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GIBRÁ, Edgar. A geografia namorada da matemática estava enamorada do design, que quis namorar a educação: o Projeto Local - Greenwich Mean Time. In: SINAIS - Revista Eletrônica - Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, Edição n.03, v.1, Junho. 2008. pp. 96-133 96 A geografia namorada da matemática estava enamorada do design, que quis namorar a educação: o projeto Local - Greenwich Mean Time Edgar Gibrá 1 Resumo: O projeto Local - Greenwich Mean Time (GMT) é uma pesquisa que tem como particularidade o seu método, que se funda num rigor flexível, dando lugar à intuição e à sensibilidade. Não obstante, lança mão de procedimentos metodológicos como a semiótica e a análise do discurso, e alia-se à lógica da intersecção das relações “inter” e “transdisciplinares”. O objetivo principal é apresentar o raciocínio abdutivo e dedutivo que estaria em torno: 1) da descoberta de uma Fórmula Matemática de cálculo de fuso horário; 2) de um projeto de design que visa: a) um meio de divulgar tal equação; b) uma forma de torná-la apresentável, em termos pedagógicos e visuais, não só para a sua aplicabilidade entre estudantes do ensino fundamental e médio, mas também para a sua receptividade. O resultado tece-se a partir da sugestão de “embalagem do conteúdo intelectual”. Introdução O projeto Local - Greenwich Mean Time (GMT) é o resultado de um estudo que lança mão da conciliação teórica e metodológica e da sensibilidade estética expressiva. No cerne da nossa discussão está o caráter pluridisciplinar do Desenho Industrial: “Trata-se de uma atividade contemporânea e, como tal, nasceu da necessidade de se estabelecer uma relação entre diferentes saberes. Nasceu, portanto, naturalmente interdisciplinar” (Magalhães, 1998: 11-2). 1 Edgar Gibrá é formando em Desenho Industrial pela Ufes, no último período. É artista tecnológico; procura a expressão da arte (sem medo de errar) e tende a conjugá-la com o ponto de vista pragmático do design. Tem bel-prazer pela “inter” e “transdisciplinaridade”, pois crê que as artes — e por que não as ciências? — se comunicam e passam a reagir entre si através da montagem e da combinação, e que isso deveria ser treinado na escola, conforme declarou em seu Experimento de Arte e Design na Odontologia, exposição de 2006. Realiza estudos no domínio do design de interfaces digitais e da Arte e Tecnologia. Há algum tempo vem utilizando como tema de pesquisa a “Web como interface de software”. E-mail: [email protected] .

03 06 Edgargibra Ensaio

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  • GIBR, Edgar. A geografia namorada da matemtica estava enamorada do design, que quis namorar a educao: o Projeto Local - Greenwich Mean Time. In: SINAIS - Revista Eletrnica - Cincias

    Sociais. Vitria: CCHN, UFES, Edio n.03, v.1, Junho. 2008. pp. 96-133

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    A geografia namorada da matemtica estava enamorada do design, que quis namorar a educao: o

    projeto Local - Greenwich Mean Time

    Edgar Gibr1 Resumo: O projeto Local - Greenwich Mean Time (GMT) uma pesquisa que tem como particularidade o seu mtodo, que se funda num rigor flexvel, dando lugar intuio e

    sensibilidade. No obstante, lana mo de procedimentos metodolgicos como a semitica e a

    anlise do discurso, e alia-se lgica da interseco das relaes inter e transdisciplinares.

    O objetivo principal apresentar o raciocnio abdutivo e dedutivo que estaria em torno: 1) da

    descoberta de uma Frmula Matemtica de clculo de fuso horrio; 2) de um projeto de design

    que visa: a) um meio de divulgar tal equao; b) uma forma de torn-la apresentvel, em

    termos pedaggicos e visuais, no s para a sua aplicabilidade entre estudantes do ensino

    fundamental e mdio, mas tambm para a sua receptividade. O resultado tece-se a partir da

    sugesto de embalagem do contedo intelectual.

    Introduo

    O projeto Local - Greenwich Mean Time (GMT) o resultado de um estudo que

    lana mo da conciliao terica e metodolgica e da sensibilidade esttica

    expressiva. No cerne da nossa discusso est o carter pluridisciplinar do

    Desenho Industrial: Trata-se de uma atividade contempornea e, como tal,

    nasceu da necessidade de se estabelecer uma relao entre diferentes

    saberes. Nasceu, portanto, naturalmente interdisciplinar (Magalhes, 1998:

    11-2).

    1 Edgar Gibr formando em Desenho Industrial pela Ufes, no ltimo perodo. artista tecnolgico; procura a expresso da arte (sem medo de errar) e tende a conjug-la com o ponto de vista pragmtico do design. Tem bel-prazer pela inter e transdisciplinaridade, pois cr que as artes e por que no as cincias? se comunicam e passam a reagir entre si atravs da montagem e da combinao, e que isso deveria ser treinado na escola, conforme declarou em seu Experimento de Arte e Design na Odontologia, exposio de 2006. Realiza estudos no domnio do design de interfaces digitais e da Arte e Tecnologia. H algum tempo vem utilizando como tema de pesquisa a Web como interface de software. E-mail: [email protected].

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    Composto de quatro captulos escritos entre 2004 e 2008, este ensaio foi

    estruturado de modo a abordar as etapas do projeto Local - GMT numa ordem

    progressiva. Contudo, o seu predicado pluridisciplinar tambm permite que os

    captulos sejam lidos em qualquer ordem e como trabalhos independentes. O

    formato unidirecional se desdobra em dois elos, cujo primeiro indica, segundo a

    fora que est na observao do pormenor revelador, uma necessidade

    urgente de se reformular o mtodo de ensino de fuso horrio, destinado

    educao bsica, nos nveis fundamental e mdio (por isso o nome Local -

    GMT). A soluo proposta uma frmula matemtica que ser apresentada

    no captulo 2. O segundo elo diz respeito a um projeto de design que prev que

    a frmula seja concedida como bnus ao pblico consumidor, dentro de um

    produto industrializado. Esta proposta encontrou cho na declarao do

    professor da Universidade Catlica do Paran Fernando Antnio Fontoura Bini,

    acerca do trabalho de graduao dos cursos de Desenho Industrial e

    Comunicao Visual da UFPR - Universidade Federal do Paran, apresentado

    em julho de 1980, por Luiz Carlos de Camargo Gonalves: Este trabalho,

    tenho certeza, o Produto que ele veio projetar desde o inicio e agora o v no

    mercado, industrializado.2 A afirmao do professor Bini abre uma

    jurisprudncia proposta do projeto Local - GMT/2 de embalar um contedo

    intelectual, a frmula a qual deduzimos para resolver exerccios de fuso

    horrio.3

    Foram colaboradores nos respectivos temas: Claudio Marcio Coelho

    (Indiciarismo), Gisele Girardi (Cartografia bsica), Srgio Robert de SantAnna

    (Marketing em design) e Telma Elita Juliano Valente (Semitica da imagem).

