01-Processo_Cautelar

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR

PROCESSO CAUTELAR

Dentro desse latifndio que o Processo Civil, aqui, no Intensivo II, eu cuido de alguns assuntos que so, basicamente, os seguintes: Cautelar, Procedimentos Especiais, Procedimento Sumrio e Provas em Espcie. Bibliografia: H trs boas obras no mercado sobre processo cautelar: Humberto Theodoro Jnior Ele tem uma obra especfica sobre isso que uma ampliao do Volume IV do Curso dele. Dinamarco Instituies de Direito Processual Civil Processo Civil Moderno da RT 1. GENERALIDADES SOBRE O PROCESSO CAUTELAR

Dentro desse tpico, eu quero fazer diversas consideraes, fundamentais para que eu possa desenvolver o contedo do que o processo cautelar. Quase todos os sistemas processuais do mundo, analisando os vrios ordenamentos, analisando o direito comparado, adotam aquela diviso do processo conforme a sua finalidade, de modo que ningum duvida que, nesses sistemas processuais civis modernos, os processos so divididos em trs grandes grupos: I Processo de Conhecimento Ele tem uma ndole eminentemente declaratria. A finalidade do processo de conhecimento que, alis, tem previso no Livro I, do CPC brasileiro, dizer quem est certo, dizer se o direito socorre ao autor, ou se o direito socorre ao ru. Todos os sistemas do mundo adotam, ao menos, um processo de conhecimento cuja finalidade de acertamento, de dizer quem est certo ou errado. Ns somos um dos poucos pases do mundo que usa a expresso processo de conhecimento, que a traduo literal do italiano processo di cognizione. Mas, tecnicamente, todos os pases de lngua latina, quando vo se referir a esse processo, usam a expresso processo declarativo (Portugal, Espanha, Argentina), que uma expresso muito mais prxima do que realmente o processo de conhecimento. II Processo de Execuo Tem previso no Livro II, do Cdigo de Processo Civil. E o processo de execuo a afirmao da soberania do Estado. E eu quero dizer o qu, com isso? que no adiantaria nada voc declarar quem est certo, dizer quem deve, dizer quem no deve, se voc no tivesse, disposto pelo sistema, mecanismos suficientes para poder satisfazer o direito previamente declarado. Em bom Portugus, seria o seguinte: o Estado seria um fraco, se ele no pudesse fazer com que as partes coercitivamente fossem compelidas ao cumprimento das decises. Por isso que o sistema prestigia, no Livro II, do CPC, um segundo tipo de processo, denominado Processo de Execuo, cuja finalidade nica e exclusiva a de satisfazer o direito previamente declarado.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR O que interessa neste momento e o que eu quero que voc perceba que, tanto no processo de conhecimento, quando no processo de execuo, que voc perceba a finalidade de ambos, que realizar o direito material. luz dessa idia de instrumentalidade do processo, luz dessa idia de processo como instrumento de obteno de tutela, voc tem que entender que, tanto o processo de conhecimento, quando o processo de execuo, esto preocupados com o direito material, com a aplicao do Cdigo Civil, do Cdigo Comercial, do Cdigo Tributrio, da legislao que voc quiser. porque eu no estou preocupado aqui com questes relacionadas ao prprio processo, mas sim com questes relacionadas ao efeito material. Vai ter sorte no processo de conhecimento, vai ter sorte no processo de execuo, quem tiver razo no direito material. E isso fundamental que voc perceba, porque exatamente a partir desse raciocnio, que eu posso desenvolver o ltimo tipo de processo que onde se concentram as nossas atenes, que o processo cautelar, que tem previso no Livro III, do CPC. III Processo Cautelar Diferentemente do processo de conhecimento e do processo de execuo, a cautelar no tem por finalidade realizar o direito material. A finalidade do processo cautelar eminentemente garantista. Garantista do qu? Garantia de um processo principal. A finalidade do processo cautelar a de garantir a eficcia de um processo principal. E exatamente porque no serve para tutelar o direito material, que ns podemos dizer que o processo cautelar no realiza o direito material. Enquanto na execuo e no conhecimento voc ganha se tiver o direito material, a cautelar no se preocupa se voc est certo ou est errado do ponto de vista do direito material porque ela no se preocupa em proteg-lo. Ela se preocupa em proteger, sim, um outro processo. Sem dvida alguma, o processo cautelar o mais processual dos processos, porque o processo que visa proteger o outro processo. Eu gosto muito de uma expresso, de uma metfora que eu fao, dizendo que o processo cautelar um verdadeiro processo-mordomo. Isso porque o processo cautelar s existe para servir ao processo principal, que pode ser um processo de execuo ou pode ser um processo de conhecimento. O processo cautelar no existe por si s. Ele sempre tem que estar atrelado proteo de um processo principal, exatamente porque o processo cautelar no objetiva realizar o prprio direito material, mas, sim, proteger a eficcia de um processo principal. Ns no podemos esquecer que existem certas situaes de risco no sistema, que fazem com que se torne necessria uma tutela de urgncia, para que no haja perecimento de bens ou de direitos. Toda vez que eu estiver na iminncia de sofrer um prejuzo, pela falta de uma tutela de urgncia, que comprometa um pouco do processo principal, surge esse processo cautelar. Para que eu possa encerrar as generalidades e passar para o tpico seguinte, eu fao um ltimo comentrio com vocs e a gente mata essa idia preliminar do que um processo cautelar, processo que sempre serve a um processo principal. E a ltima observao importante, que vocs devem anotar, a seguinte: a raiz, o bero do processo cautelar est na Constituio Federal. Seu fundamento da sua existncia um fundamento constitucional: art. 5, XXXV, da CF: A lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito. Na medida em que a cautelar objetiva exatamente tutelar essa situao de risco ao processo principal, diz-se, e a doutrina uniforme nesse sentido, que o processo cautelar tem bero constitucional.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR Eu falei que era a ltima, mas ainda h outra considerao a ser feita. Eu queria que voc percebesse o seguinte: essa diviso entre processo de conhecimento, processo de execuo e processo cautelar uma diviso acadmica, porque h uma tendncia muito forte do processo civil moderno de acabar com a autonomia desses trs processos, de forma que eu passe a ter, como j ocorre na execuo, a fuso dessas trs atividades (conhecimento, execuo e cautelar) em um nico processo. Essa uma tendncia que no tem volta. J fundiram a execuo e a etapa seguinte das reformas legislativas, j vem sendo trabalhado um projeto pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual para ser levado ao Congresso no sentido de acabar com a autonomia do processo cautelar, pelo menos com o processo cautelar incidental. Se j tem ao de conhecimento ajuizada, que o processo principal, se j tem ao de execuo ajuizada, que o processo principal, no tem sentido eu pedir uma cautelar de arresto, de sequestro, num outro processo. muito mais lgico que eu faa esse pedido no prprio conhecimento, na prpria execuo. Essa uma tendncia natural das coisas se desenvolverem. Em um futuro muito prximo, essa diviso entre conhecimento, execuo e cautelar, hoje ainda muito importante do ponto de vista acadmico, s vai servir academicamente porque, na prtica, o processo vai desenvolver, tanto atividades de execuo, como de conhecimento, como cautelares. 2. PROCESSO CAUTELAR SATISFATIVO?

