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1 GESTÃO AMBIENTAL: SANEAMENTO BÁSICO E AÇÕES DE GESTÃO PÚBLICA Luiz Affonso Deliberador Mickosz Professor Universitário APRESENTAÇÃO As ações de saneamento são uma série de medidas prévias que garantem a adequada ocupação do solo urbano. Abrangem desde o abastecimento de água, o cuidado com a destinação dos resíduos sólidos e esgotamento sanitário, até obras de drenagem urbana, controle de vetores e focos de doenças transmissíveis, e mesmo a preocupação com a melhoria das condições de habitação e a educação sanitária e ambiental. Inicialmente, serão abordados aspectos sobre os níveis atuais de atendimento, a organização do setor, os objetivos da Política Nacional de Saneamento Básico e as estratégias adotadas para a realização da reforma do setor, além dos investimentos realizados pelo governo federal no período compreendido entre 1995 e junho/2000 com vistas à universalização dos serviços. Apresentará os principais aspectos que envolvem um plano gestor de saneamento ambiental, priorizando especificamente o saneamento básico da zona urbana de pequenos municípios, com uma visão macro-administrativa de políticas de investimento para o sistema, que vise a crítica construtiva consultiva para o ordenamento do desenvolvimento do setor. Em seguida, serão sucintamente apresentados e discutidos os eixos básicos de ação da Política Nacional de Saneamento, a saber: O eixo concernente às ações de apoio à redução das desigualdades sócio- econômicas no setor; O eixo de ação relativo à reestruturação e modernização do setor. Buscará abordar números e características: físicas, sociais, econômicas e culturais marcantes, que representem uma grande parcela dos municípios matogrossenses, com populações aproximadas de 50.000 habitantes, permitindo, assim, um estudo mais direcionado do assunto. Em continuidade, será apresentada uma visão histórica e conjuntural generalizada, que marcou a evolução dessas ações em busca do crescimento econômico, seguindo por conceitos ligados ao tema “saneamento básico” das áreas que envolvem o processo.

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1

GESTÃO AMBIENTAL: SANEAMENTO BÁSICO E AÇÕES DE GESTÃO PÚBLICA

Luiz Affonso Deliberador Mickosz

Professor Universitário

APRESENTAÇÃO

As ações de saneamento são uma série de medidas prévias que garantem a adequada

ocupação do solo urbano. Abrangem desde o abastecimento de água, o cuidado com a

destinação dos resíduos sólidos e esgotamento sanitário, até obras de drenagem urbana,

controle de vetores e focos de doenças transmissíveis, e mesmo a preocupação com a

melhoria das condições de habitação e a educação sanitária e ambiental.

Inicialmente, serão abordados aspectos sobre os níveis atuais de atendimento, a

organização do setor, os objetivos da Política Nacional de Saneamento Básico e as estratégias

adotadas para a realização da reforma do setor, além dos investimentos realizados pelo

governo federal no período compreendido entre 1995 e junho/2000 com vistas à

universalização dos serviços.

Apresentará os principais aspectos que envolvem um plano gestor de saneamento

ambiental, priorizando especificamente o saneamento básico da zona urbana de pequenos

municípios, com uma visão macro-administrativa de políticas de investimento para o sistema,

que vise a crítica construtiva consultiva para o ordenamento do desenvolvimento do setor. Em

seguida, serão sucintamente apresentados e discutidos os eixos básicos de ação da Política

Nacional de Saneamento, a saber:

O eixo concernente às ações de apoio à redução das desigualdades sócio-

econômicas no setor;

O eixo de ação relativo à reestruturação e modernização do setor.

Buscará abordar números e características: físicas, sociais, econômicas e culturais

marcantes, que representem uma grande parcela dos municípios matogrossenses, com

populações aproximadas de 50.000 habitantes, permitindo, assim, um estudo mais direcionado

do assunto. Em continuidade, será apresentada uma visão histórica e conjuntural generalizada,

que marcou a evolução dessas ações em busca do crescimento econômico, seguindo por

conceitos ligados ao tema “saneamento básico” das áreas que envolvem o processo.

2

Níveis de Intervenção Pública no Setor

A análise da evolução dos níveis de cobertura dos serviços de saneamento no Brasil

revela que houve melhorias sensíveis no atendimento à população, sobretudo urbana. Por

outro lado, constatam-se, ainda, déficits significativos, que refletem o padrão desigual de

crescimento trilhado pela economia do país nas últimas décadas.

Constitucionalmente, cabe aos Municípios a responsabilidade pelos serviços de

interesse local.O atendimento das regiões metropolitanas e outras com serviços integrados,

legalmente instituídos, é dever dos Estados em conjunto com os Municípios envolvidos,

diante da predominância do interesse comum. No entanto, em virtude dos custos envolvidos,

algumas das principais obras sempre foram administradas por órgãos estaduais ou federais e

quase sempre restritas a soluções para o problema emergentes com enchentes, efetivando-se

investimentos de pouca expressão em obras de saneamento básico neste Estado - clara

redução de custos em virtude de benefícios que só se apresentam no longo prazo. À União

compete definir diretrizes gerais e deflagrar, em cooperação com os outros níveis de governo,

a implementação de programas de melhoria das condições de saneamento e habitação.Assim,

de um modo ou de outro, a prestação dos serviços de água e esgoto ainda permanece sob

responsabilidade de agentes vinculados ao setor público.

