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022 joao 1º

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Autoria Entre a maioria dos eruditos atuais, não há dúvida de que o apóstolo João, conhecido como o

discípulo amado (Jo 13.23), e filho de Zebedeu (Mc 1.19,20), é o autor de 1 João, assim como dasdemais cartas que trazem seu nome, do quarto evangelho e do livro do Apocalipse. Esses mesmos historiadores e biblistas também afirmam que João, filho de Salomé (irmã de Maria), era primo de Jesus (Mt 27.56; Mc 14.40; 16.1; Jo 19.25).

Algumas dificuldades quanto à autoria desta epístola foram levantadas durante a história da Igreja. Em primeiro lugar, alguns críticos observaram o fato de a própria carta não apresentar seu autor como a maioria das epístolas do Novo Testamento. Além disso, levantaram a questão das limitações acadêmicas do apóstolo João, um modesto filho de pescador (assim como o apóstolo Pedro) que não teve acesso aos estudos rabínicos formais e clássicos da época (At 4.13). E questionaram o fato de um apóstolo se auto-intitular “presbítero”.

Contudo, as respostas a estas questões começam bem cedo, na própria igreja primitiva e por meio dos pais da Igreja, que confirmaram a autoria da obra canônica do apóstolo João. O primeiro a reconhecer e autorizar a autoria e a canonicidade desta carta e da obra de João foi Irineu, por voltado ano 140 d.C., seguido por Clemente de Alexandria (150-215 d.C.), Tertuliano (155-222 d.C.) eOrígenes (185-253 d.C.). O estilo do Evangelho segundo João é absolutamente semelhante ao de1 João (veja algumas comparações: 1Jo 1.1 com João 1.1,14; 1Jo 2.7 com João 13.34,35; 1Jo 3.14com João 5.24; 1Jo 5.9 com João 5.32,37, entre outras). As duas obras foram redigidas em gregokoiné (popular) de uma forma bem simples. Além disso, “iletrado” não significa “analfabeto”, e a família de João era proprietária de uma empresa de pesca, e não apenas de um ou dois barquinhos (Mt 4.21), o que certamente pode ter propiciado ao apóstolo bons professores durante seu longo tempo de vida e ministério. Quanto ao fato de usar de modéstia ao referir-se a seu título eclesiástico,devemos lembrar que o próprio apóstolo Pedro agiu da mesma maneira (1Pe 5.1), provavelmentenuma atitude deliberada de lançar o foco da sua atuação ministerial sobre a “supervisão espiritual de seus filhos e netos na fé cristã” (uma tradução ampliada da expressão grega presbyteros – ancião). Talvez um bom exemplo a ser seguido pelos líderes da Igreja em nossos dias (1Jo 2.1,28; 3.7).

Propósitos O conteúdo desta carta demonstra o grande amor e carinho espiritual que o apóstolo João tinha

por seus “filhinhos na fé”, bem como sua preocupação com a correta evangelização do mundo. O estilo joanino é inconfundível em sua obra, posto que ele emprega “ilustrações contrastantes” emprofusão: luz e trevas (1.6-7; 2.8-11); amor ao mundo e amor a Deus (2.15-17); filhos de Deus e filhos do Diabo (3.4-10); o Espírito de Deus e o espírito do anticristo (4.1-3); amor e ódio (4.7-12, 16-21).

O gnosticismo, que na época de Pedro já provocava algumas baixas espirituais expressivas na Igreja, ainda que em sua forma embrionária e primitiva, agora chama também a atenção de João e o leva a escrever combativamente, buscando livrar a Igreja desse diabólico engodo. Os cristãos estavam sendo envolvidos por uma forma ceríntia da filosofia gnóstica (expressão derivada do grego gnosis, que significa “conhecimento”), que questionava o fato de Jesus ser perfeitamente humano.Essa heresia helenista tinha apelos racionais bem ao gosto dos pagãos, como o dualismo e a liber-tinagem, e repudiava qualquer forma de restrição moral.

Por essa razão, João escreve essa sua primeira epístola (considerada sua primeira carta circular às igrejas da província da Ásia) com dois objetivos fundamentais: desmontar todos os argumentos

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filosóficos heréticos que estavam aliciando os cristãos em toda a província da Ásia naquele momentog j p ) j g

(2.26); e, reafirmar aos crentes a convicção da salvação em Jesus Cristo, perfeitamente Deus eperfeitamente Homem (5.13). Para tanto, João foi contundente e atacou a flagrante falta de moraldos falsos mestres que viviam no meio da Igreja (3.8-10), e lembrou à Igreja de sua autoridade como testemunha ocular da deidade e humanidade do Senhor Jesus, confirmando a fé dos seus leitores no Cristo encarnado (1.3). Saber que seus filhos na fé estavam andando na sã doutrina era sua maioralegria como bom pastor (1.4).

INTRODUÇÃO 1 JOÃO

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Data da primeira publicação A tradição cristã é unânime em afirmar que o apóstolo João passou seus últimos anos de vida na

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província de Éfeso, um dos centros urbanos mais importantes do Império romano. A ausência de ç q p p

referências pessoais nesta carta indica que ela foi redigida em estilo homilético, a fim de servir como material de estudo e pregação para todos os cristãos da Ásia Menor. Os eruditos atuais concordam

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que essa carta tenha sido escrita logo depois do Evangelho segundo João, e antes da perseguição implementada por Domiciano no ano 95 d.C. Estudos históricos e arqueológicos recentes apontampara o ano 89 d.C., como a data de sua primeira publicação.