Todo mundo j ouviu falar da tal da cautelar satisfativa. O que seria isso? Seria uma pretensa cautelar no interior do processo principal. Seria uma cautelar que no serviria de mordomo. Seria uma cautelar que ela, sozinha, seria capaz de satisfazer o direito das partes. Ela seria uma cautelar que no tutela direito processual, seria uma cautelar que tutela direito material. Alfredo Buzaid, que foi o principal relator do projeto do Cdigo de Processo Civil de 1973, tinha a seguinte sinuca de bico na mo: ele colocou as regras gerais de processo civil no livro I, colocou a execuo no livro II e a, o que aconteceu? Ele parou e falou: eu tenho ainda um monte de medidas que eu preciso tutelar, s que tem um pequeno detalhe: essas medidas, para serem tuteladas, tm que ser tuteladas por um processo mais rpido e o problema que se eu tenho o conhecimento no Livro I, se eu tenho a execuo no Livro II e se eu tenho as cautelares legtimas no Livro III, eu tenho que dar um jeito de criar para elas algo rpido. S que, na poca, a doutrina no era to evoluda a ponto de admitir um quarto tipo de processo, um processo anmalo, que no encaixava, nem no conhecimento, nem na execuo e nem na cautelar. Ento, qual foi a sacada do Buzaid? De escolher entre os trs tipos de processo que havia (conhecimento, execuo e cautelar legtimo) o mais rpido era o cautelar. O procedimento do cautelar, alm de ser mais enxuto, um procedimento que permite a anlise dos fatos atravs de cognio sumria, atravs de juzo de probabilidade. O juiz no precisa estar convencido absolutamente, basta que ele se convena parcialmente da verdade. Ento, o que o Buzaid fez? Eu quero que voc entenda que foi uma deciso que pode ser criticada hoje, mas, na poca, foi algo brilhante. Ele fez o seguinte: ele pegou um monte de medidas que no tinham absolutamente nada de cautelar, que no tinha onde encaixar no Cdigo e socou no Livro III, do CPC. E a razo de ele colocar todas essas medidas no cautelares no Livro III, do CPC, foi uma s: celeridade. Porque se fosse para ser rigoroso, essas medidas, que no so cautelares, mas que esto no Livro III por causa da celeridade, deveriam estar, ou no Livro I, ou no Livro II, ou no Livro IV, do CPC, que trata dos procedimentos especiais.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR Eu quero dar exemplo, s para voc entender a idia do Buzaid. Ele pensou na seguinte hiptese do direito material: o pai pega o menino para passear em uma visita e some com ele. O que a me faz para recuperar o filho? Busca e apreenso. Na real, esquece a pessoa! Ela tem um ttulo executivo? Tem! A guarda um ttulo executivo, no ? Tecnicamente, ela faria o qu? Execuo para entrega de coisa. Mas no fica bem falar que o moleque uma coisa. S que eu tenho que dar para ele uma medida que seja capaz de satisfazer o direito. O que o Buzaid fez? Tratase de uma execuo, s que para ser mais rpido, porque o menino est em situao de risco, eu coloco onde essa busca e apreenso? Processo Cautelar, Livro III. Agora, para e pensa: busca e apreenso do menor. Achou. Est na casa da av. O que o oficial de justia faz? Apreende e devolve para a me. O que ela faz depois? Nada! Ela j est plenamente satisfeita do ponto de vista material. Isso uma busca e apreenso? Isso uma cautelar satisfativa? Por que cautelar satisfativa? Porque no cautelar! Era para ser uma execuo! Mas est no Livro III por opo legislativa. Vou dar mais um exemplo muito bom o do art. 844, do CPC, que tem sido usado muito ultimamente na exibio. uma medida usada por aquele que, por questes contratuais ou legais, tiver direito de ver uma coisa ou um documento que est em poder alheio. Exemplo clssico so as exibies de extratos bancrios para ajuizamento dessas aes de caderneta de poupana. Art. 844 - Tem lugar, como procedimento preparatrio, a exibio judicial: I - de coisa mvel em poder de outrem e que o requerente repute sua ou tenha interesse em conhecer; II - de documento prprio ou comum, em poder de co-interessado, scio, condmino, credor ou devedor; ou em poder de terceiro que o tenha em sua guarda, como inventariante, testamenteiro, depositrio ou administrador de bens alheios; III - da escriturao comercial por inteiro, balanos e documentos de arquivo, nos casos expressos em lei. Que risco que voc tem de no receber os documentos que voc precisa ver? Tem risco desse documento sumir? No, o banco no vai colocar fogo no documento. S que voc tem urgncia para ver at para avaliar se vai ou no entrar com a ao. S que, tecnicamente, quando voc entra com uma ao de exibio, uma ao de obrigao de fazer (mostrar os extratos), e isso poderia ser tutelado pelo art. 461, do CPC. , s que aqui, eu preciso de um pouco mais de celeridade. Ento, o que o Buzaid fez? Inventou uma ao de obrigao de fazer mais rpida. Se eu colocar no Livro I, no funciona. Ento, vou coloc-la no Livro III, que funciona como processo cautelar. Ento, a exibio o seguinte: eu peo para olhar os extratos. O banco fala: os extratos esto aqui e voc no tinha saldo no perodo que voc quer reclamar. O que eu fao? Nada. Acabou. No fao nada depois. Os extratos no serviram para a ao principal. E qual a ao principal? No tem. A exibio satisfativa. No fica vinculada a uma ao principal, exatamente porque posso ver algo que me interessa, como posso ver algo que no me interessa. E esse o raciocnio. E deveria estar no processo de conhecimento por ser uma obrigao de fazer. Contudo, foi includa no Livro III por pura opo legislativa.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR Eu poderia ficar aqui o dia inteiro ficar dando exemplinhos de cautelares que esto no Livro III, para voc verificar que o Livro III uma verdadeira esbrnia. Esbrnia porque l tem um monte de medidas que no so cautelares. Para eu fechar e comear a arrumar o seu caderno, uma ltima observao. Esse problema da cautelar satisfativa acabou sendo prejudicado pela tutela antecipada que foi criada em 1994. Hoje, muitas coisas que eram pedidas como cautelares satisfativas, podem ser pedidas como tutela antecipada. Ento, o tema cautelar satisfativa acaba sendo um pouco prejudicado, embora a jurisprudncia ainda admita, por conta da possibilidade de eu obter medidas satisfativas a ttulo de antecipao de tutela. Sabe quando essas cautelares satisfativas couberam muito? Na poca do bloqueio dos Cruzados, no Plano Collor. O caboclo entrava com ao cautelar pedindo o desbloqueio dos valores bloqueados pelo Governo. Essa era uma cautelar satisfativa. Hoje, voc entraria (porque depois de 1994) com uma ao de obrigao de fazer com pedido de tutela antecipada. No tem sentido mais ajuizar uma cautelar satisfativa dessas. Esse comeo de Teoria Geral sempre mais problemtico, mas voc pode anotar o seguinte: A questo das cautelares satisfativas um falso problema. Isso porque, no Livro III, do CPC, por pura questo de convenincia legislativa, inseriram-se alm de processos genuinamente cautelares (como ao principal), processos de natureza diversa (execues, processos de conhecimento e medidas de jurisdio voluntria). So estes processos no-cautelares, que usam o procedimento cautelar em razo da sua sumariedade, que compem as jurisprudencialmente nominadas cautelares satisfativas (art. 844, do CPC, que fala da exibio; art. 861, do CPC, fala da justificao, art. 877, busca e apreenso do menor subtrado do guardio). Com o advento da tutela antecipada, a grande maioria das ditas cautelares satisfativas perdeu razo de existir. Era isso que eu queria colocar para voc e queria, mais do que isso, que voc se comportasse da seguinte maneira: tecnicamente, se te perguntarem: existe cautelar satisfativa? Tecnicamente, se cautelar, no pode ser satisfativa e se satisfativa, no pode ser cautelar. Cautelar tem sempre a funo de mordomo, de servir ao processo principal. Agora, jurisprudencialmente admite-se? Sim, principalmente nos processos mais antigos, principalmente quando no havia tutela antecipada. Para fechar esse tpico, eu vou fazer uma sugesto para voc aqui: em virtude de tudo o que eu disse, eu posso dividir as tutelas sumrias do direito processual civil brasileiro que tm por escopo a celeridade, em trs grupos.

I Tutela Cautelar Objetiva a celeridade. rpido e sumrio. Vocprecisa do arresto j, seno depois o cara vende as coisas e voc no vai poder executar; voc precisa da produo antecipada de provas j, porque seno a prova perece e voc no consegue ouvi-la, voc precisa da cautelar para ajuizar a ao principal.

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Tutela Antecipada (tutela satisfativa provisria) Tecnicamente, chamamos de tutela antecipada, mas o nome correto dela, no direito italiano, tutela satisfativa provisria. Por que tutela

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR satisfativa provisria? A tutela antecipada satisfaz, no satisfaz? Ela no enche a barriga? A tutela antecipada no antecipa os prprios efeitos que voc quer no final? Mas essa satisfao definitiva ou provisria? Provisria. Ela no pode ser mudada posteriormente? Ento, tecnicamente, a tutela antecipada deveria ser chamada de tutela satisfativa. E a tutela cautelar? uma tutela conservativa. Ela conserva a eficcia, conserva os bens, as pessoas, as provas, para uma futura ao principal. E tem mais uma categoria que indicada pela doutrina, que essa que a gente acabou de estudar:

III Medidas Cautelares Satisfativas (tutelas satisfativasautnomas) Vamos dar um nome decente para elas! Cautelar satisfativa, pelo amor de Deus! Cautelar satisfativa no existe! Tecnicamente, a terceira categoria das tutelas sumrias, que so essa bizarras, so as tutelas satisfativas, e no cautelares satisfativas autnomas. Tutelas satisfativas autnomas, que so as falsas cautelares satisfativas que se valem dessa celeridade. A doutrina mais moderna tem reconhecido a existncia dessa cautelares satisfativas porque a jurisprudncia reconhece, mas desde que dentro dessa classificao de tutela satisfativa autnoma. a maneira mais fcil de se admitir a existncia da cautelar satisfativa. Eu sou juiz no interior de SP, estava de planto e recebi uma tpica TSA (tutela satisfativa autnoma): pedido de transfuso de sangue de testemunha de Jeov. Quanto tempo voc tem para decidir isso? 24 horas. Determinada a transfuso, o que se faz depois disso? Nada! Ah, mas processo de conhecimento, obrigao de fazer. Ento, cita, produz prova e depois sentencia para ver o que acontece. Percebeu? 3. AO, PROCESSO, MEDIDA E LIMINAR CAUTELAR

Ao cautelar diferente de processo cautelar, que diferente de medida cautelar, que diferente de liminar cautelar.

Ao cautelar o direito pblico subjetivo de se pedir proteocautelar.

Processo o instrumento adequado para se pedir proteo cautelar. Medida cautelar Nada mais do que um provimento. o resultadodo que se pediu. o que o Estado me d quando eu peo a medida cautelar.

