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Parte I Logística D iante da importância e complexidade que envolvem o macroprocesso de Logística dentro das organizações, em franco desenvolvimento, pas- sando por notáveis evoluções em nível mundial, tais como: globalização, impac- to de novas tecnologias de informação e comunicação, novos métodos de otimização de processos, novas filosofias etc., faz-se necessário sintetizar o co- nhecimento teórico sobre a Logística, envolvendo os conceitos básicos, seus objetivos, sua evolução, a questão do Valor em Logística e as decisões inerentes a esta área que aferam o resultado econômico das organizações. Não pretende- mos nos estender neste tema, pois existem muitos livros técnicos, inclusive desta Editora, que tratam sobre o assunto de forma mais aprofundada, tais como: Ballou (1993), Bowersox e Closs (2001), Fleury et aI. (2000 e 2004) etc. Dessa forma, cabe-nos proporcionar uma base de conhecimento preliminar para o es- tudo específico dos Custos Logísticos, proposto neste livro.

01 - Conceitos- Objetivos e Evolução Da Logística

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  • Parte I

    Logstica

    D iante da importncia e complexidade que envolvem o macroprocessode Logstica dentro das organizaes, em franco desenvolvimento, pas-sando por notveis evolues em nvel mundial, tais como: globalizao, impac-to de novas tecnologias de informao e comunicao, novos mtodos deotimizao de processos, novas filosofias etc., faz-se necessrio sintetizar o co-nhecimento terico sobre a Logstica, envolvendo os conceitos bsicos, seusobjetivos, sua evoluo, a questo do Valor em Logstica e as decises inerentesa esta rea que aferam o resultado econmico das organizaes. No pretende-mos nos estender neste tema, pois existem muitos livros tcnicos, inclusivedesta Editora, que tratam sobre o assunto de forma mais aprofundada, tais como:Ballou (1993), Bowersox e Closs (2001), Fleury et aI. (2000 e 2004) etc. Dessaforma, cabe-nos proporcionar uma base de conhecimento preliminar para o es-tudo especfico dos Custos Logsticos, proposto neste livro.

  • I.-

    Conceitos, objetivos eevoluo da logstica

    P ara que possamos estudar CUStOS Logsticos, necessrio que, inicialmen-te, estejamos bem fundamentados sobre o que a Logstica, quais seusprincipais objetivos, e como foi sua evoluo no meio empresarial.

    1.1 Conceito e objetivo da logstica

    Diversos autores vm contribuindo para conceituar a Logstica, que se acre-dita ter origem em atividades militares (como forma de defesa ou objetivando aconquista de novos territrios), relacionando-a s atividades de acomodar, su-prir e acantonar tropas. Consideramos que a Logstica no deveria ter sua ori-gem associada apenas s operaes de guerra, pois, por exemplo, na construodas Pirmides do Egito e em outras obras majestosas foram realizadas, tambm,muitas atividades relacionadas s atividades da Logstica.

    Em ocasies diferentes, muitos termos foram usados para designar a Logstica,tais como, por exemplo, Distribuio Fsica, Administrao de Materiais, Logstica deMarketing e Administrao da Cadeia de Abastecimento, entre outros. A conceituaomais aceita enue os profissionais relacionados a este processo a do Conselhodos Profissionais de Gesto da Cadeia de Suprimentos (200S):1

    1 Esta conceituao est disponvel no sicr . O referido Conselho passoua ter esta denominao a panir do dia }ll..1-2005, sendo, at ento, denominado de Conselho deGesto da Logstica (Counril of I.ogisria Managrmmt - CLM).

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    "Logstica a parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja.implementa e controla, de fonna eficiente e eficaz, a expedio, o fluxo reverso ea armazenagem de bens e servios, assim como do fluxo de informaes relaciona-das, entre o ponto de origem e o ponto de consumo, com o propsito de atender snecessidades dos clientes."

    Este conceito revela a essncia da Logstica, que contempla as atividadesrelacionadas obteno, movimentao e estocagem de materiais e produtos,envolvendo todo o fluxo tisico desses bens e de suas informaes. desde osfornecedores, processo produtivo, at os consumidores finais, exigindo que tO-dos os subprocessos de transporte e armazenagem/movimentao, assim comosuas atividades de recebimento/expedio de materiais e produtos, embalamento,estocagem, separao de pedidos e materiais, transporte etc. sejam planejados econtrolados como um sistema interligado entre o mercado fornecedor e o mer-cado consumidor. Isso remete para o conceito de Gesto de Cadeia de Suprimen-tos, que ser comentado posteriormente.