Esboço geral de 1 João 1. Fundamento da vida cristã autêntica (1.1-5)2. O verdadeiro significado de andar na luz (1.6 – 2.2)3. Atitudes práticas decorrentes da fé em Cristo (2.3-28)

A. Obediência irrestrita às ordens do Senhor (2.3-5)B. Uma vida diária semelhante a Cristo (2.6)C. Demonstrações práticas do amor de Deus (2.7-11)

D. Santificação: separação da vida mundana (2.12-17) E. Permanecer em Cristo e na fé ortodoxa (2.18-28)

4. O caráter justo testemunha a nossa filiação (2.29 – 3.24)A. Nossa filiação a Deus por Cristo é real (2.29 – 3.3)B. Devemos buscar a pureza em Cristo (3.4-10)C. O amor fraterno é a essência da justiça (3.11-18)D. Os resultados da verdadeira justiça (3.19-24)

5. A importância de exercer o discernimento espiritual (4.1-6)6. O amor, o maior sinal da nossa filiação divina (4.7-21)

A. A origem da nossa filiação divina (4.7,8)B. O sentido dessa filiação divina (4.9,10)C. A motivação que vem da filiação (4.11-16)D. O exercício diário do serviço cristão (4.17-21)

7. As grandes e definitivas certezas do cristão (5.1-20)A. Quanto a todas as filosofias do mundo (5.1-4)B. Quanto ao caráter eterno de Cristo (5.5-12)C. Quando à realidade da Salvação (5.13)D. Quanto à realidade da Oração (5.14-17)

E. Quanto à veracidade do Evangelho (5.18-20)8. Nada pode ocupar o lugar central e absoluto de Cristo (5.21)

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1 JOÃO

A Palavra de Deus se fez carne

1O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos

olhos, o que contemplamos e as nossasmãos apalparam a respeito da Palavra da Vida.1

2 A Vida se manifestou, nós a vimos e dela testemunhamos, e vos anunciamosa Vida eterna que estava com o Pai e a nós foi revelada.2

3 Sim, o que vimos e ouvimos, isso vos proclamamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.4 Estes ensinos vos escrevemos para que a nossa alegria seja absolutamente com-pleta.3

Deus é luz e devemos andar na luz 5 E a mensagem que dele ouvimos e vos

pregamos é esta: Deus é luz; nele não existe a mínima sombra de treva.4

6 Se afi rmarmos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, somosmentirosos e não praticamos a verdade. 7 Se, no entanto, andarmos na luz, como Ele está na luz, temos plena comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifi ca de todo pecado.5

A confi ssão de pecados e o perdão8 Se declaramos que não temos pecado algum enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós.9 Se confessarmos os nossos pecados, Ele éfi el e justo para nos perdoar todos os peca-dos e nos purifi car de qualquer injustiça.610 Se afi rmarmos que não temos come-tido pecado, nós o fazemos mentiroso, e sua Palavra não está em nós.7

1 Todas as evidências demonstram que o autor desta epístola e das outras duas que se seguem é João, filho de Zebedeu (Mc1.19,20; 15.40; 16.1; Mt 27.56; Jo 13.23; 19.25), primo de Jesus Cristo e um dos seus mais chegados amigos; apóstolo, autor do evangelho que leva seu nome e do livro da Revelação (em grego: apocalipsis). A introdução dessa carta trata do mesmo assunto,inclusive com a utilização de várias das mesmas expressões, no original grego, que estão registradas no início do EvangelhoSegundo João (Jo 1.1-4).

2 Jesus Cristo é reconhecido como “a Vida”. Afinal, ele é aquele que tem a vida em si mesmo, sempre existiu e vive parasempre (Jo 1.14; 11.25; 14.6). É igualmente soberano sobre todos os seres viventes e a própria fonte da vida (5.11). João começae encerra sua epístola discursando sobre a vida eterna (5.20) e focalizando o tema: o Cristo é Jesus, corroborando a mensagem básica do Evangelho: “Jesus é o Messias” (Jo 20.31).

3 A alegria do apóstolo só poderia ser completa se a Igreja compreendesse que o verdadeiro e expressivo amor fraternal,produzido pelo Espírito Santo na vida de cada cristão, deve ser a mais evidente marca do “conhecimento de Cristo” e, portanto,da Salvação na comunidade cristã (2Jo 12). A comunhão (em grego: koinõnia) é a expressão clara de união espiritual de Cristocom o crente, comunicada por meio das metáforas da videira e dos sacramentos (Jo 15.1-5), dos membros do Corpo de Cristo(Rm 12.1-8; 1Co 12.12; Cl 1.18).

4 A luz representa tudo o que é dito e realizado com clareza e verdade, sem obscuridades ou ambigüidades maliciosas. Ospecados e os enganos fraudulentos são gerados sob uma penumbra de maus propósitos e torpezas. Ao contrário, Deus é comoa luz do meio dia, ilumina tudo e todos até o mais íntimo da alma. Ele é santidade e integridade absoluta. E essa luz se revela emCristo que habita no coração dos crentes sinceros e os ilumina cada dia mais (santificação). Jesus é a luz do mundo (Jo 8.12; Is 42.6; 49.6), pois ele é a perfeita revelação de Deus (Hb 1.3).

5 A expressão “caminharmos” é uma metáfora do nosso comportamento diário. Os cristãos eram conhecidos nessa épocacomo as pessoas que pertenciam ao “Caminho” (Jo 14.6; At 9.27; 18.26; 19.9; 19.23; 22.4). Uma das palavras-chave destaepístola é “pecado”, pois ocorre 27 vezes no texto original grego.

