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02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil SIMPÓSIO - Descrição e Ensino: aspectos funcionais e formais presentes nas gramáticas em L1, L2 e LE,variabilidade, contato, preconceito e seu impacto no ensino.

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02 a 05 setembro 2013

Faculdade de Letras UFRJRio de Janeiro - Brasil

SIMPÓSIO - Descrição e Ensino: aspectos funcionais e formais presentes nas gramáticas em L1, L2 eLE,variabilidade, contato, preconceito e seu

impacto no ensino.

O modo imperativo em Salvador: uma análise variacionista Joana Angélica Santos

Construções de tópico-comentário no PB: reflexões sobre a constituição da sentença e o ensino Mônica Tavares Orsini e Mayara Nicolau de Paula

INDÍCE DE TRABALHOS(em ordem alfabética)

A compreensão do conceito de norma: uma proposta para o trabalho com a variação linguística na sala de aulaJoseli Rezende Thomaz

Página 06

Ensino de inglês e ordenação vocabular: o caso da ordem VS Roberto de Freitas Junior

Oração Subordinada Adverbial e oração coordenada explicativa: uma abordagem contrastiva Keittimere Aparecida Justino e Patricia Ferreira Botelho

Ordens SV e VS no livro didático de história: a (in)formalidade no gênero acadêmico Gabriela Cristina Almeida Lamim

Sujeitos nulos, tópicos e a satisfação do EPP na aquisição da segunda língua:a influência do português brasileiro no ensino e aprendizado de inglês Amanda TobioGrille Viegas e Marina R. A. Augusto

Página 08

Página 13

Página 14

Página 14

Página 11

Língua Falada X Língua EscritaBruna Loures de Araujo Barroso Página 10

Página 04

Em prol de uma nova abordagem dos verbos auxiliares aspectuais indicadores de fases de desenvolvimento da predicaçãoMarcia dos Santos Machado Vieira e Bruna Cupello Araripe Pereira Página 07

Página 09

L1 X L2: Análise Contrastiva como Base para Ensino doPortuguês do Brasil nas Escolas WaimiriAtroariEneida Santos

Página 12O trabalho didático com a oralidade sob o viés da SociolinguisticaJosina Augusta Tavares e Lucia F. Mendonça Cyranka

Seriam as normas gramáticas? Ricardo Joseh Lima, Monica de Azevedo Rodrigues Paulo e Thayane Santos Antunes Página 15

3

Compreender o conceito de norma, bem como a distinção entre norma padrão, norma gramatical e

norma culta pode nos ajudar a desfazer alguns equívocos cometidos há muito no ensino de Língua

Portuguesa sobre o “certo”e “errado” em língua e viabilizar o trabalho com a pedagogia da variação

linguística na escola. O presente trabalho faz, então, um breve histórico da construção do conceito

de gramática,mostrando como e por que se construiu, ao longo da cultura ocidental, a ideologia do

padrão ligado ao “melhor” em linguagem. No entanto, ao partirmos da concepção sociolinguista de

que a língua é heterogênea, múltipla e variável, um trabalho coletivo empreendido por todos os seus

falantes nos diversos processos de interação, entendemos que o fenômeno da variação é um processo

intrínseco à língua.

Assim sendo, a norma é um conjunto de fenômenos linguísticos que são comuns, corriqueiros numa

dada comunidade, é possível concluir quenão há uma única norma. Como destaca Faraco (2008), toda

norma tem uma organização estrutural. No entanto, a escola muitas vezes continua a ensinar uma

língua artificial, condenando a maioria dos usos correntes, sem levar em conta os fatos da língua usual.

Em vista disso, faz-se necessária uma reeducação sociolinguística que passe não só pelos alunos, mas

primeiramente, e principalmente, pelo próprio professor, uma vez que este não pode compartilhar dos

mesmos conceitos preconceituosos e arcaicos que circulam no senso comum.A partir da concepção

dialógica da linguagem(BAKTIN, 2006),desenvolvemos uma pesquisa-ação com alunos do 7° ano de

uma escola da rede particular de ensino da cidade brasileira de Juiz de Fora (MG), usuários de uma

das variedades urbanas prestigiadas da língua portuguesa.

A análise contrativa de estruturas dos diferentes dialetos presentes no contínuo rural-urbano, bem

como nos contínuos de monitoração estilística e de oralidade letramento (BORTONI-RICARDO,

2004) tem permitido fazê-los entender esse complexo fenômeno, natural em todas as línguas. Impor

uma norma padrão fossilizada, através da decoreba da gramática normativa, é uma forma de anular

a cultura do aluno, além de desvalorizar sua fala, tratando-o como incapaz.Na verdade, o que é

necessário é que a escola desenvolva uma pedagogia da variação linguística sensível às diferenças

sociolinguísticas e culturais dos alunos, mas para isto, requer compreensão e mudança radical na

postura de professores, alunos e da sociedade em geral.

PALAVRAS CHAVE: Norma padrão, norma culta e norma gramatical. Sociolinguística educacional.

A COMPREENSÃO DO CONCEITO DE NORMA: UMA PROPOSTA PARA O TRABALHO COM A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA

Joseli Rezende Thomaz

4

A tradição gramatical, ao tratar da constituição da sentença, aponta como seus termos essenciais o sujeito

e o predicado (cf. Cunha e Cintra 1985), descrição respaldada na interpretação de ser o português uma

língua de sujeito. Contudo, Li e Thompsom (1976) afirmam que as línguas naturais apresentam duas

estratégias distintas de construção da sentença – sujeito-predicado e tópico-comentário -, havendo,

portanto, além das línguas de sujeito, aquelas em que a relação tópico-comentário é predominante

(línguas de tópico) e aquelas em que ambas as estruturasse revelam importantes, caracterizando um

sistema com proeminência de tópico e de sujeito.

