03 a Atuacao Do Enfermeiro Na Atencao Primaria Um Estudo Sobre o Atendimento Do Idoso

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Atenção básica

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    Revista Enfermagem Integrada Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014

    A ATUAO DO ENFERMEIRO NA ATENO PRIMRIA: UM ESTUDO SOBRE O ATENDIMENTO DO IDOSO

    THE ROLE OF NURSES IN PRIMARY CARE: A STUDY ON THE CARE OF THE ELDERLY

    Heloisa Helena Lemos Horta Enfermeira. Docente e Orientadora da Universidade de Franca, Mestre em Promoo de Sade.

    [email protected]

    Marina Costa Sousa Enfermeira. Graduada pela Universidade de Franca.

    Mitia Pelizaro Cintra Oliveira Costa Enfermeira. Graduada pela Universidade de Franca.

    RESUMO O objetivo deste estudo foi identificar o conhecimento do enfermeiro sobre o processo de envelhecimento humano e sua atuao na Ateno Primria em relao sade do Idoso, mostrando a importncia do adequado atendimento ao idoso, em face da crescente demanda desse grupo etrio, junto aos servios de sade. A presente pesquisa foi realizada em 13 Unidades Bsicas de Sade do municpio e em 4 Estratgia Sade da Famlia, que contam com os servios de enfermagem. Foram realizadas pesquisas documentais e bibliogrficas para levantamento de dados que fundamentaram a anlise dos contedos pesquisados. Apesar de existirem diretrizes e estratgias na Poltica Nacional de Sade do Idoso, percebe-se a falta de compromisso no cumprimento destas polticas. No somente do cuidado do profissional da enfermagem que o idoso necessita, necessrio que os profissionais da sade participem de cursos, capacitaes, oficinas, atualizaes para que se tenha um atendimento mais completo e de qualidade, como preconizado pela lei. PALAVRAS-CHAVE: Ateno bsica. Envelhecimento. Cuidados de enfermagem.

    ABSTRACT

    The objective of this study was to identify the knowledge of the nurse and its performance in the

    Primary Attention in relation to the health of the elderly, showing the importance of the best care for

    the elderly regarding the increasing demand of this age group in the health services. The present

    research was conducted in 13 Health Basic Units and in 4 Family Health Strategy, which rely on the

    nursing services. Documentary and bibliographical researches were carried out for data-collecting that

    supported the analysis of the contents searched. Although there are guidelines and strategies in the

    Public Health Policy of the elderly, it is noticed the lack of commitment in carrying these policies .It is

    not only the care of the nursing professional that the elderly needs, it is necessary that the health

    professionals attend courses, get better qualifications, take part in workshops, updates courses so that

    they can offer a more complete service with quality, as praised by the law.

    KEY-WORDS: Basic care. Aging. Nursing care.

    INTRODUO

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    O envelhecimento populacional hoje um fenmeno universal, caracterstico tanto dos pases desenvolvidos como, de modo crescente, dos pases em desenvolvimento (KALACHEL; VERAS; RAMOS, 1987). Do ponto de vista demogrfico, envelhecer significa aumentar o nmero de anos vividos. Conforme o Estatuto do Idoso so considerados idosos aqueles indivduos com idade igual ou maior que 60 anos, mas estes so diferenciados entre si, tanto do ponto de vista socioeconmico como demogrfico e epidemiolgico (BRASIL, 2003).

    O Brasil ocupa, segundo a Organizao das Naes Unidas (ONU), atravs de sua Diviso de Populao, a 108 posio no ranking dos 187 pases para os quais foram estimadas as esperanas de vida ao nascer, para o perodo 2000-2005. Apesar dos ganhos recentes, o Brasil (70,5 anos) precisa percorrer ainda uma longa trajetria para alcanar patamares como os da Frana (79,0 anos) e o do Japo (81,5 anos) (OLIVEIRA, 2005).