6 No original grego, a expressão “fiel e justo” comunica um conceito único: “fiel-e-justo”. Esse aspecto lingüístico revela umpouco mais sobre o caráter de Deus e sua forma de julgar todos que, mediante a fé pessoal no sacrifício redentor de Jesus Cristo,se arrependem de seus pecados e recebem a graça perdoadora da Promessa que Deus firmou com os seus (Sl 143.1; Zc 8.8;Jr 31.34; Mq 7.18-20; Hb 10.22,23). O perdão é o milagre de se restaurar completamente uma comunhão destruída pela quebrade confiança (Mt 6.12).

7 Como diziam alguns dos pais da Igreja: “Santo não é a pessoa que não se suja, mas é aquele que sempre se lava nas águas 7

do perdão de Deus”. João combate os gnósticos de seu tempo que não conseguiam reconhecer que seus atos de imoralidadee ganância eram, de fato, pecados.

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5 1 JOÃO 2

2Caros fi lhinhos, estas palavras vos escrevo para que não pequeis. Se, en-

tretanto, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;1

2 e Ele é a propiciação pelos nossos pe-cados e não somente por nossas ofensas pessoais, mas pelos pecados de todo o mundo.2

Em Cristo e separados do mundo3 E temos certeza de que o conhecemos, se guardarmos seus mandamentos.4 Aquele que afi rma: “Eu o conheço”, e não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso e a verdade não está nele;3

5 mas todo o que guarda a sua Palavra, neste o amor de Deus tem verdadeira-mente se aperfeiçoado. E desta forma sabemos que estamos nele.6 Quem declara que permanece nele também deve andar como Ele andou.4

O mandamento: o amor fraternal 7 Amados, não vos escrevo mandamento novo, senão mandamento antigo, o qual tendes desde o princípio. Ora, esse man-damento antigo é a Palavra que ouvistes.8 Todavia, o que vos escrevo é um man-

damento novo, o qual é verdadeiro nele eem vós, pois as trevas estão se dissipandoe já brilha a verdadeira luz.5

9 Aquela pessoa que diz estar na luz, masodeia a seu irmão, continua a vagar sobas trevas.10 Quem ama seu irmão permanece naluz, e nele não existe motivo de tropeço.11 No entanto, quem odeia seu irmãoestá nas trevas e vaga pela escuridão, nãosabe para onde caminha, pois as trevaslhe turvaram a visão.

A vitória sobre o Maligno12 Filhinhos, eu vos escrevo porque osvossos pecados foram todos perdoados,graças ao nome de Jesus.13 Pais, eu vos escrevo porquanto co-nheceis Aquele que é desde o princípio.Jovens, eu vos escrevo pois vencestes oMaligno.14 Crianças, eu vos escrevi porque co-nheceis o vosso Pai. E vós, pais, eu vosescrevi porque conheceis Aquele que édesde o princípio. Jovens, eu vos escre-vi porquanto sois fortes, e a Palavra deDeus permanece em vós, e já vencesteso Maligno.6

1 De acordo com os relatos de antigos escritores e pais da Igreja, como Clemente de Alexandria, o apóstolo João desenvolveugrandioso ministério pastoral nas várias igrejas espalhadas pela província da Ásia (entre os anos 70 e 100 d.C.), particularmente

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na região onde se localizava Éfeso (hoje Turquia). João já estava bastante idoso quando escreveu esta epístola, isso explica o usog p g j p p p ( ) p

acentuado de expressões de carinho e afetividade, como “filhinhos”, por exemplo. Os textos de João tornaram-se uma espéciede carta circular doutrinária para todas as igrejas cristãs. João apreciava o uso da expressão grega “parakleto” (aquele que se”coloca ao lado para defender e proteger) ao referir-se ao seu amado mestre e amigo Jesus Cristo (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7). Naantigüidade greco-romana, o advogado (em latim: advocatus) de defesa tinha que ser alguém irrepreensível perante a lei parapoder exercer efetivamente seu ofício.

2 João não está defendendo a idéia do universalismo (a teoria de que todas as pessoas serão salvas um dia, de alguma forma).O texto é claro em afirmar a imparcialidade do Senhor. O pecado entrou na terra e na espécie humana a partir de uma claradesobediência às ordens de Deus, cuja punição, previamente estabelecida e do pleno conhecimento de todos, era a morte (Gn 3).Somente o Filho de Deus, o Messias, tem o poder de se fazer expiação vicária pelos pecados daqueles que nele, e em sua obraredentora, crerem de todo coração (4.10; Jo 3.16; Rm 3.25). O perdão de Deus, mediante o sacrifício vicário de Cristo, não é limitadoa uma época ou grupo étnico, mas está à disposição de toda a humanidade até o Dia do glorioso retorno do Senhor (Jo 1.29).

3 João emprega, mais de quarenta vezes em 1Jo, dois verbos gregos: eidenai “saber” e i gnosis cujo sentido é “conhecer” esidentificava os “gnósticos” que alegavam possuir conhecimentos e revelações especiais de Deus. O santo e experiente apóstoloestá afirmando que o crente sincero não é aquele que nunca peca ou comete erros, mas ensina que uma das marcas do cristãoé pautar a vida pela obediência ao Senhor e à sua Palavra (1.8,9).

