progressão, a conexão entre elas. d) É um texto com características do texto dissertativo. Isso significa que o resumo de uma narração não será redigido como uma pequena narração, mas como a explicitação do assunto nela tratado.

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Passos para a elaboração de um bom resumo: 1. Primeira leitura: ler o texto inteiro, unindo cuidadosamente os parágrafos afins (Rever o texto apresentado e a utilização dos colchetes). 2. Segunda leitura: agora com interrupções, definir o campo lexical e o significado de palavras desconhecidas. Dar atenção também às palavras coesivas, isto é, àquelas que estabelecem conexões ou retomam o que foi fito (por exemplo, assim, mas, por conseguinte, seu, isso, ele, aqui). Ao verificar as conexões entre as partes, percebe-se o movimento do texto, sua progressão, o encadeamento das idéias. 3. Segmentação: dividir o texto em unidades temáticas. Encontrar a divisão mais adequada do texto. 4. Redação: fazer a redação final com suas próprias palavras. Nela, apresentam-se os temas de cada parte, encadeados na progressão em que aparecem no texto, respeitando-se as relações estabelecidas entre eles no texto. Cuidado com os períodos longos demais. 5. Recomendação: quando condensar um texto longo (solicitação da maioria das bancas elaboradoras de concursos), estruturar o resumo em parágrafos – respeitando-se as orientações acima. Eles deixam entrever o plano da condensação realizada.

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RESUMINDO II

Seguindo as orientações e os passos apresentados neste capítulo, redija um bom resumo para o texto a seguir: Estamos à margem da lei? A descoberta de uma quadrilha de bandidos travestidos de fiscais na Administração Regional de Pinheiros, bairro da zona sudoeste de São Paulo, não deve ter surpreendido ninguém. Qualquer pessoa que tenha precisado podar uma árvore ameaçadora, retirar entulho, fazer uma pequena reforma ou algo do gênero nessa região já terá experimentado o peso da burocracia organizada para criar dificuldades com o objetivo de vender facilidades. Era corrente a idéia de que não adiantava reclamar de bares ruidosos, restaurantes funcionando em locais impróprios ou construções irregulares. O alerta dos cidadãos só ajudava os fiscais a localizar novas fontes de renda para si mesmos. E o interesse da cidade? Ora, o interesse da cidade... Não espanta a existência da quadrilha, mas a tranqüilidade com que funcionava, com o beneplácito do Executivo e do Legislativo, o apoio de maus cidadãos (sim, pois não há corruptos sem corruptores) e a conivência da população, que via a região se deteriorando e achava que as coisas eram “assim mesmo”. Os fatos são graves, muito graves mesmo. A ocupação indiscriminada do solo e a sua impermeabilização, com vistas apenas a interesses comerciais imediatos, implicam a destruição da já rara área verde que a região possui, com graves conseqüências sobre a vida urbana, como o transbordamento dos córregos (já que a água não tem como se infiltrar no solo) e a piora do trânsito e de nossa já não tão excepcional qualidade de vida. A abertura de barzinhos em locais proibidos prejudica o sono e a segurança da vizinhança, levando para áreas residenciais boêmios e arruaceiros, além de ocupar calçadas e até partes da rua com cones, filas duplas e tudo o mais. Ingênuos os que achavam que a prefeitura, por ter poucos fiscais, não tinha como atacar o problema. Ele era atacado, mas em proveito de gangues organizadas exatamente por quem deveria lutar contra irregularidades. Mas há um aspecto que talvez seja o mais grave: o fracasso do Estado exatamente numa das áreas em que sua atuação é insubstituível. Na verdade, a corrupção faz com que os agentes do governo (no caso, os fiscais), que deveriam ter por função apenas executar as leis (supostamente inspiradas pelo povo e criadas pelo Legislativo), tomem a si o direito de criar seus próprios regulamentos, aplicá-los e tirar proveito pessoal dessa aplicação. É como se houvesse uma lei “para inglês ver” e outra para valer. É só perguntar às centenas de comerciantes que pagavam propina qual poder eles respeitavam.

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Infelizmente, o caso dos fiscais não é isolado. Arrancar recibo de certos dentistas e médicos é quase tão difícil quanto receber uma nota fiscal de muitas lojas. Máquinas registradoras que não emitem cupons fiscais, só boletos de “controle interno”, são comuns, e é freqüente o pedido de uma nota fiscal ser recebido com expressão de ódio mortal por parte do comerciante. Esse sentimento de impunidade só pode se escudar numa (digamos assim) colaboração estreita com aqueles que teriam por função fazer cumprir a lei. Isso vale, é claro, para “colaborações” em esferas mais elevadas. Não consigo achar que seja menos do que um escândalo a apropriação indébita do INSS do empregado, descontado da folha de pagamento e não recolhido pelo empregador. Vez por outra saem listas dos maiores devedores, muitos dos quais empresas da área de comunicação, e não posso deixar de imaginar qual seria a contrapartida exigida pelos “bondosos” governantes pelo perdão informal das dívidas. É, mais uma vez, o funcionário de governo extrapolando suas funções, corporificando todos os poderes, arrogando-se poderes imperiais, como se a Revolução Francesa não tivesse existido para nada. De resto, ainda somos um país que tem leis escritas que “não pegam” e leis não-escritas que já pegaram. Legislar para o nada é inócuo, na melhor das hipóteses. E, na prática, sempre há algum agente fazendo algum tipo de lei funcionar. Bom exemplo é o de estupradores (ou supostos estupradores) encarcerados. Por mais desprezo que se possa sentir por eles, não é aceitável que sejam postos numa cela com a recomendação dos carcereiros para que sejam sodomizados pelos companheiros, como punição pelo seu ato. Aqui, temos carcereiros julgando e condenados executando a lei. Ora, sejamos sérios. Ou os legisladores assumem que somos trogloditas e colocam a sodomização como pena para o estupro ou façamos cumprir a lei. Para todos. (Jaime Pinsky, 59, historiador e editor, doutor e livre-docente pela Universidade de São Paulo, é professor titular do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor de “Cidadania e Educação”, entre outros livros. E-mail: [email protected])