Análises empíricas, comcorpora de fala e de escrita, de sentenças que se estruturam em torno da relação

gramatical tópico-comentário(cf. Orsini e Vasco 2007; Paula 2012; Orsini 2012), fundamentadas no

estudo da mudança descrito por Weinreich, Labov e Herzog (2006[1968]) e na Teoria de Princípios e

Parâmetros proposta por Chomsky (1981) e desenvolvidas segundo a metodologia da Sociolinguística,

evidenciam, diferentemente do que prevê a descrição tradicional, que estas construções são recorrentes

na sincronia do PB, reflexo da mudança na marcação dos Parâmetros do Sujeito Nulo e do Objeto

Nulo, permitindo classificá-locomo uma língua mista, em que ambas as estruturas coexistem, com

igual relevância. Assim, enunciados como (1) [As praias do Nordeste]ielasi são todas muito lindas,

em que o tópico, isto é, o termo sobre o qual se declara algo - as praias do Nordeste -, é retomado no

comentário pelocorreferenteelas, sujeito da oração,são comumente produzidos por falantes cultos ou

não, em situações de maior ou menor grau de formalidade. Construções desse tipo, no entanto, não

constituem um conjunto homogêneo, reunindo diferentes estratégias conforme a conectividade que

se estabelece entre o tópico e o comentário. Berlinck, Duarte e Oliveira (2009) assinalam a existência

de quatro tipos distintos: anacoluto, deslocamento à esquerda, topicalização e tópico-sujeito.

Este trabalho objetiva apresentar os resultados de pesquisas acerca do tema em foco, confrontando a

frequência e as características estruturais destas construções em corpora distintos, à luz docontinuum

oralidade - escrita. Desta forma, serão discutidos, de um lado,os resultados de trabalhos com dados

coletados das falas culta (Projeto NURC)e popular (Projeto PEUL), e, de outro, os resultados da

análise de dados coletados da modalidade escrita, oriundos de três gêneros textuais: peças teatrais,

redações de vestibular e textos acadêmicos, o que possibilitará delinear o comportamento dessas

construçõesem diferentes modalidades e registros:do texto oral informal (fala popular) ao texto

CONSTRUÇÕES DE TÓPICO-COMENTÁRIO NO PB: REFLEXÕES SOBRE A CONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA E O ENSINO

Mônica Tavares Orsini e Mayara Nicolau de Paula

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escrito formal (texto acadêmico), que exige do produtor o domínio da estrutura sentencial descrita

pela gramática normativa.

Pretende-se, deste modo, promover uma reflexão acerca do estudo da sentença nos níveis fundamental

e médio de ensino, a fim de (a) mostrar o conflito que se estabelece entre a fala do aluno e um ensino

pautado na escrita culta, que atua de forma coercitiva, avaliando negativamente construções como

(1); (b) discutir os resultados da pesquisa que revelam a diminuição da frequência das construções de

tópico-comentário em textos escritos de alto grau de monitoramento, como os textos acadêmicos, em

decorrência, certamente, da avaliação que a escola faz dessas construções, e (c) propor atividades que

levem em consideração o fato de ser o PB uma língua de proeminência de tópico e de sujeito, fazendo

com que a prática pedagógica esteja em permanente diálogo com a pesquisa linguística, conforme

propõe o simpósio em questão.

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Propõe-se uma comunicação em que se pretende desenvolver uma caracterização das propriedades

semânticas e funcionais de verbos (semi-)auxiliares aspectuais que indicam as fases inicial e final

de desenvolvimento de uma predicação, tais como os destas perífrases: começar a Vinfinitivo,

passar a Vinfinitivo , pôr-se Vinfinitivo a, deixar de Vinfinitivo, terminar de Vinfinitivo, parar de

Vinfinitivo, acabar d Vinfinitivo. A investigação em que se pauta essa proposta toma por base dados

do comportamento observável em textos escritos e orais de brasileiros e portugueses. Com isso, a

caracterização desses verbos (semi-)auxiliares conta, ainda, com tendências detectadas por variedade

nacional do Português e por modalidade expressiva.

É preciso reconhecer que, quando é tratado, o tema geralmente não é devidamente descrito no ensino de

Português. A descrição limita-se a uma listagem dos recursos gramaticais disponíveis. A pesquisa em

que se insere a proposta deste estudo tenciona justamente contribuir para que se possam rever lacunas

e elementos da descrição dos verbos auxiliares aspectuais e para que, com base na caracterização

das estratégias recorrentemente utilizadas no Português para a marcação gramatical das fases de um

estado de coisas, se possa refletir sobre uma abordagem do tema que leve em conta elementos do

âmbito da construção textual, ou seja, que propicie a articulação de suas perspectivas gramatical e

discursivo-textual. Afinal, aspecto é uma categoria conceitual que codifica a constituição interna de

um estado de coisas, a existência de fases de desenvolvimento deste e a possibilidade de valorização de

uma dessas fases. E as escolhas relativas a essa valorização não dizem respeito apenas ao enunciado,

mas também a elementos da enunciação.

A predicações em que se encontram os verbos (semi-)auxiliares em análise foram coletadas em textos

orais e escritos de fontes diversas. Os dados são tratados segundo orientações do Funcionalismo,

pressupostos de gramaticalização e categorização radial e teorizações sobre classes aspectuais.