4 Considerando que Deus é luz e amor, o pecado e o ódio são absolutamente incompatíveis com o verdadeiro conhecimento doSenhor. João usa cerca de 20 vezes a palavra “verdade” em suas cartas. É a Verdade que liga o crente a Deus (Jo 14.6). O nosso

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sincero amor para com o Senhor é aperfeiçoado à medida que dedicamos mais e mais obediência à sua Palavra. 5 João explica que o mandamento do amor é tão antigo quanto o próprio homem (Lv 19.18; Mt 22.39,40; Jo 13.34,35). Entre-

tanto, o sacrifício expiatório de Cristo foi a demonstração maior desse amor. O exemplo pessoal do Senhor e seu ensino sobre oamor sacrificial de um para com os outros deve ser a nova marca dos crentes sobre a terra (Mt 5).

6 Por meio de redundância lingüística, João assegura a todos os seus “filhinhos” (queridos em Cristo) que, a despeito dasduras provas, está seguro da vitória espiritual dos crentes, seja qual for o estágio ou maturidade da fé de cada pessoa (2.1,28;5.21; Ef 6.10-18).

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61 JOÃO 2

O cristão não deve ser mundano15 Não ameis o mundo nem o que nele existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16 Pois tudo o que há no mundo: as paixões da carne, a cobiça dos olhos e aostentação dos bens não provêm do Pai, mas do mundo.7

17 Ora, o mundo passa, assim como sua volúpia; entretanto, aquele que faz a von-tade de Deus permanece eternamente.

A ação dos anticristos 18 Filhinhos, esta é a hora derradeira e, assim como ouvistes que o anticristo está chegando, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso, sabemos que esta é a última hora.8

19 Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem nos abandona-do revela que nenhum deles era realmen-te dos nossos.20 Entretanto, vós tendes uma unção que procede da parte do Santo, e todos ten-des pleno conhecimento. 21 Portanto, não vos escrevo porque vosfalta o conhecimento da verdade, mas jus-tamente porque a conheceis e, porquan-to,nenhuma mentira tem origem na verdade.

22 Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Messias? Este é o Ini-migo de Cristo: aquele que rejeita tanto o Pai quanto o Filho.23 Todo o que nega o Filho de igual for-ma não tem o Pai; quem confessa publi-camente o Filho tem também o Pai.24 Quanto a vós outros, zelai para queaquilo que ouvistes desde o princípio per-maneça em vossos corações. Porquanto, seo que ouvistes permanecer em vós, de igualmodo permanecereis no Filho e no Pai.25 E esta é a Promessa que Ele nos fez: a vida eterna!26 Eu vos escrevo estas advertências a res-peito daqueles que vos querem seduzir.9

27 Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não ten-des necessidade de que alguém mais vos ensine sobre isso. No entanto, a unção que dele procede é verdadeira, não construída sobre a mentira, e vos ensina sobretudo o que precisais saber. Permanecei, pois, nele assim como Ele vos ensinou.10

Os verdadeiros fi lhos de Deus28 Sim, queridos fi lhinhos, permanecei nele, para que tenhamos segurança quan-do Ele se manifestar e não sejamos enver-gonhados diante dele na sua vinda. 29 Se sabeis que Ele é justo, tomai conhe-

7 A sociedade incrédula se afasta do Senhor e, manipulada pelas artimanhas de Satanás, despreza a Palavra de Deus e os7

crentes (Jo 15.18-24). Os cristãos são encorajados a amar a humanidade e lhes pregar o Evangelho, mas não devemos nosapegar às paixões mundanas, pois somos cidadãos do céu (Jo 17.24; Tg 4.4).

8 Para os autores do NT, “a última hora” ou “o Dia do Senhor” são expressões de mesmo sentido, isto é, têm a ver com aera iniciada com a primeira vinda de Jesus Cristo à terra e apontam para o seu retorno iminente e glorioso, a fim de resgatardefinitivamente a sua Igreja deste mundo que perece sob a liderança do Diabo, o arquiinimigo do Senhor e dos cristãos (At 2.17;2Tm 3.1; Hb 1.2; 1Pe 1.20). João estava consciente de que seus leitores tinham pleno conhecimento das profecias que alertavampara o surgimento de um grande e poderoso inimigo de Deus e do seu povo, antes do retorno de Cristo. Esse será o principal“anticristo”, também chamado de “o homem do pecado” ou “a besta” (Mt 25.1-13; 2Ts 2.3; Ap 13.1-10). Entretanto, antes deleaparecerão, ao longo da era cristã que vivemos, muitos tipos de anticristos. Estes têm as seguintes características básicas: negam a encarnação; a perfeita divindade e humanidade do Jesus histórico; não têm amor a Deus como Pai, apenas usam de falsa religiosidade para iludir as pessoas e atingir seus fins escusos; são mentirosos, avarentos, egoístas e ardilosos (2Jo 7). Na épocade João, esses anticristos eram representados pelos gnósticos primitivos que haviam abandonado a Igreja, pois nada tinham emcomum com os crentes (2Ts 2.4; Ap 13.6,7).

9 Paulo havia profetizado o que chamou de “lobos ferozes” cerca de 40 anos antes da revolta desses pseudocristãos e o iníciodo gnosticismo primitivo (At 20.29,30).

10 João não está menosprezando o ensino sistemático das Escrituras, mas sim alertando a Igreja para que não se deixe envolverpor falsas doutrinas e ensinos heréticos. Os gnósticos estavam arrogantemente pregando que haviam recebido uma revelaçãoespecial de Deus, que os elevava a um padrão de conhecimento (no original grego gnosis) muito superior aos apóstolos. Joãonos ensina que o ministério do Espírito Santo consiste em iluminar nossa alma para “percebermos pela experiência” em Cristo(em grego ginõscõ – 2.13,14) a verdade já revelada na Palavra de Deus mediante seus autores sagrados (Mt 28.20; 1Co 2.9-16;12.28; Ef 4.11; Cl 3.16; 1Tm 4.11; 2Tm 2.2,24).