    O nmero de idosos (maior ou igual a 60 anos de idade) no Brasil passou de 3 milhes em 1960, para 7 milhes em 1975 e 14 milhes em 2002 (um aumento de 500% em quarenta anos) e estima-se que alcanar 32 milhes em 2020. Este envelhecimento populacional um dos maiores desafios da sade pblica (CERCHIARI et al., 2007). Estima-se que no Brasil a maior populao de idosos feminina (55%), devido a vrios fatores que contribuem para sua longevidade, entre eles, proteo hormonal do estrgeno; postura diferente em relao a sade/doena e relao diferente com os servios de sade (BERZINS, 2003).

    Conforme dados do IBGE, a populao total do municpio do interior do estado de So Paulo em 2010 era de 318.640 habitantes e destes, 36.379 mil eram idosos com a faixa etria de 60 anos ou mais, sendo que 10,24% do sexo masculino e 12,53% do sexo feminino (IBGE, 2010).

    A importncia do envelhecimento populacional no Brasil, teve como reconhecimento em 4 de janeiro de 1994 que foi aprovada a Lei N 8.842/1994, que estabelece a Poltica Nacional do Idoso, posteriormente regulamentada pelo Decreto N 1.948/96 . Esta Lei tem por finalidade assegurar direitos sociais que garantam a promoo da autonomia, integrao e participao efetiva do idoso na sociedade, de modo a exercer sua cidadania (BRASIL, 1994).

    No Brasil, o envelhecimento vem crescendo de forma acentuada, necessitando de polticas de atendimento voltadas para garantir as necessidades bsicas dos idosos, vulnerabilizados pelo prprio ciclo de vida, pela pobreza e pela excluso social, isto garantir os direitos de uma vida digna, com alimentao, moradia, lazer, transportes, preveno e tratamento da sade, acesso aos benefcios dos quais nunca foram includos socialmente (BRASIL, 2003).

    Sendo o envelhecimento um acontecimento natural, se faz necessrio o fortalecimento das polticas voltadas ao idoso, aes de promoo e preveno de sade assim como a incluso deste idoso na sociedade de forma a proporcionar uma melhor qualidade de vida, atravs de uma melhor ateno no servio pblico, onde os profissionais de enfermagem fazem atendimentos cotidianos aos idosos e tambm s pessoas vinculadas aos mesmos (OLIVEIRA, 2005).

    Para algumas populaes, o envelhecimento um fenmeno sem precedentes na histria da humanidade. Deve-se diminuio da natalidade, juntamente com o aumento da expectativa de vida. O envelhecimento um conjunto de alteraes que os indivduos sofrem com o decorrer do tempo (OLIVEIRA, 2005).

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    Com essa expectativa de envelhecimento e a frequncia maior nos servios de sade, o enfermeiro dever estar sempre atento ao bem-estar do idoso, sua capacidade funcional, sua insero familiar e social, para mant-lo o mais independente possvel, contribuindo para a manuteno da sua dignidade e autonomia mximas e dever realizar atividades de educao permanente e interdisciplinar junto aos demais profissionais (SILVA, 2008).

    O enfermeiro que cuida de um idoso deve ser capaz de estabelecer com ele um vnculo e expressar sua ateno, tratando-o com dignidade e respeito, valorizando sua vivencia e contribuies, praticando a pacincia, tendo competncia e atendendo suas necessidades. Os profissionais precisam conhecer as doenas mais comuns nos idosos, as mudanas fsicas, psicolgicas e sociais que acompanham o envelhecimento (GANDOLPHO; FERRARI, 2006).

    O objetivo deste estudo identificar o conhecimento do enfermeiro sobre o processo de envelhecimento humano e sua atuao na Ateno Primria em relao sade do Idoso, mostrando a importncia do adequado atendimento a esta populao, em face da crescente demanda desse grupo etrio junto aos servios de sade.