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PARAFRASEANDO I

Lendo e entendendo o texto

MÚSICA-TEXTO DE APOIO

PRA NÃO DIZER QUE

NÃO FALEI DAS FLORES

Geraldo Vandré

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais, braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção. 5 Vem, vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Vem, vamos embora que esperar não é saber Quem sabe faz a hora não espera acontecer. Pelos campos há fome em grandes plantações

10 Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo o canhão. Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos de armas na mão

15 Nos quartéis lhes ensinam antigas lições

De morrer pela pátria e viver sem razão. Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Somos todos soldados, armados ou não

Caminhando e cantando e seguindo a canção

20 Somos todos iguais, braços dados ou não. Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Aprendendo e ensinando uma nova lição.

(Vandré – Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, músico brasileiro. Compositor de músicas ditas de protesto, muito popular na época dos festivais da canção, na década de 1960. Porta-estandarte (1965), Disparada (1966), Pra não dizer que não falei de flores (1968) constituem alguns dos seus maiores sucessos.)

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Questão Proposta 1. Julgue os itens a seguir. a) “Caminhando” constitui uma canção brasileira de protesto. b) Pela sua estrutura formal, “Caminhando” constitui um soneto. c) Considerando a metrificação e a cadeia sonora do texto, é possível dizer que este lembra uma marcha entoando em ritmo lento os versos com acento contínuo na terceira sílaba: “caminhando e cantando e seguindo a canção.” d) O propósito de Geraldo Vandré era fazer um canto pessoal, inexistindo, portanto, marcas do coletivo no discurso. e) Com os versos “esperar não é saber / não espera acontecer”, deve-se observar que a canção presentifica o tempo. f) A última estrofe deixa transparecer sentimentos de amor, revolta, ousadia e arrefecimento de ânimos. g) Reescrevendo o verso 9, sem alterar-lhe o sentido primeiro, obtém-se: “Pelos campos existe fome em grandes plantações.” h) O verso 15 pode ser reescrito da seguinte maneira: “Nos quartéis nos ensinam ultrapassadas lições”, sem alteração do sentido original. i) Uma outra possibilidade de reescritura do verso 15, sem alterar-lhe o sentido primitivo, é: “Antigas lições são ensinadas a eles nos quartéis.” Dominando bases conceituais Você notou, com base na resolução dos últimos itens da questão proposta, que a língua possui uma série de recursos lingüísticos que permitem dizer a mesma mensagem com estruturas diferentes. O ponto de partida é sempre o texto-fonte. Esses recursos constituem uma forma de intertextualidade que denominamos PARÁFRASE. A paráfrase contribui para o aprimoramento do vocabulário e proporciona inúmeras oportunidades de reestruturação de frases, considerando as múltiplas possibilidades combinatórias da nossa língua. Dessa forma, a paráfrase corresponde a uma espécie de tradução dentro da própria língua, em que se diz, de maneira mais clara, num texto B o que contém um texto A, sem comentários marginais, sem nada acrescentar e sem nada omitir do que seja essencial, tudo feito com outros torneios de frase e, tanto quanto possível, com outras palavras, e de tal forma que a nova versão – o que pode ser sucinta sem deixar de ser fiel – evidencie o pleno entendimento do texto original. Em síntese, PARÁFRASE é a reescritura do texto, mantendo-se o sentido original, primeiro.

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Vejamos, portanto, algumas dessas possibilidades combinatórias da nossa língua: 1) Substituição lexical (relações de sinonímia): A. Embora falasse a verdade, ninguém acreditou em seu discurso. B. Conquanto falasse a verdade, ninguém acreditou em seu discurso. 2) Inversão dos termos da oração ou das orações do período: I - A. Grande parte de nossas vidas transcorre em locais de trabalho. B. Em locais de trabalho, grande parte de nossas vidas transcorre. II - A. Irei ao Japão quando me formar. B. Quando me formar, irei ao Japão. 3) Transposição da voz ativa para a voz passiva e vice-versa: A. Ele elogiou a obra literária. B. A obra literária foi elogiada por ele. 4) Transposição do discurso direto para o discurso indireto e vice-versa: A. O padre confessou: – Estou muito doente. B. O padre confessou que estava muito doente. Na passagem do discurso direto para o indireto ou vice-versa, observe as seguintes transformações: a) discurso direto: primeira pessoa Eles indagaram: – O que devemos resgatar? Discurso indireto: terceira pessoa Eles indagaram o que deviam resgatar. b) discurso direto: imperativo O chefe ordenou: – Redijam o relatório. Discurso indireto: pretérito imperfeito do subjuntivo O chefe ordenou que redigíssemos o exercício. c) discurso direto: futuro do presente O médico explicou: – Com o exame, a criança ficará curada. Discurso indireto: futuro do pretérito O médico explicou que, com o medicamento, a criança ficaria curada. d) discurso direto: presente do indicativo Gudestéia me perguntou: – A quem devo informar o problema? Discurso indireto: pretérito imperfeito do indicativo Gudestéia me perguntou a quem devia informar o problema. e) discurso direto: pretérito perfeito Abigail disse: – Estive no STF e falei com o presidente. Discurso indireto: pretérito mais-que-perfeito Abigail disse que estivera no STF e falara com o presidente.

