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Panorama do desemprego no Brasil, Pochmann

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  • 38 REVISTA DO LEGISLATIVO abr-dez/99

    Estudo traa o novo perfil dodesemprego no Brasil

    Mrcio PochmannProfessor do Instituto de

    Economia (IE) e pesquisador doCentro de Estudos Sindicais e deEconomia do Trabalho (Cesit) da

    Universidade Estadual deCampinas (Unicamp)

    Atendncia de forte expanso do desemprego nos anos 90, no Brasil, cada vez maisreveladora dos efeitos

    decorrentes do novo modelo eco-nmico de modernizao e de in-sero competitiva na economiamundial. A abertura comercial semcritrios, aliada ao contexto compe-titivo interno de altas taxas de ju-ros, valorizao cambial (at janei-ro de 1999), ausncia de financia-mento de mdio e longo prazos produo, estrutura tributria inade-quada e ausncia de polticas co-mercial defensiva, industrial ativa esocial compensatria transformaramo emprego em uma das principaisvariveis de ajuste das empresas.

    Alm disso, interessa tambmdestacar que o desemprego consti-tui um dos principais elementos domovimento de desestruturao domercado de trabalho, isto , o mo-vimento identificado pela presenade altas taxas de desemprego, dodesassalariamento e da gerao depostos de trabalho precrios.

    Para discutir o fenmeno do de-semprego, dividiu-se o presentetexto em trs partes. Na primeiraparte do estudo so apresentadasas informces referentes expan-

    so do desemprego nacional pelasdistintas regies geogrficas, en-quanto a segunda parte refere-se evoluo das formas de ocupao,destacando-se o desassalariamentoe a evoluo dos postos de traba-lho no assalariados nos anos 90.Na terceira parte, discute-se o novoperfil do desemprego, assim como,na quarta parte, procura-se tratar dosdeterminantes macroeconmicos dodesemprego no Brasil.

    1. Movimento geral de inseroda Populao EconomicamenteAtiva: o crescimento dodesemprego nos anos 90

    Depois de registrar, nos anos 80,um volume de desempregados re-lativamente comprimido, o Brasilpassou a conviver com altas taxasde desemprego nos anos 90. Entre1981 e 1983, por fora da recessoeconmica, as taxas de desempre-go tinham crescido rapidamente,voltando a cair no perodo de 1984/86, com a recuperao do nvel deatividade. Com a estagnao da ren-da per capita nos trs ltimos anosda dcada, as taxas de desempregosubiram um pouco.

    Na dcada de 90, o fenmenodo desemprego compreende umadas principais caractersticas da

    A abertura comercial sem critrios, aliada ao contexto competitivo interno de altastaxas de juros e ausncia de financiamento de mdio e longo prazos, transformaram

    o emprego em uma das principais variveis de ajuste das empresas

    ARTIGO

  • 39REVISTA DO LEGISLATIVOabr-dez/99

    evoluo da Populao Economica-mente Ativa. Independente das dife-renas metodolgicas utilizadas naapurao do desemprego no Brasil,percebe-se que as vrias taxas dedesemprego existentes apresentam-se atualmente muito superiores s dofinal dos anos 80 (ver Grfico 1).

    Alm do crescimento da taxanacional de desemprego nos anos

    90, observa-se tambm que, segun-do as informaes produzidas pelaFibge/Pnad, todas as regies geo-grficas brasileiras apresentam ta-xas de desemprego que so, nomnimo, o dobro das apuradas nofinal dos anos 80. Em virtude disso,no h consistncia nos argumen-tos que procuram negar o fenme-no do desemprego no Brasil.

    O aumento do desemprego de-corre, como no poderia deixar deser, do crescimento superior da Po-pulao Economicamente Ativa gerao de postos de trabalho emtodo o Pas. Entre 1989 e 1996, porexemplo, a expanso das ocupaesno Brasil foi de 11,4%, enquanto aPEA total aumentou 16,5%, influen-ciando diretamente o aumento do

    5060708090

    100110120130140150160170180190200210220

    80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97

    Desemprego

    Grfico 1Brasil: evoluo do ndice de desemprego** (1980 = 100,0)

    Fonte: Fibge/Pnad ajustadas

    * Estimativa

    ** Procura de trabalho

    Elaborao prpria

    3 3,1 3,2 3,22,4 2,6

    7,38,4

    6,5

    8

    5,7

    8,4

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul C Oeste

    1989 1996

    Grfico 2Brasil: evoluo da taxa de desemprego* por regies geogrficas, 1989 e 1996 (em %)

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadas

    * Procura de trabalho

    Elaborao prpria

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

  • 40 REVISTA DO LEGISLATIVO abr-dez/99

    desemprego em 179,1% (ver Grfi-co 2).