    Meus agradecimentos a Deus que nos encheu do esprito da cincia, para

    manipular o ouro, a prata e o bronze, e assim, inventar obras artsticas e aos

    2 BINI. Prefcio. In: GONALVES, Luis Carlos de C. Desenho Industrial brasileiro? Crtica ao espao e forma de atuao. Curitiba: Ed. da UFPR, 1981. p.9. 3 A Frmula produto do esforo de pesquisa que realizei no segundo semestre de 2004. O objetivo deste ensaio apresentar comunidade cientfica a referida Frmula e ratificar minha autoria da mesma.

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    amigos, com carinhosa saudao a Anderson Naitzel, Marisa Terezinha R.

    Valladares, e a Claudio Marcio Coelho, pela dedicada colaborao e incentivo.

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    Captulo 1

    Decifrar o desempenho no tema fuso horrio

    Exames padronizados como a Prova Brasil e o Saeb so feitos para

    diagnstico em larga escala e construdos metodologicamente pelo Inep/MEC

    para avaliar sistemas de ensino. Neles, os estudantes respondem a questes

    de lngua portuguesa, com foco em leitura, e matemtica, com foco na

    resoluo de problemas. Logo aps a realizao dos testes, h um

    questionrio scio-econmico que coleta informaes sobre fatores contextuais

    que podem explicar o desempenho nos exames.

    Porm, no existe um instrumento de pesquisa capaz de avaliar o desempenho

    em questes especficas como um problema de multiplicao de monmios ou

    uma questo sobre preposies e locues prepositivas. Exemplificando: o

    tema da questo pode ter sido sonegado em sala-de-aula ou no instigar o

    interesse do aluno; o mtodo de ensino pode estar preparando alunos que

    apenas decoram a matria e no se preocupam em aprend-la realmente.

    Nosso estudo busca experincias no Paradigma Indicirio, visando analisar o

    desempenho de estudantes com relao ao tema fuso horrio, do contedo

    escolar. O mtodo indicirio constitui-se no uso do indiciarismo como

    ferramenta de pesquisa, que uma forma de interpretao da realidade

    construda a partir da investigao e anlise dos detalhes, encarados como

    indcios, pistas, sinais ou sintomas.4

    De incio, fizemos a anlise indiciria em conjunto com a anlise compreensiva

    do discurso do professor de geografia Marcelo (que no quis revelar seu

    sobrenome), a partir de uma entrevista concedida por ele via Internet em

    janeiro de 2005 (ver anlise da entrevista no Anexo 1).

    4 Cf. COELHO, Claudio M. Razes do paradigma indicirio. In: RODRIGUES, Mrcia B. F. (org). Ensaios de Indiciarismo. Vitria: Ufes, PPGHIS, 2006. (Rumos da Histria).

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    Para darmos completude e consistncia de dados estatsticos anlise do

    discurso, lanaremos mo do quantitativo dos candidatos que marcaram a

    alternativa correta das questes de clculo sobre cartografia, das provas de

    primeira etapa do processo seletivo da Ufes nos anos de 2001, 2002, 2003 e

    2005.5

    Abaixo, classificamos os problemas de fuso horrio em dois segmentos: o das

    questes que podem ser calculadas com o mtodo dos pauzinhos6 e o das

    que devem ser resolvidas atravs do mtodo padro de clculo.

    Fuso Horrio Mtodo dos pauzinhos Mtodo padro

    Questo/Ano Acertos Nulos Questo/Ano Acertos Nulos

    40/2003 50% 5% 39/2002 28% 12%

    54/2005 35% ?

    Mdia 32%

    Vejamos agora como foi o desempenho dos vestibulandos referente

    aplicao de operaes matemticas em questes de escala.

    Escala Questo/Ano Acertos Nulos

    46/2001 53% 5%

    39/2003 41% 5%

    Mdia 47%

    Na prova de 2003, a mdia de acertos da questo 40 (de fuso horrio) esteve

    22% acima da mdia registrada no ano de 2002 e 15% acima da mdia de

    2005. Conforme mostra a primeira tabela, as porcentagens de acertos relativos

    a 2002 e 2005 referem-se s questes de fuso horrio (39 e 54,

    respectivamente) que deveriam ser resolvidas aplicando-se o mtodo padro

    de clculo. Estas foram as questes que tiveram o menor ndice de acerto. J 5 Fonte: Comisso Coordenadora do Vestibular (CCV). Dados cedidos em dezembro de 2004. 6 Explicao do mtodo dos pauzinhos na pgina 128.

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    em relao s questes 46, de 2001, 39 e 40, de 2003, que envolviam apenas

    aplicaes matemticas (no requeriam a aplicao de algum mtodo

    complexo), o desempenho dos estudantes foi maior (comparar com as

    questes 39 e 54 da primeira tabela).

    As dificuldades que os estudantes enfrentam nos exerccios de fusos horrios

    revelam que o nvel de proficincia alcanado atravs do mtodo de ensino

    baixo. Em termos gerais, os estudantes no compreendem a coerncia entre a

    teoria e a tcnica de clculo utilizada, pois no h cumplicidade entre a teoria e

    a prtica. Alm disso, as dificuldades enfrentadas na aplicao do mtodo

    padro de clculo atestam sua fragilidade. Os desafios enfrentados por alunos

    e professores com as operaes de multiplicao, diviso, adio e subtrao

    constituem um problema da matemtica que a geografia no tem como

    resolver. Esse debate permite que se avente outro questionamento: o docente

    de geografia est capacitado para ensinar operaes matemticas? Caso a

    resposta seja negativa, o tema fuso horrio deveria migrar para a matemtica?

    A concluso conjetural e a causa evidenciada pelo efeito. Este modo de

    pesquisar conduz ao eixo narrativo da metonmia: a parte pelo todo, a causa

    pelo efeito (Ginzburg, 1989:152); o que nos leva a uma probabilidade que no

    nem a verdade dos positivistas, nem a impossibilidade da verdade dos

    cticos, nem o relativismo exacerbado dos ps-modernos. O que ento daria

    consistncia afirmao da verdade? O indcio, a espinha dorsal de ... um

    mtodo interpretativo [o indiciarismo] centrado sobre os resduos, sobre os

    dados marginais, considerados reveladores... (Ginzburg, 1989:150). Esse

    mtodo consiste em passar de fatos aparentemente insignificantes (pistas,

    indcios) para a realidade complexa, no observvel diretamente.7

    Se nosso raciocnio ao avesso nos levou proposio de que a causa

    tangvel do devido problema remete inoperncia do mtodo padro de

    clculo, nos compete apontar uma soluo. O captulo Uma frmula para

    7 RODRIGUES, 2005: 213-21.

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    descomplicar o tema fuso horrio dedica-se apresentao de uma frmula

    matemtica alternativa (uma expresso algbrica) que tem a vantagem de:

    Eliminar as etapas do mtodo padro descritas pelo professor Marcelo (v. Anexo 1);

    Ser de fcil deduo (existe cumplicidade entre a teoria e a prtica); Facilitar a memorizao (possui variveis repetidas e tem sonoridade8); Indicar se h mudana de data.