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5) Substituição da oração adverbial, substantiva ou adjetiva pelas classes gramaticais correspondentes ou vice-versa: I - A. A moça escorregou porque ventava. (oração adverbial causal) B. A moça escorregou por causa do vento. (locução adverbial causal) II - A. Desejo que você silencie. (oração substantiva) B. Desejo o seu silêncio. (substantivo) III - A. Ela é uma pessoa que tem convicções. (oração adjetiva) B. Ela é uma pessoa convicta. (adjetivo) 6) Substituição de orações desenvolvidas por reduzidas ou vice-versa: A. É importante que o trabalho seja prosseguido. (oração desenvolvida) B. É importante prosseguir o trabalho. (oração reduzida) GABARITO: a) C - b) E - c) C - d) E - e) C - f) E - g) C - h) E - i) C

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SIGNIFICADO

CONTEXTUALIZANDO A PALAVRA: DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO

MÚSICA-TEXTO DE APOIO

METÁFORA

GILBERTO GIL

Uma lata existe para conter algo, Mas quando o poeta diz lata Pode estar querendo dizer o incontível Uma meta existe para ser um alvo, 5 Mas quando o poeta diz meta Pode estar querendo dizer o inatingível Por isso não se meta a exigir do poeta Que determine o conteúdo em sua lata Na lata do poeta tudo-nada cabe, 10 Pois ao poeta cabe fazer Com que na Lata venha caber O incabível Deixe a meta do poeta, não discuta, Deixe a sua meta fora da disputa 15 Meta dentro e fora, lata absoluta Deixe-a simplesmente metáfora

(Gilberto Gil, cantor e compositor baiano. Em 1967, com as músicas Domingo no parque – de sua autoria – e Alegria, alegria – de Caetano Veloso – inaugurou o tropicalismo na música popular brasileira. Em 1968, Gil e Caetano gravaram o famoso disco Tropicália. Perseguido pela ditadura militar, Gilberto Gil mudou-se para Londres em 1969 e, como despedida, compôs Aquele abraço. De volta ao país em fevereiro de 1972, lançou o disco Expresso 2222. Quatro anos depois, gravou Doces bárbaros com Caetano Veloso, Maria Betânia e Gal Costa.)

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1. Com base na música-texto. a) O que caracteriza o texto de Gilberto Gil, enquanto poético, é o fato de, ao mesmo tempo que se refere à ambigüidade das palavras, cria essa ambigüidade no seu interior. b) Predomina, no texto, a linguagem com valor conotativo, ou seja, figurado. c) Nos versos 9 e 15, a ambigüidade está ausente. d) O verso 14 evidencia um jogo de palavras que recupera o título do poema. e) Os versos de 10 a 12 revelam que o poeta, ao jogar com a linguagem, leva o leitor a uma desautomatização. f) No verso 11, a palavra “Lata” foi grafada com maiúscula porque está presente no penúltimo verso da maior estrofe do poema. g) No verso 4, a palavra meta significa objetivo. h) No verso 7, a palavra meta significa almejar. i) No verso 15, a palavra meta significa colocar. DOMINANDO BASES CONCEITUAIS a) Forma e Significado Há muitos candidatos que, ainda, entendem o estudo da língua como conjunto de instruções programadas no cérebro. Sabemos, porém, que precisamos transcender tal realidade. Todos os componentes fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos devem ser explicitados, articulados, contextualizados. Dessa maneira, é importante saber que as unidades lingüísticas apresentam dois aspectos fundamentais: a FORMA (ou “significante”) e o SIGNIFICADO. Portanto, uma unidade como a palavra LATA pode ser estudada do ponto de vista formal: sua pronúncia, sua composição e classificação morfológica e seu comportamento sintático. Por outro lado, a mesma palavra LATA pode ser estudada do ponto de vista semântico, isto é, do significado. Vale ressaltar que os dois aspectos, o formal e o semântico, estão presentes na palavra LATA, mas precisam ser separados na descrição, pois a relação que existe entre as formas gramaticais e os significados que elas veiculam é extremamente complexa. Tudo depende do CONTEXTO. Por isso, hoje as provas de concursos públicos e exames vestibulares priorizam o TEXTO, visando a perceber a capacidade de raciocínio lógico do candidato.

