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02 EDITORIAL - Frispitde trabalho; o mito da cultura do trabalho também serve para justifi car a dominação econômica, política e cultural dos menos de 30% da população”

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EDITORIALProduzida e editada pelos alunos da disciplina de Mídia Impressa da UCS, a Revista Conexões – Cultura do trabalho

e novos paradigmas surgiu de questionamentos da turma sobre a importância do trabalho, supervalorizado no contexto cultural da Serra gaúcha. A ideia foi refl etir sobre até que ponto essa cultura é representativa, e o quanto tem se trans-formado com as novas gerações, que valorizam também o prazer de descobertas como as viagens pelo mundo – que muitas vezes requer abrir mão da estabilidade fi nanceira.

A Conexões mostra as diferentes formas de realização profi ssional, e a evolução de alguns ofícios radicalmente trans-formados pela tecnologia, como a área da fotografi a e a de analista de sistemas.

São reportagens e entrevistas com profi ssionais de diferentes áreas, mostrando as difi culdades encontradas no cami-nho e as realizações que o trabalho pode proporcionar. Boa leitura!

EXPEDIENTE

Reitor: Evaldo Antônio Kuiava.Diretor do CECC: Jacob Raul HoffmannProfessora de Mídia Impressa: Alessandra Rech

Coordenação:Giovana Barcarolo Marcela Kuhn

Projeto Gráfi co e Diagramação:André de Boer Lopes de SimoneDiego Luan Pereira.Douglas Savegnago da Silva

Texto:Agtha Tatiana Ramos Maria Ana Lúcia RibasDaiane MerlinFlávia dos Santos MolonGláucia Helena Prestes PolgaIsadora Lopes SilvaLetícia Rodrigues da SilvaLizandra Quadros de FranceschiMarcelo CalderaMárcio FrizzoMiriam Martins FelisbertoPatrícia Lazzarotto Priscila Marrachinho Toni

Simone de Carli BavarescoTiago Fernando Guerra

Fotografi a:

Bruna NedelMarcelo CalderaMarta Maria Targino WinterMichele Duarte da Silva Paula Haas DettenbornRafaela Zuppa

Julho/2014

Paco Schmidt

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Mais-valiaComo os estudiosos da sociedade

entendem a cultura do trabalho na Serra

Em Caxias do Sul, o mer-cado de trabalho está em expansão. Em 2011 conta-bilizavam-se 178,2 mil em-pregos, com um acréscimo de 6,7 mil novos postos de trabalho: crescimento de 3,8% em relação ao ano anterior. Nos últimos cin-co anos, a taxa média de crescimento era de 4,9%. Embora o cenário seja de oportunidades crescentes, a exclusão ainda se faz no-tar. Em entrevista, o pro-fessor Roberto Radünz, co-ordenador do Programa de Pós-Graduação em História - Mestrado Profi ssional, na Universidade de Caxias do Sul, avalia de forma críti-ca e aprofundada algumas questões que ainda são co-muns no cotidiano da Serra gaúcha.

Conexões: Por que pre-valece na região o apreço pelo trabalho e a ideia de que defi ne caráter?

Roberto: Essa não é uma questão fácil de se responder. A ideia desse “apreço” é uma construção do capitalismo, em especial depois da Revolução Indus-trial, e tinha como função convencer os trabalhadores da necessidade de, mesmo em condições adversas, tra-balhar com afi nco. Essas condições desfavoráveis eram salários de miséria, jornadas extenuantes, con-dições deploráveis, etc.

Ana Lucia Ribas

Essa mentalidade do capi-talismo industrial veio com os imigrantes europeus no século XIX, em especial os rotulados hoje de alemães e italianos. A ética do traba-lho nesses grupos foi e con-tinua sendo reforçada por uma série de mecanismos que passam pela formação na família, na igreja, na escola e na sociedade em geral. Desqualifi ca-se quem não trabalha como vaga-bundo. E aí está a questão da construção do caráter. O bom trabalhador, ordei-ro e pacífi co, tem um bom caráter. Esse caráter é uma construção social que visa manter a ordem capitalis-ta nos moldes em que ela se encontra, afastando-se todos “sem caráter”, que são rotulados de desordei-ros e vagabundos. Esses

rótulos foram utilizados re-centemente para identifi car genericamente as pessoas envolvidas nas movimenta-ções iniciadas contra valor de passagem, etc.

“Há pesquisas que afi rmam que o sucesso fi nanceiro depende na

maioria dos casos de um lastro familiar de

capital já acumulado.”

Conexões: É correta a ideia de que o sucesso profi ssional e fi nanceiro seja decorrência direta da quantidade de trabalho?

Roberto: Não partilho dessa opinião. Não é corre-to afi rmar que trabalhado-res de chão de fábrica e ou-tros mais trabalham pouco. Há pesquisas que afi rmam que o sucesso fi nanceiro de-

pende na maioria dos casos de um lastro familiar de ca-pital já acumulado. Os ricos têm mais oportunidade de permanecerem ricos e bem sucedidos profi ssionalmen-te. A luta dos pobres e mar-ginalizados é desigual.

Comparativamente aos ricos, poucos deles conse-guem sucesso profi ssional e fi nanceiro.

Conexões: Por que os trabalhadores não são tão valorizados quanto o pró-prio trabalho?

Roberto: Porque o resultado do trabalho é apropriado pelo capital, transformando-o em lucro. O trabalhador não é benefi -ciário do que produz, sendo parte de uma engrenagem que objetiva maximizar a produção na busca do lucro privado.

Marcio Frizzo

Mais-valia03

Divulgação

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40 anos de dedicação

No início da década de 50, na antiga Colônia Dona Isabel, hoje Bento Gon-çalves - RS, uma conver-sa despertou a atenção de um pequeno agricultor da região. No bolicho de seu amigo, ouviu uma cliente pedir uma porção de mas-sa, o que, segundo o comer-ciante, estava em falta. O agricultor sabia que o esto-que de massa acabava em poucos dias. Por que não fabricar um produto tão tradicional para a colônia?

A ideia foi levada pelo comerciante e o agricultor

a outros dois compadres que também tinham muitos fi lhos para empregar. Do en-contro, na capela de Santo Antão, nasceram as Massas Alimentícias Ltda - que só em 1965 iria ser denomi-nada Isabela Produtos Ali-mentícios, homenageando a antiga colônia Dona Isabel.