Objetiva-se verificar, por exemplo: (i) que formas verbais são recorrentes na expressão dos aspectos

inceptivo e terminativo, por variedade nacional e modalidade expressiva; (ii) potencialidades de

sentido e funcionamento discursivo dos verbos aspectuais registrados no corpus; (iii) o caráter

variável da semântica e da função desses verbos em decorrência de propriedades do verbo auxiliado

e/ou de outros elementos da predicação; (iv) motivações textuais relacionadas ao emprego dos verbos

auxiliares aspectuais.

EM PROL DE UMA NOVA ABORDAGEM DOS VERBOS AUXILIARES ASPECTUAIS INDICADORES DE FASES DE DESENVOLVIMENTO

DA PREDICAÇÃO

Marcia dos Santos Machado Vieira e Bruna Cupello Araripe Pereira

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Entre as hipóteses deste estudo, estão estas: (i) a de que elementos da predicação e o grau de

gramaticalização das formas disponíveis podem determinar a mobilização preferencial de certos

verbos (semi-)auxiliares aspectuais; (ii) a de que há implicações de ordem textual que acionam o

emprego dos verbos aspectuais em foco; (iii) a de que uma das funções dos auxiliares aspectuais é

alterar a “perspectivação” ou a “focalização” dos estados de coisas, trazendo, portanto, consequências

importantes para a classificação aspectual das construções em que se inserem.

Entende-se que este trabalho condiz com o perfil do Simpósio Descrição e Ensino: aspectos funcionais

e formais presentes nas gramáticas em L1, L2 e LE, variabilidade, contato, preconceito e seu impacto

no ensino. Fornece subsídios que dizem respeito aos temas da variação e da descrição e/ou ensino do

Português.

Palavras-chave: Funcionalismo, Verbos auxiliares aspectuais, Descrição e ensino.

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A pesquisa linguística no Brasil encontra, sobre o uso da ordem VS, vasta literatura, que em muito

contribui para seu entendimento. Algumas leituras, apenas para citar, são estudos de orientação

gerativista (cf. Nascimento, 1990; Kato e Tarallo, 1988), funcionalista (Naro e Votre, 1999), sociolinguista

(Berlinck, 1989, 1995), dentre outros. A discussão sobre transferência de ordem vocabular L1 - L2

é destaque no trabalho clássico de Odlin (1989), no qual a autora trata a questão da transferência

por diferentes prismas. No presente trabalho, temos por objetivo, baseando-nos em Freitas (2006 e

2011), recapitular algumas construções agramaticais que surgem no EL2 (inglês como L2) a respeito

da posição do item sujeito, além de outras comuns a este idioma, tendo em vista confrontá-las para

desmistificar a quebra da ordenação canônica como evidente caso de agramaticalidade. Acreditamos

que seja preciso proporcionar ao aluno a conscientização do processo de construção de sentenças

aceitáveis, a partir do trabalho com o ensino formal e consciente, na própria sala de aula, a respeito

das ordenações não canônicas do inglês, seus gêneros e registros mais comuns. SeguindoBiber (2002),

defendemos que tal tarefa se torne viável, pela confrontação entre dados SV/VS oriundos da produção

na L1 com os das construções na L2, além dos objetos frequentemente produzidos no discurso em

EL2 - e que seriam tidos como agramaticais, ou menos regulares, na língua alvo. Apenas como

título de exemplificação, tende emmente que uma oração VS poderia ser de menor aceitabilidade no

inglês sincrônico, os resultados de Freitas (2011) sobre o fator status informacional do SN sujeito e

as ordenações SV/VS analisadas mostraram que as orações SV são mais facilmente utilizadas para

a veiculação de informação dada, enquanto as orações (X)VS o são para a veiculação de informação

[+focal]. Esta seria a confirmação da hipótese de transferência de uso de uma estratégia sintático-

discursiva do PB como L1 para o inglês como L2, com destaque para o uso da ordem (X)VS ativa para

a veiculação SN novos. Caberia ao professor, de posse das informações das pesquisas linguísticas na

área de aquisição de L2, trazê-las ao ensino formal, conscientizando os aprendizes acerca do impacto

que a língua alvo sofre, ao menos em nível sintático, por sua L1, evidenciando, que posicionamentos

preconceituosos e desprovidos de conhecimento acerca da questão devam ser descartados em prol de

um ensino mais viável e de maior qualidade.

ENSINO DE INGLÊS E ORDENAÇÃO VOCABULAR: O CASO DA ORDEM VS

Roberto de Freitas Junior

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O Brasil é um país que se julga monolíngue. No entanto, há mais de uma centena de outras línguas

faladas em todo o território nacional. Apesar desta realidade plurilíngue, temos somente uma língua

oficial, a língua portuguesa. Dominar este código é, sem dúvida alguma, uma necessidade para os

falantes de outras línguas, principalmente, para os povos indígenas, na medida em que, necessitam

negociar e dialogar com a sociedade envolvente em vários momentos de interação. Desconhecer a

língua portuguesa causa inúmeros prejuízos aos autóctones.

O ensino da língua portuguesa como segunda língua para os WaimiriAtroari, em específico, o gênero

e o número nominal do português é o foco deste trabalho, que faz a análise contrastiva do gênero e do

número nominal das duas línguas em contato, e a partir de tal análise das estruturas das duas línguas,

em sala de aula, pretende motivar os alunos a, não somente, estudar a língua portuguesa (língua

dois) e o que ela representa (cultura e ideologia), mas e, sobretudo, aprofundar seus conhecimentos

linguísticos em WaimiriAtroari (língua um), buscando a valorização do conhecimento do aluno em

sua própria língua e cultura na sala de aula, tornando este espaço, um local onde, o conhecimento “de

fora” é dosado pala necessidade do próprio povo, na tentativa de minimizar os efeitos de uma relação

assimétrica com a sociedade nacional.