    METODOLOGIA

    Foi realizada uma pesquisa com direo qualitativa para concretizao dos

    objetivos. Segundo Chizzotti (2003) o termo qualitativo vem implicar em uma partilha densa com pessoas, fatos locais que formam objetos de pesquisa, extraindo significados visveis perceptveis a uma ateno sensvel. O autor consegue interpretar e traduzir em um texto seus significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa.

    Foi realizada em um municpio do interior do estado de So Paulo que possui 14 Unidades Bsicas de Sade (UBS) e cinco Unidades de Sade da Famlia (USF), sendo uma enfermeira por local. Uma UBS do municpio conta com cinco enfermeiros por funcionar 24 horas, totalizando assim 23 profissionais enfermeiros na Ateno Primria. A coleta de dados foi realizada com 21 enfermeiros em 13 UBS e em 4 USF. Trs enfermeiras no participaram, pois, uma das enfermeiras a orientadora do presente trabalho e por motivos ticos no realizou a pesquisa e duas outras enfermeiras por se encontrarem em afastamento mdico.

    A pesquisa teve autorizao da Secretaria de Sade e aprovao do Comit de tica em Pesquisa da Universidade de Franca (Protocolo n 0085/11), registrado no Ministrio da Sade sob o n 128118/2005, conforme Resoluo do Conselho Nacional de Sade n. 466 de 12 de dezembro de 2012 que aprova as normas e diretrizes de pesquisa envolvendo seres humanos.

    Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um Roteiro de entrevista. A entrevista foi realizada aps contato telefnico e agendamento prvio, no prprio local de trabalho do enfermeiro, em sala reservada, assegurando de forma tica o sigilo dos entrevistados. Antes do incio da entrevista foi assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual constaram questes sobre o trabalho e informaes sobre o sigilo.

    Foram realizadas pesquisas documentais e bibliogrficas para levantamento de dados que fundamentaram a anlise dos contedos pesquisados, atravs da reviso

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    de literatura, buscando fontes bibliogrficas tais como: livros, revistas, artigos cientficos, leis, dissertaes e teses, pesquisas digitais e eletrnicas em bases de dados indexadas em stios da rede mundial de computadores, selecionados a partir das palavras-chave: ateno-bsica, envelhecimento e enfermagem e utilizando-se trabalhos publicados de 1987 a 2011.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    O tempo de formao dos participantes variou de trs a 32 anos. Quanto ao

    questionamento se na formao tiveram alguma disciplina voltada para sade do idoso, 13 tiveram a disciplina Enfermagem na Sade do Idoso tendo estes, no mximo 20 anos de formao e oito no tiveram nenhuma disciplina sobre a sade do idoso na sua formao. Esta constatao indica que a maioria destes profissionais j conhece as necessidades e a importncia da adequada ateno sade do idoso.

    O trabalho interdisciplinar enfrenta desafios que vo desde restries relacionadas formao dos alunos de graduao at a defesa corporativa das profisses. Atualmente destaca-se a implantao de novas diretrizes curriculares para a formao profissional e a educao permanente no preparo de recursos humanos na ateno bsica com contedos especficos do processo de envelhecimento (MOTTA; AGUIAR, 2007).

    Ao serem questionados se conhecem a legislao do idoso, 20 enfermeiros referem conhecer a legislao, em especfico o Estatuto do Idoso.

    A importncia em conhecer a legislao est justamente na forma de organizar o servio, podendo garantir que os idosos tenham atendimentos prioritrios e que sejam respeitados.

    No cap.IV do Direito Sade, art. 15 do Estatuto do Idoso, assegurada a ateno integral sade do idoso, por intermdio do SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitrio, em conjunto articulado e contnuo das aes e servios, para a preveno, promoo, proteo e recuperao da sade, incluindo a ateno especial s doenas que afetam preferencialmente os idosos (BRASIL, 2003).