    8 A sonoridade da frmula assunto do terceiro captulo.

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    Captulo 2

    Uma frmula para descomplicar o tema fuso horrio9

    O sistema de fusos horrios foi estabelecido pelo Decreto n 2.784, de 18 de

    junho de 1913, que determina a hora legal no estrangeiro e no Brasil, conforme

    as convenes astronmicas internacionais dos fusos horrios. Esta a hora

    que marca o relgio comum. J a hora local o instante, na escala de tempo,

    referente longitude de um dado local.

    Como o crculo terrestre tem 360 e o movimento de rotao exercido em 24

    horas, temos 360 24 = 15, o que significa que cada hora do Globo se acha

    situada numa faixa de 15 de longitude.

    preciso que se saiba que cada fuso uma delimitao terica, dentro da qual

    a hora (legal) hipottica. Na realidade, muitos pases adotam limites

    prticos com o fim de obterem maior uniformizao dos horrios (i. ., trocam

    por suas fronteiras os meridianos prescritos, conforme seus interesses e

    peculiaridades do local). Quando isso acontece, dizemos que o fuso horrio

    prtico. J outros pases estabelecem horas legais prprias, diferentes dos

    fusos horrios padres.

    Hora de B, a partir de A

    Longitude astronmica e hora local so valores iguais, expressos em

    grandezas diferentes, pois a grandeza hora representa intervalo de tempo,

    enquanto longitude dada em ngulo. Ento: a diferena de horas locais de

    dois pontos o mesmo que a diferena de longitude entre esses pontos.10

    9 Existem outras frmulas relativas ao tempo em astronomia de posio. Obviamente, elas no figuram nas literaturas da educao bsica. 10 Determinao da longitude pelo mtodo de Mayer.

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    Matematicamente temos:

    HB = HA + FB - FA

    Regra de Sinais

    As longitudes a oeste (W) so convencionadas como negativas, enquanto que

    os graus a leste (E) de Greenwich (GMT) so positivos:

    Exerccios

    1. Numa cidade A a 48W so 11 horas. Ento, que horas sero numa cidade B a

    59E?

    Resoluo: Convertendo graus em horas:

    48W = -03h12

    59E = +03h56

    360 24h = 15/h; 1/4min

    Por regra de trs: 48 15 = 3h e 3

    3 4min = 12min, logo 48 = 03h12 Como 48 pertence ao hemisfrio oeste do meridiano internacional de origem

    (Greenwich), a hora negativa: -03h12.

    W E

    - +

    GMT

    Em que:

    HB a hora referente ao ponto B HA a hora referente ao ponto A FB a longitude de B em horas FA a longitude de A em horas

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    Separando os valores:

    HB = ?

    HA = 11h

    FB = +03h56

    FA = -03h12

    Aplicando a frmula:

    HB = HA + FB - FA (ou simplesmente HA - FA = HB - FB, que muito mnemnico) HB = 11 + 3:56 - (-3:12)

    HB = 11 + 6:68

    HB = 17:68

    Reduzindo: 17h68 = 17h + 60min + 8min = 18h8

    HB = 18h8

    A hora legal a mesma em todo o territrio do fuso horrio, tendo sido

    inventada para evitar que a hora varie por pouco que se desloque em

    longitude. Apenas para esclarecer: hora legal em um ponto a hora que os

    relgios situados no meridiano central do fuso a que pertence o ponto marcam,

    uma hora no-astronmica, imposta por lei. Como 48 pertence ao fuso horrio

    cujo meridiano central o de 45 e 59 pertence ao fuso cujo meridiano central

    o de 60 (v. meridianos limites em um mapa de fusos horrios), convertendo

    de graus para horas temos 45W igual a -3h e 60E igual a +4h. Logo: HB = HA + FB - FA

    HB = 11 + 4 - (-3)

    HB = 11 + 7

    HB = 18

    HLB = 18h legais

    Nota: HLB a hora legal no ponto B.

    2. Um avio sai de Tquio, que est situado no fuso de 135E, s 14h20 do dia 1

    de janeiro de 2000, com destino a So Paulo. A viagem tem durao de 20

    horas. Qual o horrio, o dia e o ano que o avio chegar a seu destino?

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    Resoluo: Saindo de Tquio s 14h20, se a viagem durar 20 horas, ento:

    14h20 + 20h = 34h20

    Reduzindo: 34h20 = 24h (um dia) + 10h20

    Logo, o avio chegar a So Paulo s 10h20 do dia seguinte, 2 de janeiro, no

    horrio de Tquio.

    Passo a passo:

    135E = +9h

    Fuso de So Paulo (na escala internacional de tempo) = -3h

    HSP = ?

    HTquio = 10h20

    FSP = -3h

    FTquio = + 9h

    Aplicando a frmula:

    HSP = HTquio + FSP - FTquio

    HSP = 10:20 + (-3) - (+9)

    HSP = 10:20 - 3 - 9

    HSP = -2h20

    Formato de hora negativa (h-)

    No caso do resultado ser um valor de hora negativa, aplica-se a frmula:

    24 + (h-)

    24 + (-2:20) = 21h40, do dia 1 de janeiro; pois o sinal de subtrao indica que

    houve alterao de data para o dia anterior data atual.

    Nota: Por uma estratgia metdica, aconselha-se adotar zero hora ao invs da hora vinte e quatro.

    Resposta: O avio chegar a So Paulo s 21h40 do dia 1 de janeiro de 2000.

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    Mudana de data

    O meridiano de 180 considerado a Linha Internacional de Data, pois nele se

    d a mudana de um dia para outro. Ao ultrapassar essa linha no sentido

    oeste-leste, deve-se acrescentar um dia (24 horas) data atual, e no sentido

    leste-oeste, deve-se subtrair um dia.

    H mudana de data quando:

    0>H>24

    Nota: Se H for um valor de hora negativa (h-), subtrai-se um dia (24 horas) da data atual. Se H>24 a mudana de data ocorre na ordem crescente.

    Horrio de vero

    Entendamos horrio de vero como fuso horrio de vero. Quando entra o

    horrio de vero, a regio afetada muda de fuso horrio e,

    conseqentemente, os relgios precisam ser alterados. No caso do Brasil, os

    estados que adotam o horrio de vero esto normalmente em UTC-3. No

    horrio de vero, passam para UTC-2 (-3h + 1h = -2h, o fuso horrio anterior

    ao de -3h). A hora de referncia, UTC (origem), sempre a mesma. O que

    varia o fator de correo em relao ao Tempo Universal.

    Se a questo informar, por exemplo, que numa cidade A a 45W so 13 horas

    no horrio de vero, ento se deve usar a hora do relgio indicada e fazer a

    correo no F:

    HA = 13h e FA = -2h (no horrio normal teramos HA = 12h e FA = -3h).

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    Captulo 3

    11

    A partir de agora, daremos incio ao segundo elo do Projeto Local - Greenwich

    Mean Time numa perspectiva orientada para o marketing e o design.