    Em outras palavras, destaca-seque, nos anos 90, foram abertosanualmente 951,4 mil postos de tra-balho. Essa quantidade foi insufi-ciente para atender ao ingresso de1.417,1 mil pessoas ativas a cadaano, gerando, por conseqncia, oaumento do desemprego, em m-dia, de 465,7 mil pessoas ao longodos anos 90. O nmero de postos

    de trabalho abertos representou ape-nas 67,1% da massa de trabalhado-res que procuraram trabalho (verTabela 1).

    Alm das informaes nacio-nais, podem ser constatadas dife-renas regionais importantes nosanos 90, como (i) a maior expan-so da PEA ocupada na RegioNorte (48,0%) e a menor na Re-gio Sudeste (7,6%), (ii) o menoraumento do desemprego na Re-

    gio Nordeste (136%) e o maiorna Regio Norte (321%) e (iii) omaior crescimento da PEA total naregio Norte (56,5%) e o menorna Regio Sudeste (13,2%). A di-nmica demogrfica regional pos-sui relevncia na explicao des-ses dados, assim como o compor-tamento econmico local, poisproduz impactos diretos sobre aabertura e/ou fechamento dospostos de trabalho.

    Brasil Regio Norte RegioNordeste

    RegioSudeste

    Regio Sul RegioC. Oeste

    1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996PEA Total 60.120

    100,070.040100,0

    1.834100,0

    2.870100,0

    16.032100,0

    18.970100,0

    27.732100,0

    31.403100,

    10.273100,0

    11.703100,0

    4.249100,0

    5.093100,0

    Variao1996/89

    16,5% 56,5% 18,3% 13,2% 13,9% 19,9%

    PEA Ocupada 58.30097,0

    64.96092,7

    1.77796,9

    2.63091,6

    15.51296,8

    17.74593,5

    26.84696,8

    28.88492,0

    10.02697,6

    11.03894,3

    4.13997,4

    4.66491,6

    Variao1996/89

    11,4% 48,0% 14,4% 7,6% 10,1% 12,7%

    PEA De-sempregada

    1.8203,0

    5.0807,3

    57,13,1

    2408,4

    5193,2

    1.2256,5

    8873,2

    2.5198,0

    2482,4

    6665,7

    1092,6

    4308,4

    Variao1996/89

    179,1% 321,0% 136,0% 184,0% 168,5% 294,1%

    Tabela 1Brasil: evoluo da Populao Economicamente Ativa (PEA), da ocupao e

    do desemprego, 1989/96* (em mil)

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadas

    Elaborao prpria

    2. O movimento geral daPopulao EconomicamenteAtiva ocupada: o fenmeno do

    desassalariamento nos anos 90

    A evoluo da PEA ocupadaapresentou trs importantes altera-es nos anos 90: (i) queda na par-ticipao relativa do setor secund-rio no total da ocupao; (ii) redu-o na participao relativa dosempregos assalariados no total daocupao; e (iii) diminuio na par-ticipao relativa dos empregos as-salariados com registro no total dosassalariados (ver Grfico 3).

    Nota-se que, para um aumentoda ocupao total de 11,4% nos anos90, houve um crescimento superiordas ocupaes no setor tercirio(22,3%), uma insignificante eleva-o da ocupao no setor primrio

    (0,5%) e queda nas ocupaes dosetor secundrio (2,2%). Essa modi-ficao na composio da ocupa-o no se mostrou uniforme entreas grandes regies geogrficas (verTabela 2).