A trajetória da empresa, hoje líder nacional na fabri-cação e venda de biscoitos e massas alimentícias, atuan-do ainda nos segmentos de moagem de trigo, refi no de óleo, gorduras, margarinas e cremes vegetais, presente em todo território nacional, é mais um exemplo da cul-tura do trabalho na região, que une a visão empreen-dedora com a determina-ção de colaboradores de uma geração conhecida por seu empenho no trabalho.

Nadir Frizzo, 63 anos,

é um exemplo desse tipo de profi ssional que pode se orgulhar de fazer parte de uma história sólida. Em entrevista à Revista Co-nexões, Nadir falou sobre sua trajetória na empre-sa, desafi os e conquistas:

Conexões: Como foi

o início de sua carreira? Nadir: Inicialmente tive

difi culdade para conseguir emprego, na época não havia muitas vagas. Após ser contratado, comecei na produção de massas, de-pois fui promovido a líder de setor por recomendação de meus próprios colegas.

Conexões: O que mu-dou nesses 40 anos?

Nadir: A empresa adqui-riu muitos equipamentos no-

Marcio Frizzo

Nadir Frizzo e sua trajétoria na

Isabela

Ana Lucia Ribas

vos, modernizou os sistemas e tecnologias e construiu uma nova unidade, na qual fui convidado a trabalhar. Nós fazemos um trabalho em equipe, isso é muito po-sitivo para todos. O cresci-mento da empresa motivou o grupo de funcionários e gerou novas oportunidades.

Conexões: Quais os momentos mais mar-cantes de sua carreira?

Nadir: Quando completei 40 anos de empresa, rece-bi “uma placa de homena-gem” e os cumprimentos do diretor geral. Aquele foi realmente um momen-to muito marcante para mim. Esse reconhecimento me estimulou a continuar fazendo meu trabalho, me dedicando cada dia mais.

O mito do trabalho

Há no município de Caxias do Sul (e região) o mito da cultura do trabalho, ou seja, de que os descendentes de italianos são mais trabalhadores do que o restante da população. A afi rmação é da professora Ramone Mincato, da Universidade de Caxias do Sul (UCS).

Ramone é mestre e doutora em Ciência Política. “O mito da cultura do trabalho é uma narrativa que cumpre várias funções: serve para ocultar que mais de 70% da população de Caxias não é descendente de italianos, logo, a maior parte da riqueza produzida no município não é resultado do trabalho dos descendentes de italianos, mas das populações que migram para o município em busca de trabalho; o mito da cultura do trabalho também serve para justifi car a dominação econômica, política e cultural dos menos de 30% da população”.

De acordo com Ramone, esse mito surgiu da necessida-de de explicar a origem da sociedade caxiense e produz comportamentos,ideias, valores e práticas que reiteram e confi rmam o mito.

“O mito atua na sociedade através da exclusão e da distinção, ao produzir a imagem de um ‘nós caxienses’ trabalhadores e descendentes de italianos, contra um ‘eles, não caxienses’, colocando os não descendentes fora da sociedade caxiense. Em suma, esse mito serve em última instância para negar e ocultar a realidade.

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ESTATÍSTICASO Núcleo de Inovação e Desenvolvimento Observatório do Trabalho, da UCS, disponibiliza análises anuais do mercado de trabalho formal e do trabalho feminino e juvenil em Caxias do Sul, comparando com o Rio Grande do Sul e o Brasil. O Observatório utiliza, como fonte de dados, as informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho (PDET) e do

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).Os boletins, publicados pelo Observatório, são focados na análise socioeconômica do município de Caxias

do Sul, com seus eixos temáticos no trabalho e emprego e na inserção das mulheres e da população jovem no mundo do trabalho, sinalizando para as tendências do mercado do trabalho.

Para acessar o Observatório e análises estatísticas seguem os contatos:

Endereço: Rua Francisco Getúlio Vargas, 1.130. Bloco J, sala 410. 95070-560 - Caxias do Sul - RS

Fone: (54) 3218-2100 Ramal 2882;Email: [email protected] Web: http://bit.ly/1ybbj9G

Blog: http://bit.ly/1uz89I5 Facebook: http://on.fb.me/1kYVmhr

A história do Bistrô Delícias da Vó Helga

Fazer massas sempre foi a paixão de Dona Helga. Quando adoeceu, fi cou im-possibilitada de trabalhar, porém sua fi lha Ivete Ma-zzochini Barcarolo deu con-tinuidade ao seu trabalho. Investiu na casa de massas colocando o nome de sua mãe para homenageá-la. O Bistrô Delícias da Vó Helga traduz uma paixão passada de geração em geração. O empreendimento cresceu e se destacou no seu mercado de atuação, hoje com três anos de atividades.

Como é típico da cultura italiana, fartura nos pratos e o bom acolhimento é o que não faltam. Ivete faz questão que os clientes pro-vem suas massas antes de levá-las.

Com o passar do tem-po, as delícias da Vó Helga começaram a se destacar

Bruna Nedel Miriam Martins

no mercado gastronômico pela qualidade e diversida-de. Hoje a casa de massas de Dona Ivete produz em grande quantidade para mercados e restaurantes, sempre procurando inves-tir e inovar. A empresária acredita que o crescimento do bistrô vem da satisfação dos clientes e ressalta o quanto é gratifi cante ver a aceitação dos mesmos.

“Ter uma casa repleta de pessoas e deliciosos pra-tos típicos italianos é como trazer um pedacinho da Itália para perto de nós”, afi rma Ivete.

Principais pratos

-Agnoline(Capeletti)- Ravióli- Tortéi

- Talharim

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Viagem iniciáticaEm pleno

ensino médio, Giovani De Carli

descobriu um novo mundo e transformou o

seu futuroVocê já se perguntou

quantas vezes um projeto ou uma ideia deixou de ga-nhar asas por falta de per-sistência? Assim se inicia a conversa com o bancário Giovani De Carli, 30 anos, que fez seu estágio de se-gundo grau (hoje ensino médio) no Exterior. Foi com 17 anos que pela primeira vez Giovani conheceu o ex-terior, nunca havia viajado de avião e não falava ou-tra língua fora o português. O único contato que teve com o idioma inglês foram os ensinamentos em sala de aula e o minidicionário, emprestado de uma tia, que colocou embaixo do braço antes da viagem. Mas isso não o intimidou, e com sua persistência em convencer a família de que fi caria bem

Simone De Carli Bavaresco

mesmo longe, partiu para fi -car 18 meses, tempo em que seu visto de estudante seria válido. O estágio proposto é uma extensão direciona-da à agricultura, oferecida pela International Farmers Aaid Associations (IFAA) e contempla a estadia dos estudantes nas fazendas dos Estados Unidos com o intuito de aprofundar seus conhecimentos na área da agricultura. Há uma sele-ção de candidatos inscritos através de provas no Brasil e depois de aprovados a as-sociação decide qual irá ser o local em que o estudante

irá estagiar.Giovani teve o privilegio

de ir para Maui – Ilha do Hawaii, e conciliou trabalho e lazer.