As 27 companhias estaduais atendem em fornecimento de água tratada, a 22,4

milhões de domicílios (75% dos domicílios urbanos do país) em mais de 3.600 municípios

(65% do total) e, a rigor, têm exercido o papel do Estado (poder público) na definição de

políticas e no planejamento das ações públicas relativas aos serviços de água e esgotos. O

restante da população é abastecido por serviços municipais, e pela discreta participação da

iniciativa privada. Quanto ao tratamento de esgotamentos sanitários as estatísticas

demonstram que os serviços estão resumidos a menos de dez por cento da população atendida

pelo fornecimento de água tratada.

Existem múltiplas razões que levam determinado território, como um município, a ter

mais ou menos sucesso na busca de crescimento econômico e desenvolvimento social. Vários

autores destacam que o desenvolvimento local advém de uma transformação real de um

território, em que vários fatores endógenos são potencializados, com vistas a uma atuação

efetiva. Há procedimentos de governos municipais muito diversos quanto à sua efetividade;

comprova-se isso pelos seguintes fatos: existem municípios que iniciaram suas trajetórias

administrativas em condições muito semelhantes, quanto às receitas percebidas, etnia de seu

povo, tipos de empresas existentes nos respectivos locais, e outras condições; todavia,

3

procedimentos mais efetivos, voltados ao progresso, fizeram com que, após alguns anos,

vários tivessem patrimônios físicos e culturais muito maiores que outros; enquanto que alguns

poucos amealharam poucos recursos, outros avançaram a passos largos, construindo vastos

patrimônios em prédios, estradas, ginásios, escolas, e melhorando suas condições de saúde,

educação, entretenimento, lazer, auto-estima e perspectivas.

Nos municípios mais progressistas, verifica-se uma sintonia entre a administração

pública, empresas, sociedade civil, lideranças e outros atores; ocorre maior senso de ética,

respeito, e confiança entre as partes. De acordo com Costa, em Paulics, (2000, p.189), “a

percepção de que grande parte das doenças é transmitida principalmente através do contato

com a água poluída e esgotos não tratados levaram os especialistas a procurarem as

soluções, integrando várias áreas da administração pública, nascendo assim a idéia de

saneamento”. O investimento em saneamento, principalmente no tratamento de esgoto,

diminui a incidência de doenças e internações hospitalares evitando o comprometimento dos

recursos hídricos do município. Para Costa, historicamente “as obras de saneamento

receberam maior atenção apenas na década de 70, quando foi empreendido um amplo plano

de financiamento, contando com recursos do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de

Serviço”.

Políticas nacionais para o Setor

Através do Planasa - Plano Nacional de Saneamento o governo federal, pretendia

transferir para o âmbito estadual o monopólio dos serviços de saneamento. Deste modo

incentivou a criação de companhias estaduais de saneamento básico (CESBs) e permitiu a

concessão dos serviços municipais por até 30 anos. As CESBs, continuaram privilegiando o

abastecimento de água, que representa menores custos e retornos mais rápidos e efetivos,

através de tarifas, em detrimento do esgotamento sanitário cujos investimentos se

caracterizam por valores muito superiores.

Dentre os vários municípios que já dispunham de um órgão próprio para tratar das

questões de saneamento básico, muitos conseguiram atingir, e mesmo ultrapassar a meta de

cobertura dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário das CESBs,

cobrando tarifas inferiores pelo serviço, com uma estrutura mais enxuta e, em alguns casos,

superavitária. Não foi o caso de Mato Grosso cuja CESB (SANEMAT – Companhia de

Saneamento do Estado de Mato Grosso) era a única empresa habilitada a explorar

economicamente os recursos hídricos e disponibiliza-los para o consumo, se

responsabilizando parcialmente pelas obras infra-estruturais necessárias e quase sempre

4

efetivadas em parcerias com os municípios e com a COHAB – Companhia de Habitação do

Estado de Mato Grosso, sempre que se tratavam de conjuntos habitacionais financiados pelo

Sistema Financeiro de Habitação. Em outras palavras e abusando do trocadilho “a

SANEMAT gostava de beber água limpa”. Ultimamente os contratos de concessão firmados

entre os municípios e as CESBs estão vencendo. Alguns municípios estão optando pela

privatização total ou parcial dos sistemas em serviço, fato este que pode prejudicar o princípio

de universalização do atendimento, na medida em que as tarifas podem se tornar proibitivas

para a população de baixa renda; outros renovaram seus contratos com as companhias

estaduais; outros ainda resolveram assumir os serviços de saneamento, ressarcindo as CESBs

pelos investimentos realizados durante a concessão - quando foi o caso, e certamente não foi o

caso de muitos municípios de Mato Grosso, além disso, os maiores problemas hoje

encontrados dizem respeito à ampliação e implantação de rede de coleta de esgotos e seu

tratamento,que requerem investimentos.

COSTA argumenta que: “os municípios que optaram por renovar concessões com as

CESBs, apesar de terem garantido a continuidade dos serviços prestados, poderão vir a ter

surpresas, visto que as companhias estaduais também participam dos planos de privatização

do governo federal”.

Políticas e Legislação Nacional para o Setor

Com a criação da Secretaria de Política Urbana (SEPURB), em 1995, foi

estabelecido um espaço institucional importante para a implementação dos objetivos

estabelecidos na Política Nacional de Saneamento no sentido de:

universalizar o atendimento, de forma a viabilizar a oferta essencial de serviços

de saneamento básico;

criar um ambiente de modernidade e de eficiência na prestação dos serviços;

fomentar a participação dos diversos agentes envolvidos na gestão dos

serviços;

descentralizar as ações.

