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CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA AMOSTRADA Lúcia Rapp Py-Daniel CARACTERIZAÇÃO DOS RIOS PRINCIPAIS - BACIA DO RIO MADEIRA O rio Madeira é o último tributário da margem direita do sistema Solimões-Amazonas, no estado do Amazonas, sendo também o mais habitado e comercialmente explorado da região. O vale do Madeira engloba aproximadamente 1.4 milhões de km 2 , cobrindo cerca de 20% da bacia amazônica (Figura 1). O rio Madeira tem seus formadores em território boliviano e peruano, com nascentes (na Bolívia) distando até 3.300 km da sua desembocadura no rio Amazonas, no Brasil, sendo o mais longo tributário da bacia amazônica, sendo responsável por 15% de toda a descarga do rio Amazonas no Atlântico (Goulding et al. 2003). Cerca de 50% da drenagem do Madeira corre na Bolívia, 10% no Peru e 40% no Brasil (Goulding et al. 2003). A bacia do rio Madeira tem uma formação complexa. Suas cabeceiras e alguns de seus tributários são de origem andina, percorrendo a área sudoeste da bacia amazônica. Os formadores do leste, entretanto, têm sua origem no Escudo Brasileiro, percorrendo áreas geologicamente muito mais antigas e erodidas que os formadores andinos, conforme visto acima. O rio Madeira é um rio de águas fortemente barrentas ou “brancas”, caracterizado pela presença de áreas de várzea nas suas margens (com vegetação e solos adaptados aos ciclos de enchente e vazante do rio) alternadas a áreas de terra firme (vegetação e solo fora do alcance dos níveis máximos da água do rio), enquanto seus tributários, com origem no escudo brasileiro, apresentam águas claras. Os maiores destes tributários de águas claras, tipo rio Aripuanã e rio Machado (Ji- Paranã), estão localizados na margem direita. O rio Madeira apresenta ainda tributários de menor porte com águas pretas (Goulding et al. 2003). A heterogeneidade paisagística presente na bacia do rio Madeira garante alta diversidade por oferecer ambientes distintos como campinas, cerrados, florestas de terra firme e de várzea, buritizais, tabocais, e águas barrentas, pretas, e transparentes. O rio Madeira apresenta um grande número de corredeiras na sua parte superior (acima de Porto Velho). Entretanto, a maior parte da bacia em solo brasileiro, trecho médio e inferior, corre em um vale aluvial, sujeito a inundações temporárias. A flutuação nesta parte do rio Madeira pode chegar a pouco mais de 10 metros e boa parte desta marcada flutuação é causada pelo barramento do rio Amazonas. Ocorre, portanto, uma marcada sazonalidade no trecho médio e inferior do rio. A desembocadura do rio Aripuanã, último grande afluente da porção CAPÍTULO 3 Rapp Py-Daniel, L. 2007. Capítulo 3. Caracterização da área amostrada. p. 35-42. In: Rapp Py- Daniel, L.; Deus, C.P.; Henriques, A.L.; Pimpão, D.M.; Ribeiro, O.M. (orgs.). Biodiversidade do Médio Madeira: Bases científicas para propostas de conservação. INPA: Manaus, 244pp.

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CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA AMOSTRADA

Lúcia Rapp Py-Daniel

CARACTERIZAÇÃO DOS RIOS PRINCIPAIS - BACIA DO RIO MADEIRA

O rio Madeira é o último tributário da margem direita do sistema Solimões-Amazonas, noestado do Amazonas, sendo também o mais habitado e comercialmente explorado da região. Ovale do Madeira engloba aproximadamente 1.4 milhões de km2, cobrindo cerca de 20% dabacia amazônica (Figura 1). O rio Madeira tem seus formadores em território boliviano eperuano, com nascentes (na Bolívia) distando até 3.300 km da sua desembocadura no rioAmazonas, no Brasil, sendo o mais longo tributário da bacia amazônica, sendo responsável por15% de toda a descarga do rio Amazonas no Atlântico (Goulding et al. 2003). Cerca de 50%da drenagem do Madeira corre na Bolívia, 10% no Peru e 40% no Brasil (Goulding et al.2003).