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7 1 JOÃO 2, 3

cimento também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele!11

A vida santa dos fi lhos de Deus

3Vede que imenso amor nos tem con-cedido o Pai, a ponto de sermos trata-

dos como fi lhos de Deus; e, em realidade,somos fi lhos de Deus! Por esse motivo, omundo não nos conhece, porquanto nãoconheceu a Ele mesmo.2 Amados, agora somos fi lhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, todavia, sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é.3 E todo o que tem nele essa plena con-fi ança purifi ca a si mesmo, assim como Ele é puro.1

4 Toda pessoa que vive costumeiramentepecando também vive em rebeldia contra a Lei, pois o pecado é transgressão da Lei.5 Sabeis, igualmente, que Ele se manifes-tou para tirar os nossos pecados, e nele não há pecado.6 Todo aquele que permanece nele não vive pecando; toda pessoa que continua no pecado não o viu, nem tampouco o conheceu.2

7 Filhinhos, ninguém vos iluda: quempratica a justiça é justo, assim como Eleé justo.8 Aquele que vive habitualmente nopecado é do Diabo, pois o Diabo pecadesde o princípio. Para isto, o Filho deDeus se manifestou: para destruir asobras do Diabo.3

9 Todo aquele que é nascido de Deus nãose dedica à prática do pecado, porquantoa semente de Deus permanece nele e elenão pode continuar no pecado, pois énascido de Deus.4

10 Deste modo, conhecemos quem são osfi lhos de Deus e quem são os fi lhos doDiabo: quem não pratica a justiça nãoprocede de Deus, nem tampouco aqueleque não ama seu próprio irmão.

A marca do cristão: o amor11 Ora, a mensagem que ouvistes desdeo princípio é esta: que nos amemos unsaos outros.12 E não sejamos como Caim, quepertencia ao Maligno e assassinou seuirmão. E por que o matou? Porque suasobras eram más e as de seu irmão eramjustas.5

11 Nem toda pessoa que se diz cristã é justa, mas toda justiça verdadeira só é possível ser vivenciada como resultado do novonascimento em Cristo (Ef 2.10).

Capítulo 31 João usa uma expressão grega especial para enfatizar que a fé no Senhor é uma “confiança inabalável” no seu amor e poder.

E que, mediante essa fé sincera, o crente vai abandonando (santificação) tudo o que o separa (pecado) da plena comunhão como Espírito de Deus (Jo 1.29; Rm 5.2).

2 O apóstolo não está exigindo uma perfeição impecável dos crentes, pois ele reconhece as limitações humanas a que elepróprio está sujeito. O que ele está ensinando é que, diferentemente dos gnósticos de sua época, os cristãos devem buscar viverde uma maneira santa (não caracterizada pelo pecado renitente e insensível), de acordo com a Palavra de Deus (tudo o que écerto, justo e generoso – Fl 4.8,9), inclusive pela prática da confissão (reconhecimento) e correção dos erros cometidos diantede Deus e dos homens (1.8-10; 2.1; Mt 18.15-20).

3 João faz importantes observações sobre o Diabo. É chamado de Maligno (seu principal atributo), pois em sua pessoa não hábem algum (v.12; 2.13,14; 5.18,19). Ele vem pecando desde sua rebelião contra Deus, antes de provocar a queda da humanidade(Gn 3; Jo 8.44). É instigador do pecado humano e todos quantos lhe dão ouvidos, e se entregam ao mundo de ilusões armadopor ele para cativar suas presas, passam a pertencer a ele (v.8,12). Ele está presente em toda a terra e tem sob seu domíniomacabro todo o sistema mundial dos incrédulos (5.19). Porém, não lhe foram concedidos permissão ou poder para lesar oscrentes sinceros (5.18). Pelo contrário, ao cristão foi dado o poder de vencê-lo mediante o Espírito do Cristo que já o venceu e odestruirá definitivamente (2.13,14; 4.4).

4 João usa aqui um outro vocábulo muito especial spejrma (em grego transliterado: sperma), traduzido para o idioma inglês pelaKJ, desde 1611, como “seed” (semente), cujo sentido ampliado é uma metáfora do princípio vital da reprodução humana (esper-ma) por meio do qual se transmitem às gerações as características do pai. O crente sincero tem o “gene” de Deus e, portanto, nãose compatibiliza com nada que proceda do Diabo ou deste mundo tenebroso (2Pe 1.4; 1Pe 1.23,25; Tg 1.18-23; Jo 3.6,8).

5 Aqui estão algumas das características do Diabo que se manifestam no mundo: o pecado (vv.8.10); ódio (v.12); mentira eengano (Jo 8.44). Os falsos mestres e profetas, mais cedo ou mais tarde, revelam essas mesmas atitudes (1Jo 2.21,22; 4.2). Caimfoi um exemplo de incrédulo que se rende à ilusão demoníaca (Hb 11.4; Gn 4.8).