Medida

liminar cautelar A cautelar pode ser concedida liminarmente e, liminarmente, se verifica, simplesmente, no comeo do processo, ou ela pode ser concedida no final. A cautelar pode ser concedida, liminarmente, no comeo ou pode ser concedida no final, e quando digo no final, no momento sentena. E voc tem que

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR entender a diferena entre esses dois momentos porque tem relevncia prtica gigantesca. A cautelar tem que ser rpida, mas s vezes eu no consigo comprovar de plano a existncia dos requisitos da cautelar. Vou te dar um exemplo: eu entro com uma cautelar de arresto (apreenso judicial da coisa) para poder bloquear os bens do devedor. Se eu consigo provar, de plano, provar para o juiz que a pessoa est dissipando patrimnio, o juiz j me d no comeo a proteo cautelar, a medida cautelar, o provimento cautelar. Agora, pode ser que eu no prove que, de plano, a pessoa est dissipando os bens. Ento, durante o processo cautelar, eu posso provar isso. Nesse caso, o juiz no me d a cautelar liminarmente, no comeo, mas no fim, na sentena. Portanto, a liminar cautelar no diferente da sentena cautelar. O que muda entre ter a liminar no comeo ou ter no final , exclusivamente, no momento. Mas qual a repercusso prtica disso? Enorme! Existe um artigo, que vamos utilizar bastante, que o art. 806, que fala do prazo que voc tem para entrar com a ao principal, que o prazo de 30 dias. Quando voc vai olhar o art. 806, que fala do prazo para voc entrar com a ao principal, voc vai ver que ele diz que cabe em 30 dias contados da efetivao da medida cautelar. Quer dizer, que se o juiz d a liminar cautelar, ele d no comeo. Voc tem que entrar com a medida principal quando ainda estiver pendente a ao cautelar. Mas eu entrei com o arresto, o juiz no me deu a liminar, qual o prazo que eu tenho para entrar com a principal? Nenhum! Nenhum por qu? Porque ele ainda no me deu a medida. A cautelar inteira durou 10 anos, o juiz deu a sentena cautelar. A partir da comeam a contar os 30 dias. Eu recebi um processo no cartrio que falava assim: certifico e dou f que o autor no ajuizou a ao principal anulatria (era uma situao de protesto) no prazo do art. 806. E o despacho: Tendo em vista o no ajuizamento da ao principal no prazo do art. 806, julgo extinto o processo cautelar. E tem um detalhe: fui ver a liminar. Tinha sido indeferida. Se a liminar foi indeferida, no teve o comeo do prazo do art. 806. Por isso que fundamental a anlise do momento da concesso da cautelar liminar ou na sentena. Para eu fechar e voc entender por que eu coloquei essas quatro diferenciaes, porque essas expresses no podem ser usadas como sinnimas. muito comum a pessoa falar assim: eu obtive uma medida cautelar, eu obtive uma ao cautelar. Na verdade, medida cautelar o provimento que eu peo no processo quando eu exercito a ao. Repito: Atravs do exerccio da ao cautelar pelo processo cautelar, se obtm medida cautelar liminar ou ao final. Regra geral, as medidas cautelares so obtidas no processo cautelar, quer dizer, para obter medida cautelar, para obter tutela de garantia, para proteger um processo principal de conhecimento ou de execuo, eu uso o processo cautelar. Contudo, em carter excepcional ainda (no futuro ser a regra), o sistema autoriza a obteno de medidas cautelares fora do processo cautelar. Ento, quer dizer, s vezes d para ter medida cautelar sem ter processo cautelar. Isso raro, mas tem. Um exemplo o art. 273, 7, do CPC. Esse dispositivo, que depois estudaremos com mais detalhes, aquele dispositivo que fala que se a parte pedir a ttulo de tutela antecipada providncia que o juiz entenda que no antecipatria, que cautelar, o que o juiz deve fazer, dentro do

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR prprio processo de conhecimento? Dar a medida cautelar. Mas o juiz est dando, nesse caso, uma medida cautelar sem processo cautelar. Ele est dando uma medida cautelar incidentalmente ao processo de conhecimento. uma exceo regra de que as cautelares se obtm apenas atravs de processo cautelar. 7 Se o autor, a ttulo de antecipao de tutela, requerer providncia de natureza cautelar, poder o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em carter incidental do processo ajuizado. O outro artigo o capetgeno artigo 666, do CPC. Esse artigo fala do depositrio. Ele vai dizer no processo de execuo quem vai ser o depositrio do bem. Art. 666 Os bens penhorados sero preferencialmente depositados: (Alterado pela L-011.3822006) I - no Banco do Brasil, na Caixa Econmica Federal, ou em um banco, de que o Estado-Membro da Unio possua mais de metade do capital social integralizado; ou, em falta de tais estabelecimentos de crdito, ou agncias suas no lugar, em qualquer estabelecimento de crdito, designado pelo juiz, as quantias em dinheiro, as pedras e os metais preciosos, bem como os papis de crdito; II - em poder do depositrio judicial, os mveis e os imveis urbanos; III - em mos de depositrio particular, os demais bens. (Alterado pela L-011.382-2006) Ou seja, vai dizer com quem ficaro os bens enquanto a execuo corre. Antes, era o devedor que ficava com o bem, como depositrio, como regra. Hoje mudou. Hoje, fica em banco. Se no for dinheiro fica em poder de um depositrio judicial (que no existe!) ou em mos do depositrio particular que , normalmente quem o juiz nomeia. Agora, olha a grande novidade do sistema: 1 Com a expressa anuncia do exeqente ou nos casos de difcil remoo, os bens podero ser depositados em poder do executado. (Acrescentado pela L-011.3822006) A regra que s em ltima circunstncia que o bem fique com o devedor. Ou seja, opo ltima. Antes era a regra. Para e pensa: j que o devedor no vai ficar com o bem, o que cautelarmente bom fazer? Remover o bem dele. A remoo uma medida cautelar concedida no mbito do processo de execuo, sem processo cautelar. A remoo de bens tpico causo de medida cautelar concedida fora do processo cautelar. Vou dar mais um exemplo e encerro. O Supremo acabou com o depositrio infiel. Deixa o bem com o devedor para voc ver! Ele some com o bem e voc, o que faz? Chupa o dedo! Penhorou? Pede remoo porque se ele alienar, voc no tem o que fazer contra isso. A medida, antes, era a priso do depositrio infiel. Como isso no existe mais no ordenamento, mesmo do depositrio judicial, ento, a opo do sistema a remoo do bem.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR O ltimo exemplo de medida cautelar concedida dentro do processo de execuo e, portanto, uma medida cautelar que no concedida atravs de processo cautelar, o art. 653, do CPC que vai falar de arresto cautelar, mas o arresto cautelar executivo. Se o oficial de justia for a casa do devedor e no encontrar o devedor, mas encontrar bens, o que ele faz? Ele j deve arrestar tantos bens quanto bastem para a execuo. Art. 653 - O oficial de justia, no encontrando o devedor, arrestar-lhe- tantos bens quantos bastem para garantir a execuo. O art. 653 cautelar de arresto, medida cautelar concedida dentro do processo de execuo. Esse o motivo pelo qual eu quis fazer diferena entre processo, medida, ao e liminar cautelar. 4. A SUJEIO DO PROCESSO CAUTELAR AO LIVRO I DO CPC

Isso significa, basicamente, o seguinte: que o Livro I funciona como verdadeira Parte Geral do direito processual civil brasileiro. Ento, tudo que no for disciplinado no Livro III, do CPC, aplicam-se as regras do Livro I. Vou dar dois exemplos muito simples:

Citao No Livro III, do CPC, no tem uma nica regra sobre a citao. Como no h regra sobre citao, voc aplica o art. 222 e ss. do CPC. Coisa julgada - Agora, olha como muda. No Livro III tem um artigo que cuida de coisa julgada, que o art. 810. Trata da coisa julgada no processo cautelar. Art. 810 - O indeferimento da medida no obsta a que a parte intente a ao, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no procedimento cautelar, acolher a alegao de decadncia ou de prescrio do direito do autor.