A bacia do rio Madeira tem uma formação complexa. Suas cabeceiras e alguns de seustributários são de origem andina, percorrendo a área sudoeste da bacia amazônica. Os formadoresdo leste, entretanto, têm sua origem no Escudo Brasileiro, percorrendo áreas geologicamentemuito mais antigas e erodidas que os formadores andinos, conforme visto acima. O rio Madeiraé um rio de águas fortemente barrentas ou “brancas”, caracterizado pela presença de áreas devárzea nas suas margens (com vegetação e solos adaptados aos ciclos de enchente e vazante dorio) alternadas a áreas de terra firme (vegetação e solo fora do alcance dos níveis máximos daágua do rio), enquanto seus tributários, com origem no escudo brasileiro, apresentam águasclaras. Os maiores destes tributários de águas claras, tipo rio Aripuanã e rio Machado (Ji-Paranã), estão localizados na margem direita. O rio Madeira apresenta ainda tributários demenor porte com águas pretas (Goulding et al. 2003). A heterogeneidade paisagística presentena bacia do rio Madeira garante alta diversidade por oferecer ambientes distintos como campinas,cerrados, florestas de terra firme e de várzea, buritizais, tabocais, e águas barrentas, pretas, etransparentes.

O rio Madeira apresenta um grande número de corredeiras na sua parte superior (acima dePorto Velho). Entretanto, a maior parte da bacia em solo brasileiro, trecho médio e inferior,corre em um vale aluvial, sujeito a inundações temporárias. A flutuação nesta parte do rioMadeira pode chegar a pouco mais de 10 metros e boa parte desta marcada flutuação é causadapelo barramento do rio Amazonas. Ocorre, portanto, uma marcada sazonalidade no trechomédio e inferior do rio. A desembocadura do rio Aripuanã, último grande afluente da porção

CAPÍTULO 3

Rapp Py-Daniel, L. 2007. Capítulo 3. Caracterização da área amostrada. p. 35-42. In: Rapp Py-Daniel, L.; Deus, C.P.; Henriques, A.L.; Pimpão, D.M.; Ribeiro, O.M. (orgs.).Biodiversidade do Médio Madeira: Bases científicas para propostas de conservação. INPA: Manaus,244pp.

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36 BIODIVERSIDADE DO MÉDIO MADEIRA

médio-inferior na margem direita do Madeira, estálocalizada em frente à cidade de Novo Aripuanã, há cercade 400 km da boca do rio Madeira.

RIO MADEIRA

Conforme tipologia de Sioli & Klinge (1964), os riosde água branca carregam sedimentos com alto teor deFerro e SiO

2, têm pH neutro (em torno de 7,2) e são

responsáveis pela construção das extensas planícies fluviaiscom os seus mecanismos de transporte e deposição desedimentos. O rio Madeira é um rio retilíneo com áreassinuosas e com ilhas. Na margem direita, apresenta longostributários e de maior caudal: Ipixuna, Marmelos,

Manicoré, Atininga, Arauá, Mariepauá e Aripuanã. Namargem esquerda, seus tributários são rios curtos, comseus trechos inferiores afogados em lagos, que escoam parao Madeira através de furos. O transbordamento do rioMadeira ocorre na margem convexa, nas áreas onde o riofaz curvas. Na sua margem côncava, geralmente atingindosedimentos da Formação Solimões, não se verificainundação provocada pelo rio. Pela margem convexa otrabalho evolutivo na adaptação do rio atinge as altitudesmenores e conseqüentemente facilita o alagamento,acarretando colmatação e posterior alargamento da planíciefluvial.