Os pontos gramaticais foram escolhidos pelos próprios professores WaimiriAtroari, pois eles

entendiam que tais aspectos do português precisavam ser apreendidos por eles com mais urgência que

outros elementos da língua nacional. Entendemos, que a análise contrastiva, por si só, não responde

às necessidades dos aprendizes de uma segunda língua, mas, com certeza, pode ser utilizada como

suporte para a compreensão da produção dos aprendizes, que formulam hipóteses sobre a língua a

ser aprendida e de como estas estruturas da língua nativa influenciam na produção na língua-alvo, e

a partir de tal conhecimento, propor atividades no espaço formal de ensino que ajudem os alunos a

adquirir proficiência na língua-alvo. Acredito que esta análise descritiva dos aspectos gramaticais da

língua WaimiriAtroari e como tais elementos interferem na produção dos aprendizes de Português do

Brasil como segunda língua pode contribuir para reflexão desse tema.

Palavras-chave: gênero nominal, número nominal, análise contrastiva, segunda língua, ensino.

Eneida Santos

L1 X L2: ANÁLISE CONTRASTIVA COMO BASE PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS NO BRASIL COMO SEGUNDA

LÍNGUA NAS ESCOLAS WAIMIRI ATROARI

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Em tempos em que o discurso de “Educação para todos” tem se intensificado, em que a democratização

do ensino tem se tornado mais evidente, observa-se um espaço escolar menos acolhedor e atrativo.

Uma cultura de resistência ao ensino tem se formado em todas as etapas do processo escolar. Nas aulas

de língua materna, essa resistência pode ser observada não só no que diz respeito à cultura escolar,

mas também, ao próprio processo de aprendizagem. Mas qual a origem dessa resistência? O presente

trabalho investiga possíveis razões para essa cultura de resistência ao ensino de língua portuguesa.

Por meio da proposta de pesquisa-ação, tendo em vista que este trabalho visa à intervenção direta

do pesquisador no processo, tem-se avaliado os níveis de consciência de educandos sobre a língua

portuguesa falada e a ensinada na escola, buscando revelar sua identidade linguística contrapondo

ao que lhe é ensinado na escola, uma vez que a distanciação dessas duas fica cada vez mais evidente

no ensino de língua materna, no qual se observa uma prática exclusiva em que somente os falares

e as culturas prestigiadas têm valor e o que estiver fora desse contexto é tido como errado ou sem

profundidade.

Essa pratica equivocada acaba por gerar um descontentamento por parte do corpo discente que vê sua

cultura sendo menosprezada e, portanto, torna-se resistente ao ensino de língua portuguesa. Afinal

o aluno não vai para a escola sonhando em ser massacrado por uma instituição que não leva em

consideração sua realidade social e sua cultura e que acaba reproduzindo a desigualdade a que ele é

exposto fora da escola. Ao contrário, a escola deve promover um contato com todas as manifestações

da língua (FARACO, 2008) levando o aluno a ter consciência de sua identidade linguística e da

necessidade de se dominar os falares de maior prestígio social. [...] cabe à escola potencializar o diálogo

multicultural, trazendo para dentro de seus muros não somente a cultura valorizada, dominante,

canônica, mas também as culturas locais e populares e a cultura de massa, para torná-las vozes de

um diálogo, objetos de estudo e de crítica. (ROJO, 2009) O presente trabalho tem se desenvolvido

com um grupo de alunos pertencentes a séries finais do ensino fundamental de uma escola pública do

município de Juiz de Fora, que possuem em seu histórico escolar pelo menos três anos de reprovação.

Consequentemente esses alunos estão situados numa faixa etária entre 13 e 17 anos, trazendo consigo

muitas razões para resistir à escola e ao ensino de língua portuguesa. Os resultados têm demonstrado

a necessidade da aplicação de uma pedagogia culturalmente sensível (BORTONI-RICARDO, 2005),

para que esse trabalho resulte positivo, sem perda da identidade dos alunos.

LÍNGUA FALADA X LÍNGUA ESCRITA – UMA PROPOSTA DE TRANSFORMAÇÃO POR MEIO DA PRÁTICA DA SOCIOLINGUÍSTICA

Bruna Loures de Araujo Barroso e Lúcia Cyranka

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A variação entre as formas do presente do subjuntivo e formas do presente do indicativo no português

brasileiro (PB) seja em contexto de subjuntivo, seja em contexto de imperativo, tem sido registrada em

inúmeras pesquisas variacionistas, as quais mostram uma tendência ao emprego preferencial das formas

do indicativo (Alves Neta, 2000; Scherre (2005) Scherre et al (2007. À luz da teoria Sociolinguistica

laboviana, analisa-se, nesse estudo, a coocorrência de formas do presente do subjuntivo e de formas do

presente do indicativo, ao lado de estruturas alternativas, em Contexto de Imperativo.

Orientando-se pela hipótese de que as formas do subjuntivo no referido contexto são, preferencialmente,

empregadas pelo falante soteropolitano e de que tal variável é condicionada por grupos de fatores

estruturais e não estruturais, nessa pesquisa, utiliza-se um corpus constituido de 275 contextos de

imperativo extraídos de 24 entrevistas gravadas, objetivando, assim, verificar em que proporção cada

uma das variantes é usada na capital baiana,e, também, identificar os fatores que favorecem esse uso.

Os resultados obtidos através da análise quantitativa dos dados revelaram que, assim como esperado,

as formas do presente do subjuntivo no contexto examinado são predominantes na fala de Salvador,

mostrando que dos 275 dados analisados, foram registrados 72% de formas do presente do subjuntivo,

17% de estruturas alternativas e 11% de formas do presente do . indicativo.