Tem previso de coisa julgada no processo cautelar? Sim. Ento, se tem essa regra no Livro III, no se aplica o art. 472, do CPC. O que tem no Livro III, no se aplica o Livro I. O que no tem no Livro III, se aplica o Livro I. 5. CARACTERSTICAS DO PROCESSO CAUTELAR 5.1. Autonomia

O processo cautelar tem individualidade prpria. O que eu quero dizer com isso? Que ele tem um procedimento prprio, que ele tem uma finalidade prpria. Quando se diz que h individualidade, quer se dizer que tem procedimento prprio, uma individualidade, uma finalidade prpria. um processo, como qualquer outro,

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR com petio inicial, citao, provas e sentena. um processo como qualquer outro e no um apndice dos outros demais processos. Alm disso, bom destacar que, para provar que o processo cautelar autnomo, ateno, o resultado do processo cautelar no afeta o da ao principal. Olha que interessante: eu posso usar uma medida de produo antecipada de provas, e ouvir uma testemunha que est morrendo e ela falar assim: no sei nada. Ganhei a produo antecipada de provas, perdi a principal (a testemunha no sabia nada!). isso porque o raciocnio simples: uma uma, a outra a outra. Excees (h medidas cautelares que no so autnomas) So as que eu mencionei no item 3. eu falei de algumas cautelares que no so dadas em processo cautelar. Falei principalmente do art. 273, 7, portanto, essa regra da autonomia j comporta excees. Quais so elas? As cautelares que so concedidas no bojo dos demais processos e eu j enumerei as excees: art. 273, 7, art. 653, art. 666, enfim, tudo o que eu coloquei no final do tpico 3, voc copia aqui. So as hipteses que permitem ao juiz dar cautelares no prprio processo de conhecimento com pedidos a ttulo de tutela antecipada. 5.2. Acessoriedade

Alm de autnomo, diz-se que processo cautelar acessrio. E isso est expresso no art. 796, 2 parte do CPC: Art. 796 - O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste sempre dependente. Apesar de ter autonomia, o processo cautelar acessrio. Preste ateno. Isso tem duas consequncias prticas importantssimas.

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Como regra, a cautelar distribuda por dependncia ao principal, ficando com ela apensada. Isso est na 2 parte do art. 800, do CPC: Art. 800 - As medidas cautelares sero requeridas ao juiz da causa; e, quando preparatrias, ao juiz competente para conhecer da ao principal.

)

A segunda consequncia natural: a sorte da ao principal alcana o que decidido na cautelar. Se eu ganho a principal, eu ganho a cautelar, se eu perco a principal, eu perco a cautelar. No o contrrio. Se eu perco a cautelar, eu posso ganhar a ao principal. Ou seja, o acessrio segue o principal, no o principal segue o acessrio. Dupla instrumentalidade

5.3.

Essa caracterstica foi observada por um italiano, Calamandrei. Para a teoria predominante no Brasil, que a teoria da instrumentalidade do processo, considerando que o processo instrumento do direito material, o processo cautelar um instrumento da tutela do outro processo. Se o cautelar serve para tutelar um

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR outro processo, diz-se que o cautelar um instrumento que protege um outro instrumento. Tem dupla instrumentalidade, na medida em que um instrumento que protege um outro instrumento. um processo que protege um outro instrumento dito principal. Calamandrei foi o primeiro a cunhar essa expresso. Depois dele veio um monte de copio, falando de instrumentalidade ao quadrado, instrumentalidade potenciada ao quadrado, enfim, muita babao. 5.4. Urgncia

De todas as caractersticas, no meu entender, a que mais caracteriza a cautelar. S cautelar uma medida se tiver o tal do periculum in mora. Se no tiver o tal do periculum in mora, a medida pode ser qualquer coisa, menos medida cautelar. Por exemplo, voc tem umas medidas no CPC que no tm urgncia nenhuma e, consequentemente, no podem ser consideradas processos cautelares. Um tpico caso desses a tal da medida de exibio. Vo botar fogo no documento? Se rasgar cautelar. Mas, como regra, voc no tem risco para o perecimento da coisa. E se no tem risco para o perecimento da coisa, no pode ser considerada cautelar. Aqui importante que voc faa a seguinte distino: muitas pessoas costumam falar que as tutelas de urgncia so de dois tipos, de um lado a tutela cautelar e, de outro, a tutela antecipada. Voc j deve ter ouvido isso: tutela de urgncia, tutela cautelar, tutela antecipada. Ela s tutela de urgncia, numa hiptese, que a do art. 273, I. Eu vou explicar isso um pouco melhor. O que eu quero dizer o seguinte: pode-se dizer que a tutela de urgncia tutela cautelar ou tutela antecipada. Voc quer falar que a tutela de urgncia tutela cautelar ou tutela antecipada, pode. S que tenha em mente, apenas uma observao: nem toda tutela antecipada de urgncia. Existe tutela antecipada que no de urgncia. Voc acompanha comigo o art. 273 e vai verificar o seguinte: Art. 273 - O juiz poder, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequvoca, se convena da verossimilhana da alegao e: I - haja fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propsito protelatrio do ru. Inciso I Isso aqui periculum in mora. Essa tutela antecipada a cautelar, tutela de urgncia. Agora, olha o inciso II: Inciso II aqui no tem risco algum de perecimento da coisa. Eu sou milionrio, emprestei uma casa para o ru, que comea a usar um monte de medidas para no me devolver a casa. Eu tenho umas 100 casas. S que como o ru est abusando do direito de defesa, o juiz me d a tutela antecipada, mandando ele devolver minha casa. O que vocs tm que entender o seguinte: no tem, nessa hiptese de tutela antecipada, o periculum in mora. Se no tem periculum in

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR mora, voc no pode falar que essa uma hiptese de tutela antecipada como tutela de urgncia. Por isso, quer falar que alm a cautelar a tutela antecipada tambm tutela de urgncia, pode falar, mas pelo menos explicita que s um tipo de tutela antecipada, que a tutela antecipada do art. 273, I, do CPC, porque a do 273, II, no tutela de urgncia. 5.5. Sumariedade da cognio

Para explicar o que isso, eu tenho que tentar te convencer que a cognio nada mais do que a matria objeto do conhecimento do julgador. Quer dizer, o que voc leva para ele, o que ele pode apreciar, o que chamamos de cognio judicial. No Brasil, talvez no mundo, quem melhor desenvolveu esse tema foi um professor da USP, um dos maiores processualistas do Brasil, o professor Kasuo Watanabe. dele a melhor explicao para cognio. Interpretando o que ele diz, tem-se que a cognio no processo civil pode ser dividida em dois planos:

) )

Pode ser encarada num plano horizontal e Pode ser encarada num plano vertical.

No plano horizontal, se analisa a extenso, a amplitude da cognio. Isso quer dizer que ele vai apontar para a gente que no plano horizontal, eu vou investigar quais so as matrias que o juiz pode apreciar no processo. Voc tem um processo. Se o juiz puder, dentro desse processo, apreciar, ouvir, investigar, todas as matrias, ver tudo, ouvir tudo, apreciar tudo e voc puder alegar o que voc quiser, a cognio, nesse caso, considerada, no plano horizontal, uma cognio plena, ou plenria, como dizem alguns. A maioria dos processos de conhecimento so de cognio plenria. s vezes, o sistema, por questes de poltica legislativa, no deixa voc alegar tudo. E se voc no pode alegar, o juiz no pode apreciar. Nas hipteses em que se excluem matrias da cognio judicial, diz-se que a cognio limitada. Quer dizer, voc no pode alegar tudo. Voc s pode alegar algumas matrias e, consequentemente, o juiz tambm s vai poder apreciar algumas matrias. A consignao em pagamento um bom exemplo. Se, eventualmente, o credor for contestar a consignao em pagamento, ele s pode alegar que no recusei o pagamento ou que no recusou injustamente. Ele no pode alegar outros assuntos que no esto no art. 896 porque, se fizer isso, o juiz faz o qu? Nem aprecia. Outro exemplo muito legal de cognio limitada o do art. 475-L, do CPC, que fala da impugnao, dos embargos execuo do ttulo judicial. a maneira como o devedor se defende de um ttulo judicial e o devedor s pode alegar as matrias que esto no art. 475-L: Art. 475-L. A impugnao somente poder versar sobre: I falta ou nulidade da citao, se o processo correu revelia; II inexigibilidade do ttulo;

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR III penhora incorreta ou avaliao errnea; IV ilegitimidade das partes; V excesso de execuo; VI qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigao, como pagamento, novao, compensao, transao ou prescrio, desde que superveniente sentena. Se tiver qualquer matria fora disso, o que acontece? O juiz no aprecia. Esse o raciocnio da cognio da tutela horizontal. Pela lgica, qual processo mais rpido? Tutela limitada ou plena? O juiz tem menos coisa para apreciar, processo mais rpido. O juiz tem mais coisa para apreciar, processo mais lento. No plano horizontal funciona assim. S que preciso verifica o plano vertical ainda. O professor Kasuo Watanabe ensina, com muita preciso, que no plano vertical eu vejo a profundidade da anlise das matrias. A lei diz que eu s posso alegar caneta azul, caneta preta e caneta vermelha. Outras coisas so proibidas. Quando eu levo as canetas para o juiz conhecer, o juiz tem que analisar com muito cuidado todas as canetas para poder dar uma deciso. Nesse caso, quando as canetas so analisadas com todo cuidado, diz-se, no plano vertical, que a cognio exauriente porque dentro do que eu podia analisar, eu analisei tudo. A lei me diz que eu s posso alegar essas trs canetas. O juiz faz uma anlise superficial das canetas. No aprofundou na anlise da substncia das canetas. Ou melhor, ele no aprofundou na anlise das matrias que voc alegou. Nesse ponto, se diz que a anlise, no plano vertical, no foi aprofundada, que a cognio foi sumria, superficial. E aqui que vem o pulo-do-gato do processo cautelar e importantssimo que voc entenda esse pulo-do-gato. Porque, tanto no processo cautelar, quanto na tutela antecipada, quanto na tutela satisfativa autnoma (lembram do exemplo da transfuso de sangue? Da busca e apreenso de menor? Do transplante de corao? Do arresto, em que se voc no bloquear os bens, no adianta entrar com execuo depois?), acima de tudo, quando o juiz vai analisar esses fatos, ele no analisa de modo exauriente. Ele analisa de modo superficial, de modo sumrio. O que eu ganho quando analiso de modo sumrio, de modo superficial? Eu ganho em celeridade. Se eu ganho em celeridade, a tutela cautelar tem como caracterstica a sumariedade da cognio, tanto quanto tm a tutela antecipada e a tutela satisfativa autnoma. Se perguntarem em prova, discorra sobre a Teoria da Cognio no processo civil brasileiro, para voc falar sobre o qu? para voc falar sobre essas duas vertentes, horizontal e vertical e fazer a diferenciao entre cognio horizontal, que pode ser limitada ou plena. E no plano vertical, que pode ser sumria, superficial ou exauriente. E voc trabalha essas duas nuances, de modo a imprimir mais rapidez ou mais lentido no processo, porque dentro dessas duas nuances, eu quero que voc perceba o seguinte: quanto mais sumrio no plano vertical, mais limitado no plano horizontal e quanto mais eu aumento as matrias alegveis no plano horizontal e aprofundo o conhecimento, eu tenho um processo mais lento. S que, em contrapartida, o que eu ganho? Mais segurana. assim que funciona a tcnica da cognio no Processo Civil Brasileiro.