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Figura 1.Figura 1.Figura 1.Figura 1.Figura 1. Mapa com toda a extensão da bacia do rio Madeira

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37METODOLOGIA DE INVENTÁRIO UTILIZADA

RIO ARIPUANÃ

O rio Aripuanã não se enquadra nas características geraisdos demais tributários do rio Madeira. É um rio encaixado,que corre por rocha pré-cambriana e pliopleistocênica, decurso retilíneo, e ilhas retilíneas. O rio Aripuanã apresentadiversas ilhas alongadas que canalizam o curso do rio desdeo limite sul dos sedimentos pliopleistocênicos (ilha doAçaí) até a confluência com o Madeira. Outros rios queapresentam ilhas fluviais paralelas aos cursos dos rios são orio Trombetas e o rio Jatapu (ambos fora da bacia doMadeira). Nascimento et al. (1976) sugeriram que estasilhas indicam duas fases no regime desses rios: uma dedeposição e outra de aprofundamento com fixação docanal fluvial.

A presença de exposição de lentes e leitos de argilitos,arenito argilosos e camadas finas de conglomerados comseixos mal rolados na ilha do Mamão, médio-baixo rioAripuanã, indica uma fase de transporte mais ativo, nãosó deposição. Esse material mais grosseiro relaciona-se aum clima mais seco, onde deve ter havido uma atuaçãomaior do intemperismo mecânico. Atualmente, na cheia,o rio Aripuanã alaga estas ilhas e, com a vazante, ocorreuma deposição de sedimento mais fino. Portanto, avariedade dos sedimentos depositados na ilha do Mamão(Canamari) indica que a ilha foi formada em condiçõesclimáticas distintas das atuais.

Os rios Madeira e Aripuanã são considerados deprimeira geração de drenagem – são rios extensos queatravessam áreas de litologia pré-cambriana para atingir osdomínios da Formação Solimões (mais recente). Rios comoTefé, Urucu, Mariá são considerados de segunda geração,que correm paralelos aos de primeira e somente em áreasde sedimentos. E de terceira geração são os furos e osparanás de origem mais recente, ligados à PlanícieAmazônica.

O interflúvio Madeira-Aripuanã é caracterizado pelapresença de solo tipo laterita. Ao longo do rio Madeira eem parte do rio Aripuanã, os solos são gleyzados. No rioAripuanã, acima da ilha do Mamão (ou Canamari), olatossolo é vermelho.

As informações abaixo são uma coletânea dos dadosdo RADAMBRASIL (1978) para a área amostrada, vistoque não foi possível fazer um levantamento de campoflorístico, edáfico e geomorfológico para o presentetrabalho. A área trabalhada ocupa a parte leste da FolhaSB20 Purus, entre as coordenadas 60-62o Oeste e 5-7o

Sul. O clima nesta região é quente e úmido, com tendênciasa se tornar mais seco ao sul da drenagem (ou subindo o rioAripuanã).

GEOLOGIA

A área amostrada é descrita como relativamenteuniforme, com topografia plana com interflúvios tabularese algumas colinas. Nos interflúvios, ocorrem terraços eplanícies fluviais, que apresentam solos hidromórficosgleyzados e aluviais eutróficos. A cobertura vegetal épredominantemente do tipo Floresta Tropical Densa, commanchas de Cerrado e Campo. A seguir, são apresentadosmais alguns detalhes quanto a geologia, geomorfologia evegetação da área estudada.

O RADAM Brasil aponta, para a área trabalhada, duasgrandes áreas de idades geológicas distintas (figura 2):

Área Cratônica do Guaporé – de idade Pré-CambrianaDepósitos Cenozóicos – do HolocenoTodas as formações mais antigas da área amostrada

ocorrem na bacia do rio Aripuanã. No curso médio-baixodo rio Aripuanã foram registradas a presença de rochasvulcânicas e áreas geologicamente muito antigas; algumascom depósitos mais recentes. Os depósitos mais antigosforam identificados no rio Aripuanã, acima de Canamari(ilha do Mamão), como pertencendo às FormaçõesBeneficente, Prosperança e outras, com presença de áreasde quartzo, quartzito e conglomerados vulcânicos doperíodo Pré-Cambriano Superior.