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81 JOÃO 3, 4

13 Meus irmãos, não vos admireis se omundo vos odeia.14 Nós sabemos que já passamos da mor-te para a vida, porque amamos os irmãos.Quem não ama permanece na morte.15 Toda pessoa que odeia seu irmão é ho-micida, e sabeis que nenhum assassinotem a vida eterna em si mesmo.16 Nisto conhecemos todo o signifi cado doamor: Cristo deu a sua vida por nós e deve-mos dar a nossa vida por nossos irmãos.17 Se alguém possuir recursos materiais e,observando seu irmão passando necessida-de, não se compadecer dele, como é possí-vel permanecer nele o amor de Deus?18 Filhinhos, não amemos de palavras nem de boca, mas sim de atitudes e em verdade.6

19 Desta forma, saberemos que somos da Verdade e acalmaremos o nosso coração na presença dele;20 pois, se o coração nos condena, Deus é maior que nosso coração; Ele é conhece-dor de tudo. 21 Portanto, amados, se o nosso coração não nos condena, temos coragem diante de Deus;7

22 e recebemos dele tudo o que rogamos, porque obedecemos aos seus manda-mentos e fazemos o que lhe agrada.8

23 Ora, e este é o seu mandamento: que creiamos no Nome de seu Filho Jesus Cristo e amemos uns aos outros, assim como Ele nos ordenou.9

24 Todos aqueles que obedecem aos seus mandamentos nele permanecem, e Ele neles. E assim conhecemos que Deus permanece em nós: pelo Espírito que nos outorgou.

Alerta contra os falsos profetas

4Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, porém, avaliai com

cuidado se os espíritos procedem de Deus, porquanto muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.1

2 Deste modo, podeis reconhecer o Espí-rito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;2

3 mas todo espírito que não confessa Jesus não provém de Deus. Ao contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir e, presentemente, já está no mundo.4 Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é Aquele que está em vós do que aquele que está no mundo.3

5 Eles são mundanos; por isso falam como

6 Amor não é apenas uma bela palavra, mas um verbo que exige ações práticas e contínuas para que seu sentido seja bemcompreendido (Tg 2.14-17; Rm 5.5).

7 A expressão grega 7 parresia “confiança” comunica um tipo de ousadia com que os crentes podem testemunhar às demaispessoas sobre o amor de Cristo Jesus (At 2.29; 4.13,29,31) e uma “feliz segurança” ao nos aproximarmos de Deus em oração,como um filho amado que confia plenamente no amor e na capacidade do seu pai (3.21; 5.14).

8 João nos ensina que obediência é uma condição indispensável de sermos verdadeiros cristãos (discípulos de Cristo), e nãocausa meritória para obtermos resposta às nossas orações (5.14).

9 Esse mandamento tem duas partes indissociáveis: a fé sincera e absoluta em Jesus Cristo (Jo 6.29) e uma atitude de amorfraternal para com os irmãos de fé e todas as pessoas que ainda carecem da Salvação (Jo 13.34,35; 15.12,17). João desenvolvea primeira parte desse tema em 4.1-6, e, a segunda, em 4.7-12.

Capítulo 41 João usa a expressão grega pneuvmati “espírito”, para revelar que todo ser humano é dirigido não apenas por sua parte física

e material (ossos, carne e sangue), mas pela vida espiritual que reina em cada pessoa. Os nascidos do Espírito de Cristo (Jo 3), são movidos por Deus e por sua Palavra (3.24), como seus filhos; os que permanecem mortos em seus pecados têm sua pessoa(espírito) dominada pelo espírito do Maligno. Algumas vezes, inclusive sofrendo em seus próprios corpos com a invasão dedemônios (2.18-22). O homem e a mulher de Deus (profeta ou mestre) ensinam impelidos pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). Falsos teólogos e pregadores, como os gnósticos primitivos da época do apóstolo, falam sob a influência de espíritos afastados de Deus (Mt 7.15; 24.11; 1Tm 4.1; 2Pe 2.1).

2 A expressão grega original “confessar” tem o sentido de um compromisso de lealdade absoluta, que implica em “testemunharcom palavras e atitudes” o amor e a fé que o cristão sincero dedica ao Senhor (Jo 17.4-6). É muito mais do que um simples

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depoimento formal ou conhecimento intelectual em relação à pessoa e à majestade do Cristo; pois isso, até mesmo o Diabo e os demônios reconhecem e tremem de medo (Tg 2.19; Mc 1.24; 3.11).

3 Os falsos cristãos e mestres são inspirados pelo mesmo espírito que habita nos anticristos (v.3). O Diabo é chamado também de“aquele que está no mundo” (Jo 12.31; 16.11). No v.3, o vocábulo “mundo” significa a Terra habitada por todos nós; nos vv. 4 e 5,

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quem pertence ao mundo, e o mundo oscompreende. 6 Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus nãonos entende. É assim que reconhecemos o

q

Espírito da Verdade e o espírito do erro.

O amor de Deus nos move 7 Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido e conhece a Deus.8 Aquele que não ama não conhece a Deus, porquanto Deus é amor.9 Foi deste modo que se manifestou o amor de Deus para conosco: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por intermédio dele.10 Assim, nisto consiste o amor: não emque nós tenhamos amado a Deus, mas emque Ele nos amou e enviou o seu Filhocomo propiciação pelos nossos pecados.411 Amados, considerando que Deus amou desta forma, nós também deve-mos amar uns aos outros.12 Ninguém jamais viu a Deus; se amar-mos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é aperfeiçoado em nós.5

