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ADORNO: EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO 11/11/2013 19:46:00 Jungley de O. Torres Neto*1 Resumo: Para Adorno a educação teve ter o papel de simultaneamente, evitar a barbárie, e buscar a emancipação humana, Adorno questiona a educação autoritária, pensando como referencial uma educação capaz de emancipar. Assim, o projeto adorniano de uma educação emancipadora ganha sentido e concreticidade, podendo contribuir com o processo de libertação humana. Palavras- chave: Educação, emancipação, esclarecimento e libertação. 1. Trajetória de Adorno: Theodor Adorno nasceu em 11 de Setembro de 1903, em Frankfurt, o filosofo e sociólogo Theodor Adorno era membro de um grupo de filósofos e cientistas sociais de tendências marxistas, fundadores do Instituto de Pesquisas Sociais na Cidade de Frankfurt, Alemanha, a chamada escola de Frankfurt, Adorno teve um papel importante na investigação das relações humanas. Por ser alemão de origem judaica, Adorno se viu ameaçado pela ascensão do nazismo, refugiando-se pela Europa. Em 1934 na Inglaterra, Adorno lecionou na Universidade de Oxford. Mudou-se para os Estados Unidos quatro anos depois a convite de seu amigo Max Horkheimer e ocupou o cargo de diretor musical do setor de pesquisa da Rádio da Universidade de Princeton. Logo se tornou vice-diretor do Projeto de Pesquisas sobre Discriminação Social da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Com o fim do Estado nazista, retornou para seu país em 1953, voltando a trabalhar na Escola de Frankfurt... Morrendo em 06 de agosto de 1969. * Formado em teologia sistemática/ corrente protestante, pela Faculdade Teológica de Educação Fama/ AP, técnico em informática pela S.O.S- educação profissional/ SP, graduando em filosofia pela Universidade Federal de juiz de Fora- UJFJF/ MG. E-mail: [email protected] Jungley de O. Torres Neto 2. Educação: A educação deve ser simultaneamente, autonomia, racionalidade e possibilidade de ir além da mera adaptação, chegando à emancipação; é apontada uma crítica à indústria cultural, vista como a responsável por prejudicar a capacidade humana de agir com autonomia, o tema foi tratado pela primeira vez em 1947 no livro A Dialética do Esclarecimento, que Adorno escreveu em parceria com Max Horkheimer. Em educação e emancipação, o autor lembra ainda, da importância da educação em não ser um instrumento disciplinador de condutas através da repreensão, costume que sempre predominou durante muitos anos de forma explícita através de castigos físicos e morais, e hoje de maneira disfarçada através de uma repressão psicológica (Adorno irá buscar elementos na psicanálise, influências em Freud ¹2, gerando uma violência simbólica, Diz Adorno: “A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar as pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive da maior importância política; sua idéia [de H. Becker – NV], se é permitido dizer assim, é uma exigência política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas funcionar; mas operar conforme seu conceito demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado”(Adorno,1995,p.141-142). ²3¹ Fica evidente entre os escritos de Adorno a urgência de promover um modelo de educação emancipadora como solução para sua preocupação em evitar o surgimento de novas barbáries. ¹ Em Educação após Auschwitz, o filósofo nos diz de maneira bastante clara, fazendo alusão aos estudos de Freud, que na própria gênese da civilização está contida a barbárie. Percebemos claramente que Adorno, em suas reflexões sobre Educação após Auschwitz, faz uso constante da psicanálise e um dos aspectos importantes que o autor ressalta, em seu texto, é a questão da consciência coisificada. Diz Adorno: “Os homens inclinam-se a considerar a técnica como sendo algo em si mesmo, uma força própria, esquecendo que ela é a extensão do braço do homem” (Adorno, 2003). ² Adorno, T. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995. Adorno: Educação e Emancipação O autor acredita que os mesmos elementos que influenciaram os grandes conflitos do passado, ainda perduram em nossa sociedade e devem ser combatidos prontamente, e a melhor forma para isso, é direcionar a educação no sentido de estabelecer ao individuo uma auto-reflexão, demonstrando sua importância numa coletividade para bem comum da humanização.

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  • ADORNO: EDUCAO E EMANCIPAO11/11/2013 19:46:00

    Jungley de O. Torres Neto*1 Resumo: Para Adorno a educao teve ter o papelde simultaneamente, evitar a barbrie, e buscar a emancipao humana,Adorno questiona a educao autoritria, pensando como referencial umaeducao capaz de emancipar. Assim, o projeto adorniano de uma educaoemancipadora ganha sentido e concreticidade, podendo contribuir com oprocesso de libertao humana. Palavras- chave: Educao, emancipao,esclarecimento e libertao.1. Trajetria de Adorno:

