01-TopicosdeSociologiaeCienciaPolitica

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    TTTTTPICOSPICOSPICOSPICOSPICOS DEDEDEDEDE SSSSSOCIOLOGIAOCIOLOGIAOCIOLOGIAOCIOLOGIAOCIOLOGIAEEEEE CCCCCINCIAINCIAINCIAINCIAINCIA PPPPPOLTICAOLTICAOLTICAOLTICAOLTICA

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

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    EQUIPEDEELABORAO/PRODUODEMATERIALDIDTICO:

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    SumrioSumrioSumrioSumrioSumrio

    07

    07

    O CONHECIMENTO CIENTFICOEAS PRINCIPAIS CORRENTESDOPENDAMENTO SOCIALE POLTICOQUE INFLUENCIARAMONASCIMENTODAS CINCIAS SOCIAIS

    PRECURSORESE NASCIMENTODAS CINCIAS SOCIAIS.O DESENVOLVIMENTODAS TEORIAS SISTMICAS

    07

    08

    09

    13

    13

    Maquiavel 17

    15

    16

    Noes Elementares de Filosofia da Cincia ou Epistemologia

    Significado da Cincia

    Diversidade da Cincia

    Diferenas Fundamentais entre as Cincias Naturais e asCincias Sociais

    Cincias Naturais 09

    11Cincias Sociais

    12As Cincias Sociais e a Histria

    Principais Correntes Sociais e Polticas da Antiguidade queInfluenciaram o Nascimento das Cincias Naturais

    A Descoberta do Homem pelos Sofistas

    Aristtelis

    Idade Mdia

    07

    Thomas More

    17

    Thomas Hobbes 19

    O Iluminismo 20

    Rousseau 20

    O Surgimento das Cincias Sociais 22

    O Contexto Poltico e Econmico 22

    O Naturalismo na Sociologia. O Positivismo 24

    NASCIMENTODAS CINCIAS SOCIAIS. TEORIAS SISTMICAS 22

    A Esttica e a Dinmica Social 25

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    O Positivismo e a Histria

    O Realismo Sociolgico de mile Durkheim

    O Fato Social

    Fundamentos do Funcionalismo

    27

    27

    27

    31

    AS TEORIASDA AO SOCIAL 42

    Solidariedade Mecnica e Orgnica 29

    Durkeim e a Histria 30

    32

    33

    A Compreenso em Weber 46

    42

    43

    A Teoria Sistmica de Talcott Parsons (1902-1979)

    Teorias Socilogicas Estruturais

    As Teorias Clssicas da Ao Social

    Simmel e G. H. MeadMax Weber

    45

    A Ao Social 46

    A Teoria Social e a Histria 47

    Modernas Teorias da Ao Social. Interacionismo Simblico eas Cincias Sociais Fenomenolgicas 47

    O MARXISMOEAS TEORIASDA AO SOCIAL 35

    MARXEA TRADIO MARXISTA 35

    35

    36

    40

    41

    O Marxismo Clssico de Karl Marx

    O Materialismo Histrico

    Variedades do Marxismo no sec XX 39

    39Lukcs e Gramsci 40A Escola de Frankfurt

    Althusser

    Marxismo e Histria

    38 A Estrutura Social

    Interacinismo Simblico 48As Sociologias Fenomenolgicas 48

    A Histria e as Modernas Teorias da Ao Social 50

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    Caro(a) aluno(a),

    O presente texto tem por objetivo geral apresentar, resumidamente,as principais correntes do pensamento sociolgico que contriburam paraa histria. , portanto, um trabalho eminentemente terico que exige umacerta reflexo por parte do estudante.

    O texto est dividido em dois grandes blocos, cada um delesdivididos em dois temas. O primeiro bloco lida com os conceitos bsicosda filosofia das cincias, necessrios para a compreenso da anlisesociolgica, com os precursores das cincias sociais e com o surgimentodas sociologias sistmicas. O segundo bloco continua discutindobrevemente esse ramo da sociologia (no caso, o marxismo) e, em seguida,volta-se para uma outra modalidade de se pensar a realidade social: asociologia compreensiva ou da teoria da ao social.

    Procuramos ser o mais objetivo e didtico possvel. No interior decada um dos blocos e temas apresentamos alguns conceitos relevantes eatividades reflexivas. Pela leitura cuidadosa do texto possvel responderas questes propostas. Mas importante chamar ateno que o presentetexto apenas uma introduo ao assunto, sendo necessrio que o leitor

    complemente e solidifique seu conhecimento com outras fontesbibliogrficas.

    Bom estudo!

    Atenciosamente,

    Prof. Paulo Csar Alves

    Apresentao da Disciplina

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    Cincia Poltica

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    PRECURSORESE NASCIMENTODASCINCIAS SOCIAIS. O DESENVOL-

    VIMENTODAS TEORIAS SISTMICAS

    O CONHECIMENTO CIENTFICOEAS PRINCIPAISCORRENTESDO PENSAMENTO SOCIAL E POLTICOQUEINFLUENCIARAMO NASCIMENTODAS CINCIAS SOCIAIS

    Epistemologia(ver glossrio) um ramo da filosofia que tem por objetivo principalestudar os pressupostos ou fundamentos do conhecimento cientfico em geral e de cadacincia em particular. A filosofia da cincia (o mesmo que epistemologia) uma disciplinaextremamente ampla, sobre cujos principais temas nem sempre h acordo entre os seustericos. A falta de consenso no deve ser motivo de grande preocupao ou tampouco dedesistncia por parte daqueles que se iniciam nos meandros do conhecimento cientfico.Basta observar que, apesar dos inmeros problemas colocados pelos estudiosos daepistemologia, a cincia ocupa um lugar de especial relevncia no mundo contemporneo.

    Alm do mais, no podemos esquecer que as cincias esto continuamente em formao.Certos setores ou limites de uma determinada cincia do lugar, com o passar do tempo, acincias novas.

    Significado da Cincia

    Os tericos da cincia (epistemlogos) estudam diversas questes, tais como osdiferentes tipos e evoluo das teorias cientficas, a lgica da linguagem cientfica e seusaspectos metodolgicos, etc. Sem dvida, o primeiro grande tema da epistemologia definirque tipo de saber o cientfico. Vrias respostas tm sido dadas a essa questo e, de uma

    maneira geral, nenhuma delas plenamente satisfatria. Definir o que cincia e compar-la com outras formas de saber e expresso do homem (como o saber vulgar, a filosofia, aarte, a moral, a religio, etc.) , portanto, uma tarefa difcil.

    Momento de Reflexo

    Elabore um pequeno texto dando os significados de: filosofia, esttica, moral, tica ereligio. Para redigir o texto, procure esses termos em um dicionrio (de filosofia,principalmente).

    Noes Elementares de Filosofia da Cincia ou Epistemologia

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    Cincia Poltica

    Usualmente, a cincia vista como um saber culto ou desinteressado,que um saber terico e metdico suscetvel de aplicao prtica ou tcnica.Todas essas respostas nos do algumas informaes sobre o tipo especialdo saber cientfico, mas nenhuma delas suficiente. Vejamos apenas umexemplo. Cincia comumente definida como conhecimento metodolgicoacerca da realidade. Mas ser que outras modalidades de conhecimento no

    tm tambm seus prprios procedimentos metodolgicos? No haveriatambm uma metodologia(ver glossrio) no conhecimento do senso comum

    de um cozinheiro que prepara uma determinada refeio?No vamos, portanto, definir o que seja cincia. Limitamo-nos apenas em apresentar

    duas caractersticas que lhes so essenciais: a) o rigor das suas afirmaes; b) a maioreficcia na denominao da realidade que ela prope estudar. Trata-se de uma delimitaobastante ampla da cincia e no de uma definio propriamente dita. Note que essas duascaractersticas so necessrias, mas no exclusivas, ao conhecimento cientfico.

    Por outro lado, tambm importante chamar ateno que o rigor e eficcia da cinciano lhes do superioridade em relao s outras formas de conhecimento. No vamos aqui

    analisar essa questo, mas simplesmente observar que cada uma das modalidades desaber tem sobre a cincia sua superioridade em outros aspectos. O mito de que a cincia a forma suprema do saber humano proveniente do positivismo (teoria filosficadesenvolvida por Augusto Comte na primeira metade do sculo XIX ver Contedo I, TemaII), cuja influncia foi marcante no Brasil.

    [ ]Agora h ora deTRABALHAR

    a) Procure em um bom dicionrio a diferena entre rigor e eficcia. Quando umdeterminado conhecimento rigoroso e quando eficaz?

    b) Em seguida, procure o significado de cincia e compare com outras modalidadesde saber (o conhecimento vulgar ou do senso comum, o filosfico, o artstico e o religioso).

    c) At que ponto as caractersticas encontradas no conhecimento cientfico sediferem desses outros? H uma clara e ntida linha de separao entre essas formas desaber?

    Diversidade das Cincias

    Uma outra temtica fundamental da epistemologia diz respeito diversidade dascincias e suas caractersticas especficas. H vrios critrios de classific-las e forammuitos os cientistas e filsofos que se ocuparam dessa tarefa. Para alguns epistemlogos,

    todas as cincias possuem caractersticas comuns. A idia de uma unidade da cincia ouo ideal de uma unificao das cincias uma preocupao antiga e complexa.Nem todos os defensores da unidade da cincia tm uma noo idntica acerca

    desse significado. Atualmente, essa discusso caracteriza-se pela busca de integrao e

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    sntese entre as diversas cincias. Tal discusso tem levantado a questo damultidisciplinaridade ou interdisciplinaridade do conhecimento humano. Esse tema temsido motivo de amplas discusses e, nos dias atuais, muitas universidades nacionais ouestrangeiras tm procurado incentivar a criao de programas multidisciplinares,principalmente na ps-graduao.

    Um argumento chave dos adeptos da multidisciplinaridade o de que a realidade

    deve ser abordada apelando-se s diversas disciplinas a fim de se obter uma viso maisglobalizada (e no departamentalizada) do objeto de estudo. Assim, para multiplicar osngulos de viso de uma dada realidade, um pesquisador pode se inspirar nas perspectivasde disciplinas vizinhas, utilizando-se dos seus conceitos e anlises, tomando emprestadacertas tcnicas de abordagem. A interdisciplinaridade, por sua vez, pressupe a existnciade um conjunto de princpios terico-metodolgicos que so comuns a duas ou maisdisciplinas ou ramos do conhecimento.

    As diferenas entre multidisciplinaridade e interdisciplinaridade so mais tericas.Na prtica, ambas usualmente so tomadas como sinnimos.