13 Temos certeza de que permanecemos nele, e Ele em nós, porque Ele nos outor-gou do seu Espírito.14 E vimos e testemunhamos que o Pai

enviou o seu Filho para ser o Salvadordo mundo.15 Se alguém confessa publicamente queJesus é o Filho de Deus, Deus permanecenele, e ele em Deus. 16 Portanto, dessa forma conhecemos oamor que Deus tem por nós e confi amosplenamente nesse amor. Deus é amor, eaquele que permanece no amor perma-nece em Deus, e Deus, nele.17 Dessa forma, o amor é aperfeiçoadoem nós, a fi m de que tenhamos totalsegurança no Dia do Juízo, pois, assimcomo Ele é, nós semelhantemente somosnesse mundo.6

18 No amor não existe receio; antes, operfeito amor lança fora todo medo. Ora,o medo pressupõe punição, e aquele queteme não está aperfeiçoado no amor.19 Nós amamos porque Ele nos amouprimeiro.20 Se alguém declarar: “Eu amo a Deus!”,porém odiar a seu irmão, é mentiroso,porquanto quem não ama seu irmão, aquem vê, não pode amar a Deus, a quemnão enxerga.21 Ora, Ele nos entregou este manda-mento: Quem ama a Deus, ame de igualforma a seu irmão!7

A fé em Cristo vence o mundo

5Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo

no entanto, indica precisamente o sistema político, econômico, social e religioso ao qual pertencem todos aqueles que ainda nãonasceram de Deus (iluminados pelo Espírito), inclusive os anticristos e todos quantos vivem enganados e enganando (Jo 1.9).

4 O amor supremo de Deus vai além da encarnação para focalizar o sacrifício redentor de Jesus Cristo, o Filho de Deus. É a fé(o amor puro e verdadeiro) na pessoa e na obra de Cristo que nos proporciona plena confiança (segurança e paz) quanto à nossasalvação eterna (Jo 3.16). João usa a expressão “amor” em suas diversas formas, mais de 40 vezes nesta carta; somente entre4.7 e 5.3, a palavra “amor” aparece 32 vezes no original grego. O amor de Deus é infinito e a própria essência do Pai, por isso,humanamente incompreensível e absolutamente incomparável. Contudo, é nossa inspiração, motivação e ideal (v.11).

5 O próprio Deus aperfeiçoa o seu supremo amor através do exercício cotidiano do amor fraternal dos cristãos, uns pelosoutros, e todos pelos que ainda não conhecem ao Senhor como Salvador. As pessoas terão uma visão da pessoa de Deus nomomento em que nós as amarmos como Cristo amou sua Igreja (Jo 1.18; Tg 2.22).

6 Somente a pessoa que é nascida de novo, que alcançou um viver maduro em Cristo, manifestando o fruto do Espírito Santo(v.13), sabe canalizar o amor de Deus para todos ao seu redor (2Co 2.15; 5.14; Gl 5.22; Rm 5.8). O amor de Deus em nós é o sinalde paz de que somos salvos, que produzirá plena confiança e alegria, quando o Dia do Juízo chegar como um relâmpago. Comofilhos amados do Senhor, não há porque ter qualquer receio de sermos, por algum motivo, condenados por Deus, pois é o amorgenuíno quem confirma a salvação (v.18; Jo 21.15-17).

7 Jesus Cristo, numa de suas muitas provas de que é Deus, unificou os dois mandamentos da Lei (Dt 6.4 e Lv 19.18), anun-7

ciando a Nova Ordem: a Lei do Amor, que está sobre toda lei e se resume num único mandamento: amar a Deus e ao próximo(Mt 22.37-40).

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aquele que ama o Pai, de igual modo, ama também o que dele foi gerado.12 Desta maneira, sabemos que amamos osfi lhos de Deus: quando amamos a Deus e obedecemos os seus mandamentos.3 Porquanto, nisto consiste o amor a Deus: em que pratiquemos os seus man-damentos. E os seus mandamentos não são penosos.4 Todo aquele que é nascido de Deus ven-ce o mundo; e este é o triunfo que vence o mundo: a nossa fé!2

5 Quem é que pode vencer o mundo? Somente a pessoa que crê que Jesus é o Filho de Deus.6 Este é aquele que veio por intermé-dio de água e sangue, Jesus Cristo; não apenas mediante a água, mas por água e sangue. E o Espírito é quem dá testemunho, porquanto o Espírito é a Verdade.3

7 Assim, há três que proclamam teste-munho: 8 o Espírito, a água e o sangue, e há plena concordância entre os três.4

9 Nós aceitamos o testemunho dos ho-mens, contudo o testemunho de Deus tem maior valor, porquanto é a Palavra de Deus, que Ele próprio afi ança acerca do seu Filho.10 Ora, quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho. Todavia, todo aquele que não deposita fé em Deus o faz mentiroso, porquanto não crê no testemunho que Deus proclama acerca do seu Filho.11 E o testemunho é este: que Deus nos concedeu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho!5

12 Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida.

Conselhos fi nais do amado pastor 13 Estas orientações vos escrevi, a fi m de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o Nome do Filho de Deus.6

14 E esta é a segurança que temos para com Ele: que, se lhe fi zermos qualquer pedido, de acordo com a vontade de

1 João viveu numa sociedade patriarcal e, neste sentido, a família é a ilustração mais adequada para demonstrar que quemamar a Deus, o Pai, amará naturalmente o Filho primogênito e todos os seus irmãos mais novos (2.22). A fé em Cristo, assim comoa expressão sincera, prática e contínua de amor fraternal é sinal de que nascemos de novo (4.7).