    Theodor Adorno nasceu em 11 de Setembro de 1903, em Frankfurt, o filosofo esocilogo Theodor Adorno era membro de um grupo de filsofos e cientistassociais de tendncias marxistas, fundadores do Instituto de Pesquisas Sociaisna Cidade de Frankfurt, Alemanha, a chamada escola de Frankfurt, Adornoteve um papel importante na investigao das relaes humanas. Por seralemo de origem judaica, Adorno se viu ameaado pela ascenso do nazismo,refugiando-se pela Europa. Em 1934 na Inglaterra, Adorno lecionou naUniversidade de Oxford. Mudou-se para os Estados Unidos quatro anos depoisa convite de seu amigo Max Horkheimer e ocupou o cargo de diretor musicaldo setor de pesquisa da Rdio da Universidade de Princeton. Logo se tornouvice-diretor do Projeto de Pesquisas sobre Discriminao Social da

    Universidade da Califrnia, em Berkeley. Com o fim do Estado nazista, retornou para seu pas em 1953, voltando atrabalhar na Escola de Frankfurt... Morrendo em 06 de agosto de 1969.

    * Formado em teologia sistemtica/ corrente protestante, pela Faculdade Teolgica de Educao Fama/ AP, tcnico eminformtica pela S.O.S- educao profissional/ SP, graduando em filosofia pela Universidade Federal de juiz de Fora-UJFJF/ MG. E-mail: [email protected] de O. Torres Neto

    2. Educao: A educao deve ser simultaneamente, autonomia, racionalidade e possibilidade de ir alm da meraadaptao, chegando emancipao; apontada uma crtica indstria cultural, vista como a responsvel porprejudicar a capacidade humana de agir com autonomia, o tema foi tratado pela primeira vez em 1947 no livro ADialtica do Esclarecimento, que Adorno escreveu em parceria com Max Horkheimer. Em educao e emancipao, oautor lembra ainda, da importncia da educao em no ser um instrumento disciplinador de condutas atravs darepreenso, costume que sempre predominou durante muitos anos de forma explcita atravs de castigos fsicos emorais, e hoje de maneira disfarada atravs de uma represso psicolgica (Adorno ir buscar elementos na psicanlise,influncias em Freud 2, gerando uma violncia simblica, Diz Adorno:

    A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepo inicial de educao. Evidentemente no a assimchamada modelagem de pessoas, porque no temos o direito de modelar as pessoas a partir do seu exterior; mastambm no a mera transmisso de conhecimentos, cuja caracterstica de coisa morta j foi mais do que destacada, masa produo de uma conscincia verdadeira. Isto seria inclusive da maior importncia poltica; sua idia [de H. Becker NV], se permitido dizer assim, uma exigncia poltica. Isto : uma democracia com o dever de no apenas funcionar;mas operar conforme seu conceito demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva s pode ser imaginadaenquanto uma sociedade de quem emancipado(Adorno,1995,p.141-142). 3 Fica evidente entre os escritos de Adorno aurgncia de promover um modelo de educao emancipadora como soluo para sua preocupao em evitar osurgimento de novas barbries.

    Em Educao aps Auschwitz, o filsofo nos diz de maneira bastante clara, fazendo aluso aos estudos de Freud, quena prpria gnese da civilizao est contida a barbrie. Percebemos claramente que Adorno, em suas reflexes sobreEducao aps Auschwitz, faz uso constante da psicanlise e um dos aspectos importantes que o autor ressalta, em seutexto, a questo da conscincia coisificada. Diz Adorno: Os homens inclinam-se a considerar a tcnica como sendoalgo em si mesmo, uma fora prpria, esquecendo que ela a extenso do brao do homem (Adorno, 2003). Adorno,T. Educao e Emancipao. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995.Adorno: Educao e Emancipao

    O autor acredita que os mesmos elementos que influenciaram os grandes conflitos do passado, ainda perduram emnossa sociedade e devem ser combatidos prontamente, e a melhor forma para isso, direcionar a educao no sentidode estabelecer ao individuo uma auto-reflexo, demonstrando sua importncia numa coletividade para bem comum dahumanizao.

  • 3. Emancipao:

    A emancipao deve ser enfatizada e por este termo Adorno compreende a viso kantiana, segundo a qual aemancipao se refere ao homem autnomo, emancipado, seguindo a formulao definitiva de Kant, isto , para aexigncia de que os homens tenham que se libertar de sua auto-inculpvel menoridade(Adorno,1995,p.141). Aemancipao, na perspectiva de Adorno, no se refere apenas ao indivduo como entidade isolada, masfundamentalmente como um ser social. Ela pressuposto da democracia e se funda na formao da vontade particularde cada um, tal como ocorre nas instituies representativas.A emancipao a formao para a autonomia, mas ela s pode ser bem sucedida se for um processo coletivo, j quena nossa sociedade a mudana individual no provoca necessariamente a mudana social, mas esta precondiodaquela. A educao deve contribuir, portanto, para o processo de formao e emancipao, contribuindo para criarcondies em que os indivduos, socialmente, conquistem a autonomia.