Durante a semana traba-lhava no plantio de verduras com um japonês, nos fi nais de semana passeava pelos arredores da ilha visitando suas maravilhosas praias junto com os brasileiros que moravam lá.

“O primeiro aprendizado é vencer seu maior inimigo: você mesmo. Pois você está sozinho em um mundo des-conhecido e precisa se habi-tuar”, diz.

A convivência com japo-neses, fi lipinos e coreanos e suas diferentes culturas fez com que obtivesse muitos aprendizados em relação à língua, ao exercício da pa-ciência e ao respeito com pessoas diferentes. Usava o closet caption da televisão para aprender um pouco do inglês e iniciar uma conver-sação e a mímica para mos-trar o que necessitava.

“Maui é a ilha mais linda do Hawaii”, defi ne. Sua na-tureza é o que mais chama a atenção, pelas praias com areias negras, águas claras, rochas e o santuário das ba-leias jubarte. Uma das visi-tas que Giovani considerou mais interessantes foi a su-bida até a cratera do Hale-akalã, um vulcão em escudo que forma mais de 75% da ilha de Maui.

“Ter o privilégio de des-frutar belas paisagens do Hawaii, a troca de expe-riências em relação à cul-tura, e de hoje poder falar fl uentemente a língua in-glesa, além de ter convivido com algumas pessoas com as quais tenho contato até hoje transformaram minha trajetória”, afi rma.

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Viagem iniciática

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A Serra dos

A Serra Gaúcha foi a região escolhida há muitos anos atrás pelos primeiros imigrantes italianos para o desenvolvimento das suas atividades agrícolas. Logo na chegada, os colonos fo-ram abrindo áreas de mato para dar início aos traba-lhos, e entre as principais atividades estava o cultivo de uvas para a fabricação de vinhos. Desde então mi-lhares de produtores rurais se especializaram na área, buscando sempre inovar e melhorar a forma de se produzir as uvas, matéria--prima do vinho, mas sem-pre sem deixar de lado a tradição e os aprendizados dos primeiros imigrantes, o que coloca os vinhos da Serra entre os melhores do Brasil.

Na cidade de Veranó-polis, município vizinho de Bento Gonçalves, a pro-dução de uvas e vinhos também se destaca e vem alcançando um grande pú-blico de consumidores na região e também em outros estados do Brasil. A princi-pal vinícola da cidade é a Cooperativa Agrícola

Alfredo Chavense, pro-dutora dos Vinhos Noé, que está em atividade desde 1936, sendo uma das mais antigas vinícolas da re-gião e do Brasil. O enólo-go da Cooperativa, Daniel Dall’Onder, destaca as ca-

racterísticas individuais de cada tipo de vinho e reitera a singularidade dos produ-tos da região.

Segundo ele, entre os vinhos fi nos destacam-se o Cabernet Sauvignon, o Ta-nat, o Moscato e o Merlot

na boca. Essas características

devem-se bastante ao tipo da uva, que proporcio-na tais resultados, porém Dall’Onder destaca que o trabalho do enólogo é fun-damental para que se con-

apreciados e consumidos. Tais variedades possuem um diferencial em relação aos vinhos fi nos, são pro-duzidos na versão secos e também suaves, ou seja, mais adocicados, e também têm um preço normalmente

Tiago Fernando Guerra O clima da região ajuda a melhorar a qualidade

do produto, que tem tradição em Veranópolis

Vantagens à saúdeOs apreciadores dessa bebida milenar também contam com os benefícios que o vinho traz à

saúde, quando apreciado com a devida moderação. Tais benefícios estão relacionados ao resveratrol, uma substância que atua no organismo como um

antioxidante e que todos os vinhos possuem, porém presente em muito maior quantidade nos vinhos

tintos. Uma taça de aproximadamente 250ml por dia pode oferecer: diminuição do risco de doenças

cardíacas, prevenção de tromboses, derrames e acidentes vascularescerebrais, diminuição de risco

de infartos, ajuda no controle da hipertensão e diminuição do colesterol, entre outros.

como os mais conhecidos e consumidos pela população, pois são vinhos mais encor-pados, ou seja, mais “poten-tes”, deixando a sensação de ser “mastigável” e que têm maior duração do sabor

siga transmitir essas carac-terísticas das uvas para o vinho.

Já entre os vinhos de mesa, Dall’Onder destaca os vinhos Isabel, o Niága-ra e o Rosé, como os mais

muito mais acessível do que os vinhos fi nos, fator que in-fl uencia bastante e faz com que obtenham um alto índi-ce de consumo entre a po-pulação que gosta de vinho, mas não quer gastar muito.

“VINHOS

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Ampliando horizontes

Viagem ao Canadá ensina a futuro engenheiro a importância de enfrentar as difi culdades e

aproveitar cada minutoEstudante da Universi-

dade de Caxias do Sul, a dois anos da tão sonhada e esperada graduação em Engenharia de Materiais, Alessandro Josué da Silva, 31 anos, Analista de Méto-dos e Processos da empresa Braslux Indústria de Auto Peças, viajou em janeiro de 2013 para o Canadá, mais especifi camente para a ci-dade de Halifax, Nova Sco-tia, onde permaneceu por 31 dias para a realização de um curso de aperfeiçoa-mento profi ssional.

Antes de partir, a maior difi culdade encontrada foi a preparação dos documentos exigidos para a viagem, e logo depois de chegar a seu destino, a comunicação passou a ser o ponto de maior complexidade enfrentado pelo estudante,

Letícia Rodrigues que afi rma que “mesmo quem conhece um pouco do idioma e acha que pode se virar tranquilamente se surpreende, pois o inglês do dia a dia é bem diferente”, comenta, lembrando do empenho feito pra se fazer entender nos primeiros dias.

Na cidade, Alessandro fi cou hospedado na residência de uma família de gregos (a mãe era canadense), o que o fez se sentir em casa, pois em termos de alimentação e estadia, havia muitas semelhanças com o Brasil: muita comida disponível, casa sempre cheia, todos falando alto e se divertindo.

