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Artigo original Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1980-0037 EXERCÍCIOS FÍSICOS, AUTO-IMAGEM E AUTO-ESTIMA EM IDOSOS ASILADOS EXERCISE ACTIVITY AND SELF-IMAGE/SELF-ESTEEM IN NURSING HOME RESIDENTS RESUMO O estudo teve como objetivo verificar os efeitos da implementação de um programa de exercício físicos sistemáticos sobre a auto-imagem e auto-estima em idosos institucionalizados. A amostra foi constituída por idosas da Sociedade Espirita Obreiros da Vida Eterna-SEOVE, em Florianópolis, SC, sendo dividida em dois grupos: experimental (n=15) e controle (n=12). Foi aplicado um pré teste para ambos os grupos. A autoimagem e auto-estima foi determinada por meio da aplicação do questionário proposto por Steglich (1978). O grupo experimental foi submetido a um programa de exercício físico durante cinco meses (70 sessões) com três sessões semanais de 60 min. Após o programa foi aplicado o pós teste para ambos os grupos. Como resultado verificou-se correlação positiva moderada (r=0,48) entre a diferença do pré e pós-teste da autoimagem e auto-estima no grupo experimental sobre o controle. Considerando o exposto, o programa de exercício físico sistemático aplicado na instituição asilar, apresentou melhora significante na auto-estima do grupo experimental, e na auto-imagem do grupo controle. Palavras-chave: exercícios físicos, auto-imgem, auto-estima, idosos, asilos. ABSTRACT This study discusses the effects on the self-image/self-esteem of institutionalized elderly people of a program of systematic physical exercises. The elderly people that participated in this study live at SEOVE (the nursing home studied) in Florianópolis, Brazil. They were divided into two groups, an experimental group (n = 15) and a control group (n = 12) and underwent a pre-test. The experimental group followed a program of physical exercise with a frequency of 3 60-minute sessions per week for a period of 5 months. At the end of this period a post-test was applied to both groups. The Steglich (1978) questionnaire was used to evaluate the self-image/self-esteem. Differences were observed between pre-test and post-test data for the experimental and control groups’ self-image/self-esteem. After exposure to the program of systematic physical exercise, nursing home residents exhibited significant differences in self-esteem between the experimental group and the self-image control group. Key words: physical exercises, self-image, self-esteem, elderly, nursing home. 1 Profª Departamento de Educação Física - CDS/UFSC – NuCIDH. Dda PEN/UFSC 2 Prof. Dr. DEF/CDS/UFSC - NuCIDH 3 Profª Drª Departamento de Enfermagem CCS/UFSC Tânia Bertoldo Benedetti 1 Édio Luiz Petroski 2 Lúcia Takase Gonçalves 3

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Artigo original

Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1980-0037

EXERCÍCIOS FÍSICOS, AUTO-IMAGEM E AUTO-ESTIMA EM IDOSOS ASILADOS

EXERCISE ACTIVITY AND SELF-IMAGE/SELF-ESTEEM IN NURSING HOME RESIDENTS

RESUMO

O estudo teve como objetivo verifi car os efeitos da implementação de um programa de exercício físicos sistemáticos sobre a auto-imagem e auto-estima em idosos institucionalizados. A amostra foi constituída por idosas da Sociedade Espirita Obreiros da Vida Eterna-SEOVE, em Florianópolis, SC, sendo dividida em dois grupos: experimental (n=15) e controle (n=12). Foi aplicado um pré teste para ambos os grupos. A autoimagem e auto-estima foi determinada por meio da aplicação do questionário proposto por Steglich (1978). O grupo experimental foi submetido a um programa de exercício físico durante cinco meses (70 sessões) com três sessões semanais de 60 min. Após o programa foi aplicado o pós teste para ambos os grupos. Como resultado verifi cou-se correlação positiva moderada (r=0,48) entre a diferença do pré e pós-teste da autoimagem e auto-estima no grupo experimental sobre o controle. Considerando o exposto, o programa de exercício físico sistemático aplicado na instituição asilar, apresentou melhora signifi cante na auto-estima do grupo experimental, e na auto-imagem do grupo controle.

Palavras-chave: exercícios físicos, auto-imgem, auto-estima, idosos, asilos.