    Comearemos pelas trs perguntas bsicas de um planejamento eficaz. Onde

    estamos? (situao atual); onde queremos chegar? (objetivos); como

    chegaremos l? (estratgias). A primeira pergunta relaciona-se anlise do

    problema: conforme demonstramos no captulo 1, a maioria dos estudantes

    enfrenta dificuldades para resolver questes de fuso horrio nas provas de

    geografia, bem como compreender, lembrar, aplicar e ensinar o mtodo padro

    de clculo. Chegamos a uma frmula alternativa que oferece vantagens

    pedaggicas e de recursos em relao ao mtodo padro, como, por exemplo,

    a indicao de mudana de data. Porm perguntamos: o que fazer com essa

    descoberta? Nosso objetivo principal criar um projeto de design que vise

    educao escolar, funcionando como um material de divulgao da frmula

    para estudantes do ensino fundamental e mdio. A terceira pergunta refere-se

    ao posicionamento estratgico que adotaremos inicialmente a partir da anlise

    de experincias alheias.

    Matemtica com msica

    O projeto Matemusic: matemtica com todas as notas, do professor Giovani

    Ferraro12, rene regras matemticas em mais de 92 msicas explicativas. O

    objetivo do projeto promover a fixao da matria por meios mnemnicos, a

    saber, os estudantes cantam a msica da matria que acabaram de estudar, a

    11 Metfora visual do ttulo: Bolo da lua. H oitocentos anos os chineses colocaram os planos do ataque fatal contra os dominadores mongis dentro desses bolos (cujo sabor era detestado pelo povo mongol) e enviaram-nos a todos os generais das foras chinesas. O bolo da lua o ancestral do biscoito da sorte, aqueles imprevisveis biscoitos contendo dentro uma frase de sabedoria ou profecia vaga, que podem ser encontrados em restaurantes de comida chinesa e at em verso pessimista. 12 Cf. http://prof.giovani.sites.uol.com.br - Acesso em 29 fev. 2008.

  • GIBR, Edgar. A geografia namorada da matemtica estava enamorada do design, que quis namorar a educao: o Projeto Local - Greenwich Mean Time. In: SINAIS - Revista Eletrnica - Cincias

    Sociais. Vitria: CCHN, UFES, Edio n.03, v.1, Junho. 2008. pp. 96-133

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    cuja melodia associada uma letra didtica. Isto os ajuda a recordar o que

    viram em sala-de-aula.

    O criador do Matemusic apresentou a seguinte chamada na Internet:

    Problemas com matemtica? Aprenda matemtica cantando e elimine seus

    traumas!. O sucesso do marketing presente no apelo do professor, talvez,

    resulte das dificuldades e medos que o aluno enfrenta no aprendizado da

    matemtica, em virtude da compartimentao do saber na sociedade moderna.

    Em meio a isso, confundem a matemtica com reas estanques e restritas

    rdua e baldada prtica da memorizao de contedos. Viso paradoxal que

    se converte em averso as cincias exatas, geralmente por parte dos

    alumnus13. Assim, surgem opinies como: Para que serve a matemtica?

    Para nada!. E j que para ser decorada, que se faa de uma forma mais

    palatvel, como por meio do recurso mnemnico da msica.

    A frmula de clculo de fuso horrio, apresentada no captulo anterior,

    musical. Dela pode-se obter o som das slabas H! F! He! F!, sendo

    que H e F so abreviaturas de Hora e Fuso, enquanto que a e e so

    variveis14. Tem-se, ento, uma tendncia musical que vai ao encontro da

    proposta do professor Giovani e que nos interessaria acaso o lanamento da

    frmula em CD (ou outro suporte documental) fosse uma possibilidade de baixo

    preo.

    Brincadeira para trabalhar as operaes

    Criativo tambm foi o artifcio utilizado por uma professora da segunda srie,

    logo aps ter trabalhado as quatro operaes elementares com sua classe. Ela

    percebeu que a brincadeira do lbum de figurinhas seria um timo exerccio

    para as crianas, a partir do qual lanaria vrios problemas envolvendo

    quantidades de figurinhas em mos, comparadas com a capacidade do lbum.

    13 Alumnus [latim] s.m. 1. Criana de peito, menino; aluno, discpulo. 2. Sem luz. 14 No captulo sobre a frmula usamos b no lugar de e.

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    Segundo comentrio dessa professora, os baixinhos se interessam muito por

    lbuns e figurinhas.

    Figurinhas de bala

    So inmeras as sries promocionais de figurinhas de bala e chiclete que

    circulam no mercado, geralmente com temticas sobre frivolidades e recados

    romnticos.

    Uma vez que pouqussimos foram os que procuram estudar as reais necessidades de

    um mercado brasileiro na produo de objetos, tendo em vista os problemas culturais,

    sociais, econmicos e ecolgicos; Luiz Carlos de Camargo Gonalves buscou o

    contrrio: chegar a um produto que tivesse verdadeira importncia, opondo-se

    bacanal do desperdcio e ao modismo.15

    Essa crtica lrica ao modo de produo industrial inspiradora... Que tal

    trocarem as curiosidades inteis, que vem de brinde com as balas e chicletes,

    por contedos escolares como a frmula de fuso horrio que elaboramos?

    Desta forma, poderemos acondicionar o contedo didtico tratado no primeiro

    elo do projeto.

    Outra soluo seria o uso de objetos de consumo do cotidiano do estudante

    para veiculao da frmula, mas que fossem economicamente viveis. O uso

    do material escolar foi descartado porque o preo vinha crescendo em ritmo

    acelerado, conforme expressam as noticias de jornal a seguir:

    ... artigos de papelaria para o ano letivo de 2005 esto em mdia 17% mais caros que

    em 2004.16

    Nas papelarias e livrarias, os preos dos produtos esto at 50% mais altos do que no

    ano de 2003.17 15 BINI. Prefcio. In: GONALVES, Luis Carlos de C. Desenho Industrial brasileiro? Crtica ao espao e forma de atuao. Curitiba: Ed. da UFPR, 1981. p.8. 16 LIMA, Ana Paula. Material escolar chega 17% mais caro. Mercado Mineiro, Minas Gerais, 5 jan. 2005. Disponvel em: . Acesso em: 7 fev. 2005.

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    Segundo a Brasil Escolar, rede nacional de papelarias, a volta s aulas em 2003

    custar de 12% a 30% mais que nos anos anteriores.18

    Diante do cenrio exposto acima, optamos por adequar a bala (i. ., um

    produto alimentcio barato e com embalagem) para o acondicionamento e

    transporte da frmula. O prximo passo foi realizar uma pesquisa quantitativa

    para confirmar (ou descartar) nossa hiptese de que a figurinha de bala seria o

    melhor meio para a divulgao da frmula.

    Pesquisa quantitativa

    Realizada no perodo de 7 a 18 de fevereiro de 2005, teve como objetivos

    dimensionar o mercado potencial de consumo no segmento de balas; medir o

    comportamento com relao ao uso de embalagens primrias de bala (papel

    de bala); conhecer as tcnicas de memorizao mais utilizadas pelos

    estudantes.

    A pesquisa foi aplicada via Internet, por meio de questionrio semi-estruturado

    (v. o desenho da pesquisa no Anexo 4). O preenchimento do questionrio foi

    assistido por um sistema automtico de validaes que reduziu a zero o

    percentual de respostas em branco ou nulas. S foi possvel participar uma vez

    utilizando o mesmo computador.