Para alcançar a meta de universalização dos serviços de água e esgotos à população

urbana brasileira em 2010, serão necessários investimentos anuais de US$ 2,7 bilhões,

aproximadamente 0,38% do Produto Interno Bruto1. Este é o grande desafio do setor de

1 Avança Brasil - Programa de Governo. p.246-250

5

saneamento, que exige um esforço de modernização e reestruturação da prestação de serviços

de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta e disposição final de resíduos

sólidos.

O principal programa que viabiliza essas ações é o Programa de Ação Social em

Saneamento (PASS). Integram também esse eixo de ação o Pró-Saneamento, o PROSANEAR

e o PROSEGE:

1 - O PASS está estruturado em todas as unidades da Federação e contribui

para o combate às desigualdades sociais do país, favorecendo a aplicação dos recursos

nas áreas menos favorecidas. Investimentos de R$ 1,1 bilhão estão permitindo que 2,1

milhões de famílias de baixa renda sejam atendidas.

2 - O Pró-Saneamento, financiado com recursos do Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS), é um dos instrumentos utilizados pela Política Nacional de

Saneamento para o aumento da cobertura dos serviços de abastecimento de água,

esgotamento sanitário, drenagem urbana, e resíduos sólidos urbanos. Foram investidos

no período 1995/junho de 1998 cerca de R$ 3,3 bilhões, beneficiando

aproximadamente 3,5 milhões de famílias.

3 – O PROSANEAR – Saneamento Integrado, destina-se a promover ações

integradas de saneamento (abastecimento de água, esgotamento sanitário, afastamento

de resíduos sólidos, microdrenagem) em áreas urbanas altamente adensadas e

ocupadas por população de baixa renda, valendo-se de soluções técnicas de baixo

custo e tendo como fortes componentes a participação comunitária e a educação

sanitária.

4 - PROSEGE. O programa teve início em 1990, com a meta original de

implantar 275 mil ligações domiciliares de esgotos e 5.000km de redes coletoras em

áreas carentes do país, contando, para isso, com recursos da ordem de R$ 500 milhões,

sendo R$ 250 milhões provenientes do BID.

A reestruturação e modernização do setor

As ações estão sendo viabilizadas pelos seguintes programas: Programa de

Modernização do Setor de Saneamento (PMSS), Projeto Qualidade das Águas e Controle da

Poluição Hídrica (PQA), Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA),

Programa de Apoio à Gestão dos Sistemas de Coleta e Disposição de Resíduos Sólidos

(PROGEST) e Programa de Capacitação em Elaboração e Análise de Projetos (PCEAP).

6

O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS foi concebido em

1995 no âmbito do Programa de Modernização do Setor Saneamento - PMSS, hoje vinculado

à Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República. O PMSS é

um Programa desenvolvido com o apoio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -

IPEA.

O Sistema contém ainda a relação com os nomes dos municípios atendidos pelas

companhias estaduais de 24 estados brasileiros, totalizando 3.743 municípios atendidos com

abastecimento de água e 766 atendidos com esgotamento sanitário.

Quadros 1 - Características das Amostras Anuais - 1995 a 1998

Obs.: Em 1998: população urbana estimada do País = 128 milhões de habitantes, e número de

municípios = 5.507.

Quadro 2 - Quantidade de Informações Coletadas e de Indicadores Calculados - 1995 a

1998

Ano

Prestadores de

Serviços

População Atendida (milhões hab.)

Municípios Atendidos

Cadastrados Publicados Água Esgoto Água Esgoto

1995

55

54

93,6

37,6

-

-

1996

64

59

97,7

40,0

3.669

732

1997

105

100

104,5

46,9

3.895

1.215

1998

158

155

109,3

50,0

3.981

853

Ano

Dados coletados *

Indicadores Calculados

1995

46

44

1996

46

45

1997

51

50

1998

88

68

7

* Não consideradas informações cadastrais.

Quadro 3 - Estoque de Informações Presentes no Banco de Dados

* Relativas aos Prestadores de Serviços de Saneamento

- 1995 a 1998 -

* Não consideradas informações cadastrais.

Informação / Indicador

1995

1996

1997

1998

Total

Gerais

880

1.808

3.408

6.256

12.35

2 Dados de Balanço

- 260

260

380

900

Financeiras

935

1.921

3.834

10.67

2 17.36

2 Operacionais – Água

770

1.582

3.195

6.992

12.53

9 Operacionais – Esgoto

440

904

1.704

2.944

5.992

Dados de Qualidade

- - - 5.520

5.520

Indicadores (operacionais e financeiros)

2420

5.085

9.585

19.87

2 36.96

2 Indicadores (dados de balanço) - 182

182

266

630

Indicadores (dados de qualidade) - - - 2.576

2.576

Total

5.445

11.74

2 22.16

8 55.47

8 94.83

3

8

Quadro 4 - Estoque de Informações Presentes no Banco de Dados *Relativas aos

Municípios Atendidos pelas Cias. Estaduais Dados desagregados por Município - 1995 a

1998 **

* Não consideradas informações cadastrais.

** Em 1998 a amostra com dados desagregados contemplou 646 municípios, inclusive os

principais municípios das regiões metropolitanas.

Com efeito dessa comparação, resulta que o conjunto de serviços de água integrante do

Diagnóstico, corresponde a 72,3% do total de municípios do Brasil, e a 85,4% da população

urbana nacional. Em termos dos serviços de esgotos, esses percentuais são 15,5% e 39,0%,

respectivamente.