Em termos probabilísticos, o Programa Varbrul apontou que os principais fatores estruturais

favorecedores do emprego dessas formas são o seguinte: (a) formas do subjuntivo: oração principal

e oração coordenada; (b) estruturas alternativas: oração subordinada, oração absoluta e oração

coordenada ;(c) formas do indicativo: oração principal. E, como principais fatores não estruturais

favorecedores do emprego das mesmas, o Programa mostrou o seguinte: (a) formas do subjuntivo:

fatores masculino (PR=.36), idoso (PR= .39) e jovem (PR= .37) e fator Ensino Médio; (b) estruturas

alternativas: fator feminino, o fator adulto e fator Ensino Médi; (c) formas do indicativo: fator

masculino, os fatores jovem e idoso e o fator Ensino Fundamental. Essa discussão se associa á proposta

do Simpósio Descrição e Ensino: aspectos funcionais e formais presentes nas gramáticas em L1, L2 e

LE, variabilidade, contato, preconceito e seu impacto no ensino, visto que

se configura uma descrição, acerca de aspectos morfossintáticos do português brasileiros, tendo

em vista a reflexão quanto à questão da variabilidade da língua. Essa análise visa contribuir com a

ampliação de estudos sociolinguísticos sobre a realidade do português do Brasil, sobretudo, com a

fundamentação das discussões no tocante à funcionalidade da língua, que embasadas nos pressupostos

dos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa.

O MODO IMPERATIVO EM SALVADOR: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA

Joana Angélica Santos Lima

12

A democratização do ensino fundamental e médio, consolidada pela LDB de 1996, alterou

substancialmente o corpo discente, trazendo para a escola as classes pobres distanciadas da escrita

e da oralidade cultas. A escola, entretanto, seguiu sustentando a primazia da escrita, ignorando a

diversidade dialetal que se lhe apresentava. Esse fato produziu obstáculos intercomunicacionais,

gerando danos concretos ao novo alunado: sentimento de menosvalia, dificuldades de aprendizagem,

reprovações massivas, evasões escolares.

Dentro desse quadro que se estende até à contemporaneidade, devemos admitir que importantes

justificativas se configurem como inquestionáveis para o estudo dos gêneros orais:a centralidade da

oralidade; a eficácia da oralidade na construção de identidades sociais; a ativação de ações diferentes

da modalidade escrita; a contribuição na formação cultural e na preservação de tradições orais; o

poder instrumentalizador para o trânsito nas diferentes esferas sociais. Assim, a omissão dotrabalho

didático oral aponta para a urgência dessa abordagem, sob o viés da Sociolinguística educacional,

uma área teórico-prática que parte da tomada de consciênciade que todo falante nativo é um usuário

competente de sua língua.

A Sociolinguística atesta a legitimação das diferentes variações e propõe ações didáticas organizadas

a partir da análise e categorização das mesmas. Como respaldo teórico, citamos importantes

sociolinguistas que já vêmhá muito se aprofundando nos conhecimentos sobre a variação: Antunes

(2003, 2007), Bagno (2002, 2003, 2010),Bortoni-Ricardo (2004, 2005, 2012),Calvet (2002), Cyranka

(2011), Cunha (1979), Dionísio Bezerra (2003), Faraco (2008), Labov (2008), Leal e Gois (2012),

Marcuschi (1991, 2005), Mollica (2003, 2007), Rojo (2003), Roncarati (2008), Schneuwely e Dolz

(2007), Soares (2006), Leal e Gois (2012). Gestamos, nas nossas inquietações de professoras, um projeto

composto de “Oficinas de oralidade”, desenvolvido ao longo do ano letivo de 2012, em uma turma de

quinto ano de classe socioeconômica baixa.

Todas as realizações linguísticas distanciadas da norma oral culta foram rigorosamente anotadas e

categorizados de acordo com os três continua formulados por Bortoni-Ricardo, que propõe uma análise

a partir dos eixos: rural/urbano; oralidade/letramento; monitoração estilística. Como metodologia,

optamos pela pesquisa-ação. Os resultados obtidos apontam um significativo crescimento dos alunos:

na participação ativa dos eventos orais, na ampliação da capacidade de reflexão sobre as variações

linguísticas e seus determinantes sócio-culturais; na apropriação dos conceitos orientadores dos três

O TRABALHO DIDÁTICO COM A ORALIDADE SOB O VIÉS DA SOCIOLINGUISTICA

Josina Augusta Tavares e Lucia F. Mendonça Cyranka

13

continua; na utilização de recursos da oralidade culta. A pesquisa aqui descrita encontra-se em perfeita

sintonia com o simpósio Descrição e ensino: aspectos funcionais e formais presentes nas gramáticas

em L1, L2, e LE, variabilidade, contato, preconceito e seu impacto no ensino,uma vez que se realizou

empiricamenteem uma “situação real de comunicação”, pautada pela Sociolinguística Educacional

que entende todas as línguas vivas como entidades heterogêneas, híbridas, mutantes e multiculturais.

Como contribuição ao tema tratado, este trabalho se vale da oportunidade para divulgar os princípios

sociolinguísticos, essenciais a uma educação cidadã, democratizadora.

PALAVRAS-CHAVE:Oralidade e escola. Sociolínguística e práticas escolares. Variedades linguísticas

e sala de aula.

14

O presente estudo aborda o comportamento das orações coordenadas explicativas e subordinadas

adverbiais causais, quando precedidas pela conjunção “porque”, com análise das questões opositivas

entre tais estruturas. A abordagem tradicional, cujo foco se debruça ou na perspectiva sintática ou na

semântica, acaba tornando-se insuficiente para classificar e para distinguir categorias que são tratadas

como distintas. Esse trabalho tem como objetivo discutir a distinção entre orações coordenadas

explicativas e orações subordinadas adverbiais causais que, embora recebam classificações distintas

sintaticamente, têm um valor semântico muito semelhante.