    A drstica reduo na ocupaodo setor secundrio na Regio Su-deste (9,6%) principal plo indus-trial do Pas no foi compensadapela elevao da ocupao no mes-mo setor nas outras regies geogr-ficas. Ao mesmo tempo, a expan-so das ocupaes no setor tercirio(22,3%) ocorreu fortemente estimu-lada pelas Regies Norte (51,2%),Nordeste (28,9%) e Sul (22,7%) (verGrfico 4).

    Ainda em relao ao setor pri-mrio, h evidncias de que a que-da na ocupao nas Regies Sul(11,4%) e Sudeste (1,3%) tenha sido

    mais do que compensada pela ele-vao nas Regies Nordeste (3,6%)e Centro-Oeste (12,6%). Em funodisso, a ocupao absoluta no setorprimrio permaneceu relativamen-te estabilizada no Brasil, apontandopara sua diminuio relativa no to-tal da ocupao, assim como do se-tor secundrio nos anos 90.

    Por outro lado, cabe destacar ofortalecimento do fenmeno dodesassalariamento no Brasil, nosanos 90, que se constituiu uma no-vidade quando comparada evolu-o ocupacional das ltimas seisdcadas. O desassalariamento de-corre muito mais do comportamen-to das Regies Sudeste, Nordeste eCentro-Oeste, j que, nas RegiesSul e Norte, o assalariamento man-teve-se praticamente inalterado (verTabela 3).

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

  • 41REVISTA DO LEGISLATIVOabr-dez/99

    Grfico 3Brasil: evoluo da ocupao por regies geogrficas, 1989 e 1996 (em %)

    -2,2

    22,3

    11,4

    23,1

    51,248

    0,9

    28,9

    14,4

    -9,6

    18,3

    7,613,1

    22,7

    10,17,1

    14,2 12,7

    -10

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Secundrio Tercirio Total

    Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadasElaborao prpria

    Brasil RegioNorte

    RegioNordeste

    RegioSudeste

    Regio Sul Regio C.Oeste

    1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996PEAOcupada

    58.300100,0

    64.960100,0

    1.777100,0

    2.630100,0

    15.512100,0

    17.745100,0

    26.846100,0

    28.884100,0

    10.026100,0

    11.038100,0

    4.139100,0

    4.664100,0

    Variao1996/89

    11,4% 48,0% 14,4% 7,6% 10,1% 12,7%

    SetorPrimrio

    13.49723,2

    13.56120,9

    Nd. Nd. 6.12939,5

    6.34935,8

    3.28612,2

    3.24211,2

    3.06530,6

    2.71724,6

    88721,4

    99921,4

    Variao1996/89

    0,5% Nd. 3,6% -1,3% -11,4% 12,6%

    SetorSecundrio

    13.81823,7

    13.51320,8

    40322,7

    49618,9

    2.49016,1

    2.51214,2

    7.95529,6

    7.18924,9

    2.26922,6

    2.56523,2

    70217,0

    75216,1

    Variao1996/89

    -2,2% 23,1% 0,9% -9,6 13,1% 7,1%

    SetorTercirio

    30.98553,1

    37.88658,3

    1.24470,0

    1.88171,5

    689344,4

    8.88550,0

    15.60558,2

    18.45363,9

    4.69246,8

    5.75652,2

    2.55161,6

    2.91362,5

    Variao1996/89

    22,3% 51,2% 28,9% 18,3% 22,7% 14,2%

    Tabela 2Brasil: evoluo da PEA ocupada e por setor econmico, 1989/96* (em mil)

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadas

    Elaborao prpria

    A perda de participao dosempregos assalariados no total daocupao tem sido fortemente in-fluenciada pela reduo dos empre-gos assalariados com registro. Osempregos assalariados sem registrocontinuam aumentando nos anos 90,porm com taxas reduzidas, inca-

    pazes de compensar a perda dosempregos assalariados com registro.

    No que diz respeito composi-o das ocupaes, pode-se obser-var a fora da expanso dos traba-lhos por conta prpria e ocupaesno remuneradas no Brasil dos anos90. Em termos das grandes regies

    geogrficas, verifica-se uma tendn-cia generalizada de expanso dospostos de trabalho no assalariados(ver Grfico 5).