    4. ESCLARECIMENTO, EDUCAO & EMANCIPAO: Para uma anlise critica do que vem a ser o esclarecimento,Adorno ao lado de Horkheimer expem, primeiramente, definies a partir das concepes iluministas 4 (as obras deMarx e Freud, ambos citados e influentes no pensamento de Adorno, rompem com o otimismo ingnuo do iluminismo),que se apresentavam contrrias as idias msticas na aquisio e produo do conhecimento em meados do sculo XVIII,onde o termo era freqentemente habitual. durante esse perodo que mitos e os conhecimentos religiosos declinaram-se perante a uma nova fonte de conhecimento, a cincia.

    O uso correto da razo surge como meio capaz de trazer a esperana e a promessa, permitindo ao homem superar osseus anseios e medos, satisfazendo suas necessidades e aspiraes. Trata-se ento numa relao estreita entreautonomia e conhecimento quando os iluministas afirmam que a superioridade do homem est no saber, capaz depermitir a obteno do poder porque se considera como ela prpria ao afirmar que o saber "[...] no conhece 3ADORNO e HORKHEIMER no texto conceito de iluminismo apresentam a contradio desse pensamento, que pretendialibertar os homens dos mitos, mas causou o inverso, os aprisionou em novos mitos.

    Jungley de O. Torres Neto

    Nenhuma barreira, nem na escravizao da criatura, nem na complacncia em face dos senhores do mundo". (ADORNO,HORKHEIMER, 1985. p.20). Immanuel Kant, um dos maiores representantes iluministas da poca, afirmavam que ohomem conseguiria alcanar a maioridade intelectual atravs do esclarecimento, tornando-se ser autnomo e livre dequalquer resqucio de uma menoridade dependente. Assim, o que impedem ao homem de alcanar o estado demaioridade so o medo e o comodismo resultante da menoridade, um estado do ser humano de dependncia econformismo de depender de outros do que confrontar difceis caminhos onde se encontra o conhecimento. Aracionalidade seria ento o instrumento proposto por Kant apropriado para guiar o homem nesses difceis caminhos embusca do esclarecimento e promover sua maioridade. 456

    5. CONSIDERAES FINAIS:

    O pensamento de Adorno em relao Educao, parte das crticas que ele faz indstria cultural, vista como aresponsvel por prejudicar a capacidade humana de agir com autonomia, onde conscincia humana dominada pelacomercializao e banalizao dos bens culturais - fenmeno batizado posteriormente de "semiformao" (Adornoafirma que h um processo real na sociedade capitalista capaz de alienar o homem das suas condies de vida). primeira vista, pode parecer que Adorno era contra a Educao. Pelo contrrio.

    As crticas ao processo pedaggico so conseqncias do reconhecimento pelo autor da capacidade que ela tem detransformar as relaes sociais. Fica evidente em sua obra a defesa de um projeto de libertao do homem por meio daformao acadmica, porm uma formao de amplitude humanstica. Para Adorno, o ensino deve ser uma arma deresistncia indstria cultural na medida em que contribui para a formao da conscincia crtica e permite que oindivduo desvende as contradies da coletividade. Referncias: ADORNO, T. Educao e Emancipao. Rio de Janeiro,Paz e Terra, 1995. ADORNO, HORKHEIMER. Theodor W. e Max. Dialtica do Esclarecimento: fragmentos filosficos.Trad.Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1985.

    4 Com a disseminao dos ideais iluministas (onde o lugar de evidenciao a razo, onde o esclarecimento oinstrumento que libertaria o homem), deu incio ascenso e a hegemonia da cincia, impondo superioridade sobretudo quilo que no era cientfico. ADORNO e HORKHEIMER afirmam que "o conhecimento e o poder passaram a sersinnimos" (ADORNO, HORKHEIMER, 1985. p.20)

    Adorno: Educao e Emancipao

    ADORNO, Theodor W, (2003). Educao aps Auschwitz. In: Educao e Emancipao. 3 Ed. So Paulo: Paz e Terra.Traduo de Wolfgang Leo Maar p. 119-138. Extrado do site www.educacaoonlinepro.br. Acessado no dia 03/12/2013.

  • OLIVEIRA, Thiago Boy De. Esclarecimento, Educao e por que no um pouco de Filosofia? Disponvel em:http://www.mundodosfilosofos.com.br/esclarecimento-educacao-filosofia.htm Acessado em 30 de Novembro de 2013.VIANA, Nildo. Adorno: Educao e Emancipao. Disponvel em:http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/resafe/numero004/textos/artigos_nildoviana.html. Acessado em 30 de Novembrode 2013. KANT, Immanuel. Resposta a pergunta: Que esclarecimento? Textos Seletos. Traduo Floriano de SousaFernandes. 3 ed. Editora Vozes: Petrpolis, RJ. 2005. Pg. 63-71. KANT, Immanuel. O que a ilustrao. In Rgis C.Andrade, Kant, a liberdade, o indivduo e a repblica, in F. Weffort, Os clssicos da poltica, v. 2, p. 83-85.Jungley de O. Torres NetoAutor: Jungley de Oliveira Torres Neto

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