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LUCIANNE SCHEIDT REFLEX® ES SOBRE AS CONDIES INSTITUCIONAIS DE CRIANd AS E ADOLESCENTES Ï RF OS OU ³ ABANDONADOS´ Monografia apresentada para obtenom o do tt tulo de Bacharelado no Curso de Cir ncias Sociais, no Setor de Cir ncias Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Parani . Orientador: Prof. Dr. Pedro Rodolfo Bodr de Morais Curitiba 2004 LUCIANNE SCHEIDT 11

1 1 - humanas.ufpr.br · apesar de falar ³linguagem jurtdica´, me deu no intcio deste trabalho, virios pontos para reflexmo. Mme, p quase imposstvel nmo ficar chata em um curso

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LUCIANNE SCHEIDT

REFLEX ES SOBRE AS CONDI ES INSTITUCIONAIS DE CRIAN AS EADOLESCENTES RF OS OU ABANDONADOS

Monografia apresentada para

obten o do t tulo de

Bacharelado no Curso de

Ci ncias Sociais, no Setor de

Ci ncias Humanas, Letras e

Artes, Universidade Federal do

Paran .

Orientador: Prof. Dr. Pedro

Rodolfo Bod de Morais

Curitiba2004

LUCIANNE SCHEIDT

1 1

REFLEX ES SOBRE AS CONDI ES INSTITUCIONAIS DE CRIAN AS EADOLESCENTES RF OS OU ABANDONADOS

Monografia apresentada para

obten o do t tulo de

Bacharelado no Curso de

Ci ncias Sociais, no Setor de

Ci ncias Humanas, Letras e

Artes, Universidade Federal do

Paran .

Orientador: Prof. Dr. Pedro

Rodolfo Bod de Morais

Curitiba2004

AGRADECIMENTOS

2 1

Gostaria de agradecer a todos as pessoas que de um jeito ou de outro fizeram e

fazem parte da minha vida. Pois se hoje chego a concluir este trabalho e este curso,

neles h um pouco de cada um que passou por mim e que deixou algo encrostado na

minha vida (esta uma das primeiras li es que se internaliza das Ci ncias Sociais:

somos todos produtos e produtores, e a socializa o o permanente aprendizado das

rela es que os homens estabelecem entre si).

Desta mesma forma gostaria de incluir aqui, agradecimentos ao meu orientador

Professor Dr. Pedro Rodolfo Bod de Morais; aos professores de quem tive aulas, que

de uma forma ou de outra me ensinaram muitas coisas, desde colocar os pensamentos

em ordem at os exemplos de como n o ser como professor. Mas percebo que o maior

dos ensinamentos que levo ser sem d vida o de tirar os v us , saber e querer

conhecer mais e ter a oportunidade de poder passar isso adiante.

Tamb m quero incluir aqui o meu muito obrigada pela ajuda e paci ncia dos meus

entrevistados/informantes, pois para que este estudo se concretizasse a ajuda deles foi

essencial! Obrigada pelo entusiasmo e pela perseveran a colega Eliane do Projeto

Recriar - Fam lia e Ado o; Obrigada pela ajuda e paci ncia de voc s Rossana L.

Pereira de Souza e Regina N. Souza Mendes da ACRIDAS - Associa o Crista de

Assist ncia Social; Muito Obrigada Ant nia Penhalver do FAS - Funda o de

Assistencia Social, por contar um pouquinho do trabalho de voc s; do CEJA -

Comiss o Estadual Judici ria de Ado o, quero muito agradecer a Jane Pereira Prestes

que n o s me acolheu com o maior carinho, como abriu com suas dicas v rias

janelas...; Dentro do Juizado da Inf ncia e do Adolescente tamb m agrade o nas

pessoas de Neusa Maria dos Santos (1 Vara) por ter parado tudo e me dado sua

aten o; Obrigada Dr L dia Mattos Guedes por seus 5 minutos (que se tornaram 40,

numa 6 -feira depois do expediente); agrade o tamb m ao Dr. Fabian Schweitzer que

apesar de falar linguagem jur dica , me deu no in cio deste trabalho, v rios pontos

para reflex o.