ABSTRACT

This study discusses the effects on the self-image/self-esteem of institutionalized elderly people of a program of systematic physical exercises. The elderly people that participated in this study live at SEOVE (the nursing home studied) in Florianópolis, Brazil. They were divided into two groups, an experimental group (n = 15) and a control group (n = 12) and underwent a pre-test. The experimental group followed a program of physical exercise with a frequency of 3 60-minute sessions per week for a period of 5 months. At the end of this period a post-test was applied to both groups. The Steglich (1978) questionnaire was used to evaluate the self-image/self-esteem. Differences were observed between pre-test and post-test data for the experimental and control groups’ self-image/self-esteem. After exposure to the program of systematic physical exercise, nursing home residents exhibited signifi cant differences in self-esteem between the experimental group and the self-image control group.

Key words: physical exercises, self-image, self-esteem, elderly, nursing home.

1 Profª Departamento de Educação Física - CDS/UFSC – NuCIDH. Dda PEN/UFSC2 Prof. Dr. DEF/CDS/UFSC - NuCIDH3 Profª Drª Departamento de Enfermagem CCS/UFSC

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1 - INTRODUÇÃO

A auto-imagem é conceituada porSchilder (1981) como a representação e a figu-ração de nosso corpo formada em nossa men-te, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apre-senta para nós, enquanto que a auto-estimadecorre da atitude positiva ou negativa que apessoa tem de si mesmo. Auto-estima é o quea pessoa sente a respeito de si mesma(Mosquera, 1976).

Para o ser humano, a imagem corpo-ral desempenha um papel importante na cons-ciência de si. Schilder (1981) afirma que a ima-gem corporal é tanto imagem mental quantopercepção; se a percepção do corpo é positivaa auto-imagem será positiva, e se há satisfa-ção com a imagem do seu corpo, a auto-estimaserá melhor. A imagem do corpo pode ser mo-dificada pela prática de atividades físicas comoa ginástica, dança entre outras que modificama postura corporal. Esta mudança na postura,é modificado a cada momento que é realizadoum novo movimento, por isto os movimentosfísicos agem de forma positiva, pois utilizamreflexos posturais que não estão intrínsecos emnossa consciência. A dança e a ginástica seconstituem como atividades físicas eficientespara modificar a imagem corporal e diminuir arigidez da forma física.

Desenvolver a auto-imagem positiva éalimentar a certeza de ser capaz de levar umavida plena e realizada em nossa sociedade,sendo esta imagem estimulante, inquietante oudecepcionante.

Os autores Davis (1997), Fox (1997) eHasse (2000) afirmam que com o processo deenvelhecimento há uma diminuição da auto-imagem e da auto-estima. O ser humano é de-pendente do seu corpo, das habilidades, rou-pas, cabelos, bem como da integração e har-monia com relação ao “eu”. A atividade físicase constitui em uma forma de envelhecer ativo,para que os idosos, mesmo asilados, possamter autonomia e independência por mais tempocom melhor auto-estima.

Os idosos ao ingressarem nos asiloscomeçam a apresentar limitações intelectuaise físicas que se tornam evidentes na realizaçãodas atividades da vida diária, sendo que o ócio,a falta de terapia ocupacional, a indisposiçãofísica e o desinteresse, colaboram ainda maispara estas limitações, levando muitas vezes à

invalidez e ao profundo abatimento moral, sur-gindo assim as doenças crônico-degenerativasassociadas a outras patologias, que podem serresponsáveis pela perda progressiva de auto-nomia e consequentemente da imagem e esti-ma corporal (Born, 1996).

É um desafio fazer com que os idososdurante sua existência aproveitem melhor o tem-po que lhes resta de maneira saudável, inde-pendente, com autonomia, sentindo-se bem e,dentro do possível, com melhor qualidade devida. Por isto, a proposta é incluir na rotina dosidosos da instituição asilar a prática sistemáti-ca de exercícios físicos, como forma de contri-buir na sua imagem corporal e na sua auto-es-tima. Os exercícios físicos são fatores de res-tauração da saúde que proporcionam maiorequilíbrio nesta etapa da vida.

Portanto, este estudo teve como obje-tivo verificar os efeitos da implementação de umprograma de exercício físicos sistemáticos so-bre a auto-imagem e auto-estima de idososinstitucionalizados.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo caracterizou-se segundoCampbell e Stanley (1970) como quase-experi-mental.