    Diferenas Fundamentais entre as Cincias Naturais e asCincias Sociais

    A epistemologia usualmente identifica trs grupos distintos de cincia: as cinciaslgico-matemticas; b) as da natureza (como a fsica, a qumica, a biologia e a astronomia);c) as humanas, que so, s vezes, tambm denominadas culturais ou humansticas (como asociologia, a histria e a antropologia). Vamos nos deter brevemente nesses dois ltimosgrupos.

    Cincias Naturais

    As cincias naturais tm por objeto geral o estudo da natureza ou dos fenmenos domundo natural. O exemplo mais eminente dessas cincias a fsica. Os cientistas quetrabalham com os fenmenos naturais partem de um conjunto de pressupostos: a) soacontecimentos reais que se caracterizam por serem exteriores ou independentes aoesprito, idia, conscincia, vontade, conduta ou cultura humana; b) so neutros aosvalores humanos (por exemplo, para a astronomia o por do sol no em si mesmo bonitonem feio); c) ocorrem de forma ordenada no tempo e no espao; d) se manifestam medianteleis (deterministas ou estatsticas); d) podem ser objeto de experimentao, isso , podem

    ser conhecidos mediante a provocao de uma determinada situao, como ocorre em umlaboratrio de qumica ( claro que no para todos os fenmenos naturais, como maastronomia); e) so apenas explicados (ver significado de explicao no glossrio) pormtodos(ver glossrio) especficos.

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    Cincia Poltica

    Vejamos um exemplo: Suponhamos que um pedao de rocha retiradade um penhasco seja objeto de investigao para um gelogo. O queprovavelmente faria esse cientista natural? Em primeiro lugar, descreveriadetalhadamente esse objeto de acordo com o seu conhecimento e com osrecursos tecnolgicos disponveis. Atravs de experimentos laboratoriais,verificaria, por exemplo, que a rocha dotada de uma certa dureza, cujas

    partculas constitutivas (tomos, ons ou molculas) so compostas dedeterminados elementos qumicos (como slica, xidos de chumbo e de

    potssio) arrumados regularmente. Poderia perguntar em seguida sobre o porque dessarocha estar encravada naquele penhasco. Para isso estabeleceria uma longa cadeia causalcom o objetivo de entender o processo geolgico ocorrido. Explicaria, portanto, o seu objeto.A sua misso estaria cumprida. Enquanto gelogo, no teria sentido perguntar o para quedaquela rocha, isso , a sua finalidade. Que descoberta cientfica chegaria esse gelogose partisse do princpio de que aquela rocha bonita?

    [ ]Agora h ora deTRABALHAR1.

    Em um determinado noticirio, o locutor nos diz que a previso do tempo para o cair

    da tarde ser de chuva. Analise quais so as implicaes que esto subjacentes a essaafirmao. Discuta na sua anlise as caractersticas que foram apresentadas sobre oconhecimento das cincias naturais.

    2.Coloco uma pedra para proteger do vento as folhas de papel almao que esto sobrea minha mesa. Nesse fato, o que seria fenmeno da natureza e fenmeno humano?

    3.Agora discuta se possvel compreender uma situao humana que seja bastanteestranha a nossa experincia pessoal. D exemplos. Analise, de acordo com os pressupostosapresentados sobre as cincias humanas, o que significa compreender a seguinte fato: a

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    antropofagia de algumas tribos indgenas fundamentava-se na crena de que comendo acarne de algum se adquiria o seu valor e a sua fora.

    Cincias Sociais

    As cincias humanas, sociais ou culturais so mais recentes. Surgiram no sculoXIX. Elas tm como objeto de estudo o ser humano e suas atividades sociais e culturais.Podemos resumir as caractersticas principais desse objeto nos seguintes itens: a) osfenmenos humanos se do no tempo e espao (so condicionados pelo ambiente social);b) so motivados e tm um sentido finalstico; c) so positivo ou negativamente valiosos; c)so compreendidos (e no apenas explicados, como os fatos da natureza). Nesse caso, aexplicao sempre segue a compreenso (ver glossrio)

    Devido as caractersticas prprias do objeto sociocultural, podemos entender asdificuldades que as cincias sociais enfrentam ao lidar com a objetividade cientfica. Observeque enquanto o cientista da natureza est destacado de seu objeto, o cientista social ,antes de mais nada, um ser social e como tal parte do objeto que estuda. Nesse sentido,o cientista social tem sempre uma perspectiva de ver o seu objeto de estudo, um olhar devis, devido ao fato dele ser um sujeito que inevitavelmente sofre as influncias do meioem que vive.

    Momento de Reflexo

    Reflita sobre os riscos do comprometimento sociocultural que esto presentes nasinvestigaes dos pesquisadores dos fenmenos humanos. O que seria um conhecimentorigoroso e eficaz nas cincias sociais?

    importante salientar que os cientistas sociais esto sempre procurando desenvolver

    mtodos e modalidades de pesquisa que sejam mais adequados para os seus estudos. Asdiversas modalidades de entrevistas, de questionrios, de histria de vida, de anlise dedocumentos e de observao so alguns exemplos de tcnicas de pesquisa desenvolvidaspelos cientistas sociais.

    De uma maneira geral, h dois grandes procedimentos metodolgicos nas pesquisassocioculturais: a quantitativa e a qualitativa. A primeira caracteriza-se por mensurar de modopreciso o real. Preocupa-se, portanto, em estabelecer medidas (principalmente estatsticas)que possam quantificar as observaes. As chamadas pesquisas de opinio, como aspesquisas eleitorais, utilizam-se de procedimentos quantitativos. As pesquisas qualitativasesto voltadas para apreender e explicitar o sentido da atividade social, isso , as

    significaes internas dos comportamentos, tais como motivaes, representaes evalores, que so dificilmente quantificveis.

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    Cincia Poltica

    [ ]Agora h ora de

    TRABALHAR

    Usualmente se fala que existe oposies entre os mtodos quantitativos e qualitativos.Os defensores da quantificao consideram que seus opositores desenvolvem um sabermole, de pouca validade, sobre a realidade humana. Por sua vez, os defensores doqualitativo criticam seus adversrios argumentando que estes truncam o real, afastandonumerosos aspectos essenciais compreenso dos acontecimentos e situaes humanas.At que ponto esses procedimentos so vlidos? Existe superioridade de um mtodo emrelao ao outro? Para refletir sobre essas questes pense em dois aspectos importantes:

    a) A escolha do procedimento mais apto depende do problema especfico a ser estudado;

    b) Para construir suas quantificaes, o pesquisador precisa, em primeiro lugar, se afastarde inmeras convenes estatsticas a fim de obter conceitos que possam ser mensurveis.

    As Cincias Sociais e a Histria

    A histria uma modalidade de saber que j existia entre os antigos gregos. Herdoto

    e Tucdides foram os primeiros historiadores do mundo ocidental. Foram eles que iniciarama historiografia, isso , relato de fatos passados. Mas a histria se constitui como umacinciapropriamente dita a partir do sculo XIX. Foi nesse sculo que os historiadorespassaram a se preocupar com as questes epistemolgicas e os mtodos da historiografia,tais como a crtica das fontes, as formas de apresentao e organizao do material histrico,a compreenso e explicao dos fatos histricos, etc.

    So inmeras as relaes entre a histria e a sociologia. Basta observar que ambaslidam com a vida social. Para alguns estudiosos, a histria fundamentaa compreenso e explicao de todo o comportamento humano.Mas h tambm diferenas significativas entre essas duas cincias.Vamos identificar brevemente apenas uma delas. A histria tratade acontecimentos individuais, particulares, nicos. uma cinciaidiogrfica. A sociologia, por outro lado, uma cincia nomottica,pois lida com generalizaes, um conjunto de proposies queexpressam leis. Vejamos um exemplo. Caio Jlio Csar umpersonagem concreto da histria (romana). As suas aes sotemas da histria. O cesarismo (governo desptico), por sua vez, uma generalizao que se pode aplicar, de forma mais ou menosadaptada, a determinados acontecimentos relacionados com ossistemas de governo em que o governante se investe de poderesabsolutos. O cesarismo tema da sociologia. Um outro

    exemplo: um pensador nomottico generaliza as revoluessociais, enquanto um analista idiogrfico se fixar principalmentenos fatos especficos que conduziram uma determinada revoluo.

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    Conceitos Relevantes

    CINCIAS IDIOGRFICAS Segundo Wilhelm Windelband (1848-1915), famosofilsofo e historiador alemo, as cincias idiogrficas so aquelas que descrevem e analisamfatos singulares. peculiar do tratamento histrico.

    CINCIAS NOMOTTICAS Segundo esse mesmo autor, referem-se s cinciasque tratam de acontecimentos genricos. Ou seja, so cincias que, na posse de fatossingulares, vo buscar o que h neles de comum, para que assim possam proceder generalizao. As cincias da natureza e a sociologia so exemplos de cincias nomotticas,embora existam diferenas significativas entre elas.

    importante salientar, contudo, que nem todos os cientistas sociais partilham deuma viso idiogrfica para caracterizar a histria. Muitos tericos como os positivistas egrande parte dos marxistas partiam do princpio de que h um processo natural na histriahumana, isso , os eventos histricos apresentam padres e tendncias especficas.

    Somente pela abordagem cientfica que se torna possvel a descoberta desses padres.Nesse sentido, a histria ser objeto de conhecimento nomottico. Atualmente, taisconcepes tm sido amplamente criticadas.

    Principais Correntes Sociais e Pol t icas da Antiguidade queInfluenciaram o Nascimento das Cincias Naturais

    As cincias sociais surgiram a partir do sculo XIX. Foi nesse sculo que elaspassaram a ter autonomia cientfica(ver glossrio), com objeto prprio e metodologiapeculiar. Mas essa autonomia no surgiu repentinamente. Os primeiros socilogos noconstruram cientificamente a sua cincia do nada. O amadurecimento do esprito cientficopara lidar com os temas sociais contou com a contribuio de vrios pensadores ou filsofossociais. So os precursores das cincias sociais.

    Os precursores das cincias sociais foram filsofos sociais e no cientistassociais. Embora existam estreitas ligaes entre a filosofia e as cincias sociais, h algumasdiferenas fundamentais. Uma delas que a cincia trata apenas do que, comoe por que, e no propor formas ideais de organizao e governo que a sociedade deveria ter(preocupao dos filsofos sociais). Alm do mais, a filosofia se ocupa usualmente comquestes de essncias ou natureza de uma realidade, enquanto a cincia limita-se adescrever e interpretar a realidade.