    Outro exemplo bsico associado Logstica do cotidiano da mulher, que me, esposa, filha, amiga e, muitas vezes, profissional, requerendo prover a to~dos os seus "clientes" (filhos, marido, parentes, colegas, amigos e chefes), como melhor nvel de servio possvel, de maneira sincronizada, no podendo pararsua "linha de produo" em nenhum momento.

    Todas essas atividades, seja na vida pessoal, em operaes de guerra ou nasorganizaes, necessitam de um gerenciamento voltado aos seus objetivos, exe-cutando suas atividades de maneira coordenada e integrada, para alcanar suaeficincia. Quando se fala de eficincia, refere-se importncia de relacionar aproduo obtida com o montante de recursos consumidos, ou seja, a melhorutilizao dos recursos. Uma empresa eficiente aquela que consegue maximizarseus nveis de produo por meio da otimizao de seus processos, sem elevarseus nveis de custos.

    Voltando questo principal, como visto anteriormente, existem muitasmaneiras de conceituar a Logstica, e uma interessante foi sugerida porChristopher (1997, p. 2),

    ':4, Logstica o processo de gerenciar, estrategicamente, a aquisio, movimen-tao e armazenagem de materiais, peas e produtos acabados (e os fluxos deinformaes correlatas) por meio da organizao e seus canais de marketing, demodo a poder maximizar as lucratividades. presente e futura atravs do atendimento dos pedidos a baixo custo."

    Nesta conceituao est implcita a busca da satisfao do clieme, quandocomenta sobre o atendimento dos pedidos a baixo custo, pois se houver insatis-fao por pane do cliente poder gerar resultado econmico positivo no presen-te. mas no no futuro. ota-se a preocupao com o sistema logstico, como um

  • [Odo, no propsito de atender ao cliente, de acordo com suas exigncias, bus-cando obter vantagem competitiva, o que ser comentado no Captulo 3.

    O objetivo da Logstica prover ao cliente os nveis de servios por elerequeridos, com a entrega do "produto certo, no lugar certo, no momento certo, nascondies certas e pelo custo certo". Esses objetivos foram inspirados por E.Grosvenor Plowman in Lamben et ai. (1998, p. la), que os define como os "cincocertos" de um sistema logstico.2

    Satisfazer ao cliente faz pane do objetivo da Logstica. Entendemos que oprocesso efetivado quando este objetivo alcanado, tambm, s suas ativida-des que lhe possibilitam maior integrao, coordenao e sustentao, voltadasa esse objetivo. Para equilibrar as expectativas de nveis de servios e os custosincorridos, a Logstica necessita buscar estratgias, planejamentos e desenvolvi-mento de sistemas que lhe assegurem atingir seus objetivos.

    Para movimentar materiais e produtos aos clientes de maneira oportuna,uma empresa incorre em custoS, visando a agregar um valor (nvel de servio)que no existia e que foi criado para o cliente. Isso faz parte da misso daLogstica que, conforme j comentado, est relacionada satisfao das neces-sidades dos clientes internos/externos, viabilizando operaes relevantes deProduo e Marketing, minimizando todos os tempos e custOS, dadas as con-dies de cada elo da cadeia de suprimentos. A Logstica, atualmeme, estra-tgica nas empresas.

    Ser que a Logstica sempre foi importante nas organizaes? Para respon-der a esta questo, necessitamos rever a sua evoluo.

    1.2 Evoluo logstica

    A Logstica, h muito tempo, era uma atividade "esquecida", consideradacomo "funo" de apoio, no vital ao sucesso dos negcios. Essa forma dereconhec-la vem alterando-se a cada dia, substancialmente, nas ltimas dca-das. No descreveremos todos os aspectos de sua evoluo,] mas, sim, os queso relevantes ao tema central do livro: os Custos Logsticos, em que cabe res-saltar que:

    2 Existem na literatura de Logstica alguns estudiosos, como Shapiro e Heskeu (1985), quecomentam sobre sete cenas, acrescentando na afirmao de Plowman U a quantidade crrta ao clienteaTtO u mas optamos por nos ater aos cinco supracitados, que so os mais clssicos.