    Para cada um emprego assalari-ado gerado entre 1989 e 1996, fo-ram abertas 1,6 ocupaes no as-salariadas no Brasil. Essa relao foi

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

  • 42 REVISTA DO LEGISLATIVO abr-dez/99

    mais elevada nas Regies Sudeste(2,9 vezes) e Nordeste (2,5 vezes),enquanto nas demais regies ela foimenor, como no Sul (0,5 vez), Cen-tro-Oeste (0,6%) e Norte (0,7 vez)(ver Tabela 4).

    3. As alteraes no perfil dodesempregado

    Assim como a oferta e a demandade trabalho apresentaram mudanassignificativas nos ltimos anos, o de-semprego tambm registrou altera-es importantes, seja na quantida-de, seja no perfil do desempregado.No apenas ocorreu um aumento nataxa de desemprego e, por conseqncia, na quantidade de pessoasprocurando emprego, como tambmhouve uma mudana na estrutura dodesemprego e uma elevao no tem-po de procura de trabalho.

    Entre 1989 e 1996, o desempre-go cresceu relativamente mais (i)para as pessoas com mais de 11anos de escolaridade, (ii) para pes-soas com idade mais avanada (maisde 40 anos), (iii) para os homens,(iv) para os no-chefes de famlia(cnjuge), (v) para as pessoas decor e (vi) para os que buscam oprimeiro emprego. Em compensa-o, a situao tornou-se menos gra-ve (i) para aqueles com menor grau

    de escolaridade, (ii) com menos ida-de, (iii) para as mulheres, (iv) paraos filhos, (v) para os brancos e (vi)para os que buscam um reemprego(Ver Quadro I).

    4. O desemprego como umproblema macroeconmiconacional

    Para poder identificar adequada-mente a natureza e as causas geraisdas transformaes do desempregonos anos 90, necessita-se recuperaros determinantes da polticamacroeconmica no Brasil. Nessesentido, so, a seguir, rapidamenteanalisados: (i) o nvel de atividade,(ii) a reinsero externa, (iii) areestruturao das empresas priva-das e (iv) o ajuste no setor pblicocomo forma de procurar entender adinmica do movimento dedesestruturao do mercado de tra-balho, que tem o desemprego comoum dos aspectos fundamentais.

    4.1. O nvel de atividade

    Desde o incio dos anos 80,pode-se observar a presena de umconjunto de restries internas eexternas ao pleno desenvolvimen-to das foras produtivas no Brasil.Em geral, a queda e a permanncia

    de taxas de investimento como pro-poro do produto, relativamentebaixas, revelam a reduzida capaci-dade de recomposio e ampliaodo parque produtivo.

    Alm da identificao daperformance insuficiente dos inves-timentos, pode-se observar que ocomportamento do Produto InternoBruto per capita tambm confirmao comportamento geral de estagna-o da economia brasileira. Apesarda importante recuperao do PIBpor habitante nos ltimos quatroanos, o seu valor, em 1997, era ape-nas 2,1% superior ao de 1980.

    Durante os anos 1980/89, o PIBapresentou taxa de crescimentomdia anual de 2,25% e de 4,5%somente no perodo 1984/89 (des-contada a recesso dos anos 1981/83). Paralelamente, o nvel nacio-nal de emprego regular registrou,respectivamente, taxa de cresci-mento mdia anual de 1,2% (1980/89) e de 2,85% (1984/89) (ver Gr-fico 6).

    Para o perodo seguinte (1990/96), o nvel nacional de emprego re-gular apresentou, em compensao,taxa negativa de variao mdiaanual tanto para o perodo 1990/96(-1,97%) quanto para os anos 1993/96 (-0,21%), que excluem os efeitosda recesso (1990/92). O comporta-

    6667,5

    54,5

    75

    58,3

    68,2

    63,2

    67,7

    51,2

    71,5

    58,7

    67,5

    5052545658606264666870727476

    Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste

    1989 1996

    Grfico 4Brasil: evoluo da taxa de assalariamento por regies geogrficas, 1989 e 1996 (em %)

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadas

    Elaborao prpria

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

  • 43REVISTA DO LEGISLATIVOabr-dez/99

    mento do PIB no perodo 1990/96apresentou taxa de crescimento m-dia anual de 1,13% (1990/96) e de4,3% para os anos 1993/96.