Quadro 5 - Atendimento Segundo a Abrangência do

Prestador de Serviços - 1998

Informação / Indicador 1995 1996 1997 1998 Total

Gerais - 1.130 1.685 3.230 6.045

Financeiras - 3.390 5.055 9.690 18.13

Operacionais – Água - 2.938 4.381 8.398 15.71

Operacionais – Esgoto - 1.808 2.696 5.168 9.672

Indicadores (operacionais e financeiros) - - - 2.307 2.307

Relação dos municípios atendidos com água - - - 3.743 3.743 Relação dos municípios atendidos com esgotos - - - 766 766

Total - 9.266 13.81 33.20 56.38

Prestador de Serviços

População Atendida

(milhões de habitantes) Municípios Atendidos

Abrangência

Quantid

ade Água

Esgotos

Água

Esgotos

Regional

27

91,2

36,1

3.851

768

Microrregional

3

0,1

0,002

5

1

Local

125

18,0

13,9

125

84

Total

155

109,3

50,0

3981

853

9

Quadro 6 - Receita Total e Quantidade de Ligações

Segundo as Regiões - 1998

Os prestadores de serviços incluídos neste Diagnóstico tiveram, em 1998, uma receita

operacional direta total de R$ 10.033,5 milhões, que é 9,5% maior do que a de 1997, enquanto

os acréscimos da população atendida foram de 4,6% para os serviços de água e 8,9% para os

de esgotos.

Considerações sobre o Setor

No que se refere aos serviços prestados à população há que se registrar, a despeito da crise

financeira que se abate sobre o País, que investimentos continuam sendo feitos e o ritmo de

crescimento médio da oferta não é desprezível.

No entanto, apesar dos números médios retratarem esta situação, continuam evidentes as

elevadas desigualdades e os valores médios são expressivamente influenciados pelos

desempenhos positivos dos maiores serviços situados nas regiões mais desenvolvidas.

Quadro 7 - INDICADORES CENSITÁRIOS SELECIONADOS

BRASIL E GRANDES REGIÕES -1996

(valores expressos em percentuais de domicílios urbanos)

Regiões

R$ milhões

%

Milhões

R$/lig. ano Norte

248,6

2,5

1,0

248,60

Nordeste

1.249,6

12.5

6,3

198,30

Sudeste

6.497,6

64,8

19,8

328,20

Sul

1.406,6

14,0

5,3

265,40

Centro-Oeste 631,1

6,3

2,1

297,70

Brasil

10.033,5

100

34,5

290,70

INDICADORES

Nordeste

Sudeste

Sul

C.Oeste

ÁGUA SUPRIMENTO Redes públicas de distribuição Outras soluções

91,11

69,13

86,07

95,45

94,36

82,75

10

Fonte: IBGE PNAD 1996.

Considerações Regionais

Abastecimento de água em Cuiabá-MT (maio/2000)

- Sistemas de captação de água: 04.

- Estações de Tratamento de Água (ETA's): 07.

- Poços artesianos da AMSS: 59 em 29 bairros.

- Extensão da rede de água: 1.850 Km.

Pontos de captação de água e ETA's (média mensal maio de 2000)

Rio Cuiabá

- responsável por cerca de 70% do abastecimento de Cuiabá.

- suas águas são captadas por três ETA's em regiões distintas.

- no bairro do Porto, a ETA Porto produziu 110,63 litros por segundo (l/s).

- no Parque Cuiabá, a ETA Parque Cuiabá produziu 64,02 l/s.

- na região apelidada de "Ribeirão do Lipa" há captação para duas ETA'S:

ETA 1, na avenida Presidente Marques, a vazão é de 145 l/s

11

ETA 2, na avenida São Sebastião, a vazão foi de 1.105 l/s;

volume produzido com as águas do rio Cuiabá: aprox. 1.400 l/s (maio/2000).

Rio Coxipó

- responsável por cerca de 30% do abastecimento de Cuiabá.

- suas águas são captadas na avenida Dr. Meirelles, na entrada do bairro São João del Rey por

três ETA'S, denominado complexo do "Tijucal".

- a ETA 1, metálica, tem vazão de 110, 13 l/s.

- a ETA 2, de concreto, produz 490,50 l/s.

- a ETA 3, inaugurada em 07/04/99, tem uma produção de 121,75 l/s.

Obs.: volume total produzido com as águas do rio Coxipó e de 722,38 l/s (maio/2000).

Sistema esgoto em Cuiabá - MT (maio/2000)

Percentual de esgoto tratado atualmente: 21%.

Percentual de esgoto tratado até fim administração Roberto França: 60% (meta).

Obs.: O baixo tratamento de esgoto em Cuiabá tem uma explicação. Em Mato Grosso,

tradicionalmente os recursos públicos disponíveis para saneamento geralmente eram

destinados ao abastecimento de água. Por isso, em Em Cuiabá, 98% da água consumida é

tratada. Mas apenas 21% do esgoto produzido é tratado.

Esgoto coletado: 40%.

Esgoto tratado: 21%.

Lagoas de Tratamento de Esgoto existentes: 23.

Lagoas de Tratamento de Esgoto desativas: 17.

Estações de Tratamento de Esgoto: 02 (Dom Aquino e Tijucal).

Estação de Tratamento de Esgoto Dom Aguino.

12

Estação de Tratamento de Esgoto da Grande Tijucal.

Capacidade de tratamento: 30 litros de esgoto por segundo, pelo sistema de lagoas de

estabilização.