Além da receptividade local, o turismo na cidade foi muito admirado pelo estudante que, além de se aperfeiçoar nos estudos, não perdeu tempo e foi conhecer

algumas cidades menores, próximas a Halifax, onde experimentou um esporte que sempre teve vontade de praticar: o snowboard.

Apesar de não utilizar o inglês no trabalho atualmente, Alessandro considera o fato da fl uência ser um diferencial no mercado de trabalho, até mesmo porque nas pesquisas desenvolvidas para a faculdade e para o trabalho, o idioma não se torna uma barreira, considerando que muitas publicações importantes da engenharia estão em inglês.

Por ser o inglês o idioma mais falado na atualidade, a rede de

amigos deste viajante, que além do Canadá já visitou os EUA e o Panamá, também se ampliou com chineses, italianos, árabes, canadenses e americanos, com os quais ainda tem contato e sempre se comunica em inglês.

“O ganho para aqueles que se dispõem a fazer uma viagem como esta é o crescimento pessoal, principalmente para os que vão sozinhos. Além de conhecer pessoas e culturas diferentes, aprende-se a compartilhar mais, a ser mais independente e a se desenvolver com uma visão muito mais ampla do mundo e das pessoas”, diz.

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Ampliando horizontesAmpliando horizontes

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Trabalhadora há 18 anos na revenda Sponchiado Jardine Veículos de Caxias do Sul, localizada na Ro-dovia BR 116, a consultora de vendas Audren Bolfe Co-merlatto teve sua atuação reconhecida: ganhou um cruzeiro de São Paulo ao Rio de Janeiro, por ultra-passar a sua meta de ven-das para a GM, marca que a empresa representa.

O comprometimento foi valorizado porque é a peça chave na hora de uma ven-da. O vendedor deve sem-pre estar bem informado de tudo que se passa com a marca e seus veículos. Por acreditar que os funcioná-rios são, sem dúvida, seus melhores embaixadores, as organizações contam com eles para obter resultados e têm no incentivo uma de suas ferramentas.Para Au-dren, a bonifi cação é uma forma de recompensa por tantos anos de dedicação.

Conexões: Qual é o maior benefício que a ati-vidade que você exerce lhe traz?

Audren Bolfe Comer-latto: Conhecer pessoas, e poder ajudá-las a realizar o sonho da compra do carro zero quilômetro.

Conexões: Com relação às inovações, como elas têm sido trazidas para a empresa?

Audren: O ramo de au-tomóveis sempre traz ino-vações, tanto em questões de produto quanto na cam-panha de vendas. Sempre é

válido. É um ramo que não pode ter rotina, tem que ter sempre novidades.

Conexões: Que outras formas poderiam ser usa-das para que não bata o desânimo?

Audren: Bonifi cações em prêmios (eventos / bazar...), bonifi cações em dinheiro, bonifi cações em viagens, ganhei duas.

Conexões: Quais expe-riências você obteve na viagem, e em estar com pessoas de outras conces-sionárias?

Audren: Troca de expe-riências com vendedores de outras regiões. As pre-miações aumentam a auto-estima. Tratam o vendedor como rei!

Patricia Lazzarotto

A recompensa faz a diferença?

Pressão para vender, negociação mal

sucedida, clientes indecisos... Como

fi ca o psicológico do vendedor?

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Imagem além do ‘clic’

Agtha Ramos

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Imagem além do

Fotógrafo do  Pionei-ro há mais de 24 anos, Por-thus  Junior  nunca gostou muito de fotografi a.  Tra-balhou como vendedor de assinaturas, depois  com fo-tolitos, que exigia manuse-ar químicos (revelador, fi xa-dor)...  foi um passo para o laboratório de fotografi a e daí para ser fotógrafo, o que aconteceu no fi nal de 1990, no jornal O Farroupilha, um semanário que ainda circula na cidade vizinha. Veio após para  o jornal Pioneiro,  as-sumindo por duas vezes a função de editor de fotogra-fi a, a primeira de março de 2004 até 2008 e, após uma reformulação interna de cargos, acabou retornando a sua função em 2012. En-tre suas atribuições,  tem a orientação de toda a equi-pe de imagem e a escolha das melhores fotos para a capa  e  contracapa, e  vai a campo.  Graduado em Jor-nalismo  na Universidade de Caxias do Sul,  cursa  Pós--Graduação  em  Jornalismo e Convergência de  Mídias na Feevale, de Novo Ham-burgo. Reside em Caxias. 

Destacando um pouco a  visão da fotografi a  no mercado, o fotografo do  Pioneiro diz:  “Não so-mos mais aquele modelo de profi ssional descrito por  Candid  Photography. Hoje temos que produzir a

imagem”,  fi car  mais aten-tos  à  noção de como fazer um  clic. Não  é saindo  por aí  clicando que teremos uma foto com conteúdo. Por isso está mais difícil  achar profi ssionais nessa área, temos que compreender a fotografi a como um meio de divulgação ou até mesmo de expressão, e as pessoas veem o fotógrafo de jornal como aquele que cobre as colunas sociais. Esse con-ceito de fotojornalismo so-cial está meio que dissemi-nado na mente das pessoas de fora do meio jornalístico. 

“Repórter-fotográfi co é isso. Precisa fazer uma re-portagem usando imagens. Traduzir em fotografi as a história que precisa ser contada. E, o mais difícil de tudo, em um prazo cada vez mais curto”, afi rma. 

Observando um pouco o lado da evolução da tecno-logia nesse meio,  desde  a máquina de negativo para a digital, foi um pulo que pe-gou muitos fotógrafos des-prevenidos,  ressalta  Por-thus. 

“Se antigamente os fo-tojornalistas eram oriundos dos laboratórios  fotográfi -cos, hoje é necessário uma carga de  conhecimento que vai além de saber operar a câmera”, diz. 

Para  Porthus,  a tecno-logia está sem querer for-

mando vários ditos “edito-res de foto”,  e isso deixa um pouco sem crédito a fotografi a, pois qualquer um que saiba mexer no pho-toshop  se acha capaz de corrigir uma imagem, mas se isso fosse verdade não precisaria contratar profi s-sionais de foto e sim edito-res de imagem. Ele salienta que  as imagens devem ser pensadas,  por isso  há  uma grande difi culdade de achar pessoas capazes disso, pois elas acham que uma ima-gem mais ou menos poderá ser arrumada no programa de edição. Pensar em en-quadramento, em compo-sição, em melhorar a foto no instante da captação e não em uma pós-produção: é  isso que precisamos no jornalismo diário.  Falan-do um pouco para  o jovem que está querendo escolher a fotografi a como profi s-são,  Porthus  deixa uma dica:  deve  ter disciplina, fotografar não  é  um clicar de botão.  