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A descrição de uma língua deve ser entendida como composta essencialmente de três componentes: 1. descrição formal (fonologia, morfologia, sintaxe); 2. descrição semântica (relação de sentido); 3. interpretação semântica (articulação dos dois primeiros componentes). Observe os exemplos: A. Meu filho detesta berinjela. B. Meu filho não gosta de berinjela. (Propriedades formais diferentes / aproximação semântica). C. Esta é a mulher mais bonita de Campo Grande. D. Esta é a poesia mais bonita de Cecília Meireles. (Propriedades formais iguais / evidentes diferenças semânticas) Os exemplos mais complexos – e que surpreendem os candidatos desavisados – são aqueles em que uma diferença formal corresponde a uma diferença semântica. b) Denotação e Conotação Observe, agora, como Carlos Drummond articula forma e significado.

Carlos Drummond

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra.

A partir da leitura do texto acima, surgem alguns questionamentos: qual o real significado dessa “pedra” e desse “caminho”? Centenas de interpretações já foram construídas na tentativa de desvendar o poema. Serão obstáculos à ação do homem? Será o enigma da existência? Ou o poema registra apenas signos reais? O caminho seria simplesmente um caminho, por onde ia o poeta quando deparou com aquela pedra obstruindo-lhe a passagem? Diante da reflexão existencial que caracteriza a poesia drummondiana é, no entanto, difícil não sentirmos naquele “caminho” e naquela “pedra” densos signos metafóricos carregados de significações ocultas. O que importa, afinal, é que o poema continua vivendo, entregue a cada um de nós, oferecendo a cada um o que quisermos encontrar nele.

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Entre a “pedra” e os possíveis “obstáculos da vida” sente-se a implacável resistência contra a qual todos os esforços são inúteis. A linguagem conotativa configura-se a partir de uma associação de caráter semântico, isto é, o termo real é expresso por um termo ideal a ele relacionado por determinada significação. É o que acontece com o poema de Drummond, em que a “pedra” – pela sua dureza, irredutibilidade e situação de “obstáculo” ao caminhar livre (denotação) – é logo associada à significação de uma vida frustradora, dura e cheia de poréns à livre realização do homem (conotação). Vamos entender bem esses dois conceitos. A conotação é conhecida como linguagem figurada, plurívoca, translata, aquela que faz uso de todo o arsenal retórico de que a língua dispõe como forma de expressão. Há nuvens negras na economia brasileira. Houve, aqui, a associação por similaridade: nuvens negras/tempestade/ situação ruim. Dessa forma, um signo “emprestou” sua significação a outro. O outro nível de linguagem é a denotação. Esta tenta uma aproximação mais direta entre o termo e o objeto. Há nuvens negras na atmosfera. Nesta frase, percebemos que a expressão nuvens negras está sendo usado no seu sentido próprio, real, unívoco.

O SIGNIFICADO

Denotação e Conotação Polissemia e Monossemia

1. Denotação e Conotação Atenção outra vez para o significado, que no Capítulo II já vimos ser uma imagem mental ou conceito. Se perguntarmos a alguém que fale a nossa língua, qual o significado de “chave”, o primeiro pensamento que lhe ocorra talvez seja “uma peça de metal que abre fechadura”, pois esse é o significado mais usual, é o primeiro significado, é o significado denotativo. É o significado ligado principalmente a experiências coletivas. Contudo, o emissor, ao elaborar sua mensagem, ao realizar seu ato de fala, freqüentemente dá asas à criatividade e, inserindo o signo em determinado contexto, modifica, amplia ou reduz seu significado, o que equivale a dizer que o emissor deixa de lado o significado denotativo, passando a usar a conotação ou significado secundário, periférico. • contexto 1: Perdi a chave da minha mala. • contexto 2: Esta é a chave do sucesso. • contexto 3: Ele encerrou o poema com chave de ouro.

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Observe que dentre os três contextos acima, em apenas um (o primeiro) a palavra destacada está usada com sentido denotativo, ao passo que nos contextos dois e três são ressaltados os sentidos conotativos. Veja: Com base em tais dados, conclui-se que denotação é o significado mais objetivo, é o significado de primeira linha, o dicionarizado, enquanto a conotação é o significado subjetivo, secundário, periférico, bastante ligado às experiências pessoais. Conotação, em outras palavras, é produto da linguagem figurada. 2. Polissemia e Monossemia Sema é uma unidade de significado. Poli significa muito, vários. Polissemia significa vários significados. Diz-se que uma palavra é polissêmica quando é capaz de despertar mais de um significado denotativo, indiferentemente às conotações. No Novo Dicionário Aurélio, a palavra “manga” está assim registrada: · “Manga (1). (Do lat. manica ‘manga de túnica’) S.f. 1.Parte do vestuário onde se enfia o braço. 2. Filtro afunilado para líquidos. · Manga (2). (Do lat. manica < manus, ‘exército, hoste’) S.f. 1. Hoste de tropas. 2. Grupo, ajuntamento, bando, turma. · Manga (3). (Do mal. manga) S.f. 1. fruto da mangueira. 2. mangueira. · Manga (4). (Do esp. plat. manga) S.f. 1. Bras. AM. - Parede de cerca que vai da beira até as asas dos currais-de-peixe, perpendicularmente ao rio. · 2.Bras.MA - Espécie de corredor com paredes de varas, que conduz a um rio ou um igarapé e serve para guiar os bois que vão ser embarcados. · 3. Bras.CE a BA e MG a GO - Pastagem cercada onde se guarda o gado, 4...” Podem-se criar várias frases em que a palavra “manga” assume vários significados denotativos. a) A manga do seu vestido está rasgada .(denotação) b) Esta mangueira dá excelentes mangas. (denotação) c) Preparemo-nos para atacar pelos flancos a manga inimiga. (denotação) Em cada um dos três exemplos citados, a palavra manga é monossêmica. No dicionário, são quatro palavras manga diferentes que, por acaso, se escrevem da mesma forma. Trata-se de homônimos perfeitos. Porém, se em um enunciado como “vivi porque me senti atraído pela manga” ligado a determinada situação ou contexto, permitir ao ouvinte entender a palavra com mais de um significado denotativo, (manga,1,2...), aí acontecerá o fenômeno da polissemia. Por tudo que já se viu, infere-se que a significação de uma palavra ou de um signo só se define em relação ao contexto em que se encontra, e que a polissemia sempre é ditada pela situação ou contexto, tanto quanto a monossemia.