Benefícios: despoluição do rio Coxipó, afluente do rio Cuiabá. Este é um dos formadores

Pantanal Matogrossense.

Coleta de esgoto condominial

- sistema de coleta instalado há mais de dez anos em Culabá.

- a rede de esgoto passa pelo fundo de diversos terrenos.

- em cada terreno há uma caixa coletora de esgoto.

- a limpeza das caixas cabe aos moradores, que também podem solicitá-la à AMSS.

- atende oito bairros: Santa Izabel, Canjica, Praeiro, Praeirinho, Novo Horizonte, Pedregal,

Leblon e Planalto.

Preservação do Pantanal

- do início da administração Roberto França em 1997 até 2000 o tratamento de esgoto em

Cuiabá vai passar de menos de 20% para mais de 40%.

- os investimentos em esgotamento sanitário possibilita melhorias nas áreas social e de meio

ambiente.

- a população vai ter melhor qualidade de vida e saúde por estar menos sujeita a contaminação

de doenças provocadas por falta de saneamento básico.

- os benefícios ambientais com o tratamento de esgoto vão ficar evidentes principalmente na

bacia hidrográfica formadora do Pantanal Matogrossense

Quadro 8 Previsão Orçamentária e Receita Estimada

para o Município de Cuiabá

13

Quadro 9 - Demonstrativo das Receitas Correntes

Quadro 10 - Despesa por Função de Governo

14

Legislação Nacional para o Setor

O Código de Águas, estabelecido pelo Decreto Federal nº 24.643, de 10.07.1934,

consubstancia a legislação básica brasileira de águas. Considerado avançado pelos juristas,

haja vista a época em que foi promulgado, necessita de atualização, principalmente para ser

ajustado à Constituição Federal de 1988, à Lei nº 9.433, de 08.01.1997, e de regulamentação

de muitos de seus aspectos.

Lei n.º 9.433, de 08.01.1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que regulamenta o inciso XIX do

art. 21 da Constituição Federal, culminou num longo processo de avaliação das experiências

de gestão de recursos hídricos e de formulação de propostas para a melhoria dessa gestão em

nosso país. É um marco histórico, de grande significado e importância para os que aqui

trabalham com recursos hídricos.

A Lei nº 9.433/97 estabeleceu disposições gerais disciplinando infrações e penalidades para

usuários de recursos hídricos. As infrações referem-se à utilização do recurso hídrico sem a

competente outorga de direito de uso, ou em desacordo com esta, à execução de obras em

desacordo com os termos da outorga, à declaração incorreta de volumes utilizados ou à fraude

nas medições desses volumes, à desobediência às normas estabelecidas no regulamento dessa

lei e a regulamentos administrativos fixados por órgãos competentes e ao obstáculo à ação

fiscalizadora.

As penalidades variam desde a advertência à aplicação de multa —simples ou diária-, ao

embargo provisório e até o embargo definitivo, dependendo da gravidade da infração. Na

proposta de regulamentação, procurou-se detalhar um pouco mais, sem a pretensão de

exaurir-se a matéria, que deverá ser gradativamente regulamentada. Nela, a outorga será

suspensa, caso o usuário não efetue o pagamento dos valores fixados para a cobrança nos

prazos e critérios estabelecidos pelo Comitê de Bacia.

15

QUADRO 11 - ESTÁGIO ATUAL DO MARCO LEGAL

ÊNFASE À OUTORGA

ESTADOS

LEI SOBRE

POLÍTICA E SISTEMA DE

GERENCIAMENTO

REGULAMENTAÇÃO DA

OUTORGA E LICENCIAMENTO DE OBRAS

AUTORIDADE OUTORGANTE

ALAGOAS

LEI Nº 5.965, DE 10/11/97, publicado

em 11/11/97

PREVISTA NA LEI Nº 5.965/97 SECRETARIA DE PLANEJAMENTO

BAHIA LEI N.º 6.855 DE 12/05/95

DECRETO Nº 6.296 DE 21/03/97 SUPERINTENDÊNCIA DE RECURSOS

HÍDRICOS – SRH CEARÁ

LEI N.º 11.996 DE

24/0792 DECRETO Nº 23.067 DE 11/02/94 SECRETARIA DOS

RECURSOS HÍDRICOS

DISTRITO FEDERAL

LEI Nº 512 DE 28/07/93

LEI Nº 55, DE 24/11/89 – ÁGUAS SUBTERRÂNEASINSTRUMENTO

PRESENTE NALEI 512/93

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE,

CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO DF

- SEMATEC ESPÍRITO

SANTO LEI Nº 5.818, DE

30/12/98 INSTRUMENTO PREVISTO

NA LEI SECRETARIA DE ESTADO PARA

ASSUNTOS DE MEIO AMBIENTE

MATO GROSSO

LEI Nº 6.945 DE 05/11/97

PREVISTO NA LEI 6.945/97 FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE - FEMA

Políticas Internacionais para o Setor

Os organismos internacionais e as agências de fomento de políticas de crescimento e

incentivo ao desenvolvimento, adotaram medidas restritivas de créditos para mega projetos,

exigindo do gestor público a adoção de medidas que retratem a atividade sócio, econômica,

política e ambiental do município.

O Prosanear é um programa onde 50% das obras são financiadas pelo Banco Mundial e 50%

pela Caixa Econômica Federal.

Para Mato Grosso, especificamente para as cidades ribeirinhas do Pantanal, o BIRD está

financiando obras de Saneamento de Esgotamento Sanitário.