    Segundo Portaria n 2.488 de 21 de outubro de 2011 a ateno primria enquanto ateno bsica possibilita o acesso universal e contnuo a servios de sade de qualidade e resolutivos, sendo como a porta de entrada aberta e preferencial da rede de ateno, acolhendo os usurios e promovendo a vinculao e corresponsabilizao pela ateno s suas necessidades de sade. O servio de sade deve se organizar para assumir sua funo central de acolher, escutar e oferecer uma resposta positiva, capaz de resolver a grande maioria dos problemas de sade da populao ou de diminuir danos e sofrimentos desta. A proximidade e a capacidade de acolhimento, vinculao, responsabilizao e resolutividade so fundamentais para a efetivao da ateno bsica como contato e porta de entrada preferencial da rede de ateno (BRASIL, 2011).

    Alm de reconhecer a existncia da legislao de proteo ao idoso, necessrio conhecer seu contedo na ntegra e colocar em prtica seus preceitos atravs de aes voltadas ateno integral sade do idoso. Este dado confirmado pelas questes que se seguem.

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    Quanto participao dos enfermeiros em cursos, capacitaes, oficinas e treinamentos relacionados sade do Idoso, 12 participaram de congressos, capacitaes e/ou oficinas, embora no tenham feito por nenhum projeto promovido pelos governos (municipal, estadual e federal) e sim por iniciativa prpria. Este dado indica que mais da metade dos participantes est comprometida com a capacitao, buscando por meios prprios a atualizao de conhecimentos necessrios para o desempenho de suas aes cotidianas.

    Este conceito de cuidado abrange uma dimenso educativa que implica em mobilizao de saberes e afetos, importantes para uma prtica solidria e tica para que possa ser verdadeiramente compartilhada com o idoso (MOTTA; AGUIAR, 2007).

    Atualmente destaca-se a implantao de novas diretrizes curriculares para a formao profissional e a educao permanente no preparo de recursos humanos na ateno bsica com contedos especficos do processo de envelhecimento (TEIXEIRA; FERREIRA, 2009).

    Diante desses dados constata-se a necessidade do municpio oferecer aprimoramento aos profissionais da sade para favorecer uma melhor ateno sade do idoso.

    Em relao s atividades desenvolvidas na Unidade voltadas para a sade do idoso, o projeto Vida Viva foi citado por 15 enfermeiros e seis responderam no ter nenhuma atividade desenvolvida para o idoso na Unidade.

    Este projeto, que municipal, no direcionado somente para idosos, mas aberto populao adulta de todas as faixas etrias, mas os enfermeiros relataram que a maior demanda de populao idosa.

    O projeto Vida Viva, apesar de no ser desenvolvido exclusivamente para o idoso, favorece atividade fsica, lazer, educao em sade atravs de palestras sobre temas diversos, e em especial a socializao e inter-relacionamento entre diferentes faixas etrias, promovendo assim melhora no estilo de vida.

    A enfermagem deve desenvolver estratgias voltadas para a sade do idoso, pois constituem um grupo com necessidades e caractersticas especficas, estando expostos a maiores riscos e estar atenta para elaborar seus cuidados dentro da realidade da populao, com sistematizao da assistncia e realizao de parcerias com outras organizaes existentes no territrio (BRASIL, 2003).

    Ao serem questionados se o idoso tem atendimento prioritrio, todos os entrevistados informaram ser garantido ao idoso, prioridade no atendimento de consultas e em filas, como rege o Estatuto do Idoso.

    No caso de consultas, as pessoas com 60 anos ou mais so as primeiras a serem atendidas e a seguir as pertencentes a outras faixas etrias e por ordem de chegada, exceto em situaes de urgncia e emergncia onde esses casos so priorizados.

    No Captulo IV pelo Estatuto do Idoso: do Direito Sade: Art. 15: assegurada a ateno integral sade do idoso, por intermdio do Sistema nico de Sade (SUS), garantindo-lhe o acesso universal e igualitrio, em conjunto articulado e contnuo das aes e servios, para a preveno, promoo, proteo e recuperao da sade, incluindo a ateno especial s doenas que afetam preferencialmente os idosos (BRASIL, 2003).