A perspectiva estritamente sintática dificulta a diferenciação entre orações coordenadas explicativas e

orações subordinadas adverbiais causais, visto que essas, muitas vezes, são precedidas pelas mesmas

conjunções. Essa situação ocorre com frequência nas aulas de sintaxe. A conjunção “porque”, cujo

comportamento mostra-se ora coordenativo, ora subordinativo, é apresentada nas gramáticas

tradicionais como elemento introdutório da subordinação causal e da coordenação explicativa. Esse

fator contribui ainda mais para que a distinção seja dificultada. Esse estudo pretende diferenciar essas

duas estruturas com base em perspectivas tradicionais de LIMA (2010) e CUNHA & CINTRA (2001),

descritivas de PERINI (1998) e no estudo de CARONE (2003) aplicadas a um corpus levado a campo

para que alunos da rede pública de ensino pudessem diferenciar as estruturas para a percepção do

fenômeno; para esse trabalho selecionamos o material de quatorze alunos.

O teste foi composto por quatorze sentenças escolhidas aleatoriamente nas apostilas do Sistema Anglo

de Ensino voltadas para o Ensino Médio, para verificar o comportamento dos alunos na distinção

dessas estruturas e também para avaliar a metodologia de ensino dos livros didáticos. Os resultados

do estudo evidenciam que a simplificação da análise com base em critérios estritamente sintáticos

causa confusão na diferenciação, já que a semelhança semântica define, muitas vezes, a escolha por

“causa” ou “explicação”. A partir do estudo realizado e dos dados colhidos, pudemos perceber que a

subordinação semântica sobressai à coordenação sintática em termos da classificação das orações.

ORAÇÃO SUBORDINADA ADVERBIAL E ORAÇÃO COORDENADA EXPLICATIVA: UMA ABORDAGEM CONTRASTIVA

Keittimere Aparecida Justino e Patricia Ferreira Botelho

15

Neste trabalho estudamos o uso das orações Sujeito-Verbo (SV) e Verbo-Sujeito (VS) em livros

didáticos de História a fim de verficar se o comportamento destas ordenações neste contexto vai ao

encontro dos ou de encontro aos resultados obtidos por estudos anteriores acerca dessas ordenações.

O arcabouço teórico do trabalho é a Linguística Funcional Norte Americana, e, consequentemente,

sua visão acerca da linguagem. Sob esta perspectiva, a língua é tida como um “organismo” maleável

e pode ser moldada de acordo com as intenções comunicativas do falante. Dentre os autores que

constituem a bibliografia básica do trabalho estão: Chafe (1976), Hopper & Thompson (1980), Naro &

Votre (1999), Spano (2002) e Freitas (2006 e 2011).

Sabe-se que o Português do Brasil (PB) é uma língua em que o uso da ordem VS é permitido, no

entato sabe-se também que os contextos em esta ordem ocorre são cada vez mais restritos. Um dos

objetivos deste trabalho é verificar se o corpus escolhido, livro didático de História, propicia ou não a

emergência da ordem VS, e dessa maneira averiguar se ainda existem contextos que propiciam o uso

deste tipo de ordenação.

Os objetivos principais do trabalho são: observar a frequência de SV/VS no livro didático de História;

descrever as características sintático-semânticas do verbo e do SN sujeito dessas construções; relacionar

a estrutura dos verbos intransitivos das cláusulas SV/VS à construção do plano de fundo do discurso.

A metodologia consistiu na coleta de orações SV e VS nas ordens ativa e passiva. Na voz ativa,

foram coletadas somente orações com verbos de baixa(xíssima) transitividade conforme a Escala

de Transitividade de Hopper & Thompson (1980). Depois foram analisados os seguintes fatores

relacionados ao SN sujeito: status informacional, extensão, volição, agentividade e animacidade.

Foram escolhidos dois livros: um livro didático prototípico, História e Vida Integrada, e outro com

características mais informais, Nova História Crítica. Ao comparar estes livros buscamos estabelecer

se a (in)formalidade poderia contribuir para o uso das ordenações.

Nossos resultados nos mostram que embora haja predominância da ordem SV, este contexto contribui

para a emergêngia da ordem VS. Ademais, enquanto na ordem SV temos uma quantidade maior de

SN com status informacional novo, na ordem VS os SN dados são mais produtivos. Na ordem SV

temos mais SN extensos, ao passo que em VS temos mais SN não extensos. Quanto ao fatores volição

e animacidade não houve nenhuma diferença entre as ordenações, ambas apresentaram SN sujeitos

menos volitivos e menos animados, este fato pode ser atribuído pelas características do próprio verbo

ORDENS SV E VS NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: A (IN)FORMALIDADE NO GÊNERO ACADÊMICO

Gabriela Cristina Almeida Lamim

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estudado. Ademais verificamos que a (in)formalidade de cada livro apenas influenca quanto ao uso da

voz passiva, visto que os demais fatores não apresentaram diferenças significativas quanto ao uso de

cada ordem.

Por fim, concluimos com a constatação de que o registro de cada livro não influencia o uso de SV e VS,

sendo a escolha entre as ordenações motivada por aspectos pragmático discursivos, sem, entretanto,

desprezar certos aspectos sintáticos.

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SERIAM AS NORMAS GRAMÁTICAS?