Quanto aos depósitos cenozóicos, foram identificadosdois tipos de camadas de deposição: Formação Solimões eAluviões Holocenos. A Formação Solimões representauma extensa área de seqüência de depósitos de sedimentosde ambientes continental, fluvial e lacustre do cenozóico.Esta área se sobrepõe aos sedimentos cretácicos eeoterciários das bacias do Acre e Alto Amazonas,transgredindo sobre as rochas pré-cambrianas dos CrátonsGuianês, ao norte, e Guaporé, ao sul. A Formação Solimõesabrange uma área de 200.986 km2 e se estende da regiãomais ocidental da Amazônia Brasileira até se confundir aleste e ao norte com as Formações Barreiras e Alter doChão, que apresentam características muito semelhantes.

A Formação Solimões apresenta faixas de espessuradiferentes. Espessuras superficiais podem chegar a 40metros, enquanto espessuras subsuperficiais podemchegar a 1.800 metros de profundidade (bacia do Acre).Próximo a boca do rio Aripuanã, houve registro de apenas24 metros de sedimentos quaternários. Há, portanto, umgradiente destes depósitos no sentido oeste-leste (maisprofundo a oeste).

A Formação Solimões ocorre nos terraços dosinterflúvios Madeira-Purus, margem direita do rio Ma-deira, parte do interflúvio Aripuanã-Madeira, e parte do

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38 BIODIVERSIDADE DO MÉDIO MADEIRA

interflúvio Aripuanã-Tapajós. Paralelo ao rio Madeira,mais ao sul, no curso médio do rio Aripuanã, estão expostasas Formações Pré-Cambrianas (Beneficente, Prosperança,Xingu, Uatumã e outras).

Aluviões Holocênicas são depósitos que acompanhamos cursos d’água que fazem parte da Planície Amazônica.Estes depósitos registram a evolução da rede de drenagem

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Protezóico

Cenozóico Terciário (2)

Cretáceo

Paleozóico

Quaternário

LEGENDA

Figura 2 -Figura 2 -Figura 2 -Figura 2 -Figura 2 - Mapa geológico da região amostrada.

instalada na região. As Aluviões Holocênicas podem serseparadas em atuais e indiferenciadas antigas. As aluviõesantigas têm uma distribuição descontínua (diferente dasatuais) e representam marcas dos diferentescomportamentos dos agentes deposicionais. Estas marcasdenotam os movimentos dos meandros e a presença dediques aluviais. Os tamanhos destas formas assemelham-

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39METODOLOGIA DE INVENTÁRIO UTILIZADA

três foram amostradas para o presente trabalho (figura 4):1. Planície Amazônica – áreas inundadas ou

inundáveis, correspondentes às áreas de várzea. No rioMadeira, a Planície Amazônica tem seu limite na foz dorio Aripuanã, não ocorrendo a jusante. Cidades comoHumaitá e Novo Aripuanã localizam-se nas margens ondeocorrem relevos dissecados, não sujeitos a inundações.Outro exemplo é o lago Xadá (chamado Xiadá no cap. deGeomorfologia do Projeto RADAM), localizado namargem esquerda do rio Madeira. A margem norte dolago Xadá, considerado um lago de contato litológico elago de colmatação, se encontra nos relevos tabularesdissecados de litologias do Pliopleistoceno. O lago Xadáocupou uma área muito maior a leste da área atual, tendoregredido por colmatação parcial. Nesta unidademorfoestrutural ocorrem paleovales. Um exemplo é opaleovale entre o rio Manicoré e Manicorezinho, que seestende por 220 km, e é ocupado por vegetação tipoFormação Pioneira (RADAMBRASIL 1978) em áreadeprimida e com solos de associação de podzois e areiasquartzosas (possivelmente áreas de campinas). Estepaleovale corresponde a uma área de acumulaçãoinundável. Dispersas nos interflúvios tabulares ocorrempequenas áreas deprimidas, precariamente ligadas adrenagem atual, com vegetação herbáceo-arbustiva deFormações Pioneiras;

se aos das planícies aluviais atuais, indicando que os riosapresentavam grandes dimensões (figura 3)