M e, quase imposs vel n o ficar chata em um curso como este, acho que suas

previs es se concretizaram... mas sei que voc me ama de qualquer jeito!

Valeu pai, por fazer parte da minha vida (mesmo de longe), me escutando e me

ajudando com os seus relatos de como aconteceram as coisas no passado .

3 1

Meninas, Flor, Mel, D , V - realmente voc s s o campe s! Me ag entarem

durante as pocas de provas e na tens o da monografia, n o para qualquer um...

Julia, s por ter te conhecido e pela grande amizade, o curso j valeu!

Tia Aim e e tia Iara a LUZ de voc s foi de primeira, posso dizer que foi o

empurr o que eu precisava... Obrigada!

Muito obrigada meu querido Valmir pela for a, pela paci ncia e pelo amor,

apesar de nossas diverg ncias de pensamentos e opini es, brigamos s um pouquinho,

nada que n o se superava (com outra discuss o!).

Meu amorzinho LUCA, obrigada, pelas poucas vezes que voc atendeu a tia Lu

( que precisava de um pouco de paz) e ficou quietinho...

SUM RIO

RESUMO -------------------------------------------------------------------------------------06

INTRODU O -----------------------------------------------------------------------------07

CAP TULO I - ADO O ----------------------------------------------------------------10

A vida social da crian a na hist ria -------------------------------------------------------13

4 1

A vida social da crian a no Brasil ---------------------------------------------------------16

CAP TULO II - INST NCIA JUR DICA ---------------------------------------------18

Primeiro C digo de Menores --------------------------------------------------------------18

Segundo C digo de Menores --------------------------------------------------------------20

Estatuto da Crian a e do Adolescente - ECA -------------------------------------------22

A ado o na legisla o brasileira ---------------------------------------------------------23

Ado o brasileira --------------------------------------------------------------------------25

Circula o de crian as ----------------------------------------------------------------------26

Entrega ou abandono ---------------------------------------------------------------------28

Idade biol gica e idade social --------------------------------------------------------------30

Poder Familiar -------------------------------------------------------------------------------33

CAP TULO III - INSTITUI ES --------------------------------------------------------------36

Assistencialismo como salva o das almas -------------------------------------------38

Motivos para a institucionaliza o --------------------------------------------------------39

Categorias de classifica o -----------------------------------------------------------------40

A a o jur dica -------------------------------------------------------------------------------42

Estigma e institucionaliza o --------------------------------------------------------------44

Institui es totais - orfanatos/educand rios ---------------------------------------------46

Orfanatos vs Casas-Lares -------------------------------------------------------------------51

CONCLUS O -------------------------------------------------------------------------------58

REFER NCIA BIBLIOGR FICA--------------------------------------------------------62

ANEXO I -------------------------------------------------------------------------------------65

ANEXO II ------------------------------------------------------------------------------------69

ANEXO III -----------------------------------------------------------------------------------71

RESUMO

Veremos neste estudo, algumas das formas encontradas pela sociedade

juntamente com as do aparelho jur dico, a partir do s culo XIX, para tentar sanar

problemas encontrados em refer ncia a crian a e o adolescente rf o ,

abandonado , pobre , delinq ente , desajustado social , que destoam do cen rio

5 1

supostamente harm nico da sociedade.

A situa o irregular desses jovens, do ponto de vista jur dico, social ou

familiar, ser o ponto de partida para a busca das solu es . A institucionaliza o das

crian as e adolescentes, que ter como orientador o Estado e os C digos de Leis, ser

o caminho encontrado, na tentativa de resolver a constante situa o de pen ria, mis ria

da fam lia e a falta de moralidade dos pais, sem perder de vista o objetivo principal

alegado: o de proteger a inf ncia (e a sociedade).