    Foram enviados convites com o endereo da pesquisa a um grupo de pessoas,

    por correio eletrnico, e a duas escolas particulares de ensino fundamental e

    mdio. Foram realizadas 612 enquetes a partir do site da Universidade Federal

    do Esprito Santo (v. banner em rich media no Anexo 3), com os seguintes

    resultados:

    17 CHOUCAIR, Gergea. Material escolar mais caro. Mercado Mineiro, Minas Gerais, 27 dez. 2004. Disponvel em: . Acesso em: 7 fev. 2005. 18 LOETZ, Cludio. Material escolar mais caro. A Notcia, Santa Catarina, 22 out. 2002. Disponvel em: . Acesso em: 7 fev. 2005.

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    Amostra: 328 pessoas do sexo masculino; destas 40% consomem diariamente algum tipo de

    bala, 10% consomem mais de um tipo.

    36% Bala comum (gelada, mastigvel, recheada).

    33% Bala forte

    16% Caramelo

    30% Chiclete

    21% No lem as figurinhas

    16% Guardam as figurinhas interessantes

    Amostra: 284 pessoas do sexo feminino; destas 55% consomem diariamente algum tipo de

    bala, 12% consomem mais de um tipo.

    44% Bala comum (gelada, mastigvel, recheada).

    27% Bala forte

    12% Caramelo

    34% Chiclete

    12% No lem as figurinhas

    34% Guardam as figurinhas interessantes

    No total das amostras, das 612 pessoas, 84% em mdia dos homens e mulheres disseram que lem as figurinhas de bala. Isto significa que a maioria veria a frmula se estivesse impressa na

    figurinha.

    10-15 anos 16-18 anos 19-25 anos + 26 anos Total

    Bala comum Caramelo Chiclete Bala forte

    10-15 anos 16-18 anos 19-25 anos + 26 anos Total

    Bala comum Caramelo ChicleteBala forte

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    Dos 525 estudantes, 48% disseram que colariam (para si) a figurinha se viesse com uma frmula didtica-escolar.

    Pesquisa complementar

    Fernandes Campanharo, representante comercial (no Esprito Santo) de uma

    grande empresa nacional no segmento de balas, revelou que, geralmente, os

    pais ou responsveis preferem comprar balas mastigveis para as crianas.

    Devemos considerar a hiptese de que, no processo de compra, os pais

    decidam sobre o tipo de bala que seus filhos devem consumir, ou pode ser que

    eles comprem determinado tipo de bala porque sabem que os filhos gostam.

    De acordo com RUMMEL, HOWARD, SWINTON et al. (2000), at os dez anos

    de idade, as crianas costumam seguir as preferncias dos pais quanto aos

    produtos que devem consumir. Depois dessa idade, este comportamento

    comea a mudar e culmina na adolescncia.19

    Em algumas escolas, produtos como figurinhas adesivas e chicletes so

    proibidos. Mas a venda fora do colgio acontece livre e independentemente do

    regime das escolas e vontade dos pais. Nesse caso, outros critrios como

    diverso, sabor e um determinado fator de diferenciao na embalagem

    justificam a compra.

    A Riclan, empresa de balas, revelou que o sucesso de vendas das balas

    Freegells Love Cats se deve mistura de dois ingredientes bsicos: sabor mais

    recados romnticos. O pblico-alvo o AB de 8 a 13 anos, tem acesso ao

    preo e gosta da brincadeira da paquera. Assim, a cada ano, as balas ganham

    uma nova coleo de figurinhas. A moda o motor da produo, afirmou a

    empresa. Tentar agir sobre o indivduo com a lgica da novidade resgatada

    19 Sugesto: v. novamente os grficos das preferncias de consumo, nos quais os usurios so classificados por idade.

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    um dos motivos para a fbrica mudar periodicamente a natureza das figurinhas

    (adesivas ou no-adesivas).

    Os pacotes das balas Freegells chegavam s lojas especializadas com reajuste

    de 30%, no primeiro semestre de 2005, e a unidade podia ser encontrada no

    mercado paralelo pelo triplo do valor do pacote dividido pelo contedo unitrio.

    De qualquer maneira o preo relativamente muito barato e acessvel para o

    pblico C. Para se ter uma idia, no se fala em custo de produo de uma

    unidade de bala, pois o valor irrisrio.

    Estratgia adotada

    As figurinhas com contedo escolar poderiam ter edio limitada para a volta

    s aulas e incio da temporada de vestibulares. Essa sazonalidade influenciaria

    positivamente na deciso de consumo, seja por parte dos pais e filhos ou dos

    pr-vestibulandos.

    Mas para que apelar para a sazonalidade se efmero o saber e infinito o

    aprender? Sempre necessitamos de conhecimento, no s na temporada de

    provas escolares. Vislumbra-se, por este ponto de vista, uma nova proposta

    que est para alm da divulgao da frmula de fuso horrio:

    Antes de qualquer coisa, no pretendemos refutar as teorias chamadas

    tradicionais, nem partimos em defesa de uma teoria crtica ou ps-crtica de

    currculo da educao. Desejamos somente, por mais pretensioso que possa

    parecer, evitar a alienao do estudante.

    No sculo XIX, Marx demonstrou que o processo de industrializao e de

    urbanizao gerou transformaes na vida humana em todos os setores da

    sociedade capitalista: o homem tornou-se inevitavelmente alienado. Hoje, a

    indstria pode contribuir para a (des)alienao na educao atravs de um

    produto ou meio alternativo de acesso ao contedo escolar, preparando

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    estudantes para inter-relaes mais dinmicas no ambiente de escolarizao.

    A par da existncia desse contedo, os estudantes podero cobr-lo dos

    professores, caso no seja aplicado.

    Caberia indstria a responsabilidade pela natureza e fidelidade dos

    contedos escolares divulgados junto com seus produtos20, e ficaria sob a

    competncia fiscalizadora do Poder Pblico21.

    20 Existe uma patente requerida para Embalagens de alimento com contedo escolar, sob o protocolo n.001854. Negociaes: [email protected]. 21 O Ministrio da Educao, por meio da Secretaria de Educao a Distncia, o rgo responsvel pela avaliao dos contedos do ensino a distancia.

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    Captulo 4

    Aula de clculo em figuras de bala: uma anlise semitica corroborativa

    Este captulo uma anlise semitica de trs figurinhas de bala que servem

    como modelo para um objeto de aprendizagem (learning object), direcionado

    ao ensino a distncia do novo mtodo para calcular a diferena de horrios

    entre duas localidades da Terra (v. captulo Uma frmula para descomplicar o

    tema fuso horrio). A aula de clculo vem de brinde com a bala. a idia

    final do projeto Local - GMT/2.

    Essa anlise semitica tem a funo suplementar de revelar o potencial

    comunicativo dos envoltrios em apreciao, a partir dos signos escolhidos

    intuitivamente22 para compor as figurinhas.