    Podemos identificar os precursores das cincias sociais desde a antiguidade, comono caso dos sofistas Plato e Aristteles. Na Idade Mdia encontramos a figura do brbereIbn Kaldun. No Renascimento, autores como Machiavelli, Campanella, Hobbes, ThomasMore e muitos outros contriburam para a formao do pensamento cientfico dos fenmenoshumanos. Os precursores mais imediatos das cincias socais foram os filsofos iluministas.Na presente sesso (contedo III), estudaremos apenas os precursores das cincias sociaisna antiguidade e no perodo medieval.

    A Descoberta do Homem Pelos Sofistas

    O sofisma (palavra que deriva da raiz sofia, sabedoria ou especialista do saber)foi um movimento filosfico que ocorreu nos sculos V e IV a.C. Seus principais representantesforam Protgoras de Abdera, Grgias e Hpias. Os sofistas operaram uma verdadeira

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    revoluo filosfica na Grcia antiga. Os primeiros pensadores gregos (Talesde Mileto, Anaximandro de Mileto, Parmnides, Herclito, etc) desenvolveramuma filosofia que tinha por principal objetivo explicar os fundamentos ltimosde todas as coisas (fsicas) que existem. Os sofistas deslocaram esse eixofilosfico para o entendimento da vida humana como membro de umasociedade. Da a preocupao pelos aspectos culturais, como a tica, a poltica,

    a arte, a lngua e a educao. Alm do mais, os sofistas visavam objetivosprticos. Havia um compromisso pedaggico entre eles. Eram professores

    ambulantes que iam de cidade em cidade, ensinando os jovens mediante uma retribuioem dinheiro.

    Protgoras de Abdera (sculo V a.C.) foi o mais famoso de todos eles. Tornou-seconhecido pelo seu clebre axioma de que o homem a medida de todas as coisas,daquelas que so por aquilo que so e daquelas que no so por aquilo que no so.Medida aqui tem o significado de norma de juzo; e todas as coisas refere-se aos fatos eexperincias em geral. Protgoras pretendia negar a existncia de um critrio absoluto quediscrimine o verdadeiro e o falso. O nico critrio somente o homem. Com isso, afirmava

    o princpio do relativismo, destruindo a possibilidade de sealcanar uma verdade absoluta. Um outro axioma famoso:Para quem est com frio, frio; para quem no est, no .

    Embora tenham manifestado uma notvel liberdade deesprito em relao tradio e s normas vigentes, os sofistasterminaram proclamando atravs dos seus discursosdemolidores e cticos a inconsistncia das coisas,abandonando o ponto de vista da razo (pensamento) e daverdade. Os filsofos posteriores (Scrates, Plato e Aristteles)os criticaram duramente pelo excesso de relativismo.

    Plato (428/427 347 a.C.)

    Plato nasceu em Atenas, de uma famlia aristocrtica. Seu verdadeiro nome eraAristocles (Plato, seu apelido, significa o de ombros largos). Teve uma grande influnciade Scrates e aps a morte do seu mestre fundou uma escola em Atenas, que deu o nomede Academia, por estar situada nos jardins dedicados ao heri ateniense Academos. Eramtrs as principais funes dessa escola: prestar o culto s musas, desenvolver atividadesfilosficas e pedaggicas. A Academia platnica teve longa vida. S foi fechada em 529d.C., por decreto do imperador Justiniano.

    Grande parte dos escritos de Plato chegou at os nossos dias. Por essa razo possvel conhecer em maior profundidade a sua filosofia. Os seus trabalhos em poltica (ARepblicae As Leis) tm uma marcada influncia na constituio do pensamento poltico.(ver no glossrio o significado de poltica).

    Um das questes fundamentais pensadas por Plato diz respeito natureza dajustia. Essa questo recebe soluo adequada atravs da anlise de como nasce (e secorrompe) um Estado perfeito. (ver no glossrio o significado de Estado)

    Para Plato, um Estado nasce porque o indivduo no autrquico, isso , no sebasta a si mesmo e, portanto, tem necessidade dos servios de outros. Em primeiro lugar,so imprescindveis os servios daqueles que provm s necessidades materiais doshomens; em segundo, so necessrios os servios daqueles que so responsveis pelaguarda e defesa do Estado; em terceiro lugar, so necessrios os servios dos que governam.Da a existncia de trs classes: a) dos lavradores, artesos e comerciantes; b) dos guardas

    ou vigilantes ou guerreiros; c) dos governantes ou filsofos.H uma estreita correlao entre estas classes e as faculdades da alma humana (ou

    virtudes). Para a classe produtora, essa virtude a temperana (ordem, domnio e disciplina

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    dos prazeres e desejos); a dos guardas a fortaleza e a dos governantes, a sabedoria e ajustia. A justia o equilbrio ou boas relaes que se estabelecem entre os indivduos ecom o Estado, e entre as diferentes classes entre si com a comunidade social. Assim, ajustia que rege e determina a vida do corpo poltico (o Estado). Para que a justia possaser perfeita, necessrio um Estado perfeito e, para isso, uma educao perfeita.

    H trs diferentes constituies histricas do Estado: a) a de um s homem que

    governa (monarquia); b) a que governado por vrios homens ricos (aristocracia); a que governada pelo povo (democracia- ver significado de democracia no glossrio). Quandoessas formas de constituio polticas se corrompem e os governantes buscam os seusprprios interesses, surgem: a) a tirania; b) a oligarquia; c) a demagogia. Conforme Plato,quando o Estado bem governado, a primeira forma de governo (monarquia) a melhor.

    Aristtelis (384/383 322 a.C.)

    Aristteles considerado por muitos estudiososcomo o maior filsofo da histria humana. Nasceu emEstagira. Seu pai era mdico. Foi preceptor deAlexandre Magno. Fundou em Atenas uma escola quedeu o nome de Liceu, um centro de pesquisa das maisdiversas disciplinas e que, diferente da Academiaplatnica, teve vida curta. O prprio Aristteles teve umapreocupao com o conhecimento enciclopdico,escrevendo sobre diferentes temas (fsica, biologia,psicologia, cincias naturais, tica, filosofia, lgica,

    retrica, poltica, etc.)Discpulo de Plato, Aristteles desenvolveu um

    pensamento filosfico profundamente original, o qualexerce influncia at os nossos dias. No presente livro

    vamos apenas resumir a sua contribuio ao pensamento poltico. Nesse setor, o seu livrofundamental A Poltica.

    Para Aristteles, a poltica tem por objetivo estudar a conduta dos homens comoparte de uma sociedade (no como indivduos) e os fins que eles querem atingir. Ou seja, apreocupao da cincia poltica com o homem enquanto um ser que vive em sociedade,como um cidado. Conforme Aristteles, cidado no se refere apenas aquele que vive

    em uma plis(Cidade-Estado), mas aquele que participa da administrao das coisaspblicas, isso , faz parte das assemblias que legislam e governam as Cidades-Estadose administram a justia. Conseqentemente, qualquer indivduo que no seja livre (como osescravos) ou que no tenha tempo livre necessrio para participar da administrao dascoisas pblicas (como os operrios) no so cidados.

    O Estado pode ter diferentes formas ou constituies. A constituio a estruturaque d ordem ao Estado, estabelecendo a autoridade soberana e funcionamento dos cargos.O poder do soberano pode ser exercido por um s homem (monarquia), por poucos homens(oligarquia) ou pela maior parte dos homens (democracia). Mas essas trs formas podemse degenerar se os governantes se deixam arrastar pelo seu interesse pessoal. Aristteles

    insiste especialmente nas vantagens do regime misto ou repblica, mistura ou combinaodas formas puras, por considerar que o regime de maior estabilidade e segurana.

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    Conceito Relevante

    REPBLICA - Sistema de governo em que um ou vrios indivduoseleitos pelo povo exercem o poder supremo de um Estado por tempodeterminado.

    O Estado ideal aquele que incrementa os valores morais, a justia eo bom senso entre os homens. Para isso, necessrio que o Estado no seja

    muito populoso, mas grande o bastante para satisfazer as necessidades sem produzir osuprfluo.

    Idade Mdia

    A Idade Mdia deixou importantes contribuies para o estudo dos fenmenoshumanos atravs de pensadores como Santo Agostinho (354 430) e So Tomas de Aquino(1125-1274). Entre os pensadores sociais da Idade Mdia, cabe destacar o rabe Ibn Kaldun

    (1332-1406). Ele antecipou, em certos aspectos, a moderna teoria cientfica (e tambmgeogrfica). Para esse filsofo, as formas de vida social so determinadas pelo ambientegeogrfico, o qual institui duas formas diferentes e antagnicas de civilizao: aquela que resultante da plancie frtil, habitat dos sedentrios (que constroem cidades, so dadosao luxo e aos prazeres e no possuem uma slida coeso social) e a resultante do deserto,ambiente da vida nmade, onde os indivduos so resistentes ao desconforto, so dotadosde espritos belicosos e desenvolvem maior coeso social.

    O que Ibn Kaldun chamava a ateno era para o fato de que os nossos estilos devida e pensamento so determinados, em ltima instncia, pelo contexto em que vivemos.

    poca Moderna e os Precursores Imediatos das CinciasSociais

    Renascimento

    No final da Idade Mdia o Renascimento as reflexes sobre as questes sociaise polticas foram mais significativas para o desenvolvimento posterior das cincias sociais.

    Conceito Relevante

    RENASCIMENTO - Caracteriza-se por ser uma poca marcada por grandestransformaes e crises (sculos XV e XVI). Trata-se de um perodo em que se tornouproblemtica a situao religiosa vivida pelo homem na Idade Mdia; as naes comeavam aconstituir-se e assegurar o poder soberano do Estado, sendo objeto de preocupao por todos

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    aqueles interessados pelas questes sociais e polticas. O mundo ampliado pelosdescobrimentos, o crescimento tecnolgico bastante significativo (imprensa, armas de fogo,etc.) e o humanismo se prolifera rapidamente. Era extremada a devoo pelos autores gregose latinos.

    O pensamento humanstico no Renascimento formado por vrios pensadores quetiveram intensa preocupao com as questes da poltica e do Estado, cabendo destacar:

    Tommaso Campanella (1569-1639), autor de uma utopia de tendncia socialista (A Cidade doSol) inspirada na Repblicade Plato; o holands Erasmo de Rotterdam (1465-1536), autordos livros Elogio da Loucurae Manual do Prncipe Cristo; Thomas More (1478-1535) queescreveu A Utopia, um ideal do Estado tambm de tipo socialista; Thomas Hobbes (1588-1679), autor de Leviate o florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527).