“Isso até um macaco fa-ria. Podemos fazer uma boa foto usando até um celular, mas com um bom enquadra-mento, a melhor luz, o tal do momento decisivo para congelar o tempo”, enfati-za. 

Em minha jornada de vida,  a fotografi a me en-sinou a ser humilde, pois

uma foto pode mudar a vida de uma pessoa em am-bos os sentidos. 

“Como diria  Guram: é fundamental olhar os qua-tro cantos do visor e eli-minar ao máximo os aces-sórios”. É  preciso também focar o que queremos foto-grafar. Ética e responsabili-dade estão, todos os dias, na pauta interna de todo o fo-tojornalista. “O que mudou na minha vida profi ssional com o passar dos anos foi a maneira de fotografar, os jornais estão cada vez mais parecidos com revistas, como  as  fotos que por sua vez têm que ser pensadas. Tanto fotógrafo como re-pórter precisam conversar a respeito da pauta para ver o que precisa ser foto-grafado ou até mesmo en-cenado. Isso  é   a  ‘constru-ção imagética’, signifi ca que o fotógrafo precisa criar o sentido de orientar  melhor luz, posição. É uma prática bem antiga, o que acontece hoje  é  que os profi ssionais da área estão assumindo esse tipo de prática que era um privilégio das re-vistas. Por isso o olhar do fotógrafo de jornal mudou, porque antes apenas pen-sávamos em tirar uma foto não importava luz ou posi-ção, já hoje temos que ter esse olhar mais apurado da cena”, avalia.

Editor de fotografi a do Pioneiro, Por-

thus Junior(C) fala sobre os desa-

fi os na era digital

Fotos Porthus Junior e divulgação

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Em abril de 2102 consta-tou-se o inicio de um fl uxo de imigrantes de nacionali-dade haitiana em Caxias do Sul. O motivo da imigração está ligado a vários fato-res, tais como: o Brasil é um país em desenvolvimen-to cuja economia cresce e toma lugar de destaque no mercado internacional. De-ve-se considerar, ainda, os fatores que facilitam a mi-gração internacional assim como: o progresso técnico dos transportes; a globa-lização, modernização e o imaginário sobre a realida-de de outros países.

Mesmo nas situações mais favoráveis, o processo migratório constitui uma mudança radical na vida de uma pessoa. Os imigrantes atravessam fronteiras não apenas geográfi cas, mas também culturais socioeco-nômicas e interpessoais.

O haitiano Karly Jasmin (na foto ao centro), 25 anos, formado em Educação Fí-sica, natural de Liancourt, Haiti, fala fl uentemente francês e o dialeto crioulo. Mora em Caxias do Sul há cinco meses e trabalha atu-almente na empresa Go Aço Comercial, com torno CNC automático.

A vontade de conhecer o Brasil o fez deixar seu país para iniciar uma nova vida. “Todos os haitianos gostam do Brasil, porque aqui é melhor, tem mais oportuni-dades e fomos bem recebi-

dos pelos brasileiros. Antes de vir para Caxias do Sul, morei em Belo Horizonte, mas escolhi a Serra gaúcha porque o salário seria me-lhor”, diz.

No entanto, ao chegar aqui Karly se deparou com alto custo de vida, tendo difi culdades em manter-se com o salário que recebe na empresa, pois no Haiti as roupas e calçados são mais baratos. Outro item que chamou sua atenção foi a forma diferente de traba-lhar dos brasileiros, segun-do Karly:

“Lá no Haiti se aprende com as máquinas, com a tecnologia, aqui em Caxias o jeito de trabalhar é dife-rente, se aprende com as pessoas.”

Um dos problemas en-frentados por ele é o clima da Serra, pois afi rma que suas mãos estão sempre geladas e isso difi culta um pouco o trabalho.

Mesmo assim, Karly não desiste de seus objetivos e faz planos para o futuro. “Meu sonho é ingressar na universidade e fazer odon-tologia e exercer a profi s-são aqui no Brasil, preten-

do ir ao Haiti somente para visitar minha família e ami-gos, gostaria muito de fi car morando no Brasil, pois aqui encontrei pessoas mui-to legais, que estão sempre prontas a me ajudar”.

A haitiana Kernizan Im-máculer, 30 anos (na foto à esquerda), é formada desde 2011 em Engenharia da Computação , fala francês e crioulo. Natural de Por-to Príncipe, sua família é de classe média alta, sendo assim, não precisa enviar dinheiro para ajudá-los. Mora em Caxias do Sul há três meses. Sua primeira moradia foi em uma casa com aproximadamente dez haitianos, onde dividiam o aluguel. Há um mês foi acolhida pela Igreja Batista Nova Vida de Caxias do Sul, onde mora com mais dois haitianos e está tendo aulas de português.

“Três meses antes de vir para o Brasil, fi z estágio no Comércio. Mas no Haiti precisamos ter ‘padrinhos’, tem que conhecer pessoas infl uentes para adquirir oportunidades de traba-lho”, afi rma.

Em Caxias trabalhou em

um restaurante como aju-dante de cozinha, lavando pratos e limpando o chão por cinco semanas, pois o valor do salário era apenas R$ 20 por dia, sendo que seus colegas brasileiros que exerciam as mesmas ativi-dades, recebiam o dobro do valor. Atualmente está de-sempregada , mas pretende continuar morando no Bra-sil.

Muito haitianos que não têm condições fi nanceiras para virem ao Brasil pe-dem dinheiro emprestado para outros amigos, depois quando estão empregados no novo país, pagam o va-lor que deviam e fazem um caixa reserva, para empres-tar a outros haitianos que também querem vir para o Brasil.

Apesar das difi culda-des que tem enfrentado, Kernizan segue fi rme com seus objetivos, que é fa-lar fl uentemente a língua portuguesa e fazer mes-trado para conseguir novas oportunidades na sua área. Pretende voltar ao Hai-ti em 2015, mas somente para passear e rever seus familiares.