    A Marca da srie de figurinhas

    A imagem da marca se fundamenta na sua forma, que deve ser distintiva e

    clara. Tem por finalidade causar um impacto e fazer memorizar um nome,

    impulsionando o consumidor a ficar fiel a esta marca (FARINA, 1990: 191-2).

    No contexto de figurinhas com frmulas matemticas, os quatro operadores

    bsicos identificam com clareza essa srie de figurinhas, a que demos o nome

    de aula de clculo. A marca, que reduzida elementaridade, e cuja

    influncia do racionalismo modernista notria, usa os sinais em negativo, isto

    , espao vazio circundado por espao ocupado. Se o tamanho da marca no

    fosse to reduzido, ao focar detidamente nos quatro operadores aritmticos e,

    em seguida, olhar para outro local, poder-se-ia ver com nitidez uma imagem da

    marca em positivo. Pois ... as ps-imagens negativas sero sempre

    22 O projeto das figurinhas de maro de 2005 e foi feito sem um estudo semitico prvio.

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    complementares da cor que o indivduo tenha fixado23 (p. ex., do branco para

    o preto, do amarelo do sol para o azul do cu).

    Diante desse efeito, quanto ela valeria se fosse anunciada uma marca que

    pudesse literalmente ter a sua visibilidade prolongada no olho do observador?

    Isto seria poluente na prtica, mas no mnimo seria arrojado e inovador. O

    contraste entre preto e branco, por causa de seus opostos valores de

    luminosidade, compe um conjunto harmonioso e agradvel vista, com um

    forte poder de impacto que supre a falta de cores, derrubando certos

    significados simblicos preconceituosos (como obscurantismo, dificuldade,

    sujeira e pessimismo) que a acromtica preta e a expresso imagem negativa

    podem representar.

    Os temas escolhidos

    Ligao DDI24

    As evocaes interpretativas dessa figurinha revelam-se satisfatoriamente com

    grande sabor local (de Portugal e do Brasil); quer evocando a lenda do galo de

    Barcelos (um smbolo de Portugal), quer trazendo memria o bumba-meu-boi

    (herana do Brasil Colonial). Ergueu-se na mesa o galo de Barcelos e cantou

    quando um peregrino do caminho de Santiago de Compostela, natural da

    Galiza, estava para ser enforcado, suspeito de ter cometido um crime. Num

    apelo final, pediu um encontro com o juiz, que se preparava para comer o galo

    assado, e ento exclamou: to certo eu ser inocente, como certo esse galo

    cantar quando me enforcarem!. Diante do episdio, o galego acabou solto e

    seguiu em paz. O que o galo e o boi tm de smil so as cores e os motivos

    decorativos do corpo de cada um. Esses traos de identidade cultural podem

    ser confundidos, dando ao elemento da cultura portuguesa um ar de

    brasilidade, que tambm eficaz porque o galo de Barcelos (na figurinha 01)

    causa certa impresso de familiaridade nos brasileiros. 23 FARINA, 1990: 97. 24 Ilustrao do designer Ismar Coelho.

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    Capoeira em Portugal

    Esse tema se inspira no grupo Capoeira Brasil. Este grupo est presente em

    mais de quinze pases e encontra-se em Portugal desde outubro de 2004. A

    capoeira se espalhou pelo nosso pas, tendo muitos adeptos, como tantos

    outros simpatizantes. Menina tambm joga, mas capoeira coisa de homem.

    Ela vem sendo incentivada por programas sociais como um esporte que

    encerra s doutrina, isto , possui um substrato filosfico que importante na

    formao integral dos jovens. A capoeira ou arte-luta brasileira no est

    presente s na periferia, mas em muitas academias, atingindo o ptio escolar,

    o ambiente universitrio e a educao fsica. Isso depois de vrias investidas

    na valorizao das razes histrico-scio-culturais prprias do nosso povo.

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    Bate-papo na Internet

    A coroa de flores na cabea da menina no to eficiente como signo indicial

    do Hava quanto seria o lei (aqueles colares de flores cheios de significados

    simblicos, e que ficaram famosos nas pginas sobre o Hava dos cadernos de

    turismo). Um valor que marca essa figurinha a graciosidade do rosto meigo

    de menina da personagem e seus traos multitnicos. Ela no est trajada de

    danarina de hula. Na verdade, ela no havaiana.

    As cores e imagens

    A cor d ao produto um valor (destaque) muito mais intenso do que o preto, o

    branco e o cinza. Portanto, para a cor dos elementos de maior importncia da

    composio que se devem dirigir os primeiros cuidados, principalmente se

    levarmos em conta o grande poder sugestivo e persuasivo da cor e as suas

    ligaes emotivas.

    A frmula deve ser entendida como o elemento principal do conjunto, enquanto

    que os personagens tm por funo deslocar o olhar do espectador para a

    frmula. A ilustrao pode variar de acordo com as referncias (ao tema e aos

    locais) dadas pela questo. Assim, o papel indicativo da imagem muito

    marcante.

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    O amarelo, o laranja, o vermelho e o verde so cores consideradas visveis

    numa embalagem, logo so as que mais foram exploradas. Alm disso,

    segundo testes de memorizao, a memria indicava mais a forma para

    objetos azuis e verdes, enquanto que para os amarelos, vermelhos e

    alaranjados ela indicava a cor propriamente dita. Esta informao s um

    referencial terico para a escolha do amarelo ou laranja para as caixas de

    legenda, contrastando com o azul violetado da frmula, e do vermelho para

    destacar as variveis subscritas a e b.

    Na figurinha 03 ocorre a troca de cor do balo com as variveis. Nas figurinhas

    01 e 02, as cores de plano de fundo se associam qualitativamente ao clima e

    horrio locais das questes: em 01, estabelecemos relao do verde com o

    frescor matinal, o bem-estar e o frio europeu. O valor do verde, neste caso,

    tambm anula qualquer tendncia masculina ou feminina. Em 02, o laranja

    sugere o calor brasileiro intenso da tarde (horrio da resposta da questo da

    figurinha) e o energtico esprito adolescente-jovem.

    A figurinha 03 (se considerarmos suas codificaes genricas fortssimas no

    tocante ao simbolismo das cores e estilo do desenho) estabelece um paralelo

    entre o carter estrategicamente delicado dos elementos visuais e o pblico

    feminino, especialmente o infantil. A idia de feminilidade associada menina

    reforada pelo fundo cor-de-rosa.

    Tipografia

    O texto aparece contra o fundo colorido, em fonte Comic Sans MS, normal,

    apenas com o ttulo em negrito. A frmula destaca-se com outra tipografia, a

    Staccato 222 BT, que bastante informal e desimpedida, e muito eficaz, pois

    sugere o ldico em contraposio idia de que matemtica maante.

    Curioso que a famosa Comic Sans, utilizada em materiais grficos (de

    circulares a caixas de remdio), no foi desenhada para ser disponibilizada

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    como fonte, mas como soluo para um problema de design de um software

    cmico, o MS Bob. Bob tinha um cachorro chamado Rover e um balo de

    informaes usando Times New Roman. Segundo Vincent Connare, o criador

    de Comic Sans, sua inspirao veio do choque de ver Times New Roman (uma

    Romana Clssica) ser usada de modo inapropriado, em uma interface grfica

    ldica para crianas.