    Todos os entrevistados, afirmaram que a legislao do idoso respeitada na

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    rotina diria do servio de sade, sendo que 12 dos enfermeiros relataram que tem sido em agendamentos de consultas e nove informaram que em atendimentos de fila de espera.

    O envelhecimento no Brasil vem crescendo de forma acentuada, necessitando de polticas de atendimento voltadas para garantir as necessidades bsicas dos idosos, vulnerabilizados pelo prprio ciclo de vida, pela pobreza e pela excluso social, isto garantir os direitos de uma vida digna, com alimentao, moradia, lazer, transportes, preveno e tratamento da sade, acesso aos benefcios dos quais nunca foram includos socialmente (BRASIL, 2003).

    Diante das informaes dos entrevistados, constata-se que o Estatuto do idoso tem sido respeitado em parte, sendo necessrio o aprofundamento sobre o conhecimento acerca do seu contedo alm da necessidade de realizao de aprimoramento da equipe de sade para melhor entendimento do processo de envelhecimento e as necessidades da populao desta faixa etria.

    Os enfermeiros foram questionados sobre a existncia de recursos de proteo ao idoso na unidade de sade. A inexistncia de recurso de proteo ao idoso na unidade foi citada por dois entrevistados; oito informaram possuir rampa de acesso; dois informaram possuir corrimes e nove citaram piso antiderrapante. Referente s barras em banheiros, no foi citada por nenhum dos entrevistados.

    No captulo IV: as Aes Governamentais, art 10: do Estatuto do idoso, na rea de ao e urbanismo: incluir nos programas de assistncia ao idoso, formas de melhoria de condies de habitabilidade e adaptao de moradia, considerando seu estado fsico e sua independncia de locomoo (BRASIL, 2003).

    urgente a necessidade de aes no sentido de oferecer acesso digno a essa populao que tem aumentando cada vez mais e que deveria ser garantida por direito.

    A falta desses recursos impossibilita ou dificulta o acesso dos idosos nas instituies de sade, desrespeitando suas limitaes e at mesmo oferecendo riscos aos que utilizam destes servios.

    A importncia do envelhecimento populacional no Brasil, teve como reconhecimento em 4 de janeiro de 1994 quando aprovada a Lei n 8.842/1994, que estabelece a Poltica Nacional do Idoso, posteriormente regulamentada pelo Decreto N 1.948/96. Esta Lei tem por finalidade assegurar direitos sociais que garantam a promoo da autonomia, integrao e participao efetiva do idoso na sociedade, de modo a exercer sua cidadania (BRASIL, 2011).

    Segundo o Estatuto, para um bom atendimento ao idoso devemos ter tambm atendimentos intersetoriais (BRASIL, 2003), ou seja, com outras secretarias e recursos e o projeto Vida Viva atende o preconizado, pois uma parceria entre a secretaria da Educao, Secretaria da Sade e Secretaria da Ao Social.

    Se existe um fluxo de atendimento para referenciar o Idoso, sete dos entrevistados responderam sim e disseram que os idosos so encaminhados para o servio especializado quando necessrio, sendo este servio o Ncleo de Gesto Assistencial (NGA), e 14 responderam no, sendo que dois destes disseram que o atendimento igualitrio, para todos os usurios.

    O SUS representou um grande avano na poltica de sade brasileira, j que trouxe uma concepo de ateno sade pautada pelos princpios da

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    universalidade do acesso, integralidade da assistncia, equidade, descentralizao, regionalizao, hierarquizao e participao social (BRASIL, 1990).

    A geriatria que o ramo da medicina que se dedica ao idoso, cuidando de preveno, de diagnstico e de tratamento de doenas agudas e crnicas com tambm de sua recuperao funcional e reinsero na sociedade (RUIPREZ; LLORENTE, 2000).

    Conclui-se que no s os idosos so encaminhados para servios especializados, mas todos os usurios que necessitem de atendimento na ateno secundria e que no existe um ambulatrio de geriatria para encaminhamento exclusivo aos idosos. Sabe-se da existncia do Centro de Convivncia do Idoso (CCI) que funciona no Centro de Sade, mas devido escassez de profissionais preparados, em especial, mdicos geriatras, o servio no absorve a necessidade da populao idosa.