Flavia dos Santos Molon

Um lugar ao solImigrantes haitianos

e a cultura do trabalho

Marta Targino Winter

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Glaucia P. Polga

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Em uma cidade como Caxias do Sul, em que o trabalho faz parte da cul-tura, a estudante de Artes Visuais da UCS Gabriela Valer Picancio quebra o pa-radigma de que se vive para trabalhar. Aos 19 anos e já estagiando na sua área, ela literalmente trabalha para viajar e viaja para traba-lhar, pondo em primeiro lu-gar sua satisfação pessoal.

O pai da caxiense é uru-guaio, e veio para Caxias em busca de trabalho, pois na época a cidade já de-monstrava ser superindus-trializada. Aqui, foi colabo-rador na empresa Randon por mais de 35 anos, até se aposentar. Já sua mãe, nas-ceu em Lajeado no interior do Rio Grande do Sul, veio com a família para a cidade serrana em busca de traba-lho onde pela primeira vez teve sua carteira de traba-lho assinada.

Embora o cenário cul-tural retratado por essa família pareça ser comum na Serra, Gabriela está trilhando um caminho bem diferente dos pais, onde se põe o amor pela profi ssão antes da estabilidade fi nan-ceira. Em entrevista, Ga-briela fala mais sobre sua diferente visão de mundo.

Conexões: Como foi sua primeira experiência no mercado de trabalho?

Gabriela Valer Picancio:

Meus pais sempre foram operários e pra eles o traba-lho sempre teve signifi cado não só em bens materiais, mas como dignidade. Desde pequena sempre me disse-ram que pagariam o melhor estudo para mim, e quando eu começasse a trabalhar eu iria ajudar. Eu tinha 16 anos, estava no Ensino Mé-dio e já tinha a ideia de que

a criança e o adolescen-te não têm uma educação econômica, não somos en-sinados a fazer economias. Comecei a trabalhar e não sabia como direcionar meu dinheiro. De seis meses que planejei guardar, acho que somente três foram efeti-vos. Mas com o tempo con-segui fazer isso, com mais disciplina.

e fi cou mais claro que era isso que eu iria seguir. Mas antes de dar atenção para escolha de faculdade, eu queria ir embora de Caxias. Queria ir para Porto Ale-gre e já ser independente. Ficava escolhendo facul-dades que não ofereciam aqui para poder estudar lá. Tentei história na UFRGS e não passei, tentei Artes na UCS e consegui. A partir daí o primeiro plano era fazer somente um ano de Artes Visuais enquanto estudava para passar mais tarde na UFRGS, mas conheci o cur-so e passei a gostar muito.

Conexões: Tendo como visão geral da sociedade a necessidade de estabili-dade fi nanceira a partir da escolha certa da profi ssão, teus pais te apoiaram na sua escolha?

Gabriela: Sim, sempre me apoiaram. É até um pouco contraditório, por-que eles sempre tiveram a cultura do trabalho mecâ-nico, mas nunca opinaram nem um pouco.

Conexões: Em algum momento você duvidou da escolha devido à ins-tabilidade que o mercado de trabalho artístico apre-senta?

Gabriela: Não, em mo-mento nenhum. Tanto que dentro de Artes quero me especializar em outro ramo menor: história da arte, que é mais seleto ainda. Até acho que por essa minha vontade de não querer fi car

Estudante de Artes Visuais alia o desenvolvimento profi ssional ao

desejo de conhecer o mundo

Sem fronteiras

quando eu me formasse no terceiro ano queria viajar pra mudar a minha vida an-tes de começar a faculdade. Porém minha família não tinha dinheiro sobrando, en-tão decidi trabalhar e guar-dar dinheiro pra viajar. Foi quando tive meu primeiro emprego, no shopping. Ttra-balhava de domingo a do-mingo para fazer as econo-mias. Então meu primeiro contato foi para conseguir o que queria. Só que por mais que a cultura do tra-balho seja muito presente,

Conexões: Quando descobriu que queria cursar Artes Visuais?

Gabriela: Eu sempre vi que tinha afi nidade com artes e humanas, tanto que fi cava dividida. Queria lecionar história, socio-logia ou teatro, que faço desde os 10 anos. E sem-pre gostei da história da arte, então sabia que ia para algum desses lados. No segundo ano, fui tra-balhar em uma livraria, foi onde tive contato com livros de história da arte

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aqui, eu não me preocupo com isso.

Conexões: No âmbito mundial, qual é tua expec-tativa profi ssional?

Gabriela: Eu gosto mui-to da linha teórica, mas eu também gosto muito da produção. O meu objetivo é casar as duas coisas. Eu quero dar aula em univer-sidade, pra isso quero ter-minar a graduação na UCS e fazer um mestrado fora. Eu já estou aproveitando as viagens pra avaliar as universidades. Se eu não conseguir dar aula fora do país, pretendo voltar, mas não pra Caxias, talvez pra Porto Alegre, São Paulo ou Distrito Federal e lecionar. Caso eu consiga ter uma produção sólida aqui que chame atenção e ande com suas próprias pernas, daí pretendo me focar só nisso e continuar fazendo pesqui-sa através das viagens. Ou-tra linha que talvez eu siga é trabalhar com galerias de arte fora do país, que é um mercado que está crescen-do bastante. Esse seria o trabalho utópico pra mim, ser contratada pelas gale-rias pra viajar em busca de artistas novos. Não vejo a arte nem um pouco limita-da.

Conexões: Como você avalia a possibilidade de retorno fi nanceiro?

Gabriela: Aí eu acho que tu vai por categoria. Em relação a um professor de estado ou município é injus-to, isso com qualquer área do magistério. Mas eu acre-dito que no ensino superior seja justo sim. O mercado da arte é muito complicado, voltado mais para bacha-

relado e produção, porque é um mercado que mesmo com a queda de bolsa de va-lores não foi afetado, é um mercado que gira milhões por ano. E qualquer lugar do mundo tem mercado. Os principais expoentes são Nova York, Londres e talvez Alemanha, e eles vão em busca pelo mundo todo, en-tão gira. Acredito que a pre-ocupação maior é a questão do reconhecimento, porque é uma área que precisa de muito estudo, mas não é tida como ciência e por isso é muito desvalorizada. Sen-do assim eu sei que apenas com graduação eu não vou a lugar nenhum, preciso no mínimo de um mestrado. É uma área que precisa se ali-mentar de todas as outras, se não, não existe, porque é expressão. É preciso saber sobre tudo.