Ricardo Joseh Lima, Monica de Azevedo Rodrigues Paulo e Thayane Santos Antunes

Um dos tópicos de grande discussão a respeito da inserção da Linguística e suas contribuições em sala

de aula dos ensinos fundamental e médio tem sido a procura pelos limites adequados de tratamento

do que se convencionou chamar de “norma não-padrão”. Livros didáticos, por força de buscar atender

a exigências para aprovação e distribuição em escolas, têm trazido a “norma não-padrão” para alguns

tópicos gramaticais. Entretanto, como demonstram vários estudos (Chamma 2007, Carvalho 2010

entre outros), trata-se de uma abordagem tímida e superficial, bem distante de ideais traçados pela

Sociolinguística e pela Linguística Educacional. Por outro lado, um livro que trouxe exemplos de

“norma não-padrão” provocou grande polêmica por introduzir essa norma em um contexto escolar.

Um dos motivos que tornam essa discussão complexa pode ser a indeterminação a respeito do status

do que seria a “norma não-padrão”. Em primeiro lugar, já há algum tempo se propõe (ver Bortoni-

Ricardo 2005, entre outros) que não faz sentido unir sob o mesmo termo normas que se afastam das

variedades cultas da língua. Em segundo lugar, o que se tornará o foco dessa apresentação, ainda se

pode arguir a respeito da identidade estrutural desse conjunto de normas que se denominou chamar

“norma não-padrão”. Em outras palavras, até que ponto se constituem como normas de uma língua ou

como gramáticas distintas? Iniciar a resolução desse impasse é de vital importância para a discussão

levantada no início do resumo. Considerar que formas estigmatizadas como “nós vai” e “os peixe”

são parte de uma gramática, e não de uma alternativa a um padrão, pode vir a mudar o olhar de

professores e alunos para essas formas.

Nesse momento, é necessário realizar algumas escolhas teóricas para guiar o que podemos chamar de

um programa de análise da “norma não-padrão”. Uma dessas escolhas nos leva ao trabalho que Kato

(2005) propõe a respeito dos conceitos de “Gramática Nuclear” e Gramática Periférica”. No trabalho

em questão, Kato descreve o que ela chamou de “Gramática do Letrado”. Haveria uma perspectiva

de descrição de uma “Gramática do(s) Não-Padrão”? Ainda, outra escolha teórica que guiará esse

programa é a utilização do conceito de “competição de gramáticas”, elaborado por Kroch (1989).

Haveria formas em competição entre as possíveis gramáticas “não-padrão” e as variantes cultas do

português?

Trazer à tona uma investigação com base nos conceitos apresentados acima é, portanto, o objetivo desta

apresentação. Com isso, esperamos estar contribuindo para um melhor entendimento do status do

que se convencionou chamar de “norma não-padrão” e de como esse entendimento pode ser aplicado

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em situações de sala de aula. Uma ilustração dessa aplicação também fará parte da apresentação,

pretendendo-se com isso gerar reflexões e discussões a respeito da viabilidade da inserção de conteúdos

específicos de “norma não-padrão” em ambiente escolar.

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O presente trabalho objetiva verificar em que medida há interferência do português brasileiro como

L1 na aquisição do inglês como língua estrangeira em relação ao parâmetro do sujeito nulo e sua

possível influência no ensino/aprendizado de inglês. Utilizam-se os pressupostos da Linguística

Gerativa dentro do quadro da Teoria de Princípios e Parâmetros e do Programa Minimalista

(Chomsky, 1984, 1995). Focando na aquisição de segunda língua, Kim(2007) argumenta que [+tópico]

é uma opção do EPP, na gramática da interlíngua na aquisição de inglês por falantes coreanos, isto

é, esse traço pode ser satisfeito por um tópico ou por um sujeito. Assim, a construção de tópico em

coreano influenciaria a forma como a interlíngua do inglês como L2 é moldada em resposta ao EPP.

Este artigo investiga esse tipo de interferência no que diz respeito ao inglês como L2 para falantes

nativos de português brasileiro. Enquanto em inglês, EPP deve ser satisfeito por meio de um sujeito

lexical obrigatório, o português brasileiro permite, por um lado, a satisfação do EPP por tópicos(Avelar

&Galves, 2011), semelhantemente ao coreano, mas, por outro lado, ainda permite sujeitos nulos em

uma série de contextos – verbos meteorológicos, construções impessoais com haver (thereis/are) e

parecer (seem), etc. Argumenta-se que uma hipótese como a de Kim de que os tópicos de L1 podem

ser usados como sujeitos na aquisição de L2 pode ser atestada também na aquisição de inglês como

L2 por falantes nativos de português brasileiro. Outra possibilidade é a de que a aquisição de L2 se

dê por tipo de sentenças (construction-specific) (White, 2003), dada a caracterização do português

brasileiro como uma língua de sujeito preenchido parcial (Holmberg, 2010; Modesto, 2000). Neste

momento da pesquisa, foi aplicado um questionário off-line a 20 alunos de um curso de línguas, sendo

10 participantes do nível básico e 10 do avançado. O questionário consiste de sentenças em inglês,

gramaticais e agramaticais, e os aprendizes tiveram a tarefa de avaliar as sentenças como aceitáveis

ou não em língua inglesa. As sentenças agramaticais foram divididas em dois tipos: tipo 1 e tipo 2.