    A retomada no nvel de ativida-de econmica a partir de 1992 foifortemente influenciada pela esta-bilizao monetria, que possibili-tou o avano do crdito ao consu-mo e a elevao once for all dopoder aquisitivo das famlias de ren-da mais baixa, sustentada na am-pliao da produo domstica e dasimportaes. Sem impactos relevan-

    tes, at o presente momento, nonvel de investimentos, houve aimpossibilidade de manuteno sus-tentada do crescimento econmicoe a gerao de sinais de crise naconta corrente do Balano de Paga-mentos. A adoo recente de pol-ticas macroeconmicas stop and goaponta para a estagnao das ativi-dades econmicas.

    Em sntese, desde 1980, assiste-se conformao de duas dcadasperdidas em termos de desempe-nho da renda por habitante. Mais

    do que isso, que significa a maisgrave crise econmica desde 1930,cabe destacar que o Pas passou agerar dificuldades adicionais em re-lao ao comportamento do merca-do de trabalho, com o movimentode desestruturao.

    4.2. A reinsero externa

    A dcada de 90 inaugura no Pasuma nova fase de insero externa,marcada pela abertura comercial,desregulamentao financeira e

    Tabela 3Brasil: evoluo da PEA assalariada com e sem registro, 1989/96 (em mil)

    Brasil RegioNorte

    RegioNordeste

    RegioSudeste

    Regio Sul Regio C.Oeste

    1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996PEA as-salariada

    38.45966,0

    41.07763,2

    1.20067,5

    1.70867,7

    8.45954,5

    9.09051,2

    20.13275,0

    20.64971,5

    5.84558,3

    6.48058,7

    2.82368,2

    3.15067,5

    Variao1996/89

    6,8% 42,3% 7,5% 2,6% 10,9% 11,6%

    Comregistro

    25.523 23.089 969 891 3.966 3.785 14.441 12.839 4.519 3.992 1.628 1.582

    Variao1996/89

    -9,5% -8,1% -4,6% -11,1% -11,7% -2,8%

    Semregistro

    12,936 17.988 231 817 4.493 5.305 5.691 7.810 1.326 2.488 1.195 1.568

    Variao1996/89

    39,1% 253,7% 18,1% 37,2% 87,6% 31,2%

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadas e Rais/MTb

    Elaborao prpria

    6,8

    42,3

    7,5 2,610,9 11,6

    18,9

    58,9

    1524,2

    11,3 12,7

    36

    138,3

    45 50,8

    2,5

    69,4

    020

    406080

    100

    120140

    Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste

    Assalariado Conta Prpria No-Remunerado

    Grfico 5Brasil: variao das ocupaes por regies geogrficas, 1989 e 1996 (%)

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadas

    Elaborao prpria

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

    10,9 11,311,6 12,7

  • 44 REVISTA DO LEGISLATIVO abr-dez/99

    integrao regional (Mercosul). Essamudana nas relaes econmicasexternas ocorre num cenrio cam-bial desfavorvel edesacompanhado de polticas indus-trial ativa e comercial defensiva.

    Em funo disso, o processo dereinsero internacional no estarialevando construo de um novomodelo de crescimento nacionalsustentado. Pelo contrrio, as medi-das macroeconmicas em curso des-de 1990 estariam promovendo a de-sintegrao da cadeia produtiva emostrando-se, at o momento, maiseficazes na destruio de parte sig-nificativa da estrutura produtiva edo emprego.

    A desarticulao no interior devrias cadeias produtivas tem leva-do maior heterogeneidade da baseeconmica, com a modernizao deempresas na ponta e o retraimento,fechamento e desnacionalizao deoutras ao longo da cadeia produti-

    va. Nesse sentido, a situao desfa-vorvel do emprego poderia serassociada, em parte, reinseroexterna passiva e subordinada aosinteresses de organismos interna-cionais e de pases avanados (verGrfico 7).