    Dos entrevistados, 20 disseram que a equipe no tem protocolo de atendimento ao idoso e apenas um respondeu sim, mas no informou qual o protocolo.

    necessrio colocar na agenda da sade da populao brasileira conceitos como: vnculo, acolhimento e cuidado no contexto de uma ateno sanitria humanizada e humanstica (SANTANA; SANTOS, 2005).

    Evidencia-se a importncia de formas de atualizao e aprimoramento sobre as necessidades do idoso, alm da uniformizao do atendimento, de forma a contribuir para o cumprimento de questes garantidas legalmente, refletindo satisfatoriamente na qualidade de vida do idoso, atravs da ateno integral sua sade.

    Um fator importante no cuidado de enfermagem em relao sade do idoso mudar do conceito de sade para o de bem-estar. O bem-estar representa uma atitude quanto sade, e implica uma relao estreita entre as dimenses humanas: fsicas, emotivas, mentais, espirituais, sociais ou culturais. Este bem-estar nada mais que a realidade do viver das pessoas. Enfim, o entendimento de bem-estar no cuidado de seres humanos implica a mudana da enfermagem para o modelo de cuidar humanstico e a sua consequente sada do modelo biomdico de classificao de sade/doena. Este entendimento revela a preocupao sobre o bem estar das pessoas com novos conceitos e prticas de cuidado (SANTANA; SANTOS, 2005).

    Em casos de identificao de maus-tratos e negligncia, dos 21 participantes, nove responderam que denunciam aos rgos competentes, cinco passam o caso para o assistente social, um comunica a Secretaria de Sade e seis no responderam qual o procedimento adotado.

    Pelo cap. IV, art. 19. do Estatuto do Idoso: os casos de suspeita ou confirmao de violncia praticada contra idosos sero objeto de notificao compulsria pelos servios de sade pblicos e privados autoridade sanitria, bem como sero obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes rgos: I - autoridade policial; II - Ministrio Pblico; III - Conselho Municipal do Idoso; IV - Conselho Estadual do Idoso; V - Conselho Nacional do Idoso (BRASIL, 2003).

    Em relao a existncia de um cronograma regular de visitas domiciliares aos idosos acamados, 11 enfermeiros responderam sim, explicando que conforme a

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    necessidade, podendo ser bimestral, mensal, quinzenal ou semanal e 10 responderam que no.

    Em todas as Estratgias de Sade da Famlia (ESF) os entrevistados informaram que so realizadas visitas domiciliares pelo enfermeiro, mas no geral so em situaes de curativo, uso de fraldas, dietas e oxigenioterapia que protocolo na rede pblica, mas, independe da faixa etria.

    Quanto s visitas domiciliares nos casos citados acima, existe falha ou no seu cumprimento ou nas informaes passadas aos enfermeiros, refletindo negativamente na ateno sade das pessoas que enquadram nestes atendimentos.

    considerado pela enfermagem que o idoso integrante do sistema familiar, neste contexto procura, a partir das evidncias identificadas na avaliao funcional e clnica do idoso e do contexto de vida da famlia, utilizar a SAE como instrumento norteador da prtica. Para tanto, deve-se promover e propor aes de preveno de agravos e de tratamento s situaes j instaladas, e no campo da promoo de sade; estimular a autonomia e o autocuidado pelo idoso. A Enfermagem, alm de propor e executar aes especficas de cuidado, conforme a necessidade e o grau de fragilidade do idoso tenta reforar as foras existentes na unidade familiar (BERLEZI et al., 2011).

    O idoso uma pessoa que necessita de cuidados diferenciados, por isso deve ser preocupao e obrigao da equipe de sade realizar visitas domiciliares para que este idoso tenha um melhor bem-estar junto a sua famlia.