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NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO E DISSERTAÇÃO I

Texto Em um cinema, um fugitivo corre desabaladamente por uma floresta fechada, fazendo ziguezagues. Aqui tropeça em uma raiz e cai, ali se desvia de um espinheiro, lá transpõe um paredão de pedras ciclópicas, em seguida atravessa uma correnteza a fortes braçadas, mais adiante pula um regato e agora passa, em carreira vertiginosa, por pequena aldeia, onde pessoas se encontram em atividades rotineiras. Neste momento, o operador pára as máquinas e tem-se na tela o seguinte quadro: um homem (o fugitivo), com ambos os pés no ar, as pernas abertas em larguíssima passada como quem corre, um menino com um cachorro nos braços estendidos, o rosto contorcido pelo pranto, como quem oferece o animalzinho a uma senhora de olhar severo que aponta uma flecha para algum ponto fora do enquadramento da tela; um rapaz troncudo puxa, por uma corda, uma égua que se faz acompanhar de um potrinho tão inseguro quanto desajeitado; um pajé velho, acocorado perto de uma choça, tira baforadas de um longo e primitivo cachimbo; uma velha gorda e suja dorme em uma já bastante desfiada rede de embira fina, pendurada entre uma árvore seca, de galhos grossos e retorcidos e uma cabana recém-construída, limpa, alta, de palhas de buriti muito bem amarradas... Antes de exercitar com o texto, pense no seguinte: Narrar é contar uma história. A Narração é uma seqüência de ações que se desenrolam na linha do tempo, umas após outras. Toda ação pressupõe a existência de um personagem ou actante que a pratica em determinado momento e em determinado lugar, por isso temos quatro dos seis componentes fundamentais de que um emissor ou narrador se serve para criar um ato narrativo: personagem, ação, espaço e tempo em desenvolvimento. Os outros dois componentes da narrativa são: narrador e enredo ou trama. Descrever é pintar um quadro, retratar um objeto, um personagem, um ambiente. O ato descritivo difere do narrativo, fundamentalmente, por não se preocupar com a seqüência das ações, com a sucessão dos momentos, com o desenrolar do tempo. A descrição encara um ou vários objetos, um ou vários personagens, uma ou várias ações, em um determinado momento, em um mesmo instante e em uma mesma fração da linha cronológica. É a foto de um instante. • A descrição estática não envolve ação. Exemplos: “Uma velha gorda e suja”. “Árvore seca de galhos grossos e retorcidos”.

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• A descrição dinâmica apresenta um conjunto de ações concomitantes, isto é, um conjunto de ações que acontecem todas ao mesmo tempo, como em uma fotografia. No texto, a partir do momento em que o operador pára as máquinas projetoras, todas as ações que se vêem na tela estão ocorrendo simultaneamente, ou seja, estão compondo uma descrição dinâmica. Descrição porque todas as ações acontecem ao mesmo tempo, dinâmica porque inclui ações. DISSERTAR Dissertar diz respeito ao desenvolvimento de idéias, de juízos, de pensamentos. Exemplos:

“As circunstâncias externas determinam rigidamente a natureza dos seres vivos, inclusive o homem...”

“Nem a vontade, nem a razão podem agir independentemente de seu condicionamento passado.”

Nesses exemplos, tomados do historiador norte-americano Carlton Hayes, nota-se bem que o emissor não está tentando fazer um retrato (descrição); também não procura contar uma história (narração); sua preocupação se firma em desenvolver um raciocínio, elaborar um pensamento, dissertar. Quase sempre os textos quer literários, quer científicos, não se limitam a ser puramente descritivos, narrativos ou dissertativos. Normalmente um texto é um complexo, uma composição, uma redação, onde se misturam aspectos descritivos com momentos narrativos e dissertativos e, para classificá-lo como narração, descrição ou dissertação, procure observar qual o componente predominante.