Conexões: Você comen-tou sobre o trabalho com teatro desde pequena. Como você encaixa essa parte da vida com a rotina de estudos e emprego?

Gabriela: É muito louco, porque as três áreas que me interessam: história da

arte, antropologia e teatro, têm uma ligação extrema que é falar sobre gente. E viagem, que eu amo, tam-bém é conhecer gente. Te-atro eu continuo estudando e atuando. Faço parte de um grupo independente, Lumno. Eu percebi que não preciso ter uma formação especifi ca pra trabalhar com ele, é algo muito mais prático, de experiência e busca pessoal.

Conexões: E quanto à paixão pelas viagens, como você encontra tem-po e fl exibilidade para conseguir realizá-las?

Gabriela: Uma coisa que eu não posso reclamar é a ajuda dos meu pais. Eu trabalho em um estágio na Casa da Cultura, na galeria de arte, e o salário que eu recebo direciono pra onde eu quero, e meus pais me auxiliam em questões edu-cacionais. Quando eu me formei na escola e fui via-jar pela primeira vez, não sabia se era uma coisa que eu queria levar profi ssio-nalmente ou só como lazer. Hoje eu sempre programo uma parcela do meu salá-

rio. Dependendo do lugar para onde planejei ir, guar-do até 70% do meu salário para custear. Mas minha maior difi culdade entre ca-sar viagens e trabalho é a questão de férias, porque não quero fi car cinco dias em um lugar, quero fi car 20. Só que só temos por direito esses 30 dias por ano. Na última viagem fui liberada no trabalho e na universi-dade graças à compreensão tanto dos professores quan-to do meu chefe, eles en-tendem que as viagens são uma bagagem cultural que auxiliam nos meus estudos e produções.

Conexões: Qual é o cri-tério usado por você nas escolhas dos locais de via-gem?

Gabriela: A primeira viagem que fi z foi também por se tratar de cultura, mas principalmente por lazer, fui conhecer a Europa. Porém, depois eu fui vendo que através de viagens eu tinha possibilidades muito mais gratifi cantes, do que simplesmente passar por pontos turísticos. Já a última viagem que fi z foi

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14com o país, e agora sur-

giu a oportunidade de ir pelo trabalho voluntário Brigada de Solidariedade a Cuba, do grupo de amiza-des entre os povos. A ideia deles é trazer pessoas de vários países para conhecer a realidade cubana e depois voltarem aos seus países e contarem para as pessoas, é uma forma de divulgar o país. Explicar o país sem ser através de mídias, até porque a gente sabe que Cuba é afetada por isso. Gostei muito de fazer tra-balho voluntário, porque foi uma forma de trazer muita coisa do país mas também deixar lá. Então, quando voltei ao Brasil, fui atrás de agências que fazem ro-teiros para trabalho volun-tário, principalmente para Ásia e África. A Ásia é para ser meu próximo ponto. Fui

até Europa, Cuba, Nordeste Brasileiro, América do Sul, e agora queria ir para Ásia, porque é totalmente outra cultura. O que eu ando pro-curando nas viagens são os detalhes que diferenciam um ser humano do outro. A próxima viagem é para o Nepal em janeiro de 2015. Não está 100% confi rmado ainda, mas se não for para lá, será para Istambul. Ne-pal seria trabalho voluntá-rio também, mas Istambul, para um trabalho mais an-tropológico e etnográfi co, para conhecer a cultura mu-çulmana e a cultura da mu-lher que é bem pontual no meu trabalho artístico. Isso é uma coisa que realmen-te quero tirar das viagens: como a mulher é encarada em diferentes culturas.

Conexões: Você desen-volveu algum trabalho em

relação a suas experiên-cias fora do país?

Gabriela: Sim, primeiro o blog (Mulher Viajante – www.perdifronteiras.blogspot.com.br). O blog surgiu porque as pessoas fi cavam muito assustadas com a ideia de eu viajar sozinha sendo mulher. Todo mundo fazia as mesmas perguntas: “Sozinha?” “Tu não tens medo?”. E pra mim sempre foi muito natural, talvez pela forma como eu fui criada, é natural fazer algumas coisas sozinha. É legal ter alguém junto, mas o natural seria sozinha. Então comecei a me assustar porque as pessoas achavam muito estranho, talvez porque fazia recém um mês que tinha completado 18 anos quando comecei a viajar sozinha. Foi daí que decidi

escrever pra mulheres que querem viajar sozinhas mas têm medo. Metade são dicas de viagem e lugares que já passei e outra metade incentivo. Acredito que a mulher é muito educada a  achar que deve ter companhia, até por questão de segurança. Eu lembro que o primeiro incentivo que tive pra viajar sozinha foi um livro que achei na biblioteca onde eu trabalhava que se chamava: a mulher que viaja sozinha. O livro dizia: “se você é brasileira e quer viajar sozinha mas está com medo, deixe isso de lado porque você andar na rua de seu país já é mais perigoso que muitos lugares”. E além do blog, as viagens são uma fonte de conhecimento para realização das minhas produções.

Procura-se RP fazedorGuilherme Alf ensina a abrir caminhos

e reafi rmar a escolha profi ssional

Priscila Toni

Palestrante do III Fórum da Comunicação realizado na Universidade de Caxias do Sul no primeiro semestre,Guilherme Alf, Relações Públicas, trabalha na agência de publicidade e propaganda Publibrand, em São Paulo, criador da organização Todo Mundo Precisa de um RP e proprietário do Valentina Bar 18+, o primeiro Bar Erótico do Brasil, localizado em Porto Alegre, Alf, como gosta de ser chamado, trouxe aos alunos da UCS uma palestra interativa, abordando de uma forma ousada e clara as funções e

desafi os do profi ssional de Relações Públicas ante um mercado tão competitivo, mas ao mesmo tempo com

por muitas vezes o recém-graduado acaba sem saber em que mercado atuar dentre um mar de opções”.

as mídias, porém cabe ao profi ssional de comunicação fi ltrar a informação e torná-la interessante e relevante para seu público-alvo”.

Para Alf, os profi ssionais de RP, antes de buscarem oportunidades, precisam criá-las para mostrar que o RP não faz o cafezinho da empresa ou o evento de fi m de ano, vai muito além disso, mas para convencer, primeiramente o RP precisa saber quais as suas reais competências, o que um RP pode fazer pela organização. Então esse profi ssional tem que mostrar a que veio, tem que ser um colaborador funcional, pró-ativo, um profi ssional inovador, diferenciado, ou, como diz Alf, “tem que ser foda, porque ser RP é ducaralho!”, brinca.