    Com efeitos pouco positivos paraa produo e o emprego nacionais,as polticas macroeconmicas vol-tadas para a abertura comercial po-dem ser identificadas pelas alte-raes no mix de produo doms-tica (substituio de produtos in-termedirios e de bens de capitalproduzidos internamente por im-portados), pela ausncia de me-didas eficientes de apoio s ex-portaes e de seletividade dasimportaes, pelo ambiente decompetio desregulada e pelocenrio de cmbio apreciado ejuros reais elevados.

    Como se pode observar, a con-duo do novo modelo econmi-

    co no Brasil desde 1990, que temcomo objetivo modernizar e levaro Pas a uma nova insero com-petitiva na economia mundial, nofoi capaz de superar o problemado retorno ao crescimento econ-mico sustentado. Adicionalmente,tem produzido efeitos malficosaos trabalhadores, com maior de-semprego.

    4.3. A reestruturao das

    empresas privadasAs alteraes externas na eco-

    nomia brasileira trouxeram implica-es significativas para o conjuntodas empresas. Aps uma longa fasede esgotamento do modelo de cres-cimento por substituio de impor-taes, podem-se identificar altera-es no comportamento empre-sarial voltadas para implantao denovos programas de gesto da pro-duo, de reorganizao do traba-lho e de inovao tecnolgica.

    Tabela 4Brasil: evoluo da PEA ocupada, 1989/96 (em mil)

    Fonte: Fibge/Pnads ajustadas

    Elaborao prpria

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

    Brasil Regio Norte RegioNordeste

    RegioSudeste

    Regio Sul Regio C.Oeste

    1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996 1989 1996PEAOcupada

    58.300100,0

    64.960100,0

    1.777100,0

    2.630100,0

    15.512100,0

    17.745100,0

    26.846100,0

    28.884100,0

    10.026100,0

    11.038100,0

    4.139100,0

    4.664100.0

    Variao1996/89

    11,4% 48,0% 14,4% 7,6% 10,1% 12,7%

    Assalaria-do

    38.45966,0

    41.07763,2

    1.20067,5

    1.70867,7

    8.45954,5

    9.09051,2

    20.13275,0

    20.64971,5

    5.84558,3

    6.48058,7

    2.82368,2

    3.15067,5

    Variao1996/89

    6,8% 42,3% 7,5% 2,6% 10,9% 11,6%

    ContaPrpria

    12.76021,9

    15.17323,4

    42624,0

    67725,7

    4.62929,8

    5.32530,0

    4.54316,9

    5.64119,5

    2.31823,1

    2.57923,4

    84420,4

    95120,4

    Variao1996/89

    18,9% 58,9% 15,0% 24,2% 11,3% 12,7%

    Emprega-dor

    2.4994,3

    2.4853,8

    884,9

    91,93,5

    4613,0

    4742,7

    1.2784,8

    1.2504,3

    4164,1

    4724,3

    2576,2

    1974,2

    Variao1996/89

    -0,6 4,4% 2,8% -2,2% 13,5% -23,4%

    No-re-munerado

    4.5787,9

    6.2259,6

    643,6

    152,53,1

    1.96212,7

    2.85716,1

    8913,3

    1.3444,7

    1.44614,5

    1.48213,6

    2165,2

    3667,9

    Variao1996/89

    36,0% 138,3% 45,6% 50,8% 2,5% 69,4%

  • 45REVISTA DO LEGISLATIVOabr-dez/99

    Por conta disso, o comportamen-to do emprego nacional poderia tam-bm estar revelando novidades sig-nificativas. Em parte, os empregosperdidos a partir de 1990 resulta-riam do movimento de reestru-turao das empresas decorrente daintroduo de novos fundamentoscompetitivos, marcados pelo au-mento da produtividade e pela mai-or insero externa, com alteraodos preos relativos e elevao deinvestimentos racionalizadores em,sobretudo, grande empresas.

    A adoo de diversos programasde gesto da produo e de reorga-nizao do uso e remunerao damo-de-obra, como diminuio de

    hierarquias funcionais,subcontratao de mo-de-obra,terceirizao de atividades, alianastecnolgicas, gesto participativa,remunerao e jornada de trabalhovarivel, entre outros, conformarianovos condicionantes demanda detrabalhadores. A expanso hetero-gnea de ocupaes entre segmen-tos organizado e no organizadopode ser um reflexo da alteraona demanda de mo-de-obra (verGrfico 8).