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NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO E DISSERTAÇÃO II a) Prosa e Verso Antes de apresentar as modalidades textuais, façamos a distinção entre verso e prosa. Está plenamente demonstrado que o verso é mais antigo do que a prosa, a qual não deve confundir-se, como freqüentemente se faz, com a linguagem falada. Esta, por sua finalidade e características, difere muito tanto da linguagem literária da poesia como da prosa. A oposição entre prosa e verso parte do fato de que a prosa se concentra no conteúdo e, portanto, busca basicamente a clareza expositiva, enquanto na poesia a forma predomina sobre o conteúdo, e seu principal objetivo é a busca da beleza para a produção de prazer estético. A prosa preocupa-se, antes de tudo, com a idéia, embora não com sua reflexão. Sua essência é a análise, ou seja, a decomposição da idéia em todos os seus elementos. Em conseqüência, a linguagem da prosa procura ser lógica, coerente, e distinguir o que se sabe do que se imagina. A poesia, ao contrário, atua por meio de sínteses intuitivas e pretende comover o leitor ou ouvinte. Outro princípio de diferenciação observa-se na utilização dos adjetivos. Na poesia são freqüentíssimos os adjetivos “não pertinentes” — como na expressão “palácios cariados” (João Cabral de Melo Neto), ou que em seu significado não qualifiquem os substantivos — como em “dúbios caminhantes” e “linhos matinais” (Cesário Verde) —, que a prosa, em geral, rejeita. Também serve de exemplo o uso da coordenação, que na poesia pode ser aparentemente inconseqüente, como nos versos de Drummond: “Pensando com unha, plasma, / fúria, gilete, desânimo.” A inconseqüência não só se dá na coordenação, mas, em geral, na própria sucessão das idéias. Na prosa, ao contrário, espera-se que cada idéia apresentada se articule com as necessidades do discurso. b) Narração – Descrição – Dissertação Todas as formas de expressão escrita podem ser classificadas em formas literárias — como as descrições e narrações, e nelas o poema, a fábula, o apólogo, o conto e o romance, entre outros — e não-literárias, como as dissertações e redações técnicas. Descrição. Descrever é representar um objeto (cena, animal, pessoa, lugar, coisa etc.) por meio de palavras. Para ser eficaz, a apresentação das características do objeto descrito deve explorar os cinco sentidos humanos — visão, audição, tato, olfato e paladar —, já que é por intermédio deles que o ser humano toma contato com o ambiente.

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A descrição resulta, portanto, da capacidade que o indivíduo tem de perceber o mundo que o cerca. Quanto maior for sua sensibilidade, mais rica será a descrição. Por meio da percepção sensorial, o autor registra suas impressões sobre os objetos, quanto ao aroma, cor, sabor, textura ou sonoridade, e as transmite para o leitor. Narração. O relato de um fato, real ou imaginário, é denominado narração. Pode seguir o tempo cronológico, de acordo com a ordem de sucessão dos acontecimentos, ou o tempo psicológico, em que se privilegiam alguns eventos para atrair a atenção do leitor. A escolha do narrador, ou ponto de vista, pode ticipou do acontecimento de forma secundária ou ainda um espectador onisciente, que supostamente esteve presente em todos os lugares, conhece todos os personagens, suas idéias e sentimentos. A apresentação dos personagens pode ser feita pelo narrador, quando é chamada de direta, ou pelas próprias ações e comportamentos deste, quando é dita indireta. As falas também podem ser apresentadas de três formas:

discurso direto, em que o narrador transcreve de forma exata a fala do personagem;

discurso indireto, no qual o narrador conta o que o personagem disse, lançando

mão dos verbos chamados dicendi ou de elocução, que indicam quem está com a palavra, como por exemplo “disse”, “perguntou”, “afirmou”; e

discurso indireto livre, em que se misturam os dois tipos anteriores.

O conjunto dos acontecimentos em que os personagens se envolvem chama-se enredo. Pode ser linear, segundo a sucessão cronológica dos fatos, ou não-linear, quando há cortes na seqüência dos acontecimentos. É comumente dividido em exposição, complicação, clímax e desfecho. Quanto ao foco narrativo, ou seja, a posição escolhida pelo narrador para desencadear os fatos, podemos caracterizar três tipos básicos de narrador: 1. Narrador-personagem: 1ª pessoa/ O narrador participa dos fatos explicitados. Exemplo: Eu e meu avô conversávamos sobre o passado. Fiquei a pensar sobre a rápida passagem do tempo. 2. Narrador-observador: 3ª pessoa/ O narrador apenas observa os fatos explicitados. Exemplo: Margarida e Olímpico estavam sentados em um tronco. Conversavam sobre a possibilidade de casarem-se.