Rafaela Zupa

“Todo Mundo Precisa de um RP”, sucesso na rede, de autoria de Alf, fi ca claro que “estamos vivendo na época de mais troca de informação e conteúdo da história da humanidade, ou seja, existe muita informação em todas

tantas opções e nichos diferentes para atuação.

Alf enfatiza as diversas oportunidades disponíveis no mercado: “o profi ssional de RP pode atuar em muitas áreas, e essa amplitude é tão grande que

Segundo Alf, cabe ao profi ssional de RP saber vender seu trabalho e identifi car oportunidades para conquistar seu lugar.

Outro ponto i m p o r t a n t e enfatizado por Alf são as mídias sociais. No vídeo

Divulgação

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Tecnologia em transformação

Daiane MerlinLizandra De Franceschi

Analista de sistemas é o profi ssional que analisa todo o processo a fi m de montar um sistema de in-formações, utilizando-se da tecnologia para atender as demandas de seus clien-tes. Outros profi ssionais relacionados à área são os programadores, que desen-volvem o que foi defi nido pelo analista, e também, os analistas de negócios, que são os responsáveis por testar os sistemas. Estrita-mente ligadas à tecnologia, portanto, essas profi ssões sofreram grandes trans-formações nas últimas dé-cadas. Maria Lucia Haas, uma analista de sistemas que atua na área de pro-

gramação há 31 anos, conta um pouco sobre a evolução da atividade.

Maria Lucia entrou na Universidade no ano de 1979, o curso não era uma graduação, e sim um tecnó-logo que existia apenas em duas faculdades da região, sendo bem teórico. Dife-rentemente de hoje, quando tudo é tecnológico, na épo-ca a função era manual.

Os programas, por exemplo, eram feitos com o uso de cartões perfurados em uma máquina e colocados em ordem para não haver problemas com o programa. Maria Lucia recorda-se da lentidão dos sistemas de bancos de dados, por exemplo, que exigiam o

trabalho dos funcionários em período noturno, pois demorava uma noite inteira para processar e estar pronto para o dia seguinte. O atendimento era por fax e telefone.

A profi ssional também lembra que os computadores antigos eram muito grandes e instalados em salas enormes e isoladas, com um capacidade máxima de 500kb! As impressoras também eram enormes e o acesso à internet era restrito àqueles que possuíam melhor condição fi nanceira.

Sobre a adaptação do trabalho relativa às mudanças tecnológicas ocorridas, Maria Lucia

afi rma que é uma questão de necessidade: “O profi ssional precisa estar sempre se acostumando às novas tecnologias ou estará fora do mercado”, diz.

Para Maria Lucia, o papel da qualifi cação em sua área de trabalho é fundamental, pois como há muita inovação, sem a capacitação adequada aumenta a difi culdade para a realização dos projetos.

“O avanço da tecnologia afetou grande parte da população que trabalhava nessa área. Muitos cargos acabaram sendo extintos com o passar dos anos, o que contribuiu para um aumento do desemprego”, afi rma.

Analista de sistemas destaca principais mudanças ocorridas nos últimos 30 anos

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Alternativas no Três histórias de trabalho e solidariedade nos Campos de

Cima da Serra

Isadora Lopes Silva

Ao contrário do que se possa pensar a vida dos tra-balhadores rurais é muitas vezes sacrifi cada. Na região dos Campos de Cima da Ser-ra, é comum o trabalho em lavouras e pomares, monta-gem de cercas e criação de gado, todas atividades sujei-ta às variações climáticas. Em contrapartida, algumas alternativas possibilitam mais qualidade de vida. É o caso dos entrevistados para esta reportagem.

No interior de São Fran-cisco de Paula, em Várzea do Cedro, Renato de Olivei-ra Silva, 43 anos, é geren-te de um restaurante. Ele conta que em seu emprego

não sofre como muitos que trabalham em lavouras, pois fi ca abrigado, mas trabalha bastante, principalmente na temporada de verão, que é quando seus clientes aparecem mais. Na tempo-rada, o trabalho tem início às 6h e termina às 21h, ou até mais. O estabelecimen-to serve almoço e lanches, tendo mais ou menos 20 funcionários, para atender bem seus clientes.

Aida Delair Lopes Silva, 47 anos, professora da Es-cola Municipal de Ensino Fundamental Lélia

Costa Gomes, localizada na Várzea do Cedro, que atende alunos do 1º ao 5º ano, no turno da manhã, tem mais de 20 anos de carreira e hoje leciona para apenas

quatro alunos. Ela conta que a escola já teve muitos alunos, mas que com a vin-da do transporte escolar no turno da tarde para uma lo-calidade perto dali, os pais optaram pela transferência. Apesar de a escola atender a uma pequena quantidade de crianças e seus recursos serem escassos, a profes-sora faz o que pode para atendê-los com qualidade. Nesta escola, por menor que ela seja, não se encon-tra merendeira e serventes, por exemplo, e a professora é quem tem que cozinhar para os alunos, ela também conta com a colaboração da comunidade para ajudá-la no que for necessário, como em limpezas e organização de livros. Mas, ao contrário

de muitas outros professo-res, ela tem o privilégio de trabalhar bem pertinho da escola.

Aldair André Raminelli, 18 anos, um jovem que há pouco terminou sua vida es-colar, hoje pensa em fazer uma faculdade, mas ain-da não se decidiu por uma área. Ele trabalha com seu pai, Ademir

Raminelli, seu irmão, Al-ceu Guindani Raminelli, e seu tio Valdomiro Raminelli na localidade do Lajeado Grande. São adestradores de cães para caçadas lega-lizadas de javali, um animal que nas localidades do inte-rior está cada vez mais tor-nando-se uma praga, pois ataca lavouras de milho e pastos. Em sua proprieda-de são criados e adestrados mais ou menos 100 cães, de raças e portes diferentes.

Aldair conta que seu pai começou adestrando seus próprios cães e com o pas-sar dos tempos conhecidos começaram a pedir que ele adestrasse os seus também. Nesta fazenda onde vivem também criam outros ani-mais, mas predominam os cachorros, bem cuidados e vacinados. Todos trabalham, cada um tem uma função, porque, afi nal, cuidar de 100 cães não deve ser mui-to fácil.

E quando todos resolvem latir? “Apenas um assovio é o sufi ciente para que tudo volte ao silêncio novamen-te”, diz Aldair.

meio rural

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