    Thomas More (1478-1535)

    O ingls Thomas More foi um humanista estudiosodo Direito e dedicou-se teologia e s literaturas grega elatina. No seu livro A Utopia retratou a vida em umaimaginria ilha chamada Utopia (que significa lugarnenhum - ver glossrio), cujos habitantes acham umaestupidez em no procurar o prazer por todos os meiospossveis. Mas o verdadeiro prazer no est simplesmentena volpia ou na sensualidade, mas na virtude (acompreenso dos bens e da justia).

    Mediante uma descrio de uma sociedadeimaginria, Thomas More critica a estrutura social, polticae econmica vigente na Inglaterra. Assim, o grande valordo seu livro (A Utopia) est precisamente na crtica

    subjacente aos regimes polticos da poca. Thomas Moreprocura abolir a idia de propriedade individual e absoluta.Por exemplo, os utopianos trocam de casa a cada dez anos; no centro de cada quarteiro dascidades encontra-se um mercado de coisas necessrias subsistncia onde cada pai de famliavai buscar gratuitamente tudo o que necessita para os membros da sua famlia. A organizaopoltica regulada por um regime democrtico, com um sistema de eleio que no permite oabuso da autoridade. O Estado no impe nenhum credo sociedade e assegura a tolernciareligiosa.

    Maquiavel (1469-1527)

    Um grande precursor das cincias sociais foiMaquiavel. Ele revolucionou a histria das teorias polticascom o seu livroO Prncipe, uma espcie de manual poltico.Esse livro tem sido objeto de vrias controvrsias etradicionalmente tem sido identificado como um manualde tcnicas de despotismo e seu autor, um talentosooportunista poltico. At ento, a teoria do Estado e dasociedade estava limitada a especulao filosfica.Plato, Aristteles, Santo Agostinho e muitos outrostericos estudaram esses assuntos vinculando-os morale buscando formas ideais de organizao poltica e social.Mesmo os contemporneos de Maquiavel (como Erasmode Rotterdan ou Thomas More) no fugiram a essa regra.

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    Maquiavel teve uma ntida preocupao tipicamente renascentista de fundaruma cincia da sociedade atravs da defesa do mtodo de investigaoemprica. Ou seja, a sua proposta era a de estudar a poltica pela verdade efetivados fatos humanos, sem perder-se em vs especulaes na busca do tipo idealdo Estado. O seu centro de interesse foi o fenmeno do poder formalizado nainstituio do Estado. Utilizou-se amplamente da psicologia e da filosofia da

    histria. Mas Maquiavel no foi exatamente um cientista poltico, conforme adesignao moderna do termo.Conforme Maquiavel, a histria constituda por ciclos que se renovam

    atravs de revoluo em torno de si mesmos. Acreditava, portanto, que quem observarcuidadosamente os fatos do passado pode prever o futuro. O acontecer histrico se complementacom uma compreenso da psicologia humana. Ao estudar os antigos governantes e as grandespotncias do passado, Maquiavel concluiu que os homens tm os mesmos desejos e paixes.So egostas e ambiciosos, s recuando da prtica do mal quando coagidos pela fora da lei.Somente o saber poltico (que para ele era a arte de bem governar) pode superar asdeterminaes histricas e psicolgicas que ameaam qualquer sociedade. Em sntese,Maquiavel prope que as personalidades decididas e empreendedoras dos governantes podem

    interferir na histria. necessrio, portanto, que o governante seja dotado de virt(virtude cvica), isso ,

    tenha a iniciativa e capacidade de saber o momento exato para desenvolver aes polticasdentro das circunstncias que lhe so apresentadas. Um bom governante deve estar sempreatento s situaes para que possa ficar frente dos acontecimentos. O seu xito depende damedida em que souber combinar seu modo de agir com as particularidades do momento. Ohomem devirt, portanto, o inventor do possvel em uma situao concreta dada. Nesse sentido,

    no existe uma ordem ideal para a organizao do Estado.A estabilidade poltica depende de boas leis e

    instituies e para atingir e manter esse objetivo, o governantedeve estar acima de qualquer constrangimento moral. Os finsjustificam os meios. Mas tambm importante chamar atenoque a energia criadora de uma sociedade no produtoapenas das aes de um poltico de virt. O povo deve tambmparticipar do governo, isso , necessrio que haja um nvelmaior de solidariedade entre os homens e o Estado. Para isso,

    fundamental que os homens sejam livres, que se identifiquem com os negcios de seuEstado, pois, com isso, haver maior reforo coeso interna. Em uma nao no corrompida,os cidados sobrepem os interesses gerais da sociedade aos particulares.

    Conceito Relevante

    MAQUIAVELISMO Concepo ideolgica de uma prtica poltica na qual se afirmaque o governante deva ser despojado de toda moralidade aparente para criar e deter astcnicas de dominao sobre uma sociedade.

    Momento de Reflexo

    Discuta o porqu da obra de Maquiavel ter-se tornado extremamente vulnervel eintolerante. Para isso, procure em um livro de histria geral quais foram os principais fatorespara o surgimento das modernas naes europias (Frana, Inglaterra, Espanha e Portugal).

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    Observe que nesse momento histrico houve uma dessacralizao do poltico e a independnciado poder temporal frente a Igreja e a religio. Reflita sobre quem beneficiava a obra de Maquiavel.Em que sentido podemos afirmar que O Prncipefoi uma ntida expresso das mudanasocorridas no Renascimento? O verdadeiro objetivo de Maquiavel foi ensinar as tcnicas dedominao para os governantes ou ensinar o povo quais so os mecanismos do poder poltico?

    Thomas Hobbes (1588-1679)

    Thomas Hobbes foi um outro terico defundamental importncia para a teoria social. autordo livro O Leviat(monstro bblico). Diferente da maioriados filsofos polticos (que acreditavam haver no homemuma disposio natural para viver em sociedade),Hobbes partia do princpio que os indivduos entramem sociedade s quando a preservao da vida estameaada.

    Hobbes o autor da famosa frase: o homem o lobo do homem. Guiado pela razo, o instinto deconservao do homem procura a paz quando se tema esperana de obt-la, pois a vida de cada indivduoestaria ameaada se cada qual fizesse tudo o que estem seu poder para alcanar a felicidade pessoal.

    Nesse sentido, os homens so levados a estabelecer contratos entre si. a teoriacontratualistada sociedade. Em outras palavras, o contrato social a forma pela qual oshomens transferem seus direitos a um rbitro imparcial e desinteressado - o Estado - comobjetivo de assegurar e conservar as suas vidas.

    O pacto social , portanto, artificial e precrio. Assim, no suficiente para assegurara paz, pois sempre existem pessoas que, a fim de conquistar o poder s para elas podemdestruir o pacto social. Para evitar ou minimizar esse perigo, necessrio que cada homemsubmeta sua prpria vontade vontade de um nico homem ou a uma assembliadeterminada.

    A teoria contratualista de Hobbes (o contrato social estabelecido entre os membrosda sociedade que concordam em renunciar a seu direito a tudo para entreg-lo a umsoberano encarregado de promover a paz) uma forma de ditadura ou de democracia?Justifique?

    Questo de Reflexo

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    O Iluminismo

    Os grandes precursores que de modo mais direto influenciaram oaparecimento das cincias sociais foram os filsofos iluministas do sculoXVIII. Em certos aspectos, foram eles os primeiros cientistas sociais. Osfranceses Charles Montesquieu (1689-1755) e Jean Jacques Rousseau (1712-

    1778), por exemplo, produziram ambiciosos e abstratos sistemas de idiaspara entender o mundo humano, assim como propuseram a aplicao de

    mtodos cientficos, principalmente retirados da fsica newtoniana, para as questessociais. Pensavam que do mesmo modo que o mundo fsico regido por leis naturais, omundo social era tambm governado pelas suas prprias leis. Mas a preocupaofundamental dos iluministas no era apenas de explicar o funcionamento do mundo social,mas criar um mundo mais racional e melhor. Para eles, crentes na importncia da razo,os valores e instituies tradicionais eram vistos como irracionais e, portanto, opostas natureza humana, inibindo o crescimento humano. Mas os iluministas no deixaram de serfilsofos sociais: ocuparam-se em propor formas ideais de organizao e governo que

    uma sociedade deveria ter. Com isso, no se limitaram a uma caracterstica bsica dacincia sociolgica: tratar apenas do que uma sociedade, como ela e por que ela estruturada de determinada forma.

    Conceito Relevante

    ILUMINISMO Tambm conhecido como filosofia das luzes, designa as tendnciasintelectuais, polticas e sociais de um perodo histrico (sobretudo o sculo XVIII), no qual secaracterizou pelo otimismo no poder da razo e na capacidade humana de reorganizar asociedade com base em princpios racionais. A razo vista como uma faculdade que se

    desenvolve com a experincia e no, como no sculo XVII, uma capacidade inata do serhumano. Os iluministas viram no conhecimento da natureza e em seu domnio efetivo atarefa fundamental do homem. Para eles, a histria deve ser vista criticamente, pois o passado usualmente tido como um conjunto de erros que so explicveis pelo poder insuficiente darazo.

    Rousseau (1712-1778)

    Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra eum dos seus principais livros chama-se O Contrato

    Social. A raiz da filosofia rousseauniana est na anttesefundamental entre a natureza do homem e osacrscimos da civilizao. A natureza humana essencialmente boa e a civilizao responsvel peladegenerao das exigncias morais mais profundasda natureza humana. Em outras palavras, a vida dohomem primitivo dotada de livre arbtrio (liberdadede escolha) e sentido de perfeio. auto-suficienteporque constri sua existncia na natureza, satisfazendosuas necessidades bsicas sem maiores dificuldades.

    Esse o fundamento da chamada teoria do bomselvagem. Porm, com o surgimento da propriedadeprivada, o homem primitivo saiu da idade de ouro e

    ingressou no mundo civilizado. A uniformidade artificial de comportamentos, imposta pela

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    sociedade aos indivduos, leva-os a ignorar os deveres humanos e as suas necessidadesnaturais. importante chamar ateno que Rousseau no est defendendo um primitivismoou retorno animalidade. A civilizao apresenta algumas vantagens em relao a natureza,como a capacidade de desenvolvimento mais rpido, a ampliao dos horizontes intelectuaise enobrecimento dos sentimentos. O propsito de Rousseau combater os abusos dacivilizao.