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3. Narrador-onisciente: 3ª pessoa/ Sabe tudo: além de observar os fatos explicitados, conhece intrinsecamente as personagens. Exemplo: Regina Célia despediu-se de Gomes. Naquele momento, ela precisou de muita força para suportar a ânsia que lhe invadia o peito. O gênero narrativo envolve: Dissertação. A exposição de idéias a respeito de um tema, com base em raciocínios e argumentações, é chamada dissertação. Nela, o objetivo do autor é discutir um tema e defender sua posição (postura ideológica) a respeito dele. Por essa razão, a coerência entre as idéias e a clareza na forma de expressão são elementos fundamentais. A organização lógica da dissertação determina sua divisão em introdução, parte em que se apresenta o tema a ser discutido; desenvolvimento, em que se expõem os argumentos e idéias sobre o assunto, fundamentando-se com fatos, exemplos, testemunhos e provas o que se quer demonstrar; e conclusão, na qual se faz o desfecho da redação, com a finalidade de reforçar a idéia inicial. Texto jornalístico e publicitário. O texto jornalístico apresenta a peculiaridade de poder transitar por todos os tipos de linguagem, da mais formal, empregada, por exemplo, nos periódicos especializados sobre ciência e política, até aquela extremamente coloquial, utilizada em publicações voltadas para o público juvenil. Apesar dessa aparente liberdade de estilo, o redator deve obedecer ao propósito específico da publicação para a qual escreve e seguir regras que costumam ser bastante rígidas e definidas, tanto quanto à extensão do texto como em relação à escolha do assunto, ao tratamento que lhe é dado e ao vocabulário empregado. Redação técnica. Há diversos tipos de redação não-literária, como os textos de manuais, relatórios administrativos, de experiências, artigos científicos, teses, monografias, cartas comerciais e muitos outros exemplos de redação técnica e científica. Embora se deva reger pelos mesmos princípios de objetividade, coerência e clareza que pautam qualquer outro tipo de composição, a redação técnica apresenta estrutura e estilo próprios, com forte predominância da linguagem denotativa. Essa distinção é basicamente produzida pelo objetivo que a redação técnica persegue: o de esclarecer e não o de impressionar. c) Aprofundando os Tipos de Discurso c.1 Discurso direto Características: a) Fala fiel dos interlocutores ou das personagens. b) Freqüentemente, um verbo dicendi (falar, dizer, responder, afirmar, indagar, perguntar, etc.). c) Na ausência do verbo dicendi, um sinal de pontuação: dois pontos, travessão, aspas ou mudança de linha.

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Exemplo: Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou que terminasse a última copla. — Isaura!... disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora. — Ah! é a senhora?! — respondeu Isaura voltando-se sobressaltada. — Não sabia que estava aí me escutando. (Bernardo Guimarães. A Escrava Isaura) c.2 Discurso indireto Características: a) Fala não-visível das personagens, mas explicitada pelo narrador (numa oração subordinada substantiva). b) Verbo dicendi. c) Freqüentemente, terceira pessoa na oração subordinada substantiva. Exemplo: Ao som de sua voz, ela despertou amedrontada mas logo sorriu e toda a sala pareceu sorrir com ela. Pôs-se de pé, as mãos ajeitando os trapos que vestia, humilde e clara como um pouco de luar. Nacib então disse que ela poderia dormir, que não precisava se preocupar. (Jorge Amado. Gabriela) c.3 Discurso indireto livre ou semi-indireto Características: a) Falta do verbo dicendi, dois pontos, travessão ou aspas. b) Fala não-visível das personagens, cuja voz parece confundir-se com a do narrador. c) Períodos livres (sem elo subordinativo). Exemplo: Fabiano escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia. (Graciliano Ramos. Vidas Secas)

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TIPOS DE NARRADOR I

O narrador, a voz que conta a história, pode apresentar-se em três posições diferentes com relação aos acontecimentos que esteja narrando. Exemplo 1: Na avenida, Gabriela passou por mim e fez questão de demonstrar entusiasmo, pelo tom com que me cumprimentou. O narrador se coloca dentro da história, é um dos personagens, porque usa a primeira pessoa “mim”, “me”. Qualquer referência à primeira pessoa (eu, nós, meu, nosso...) mostra ao leitor que o narrador está dentro da história, que é uma das personagens (principal ou secundária). Chama-se narrador-personagem, narrador-participante, ponto de vista interno ou narrador subjetivo. Na simbologia matemática usa-se a fórmula: narrador = personagem.

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TIPOS DE NARRADOR II

O narrador, a voz que conta a história, pode apresentar-se em três posições diferentes com relação aos acontecimentos que esteja narrando. Exemplo 2: Gabriela atravessava a rua pensando em encontrar-se com Joaquim. Neste exemplo,o narrador coloca-se fora da história, ele não é uma das personagens, mas tem a capacidade de enxergar o que passa dentro da personagem, no seu espaço interno, íntimo, psicológico ou sentimental... É chamado de narrador onisciente (que sabe tudo) na simbologia matemática usa-se a fórmula:Narrador>personagem.

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TIPOS DE NARRADOR III

O narrador, a voz que conta a história, pode apresentar-se em três posições diferentes com relação aos acontecimentos que esteja narrando. Exemplo3: Gabriela atravessava a rua e parecia preocupada com alguma coisa. Talvez estivesse pensando em procurar Joaquim. Neste terceiro exemplo,o narrador também se coloca fora da história, também não é uma das personagens,mas é diferente do que escreveu o exemplo 2. Aqui, o narrador não sabe o que acontece no mundo interno da personagem, o que se deduz do fato de ter dito“parecia preocupada” e “talvez estivesse pensando”. Trata-se do narrador observador. Na simbologia matemática, usa-se a fórmula:narrador<personagem. Observação importante para classificar tipo de narrador 1.Ler todo o texto ; 2.Se em algum momento o narrador se coloca dentro da história, usando alguma primeira pessoa, está definido: trata-se de narrador-personagem; 3.Se em nenhum momento aparece índice de 1ª pessoa,o narrador já é externo à história. Resta saber se é onisciente ou observador. 4.Se em alguma passagem, o narrador mostra o íntimo da personagem, vê por dentro do seu estado de espírito, então, já se trata de narrador-onisciente. 5.Só se classifica o narrador como observador, se em nenhum momento ele for capaz de descrever o íntimo da personagem. Algumas vezes o narrador-observador pode mostrar-nos o íntimo da personagem, mas por características externas. Por exemplo, ao ler: “Erasmo, trêmulo, cabisbaixo, voz apagada, gaguejante, roía as unhas no canto da sala...” percebe-se que o narrador está vendo por fora do pensamento da personagem, está descrevendo atitudes externas, por isso mesmo caracteriza-se como observador, embora suas observações nos levem a deduzir o estado interno da personagem.