Nas muitas varia es dos discursos, encontram-se programas espec ficos para

proteger, recuperar e disciplinar o jovem institucionalizado, sendo que estes, passam a

acarretar o preconceito da sociedade e o estigma no jovem; no caso da ado o h um

agravante, os mitos dos la os biol gicos sobrepor o s concep es da constru o

social e cultural do indiv duo. Apontaremos as atuais casas-lares , em contrapartida

com os antigos orfanatos, como exemplo das respostas encontradas pela sociedade

para os seus problemas .

Palavras-chave: institucionaliza o, ado o, sociedade, a o jur dica

INTRODU O

O princ pio que motivou esse estudo sobre a institucionaliza o de crian as e

adolescentes, com nfase na ado o, foi a mudan a que se deu no perfil dos velhos

orfanatos para as atuais Casas-Lares.

Essas mudan as foram percebidas como uma forma de ajuste da sociedade

6 1

para com o jovem institucionalizado, uma forma de reparar o que n o estava dando

certo. Foi pensada por n s, como um processo da sociedade utilizando-se de

mecanismos criados por ela pr pria para sanar defici ncias dentro do seu sistema,

ou seja, uma articula o ou uma remodela o da sociedade com o prop sito de

abracar uma fatia de exclu dos que n o estavam se adaptando ao modelo ideal

imposto pela sociedade e pela legisla o.

Este estudo est dividido em tr s cap tulos, sendo que o cap tulo I tratar do tema da

Ado o, de como ela percebida na sociedade brasileira. O que motivou e motiva

casais a adotarem, a influ ncia e a cobran a familiar pela falta de filhos .

Apontaremos para os valores dados aos la os de sangue , e como este ultrapassa a

esfera biol gica e atinge as rela es sociais e culturais de alguns grupos.

Para se entender determinados nuances em rela o ao tratamento dispensado

para a crian a, voltaremos na hist ria para compreendermos a no o social que se

desenvolveu em torno dela, desde a invisibilidade da crian a perante a sociedade,

at o seu aparecimento a partir do s culo XVI, quando surge, variados

procedimentos de como moldar n o s as suas atitudes morais, como tamb m o seu

comportamento f sico. Buscaremos no Brasil tamb m essa no o social da crian a,

sendo que at o s culo XIX , n o havia diferencia o entre crian a e adulto pobre, as

poucas pr ticas existentes estavam voltadas somente para a higieniza o e para a

caridade. Em uma fase mais tarde, veremos a inten o pol tica frente a essa crian a

com medidas de abrigo e de disciplinamento.

Demonstraremos a partir do cap tulo II - A Inst ncia Jur dica - de como foi forjada

juridicamente o termo menor , e a tend ncia da centraliza o e do controle

governamental para a assist ncia infantil. Expomos a generaliza o efetuada do ponto

de vista jur dico, como situa o irregular , a todas as crian as e adolescentes pobres,

em que os problemas dos pais (mis ria, pen ria), passam a serem vistos como falta

de moralidade .

Tomaremos contato com a senten a de menor irregular e de como ela

forjada a partir do primeiro C digo de Menores (1927), por esse C digo, os jovens

passam a serem pass veis a qualquer momento (por delega o judicial), de

enclausuramento em institui es delegadas com fim ltimo de ressocializa o, para

7 1

ent o, cessar a irregularidade . O segundo C digo de Menores (1979), ser uma

extens o do primeiro, e seguir os princ pios da assist ncia, prote o e vigil ncia

dos menores - para o bem da sociedade . Ser demonstrado que a a o do judici rio

estava voltada exclusivamente para uma profilaxia social, sendo que a educa o e o

trabalho seriam as alternativas para a revers o dos maus costumes .

O Estatuto da Crian a e do Adolescente (ECA-1990), limitar o car ter

repressivo que o Juizado de Menores incutia. Veremos pelo que ele promulga, que o

jovem passa a ser tomado como cidad o, sendo detentor de direitos humano, civil e

social, e que h grandes dist ncias entre as pr ticas e os discursos. Apontaremos na

hist ria da ado o, dentro da legisla o brasileira, que ser somente a partir de 1965

que se ter uma preocupa o mais acentuada para com o jovem adotado.