A população foi constituída intencional-mente por idosas do asilo Sociedade Espíritados Obreiros da Vida Eterna (SEOVE) porqueesta instituição asilar atendeu os seguintes re-quisitos previamente estabelecidos:

- instituição com grande número deresidentes idosas na Grande Florianópolis;

- instituição onde não há programade exercícios físicos sistemáticos e nenhumoutro trabalho de recreação;

- instituição sem atividade programa-da de lazer, geralmente realizada por gruposde voluntários;

- instituição onde idosos internadospossuem condições físicas de realizar exercíci-os físicos.

Na instituição estudada havia 38 mu-lheres residentes. Participaram da amostra 29idosas acima de 60 anos. Estas, apresentavamcondições de realizar o programa de exercíciosfísicos proposto, 15 constituíram o grupo expe-rimental e 14 o grupo controle.

Para avaliar a auto-estima e a auto-ima-gem das idosas foi aplicado o questionário de-

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senvolvido por Steglich (1978), que foi validadopara idosos. Utilizou-se um caderno de campoque foram realizadas as anotações necessáriasem ambos os grupos no decorrer da aplicaçãodo programa de exercícios físicos. Foi utilizadoo item “aspecto emocional” do questionário por-que correspondia à área de interesse da pesqui-sa. O “aspecto emocional” apresentava os se-guintes sub-itens: felicidade pessoal, bem-estarsocial e integridade moral. As respostas de cadaquestão apresentavam escores de 1 a 4 e paraavaliação foi utilizada a escala somatória do to-tal de pontos proposta por Steglich (1978), quantomais alta a pontuação, melhor era a auto-ima-gem e a auto-estima.

O programa de exercício físico siste-mático aplicado na instituição asilar foi realiza-do três vezes por semana, durante 5 meses,com um total de 70 sessões de 60 min, sendo10 minutos de alongamento, 15 minutos de ca-minhada, 10 minutos de dança, 15 minutos detrabalho de equilíbrio, força e flexibilidade e 10minutos de relaxamento final.

Durante a realização do programa fo-ram desenvolvidos os elementos da aptidão fí-sica: força, flexibilidade, equilíbrio e resistência.

O tratamento estatístico utilizado paraa análise dos dados da auto-imagem e auto-

estima foi o teste “t” para amostras indepen-dentes e o coeficiente de associação de“Pearson”, entre o pré e pós-teste de ambos osgrupos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados serão discutidos decorren-tes da análise estatística do cruzamento entreo pré e pós-teste de ambos os grupos.

Os grupos investigados possuíam ca-racterísticas semelhantes. A média de idade nogrupo controle foi de 74,00 ± 12,27 anos. Haviaduas idosas com surdez, duas com cegueira,uma com hipertensão arterial, duas com psico-se compulsiva, uma com demência senil e umacom diabetes mellitus. No grupo experimentala média de idade foi de 74,73 ± 8,36 anos. Ha-via duas idosas com problemas de epilepsia,uma com aneurisma, uma com surdez, umacom hipertensão arterial, uma com demênciasenil, uma com diabetes mellitus e quatro compequenas seqüelas de acidente vascular cere-bral, como monoplegia de braço esquerdo edificuldade para andar.

A tabela 1 exibe a média e desvio pa-drão entre o pré e pós-teste no grupo experi-mental e controle.

Tabela 1 - Média e desvio padrão das medidas do pré e pós-teste de ambos os grupos de idosas do asilo SEOVE submetidas ao programa de exercícios físicos.

Legenda:AI - Auto-ImagemAE- Auto-Estima

Na tabela 2 será apresentado o teste “t” para amostras independentes entre os resultadosdo pré-teste e do pós-teste, de ambos os grupos

Tabela 2 - Teste “t” entre as medidas do pré e pós-teste de ambos os grupos de idosas do asilo SEOVE submetidas ao programa de exercícios físicos.