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5.6.

Inexistncia de coisa julgada material como regra

O que eu quero dizer com isso? Nos termos do art. 810, do CPC, muito simples de se compreender, no processo cautelar no tem coisa julgada. Ele apenas para tutelar uma situao de risco, j que a sorte vai ser decidida na ao principal. Ento, nada impede que eu perca a cautelar e ganhe a principal, ou que eu ganhe a cautelar e perca a ao principal. Se eu perder a cautelar, que o indeferimento da medida, no obsta que a parte intente a ao e nem influa no julgamento desta. Art. 810 - O indeferimento da medida no obsta a que a parte intente a ao, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no procedimento cautelar, acolher a alegao de decadncia ou de prescrio do direito do autor. E, meus caros, por que no nosso sistema no h coisa julgada no processo cautelar? Por causa do seguinte: toda vez, qualquer processo em que a cognio for sumria, for superficial, no tem coisa julgada. Essa uma regra que no tem exceo. Todo processo em que a cognio sumria, no tem coisa julgada. No tem coisa julgada por que? Porque o raciocnio muito simples: se eu deixo o juiz fazer juzo de probabilidade (olhar un passant), quando eu permito que o juiz julgue com base na aparncia, quando eu permito que o juiz faa juzo de aparncia, eu ganho em celeridade, mas eu perco muito na segurana. Quer dizer, a possibilidade de o juiz fazer besteira gigantesca porque o juzo foi de aparncia, de probabilidade. Se assim, qual foi a opo do sistema? Permitir a reverso da besteira e no admitir, nesse caso, a coisa julgada. Algo que ele no faz quando a cognio exauriente e plena. Aqui, eu perco muito em celeridade, mas ganho em segurana. O que o sistema faz? Bate o carimbo, ou seja, coisa julgada. Exceo O nosso sistema excepciona e diz que se o juiz, na cautelar, acolher a alegao de prescrio ou decadncia, e voc sabe que prescrio pode ser de ofcio desde a reforma de 2006, coisa julgada de cautelar. Algum me d a razo pela qual o legislador meteu a coisa julgada quando o juiz reconhecer a alegao de prescrio ou de decadncia? natural. Pensa: voc entra com um arresto de um cheque prescrito. O juiz fala: voc at tem direito a um arresto, mas o cheque est prescrito. Mas cautelar no faz coisa julgada. A eu pego o mesmo cheque e entro com uma ao de execuo, o resultado ser, de novo, o reconhecimento da prescrio. Entenderam que vai dar na mesma? Se eu tentar o arresto de um cheque prescrito e depois entrar com execuo, o resultado ser idntico. Ento, quando for prescrio e decadncia, por questo de economia processual, nosso sistema faz o qu? Ele autoriza a ?, mas apenas no caso de acolhimento da alegao de prescrio e a alegao do acolhimento de decadncia. (Intervalo) 5.7. Provisoriedade ou precariedade

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR Nada impede que as medidas cautelares sejam consideradas precrias porque elas vo durar s at o julgamento da ao principal. A idia, portanto, que se o juiz, na hora de julgar a ao principal, perceber que a parte no tem o direito, a cautelar automaticamente est prejudicada. o que diz a 1 parte do art. 807, do CPC: Art. 807 - As medidas cautelares conservam a sua eficcia no prazo do artigo antecedente e na pendncia do processo principal; mas podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas. A cautelar conserva sua eficcia enquanto durar o processo principal. Ento,a cautelar tem hora certa para morrer. Quer hora essa? Na hora que julgarem o principal, que cognio exauriente, profunda. Portanto, a stima caracterstica, nada mais do que est explcito na 1 parte do CPC.

5.8.

Revogabilidade e a mutabilidade

Tm previso no art. 807, 2 parte: Art. 807 - As medidas cautelares conservam a sua eficcia no prazo do artigo antecedente e na pendncia do processo principal; mas podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas. Se cognio sumria, mesmo antes de julgar o principal, o juiz pode perceber que os fatos no so bem aqueles, que errou, o ru pode contestar a cautelar e mostrar que no havia um juzo de probabilidade positivo. Ento, a segunda parte clara: diz que pode ser modificada ou revogada a qualquer tempo, exatamente porque o juzo sumrio, no tem coisa julgada. Nessa caracterstica eu quero que voc perceba o seguinte: revogao revogao, revogar cassar. Agora, a modificao, a mutabilidade, como caracterstica da cautelar pode ser uma mutabilidade quantitativa quanto pode ser uma mutabilidade qualitativa. O aspecto da mutabilidade que pode ser operacionalizada pelo juiz qualitativo e quantitativo. Exemplo de mutabilidade quantitativa, caso prtico da minha experincia como magistrado: a me pedia separao de corpos, pediu para sair de casa e o marido ficou em casa com os filhos. O marido, como no podia agredir a me, que estava fora, agredia os filhos. Ento, aqui, a medida cautelar vai ser mudada qualitativamente, porque em vez de ser uma separao de corpos apenas da mulher, vai se tornar tambm uma separao de corpos com guarda provisria em favor da mulher. Mudou a qualidade da medida cautelar concedida. Eu tive um caso bizarro: uma pessoa que tinha um arresto de bens, um carro bloqueado e o cara ganhou na mega-sena. No tinha mais porque manter o carro bloqueado, j que passou a ter bens.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR 5.9. Fungibilidade

Fala-se muito em fungibilidade. No que consiste? a capacidade de algo errado ser recebido como certo. No mbito das cautelares, incide a plenos pulmes a fungibilidade. Com isso, quero dizer se voc pede uma medida cautelar e o juiz entende que aquela cautelar no adequada para aquela proteo desejada, o juiz pode, simplesmente, receber uma medida por outra e dar a proteo jurdica correspondente. Isso algo extremamente comum no mbito das cautelares e isso, nada mais do que a aplicao do princpio da fungibilidade. muito comum se ter pedido de cautelar para bloquear bem no DETRAN. O que isso? Para impossibilitar a transferncia do veculo, s que essa impossibilidade apenas do cadastro no DETRAN. A pessoa consegue vender o veculo do mesmo jeito, mesmo estando bloqueado no DETRAN. O que faz voc vender o veculo no o DETRAN, mas o certificado de transferncia, aquele documento que voc tem no carro, voc vai no cartrio e passa adiante. Concorda que em determinadas circunstncias nada impede que voc pea o bloqueio no DETRAN e o juiz mande apreender o certificado? Repare que voc pediu uma coisa e o juiz te deu outra. Por que ele faz isso? Exatamente porque a pesar de a medida pedida ser uma cautelar, ela no uma cautelar adequada para os fins que se pretende porque se voc pretende impedir a venda, voc no consegue isso atravs do bloqueio no Sinetran, voc s consegue com a apreenso do certificado ou com a apreenso do prprio veculo em determinadas circunstncias. Um parntesis, apenas. Eu tenho um entendimento (e j escrevi sobre isso vrias vezes) q eu a doutrina mais moderna tem dito que o princpio da fungibilidade princpio geral do processo e que, portanto, no se aplica s a algumas circunstncias. O entender da doutrina mais moderna no sentido de que o princpio da fungibilidade se aplica em todas as hipteses. O que significa dizer que, qualquer tipo de processo, qualquer tipo de providncia, se voc pede a errada, nada mais razovel que o juiz receba o errado como certo. Se voc, tecnicamente, entrar com a impugnao ao cumprimento de sentena (defesa do devedor na execuo), voc entrar com embargos execuo, se o juiz for muito rigoroso, o que ele tem que fazer? Indeferir porque voc usou a medida inadequada. Tem cabimento isso? Se voc adotar essa idia da fungibilidade como princpio geral do direito, o que o juiz faria? Receberia os embargos como impugnao. Mas essa idia de fungibilidade uma teoria ainda em construo. Embora moderna, est em construo. Esse papel do juiz, de corretor universal dos erros, est sendo desenvolvido. De qualquer modo, isso muito legal para voc gastar numa prova oral, numa prova escrita. Mas para os concursos mais conservadores, preciso listar as hipteses que o sistema prev tranquilamente, sem controvrsia, a fungibilidade: uma, acabamos de ver: cautelar, outra o art. 273, 7 (fungibilidade da tutela de urgncia). Ento, as prprias cautelares, tutela antecipada e cautelar, recursos e possessria (920, do CPC). Esses so os quatro institutos que ningum nega que tm fungibilidade:

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Cautelares Tutelas de urgncia: tutela antecipada e tutela cautelar Recursos Possessrias

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6.