    Outra tipografia bastante popular a que usamos25 na explicao da frmula

    no verso das figurinhas: a Helvetica ou Sua, de Max Miedinger. Esta uma

    fonte desenhada aspirando mxima legibilidade, no tem serifas e bastante

    limpa.

    A distribuio dos elementos no espao

    H uma separao entre a parte superior e inferior do espao pictrico que se

    d na passagem da imagem para o verbal. O imagtico est concentrado na

    faixa de cima e o verbal na parte de baixo. Essa separao pe em destaque o

    personagem e o balo de pensamento contendo a frmula. A marca aparece

    isolada abaixo da rea de maior grafismo e centralizada com ela. Em meio a

    esse isolamento, a aplicao da marca em preto se destaca pela limpeza e

    contraste com o fundo marginal branco.

    A dupla-face

    A face mais importante da figurinha, sem dvida, a que contm a explicao

    da frmula. Entretanto, no devemos privilegiar uma face de ser colada, pois

    isto poderia frustrar quem porventura quisesse colar a outra face, ou as duas.

    Portanto, as figurinhas so adesivas26 dupla-face. As duas faces so de

    polipropileno, impressas em policromia pelo processo de impresso

    flexogrfico com precauo quanto toxidade das tintas.

    25 As figurinhas usadas neste trabalho esto em fonte Tahoma. 26 A praticidade do sistema de colagem da figurinha auto-adesiva convida o consumir a ficar com ela.

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    Consideraes Finais

    A programao visual das figurinhas , antes de tudo, didtica, j que se

    dispe ao ensino a distncia. O texto o elemento informativo fundamental e a

    ilustrao um coadjuvante no ensino da frmula. Entretanto, a ilustrao

    carrega valores simblicos de significncia cultural e de segmentao por sexo,

    por meio dos quais a imagem tem peso na determinao do que o consumidor

    vai fazer com a figurinha (ficar com ela, jogar fora, dar para algum).

    Semioticamente, as trs opes possuem caractersticas que as classificam

    dentro do nvel de secundidade, em termos de dominncia das categorias

    fenomenolgicas de Peirce. Os smbolos trazem embutidos em si carteres

    icnicos e de referncia muito fortes. Os signos dominantes so quali-signos (a

    cor e suas simples qualidades de sensao e sugesto) e hipocones (os

    personagens e seus acessrios, uma vez que se parecem com o que

    representam). As significaes abstratas ou simblicas (muitas delas) no so

    explcitas para ns: reconhecemos uma dessas coisas havaianas de flores

    quando vemos uma, e at a achamos bonita, mas no conhecemos a idia ou

    sentimento que est embutida nessa coisa. Qualquer havaiano genuno,

    porm, deveras entenderia qual objeto essa coisa representa, por pacto

    coletivo no qual no temos parte. Podemos dizer o mesmo de quem vive em

    Portugal (em relao ao galo) e na Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco (onde

    a capoeira se tornou mais popular). Na figurinha 03, a funo referencial da

    coroa de flores fundamental para haver coerncia com o Hava.

    O presente estudo corroborou a eficcia da intuio, da razo e da

    sensibilidade como um processo mental que precede o mtodo cientfico.27 Na

    realidade, propomos um esforo conciliatrio entre os argumentos elaborados

    atravs do exerccio semitico e os resultados da prtica intuitiva, que culminou

    nos trs modelos de figurinhas. De fato, este esforo teve um papel importante

    em todas as etapas do projeto Local - Greenwich Mean Time. No entanto,

    27 RODRIGUES, 2005 e MAGALHES, 1998.

  • GIBR, Edgar. A geografia namorada da matemtica estava enamorada do design, que quis namorar a educao: o Projeto Local - Greenwich Mean Time. In: SINAIS - Revista Eletrnica - Cincias

    Sociais. Vitria: CCHN, UFES, Edio n.03, v.1, Junho. 2008. pp. 96-133

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    disse-se conciliatrio porque a inteno no sobreestimar a sensibilidade em

    detrimento do mtodo cientfico, mas enriquec-lo e potencializ-lo.

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    Revista Arcos, Rio de Janeiro, v. 1, n. nico, p. 10, out. 1998.

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    Anexo 1

    Entrevista realizadas por e-mail com o Prof. Marcelo (1/1/2005, 3/1/2005, 4/1/2005 e 5/1/2005)

    Nota: Para no usarmos um discurso logogrfico (em internets) e com leves incorrees ortogrficas e gramaticais, as citaes sero indiretas, mas conservaro aspas, palavras iniciadas em maisculas e pormenores reveladores.

    Marcelo: No s me preocupa a assimilao por parte dos alunos (geralmente apresentam muita dificuldade nas operaes matemticas), mas os mtodos

    equivocados de ensino por parte do corpo docente que, em geral, busca

    facilitar os clculos com jeitinhos no eficazes.

    Anlise: O motivo pelo qual o professor Marcelo se preocupa que muitos dos seus alunos tm problemas com operaes aritmticas envolvendo valores

    numricos temporais e com a regra de multiplicao dos sinais (+ (-1) = -1; - (-

    1) = +1...). Ele alega que os estudantes vo para a aula sem saber conceitos

    bsicos da matemtica, e que alunos e professores preferem processos

    simples para resoluo das questes, como, por exemplo, olhar a hora

    correspondente a cada mltiplo de 15 (graus) na carta (mapa) de fusos

    horrios, ao invs de fazer a converso de graus para horas matematicamente.

    Esses mtodos ou jeitinhos, porm, levam ao equvoco os desavisados e nem

    sempre funcionam. O motivo para se procurarem formas alternativas que

    facilitem o processo de ensino-aprendizagem do tema fuso horrio se deve

    dificuldade que discente e docente tm para assimilar o mtodo padro de

    ensino, o mesmo que o professor Marcelo utiliza.

    Marcelo: O clculo realmente simples, porm, se voc acompanhar os resultados de pesquisas feitas no Brasil, nos ltimos anos, chegar

    concluso de que a grande maioria dos estudantes que terminam o ensino

    mdio apresenta algum tipo de deficincia na execuo das operaes

    matemticas mais elementares, dificultando e muito o ensino de fuso horrio. O

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    problema tem-se apresentado em todas as sries em que esse contedo

    ensinado. Claro que medida que vai ocorrendo o amadurecimento do aluno,

    vai ficando mais fcil absorver os clculos.

    Anlise: O professor Marcelo considera fcil a forma que ele utiliza para converter o horrio de uma cidade para outra. Mas, a partir das prprias

    experincias vividas em sala-de-aula (em turmas de 5 e 8 srie; no ensino

    mdio e no pr-vestibular), ele considera dificultoso o processo de ensino-

    aprendizagem do clculo de fuso horrio, uma vez que a mdia geral dos

    estudantes apresenta baixo desempenho em matemtica. O professor refere-

    se apenas a erros operacionais cometidos pelos alunos, sem levar em

    considerao outras instncias do letramento em matemtica: ler, entender o

    problema e saber resolv-lo em diversas situaes. De acordo com os

    resultados do Pisa 2006, somente 13% dos estudantes atingiram os nveis

    mais altos (nveis 5 e 6) de proficincia em matemtica. Isto , 13% tm

    habilidades de leitura, interpretao e raciocnio diante de problemas pouco

    comuns. Por sua vez, mais de trs quartos dos estudantes dos pases da

    OCDE (78,7%) chegaram ao nvel 2, que considerado o nvel bsico do

    letramento em matemtica.28

    Marcelo: De uma forma geral, o percentual de acertos das questes de fuso horrio se encontra na casa dos 40%.