Variáveis Auto-Imagem Auto-Estima t p t p Experimental - 0,5 0,6 - 2,1 0,05*

Controle 4,8 0,001* 0,3 0,7

*p < 0,05

Variáveis Grupo experimental Grupo controle Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste X s X s X s X s

AI (pontos) 49,8 9,3 50,8 9 59,4 11,5 52,9 10,2 AE (pontos) 81,7 13,1 93,2 13,6 95,2 20,1 94,3 18

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Pode-se observar que houve diferen-ça significante na auto-estima do grupo experi-mental, e na auto-imagem do grupo controle.Esses resultados mostram que a atividade físi-ca pode ter influenciado também as idosas dogrupo controle, que estavam presentes no lo-cal e assistiam na maioria das vezes as aulasministradas. Neste período, algumas idosas dogrupo experimental adoeceram o que pode termodificado a percepção em relação as ques-tões aplicadas.

Algumas idosas tiveram pontuaçãomais alta no teste aplicado, mas outras conti-

nuaram igual ou até diminuíram. Este fato ocor-reu em ambos os grupos.

Também utilizou-se a análise estatísti-ca do coeficiente de associação de Pearson.Este apresentou uma correlação linear der=0,48 e o p=0,031 indicando uma correlaçãopositiva moderada entre as diferenças da auto-imagem e auto-estima no grupo experimental econtrole.

Os idosos do grupo experimental apre-sentam melhora acentuada na auto-estima eauto-imagem em relação ao grupo controle, oque pode ser observado na figura 1.

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Legenda: 1 - grupo experimental 2 - grupo controle

Figura 1 - Correlação entre a diferença do pré e pós-teste na auto-imagem e auto-estima dos grupos experimental e controle.

A correlação mostra que as idosas commelhor auto-estima também apresentavammelhor auto-imagem tanto no grupo experimen-tal, quanto no grupo controle. Não se pode afir-mar que a prática de exercícios físicos aplica-dos na instituição durante os 5 meses, foi a cau-sa da melhora na auto-imagem e auto-estima,principalmente se tratando de idosas que vivemem asilo. Todos os dias diferentes fatos influ-enciam profundamente suas vidas, comomorbidade ou morte de colegas, intrigas quesão comuns nesse ambiente, mudança de di-reção na instituição, visitas de familiares, entreoutros.

Observou-se que desde o início do pro-grama de exercícios físicos na instituição asi-lar, houve modificações na imagem corporal dasidosas como a utilização de roupas coloridas,bijuterias variadas, unhas pintadas, mudançano corte do cabelo, uso de batom e perfumes.Ao elogiá-las sobre estas modificações, ficavammuito felizes. Houve modificações na aparên-cia física de algumas idosas que faziam partedo grupo experimental e do grupo controle. Apresença de novas pessoas e atividades na ins-tituição, pode ter influenciado essas mudanças.

Diversos autores apresentam melhorada auto-imagem e da auto-estima associado àprática de atividades físicas.

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Carvalho (1996) expõe que a partici-pação em grupos de ginástica traz sentimentospositivos em relação ao próprio corpo, níveismais altos de auto-estima e “competições sau-dáveis” gerada dentro do grupo.

Fox (1997) corrobora com estes acha-dos afirmando que a auto-estima tem sido de-senvolvida positivamente com a intervenção deprogramas de exercícios físicos e esportes, ten-do resultados inéditos na qualidade de vida ebem-estar mental. O autor também coloca quea auto-estima está correlacionada diretamenteà auto-imagem.

Mazo (2003) realizou uma pesquisasobre qualidade de vida e atividade física com198 idosas participantes dos grupos de convi-vência no município de Florianópolis. A autoraverificou que as idosas mais ativas possuíammelhor auto-imagem e auto-estima.

Mc Auley (2000) et al. estudaram 174idosas participantes de um programa de exer-cícios físicos durante seis meses e verificaramque a atividade física influência positivamentenos níveis de auto-estima.

A atividade física, segundo Chogahara,Cousins & Wankel (1998), possui influênciassociais nos idosos e traz benefícios em relaçãoà família, amigos, bem estar, integração sociale melhora na auto-estima.

Gaya (1985) ao pesquisar a auto-ima-gem de cardiopatas praticantes e não pratican-tes de exercícios físicos, utilizou o mesmo ins-trumento deste estudo em sua coleta de dados,e verificou melhora significativa na auto-imagemdos cardiopatas praticantes de exercícios físi-cos em relação aos não praticantes, resgatan-do a auto-imagem perdida pela doença. Eviden-cia-se que o grupo de cardiopatas estudado peloautor possui características semelhantes como grupo de idosos asilados principalmente pelapresença de doenças que segundo Fox (1997),é um fator agravante muito importante paraauto-imagem negativa.