PODER GERAL DE CAUTELA DO JUIZ (arts. 798 e 799, CPC)

tema muito interessante. Primeiro vamos entender a idia! Um dos artigos mais inteligentes da histria do processo civil moderno que, na verdade uma cpia mal acabada da idia do Calamandrei que fez isso na Itlia, o tal poder geral de cautela do juiz. A idia do legislador foi, basicamente, a seguinte: no sou eu, legislador, capaz de imaginar toda situao de risco que pode acontecer. No h como listar todas as nuances da vida moderna para saber quando eu vou precisar criar medida cautelar para proteger o direito da parte. Ento, como no sou capaz de imaginar todas as hipteses de risco que podem acontecer, hipteses em que eu preciso de um processo para garantir a eficcia de um processo de conhecimento ou de execuo, eu vou usar uma frmula genrica. Ento, toda vez que, voc, juiz, encontrar uma situao de risco que merea proteo, voc est autorizado a criar, a dar uma medida cautelar correspondente e adequada para tutela daquele bem ou direito. Ento, o poder geral de cautela, nada mais do que a entrega pelo legislador ao magistrado do poder de, literalmente, criar uma medida de urgncia. Por isso, e agora sim ns podemos comear a anotar, o conceito de poder geral de cautela. 6.1. Conceito

Trata-se de um poder supletivo ou integrativo de eficcia da atividade jurisdicional, com lastro constitucional (art. 5, XXXV) que permite ao juiz a concesso de medidas cautelares que no foram expressamente previstas pelo legislador. No existe, graas ao 798, no Brasil, no sistema, nenhuma situao de risco que no seja coberta pelas cautelares. E por que isso? Porque toda vez que o legislador no previu, a lei diz que o juiz pode proteger. Esse o conceito de poder geral de cautela do juiz. O poder geral de cautela do juiz o fundamento para a existncia daquilo que chamamos em doutrina de cautelares inominadas ou cautelares atpicas, medidas no previstas pelo legislador, mas concedidas no dia-a-dia forense. Quais so os exemplos mais tradicionais de cautelares inominadas e atpicas que temos? A principal, que todo mundo conhece a sustao de protesto. Ela no tem previso em nenhum dispositivo legal e, na verdade, a sustao do protesto consiste no qu? Consiste na suspenso dos efeitos do protesto (inscrio do nome do devedor no cadastro de maus pagadores, constituio da mora, etc.), at que se julgue ao principal em que se vai declarar declarara a nulidade do ttulo protestado. A sustao do protesto no tem previso legal, mas felizmente, o nosso sistema admite com base no art. 798, do CPC. Cautelar inominada que existe graas ao poder geral de cautela de juiz, a cautelar de suspenso das deliberaes sociais. Ento, voc tem um vcio de quorum, no conseguiu convocar os 2/3 regulamentares para votar determinada

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR matria. Mesmo assim, houve a votao. Para suspender os efeitos daquela deliberao, at anular a assemblia, voc entraria com essa cautelar, que no tem previso legal. H quem sustente que todas as cautelares tpicas (previstas pelo legislador) poderiam ser extintas, bastando que se mantivesse o poder geral de cautela do juiz. No seria muito mais fcil do que o legislador ficar prevento, antevendo, arresto, sequestro, arrolamento, cautelar. Seria mais simples: juiz, tem risco, proteja, no importa como far isso. Muita gente j sustenta isso. 6.2. Providncias

O art. 799, do CPC, o artigo que fala das providncias que o juiz pode tomar abem do interesse da parte, com base no seu poder geral de cautela: Art. 799 - No caso do artigo anterior, poder o juiz, para evitar o dano, autorizar ou vedar a prtica de determinados atos, ordenar a guarda judicial de pessoas e depsito de bens e impor a prestao de cauo. A doutrina interpreta que, graas generalidade dessa expresso determinados atos esse rol exemplificativo. Quer dizer, alm de todos os verbos que esto no art. 799, o juiz poderia ordenar qualquer outra medida no contemplada no dispositivo para poder conceder tutela cautelar para a parte. Sabe o que voc poderia ordenar com base no art. 799? Remoo de pessoas e coisas. Vou contar uma que estou aprontando com base no art. 799. nessas cautelares de exibio de documento, voc no pode impor multa, por conta de uma smula do STJ que diz que quando voc manda o banco apresentar os documentos, voc no pode fazer sob pena de multa. Voc tem que falar que sob pena de presumir verdadeiro o que o autor falou. Entenderam o que eu quis dizer? O problema que a pessoa quer calcular o que o banco lhe deve, mas no sabia qual era o saldo. Como vai calcular o valor que o banco me deve se eu no sei qual o saldo? Como calcular o valor da dvida, se eu no sei quanto eu tinha de saldo. A, no d. Eu preciso do documento. Busca e apreenso, no est no art. 499. Mas hoje tudo digitalizado. Como que voc apreende? Est na rede central do banco. Ento, qual a maluquice que d para fazer com base no art. 799? Apresentao do extrato, sob pena de fechamento da agncia. Forte a medida, n? Mas funciona! 6.3. Casustica do poder geral de cautela do juiz

So ocorrncias jurisprudenciais que tm despencado em concursos pblicos. A importncia do poder geral de cautela do juiz tamanha que, em volta do regramento do art. 798 e do art. 799, foram construdos verdadeiros institutos novos de direito processual civil, sob o fundamento de que eles existem por causa do poder geral de cautela do juiz. So quatro ou cinco questes da jurisprudncia, mas com relevncia prtica.

Por conta do poder geral de cautela do juiz, tem se admitido umnegcio chamado traslatio judicis que, basicamente, significa o

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR seguinte: com base no poder geral de cautela do juiz tem se admitido a concesso de medidas cautelares por rgo absolutamente incompetente. Isso se chama traslatio judicis. O negcio o seguinte: regras de competncia so criadas para facilitar a administrao da justia porque o Judicirio um s, as divises so meramente administrativas. Acontece que, s vezes, h situaes de risco que tm proteo constitucional (art. 5, XXXV), e, nessas horas, possvel que voc postule medida de urgncia perante juiz absolutamente incompetente que, aps concedida ou negada a medida (e isso importante), encaminha o processo cautelar para o juiz competente. O juiz, mesmo absolutamente incompetente, socorre a situao de risco, apaga a fogueira Nesses 11 anos que eu tenho de magistratura, aconteceu uma coisa muito interessante, logo que eu comecei minha carreira. Um advogado de Sergipe chegou para mim, querendo despachar um arresto. Era um arresto de 17 avestruzes. E o processo de execuo j estava correndo em Sergipe, s que o irmo do ru era o escrivo do cartrio e a informao iria vazar se o arresto fosse distribudo l. Disse ele: se eu for distribuir o arresto l, para o juiz de l mandar precatria para SP para depois cumprir, os avestruzes j picaram, ento, vou despachar com o Sr. Sem problemas. Eu deferi o arresto. O interessando providencia os meios (caminhes, etc.) e o oficial de justia foi l correr atrs dos avestruzes. Depois que deferi, remeti os autos para Sergipe e o juiz de l vai fazer o qu? Ele pode cassar a liminar, mandando devolver, ou ratificar a medida. E pode isso com base no poder geral de cautela

O segundo exemplo da casustica a questo da concesso deefeito suspensivo a recursos que no o tenham. Isso feito atravs das cautelares inominadas, atravs do poder de cautela do juiz. Vamos tentar entender isso aqui. Vamos comear pela apelao. O art. 520, do CPC, aquele que fala dos efeitos da apelao, dizendo que a apelao, como regra, tem efeito devolutivo e suspensivo. E tem um projetinho na boca l para sair que vai acabar com o efeito suspensivo da apelao. O juiz que vai decidir, no caso concreto, se d ou no. O regime vigente , ainda, que a apelao ter duplo efeito. S que o prprio CPC estabelece hipteses em que a apelao no vai ter efeito suspensivo. Art. 520 - A apelao ser recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Ser, no entanto, recebida s no efeito devolutivo, quando interposta de sentena que: I - homologar a diviso ou a demarcao; II - condenar prestao de alimentos; III - julgar a liquidao de sentena; IV - decidir o processo cautelar; V - rejeitar liminarmente embargos execuo ou julg-los improcedentes; VI - julgar procedente o pedido de instituio de arbitragem. VII confirmar a antecipao dos efeitos da tutela;