Problemas Ambientais Relacionados ao Setor

16

A história da civilização, no que se refere a ocupação geográfica, está sempre relacionada à

presença da água. As grandes cidades e zonas de ocupação ocorrem ao longo dos rios e vales,

devido às necessidades de abastecimento de água para uso humano, industrial, navegação e

irrigação.

Assim, Comune (1994, p.48), o meio ambiente acaba fornecendo um conjunto de serviços ao

sistema social, classificados resumidamente em três categorias:

Serviços de oferta de recursos;

Serviços de recepção de dejetos;

Serviços diversos de suporte de vida e bem-estar.

Deste modo, com base na Teoria Neoclássica da Economia Ambiental, a valoração ambiental

irá focalizar a economia inserida no meio ambiente, buscando retratar os fluxos relevantes nas

transformações do sistema econômico, incentivos e desincentivos de mercado com análise de

impactos ambientais.

De acordo com pesquisa do IPEA, cerca de 20% da população urbana brasileira não tem

acesso à água potável, enquanto 51% não dispõem de sistemas de coleta de esgotos sanitários,

ressaltando-se que somente 10% do esgoto coletado recebem algum tipo de tratamento, 90%

são despejados “in natura” nos solos nos córregos e nascentes, constituindo-se na maior fonte

de degradação do meio ambiente e de proliferação de doenças infecciosas e parasitárias.

Cabes (XVIII,1998), afirma que aproximadamente 10 bilhões de litros de esgoto são jogados,

diariamente, sem qualquer tratamento nos cursos d’água, causando problemas ao meio

ambiente.

Os resíduos sólidos, por sua vez, sejam de origem doméstica ou industrial lançados

diretamente na superfície do solo ou dispostos nos aterros sanitários tem sido causadores de

contaminações das águas subterrâneas, pois estão sujeitos a lixiviação pela percolação da água

das precipitações. Neste processo, que envolve a decomposição biológica dos resíduos, é

produzido um líquido de coloração escura, conhecido como “chorume”, o qual pode se

infiltrar no terreno e atingir as águas subterrâneas, contaminando-as. O chorume contém,

geralmente, um grande número de contaminantes orgânicos e inorgânicos que incluem

compostos de nitrogênio e metais pesados.

Análise Crítica das Políticas Nacionais do Setor

17

É necessário esclarecer que todo esse processo de incrementos no setor, caminhou

“paralelamente” ao processo de criação de municípios representativos do Norte e Centro

Oeste do País, (aproximadamente 1970 colonização, 1980 emancipação), e o que deveria

conferir à situação problemática um fator atenuante, pelo contrário, torna-se um agravante

extremamente impactante para municípios jovens que carecem de estrutura geradora de

receita pública, e que se promove via tributos e tarifas pelas gerações de serviços públicos

prestados.

Reorganizar o sistema de saneamento ambiental passou a ser a principal tarefa dos gestores do

ambiente urbano, adotando rumos organizacionais sob a forma de “novos marcos de gestão

urbana”, devendo passar obrigatoriamente por: mudanças de escala relativas a opções por

projetos de viabilidade econômica menos impactantes; incorporação da dimensão ambiental

nas políticas setoriais urbanas, buscando preservar os recursos naturais estratégicos pela

observância de questões habitacionais, abastecimento, saneamento, e ordenação do espaço

pelo zoneamento agro-ecológico econômico e social; integração das ações de gestão na busca

de redução de custos, aumento e criação de sinergias que ampliem os impactos positivos;

necessidade do planejamento estratégico de desenvolvimento otimizado da economia;

descentralização das ações administrativas e dos recursos contemplando as ações micro

regionais e locais; incentivo à inovação com apoio a pesquisa e inserção de inovações

tecnológicas; inclusão dos custos ambientais e sociais no orçamento e na contabilidade de

projetos infra-estruturais; indução de novos hábitos de moradia buscando o fortalecimento da

sociedade civil e dos canais de participação e ação comunitária. Assim, vemos que os pontos

mais críticos situam-se em:

carência de serviços nos extratos sociais de renda mais baixa;

nível reduzido de cobertura na coleta e tratamento de esgoto;

limitada capacidade gerencial, de pagamento e de endividamento dos prestadores de

serviços, e

baixos níveis de eficiência.

Quadro 12 - ACESSO A SERVICOS DE SANEAMENTO POR CLASSE DE RENDA -

BRASIL (1991) -

CLASSE

(SALÁRIO MÍNIMO)

TOTAL DE

DOMICÍLIOS (MILHÔES)

DOMICÍLIOS SEM AGUA CANALIZADA DOMICÍLIOS SEM LIGAÇÃO À REDE

DE ESGOTO OU FOSSA SÉPTICA

%

QUANTIDADE

(MIL) %

QUANTIDADE

(MIL)

0 a 1 1,4 33 462 59 826

1 a 2 7,8 38 2964 56 4368

2 a 3 4,2 12 504 40 1680

18

Fonte: Censo Demográfico 1991, Dados Preliminares, IBGE.

Interface da Política Setorial e Política Ambiental

Um outro aspecto a destacar no que se refere à organização do setor é a insuficiente

articulação com programas e atividades de outras áreas, especialmente aquelas relacionadas

com o meio ambiente e a gestão dos recursos hídricos. Existe uma dificuldade de

reconhecimento, pelos agentes dos serviços de saneamento, da precedência da gestão do

recurso natural. Da mesma forma, alguns agentes responsáveis pelo controle ambiental não

consideram adequadamente as questões sociais e econômicas, quando do estabelecimento de

exigências ambientais para a prestação dos serviços de saneamento.