Em um estudo com idosos, Safons(2000) teve como objetivo verificar as contribui-ções da prática regular de atividade física paraa melhoria da auto-imagem e auto-estima, osresultados mostraram que participar de um pro-grama regular de atividades físicas contribui deforma significativa para a melhoria da auto-ima-gem e auto-estima dos idosos.

Mosquera (1976) destaca que a auto-imagem está sempre em mudança, na medida

em que o indivíduo modifica sua estrutura cor-poral ele acrescenta a seu quadro pessoal no-vas dimensões que alteram a percepção de simesmo e do mundo a sua volta.

Steglhich (1978), que desenvolveu oinstrumento de auto-imagem e auto-estima, aoestudar três grupos de idosos acima de 65 anos,não aposentados, aposentados ativos e apo-sentados inativos, concluiu que os aposenta-dos inativos possuem auto-imagem e auto-es-tima significativamente mais baixas que os ido-sos não aposentados e aposentados ativos,sendo que entre esses não houve diferença sig-nificativa na auto-imagem e auto-estima. O as-pecto em que o autor encontrou maior diferen-ça foi no emocional, principalmente no item fe-licidade pessoal.

Na instituição asilar foi pesquisadoapenas o item felicidade pessoal. Os idosospossuem dificuldade física, mental e financeirapara manutenção de boa aparência física o quepoderia melhorar a imagem corporal. Além dosedentarismo, morte social, dificuldades físicas,mentais e financeiras, freqüentemente os ido-sos apresentam quadros depressivos, diminu-indo a auto-estima.

O envelhecimento ativo deve ser con-seqüência de um envelhecimento saudável(Rodrigues, 2000). A busca do ser ativo melhorao ser humano de forma global. Os movimentoscorporais estão ligados ao esporte e ao exercí-cio, criando estratégias de auto-representaçãocom modificações constantes na aparência.

Para que se possa resgatar a auto-estima e recuperar a auto-imagem dos idososasilados é necessário retomar a cidadania, par-ticipando de grupos de discussão, trabalho vo-luntário, atividades físicas de maneira geral,fazendo se sentirem úteis para a sociedade eocupando o seu tempo livre. No asilo, a partici-pação dos idosos em grupos fora da instituiçãoé inexistente, dificultando ainda mais o resgateda auto-estima. Pequenas falas ou carinhos deterceiros são muito importantes e gratificantepara os idosos institucionalizados. A auto-esti-ma positiva indica bem-estar, saúde mental eajustamento emocional, implicando diretamen-te na satisfação com a vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para os idosos, as condições ofereci-das no ambiente influenciam de forma positiva

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ou negativa. As instituições deveriam, propor-cionar e se preocupar em resguardar a interaçãohomem/ambiente aumentando assim, a capacida-de funcional e a capacidade emocional do idoso.

Com relação a auto-imagem e a auto-estima, pode-se afirmar que a proposta do pro-grama de exercício físico aplicado na institui-ção asilar estudada foi positiva. Embora, é difí-cil saber o quanto a atividade física influenciouo grupo, pois as atividades, os profissionais queministram as aulas, entre tantos outros fatoresque acompanham a operacionalização de umprograma de atividades físicas, modifica a es-trutura do ambiente em que os idosos estavamacostumados, e pode ser a principal causa namodificação da auto-imagem e auto-estima.

Verificou-se que é possível realizar umtrabalho físico mesmo com pessoas debilitadas,melhorando a sua imagem corporal.

A atividade física além de prevenir adependência é um estímulo para o bem estardas idosas. Conseqüentemente, melhora a au-tonomia e a independência, o que irá se refletirem melhor auto-imagem e auto-estima.

Portanto, são necessários investimen-tos para a contratação e formação de profissio-nais de Educação Física preparados para atua-rem com idosos nas instituições asilares.

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Endereço para correspondência:Tânia Bertoldo BenedettiRua: Mediterrâneo, 204. Apto. 202.Córrego Grande – Florianópolis-SCCEP: 88037-610e-mail: [email protected]

Recebido em 05/07/2003Revisado em 10/08/2003Aprovado em 07/10/2003