As sentenças do tipo 1 apresentam uma estrutura sem tópico com sujeitos nulos de tipo expletivo ou

referencial e as sentenças do tipo 2 são constituídas de tópico – locativo ou temporal- com sujeitos

nulos de tipo referencial ou expletivo. Os dados submetidos ao ANOVA (2X2) indicaram um efeito

significativo para nível de proficiência e tipo de sentença, com menor número de acertos para as

sentenças do tipo 2. Embora a amostra ainda deva ser ampliada, os resultados preliminares indicam

SUJEITOS NULOS, TÓPICOS E A SATISFAÇÃO DO EPP NA AQUISIÇÃO DA SEGUNDA LÍNGUA: A INFLUÊNCIA DO PORTUGUÊS

BRASILEIRO NO ENSINO E APRENDIZADO DE INGLÊS

Maria Gloria Vinci

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que há interferência de L1 para L2, semelhantemente ao obtido para o coreano, e que falantes de

português brasileiro, mesmo que já tenham apreendido que o inglês é uma língua que não permite

sujeito nulo, admitem um locativo ou temporal como elemento capaz de satisfazer a exigência de EPP

do inglês. Assim, o conhecimento dos fatores da L1 que podem influenciar a aquisição de inglês como

L2 pode facilitar o aperfeiçoamento das estratégias de ensino da língua.

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No processo histórico espanhol das últimas décadas do século XX, existiu uma situação de profunda

agitação em todos os campos da sociedade. Do ponto de vista político, cultural e econômico, a Ditadura

(1939-1975) provocou que a Espanha se mantivesse fechada sobre si própria durante as décadas de 40

e 50. Nos anos 60, o Regime experimentou certa apertura, e a censura relaxou-se. Nesse contexto, o

realismo socialista, praticado pela chamada Geração do 50, foi substituído, durante os anos 60 e 70,

por uma intensa experimentação formal e estilística.O fato de haver uma maior liberdade de imprensa

fez com que os escritores refletissem em suas obras sobre as inovações vindas da América Latina, dos

EUA e da Europa. No entanto, com a Transição à democracia as coisas mudaram.

O romance experimental começou a ceder sua proeminência diante de uma miríade de gêneros e

conteúdos díspares. O romance policial, cuja projeção internacional na atualidade é indubitável, fez

sua aparição nesse cenário.O primeiro objetivo do escritor catalão Manuel Vázquez Montalbán foi

registrar a realidade cultural espanhola daquela época, e é por isso que em suas páginas descreveu

o processo histórico do país desde o pós-guerra (1940) até o final da Transição, situando-se em um

ponto difuso dos anos oitenta. Trata-se de um projeto escritural complexo, que tende a misturar

diferentes gêneros e multiplica os níveis textuais com o pastiche, o collage de textos diversos, e a

paródia dos discursos da cultura de massas. Dois elementos fundamentam estruturalmente a obra

de VázquezMontalbán: a crônica jornalística e o romance policial. Estas duas variantes estruturais

permitem a crítica da cultura que ele estabelece.

Uma crítica na qual a descrição histórica se impregna da cultura de massa integrando na obra o mais

diverso escopo de materiais (música, moda, costumes, cinema, culinária, crônica policial etc.). O

gênero policial permitiu a VázquezMontalbán adentrar-se na crise do sistema espanhol mostrando as

tensões que a história oficial e os próprios meios de comunicação ocultavam. No romance Os mares do

Sul, o detetive Pepe Carvalho se defronta em cheio com os primeiros passos da especulação imobiliária

que quase provoca a quebra do país e contrapõe a existência dos proletários e dos habitantes dos

subúrbios com o nível de vida da alta burguesia em Catalunha. No contexto especialmente violento

da Transição espanhola, a figura do detetive oferece a oportunidade de entrar em espaços e ambientes

variados, tanto marginais quanto da elite, expondo as complexas relações entre diferentes classes

sociais e ideologias em conflito.

RESISTÊNCIAS EM TRANSIÇÃO. O GÊNERO POLICIAL NA OBRA DE MANUEL VASQUEZ MONTALBÁN

Víctor Manuel Ramos Lemus e Iván Alejandro Ulloa Bustinza

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O romance La pregunta de sus ojos (2010), do escritor argentino Eduardo Sacheri, possui aspectos

que nos permitem enquadrá-lo nas características do gênero policial. As ações dos personagens da

narrativa se desenvolvem ao redor de um crime e o protagonista é aquele que assume uma postura

detetivesca quando se envolve com os avanços investigativos do caso. A solução do enigma, bem

como os desdobramentos da investigação, chega ao leitor quando, passados trinta anos do crime, o

personagem decide escrever um romance sobre a história do viúvo Ricardo Morales e da investigação

inconclusa do assassinato da jovem no ano de 1968. Para tanto, Chaparro volta à Secretaria onde

trabalhou durante toda sua vida e recupera sua antiga máquina de escrever, instrumento que lhe

possibilita resgatar através da escritura momentos importantes de seu passado, tais como o impacto

pela morte da jovem, a busca pela prisão do assassino, os desdobramentos do caso que influenciaram

diretamente em sua vida e o persistente e secreto amor que sente pela juíza Irene Hastings.As relações

que o romance estabelece com fatos históricos, e o modo como os representa a partir de uma trama

de busca nos permitem lê-lo como gênero policial – a pesquisa dos rastros de um crime que afeta toda

sociedade – e como a reconstituição do quebra-cabeça da memória e da identidade. De fato, a trama

policial em Sacheri, ambientada na Argentina dos anos sessenta e setenta, atua como instrumento que

possibilita a investigação de conflitos políticos e sociais do país. Em suma, este trabalho entende que a

reflexão da trama de busca de La pregunta de sus ojos se mostra como caminho de leitura de conflitos

inerentes à sociedade argentina, leitura esta que parte das múltiplas estratégias narrativas que Sacheri

lança mão para contar a luta da memória para que prevaleça a verdade.

UMA LEITURA SOBRE A TRAMA DEBUSCA DO ROMANCE LA PREGUNTA DE SUS OJOS, DE EDUARDO SACHERI

Elen Fernandes dos Santos