    A noo de liberdade central na sua obra. Liberdade a qualidade essencial daprpria natureza humana, pois todos os homens nascem livres. Mas liberdade no significafazer o que quer. Rousseau no pregava um individualismo. Liberdade deve ser entendidacomo direito e dever e necessita ser assegurada pela sociedade. A sociedade resultadode um contrato social, ou seja, uma livre associao de seres humanos que deliberadamenteresolvem formar um certo tipo de sociedade, qual passam a prestar obedincia.

    A concepo rousseauniana essencialmente democrtica. Para ele, toda autoridadee toda soberania devem estar vinculadas com o povo.

    Momento de ReflexoEstabelea as diferenas fundamentais entre a teoria de Rousseau e a de Hobbes.

    Iluminismo e Histria

    A contribuio dos iluministas para os estudos histricos foi significativa. At ento,a narrativa dos acontecimentos polticos e militares, apresentada como grandes feitos degrandes homens (chefes, militares e reis) era a forma dominante da historiografia. Foi durante

    o Iluminismo que ocorreu pela primeira vez uma contestao a esse tipo de narrativa. Osiluministas iniciaram a preocupao com o que eles denominavam histria da sociedade,uma histria que no se limitava a guerras e poltica, mas s leis, ao comrcio, moral eaos costumes dos povos.

    Atividade Complementar

    1.Em que aspectos o conhecimento cientfico da sociedade se difere da filosofia social?

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    2.Estabelea a diferena entre explicar e compreender um acontecimentohumano. Exemplifique.

    NASCIMENTODAS CINCIAS SOCIAIS. AS TEORIASSISTMICAS

    O Surgimento das Cincias SociaisO Contexto Poltico e Econmico

    O conhecimento do mundo sociocultural sempre foi motivo de preocupao humana,mas as cincias sociais, dotadas de plena autonomia cientfica e com objeto prprio, umacontecimento recente: data do sculo XIX. Por que s nesse sculo que se deu oaparecimento dessas cincias, principalmente o da sociologia?

    Para responder essa questo, devemos observar, em primeiro lugar, que os sculosXVIII e XIX foram marcados por grandes transformaes sociais e culturais que

    reconfiguraram profundamente todos os campos intelectuais. Uma larga srie de revoluespolticas desencadeadas pela Revoluo Francesa de 1789, que se prolongaram no sculoXIX, constituiu o fator imediato para o aparecimento da sociologia. Foram imensas asconseqncias dessas revolues para muitas sociedades provocadas, entre outrosaspectos, pela crtica ao governo absolutista e afirmao dos princpios do liberalismo. Napoca, os estudiosos dos fenmenos sociais ficaram particularmente preocupados pelaameaa das desordens sociais e polticas provocadas por essas revolues.

    Conceito Relevante

    LIBERALISMO O conjunto de concepesque visam assegurar a liberdade dos seres humanosdentro da sociedade. Nas cincias sociais, oliberalismo tem uma conotao poltico- econmica.Refere-se concepo que enfatiza a iniciativaindividual e a concorrncia entre agentes eco-nmicos, sem a interferncia governamental, comoprincpio de organizao econmica de umasociedade.

    Paralelo a elas, ocorreu tambm a revoluoindustrial. Esta ltima no apenas desenvolveu atecnologia industrial como tambm transformou omodo de vida de muitas sociedades. Por exemplo,

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    o mundo ocidental passou de um sistemafundamentalmente agrcola para o industrial; houvegrandes xitos rurais; surgiu a figura do proletrio;muitas cidades tiveram enormes taxas decrescimento populacional; as transaeseconmicas passaram cada vez mais a se

    desenvolver por complexos clculos racionais;criaram-se imensas burocracias econmicas paraproporcionar os mltiplos servios requeridospelas organizaes fabris. Em suma, a Revoluo Industrial instaurou plenamente o sistemaeconmico capitalista (ver glossrio).

    As conseqncias das revolues polticas e industrial foram (e continuam sendo) imensas,proporcionando, inclusive, o desencadeamento de grandes revoltas na sociedade ocidental.Muitas dessas revoltas foram instigadas pelos ideais socialistas. Essas transformaestampouco passaram desapercebidas pelos estudiosos das questes sociais. Havia tanto umapreocupao de se entender as transformaes que estavam ocorrendo no mundo quanto o

    desejo de se encontrar novas bases de ordem para as sociedades perturbadas pelos processosrevolucionrios.O sculo XIX foi tambm para o Brasil uma poca

    de grandes transformaes polticas, econmicas eculturais. Nesse sculo, adquirimos a nossaindependncia poltica (deixamos de ser colnia paraser um Estado Nacional); fomos inicialmente regidos poruma Monarquia e terminamos o sculo sendo umaRepblica; houve a abolio da escravido; tivemos emmuitas cidades, notadamente na capital (Rio de Janeiro),altos ndices de crescimento populacional; comeou asurgir um pequeno processo de industrializao, etc.

    Questo de Reflexo

    Os socilogos desde cedo se ocuparam com a anlise das transformaes sociais(os estudos sobre as dinmicas sociais), identificando vrias formas e tipos de mudanas,

    tais como progresso, evoluo, reforma, revoluo e desenvolvimento. Elabore umtexto apresentando as principais diferenas entre esses conceitos.

    O sculo XIX foi tambm um sculo que teve grande interesse pela cincia. Oscientistas naturais (como os bilogos, fsicos e qumicos) eram figuram prestigiosas no mundouniversitrio e na sociedade em geral e as suas cincias eram tomados como exemplos doverdadeiro modelo cientfico que devia ser imitado por todos aqueles desejosos de construirum saber rigoroso e eficaz. Assim, muitos estudiosos preocupados em compreender eexplicar cientificamente as transformaes sociais e culturais que ocorriam na sociedadeutilizaram-se de procedimentos metodolgicos retirados das cincias naturais. Grande parte

    dos iniciadores da sociologia desejam moldar o seu conhecimento cientfico pela biologiaou pela fsica. Por exemplo, Augusto Comte (1798-1857), criador do termo sociologia(palavra hbrida proveniente do grego socius e do latim logos) considerado por muitoshistoriadores como o pai da sociologia; inicialmente rotulou essa disciplina, em 1822,

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    Cincia Poltica

    como fsica social. S mudou posteriormente de nome porque o belgaQutelet havia publicado anteriormente um livro com esse ttulo para se referirao que atualmente chamamos de estudos demogrficos-estatsticos.

    O Naturalismo na Sociologia. O Positivismo

    possvel afirmar que a sociologia teve vriospais. Tradicionalmente, Augusto Comte (1798-1857) apontado como o iniciador da cincia sociolgica.Comte foi professor de matemtica da Escola Politcnica(Paris) e em 1842 publicou, em seis volumes, o seuprincipal livro, Curso de Filosofia Positiva. Sua doutrinaseguiu posteriormente um curso sensivelmente distintoaps ter conhecido Clotilde de Vaux. Os fundamentosdessa nova fase do seu pensamento encontram-se nolivro Sistema de Poltica Positiva, publicado, em quatrovolumes, no ano de 1851. Alm de se preocupar comquestes prticas e morais, Comte instituiu nessa obra areligio positivista da humanidade que, governada porsocilogos-sacerdotes, deveria oferecer finalmente uma

    unidade e harmonia de pensamento, sentimentos e aes entre os homens. Muitos seguidoresde Comte romperam com ele devido a essa proposta.

    Como j observado, Comte foi o primeiro a utilizar o termo sociologia. Exerceu umaprofunda influncia nos tericos dessa cincia, principalmente em Herbert Spencer e EmileDurkheim (ver mais adiante). Desenvolveu uma teoria ou doutrina conhecida como positivismoou filosofia positiva.

    Conceitos Relevantes

    POSITIVISMO - doutrina que se caracteriza por:a) admitir que todo conhecimento para ser positivo deve se ater exclusivamente aos

    dados ou fatos da realidade;b) construir um pensamento cientificista sobre a realidade em oposio filosofia

    tradicional, como a metafsica (ramo da filosofia que se ocupa em determinar as regras

    fundamentais do pensamento e em determinar os primeiros princpios e causas primeiras doreal);c) buscar as leis invariveis do mundo natural e do social. Essas leis devem ser obtidas

    pela investigao emprica e por mtodos cientficos extrados das cincias naturais (unidadedas cincias). Da o positivismo ser considerado como uma interpretao naturalista dosfenmenos sociais;

    d) promulgar a neutralidade no conhecimento da realidade. O pensamento cientficodeve ser neutro aos valores humanos;

    e) buscar os fundamentos da ordem e do progresso para os fatos humanos.

    Convm notar que o termo positivista foi empregado por vrios filsofos. Alm do mais,

    no podemos considerar o positivismo como um movimento completamente unitrio. Mas importante no confundir uma filosofia que tem traosdo positivismo com o positivismopropriamente dito.

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    POLTICA POSITIVA Termo adotado por Comte para designar a cincia sociolgicaaplicada ao estudo das questes polticas.

    Os principais propsitos do positivismo de Comte foram; a) estabelecer as cincias,principalmente as sociais, sobre novas bases (para isso procurou fundamentar e classificar ascincias de acordo com os pressupostos do positivismo); b) determinar as estruturas essenciaisda sociedade mediante mtodos cientficos; c) mostrar que a filosofia positivista a que deveria

    imperar no futuro (da a sua preocupao em proceder uma reforma cientfica da sociedade).A concepo de cincia desenvolvida por Comte pode ser resumida da seguinte forma:o conhecimento positivo um estado ou fase de saber que gradualmente assumiu umamaturidade na mente humana. H uma hierarquia entre as cincias, formando uma espcie depirmide em cuja base encontra-se a matemtica e em cujo vrtice est a sociologia. Entreessas duas cincias encontram-se, em ordem ascendente, a astronomia, a fsica, a qumica e abiologia. Essa hierarquia deve-se a uma escala de especificidade e uma complicao gradualentre os saberes. Pela simplicidade e generalidade de seu objeto, a matemtica foi a cinciaque em primeiro se desenvolveu o conhecimento positivo. A astronomia j tem maior grau decomplicao e menos genrica do que a matemtica. Assim acontece com as demais, atchegarmos a sociologia: a cincia cujo objeto o mais concreto e apresenta maior grau de

    complexidade. Ela representa o estado ou fase final do pensamento positivo.

    A Esttica e a Dinmica Social

    O estudo cientfico da sociedade (a sociologia) deve se ater a dois aspectos dasociedade: o estudo da esttica social e da dinmica social. A primeira tem como objetivoinvestigar as leis que governam as aes e reaes das diferentes partes do sistema social(como a famlia, a economia, a poltica, etc,). Essas leis devem ser deduzidas das leis danatureza humana. Inspirando-se na biologia, Comte

    desenvolveu uma teoria sobre as partes (estruturas)que compem uma sociedade, o modo pela qual elasfuncionam e suas relaes com o conjunto do sistemasocial (a sociedade como um todo). As partes quecompem a sociedade se relacionam entre si deforma harmnica, garantia da ordem social.