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TIPOLOGIA TEXTUAL

Estrutura Textual Dissertativa Primeiro detalhe: não dê título ao seu texto, a não ser que o comando explicitado na prova solicite. Comece, na linha 1 da folha para o texto definitivo, o seu parágrafo de introdução. Agora, portanto, vamos entender os três aspectos importantes que compõem a estrutura clássica do texto dissertativo. Introdução adequada ao tema/posicionamento Apresenta a idéia que vai ser discutida, a tese a ser defendida. Cabe à introdução situar o leitor a respeito da postura ideológica de quem o redige acerca de determinado assunto. Lembre-se: ela deve conter a tese e as generalidades que serão aprofundadas ao longo do desenvolvimento do texto. Nada impede que você utilize ganchos, artifícios de redação que, embora não sejam propriamente argumentativos, ilustram a tese e prendem a atenção do leitor: um fato da atualidade, uma alusão histórica, uma citação, uma frase de impacto, um dado estatístico, uma pergunta. O importante é que a sua introdução seja completa e esteja em consonância com os critérios de paragrafação. Cuidado: não misture idéias. Nesse sentido, surgem alguns tipos de introdução:

Introdução-roteiro (plano de desenvolvimento): refere-se ao tema a ser discutido (tese) e à forma como o texto será organizado;

Introdução-tese (direta): menciona-se o que se pretende provar;

Introdução com exemplo: colocam-se exemplos de como a situação exposta

ocorre;

Introdução-interrogação: apresenta questões que serão respondidas ao longo do texto.

Ao selecionar o tipo de introdução que irá redigir, esteja seguro da organização de suas idéias. Para efeito de concursos públicos ou vestibulares, sugerimos: introdução-roteiro (plano de desenvolvimento) ou gancho + introdução-roteiro (plano de desenvolvimento).

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Desenvolvimento Apresenta cada um dos argumentos ordenadamente, analisando detidamente as idéias e exemplificando de maneira rica e suficiente o pensamento. Nele, organizamos o pensamento em favor da tese. Cada parágrafo (e o texto) pode ser organizado de diferentes maneiras:

Estabelecimento das relações de causa e efeito: motivos, razões, fundamentos, alicerces, os porquês/conseqüências, efeitos, repercussões, reflexos;

Estabelecimento de comparações e contrastes: diferenças e semelhanças entre

elementos – de um lado, de outro lado, em contraste, ao contrário;

Enumerações e exemplificações: indicação de fatores, funções ou elementos que esclarecem ou reforçam uma afirmação.

Lembre-se: recorra às múltiplas áreas de conhecimento para fundamentar bem a sua tese: História, Sociologia, Medicina, Biologia, Direito e outras. Cuidado para não deixar transparecer que você só domina informações televisivas e/ou superficiais.

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TIPOS DE DISCURSO

O narrador, para relatar ao leitor a fala dos personagens, pode servir-se de dois tipos de discurso:

No DISCURSO DIRETO, o narrador reproduz a fala do personagem de tal modo que o leitor ouve exatamente as mesmas palavras que o personagem proferiu.

Exemplo: Liza sussurrou: “Renan, passe-me a bula”.

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TIPOS DE DISCURSO II

No DISCURSO INDIRETO, o narrador traduz para o leitor o que o personagem disse.

Exemplo: Liza sussurrou para o Renan que lhe passasse a bula.

DISCURSO DIRETO

DISCURSO INDIRETO

§ Presença de travessão ou aspas: § Presença de conjunção clara ou elíptica: - Paulo venha cá. Ela gritou que Paulo fosse lá. “Paulo venha cá.” Ela gritou Paulo fosse lá. § Verbo no mesmo tempo e modo que o personagem usa: “Venha”

§ Verbo no mesmo tempo e modo que o narrador usa: “Fosse”

OBSERVAÇÃO: Modernamente pode-se encontrar o diálogo ou discurso direto sem sinais gráficos como travessão ou aspas: Ela pediu: Paulo, venha cá. Como recurso intermediário, muitos narradores modernamente se servem do discurso indireto livre.

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TIPOS DE DISCURSO III

No DISCURSO INDIRETO LIVRE, estabelece-se um elo psicológico entre

narrador e personagem, de tal modo que não é possível precisar com certeza se aquelas palavras ou pensamentos são do narrador, do personagem, ou de ambos.

Na novela Uma Voz em Segredo, Autran Dourado escreveu: “Foram muito duros os primeiros dias na casa de primo Conrado. Se pudesse, se não o olhasse com tanto medo, se tivesse coragem de enfrentá-lo, dirigir-lhe uma palavra, se não...” Observando com atenção, na cabeça de quem se passam tais pensamentos? Na do narrador? Na da personagem? Na de ambos? Qualquer interpretação pode ou não ser válida, mas o que importa é o fato de que o narrador se mostra tão envolvido na narração que permitiu confundirem-se aos pensamentos da personagem Biela com os seus próprios. É o discurso indireto livre.

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