    3 Existem dois trabalhos interessantes no Brasil que tratam da evoluo da Logstica: asdis.senaes de mestrado de Flavia Martinez Ribeiro (FGV-RJ, 2000) e a de Clia Mauro P. R. deAlmeida (FEA-USP. 2(00).

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    a) at 1950, o foco da maioria das empresas estava nas atividades deMarketing e as funes logsticas estavam dispersas entre os diversosdepartamentos das empresas. La Londe (1994) menciona que os cus-tos de distribuio representavam entre 10 e 30% dos custos totais eencontravam-se "distribudos" nas demonstraes contbeis das em-presas, seja nos estoques, na movimentao de materiais/produtos, notransporte, na armazenagem etc. Nessa fase, os Custos Logsticos noeram nitidamente evidenciados, mas, de acordo com Bowersox eCloss (2001), eram registrados contabilmente em reas distintas, emalguns momentos, na rea comercial, enquanto relacionados distri-buio; em outros, na rea de produo, enquanto relacionados ao abas-tecimento e suporte manufatura;

    b) de 1950 a 1960, algumas empresas passaram a "criar" cargos especficospara controlar o fluxo de materiais e transportes. Segundo Lambert et aI.(1998), foi realizado, em 1956, um estudo que agregou outra dimenso aocampo da Logstica, que apresentava a possibilidade do uso do transporteareo na operao da distribuio fisica. Verificou-se, ento, que o alto cus-to desse transporte poderia ser compensado pela reduo dos custos deestoques e armazenagem. Esse estudo introduziu o conceito de CustoLogstico Total, que ser abordado no Captulo 4. As empresas tinhamcertas noes de cenas Custos Logsticos, mas sem uma estrutura cla-ra e especfica, na inter-relao entre os diferentes elementos de custos,tais como transporte e armazenagem/movimentao e, por conta disso,no os consideravam adequadamente em suas decises;

    c) por sua vez, no perodo entre 1960 e 1970, houve uma forte absoropor parte das empresas do conceito de balanceamento de custos, frente influncia dos fatores econmicos de mercado, a evoluo dos com-putadores e de pesquisas acadmicas a respeito do tema. As empresas,nos EUA, ora mantinham grandes inventrios e transportavam pormodo ferrovirio e martimo, ora trabalhavam com estoques reduzidose transportavam por via area ou rodoviria, de acordo com os menorescustos totais resultantes. O conceito de balanceamento dos CustosLogsticos, especificamente, entre os custos de transporte e de arma-zenagem/movimentao levou percepo de que existe uma estreitainter-relao entre todos os custos;4

    d) j de 1970 a 1980 houve uma grande preocupao em integrar todasas reas da empresa em torno de um objetivo comum, visando a ocuparuma posio de distino no mercado, por intermdio de uma estrutura

    -! Remete para a existncia dos trade-offs (trocas compensatrias), que sero tratados noCa.ptulo 4.

  • de armazenagem e distribuio eficiente que trouxesse reduo decustos, otimizao de tempo e espao, com foco em proporcionar maiorsatisfao ao cliente; e

    e) o estgio atual, que se iniciou em 1980, vindo at os dias de hoje,caracterizou a Logstica pela importncia dada integrao externa, ouseja, enrre os diferentes elos da cadeia de suprimentos. Podem-se des-tacar o grande desenvolvimento dos sistemas de informaes e a disse~minao do conceito da Gesto da Cadeia de Suprimentos (SupplyChain Management - SCM).

    Outra preocupao associada com a Logstica Reversa, que envolve osprocessos de reciclagem (em que o material coIetado, selecionado e entregue indstria de revalorizao), reutilizao (retomo para nova utilizao das emba-lagens no processo) e retornos (devolues causadas por problemas de especifi-caes, prazos de entrega, avarias etc). Segundo Leite (2003), busca recuperarinsumos diversos para reciclagem, o que j vem ocorrendo em pases desenvol-vidos e, tambm, no Brasil, em projetos de desenvolvimento de sistemas de cole-ta, transporte e tratamento de materiais para reciclagem.