    No perodo 1985/90, o empre-go no setor industrial organizadocresceu a uma taxa mdia anual de0,6%, enquanto, no setor industrialno organizado, o emprego aumen-

    tou 8,2% a cada ano. No perodo1990/95, o emprego decresceu 0,2%ao ano no setor industrial organiza-do e 5,8% no setor industrial noorganizado.

    No setor tercirio, o empregono segmento organizado cresceua uma taxa mdia anual de 3,9%no perodo 1985/90 e de 1,3% noperodo 1990/95, enquanto o seg-mento no organizado registrouvariaes anuais do emprego de5,7% nos anos 1985/90 e de 6,2%nos anos 1990/95.

    Conforme o grfico anterior,pde-se observar que o setortercirio no organizado, que vinharegistrando gradual elevao na sua

    Quadro IPerfil do desemprego, 1989 e 1996 (em %)

    Itens 1989 1996

    Tipo de desemprego (PED/SEADE-DIEESE)Total 6,7 14,2

    Aberto 5,0 9,2

    Oculto 1,7 5,0

    - Precrio 1,1 3,7

    - Desalento 0,6 1,3

    Idade (PED/SEADE-DIEESE)10 a 14 anos 25,3 40,3

    15 a 17 anos 15,8 39,8

    18 a 24 anos 9,0 19,7

    25 a 39 anos 5,3 11,1

    mais de 40 anos 2,8 8,0

    Cor (PED/SEADE-DIEESE)Branca 6,1 12,5

    No Branca 8,1 17,7

    Sexo (PED/SEADE-DIEESE)Homem 5,7 12,6

    Mulher 8,3 16,4

    Posio na famlia (PME/IBGE)Chefe 1,7 3,4

    Cnjuge 1,6 3,8

    Filho 7,4 10,0

    Outros 4,3 7,3

    Escolaridade (PME/IBGE)menos de 5 anos 2,9 4,2

    5 a 8 anos 4,9 7,3

    9 a 11 anos 4,5 6,6

    mais de 11 anos 1,8 2,9

    Experincia profissional anterior (PED/SEADE-DIEESE)reemprego 5,8 11,3

    primeiro emprego 1,0 2,0

    Tempo de procura de trabalho (PED/SEADE-DIEESE)desemprego total 15 s 22 s

    desemprego aberto 13 s 18 s

    desemprego oculto 17 s 29 s

    Fonte: Fseade, Dieese e Fibge.

    S = semanas

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

  • 46 REVISTA DO LEGISLATIVO abr-dez/99

    participao relativa durante os anos80, passou, a partir de 1990, a am-pliar rapidamente a sua capacidadede gerao de ocupaes. Ao con-trrio do setor industrial no organi-zado, que, a partir de 1990, passoua apresentar menor participao re-lativa no total da ocupao.

    Nos segmentos ocupacionais or-ganizados, o comportamento do se-tor tercirio foi distinto do da inds-tria. O tercirio registrou leve cresci-mento na participao relativa nosanos 80 e decrscimo aps 1990,enquanto o setor industrial apresen-tou decrscimo constante desde 1979.

    Nota-se que a reestruturaoempresarial, ocorrida fundamental-mente nas grandes empresasestabelecidas no Brasil, tem com-prometido os empregos, geralmen-te os de melhor qualidade. Os pos-tos de trabalho gerados so, emmaioria, precrios.

    4.4. O ajuste no setor pblico

    Durante os anos 80, o setor p-blico foi um dos principais respon-sveis pela elevao ocupacional noPas. Diante do encolhimento dosempregos no setor privado decor-

    rente da recesso no perodo 1990/92, o setor pblico passou a regis-trar maior quantidade de empregosdo que a indstria de transforma-o, estimulado muito mais pelasaes nas esferas pblicas estadu-ais e municipais.