As atuais planícies fluviais são geralmente amplas e oscursos de água têm padrão predominantemente sinuosoou meândrico, com exceção do rio Madeira e seu princi-pal afluente, o rio Aripuanã, que se apresentam maisretilíneos. Nestas áreas são freqüentes meandros em lagos,meandros em colmatagem ou em furos resultantes daevolução dos rios. Todo o rio Madeira, mais a foz do rioAripuanã (até altura de Canamari), apresenta solo aluvial(Holoceno) com argilas, siltes, areias finas e sedimentos deplanície fluvial.

Áreas de campinas ou “paleoplayas” são formaçõessuperficiais arenosas em topo de interflúvios tabularesformadas pelo processo de “pediplanação” posterior adeposição da Formação Solimões, do Terciário. A formaçãodestas campinas é do período “Neopleistocênico” e indicaque a área foi submetida a alterações climáticas gradativas,desde o clima seco até o tropical úmido vigente. Nestescampos, a vegetação florestal ainda não conseguiu penetrartotalmente.

GEOMORFOLOGIA

No estudo RADAMBRASIL (1978), a equipe deGeomorfologia reconheceu quatro unidades morfo-estruturais para a Folha SB20 Purus, sendo que apenas

Figura 3 -Figura 3 -Figura 3 -Figura 3 -Figura 3 - Linhas de drenagem no rio Madeira. Aa – aluviões holocênicas atuais, At – aluviões indiferenciadas antigas (RADAMBRASIL 1978)

Rio MadeiraRio MadeiraRio MadeiraRio MadeiraRio Madeira

AaAaAaAaAaAtAtAtAtAt

Lago Xada

AtAtAtAtAtAaAaAaAaAa

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40 BIODIVERSIDADE DO MÉDIO MADEIRA

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Áreas acumulação inundáveis

Dissecção tabular

Planícies e terraços fluviais

Superfície pediplanadas

interflúvios tabulares, Colinas

LEGENDA

Figura 4 -Figura 4 -Figura 4 -Figura 4 -Figura 4 - Mapa geomorfológico da região amostrada.

2. Planalto Rebaixado da Amazônia (Ocidental) –Caracterizadas como extensas áreas conservadas e de relevosdissecados em interflúvios tabulares. Estas áreas são cobertasprincipalmente pelos sedimentos pliopleistocênicos daFormação Solimões e litologias pré-cambrianas localizadas.Nesta unidade ocorrem grandes paleovales em forma deY (p. ex., entre os rios Atininga e Mataurá);

3. Serras e Chapadas do Cachimbo – Esta unidade édefinida como um conjunto de relevos residuais em formade cristas alinhadas paralelamente, chamado de serras (oucolinas), e interflúvios tabulares, geralmente delimitadospor rebordos, e superfícies tabulares denominadas dechapadas. Todos os rios que drenam esta unidade sãoafluentes ou subafluentes do rio Aripuanã, sendo o prin-

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41METODOLOGIA DE INVENTÁRIO UTILIZADA

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Floresta Tropical Densa Aluvial

Floresta Tropical Densa Terras Baixas

Floresta Tropical Densa Submontana

Arbustiva, Graminosa Periodicamente Inundáveis

Graminosa Periodicamente Inundáveis

Savana Arbustiva + Graminosa Periodicamente Inundáveis

Água

LEGENDA

Figura 5 -Figura 5 -Figura 5 -Figura 5 -Figura 5 - Mapa de vegetação da região amostrada.

cipal, o rio Juma. A diferença altimétrica entre diferentespontos nesta unidade formada por cristas e tabuleiroschega a 150 metros.