    Anlise: Essa mdia menos da metade foi verificada em turmas do pr-vestibular de uma conceituada instituio de ensino privado, em Vitria-ES. Isto

    significa que a influncia dos contextos scio-econmicos sobre a educao

    no pode ser considerada um indicador do fraco desempenho.

    28 Pisa - Programa Internacional de Avaliao de Alunos e OCDE - Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico. O Pisa uma pesquisa trienal de conhecimentos e competncias de estudantes na faixa dos 15 anos de idade, realizada nos pases da OCDE (pases da Europa, EUA, Canad, Mxico, Coria, Japo, Austrlia e Nova Zelndia) e em pases convidados. O Brasil participou do Pisa 2006 como convidado.

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    Marcelo: Um dado importante (que inclusive acontece muito em minhas aulas) quando eu falo para meus alunos no fazerem fuso horrio em pauzinhos;

    muitos at ignoram a minha fala, pois se sentem muito sabidos porque assim

    aprenderam com outros professores, o que fatalmente os leva ao erro

    grotesco.

    Analise: Marcelo desqualifica o professor que ensina fuso horrio em pauzinhos e confirma que alguns alunos rejeitam o mtodo padro de calculo

    por terem aprendido o simples, porm ineficaz, mtodo dos pauzinhos.

    Marcelo: Adotou-se um fuso de referncia, o de Greenwich (localidade situada nos arredores de Londres, na Inglaterra), para indicar a hora oficial mundial.

    Esse fuso formado pela soma de 7,5 a leste e 7,5 a oeste do meridiano de

    0 ou de Greenwich (obs.: aqui que a maioria dos alunos e professores

    desavisados se equivoca).

    Anlise: Pelo mtodo dos pauzinhos o aluno s precisa olhar ao mapa quantos fusos horrios h de diferena entre duas localidades, e assim fazer o

    clculo. Leva-se em conta a simples informao de que a cada 15 temos 1

    hora ou 1 pauzinho, ignorando-se o fato de que o fuso zero (origem)

    compreende 75'E e 75'W, sendo a contagem em direo a Linha

    Internacional de Data; o segundo fuso, a leste, se d a 225' e no a 30.

    Marcelo: 1) Se os dados (graus) estiverem em hemisfrios diferentes, some-os para

    achar a diferena de fuso horrio entre eles;

    2) Dividir por 15, para encontrar a diferena em horas entre os pontos;

    3) Se o destino for a leste da origem, somar o resultado hora de partida

    (assim voc descobre que horas eram na cidade de destino no momento exato

    de sua partida; como se na hora do embarque voc ajustasse seu relgio

    hora da cidade de destino; claro que se o destino for a oeste s subtrair);

    4) Se houver horas de vo, escalas, etc., basta somar no final.

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    Sendo assim, no haver equvocos.

    Veja o exemplo da questo da Ufes-2005:

    Origem: Grcia = 20E = 14h

    Destino: Brasil = 60W = ?h

    Seguindo o script acima:

    1) 20 + 40 = 80

    2) 80/15 = 5h20

    3) 14h - 5h20 = 8h40

    4) No precisa, pois no viagem.

    O problema no complexo, se no for aprendido/ensinado errado.

    Anlise: Marcelo explicou o mtodo padro de clculo de fuso horrio. Diante da falha que o professor cometeu ao escrever 20 + 40 = 80, podemos dizer que

    ele fez o clculo mental de 20 + 60 = 80 automaticamente, mas errou ao

    transcrever o seu raciocnio durante a resoluo da questo. A capacidade de

    raciocnio automtico de Marcelo evidencia por que ele considera o mtodo

    padro simples; e isto o faz discordar da hiptese de que alunos e professores

    prefiram outra forma de clculo porque acham o mtodo padro complexo. Na

    ltima linha o professor refora sua opinio de que os alunos no aprendem

    porque os professores no ensinam bem.

    Marcelo: Como o aluno vai confundir? S se no souber ler ou no souber o que so hemisfrios.

    Anlise: O professor Marcelo considera bvias as regras do mtodo padro de clculo e, portanto, pouco provveis de serem confundidas. Est expresso na

    fala acima que o motivo que, porventura, um aluno possa confundir as regras

    ele ser incapaz de interpret-las ou de entender a sua lgica, que pautada na

    teoria dos fusos horrios.

    O trecho abaixo foi extrado de uma apostila de cursinho:

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    Fonte: Apostila 2002. Material didtico para o Vest/Ufes-2002. Geografia 1. Universidade para Todos, Ufes. p.84.

    No lugar de iguais deveria aparecer diferentes. Ao contrrio do que o professor

    Marcelo expressa logo acima, confuses como esta acontecem, at mesmo por

    parte do corpo docente, como demonstra o erro na apostila.

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    Anexo 2

    Marca do projeto Local - Greenwich Mean Time

    EDGAR GIBR. Relgio da hora local (2005). Computao grfica. O globo gira em torno do eixo, que est preso ao ponteiro; este indica em que parte do mundo so 12 horas. Com um pedestal preso pelo eixo e numerado como um mostrador de relgio seria possvel ver a hora de cada localidade.

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    Anexo 3

    Banner em rich media

    Sem precisar sair da pgina inicial da Ufes, o internauta podia navegar por todas as telas do questionrio da pesquisa. As questes apareciam uma de cada vez dentro do banner.

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    Ensino SuperiorPr-Vestibular

    Ensino FundamentalEnsino Mdio

    No sou estudante/Outro

    Voc est cursando o:

    Pgina 3

    Memorizar frmulas

    Memorizar mtodos*

    Marque 2 p/ mx, 1 p/ md e 0 p/ nula

    *Conj. de procedimentos

    Por ordem de dificuldade:

    Pgina 4

    Associa a situaes de humor Expe em local de constante visualizao Transforma em msicaOutro

    Como faz p/ memorizar uma frmula?

    Pgina 5

    Figurinhas e adesivos

    Se a frmula viesse como adesivo de bala:

    Colaria no(a)No colaria

    Pgina 6

    Bala comumBala forteCarameloChicleteNo consumo

    Diariamente voc consome:

    Pgina 7

    L e joga foraJoga fora sem ler D para um amigo Guarda se interessar

    As figurinhas e adesivos de bala voc:

    Pgina 8

    Aprecia seus adesivos?

    Raramente Com freqncia

    Pgina 9

    Pgina 2

    Sexo/Idade

    Masculino Feminino

    10-15 16-18 19-25 26+

    Anexo 4

    Desenho da pesquisa