    O estudo da Dinmica Social tem porobjetivo investigar as leis dos acontecimentos ousucesses dos fenmenos sociais. Comte designoudinmica social como o estudo do progressonatural da sociedade humana. Parte do pressuposto de que a sociedade se encontra sempreem processo de mudanas, mas essas mudanas so produzidas de acordo com as leissociais. H um processo evolutivo na histria atravs do qual a sociedade progride demodo constante at o seu ltimo destino. As mudanas sociais, portanto, so regidas peloprogresso.

    Conceitos Relevantes

    PROGRESSO A idia de progresso, em sua formulao original, est ancorada no

    modelo de transformao direcional, isso , na idia de tempo que flui de modo linear e deum movimento direcional em que cada estgio posterior de um processo est relativamentemais prximo de certo estado-final concebido do que qualquer estgio anterior. Logo, aconcepo de progresso sempre relativa aos valores considerados. No se trata, portanto,

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    de um conceito objetivo, descritivo, mas de uma categoria de valor. Os valorespodem variar enormemente entre pessoas, grupos, classes, naes, etc. Oque constitui progresso para algum pode no s-lo para outros.

    Tendo em vista que o objetivo da sociologia explicitar leis invariveisque regem a organizao e a transformao da sociedade, a teoria positivista

    concebe os indivduos como sujeitos que pouco podem fazer para influir namarcha geral do progresso. As pessoas podem apenas intervir para modificar

    o ritmo dos acontecimentos, mas no alteram a sua natureza ou sua origem.Para Comte, a lei da evoluo da humanidade se d mediante trs grandes estgios:

    o teolgico, o metafsicoe o positivo. a chamada lei dos trs estgios, fundamentadana premissa de que a mente humana, a histria e todas as modalidades de conhecimentoatravessam trs estgios bsicos. O primeiro o ponto de partida para os outros estgios. o momento em que a mente humana supe que existem foras ou seres sobrenaturais(deuses, diabos ou outras entidades espirituais) que regulam os fenmenos. Comte incluinessa fase, o fetichismo(adorao ou culto de objetos materiais considerados como a

    encarnao de um esprito), o politesmo(crena na existncia de vrios deuses) e omonotesmo(crena em um s deus, como nas religies catlica, muulmana ou hebraica).O segundo estgio teolgico caracteriza-se por ser transitrio entre o primeiro e o ltimoestgio, o positivo. Nessa fase, os seres sobrenaturais so substitudos por forasabstratas. Por exemplo, afirmar a fora misteriosa da natureza de alguma coisa comobjetivo de explicar as causas originais e os propsitos dos fenmenos do mundo ou afirmarque um evento aconteceu por que foi a vontade da pessoa. No estagio final e maisimportante (e desejvel para qualquer indivduo ou sociedade) - o positivo as pessoasabandonam a busca infrutfera das causas originais ou essncias, isso , as idias no-cientficas, para buscar as leis naturais e invariveis que governam todos os fenmenos.

    Fiis aos princpios do positivismo comtiano, muitos dos diversos cientistas sociaisbuscaram os fundamentos cientficos da sociedade. Inmeras foram as tentativas de reduzira sociologia de forma implcita ou no - ao imperialismo metodolgico das cinciasnaturais. Para alguns socilogos do sculo XIX, a sociologia deveria ser o captulo final deum estudo da fsica, da biologia, da geografia fsica ou mesmo da psicologia. Exemplossignificativos so as teorias racistas em que um fenmeno natural cor da pele tomadocomo um fenmeno social ou cultural.

    Entre os grandes socilogos positivistas cabe destacar o ingls Herbert Spencer(1820 - 1903). A principal preocupao de Spencer foi enunciar um conjunto de idias queconstituem a sua teoria geral da evoluo. Empregando os mtodos da histria comparadae influenciado pelas teorias do organicismo biolgico(segundo as quais a vida resulta da

    composio e coordenao das funes particulares dos rgos que compem o ser vivo),Spencer acreditava que todos os fenmenos naturais ou sociais que passam por umprocesso evolutivo partem de uma estrutura homognea para alcanar uma heterognea.Assim, as sociedades simplesou primitivas (que se caracterizam por serem relativamentehomogneas, no-civilizadas, com pouca diviso de trabalho - ver glossrio - e cujasorganizaes polticas so constitudas pelos sentimentos da comunidade) podem evoluirpara as que possuem organizaes mais compostas (complexas, civilizadas eindustrializadas, com mais alto grau de heterogeneidade).

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    O Positivismo e a Histria

    Importantes contribuies do Positivismo para os estudos histricos foram a nfasedada nas fontes dos arquivos, a profissionalizao do historiador e a preocupao desistematizar compndios sobre o mtodo histrico. Os historiadores que foram influenciadospelo modelo positivista concentraram-se, fundamentalmente, na histria dos eventos polticos.

    Alm do mais, a orientao positivista tende a desprezar os acontecimentos particulares eas biografias. Comte, por exemplo, criticava o estudo dos insignificantes detalhes produzidospela curiosidade irracional de compiladores cegos de anedotas inteis, propondo umahistria sem nomes. A historiografia proposta pelo modelo positivista enfatiza o que Comtechamou de leis de sucesso (a razo por que os acontecimentos histricos estorelacionados entre si e essas correlaes so expressas sob forma de leis). Para opositivismo, os fatos histricos so necessariamente produtos de causas antecedentes. Ahistoriografia positivista tem uma preocupao em apresentar os acontecimentos dopassado como uma contnua evoluo, como um aperfeioamento e melhoramento deprocessos sociais (idia de progresso).

    O Realismo Sociolgico de mile Durkheim

    Dentro da linhagem positivista, o filsofo esocilogo francs mile Durkheim um clssico paraas cincias sociais. Suas obras so at hoje lidas eservem como referncia importante para muitos tericosdas cincias sociais. Foi professor da Sorbonne e oprimeiro professor da cadeira de sociologia nessainstituio. Atravs da revista por ele coordenada,

    LAnne Sociologique, fundada em 1898, influencioumuitas reas do conhecimento social, como aantropologia, a histria e a lingstica. Em 1893 publicousua tese de doutoramento,A Diviso Social do Trabalho;em 1895, seu principal trabalho metodolgico, AsRegras do Mtodo Sociolgico. Logo em seguida, em1897, aplicou a sua metodologia no seu livro O Suicdio,

    um das pesquisas mais importante na histria da sociologia. A sua obra mais famosa AsFormas Elementares da Vida Religiosa(1912)

    Durkheim considerado como o fundador da Escola Objetiva Francesa, a qual

    congregava um conjunto de cientistas sociais que participavam da revista Anne Sociologique,por ele fundada. O seu pensamento usualmente classificado como realismo sociolgico,devido a sua concepo de tratar os fenmenos humanos como dotados de uma realidadeespecfica. Durkheim tambm um dos principais representantes da sociologia sistmica,na qual h uma grande nfase na anlise dos desempenhos de sujeitos individuais ou coletivosque interagem mediante comportamentos especficos (econmicos, polticos, religiosos, etc.)previstos por normas reguladoras. A idia de sistema social norteadora nesse tipo de anlisesociolgica (veremos mais detalhes no contedo seguinte).

    O Fato Social

    O desenvolvimento e uso do conceito de fato social constituem o ncleo da sociologiade Durkheim. Para ele, a sociologia o estudo dos fatos sociais, os quais devem ser tratadoscomo coisas, embora sejam coisas sui generis (peculiar, um tipo particular de ser). Como

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    coisas, os fatos sociais devem ser estudados empiricamente e no filosoficamente.Esse conceito foi criado para sustentar a autonomia cientfica da sociologia (verglossrio), dotando-a de um objeto claro e particular. Para Durkheim, qualquerfato social deve ser explicado apenas por outros fatos sociais e no por refernciaa fenmenos naturais, religiosos, psicolgicos ou sobrenaturais. Um exemplo oseu estudo sobre o suicdio. Embora no deixe de ser um ato voluntrio (e, portanto,

    de ordem psicolgica), o suicdio analisado por Durkheim como um fenmenosocial que est ligado ao estado de coeso da sociedade. Ou seja, a taxa de

    suicdio de uma sociedade depende do grau de solidariedade existente entre os indivduos.Assim, quanto menos forte for a coeso social, mais elevada dever ser a taxa de suicdio.

    Os fatos sociais referem-se s estruturas sociais, assim como as normas e os valoresculturais de uma sociedade. Em outras palavras, so as maneiras coletivas de atuar, de fazer,de pensar e de sentir que so impostas coercitivamente aos indivduos. Alm do mais, sogerais em toda uma sociedade. Nesse sentido, eles se caracterizam por: a) serem dados externoss mentes dos indivduos (no podem ser, portanto, concebidos mediante uma atividadepuramente mental); b) seremcoercitivospara os atores sociais. Por serem externos e coercitivos,

    os fatos sociais se diferem dos fatos psicolgicos (que so internos e herdados).Partindo do conceito de fato social, Durkheim definiu a sociedade como uma sntese (eno uma soma) de conscincias individuais. Para refletir sobre a diferena entre soma esntese um conceito retirado da qumica pense na composio da gua. A gua formadapor dois gases (oxignio e hidrognio) que, unidos por uma determinada forma, gera umarealidade nova, um lquido. Assim, a sntese das conscincias individuais (realidades psicolgicas)formaria uma nova coisa, a sociedade.

    At que ponto a concepo da sociedade como sntese de conscincias individuaisdeve ser mantida? Qual o risco que essa concepo traz para se pensar no papel eimportncia do indivduo? Como explicar, por exemplo, a existncia do conflito, do bandidoou do revolucionrio? Para discutir essas questes, leve em devida considerao osseguintes aspectos: a) na imagem da sntese qumica (como a da gua), os gasesdesaparecem para a formao desse lquido; b) porm, para se manter a individualidade, necessrio que exista previamente uma realidade comum da qual o indivduo se aparta.

    Para Durkheim, os fatos sociais podem ser materiais e imateriais. Os materiais soentidades reais, como a arquitetura ou a diviso social do trabalho (que indica as tarefas ouresponsabilidades que so especializadas entre os indivduos). Esse ltimo conceito muitoimportante na sociologia durkheimiana devido as enormes implicaes para a estrutura dasociedade.