    Somente no perodo recente,passaram a ser tomadas medidasvoltadas para a compresso do totaldos gastos com pessoal no setorpblico, buscando compensar, emparte, a expanso das despesas comencargos financeiros e com demaisgastos promovidos, sobretudo, coma estabilidade monetria. A promo-

    Grfico 6Brasil: evoluo dos ndices do Produto Interno Bruto per capita e

    da Formao Bruta de Capital Fixo (1980 = 100%)

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    110

    80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96

    PIB per capita FBCF

    Fonte: Bacen e Fibge

    Grfico 7Brasil: evoluo dos ndices de produo, do emprego e do coeficiente de

    importao no setor industrial, 1989/95 (1989 = 100%)

    7090

    110130150170190210230250270290310330350370

    89 90 91 92 93 94 95

    Produo Coeficiente de Importao Emprego

    Fonte: MTb, Bacen e Fibge

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL

  • 47REVISTA DO LEGISLATIVOabr-dez/99

    o de rompimentos de contratosde funcionrios pblicos no est-veis, de programas de demissovoluntria, de fechamentos de or-ganismos estatais e de propostas dereforma administrativa parece indi-car uma firme inteno governamen-tal no sentido do enxugamento dopessoal.

    Alm disso, o prosseguimentodo programa de privatizao deempresas estatais tem contribudopara uma drstica reduo do em-prego regular no antigo setor pro-dutivo estatal. No setor bancrioestatal, h indicaes precisas decompresso tambm do empregoregular. Por conta disso, o setorpblico tem enfraquecido o seupapel decisivo na gerao de em-prego regular urbano no Pas, aocontrrio da experincia das duasltimas dcadas.

    A aprovao da reforma admi-nistrativa e da chamada Lei Camata,que impe limites ao gasto compessoal em relao ao oramentodo setor pblico, bem como as res-tries estabelecidas pela negocia-o das dvidas dos Estados e muni-cpios, tendem a colocar o empre-go como varivel de ajuste. O de-

    semprego promovido pelo setorpblico passa a ser uma novidadenos anos 90.

    5. Consideraes finais

    De acordo com as pginas ante-riores, observa-se que o mercadode trabalho brasileiro possui comocaractersticas marcantes nos anos90: (i) a presena de taxas de de-semprego superiores s dos anos80 (2,4 vezes superior), (ii) odesassalariamento e (iii) a geraode postos de trabalho no assalaria-dos (conta prpria e no remunera-dos). Essas caractersticas possibili-tam identificar o fortalecimento dossinais de desestruturao do merca-do de trabalho brasileiro.

    Com isso, pode-se perceber queo Brasil, sem ter completado o mo-vimento de estruturao do merca-do de trabalho, conforme a expe-rincia dos pases desenvolvidosque apresentava uma predominn-cia absoluta de empregos assalaria-dos regulares, passa a conviver, nadcada de 90, tanto com uma crisenos empregos regulares quanto comelevadas taxas de desemprego aber-to. Apesar das diferenas setoriais,

    regionais e estaduais, nas regiesmetropolitanas e no interior dos Es-tados federativos, no se consegueobservar comportamentos destoan-tes do quadro nacional.

    Quando h situaes regionaisdistintas, elas no configuram con-dies suficientes para reverter oucompensar as tendncias de maiordesemprego, desassalariamento egerao de ocupaes precrias ede baixa produtividade no planonacional. Essas situaes regionaisdiferenciadas devem estar associa-das aos distintos pontos de partidatanto no perodo de estruturao domercado de trabalho ocorridos en-tre as dcadas de 40 e 80 quantona atual fase de desestruturao domercado de trabalho que acontecenos anos 90.

    Sem medidas ousadas que signi-fiquem uma ateno especial aodesempregado, bem como umamudana substancial na conduodas polticas macroeconmicas, atendncia de significativa elevaodas taxas de desemprego tende ase manter neste final do sculo XX.Urge reverter as barreiras que hojeimpedem a expanso da ocupaono Brasil.

    Grfico 8Brasil: evoluo do emprego nos setores industrial e

    tercirio organizado e no organizado (em %)

    05

    101520253035404550

    79 81 85 88 90 92* 95*

    Secundrio Organizado Secundario No-Organizado

    Tercirio Organizado Tercirio No-Organizado

    Fonte: Fibge

    * Exclusive pessoas ocupadas para autoconsumo e no remuneradas com menos de 15 horas

    semanais de trabalho

    n

    ESTUDO TRAA O NOVO PERFIL DO DESEMPREGO NO BRASIL