Análise à Luz da Teoria Econômica

Na Teoria Neoclássica da Economia Ambiental, para Freeman, (1994, pp. 6 a 15), a

valoração ambiental irá focalizar a economia inserida no meio ambiente, buscando retratar os

fluxos relevantes nas transformações do sistema econômico, incentivos e desincentivos de

mercado.

Os instrumentos econômicos são aqueles que estabelecem incentivos, através do mercado,

para que os usuários e os poluidores modifiquem seu comportamento, com vistas a utilizarem

de forma mais racional os recursos naturais. São ações não impositivas, mas que visam a

estimular maior eficiência econômica e conservação ambiental.

Tecnicamente, os instrumentos econômicos são geralmente definidos como elementos que

fornecem um sinal ao mercado na forma de modificação dos preços relativos ou de uma

transferência financeira (pagamento de uma taxa ou cobrança).

Muitos tipos de instrumentos econômicos têm sido utilizados ou propostos para incentivar um

uso mais racional dos recursos hídricos. Destacam-se entre esses:

Imposto;

taxa e tarifa sobre emissão ou produto poluidor;

19

cobrança sobre usuário (user charge);

permissão de comercialização (tradeables permits);

sistemas depósito/retorno e subsídios.

O imposto ou a tarifa sobre a emissão constitui-se em um pagamento pela quantidade ou

pela qualidade dos resíduos liberados no meio ambiente. Esse é um dos instrumentos mais

usados na administração dos recursos hídricos nos países da Organização de Cooperação e

Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

Os impostos sobre os produtos são aplicados sobre os preços daqueles que causam poluição

tanto na produção como no consumo.

A cobrança pelo uso dos recursos hídricos é feita ao usuário primário desses recursos,

normalmente associada ao volume de água captado e à forma pela qual se processa o

aproveitamento. Pode-se cobrar, também, do poluidor, em função da quantidade de material

poluente disposto no meio ambiente.

A filosofia defendida pela OCDE induzia a necessidade de o poder público tomar medidas

para reduzir a poluição e para buscar melhorar a alocação dos recursos naturais, relacionando

o preço dos bens e dos serviços produzidos com a qualidade ou a quantidade dos recursos

naturais utilizados nos processos.

Foi instituído, assim, o princípio poluidor-pagador que estabelece que ao poluidor devem ser

imputados os custos necessários à prevenção e ao combate à poluição, custos esses

determinados pelo Poder Público para manter o meio ambiente em estado aceitável. Isso

significa que o custo de tais medidas deve, necessariamente, repercutir no custo dos bens e

serviços que dão origem à poluição.

O princípio poluidor-pagador é, pois, um princípio de alocação de custos.

O princípio poluidor-pagador não é, por outro lado, um princípio de compensação por danos

causados pela poluição. Tampouco significa que ao ser taxado pelo Poder Público pela

poluição que causou, o poluidor estaria conquistando o direito de poluir. Trata-se, em

realidade, de um princípio mais fundado em motivações éticas (justiça, eqüidade) que em

motivações de eficiência econômica. O juízo de valor subjacente é o direito de todos a um

meio ambiente "limpo".Em termos estritamente econômicos, nada impediria que uma

sociedade pudesse compensar uma perda de qualidade ambiental pelo desenvolvimento de

uma atividade poluidora. Entretanto, nos termos do que a OCDE conceitua, por força do

princípio poluidor-pagador, os poluidores devem suportar os custos das medidas antipoluição,

20

o que os obrigaria, em princípio, a internalizar uma parte dos custos externos que foram

impostos à coletividade.

A permissão de comercialização constitui-se em um princípio que fixa o nível de emissão de

poluentes permitido para determinada área ou a quantidade máxima de um volume derivado

de água em determinado trecho de rio. O objetivo desse instrumento é produzir uma solução

de custo mínimo, buscando conciliar desenvolvimento econômico com proteção ambiental.

O sistema depósito/retorno, por seu turno, prevê a restituição ao usuário de um valor

embutido no preço do produto poluente, no caso desse produto ser disposto de forma

adequada no ambiente.

Os subsídios são transferências financeiras, processadas quando a coletividade estima que a

produção de um determinado bem ou serviço merece ser privilegiada ou protegida. Os

subsídios podem corresponder, entre outras formas, a uma eliminação total ou parcial de

impostos incidentes e a concessão de bônus por bens produzidos.

É importante destacar que os instrumentos econômicos não eliminam a necessidade de

fiscalização, uma vez que os tipos de instrumentos podem variar de acordo com a ação do

poluidor ou do usuário. A adoção de tal tipo de mecanismo impõe, desse modo, a

implementação de um amplo programa de monitoramento e controle, ampliando o seu custo

administrativo, conforme Tsagarakis, Mara, Horan e Angelakis, (2000, p.81-99).

Temas Considerados Relevantes para Estudos

Estudos de ações de assistência técnica para o aperfeiçoamento do sistema tarifário e da

regulação econômica da prestação de serviços.

Estudos para criação de mecanismos que assegurem a integração, a complementaridade e a

focalização dos diversos recursos disponíveis para aplicação no setor de saneamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conduzido pela administração pública municipal, o saneamento ambiental é uma excelente

oportunidade para desenvolver instrumentos de educação sanitária e ambiental, o que aumenta

sua eficácia e eficiência.