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR O problema que nessas situaes do art. 520, que no tem efeito suspensivo, nosso legislador deixou uma porteirinha aberta no art. 558: Art. 558 - O relator poder, a requerimento do agravante, nos casos de priso civil, adjudicao, remio de bens, levantamento de dinheiro sem cauo idnea e em outros casos dos quais possa resultar leso grave e de difcil reparao, sendo relevante a fundamentao, suspender o cumprimento da deciso at o pronunciamento definitivo da turma ou cmara. Ento, o relator poder dar, em determinados casos, dar efeito suspensivo para os recursos. S que ele aqui est falando do agravo. Ele diz que o relator, ao receber o agravo, pode conceder efeito suspensivo. Mas o que tem a ver com apelao? O que tem a ver est no nico: Pargrafo nico - Aplicar-se- o disposto neste artigo as hipteses do Art. 520. Ou seja, o que est dizendo? No tem efeito suspensivo? O relator pode dar, mesmo na apelao, porque ele manda aplicar ao RT. 558, que do agravo, tambm para as hipteses do art. 520. Ento, ele no fez o exame de DNA na investigao de paternidade. O juiz no quis nem saber: aplicou o art. 230 e 231 e o CC, mandou a smula do STJ e disse: no fez? papai. E o juiz fixa alimentos. Ele vai apelar. Com ou sem efeito suspensivo? Sem. Enquanto correr a apelao, vai ter que pagar. Isso no d nada. Em MG, em trs meses julgam uma apelao, no RJ, em quatro meses. Em SP, 4 anos, 5 anos. Isso quebra o cara. Ento, eu vou ter que dar efeito suspensivo a essa apelao. E quem d? O relator. Como eu peo para o relator? Cautelar inominada. Entendeu o raciocnio? Eu quero que voc d para mim um efeito suspensivo em um recurso que no tem. Voc pode fazer a gentileza? Eu no fui no exame mdico porque minha av morreu e o juiz nem quis saber porque no fiz. Eu quero fazer o DNA. Esse moleque no meu filho. esse o raciocnio que eu quero que vocs tenham. Alguns autores entendem que esse requerimento poderia ser por mera petio. Eu iria at o relator do tribunal e apresentaria uma petio pedindo que ele desse o efeitos suspensivo. uma posio menos burocrtica. Mas qual a dominante? Nenhuma das duas. Voc faz o que voc quiser. Ento, eu acho que a cautelar mais garantida at porque se voc protocolar uma petio dessa, ela vai ficar perdida no meio da apelao. O cara s vai ver que voc pediu o efeito suspensivo quando ele for julgar o recurso. Ento, um risco muito grande, melhor distribuir a cautelar.

Um outro caso de efeito suspensivo a questo do efeito suspensivoao recurso especial e ao recurso extraordinrio. O art. 497, do CPC, aquele artigo famoso que diz que o RE e o REsp no tm efeito suspensivo e no impedem a execuo de sentena. Perdeu em primeira instncia, perdeu em segunda instncia, quer ir para Braslia? Pode, voc vai para Braslia com a possibilidade de o credor j te executar provisoriamente, j que os RE e REsp no tm efeito suspensivo.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR O problema, e eu sou um crtico ferrenho disso, que os grandes escritrios de advocacia conseguiram atravs de entendimento jurisprudencial burlar a redao clara do art. 497. E deram um jeito de criar, atravs de cautelar inominada a possibilidade de se obter efeito suspensivo para o RE e para o REsp. Como? Cautelar inominada, com base no poder geral de cautela do juiz. Nesses casos, a cautelar inominada vai servir exatamente para o qu? Para obter efeito suspensivo nas hipteses de RE e REsp que no o tenham. Tanto isso admissvel que depois de tantos pedidos que foram feitos no mbito do STF e do STJ, o STF editou duas smulas que tratam justamente da possibilidade de se conceder efeito suspensivo para RE e REsp: STF Smula n 634 - DJ de 13/10/2003 No compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinrio que ainda no foi objeto de juzo de admissibilidade na origem. STF Smula n 635 - DJ de 13/10/2003 Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinrio ainda pendente do seu juzo de admissibilidade. A idia das duas muito simples. Se lembra como feito o juzo de admissibilidade do RE e REsp? Quem faz a anlise se cabem ou no cabem? A primeira anlise feita pelo tribunal a quo, pela segunda instancia. Se a segunda instancia no tiver apreciado ainda o recurso, ainda no tiver dito cabe ou no cabe, a apreciao da cautelar na prpria segunda instncia. isso os que diz a smula 635. Agora, se eventualmente, o tribunal j fez o juzo de admissibilidade, a, a competncia do tribunal j cessou. A a cautelar tem que ser pedida nos tribunais superiores (STF e STJ). isso que dizem as smulas.

O ltimo caso de efeito suspensivo o destrancamento dosrecursos excepcionais obrigatoriamente retidos. Isso est no art. 542, 3, do CPC: 3 - O recurso extraordinrio, ou o recurso especial, quando interposto contra deciso interlocutria em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos execuo ficar retido nos autos e somente ser processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposio do recurso contra a deciso final, ou para as contra-razes. Isso muito importante! Voc sabe que no sistema basicamente se pode dizer que de sentena cabe apelao e de deciso interlocutria cabe agravo. Pediram uma liminar e o juiz mandou parar a licitao. Primeira instncia. Eu sou o Poder Pblico, agravo para o tribunal. O tribunal confirmou a deciso que suspendeu a licitao que est parada. Que recurso cabe? RE e REsp. O nico que esses recursos no tm efeito suspensivo e, pior, de acordo com o art. 542, 3, ficar retido. E por que fica retido? Porque s vai ser apreciado depois que a primeira instncia der a sentena, que o tribunal julgar a apelao e depois voc entra com outro REsp e outro RE contra a apelao e a aprecia esse e o que est

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR retido nos autos. Ou seja, o RE e o REsp ficam trancados. Mas no meu exemplo, enquanto eu tiver liminar valendo, eu no fao licitao e se passarem dez anos, no h mais interesse na licitao. Ento, eu preciso dar um jeito de reformar rpido essa liminar. E como eu fao isso? Com RE e REsp. Mas preciso que o STF e o STJ apreciem imediatamente. E como eu fao isso? Medida cautelar inominada. Eu atravesso a medida cautelar e falo: no pode ficar trancado porque a situao de urgncia. 6.2. a) Limites ao poder geral de cautela do juiz Preenchimento dos requisitos de admissibilidade de qualquer processo, inclusive cautelar.

Voc tem as condies da ao, os pressupostos processuais, legitimidade, possibilidade jurdica. A parte precisa preencher os requisitos da teoria geral do processo. Voc no pode dar uma cautelar inominada para uma parte ilegtima. um pedido juridicamente impossvel. Voc no pode dar uma cautelar inominada de arresto em uma cobrana de dvida de jogo. No d para fazer isso. Tem que ter fummus boni iuris e tem que ter periculum in mora. O art. 798 clarssimo nisso, que para o exerccio do poder geral de cautela do juiz, necessria a observncia de todos os requisitos das cautelares. Essa a primeira limitao. b) Impossibilidade de concesso de medidas satisfativas do ponto de vista do direito material

Sim, porque medida satisfativa, aquela que me enche a barriga, que me satisfaz por completo, do ponto de vista do ponto de vista material. impossvel o uso do poder geral de cautela para conceder medidas satisfativas do ponto de vista do direito material porque para satisfazer o direito material, eu tenho tutela antecipada do art. 273, do CPC e tenho a tutela satisfativa autnoma. Essas me enchem a barriga: transfuso de sangue, por exemplo. O poder geral de cautela do juiz no satisfaz o direito. Ele cautelar, garante o processo principal. Em outras palavras, eu poderia dizer para voc o seguinte, que mesmo no uso do poder geral de cautela do juiz, no regime atual s pode ser usado para conservar. No passado se usou muito isso para dar tutela antecipada, mas na poca em que ainda no existia tutela antecipada, ento, voc tapeava. Agora tem tutela antecipada. Hoje no justifica mais. Qual a diferena da tutela antecipada para a satisfativa autnoma? Tem a ver com a provisoriedade. O juiz tem que confirmar a antecipada na sentena. A satisfativa autnoma definitiva. No depende de mais nada (caso da exibio de documentos, transfuso de sangue...). c) No possvel o uso do PGC (poder geral de cautela) quando h disposio legal expressa autorizando ou vedando a prtica de ato.