    Conceitos Relevantes

    ESTRUTURA SOCIAL um dos conceitos centrais nas cincias sociais, embora

    tenha muitas significaes. De uma maneira geral, esse conceito refere-se rede de relaesde interdependncia relativamente estveis que existem entre um determinado conjuntosocial, como nos grupos sociais, nas instituies, nas classes, etc. Trata-se de um conceitoque est ligado idia de sistema. Sistema um conjunto de elementos relacionados entre

    Questo de Reflexo

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    si e organizados de tal modo que cada elemento funo de algum outro. Assim, a mudanaem um desses elementos implica na alterao de outros e, conseqentemente, do sistemacomo um todo. A estrutura a forma ou padro pela qual os elementos esto organizadosem um sistema.

    Solidariedade Mecnica e OrgnicaDurkheim concebeu dois grandes tipos de sociedade: as primitivas (caracterizadas

    pela solidariedade mecnica) e as complexas (dotadas de solidariedade orgnica). Associedades primitivas se caracterizam por apresentar uma estrutura social indiferenciada,com pouca diviso do trabalho. Nelas, os indivduos tendem a fazer as mesmas coisas e,conseqentemente, h poucas diferenas entre eles. Nas sociedades regidas pelasolidariedade orgnica, onde a diviso do trabalho complexa, o que mantm unidos osindivduos justamente a diferena entre eles, devido ao fato de terem diferentes tarefas eresponsabilidades. Ou seja, na proporo que a sociedade evolui (torna-se moderna), aspessoas desenvolvem um maior nmero de tarefas relativamente pequenas e,conseqentemente, passam a depender mais um dos outros para garantir a suasobrevivncia.

    Conceitos Relevantes

    SOLIDARIEDADE Refere-se a laos recprocos de pessoas. Mais especificamente,diz respeito aos vnculos e relaes de responsabilidade que as pessoas estabelecempara a manuteno de um grupo social ou de uma sociedade. Ou seja, a capacidade dosmembros de uma coletividade de agir, junto com outros, como um sujeito unitrio. O interesse

    de Durkheim em abordar a questo da solidariedade era para descobrir o que mantmunida uma sociedade.

    SOLIDARIEDADE MECNICA Base das sociedades primitivas que secaracterizam por apresentar pouca diviso do trabalho. So sociedades fundadas nasemelhana de tarefas desenvolvidas entre os indivduos. Nessas sociedades, os indivduosparecem que esto presos uns aos outros como uma pea numa engrenagem mecnica etendem a desenvolver pensamentos e sentimentos semelhantes. A unio entre as pessoasse deve a que todos esto implicados na realizao de atividades parecidas eresponsabilidades semelhantes.

    SOLIDARIEDADE ORGNICA Base das sociedades complexas, cuja organizao

    social est fundada por uma diviso do trabalho complexa e minuciosa. Nessas sociedades,a sobrevivncia do indivduo depende das tarefas desenvolvidas por numerosos outros,assim como os rgos que compem um determinado organismo vivo. A unio entre aspessoas se deve maior interdependncia entre elas.

    Questo de Reflexo

    1.A sociologia tem tradicionalmente tentado estabelecer uma tipologia para classificaras sociedades. Durkheim, por exemplo, concebeu um critrio distintivo baseado na maiorou menor diviso do trabalho na sociedade. O socilogo alemo Ferdinand Tnnies (1855-

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    ,

    1936), por sua vez, distinguiu comunidade de sociedade. Comunidade uma forma de convivncia mais antiga e mais rural. Caracteriza-se pelopredomnio do grupal, da vontade comum, dos interesses coletivos e datradio. Na sociedade, por sua vez, h o predomnio da vontade individual(os membros so fortemente individualistas), as aes de cada indivduo soorientadas pela opinio pblica, por modas e novidades. A solidariedade

    gira em torno do intercmbio de mercadorias e servios e h o predomnio dapropriedade privada. Com base nas classificaes propostas por Durkheim

    e Tnnies, tente identificar e caracterizar alguns grupos sociais rurais ou tradicionaissobre os quais voc tenha razovel informao e compare com a nossa sociedade modernae urbanizada em que vive.

    2.Analise a extenso da diviso social do trabalho que foi necessria para que voctenha um jantar em um restaurante.

    Os fatos sociais imateriais so as normas, valores e representaes coletivas ou,em termos mais gerais, a cultura (ver glossrio). Durkheim analisou os problemas damoralidade comum da sociedade de diferentes maneiras e mediante diversos conceitos.Um desses conceitos foi o de conscincia coletiva. Diferente das conscincias particularesdos indivduos, a conscincia coletiva o conjunto de crenas e sentimentos comuns a

    todos os membros de uma mesma sociedade. Contudo, cabe observar a conscincia coletiva menos importante nas sociedades com solidariedade orgnica do que nas desolidariedade mecnica. Um outro importante conceito o de representao coletiva. Asrepresentaes coletivas referem-se s formas, normas e valores pelos quais os indivduoscoletivamente apreendem uma dada realidade.

    Nos ltimos anos, Durkheim se interessou pela religio, desenvolvendo um extensoestudo sobre a religio primitiva. Para ele, as razes da religio se encontram na estruturasocial da sociedade. a sociedade que define certas coisas como sagradas e outrascomo profanas.

    Durkheim sempre se preocupou com as reformas sociais, mas se ops a revoluo

    social. Era um reformador e acreditava que os problemas da sociedade moderna eram deordem patolgica, de ndole moral e, portanto, deviam ser remediadas. Para aliviar astenses provocadas pelas patologias sociais, Durkheim props vrias reformas, como odesenvolvimento de associaes profissionais e mudanas na moralidade coletiva.

    Durkheim e a Histria

    A sociologia durkheimiana, por sua vez, exerceu uma influncia considervel nahistria contempornea. O conceito de representaes coletivas tem sido amplamenteutilizado pelos estudiosos da chamada histria das mentalidades coletivas, representada

    por muitos dos historiadores ligados escola dos Annales. A escola dos Annales onome que usualmente se tem dado nova histria produzida por um pequeno grupoassociado revista Annales, criada na Frana em 1929. O ncleo central do grupo formadopor Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel e Georges Duby.

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    As Sociologias Sistmicas e a Tradio Durkheimiana. Funcionalismoe Estruturalismo

    O sculo XX foi o perodo em que as cincias sociais adquiriram a sua plenamaturidade intelectual. Isso no significa dizer que no h mais espao para o crescimentodessas cincias. Muito pelo contrrio. As cincias sociais tm continuamente ampliado o

    seu terreno, constituindo novos tipos e integraes tericas e metodolgicas. Os cientistassociais tm procurado novos objetos de estudo, tornando suas reflexes mais complexas,sem desprezar os grandes paradigmas dos clssicos, principalmente aqueles formuladospor Marx, Durkheim e Weber.

    No complexo panorama moderno das cincias sociais, possvel identificar, a grossomodo, as seguintes escolas: o funcionalismo, as teorias marxistas, as teorias estruturalistase neo-estruturalistas, o interacionismo simblico e as cincias sociais de basefenomenolgica. Contudo, importante chamar a ateno que essas escolas no esgotamas diversas tendncias das cincias sociais. As escolas mencionadas so apenas asmais importantes e paradigmticas do sculo XX. A partir da dcada de 1960, novas

    orientaes tm surgido, algumas delas se caracterizam pelos desdobramentosapresentados por esses modelos (como as chamadas teorias neo-funcionalistas, ps-estruturalistas, neo-marxistas, etc.) outras desenvolvem reflexes terico-metodolgicasque no cabem em rtulos simplificadores. Alm do mais, h uma forte tendncia atual pelamultidisciplinaridade ou a interdisciplinaridade entre as cincias sociais. Essa tendncialevanta questes importantes e complexas a nvel terico e metodolgico.

    Como j observado, um dos principais ramos de anlise nas cincias sociais foitraado por Durkheim, representante da sociologia sistmica. Como o nome indica, trata-se de uma modalidade de anlise que est voltada basicamente para o estudo do sistemasocial, isso , para entendimento das tramas das relaes relativamente estveis,

    independentes da identidade dos indivduos. Nessa concepo, a sociedade usualmenteconcebida como uma totalidade, composta por um conjunto de normas, princpios e valores,que so estabelecidas independentes da conscincia do indivduo. O funcionalismo, oestruturalismo e o marxismo so exemplos de anlises sistmicas da sociedade. As duasprimeiras sero objeto de estudo do presente captulo.

    Fundamentos do Funcionalismo

    Entre as dcadas de 1930 e 1960, o funcionalismo foi a teoria dominante nas cinciassociais. Nos fins do sculo XX, perdeu muito da sua importncia, mas no desapareceu.

    Atualmente, esta sendo revivido por uma gerao de novos socilogos, como os americanosPaul Colomy e Jeffrey Alexander, conhecidos como neo-funcionalistas.A teoria funcionalista usualmente designada como teoria do consenso, pois

    enfatiza a existncia de normas e valores comuns como fundamentais para a manuteno(ordem) de uma sociedade. A teoria do consenso se contrape as teorias do conflito,exemplificada pelo marxismo e por Simmel, entre outros. Estas pressupem que a ordemsocial est baseada na manipulao e controle dos grupos dominantes e que as mudanassociais se produzem a medida que os grupos subordinados vencem os grupos dominantes.

    Auguste Comte, Herbert Spencer e Emile Durkheim foram os socilogos que maisinfluenciaram o funcionalismo. Todos eles partem do pressuposto de que a sociedadeapresenta analogias com o organismo biolgico, isso , tem uma estrutura orgnica ou

    sistmica. Isso significa dizer que a sociedade concebida como um conjunto compostode elementos que interagem entre si para a manuteno e equilbrio de um todo (asociedade). Os componentes do sistema ou organismo social contribuem positivamentepara o funcionamento da sociedade.

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    O funcionalismo adota uma perspectiva de equilbrio entre oscomponentes do sistema social. A principal preocupao dessa escola com a ordem normativa social. Os funcionalistas no ignoram ou negam asmudanas sociais (no so necessariamente conservadores polticos).Analisam as mudanas como resultante dos desequilbrios dos elementos quecompem o conjunto do sistema social. Assim, quando o conjunto do sistema

    experimenta uma mudana porque ocorre uma mudana em um ou maisdos elementos componentes do sistema.

    Conceitos Relevantes

    FUNO SOCIAL - Uma palavra chave para a teoria funcionalista. Para essa escola,funo se refere ao fato de que: a) cada unidade constituitiva de um conjunto tem um papelimportante e indispensveis para a sustentao de um todo integrado (sociedade); b) asunidades so interdependentes entre si (esto ligadas por uma rede de relaes).