    Destacam-se. tambm, no momento atual, a utilizao de tecnologia de in-formao, com o intercmbio de informaes cada dia mais intenso entre osparceiros membros da cadeia, e, tambm, segundo Novaes (2001), a preocupa-o com o meio ambiente, que originou a chamada "Logstica Verde". que, emrazo da globalizao, visa a reduzir os impactos provocados pela Logstica no meioambiente, por exemplo, com o transporte dos insumos e produtos.

    Cabe ressaltar a importncia da Gesto da Cadeia de Suprimentos (SCM),que foi conceituada pelo Conselho dos Profissionais de Gesto da Cadeia deSuprimentos (2D05) da seguinte maneira:

    [...] "abrange o planejamento e o gerenciamento de todas as atividades envolvidasna obteno e fornecimento, transformao e todo o gerenciamento das atividadeslogsticas. Importante que, tambm, inclui a coordenao e colaborao com par-ceiros nos canais, que podem ser fornecedores, intennedirios, provedores de ser-vios logsticos e clientes. Na essncia, a SCM integra o gerenciamento do forneci-mento e da demanda entre as empresas membros. n

    A Cadeia de Suprimentos constituda pelo conjunto de organizaes quemantm relaes mtuas do incio ao final da cadeia logstica, criando valor aosprodutos e servios, desde os fornecedores at o consumidor final. Este concei-to est associado a um conjunto de fluxos fisicos e de informaes entre umaempresa e seus parceiros (fornecedores e clientes), gerenciado sob o prindpioda busca e sustentao da vantagem competitiva pelas organizaes envolvidas.

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    Estes parceiros, na Cadeia de Suprimentos, atuam de forma estratgica, bus-cando os melhores resultados econmicos possveis, na reduo de custos eagregao de valor para o consumidor final, por meio de flexibilidade, agilidade,sincronizao e da gesto de suas complexidades e diferenciaes. A Logstica,na Cadeia de Suprimentos, o elo entre seus membros, o meio que viabiliza osacordos estratgicos entre as parcerias e alianas de uma cadeia de valor. 5

    Segundo a consultoria Booz Allen Hamilton (2004), a estrutura da cadeia desuprimentos, que "um processo multifuncional, com conflitos inerentes", pode sersimples ou complexa e, no tocante Logstica, deve levar em considerao fato~res relevantes, tais como nmero de fornecedores locais ou globais, a gesto dosriscos culturais e polticos e os investimentos a serem realizados em tecnologiade informao.

    Bender (1997) evidencia inclusive que, para "maximizar o sucesso da cadeia desuprimentos, necessrio que as empresas desenvolvam uma organizao logstica glo~bal, que utilize sistemas de gerenciamento que assegurem a efetiva operao de todas asatividades logsticas". Alm da necessidade de grande sincronismo entre os mem~bras da cadeia, no que diz respeito ao fluxo fsico e de informaes, devem serutilizadas ferramentas voltadas gesto dos Custos Logsticos, que so impres~cindveis na gesto da empresa individual, bem como no compartilhamento deinformaes em sua cadeia de suprimentos.

    A tendncia atual, para que se possa obter sucesso em um mercado globalcada dia com maior competitividade, que as empresas no conheam apenas oscustos de suas operaes, mas tambm o de sua cadeia econmica inteira. Essaafirmao corroborada por Norek e Pohlen (2001), quando comentam que,"sem conhecimento de custos, fornecedores tm poucas evidncias para demonstrar comoas transferncias na cadeia de suprimentos afetam seu valor econmico, bem como paraseus clientes ou o consumidor final".

    Segundo Drucker (1999, p. 95), "o importante no mercado a realidade econ-mica, os custos do processo como um todo, independente de quem o dono de qu". Paraque se passe para custeio da cadeia econmica inteira, necessrio que hajauniformizao ou, no mnimo, compatibilizao dos sistemas combeis de todasas empresas, membros da Cadeia de Suprimentos.

    Os conceitos sobre Logstica apresentados neste captulo correspondemapenas a um entendimento bsico. O objetivo principal desta obra est voltadoaos Custos Logsticos, sendo necessria, para um melhor entendimento sobre oassunto, uma seqncia de contedos preliminares. Desta forma, buscaremosagora uma base de conhecimento sobre os processos relacionados a estemacroprocesso, a Logstica.

    5 Trataremos sobre Cadeia de Valor no Captulo 3.