Entende-se que essa forma de ação, onde a sociedade compartilha com o governo as

responsabilidades pelas decisões, permite uma maior agregação em torno do projeto de

desenvolvimento, conduzindo ao esforço máximo na busca do objetivo, aumentando suas

chances de implantação (SANTOS, A.M.P. 1997, p.235-250).

21

Quanto ao tratamento, há várias opções atualmente disponíveis que devem ser avaliadas

segundo critérios de viabilidade técnica econômica, além de adequação às características

topográficas e ambientais da região, carecendo de pesquisas técnicas no setor.2

1 Definição do Projeto

2 Identificação dos Impactos

3 Impactos Economicamente Relevantes

4 Quantificação Física de Impactos Relevantes

PROCEDIMENTOS

Hanley and Spash 5 Valoração dos Efeitos Relevantes

6 Desconto de Fluxos de Benefícios e Custos

7 Aplicação do Teste de Valor Presente Líquido

8 Análise de Sensibilidade

O Brasil adotou uma estratégia de inserção econômica de mercado altamente competitivo,

impondo-se a ajustes de alavancagem tecnológica em todos os setores da atividade produtiva.

Associado a esta ação, externamente as alterações de regulamentações comerciais impuseram

medidas de controle – interferência no setor privado - passando a exigir produtos

ecologicamente corretos. Os organismos internacionais e as agências de fomento de políticas

de crescimento e incentivo ao desenvolvimento, adotaram medidas restritivas de créditos para

mega projetos, exigindo do gestor público a adoção de medidas que retratem a atividade

sócio-econômica, política e ambiental do município, bem como através da imposição de

legislações específicas, conduziram empresários à busca de novas plantas industriais menos

impactantes, numa demonstração de comportamento pró-ativo, conforme NOGUEIRA e

MEDEIROS, Volume 2, 1997.

Assim, as pesquisas voltaram a espelhar a realidade local e micro regional. O planejamento da

cidade passou a ser compartilhado pelos munícipes e as despesas devem ser apresentadas

através de um planejamento plurianual, sob pena de crime fiscal por parte do gestor público.

Vale ressaltar que nesse caso o planejamento continuado de atividades a fins, na gestão

pública, não são sinônimos de burocracia, são ações que convalidam a viabilidade desse

instrumento de administração ímpar no processo de cidadania e na modernidade que se busca

imprimir na gestão pública municipal. 2 Ve r, Re l a t ó r i o N a c i o n a l B r a s i l e i ro , d a A s s e m b l é i a G e r a l d a s N a ç õ e s U ni d a s , I s t a m b u l + 5 , S e c r e t a r i a E s pe c i a l d e D e s e n v o l v i m e nt o U r b a n o , j u n h o de 2 0 0 1 , p p . 4 5 - 4 8 ) .

22

De acordo com Herrera3 (1990, p.194), “uma condição essencial de uma sociedade viável é

a participação, traduzida no direito de todos os membros participarem nas decisões sociais

em todos os níveis”. Especificamente no caso de planos gestores de saneamento ambiental, a

participação da comunidade é um pré-requisito essencial para a obtenção de uma sociedade

realmente compatível com o meio ambiente, atingindo a eficácia na equidade se forem

assumidas conscientemente por toda a comunidade, conduzindo assim ao avanço da aceitação

política pela sociedade.

Resultados Esperados - Custos Evitados

Diferentes tipos de poluição causam danos: aos homens, à fauna e flora, aos recursos naturais,

às condições climáticas e aos materiais. Maler e Wyzga em Comune (1994, p.45).

Assim, o objetivo da análise econômica será o de avaliar perdas financeiras ou perdas

intangíveis quando possível, buscando evita-los através da implantação de investimentos

econômicos traduzidos em captação de benefícios. Investir no saneamento do município

melhora a qualidade de vida da população, bem como a proteção ao meio ambiente urbano.

Combinando com políticas de saúde e habitação, o saneamento ambiental diminui a

incidência das doenças e internações hospitalares. Por evitar comprometer os recursos

hídricos disponíveis na região, o saneamento ambiental garante o abastecimento e a qualidade

da água. Além disso, melhorando a qualidade ambiental, o município torna-se atrativo para

investimentos externos, podendo inclusive desenvolver outras vocações, como a turística.

Nas obras de instalação da rede de coleta de esgotos poderão ser empregados trabalhadores

locais, gerando emprego e renda para a população beneficiada, que também pode colaborar na

manutenção e operação dos equipamentos. Para os municípios que se enquadrem nas

características mencionadas, apesar de requererem investimentos para obras iniciais, as

empresas de saneamento municipais são financiadas pela cobrança de tarifas - tratamento de

água e esgoto - o que garante a amortização de dívidas contraídas. Como a cobrança é

realizada em função do consumo - o total do esgoto produzido por domicílio é calculado em

função do consumo de água -, os administradores podem implementar políticas educativas de

economia em épocas de escassez de água e praticar uma cobrança justa escalonada.

Vale a pena ampliar, de algum modo, a capacidade de reflexão sobre os argumentos aqui

propostos, bem como métodos de valoração, a fim de se compreender que, o que se pretende

enfocar, são argumentos do que se supõe serem condições de bem estar social para

indivíduos, associados a um meio ambiente, mais atrativo e limpo.

3 D i r e t o r d o De p a r t a m e n t o de G e o c i ê nc i a d a U ni v e r s i d a de E s t a d u a l d e C a m p i n a s - U N I C A M P

23

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