2 O apóstolo não está afirmando que a vida cristã é simples de entender e fácil de viver, mas que todo aquele que é nascidode novo recebe, com o Espírito Santo, a capacidade de olhar para os desafios e as provas com a mente de Cristo (4.7; 2.15). Emcontraste com as obrigações do legalismo judaico (Mt 23.4), os mandamentos de Jesus Cristo são leves e suaves, pois visamproporcionar refrigério, descanso e segurança para nossas almas (Mt 11.30; Jo 14.5; Rm 12.2).

3 Os gnósticos primitivos, muitos saídos da própria Igreja, estavam pregando que Jesus teria nascido como qualquer serhumano e vivido assim (inclusive cometendo alguns pecados), até seu batismo, quando o Espírito de Deus, chamado “Cristo”desceu sobre a pessoa de Jesus, mas o abandonado antes do martírio na cruz, para que somente o homem Jesus morresse.João, evidentemente, não concorda com esse sofisma (mistura de um pouco de verdade com algumas mentiras, resultandonum grande engano), e se esforça, durante toda essa carta, para deixar claro aos seus leitores que Jesus Cristo é perfeitamente homem e perfeitamente Deus (1.1-4; 4.2; 5.5). A água simboliza o batismo de Jesus, e o sangue, a sua morte. Assim, o ministério de Jesus teve início com seu batismo nas águas e terminou com sua morte vicária na cruz. Jesus Cristo é o Filho de Deusnão somente no batismo, mas também, na sua morte e ressurreição. O Espírito Santo é a pessoa da Trindade que confirma o testemunho apostólico em nossos corações, que Jesus é o Filho Unigênito de Deus (Jo 1.32-34; 2.27; 1Co 12.3).

4 A Lei exigia duas ou três testemunhas para assuntos de grande importância, geralmente julgamentos de vida ou morte ouque envolvessem a reputação de alguém (Dt 17.6; 19.15; 1Tm 5.19). Na Vulgata e na antiga King James, esses versículos vêmcom alguns acréscimos: “...testemunho no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo, e estes três são um. E há três que testificamna terra: o Espírito, a água e o sangue...”. Como os acréscimos não são encontrados em nenhum manuscrito original ou mesmotradução antes do séc.XVI, o comitê de tradução da KJA decidiu manter o texto em português de acordo com a compilação dosmais antigos e fiéis manuscritos (Majoritário e Grego Crítico). O batismo do Espírito e na água são ordenanças para todos oscrentes (1Co 12.13; At 2.38).

5 O testemunho refere-se à segurança e paz internas providas pelo Espírito Santo no coração de todo cristão sincero (Rm 8.16;Jo 3.36; Fp 4.7).

6 O apóstolo João deixa claro que escreveu seu Evangelho para anunciar a Jesus Cristo como Salvador e Senhor de nossasvidas, bem como despertar a fé no coração de todas as pessoas (Jo 20.31). Nesta carta, entretanto, João considera que seusleitores já são crentes e que agora precisam solidificar sua fé e teologia bíblicas.

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Deus, temos a certeza de que Ele nos dáatenção.7

15 E, se estamos certos de que ele dá aten-ção a tudo quanto lhe rogamos, estamos convictos de que receberemos os pedidos que lhe temos feito.16 Se alguém vir seu irmão cometer peca-do que não leva à morte, ore, e Deus dará vida ao que pecou. Refi ro-me àqueles cujo pecado não leva à morte. Existe pecado que conduz à morte, não estou ensinando que se deva orar por este. 17 Toda injustiça é pecado, contudo há pecado que não induz à morte.8

18 Ora, sabemos que todo aquele que é

nascido de Deus não é escravo do peca-do; antes, Aquele que nasceu de Deus oprotege, e não permite que o Maligno opossa tocar.19 Estamos cientes de que somos de Deuse que o mundo inteiro jaz no Maligno.20 Da mesma forma, temos pleno conhe-cimento de que o Filho de Deus é vindoe nos tem concedido entendimento parareconhecermos o Verdadeiro. E nós esta-mos vivendo naquele que é o Verdadeiro,em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verda-deiro Deus e a vida eterna. 21 Filhinhos, acautelai-vos com os falsosdeuses!

7 É preciso compreender que Deus não é nosso servo, nós é que servimos ao Senhor. Portanto, devemos ter cuidado com7

nossos pedidos. A oração eficaz e que sempre terá a resposta de Deus deve, antes de tudo, ser feita por alguém que teve seuspecados lavados pelo Senhor (Sl 68.18); deve rogar em o nome de Jesus Cristo (Jo 16.23,24); sua oração e petição devem glori-ficar a Deus (Tg 4.2,3); deve crer nas promessas (Tg 1.5-7) e guardar os mandamentos de Cristo (3.22; Jo 15.7).

8 Qualquer pecado na comunidade cristã deve, em primeiro lugar, provocar um sentimento de solidariedade, intercessão e res-tauração (Mt 18.15-22; Gl 6.1). A Igreja, na época de João, estava vivendo sob os ataques dos hereges gnósticos que pregavamuma espécie de “amor livre”, sem qualquer pudor ou princípio moral. Além disso, negavam veementemente a encarnação deJesus Cristo. A pessoa que afirma ser cristã, mas nega que Jesus Cristo é o Messias (o Cristo), o Filho de Deus, perfeitamentehumano e perfeitamente Deus, revela-se como anticristo e incorre no mesmo pecado eterno e sem perdão contra o Espírito Santo,qual seja: o pecado da incredulidade renitente e despudorada (2.18-23; 4.4,5; 2Jo 9; Mc 3.29; Mt 12.22-32).

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