O STJ, que quem estabelece esse limite, em mais de uma oportunidade j disse que o PGC s pode ser exercido em carter supletivo, nunca para contrariar comando legal expresso. E aqui vou dar dois exemplos colhidos na prpria jurisprudncia do STJ. O primeiro o art. 585, 1, do CPC, um artigo muito

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR importante que fala, basicamente que havendo ttulo executivo extrajudicial, o ajuizamento de qualquer rao para discutir a validade do ttulo no impede o credor de executar. Se o caboclo ficasse proibido de executar, no tinha por qu dar ttulo executivo. 1 - A propositura de qualquer ao relativa ao dbito constante do ttulo executivo no inibe o credor de promover-lhe a execuo. Entenderam o que eu quis dizer? O STJ diz que no cabe cautelar inominada para prender a execuo. O 585 diz que pode expressamente, diz que pode executar, mesmo que tenha ao em curso. O juiz no pode dar tutela cautelar para proibir que o autor execute quando o prprio 585, 1 faz o qu? Autoriza. o STJ que diz. Outro exemplo, a pessoa tem contrato de alienao fiduciria, no paga a dvida e entra com medida cautelar para proibir a empresa, enquanto ela discute, de realizar a busca e apreenso do veculo. O STJ j disse que no sabe poder geral de cautela para obstar o ajuizamento de busca e apreenso de bem alienado fiduciariamente. O DL 911/69 clarssimo de que se o cara no paga, cabe busca e apreenso do bem. S que esta no tem nada a ver com a busca e apreenso cautelar. Essa processo de conhecimento. satisfativa. conhecimento! No tem natureza cautelar! mais uma reintegrao de posse. Tambm no cabe medida cautelar com base no PGC (concesso de medidas cautelares inominadas), no poder geral de cautela do juiz, nas hipteses do art. 1, das Leis 8.437/92 e 9.494/97. Essas leis, principalmente a ltima foram declaradas constitucionais pelo Supremo (ADC n. 04). Essas leis vedam a concesso de cautelar contra o poder pblico em algumas hipteses. O juiz no pode, com base no poder geral de cautela, contrariar uma proibio legal expressa. O juiz pode autorizar ou vedar ato expressamente permitido em lei. Nesse caso, a lei veda, dizendo que no cabe liminar. E o juiz no pode substituir a lei e dar o PGC. d) Impossibilidade de o juiz conceder medidas cautelares previstas pelo legislador (tpicas) sem o preenchimento dos requisitos por ele eleitos.

Esse ltimo o duvidoso, o que d a briga, o que gera polmica. O PGC do juiz supletivo. E quando o legislador cria a cautelar, ele estipula os requisitos. O arresto cautelar que garante execuo por quantia e o art. 814 exige dois requisitos: Art. 814 - Para a concesso do arresto essencial: I - prova literal da dvida lquida e certa; II - prova documental ou justificao de algum dos casos mencionados no artigo antecedente. Pargrafo nico - Equipara-se prova literal da dvida lquida e certa, para efeito de concesso de arresto, a sentena, lquida ou ilquida, pendente de recurso, condenando o devedor ao pagamento de dinheiro ou de prestao que em dinheiro possa converter-se.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR Ento, eu preciso ter pelo menos o qu para poder ter o arresto? Uma sentena de primeiro grau, condenando o ru a me pagar (ttulo executivo definitivo cheque ou promissria; ou sentena de 1 grau). Mas alm disso, tem o inciso II, que exige (alm da prova da dvida lquida e certa) inteno de lesar credores. Pergunta bsica: eu no tenho sentena e nem ttulo executivo, mas eu tenho uma pretenso contra voc dizendo que voc me deve uma grana absurda. Mas no tenho crdito. Voc sabe que ser frito. Posso entrar com cautelar de arresto, tomando seus bens, at que eu entre com a ao principal? Sim ou no? Por esse requisito que eu acabei de citar, a resposta no. Isso porque para o arresto, o que o legislador fez? J escolheu que s cabe na presena de dois requisitos, ento o PGC no poderia suplantar o que o legislador decidiu. O problema que a CF, no art. 5, XXXV garante que leso ou ameaa a direito no sero excludas da apreciao do Judicirio. O STJ tem evoludo e tem afastado este requisito para admitir cautelar inominada como substituta da cautelar nominada toda vez que a parte no preencher os requisitos da cautelar tpica, mas estiver em situao de risco. Ento, nesse meu caso, o exemplo que eu dei de verdade. possvel o bloqueio de bens, um arresto com outro nome, inominado, para poder proteger aquela situao de urgncia. O julgado que disso isso: REsp 753.788/AL.

7.

PRESSUPOSTOS, CONDIES E MRITO DO PROCESSO CAUTELAR.

uma discusso bem interessante e que merece ateno de todos. Voc sabe que o processo cautelar como qualquer outro se submete teoria geral do processo. O grande problema que no cautelar existem duas condies especfica para alguns, trs, que merecem a nossa ateno:

Fummus boni iuris Periculum in mora Periculum in mora inverso Isso condio da ao cautelar ou mrito do processo cautelar? Se voc fala que condio, se o juiz verifica a ausncia, o juiz extingue o processo sem apreciao do mrito. Ser voc fala que mrito, se ele desacolhe ou no v existncia, ele julga improcedente a ao cautelar. completamente diferente. Ento, temos que discutir se isso condio da ao ou mrito. Na doutrina h as duas posies, mas tem prevalecido o entendimento de que se trata de mrito do processo cautelar (fumus, periculum e periculum in mora inverso). Eu entrei com processo cautelar. O juiz, de cara, v que falta fummus, que falta periculum. Se voc, de cara, adotar que isso condio da ao, o que o juiz j faz de cara? Extingue sem o mrito porque falta condio especfica de ao cautelar.

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR Se voc adotar a teoria que a maioria adota, isso mrito. O que o juiz faz? Faltou fummus, faltou periculum, ele toca a cautelar porque, talvez, voc no faa jus liminar, mas durante o processo possvel ainda comprovar o fummus e o periculum. Se chega no final, no comprova, o juiz julga improcedente porque isso matria de mrito. Essa diferena fundamental. O que so esses trs requisitos do mrito da ao cautelar? 7.1. Fummus boni iuris

a aparncia do bom direito. a plausibilidade do direito invocado. A pergunta aqui : ele parece ter o direito? Se houver essa aparncia, mais do que suficiente para a concesso da cautelar. O juzo, aqui, sumrio. Se fosse exauriente, tudo bem. Exemplo: cautelares que eu costumo indeferir: no pagou a dvida do banco, que deve, mas que a inscrio indevida, mas que no pagou porque no quis, mas porque no teve condies. Isso no tem aparncia do bom direito. O CPC, quando trata da tutela antecipada usa a expresso prova inequvoca da verossimilhana para a tutela antecipada (art. 273) e para a cautelar a gente usa a expresso fummus boni iuris. Prova inequvoca e fummus significam a mesma coisa? Para parte da doutrina, exemplo: Bedaque, ambos representam um juzo de probabilidade. E sendo um juzo de probabilidade, no existe mais ou menos provvel. Existe apenas provvel. provvel? Acabou o problema. Ele faz at uma brincadeira dizendo que no h fuminho ou fumo. Existe diferena e uma diferena gigantesca entre prova inequvoca e fummus. Existe, sim, fuminho e fumo. Existem graus de probabilidade, de intensidade que me revelam a possibilidade maior do direito e menor do direito. De acordo com o adepto dessa teoria (grande maioria), os requisitos para a tutela antecipada so muito mais rigorosos. A prova inequvoca da verossimilhana algo muito mais contundente do que o fummus e a razo para ser diferente simples: tutela antecipada satisfativa e a cautelar satisfativa. Se eu erro na tutela antecipada o estrago que eu fao muito maior. Por isso que o grau de intensidade para a tutela antecipada, o grau de fummus maior do que a da cautelar. Tem grau de probabilidade com a maior clareza do mundo!

7.2.

Periculum in mora

a simples possibilidade de dano, objetivamente considerado que, contudo, deve ser grave (afete consideravelmente o bem da ao principal) e de difcil reparao. O periculum in mora nada mais do que urgncia. E a vm as perguntas capciosas: existe cautelar sem urgncia? Cautelar verdadeira, nunca! Existe tutela antecipada sem urgncia? Existe. Cautelar sempre vai ser urgente exatamente porque o periculum um dos seus requisitos. Por exemplo: voc no vai decretar o arresto se voc tiver devedor com muitos bens porque o arresto s serve para

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LFG PROCESSO CIVIL Aula 01 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 12/08/2009 PROCESSO CAUTELAR garantir a execuo por quantia. Se ele tem muitos bens, no tem por que arrestar alguns, j que sobraro muitos outros para a execuo. 7.3. Periculum in mora inverso

, nada mais nada menos, do que a reversibilidade da medida. E isso est no art. 273, 2, do CPC. Isso tem a ver com tutela antecipada, mas por analogia puxado para cautelar. O juiz, na cautelar (mais do que na tutela) tem que poder dar e tem que poder tirar. Se ele pode dar, mas depois no pode tirar, ele, em tese, no pode conceder a medida cautelar porque a cautelar s pode ser concedida se no for irreversvel. Ela tem que ser reversvel. Esse critrio que hoje tem previso legal 273, 2, que especfico da tutela antecipada, mesmo antes do 2, ele j era contemplado pela jurisprudncia do STJ que j dizia que o juiz, ao analisar uma cautelar, tem que se preocupar em proteger o risco do autor, mas tambm pensando tambm no risco que aquela cautelar representa para o ru. Na tutela satisfativa autnoma, que definitiva, a medida pode ser irreversvel, basta voc pensar na transfuso de sangue. Fez a transfuso, a medida irreversvel! Exibio. Mostrou. Irreversvel. Tem como voltar atrs? No.

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