    Uma das principais preocupaes dos funcionalistas analisar o que um sistema

    social requer para sobreviver. Em outras palavras, o que eles procuram explicar so os pr-requisitos funcionais de um fenmeno social. Alguns desses pr-requisitos so:caractersticas demogrficas da sociedade; os agentes de controle social que podemrecorrer fora para enfrentar os conflitos; os mtodos pelos quais a sociedade extrai doseu contorno o que necessrio a sua sobrevivncia (alimentos, energia, matrias primas,etc.); mtodos que regulem a relao entre os sexos; a disposio adequada de papissociais e mecanismos que asseguram s pessoas esses papis; um sistema decomunicao adequada, etc.

    A Teoria Sistmica de Talcott Parsons (1902-1979)

    O cientista social americano Talcott Parsons foi ogrande terico do funcionalismo. A sua teoria conhecidacomo funcionalismo estrutural. Para Parsons, o sistemasocial consiste em uma pluralidade de atores individuaisque interagem entre si em uma dada situao que tem,ao menos, um aspecto fsico ou de meio-ambiente, ondeso motivados por uma tendncia a obter gratificaese cujas relaes com sua situao est mediada e definidapor um sistema cultural estruturado. Assim, o sistema social

    est subdividido em quatro grandes elementos ousubsistemas de ao interligados entre si. O primeiro oorgnico (as relaes que os atores sociais tm com oseu meio-ambiente; as fontes de energia que os atoresextraem para a sustentao do seu organismo biolgico).

    O segundo, o subsistema da personalidade(caracterizado pela orientao e motivao dasaes desenvolvidas pelos atores individuais). O terceiro, o subsistema social, o qual compostopelos statuse papisdesempenhados pelos indivduos. Status se refere posio estruturalque o ator ocupa no seio da sociedade, e papel o que faz o ator nessa posio. O ltimosubsistema o cultural. E ele a principal fora que liga os outros trs elementos do mundo

    social. So as normas, valores, padres de comportamento, os acervos de conhecimento eidias que existem em uma sociedade.Uma das principais crticas teoria parsoniana (e das sociologias sistmicas, como um

    todo) a de que ela est alicerada no princpio da anterioridade da sociedade em relao ao

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    indivduo. Ou seja, ao buscar a sobrevivncia e a estabilidade dos sistemas sociais, Parsons: a)limitou a atuao dos indivduos, reduzindo suas capacidades de crtica de agente transformadordo mundo social; b) deu pouca nfase ao conflito social (para Parsons, conflito um desvio, umdistrbio passvel de controle, dada a preeminncia da cooperao e do consenso que garantema ordem social); c) enfatizou demasiadamente os aspectos abstratos e genricos da sociedade(anlise macro-terica) em detrimento das microinteraes da vida cotidiana. Parsons tende a

    pressupor que os indivduos meramente respondem a foras superiores a eles, ignorando queas sociedades e grupos humanos so compostos por indivduos que desenvolvem o seu eu,que interpretam a ao dos outros e que no agem necessariamente em conjunto com ummesmo objetivo. Os neo-funcionalistas retomam criticamente aspectos da teoria parsoniana eincorporam elementos de perspectivas sociolgicas que enfatizam as temticas do conflito social.

    Teorias Sociolgicas Estruturalistas

    Dentre as teorias sociolgicas estruturais, a mais importante delas o estruturalismo.Existem marcadas diferenas entre os autores que compem essa escola, mas todoseles manifestam uma preocupao em analisar as estruturas sociais. Em termos gerais, oestruturalismo procura as leis universais e invariantes da humanidade que operam em todosos nveis da vida humana. A raiz sociolgica dessa teoria encontra-se nos ltimos trabalhosde Durkheim e nos estudos lingsticos de Ferdinand de Saussure (1857-1913).

    A distino que Saussure estabeleceu entre langue (lngua) e parole (fala) particularmente importante para as teorias estruturalistas. Langueconstitui o sistema formalgramatical de uma lngua ou estruturas fundamentais de uma lngua. Exemplo: as leisgramaticais da lngua portuguesa compem o que Saussure chama de langue. Parole(fala),por outro lado, o modo pelo qual as pessoas usam a lngua para se expressar. Quandocada um de ns falamos com outros, estamos utilizando determinadas estruturas gramaticais

    sem que tenhamos conscincia disso. Para Saussure, o estudo cientfico deve se concentrarna anlise da langue, desde que a parole uma questo de ordem individual, subjetiva.Para as cincias sociais, a obra mais importante no estruturalismo foi realizada pelo

    antroplogo francs Claude Lvi-Strauss (nascido em 1908). Ele iniciou sua carreiraensinando na Universidade de So Paulo. Lvi-Strauss analisou vrias sociedades tribaise sistemas de parentesco de um modo parecido com que Saussure fez com os dadoslingsticos. A concluso de Lvi-Strauss a de que as verdadeiras estruturas fundamentaisda sociedade so as estruturas da mente humana. Em todo o mundo, os produtos humanostm uma fonte bsica idntica: o sistema mental. Mas esse sistema no produto de umprocesso consciente.

    Mais recentemente, os estudos estruturalistas adquiriram novas dimenses com os

    trabalhos dos ps-estruturalistas (ou neo-estruturalistas). O filsofo e cientista social francsMichel Foucault (1926-1984) a figura mais representativa dessa corrente. A sua produo imensa e tem despertado cada vez mais interesse pelos historiadores. Seus principaislivros: Histria da Loucura, As Palavras e as Coisas, Arqueologia do Sabere Histria daSexualidade. Em seus trabalhos iniciais ele procurou realizar uma arqueologia do saber.O objetivo da arqueologia do saber analisar um conjunto de regras que determinam oconhecimento e as idias de uma determinada poca. Mais tarde, Foucault passou a seinteressar pelas questes do poder e do vnculo entre saber e poder. Para essa novaorientao ele utilizou a expresso genealogia do poder. A preocupao agora era a deidentificar e caracterizar as formas de poder existentes na sociedade. O conceito de poder

    para Foucault no se limita apenas idia de poder poltico do Estado, mas tambm aoque chamada de micro-poder. Em outras palavras, o poder no caracterstico de umadeterminada classe ou de uma elite dominante. Poder no se origina nem na poltica, nemna economia. O poder permeia todos os aspectos da vida social. Em todas as relaes

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    Cincia Poltica

    sociais h sempre um componente do poder,como, por exemplo, nas relaes entre omdico e o paciente ou nas relaes sexuais.

    A obra de Foucault tem sido altamentelouvada pelos historiadores, embora tambmatacada por outros. A sua contribuio para a

    nova histria cultural bastante significativa. Acultura estuda por ele no atravs das classesou do progresso, mas mediante as tecnologias do poder.

    Atividade Complementar

    1.Elabore um texto ao qual discute como o incremento da diviso do trabalho tornoucomplexa a sociedade contempornea

    2.Assista ao filme Tempos Modernos de Charles Chaplin e faa um comentriosociolgico sobre esse filme.

    Resumo Esquemtico do Bloco I

    1. Noes elementares de epistemologia (teoria da cincia). A cincia dotada demaior rigor e eficcia do que as outras modalidades de conhecimento (filosofia,moral, religio, senso comum)2. Diferentes tipos de cincias.2.1 Cincias Naturais - lidam com fatos que: a) so externos conscincia humanae esto localizados no tempo e espao; b) so neutros aos valores; c) so objetosde explicao.2.2 Cincias Sociais: lidam com fatos que: a) se do no tempo e no espao; noso neutros aos valores; c) so objetos de compreenso.3. Os precursores das Cincias Sociais os filsofos sociais.3.1 Sofistas o incio do pensamento sobre o ser humano3.2 Plato (A Repblica) e Aristteles (A Poltica)3.3 Idade Mdia Ibn Kaldun3.4 Renascimento: Thomas More (Utopia), Maquiavel (O Prncipe), ThomasHobbes (Leviat)3.5 Iluminismo precursores imediatos das cincias sociais. Rousseau (O ContratoSocial).4. O nascimento da sociologia no sculo XIX. Contexto poltico, econmico e cultural4.1 O positivismo de Augusto Comte.O Estudo da Esttica e da Dinmica Social

    4.2 O realismo sociolgico de Durkheim. O fato social e a solidariedade.5. Fundamentos das sociologias sistmicas no sculo XX. Funcionalismo eestruturalismo.

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    3.Verifique os tipos de sanes em um dos grupos sociais que voc pertence (porexemplo: famlia, escola, trabalho)

    O MARXISMOEAS TEORIASDAAO SOCIAL

    A relao entre a teoria de Karl Marx (1818-1883) com a sociologia foi atrecentemente problemtica. Marx criticou a sociologia que, para ele, se resumia nopensamento de Comte. Durante muito tempo, a teoria marxista no era ensinada na maioriadas universidades americanas e da Europa Ocidental. O marxismo era usualmente vistocomo uma ideologia(ver glossrio) e no como um conhecimento cientfico. Mas a partir

    da dcada de 1960, e, principalmente, aps a guerra fria, essa situao mudou. Omarxismo e neo-marxismo (marxismo contemporneo) passaram a ocupar lugar de destaquenos principais centros acadmicos do mundo, exercendo uma profunda influncia nascincias sociais. Atualmente, devido o fracasso das sociedades comunistas, a teoriamarxista tem sido objeto de crticas, algumas delas injustas e outras pertinentes.

    Procure em um livro de histria contempornea ou pela Internet o que foi a GuerraFria e o colapso das sociedades comunistas. Discuta a significao, alcance econseqncias desses dois fenmenos do mundo atual.

    Momento de Reflexo

    MARXEA TRADIO MARXISTA

    O Marxismo Clssico de Karl Marx

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    Tpicos deSociologia e

    Cincia Poltica

    Karl Marx se doutorou emfilosofia (1841) pela Universidade deBerlim e estudou profundamente osistema hegeliano (Wilhel FriedrichHegel: 1770-1831) e os escritos dossocialistas utpicos franceses,

    principalmente Proudhon (1809-1865). Saindo da Alemanha, foi viverna Frana, onde conheceu Friedrich Engels (1820-1895), seu amigo, benfeitor e colaborador peloresto da sua vida. Expulso de Paris, Marx mudou-se para Londres (1849), onde permaneceu at asua morte e onde escreveu as obras tericas maisimportantes. Seus principais trabalhos so:Manuscritos Econmico-Filosficos (1844),Manifesto do Partido Comunista(em parceria com Engels, 1848), O 18 de Brumrio de LuisBonaparte(1852) e O Capi