VEGETAÇÃO

Aqui estamos tratando as florestas de terra firmereconhecidas como Floresta Ombrófila Densa não Aluviais

do sistema de Veloso et al. (1991). Incluem-se aqui, poruma questão prática, as Florestas Ombrófilas Abertas comBambus, com Cipós e com Palmeiras (sensu Veloso et al.1991). As áreas de florestas que ocorrem nos terraçosbaixos das planícies de alagação quaternárias ao longo dosrios de grande porte, na região Amazônica, recebem onome popular de Várzea ou Igapó dependendo do grau

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42 BIODIVERSIDADE DO MÉDIO MADEIRA

de inundação do terreno, designações adaptadas para aliteratura científica como sendo florestas inundáveis poráguas barrenta (várzea) ou águas pretas/transparentes(igapó) ( Prance 1979; Pires & Prance 1985). No sistemade classificação de Veloso et al.(1991) as várzeas e igapóssão incluídas na Floresta Ombrófila Densa Aluvial.

As áreas de mata encontradas em alguns trechos deterraços aluviais do rio Madeira e em seus tributários demaior importância, como o rio Aripuanã, Mariepauá,Mataurá e Marmelos, podem ser caracterizadas comoFloresta Tropical Densa. Estas áreas assoreadas apresentamum solo hidromórfico gleyzado. A cobertura de florestadensa nos terraços do rio Madeira apresenta árvores degrande porte e de várias espécies (figura 5). Nas áreas dosinterflúvios tabulares, a vegetação dominante é a deFloresta Tropical Densa não aluvial, com uma composiçãoflorística um pouco diferenciada da FTD aluvial. Árvorescomo angelim-pedra (Dinizia excelsa) e castanheira(Bertolletia excelsa) são comuns, sendo constatada grandesconcentrações de angelim-pedra no rio Madeira (nointerflúvio Madeira-Aripuanã).

A composição florística da FTD também variou nasáreas denominadas de Platôs de Dardanelos/Aripuanã/Tapajós. Estes platôs apresentam solos distintos dosanteriores, com textura média a argilosa, originada dearenitos, rochas vulcânicas, quartzitos e outros relacionadosàs zonas de falhas. Nesta sub-região (platôs) foi constatadaa ocorrência de pau-rosa (Aniba duckei).

Ao longo das margens do rio Madeira ocorrem grandesáreas de tensão ecológica onde se encontram espécies de

formações pioneiras e de floresta. Já, no rio Aripuanã, aolongo de suas margens, encontra-se floresta tropical densa,mesmo que periodicamente inundadas. As florestas aluviaisdo rio Aripuanã apresentam a maior média de volume demadeira por unidade de área. Áreas de campinas sãodescritas como áreas de formações arbustivas, emdepressões periodicamente inundadas.

BIBLIOGRAFIA CITADAGoulding, M.; Barthem, R.; Ferreira, E. 2003. The

Smithsonian Atlas of the Amazon. Smithsonian Books,Washington e Londres.

Nascimento, D.A.; Mauro, C.A.; Garcia, M.G.L. 1976.Geomorfologia. In: Projeto RADAMBRASIL.Departamento Nacional de Proteção Mineral. FolhaS.A. 21 Santarém. Rio de Janeiro. (Levantamento deRecursos Naturais, 10).

Pires, J.M.; Prance, G.T. 1985. The vegetation types ofthe Brazilian Amazon, cap. 7, p.: 109-145. In: PranceG. T. & T. E. Lovejoy (Eds:). Key EnvironmentsAmazonia,. Pergamon Press, Oxford.

Prance, G.T. 1979. Notes on the Vegetation of Amazonia.III. The terminology of Amazon forest types subject toinundation. Brittonia, 31: 26-38.

RADAMBRASIL. 1978. Levantamento de recursos naturais.Vol. 17. Ministério das Minas e Energia,Departamento Nacional da Produção Mineral.

Sioli, H.; Klinge, H. 1964. Solos, tipos de vegetação eáguas na Amazônia. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro,27 (179): 146-153.

Veloso, H.P.; Rangel-Filho, A.L.R.; Lima, J.C.A. 1991.Classificação da vegetação brasileira, adaptada a umsistema universal. IBGE, Rio de Janeiro.