    A ESF destaca-se enquanto estratgia inovadora e reestruturadora das aes e servios de sade, ao transpor a viso fragmentada do ser humano para uma compreenso integral na dimenso individual, familiar e coletiva, ou seja, o resgate da prtica generalista, onde a compreenso do processo sade - doena a que esto expostos os indivduos passa a ser pensada de forma mais ampla, segundo a realidade local, comunitria e familiar (FERNANDES; SECLEN-PALACIN, 2004).

    Mostrar a ESF como uma proposta de reorientao do cuidado sade, enfrentar o desafio de construir novas bases para o desenvolvimento de novas prticas sanitrias. propor um desafio grande de desmoronar as matrizes de um modelo assistencial biomdico, sob os quais, trabalhadores e gestores de sade, governantes e a prpria populao esto inseridos. colocar o assunto na agenda da sade da populao brasileira conceitos como: vnculo, acolhimento e cuidado no contexto de uma ateno sanitria humanizada e humanstica (COSTA, 2009).

    Quanto a equipe estimular a socializao do idoso atravs da formao de grupos de lazer, 14 dos entrevistados responderam sim e sete responderam no. Dos que responderam sim, foi citado o projeto Vida Viva; passeios (Zoobotnico, clube) com parceria de igrejas e supermercados; caminhada com a famlia, realizada prximo a Unidade trs vezes por semana; educador fsico que comparece na Unidade e ida dos idosos ao Servio Social da Indstria (SESI), quando h atividades relacionadas ao idoso, estes so convidados a participar.

    Observa-se que no existe um padro, cada unidade desenvolve suas aes conforme os recursos da comunidade, construindo as parcerias ou pela prpria iniciativa do profissional. CONSIDERAES FINAIS

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    A pesquisa demonstrou que apesar de existirem diretrizes e estratgias na

    Poltica Nacional de Sade, no tm sido oferecidos pelos rgos responsveis no cumprimento destas polticas que envolvem os idosos, capacitaes, oficinas, cursos e programas de formao sobre a ateno integral sade do idoso, de forma a contribuir para um atendimento completo e de qualidade.

    Devido ao aumento da populao idosa, as universidades incluram na sua grade curricular a disciplina voltada a sade do idoso desde a dcada de 80, para que enfermeiros sejam cada vez mais qualificados para atender esta populao crescente e com necessidades de um atendimento diferenciado.

    A sociedade, representada atravs de Conselhos de Direitos (Conselho do Idoso, da Sade) os Movimentos Sociais (grupos de idosos de Franca), as famlias, os profissionais e os prprios idosos que so os maiores interessados, devem exigir das autoridades responsveis o cumprimento da legislao atravs da implementao das diretrizes direcionadas a ateno integral a sade do idoso na ateno primria, para que possamos ter um envelhecimento digno, saudvel e com qualidade de vida. REFERNCIAS BERLEZI, E. M. et al. Programa de ateno ao idoso: relato de um modelo assistencial. Revista Texto Contexto Enfermagem, Florianpolis, v.20, n.2, p.368-375, abr./jun. 2011. BERZINS, M. A. V.S. Envelhecimento populacional: uma conquista para ser celebrada. Revista Servio Social e Sociedade, So Paulo, v.29, n.75, p.19-34, set. 2003. BRASIL. Lei n. 8080, de 19 de setembro de 1990. Dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao da sade, a organizao e o funcionamento dos servios correspondentes e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio. 20 set. 1990. BRASIL. Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispe sobre a poltica nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio. 5 jan.1994. BRASIL. Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003. Dispe sobre o Estatuto do Idoso e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio. 3 out. 2003. BRASIL. Ministrio da Sade. Portaria n 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Poltica Nacional de Ateno Bsica, estabelecendo a reviso de diretrizes e normas para a organizao da Ateno Bsica, para a Estratgia Sade da Famlia (ESF) e o Programa de Agentes Comunitrios de Sade (PACS). Dirio Oficial da Unio. 24 out. 2011.

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