Questionaremos a no o de ado o tardia, que se dar com crian as

consideradas velhas - com mais de dois anos de idade - e de como o conceito do que

ser velho constru do socialmente. Tomaremos contato com as formas de destitui o

familiar e o que ela acarreta na vida de um jovem abandonado . Ao tratarmos da

ado o brasileira, perceberemos a cumplicidade que h dentro da sociedade em

apoiar pr ticas que burlam as Leis; em outra pr tica pouco explicitada nas an lises

das organiza es familiares, encontraremos a circula o de jovens entre parentes e

conhecidos .

Dentro do cap tulo III, abordaremos as Institui es e de quem dela faz parte. Os

funcion rios que s o vistos como burocratas e incompetentes perante o senso

comum e tendo a suas fun es desprestigiadas; a hierarquia demonstrada pelos

mandantes , onde a solu o encontrada para solucionar problemas s o as

classifica es dos institucionalizados. Refletiremos sobre o estigma que os

institucionalizados carregar o por serem diferentes , e a a o jur dica dando nfase no

retorno do jovem para a sua fam lia de origem. Debateremos tamb m, como se dava as

articula es das institui es totais , que tem um car ter de fechamento e das atuais

Casas-Lares, que aponta para uma nova articula o nas quais se tentar dar um car ter

mais individualizante para os institucionalizados.

8 1

CAP TULO I

ADO O

Encontram-se casos em um passado n o muito remoto, s culo XIX, em que a

ado o se restringia em resolver as necessidades de casais inf rteis, m o-de-obra

barata , compania e sustento na velhice, desbloqueio para a gesta o de um filho

biol gico e in meros outros objetivos para sanar necessidades individuais ou coletivas,

passando em quase todos os casos longe da id ia de simplesmente dar uma fam lia ao

rf o (FONSECA, 2002; WEBER, 2002).

J no s culo XX e in cio do XXI as necessidades primordiais para a ado o, n o

diferiam muito, pois o adotado continua a ter um papel de complementa o como por

9 1

exemplo, os de caridade, valores religiosos, import ncia social ou mesmo para cessar o

est gma que o casal que n o pode ter filhos sofre pela falha no padr o

comportamental familiar que a sociedade ocidental determina .

Este est gma, que pode ser visto como uma cobran a por n o se ter filhos, leva o

casal muitas vezes a ficar com uma maior evid ncia das influ ncias sociais familiares.

V m da pr ticas como empurrar crian as ao colo do casal sem filhos, o

apadrinhamento informal de crian as de parentes e amigos, as insinua es de como

maravilhoso ser m e e pai, e tamb m questionamentos em tons de chacota sobre a

vida sexual do casal e mais diretamente a do homem.

Estas formas de influ ncias familiares acabam resultando com que muitos

casais ao sentirem-se acuados recorrem a processos artificiais como insemina o

ou mesmo a ado o para dar vaz o a esta necessidade ditada pela sociedade.

No decorrer da pesquisa foi percebido que o sentimento de maternidade e

paternidade pouco destacado como um dos motivos para se pensar na ado o de uma

crian a ou de um adolescente. Este sentimento aparece como algo muito forte, mais

tarde, ap s a conclus o do processo da ado o. Atrav s dos relatos dos pais com suas

hist rias de vidas, temos o encontro com o sentimento da maternidade e

paternidade , que transparece nos discursos como: Sentia um calorzinho por dentro e

pensava que precisava passar por aquele momento (ter um filho) para ser feliz ; Faltava

alguma coisa em nossas vidas ; Havia uma brecha em nossas vidas ; Desde muito

crian a eu tinha o sonho de ser m e (WEBER, 2002).

A ado o tida como um v nculo jur dico que estabelece o parentesco civil

entre os contratantes, gerando la os de paternidade e filia o entre pessoas que n o

possuem tal rela o. interessante ressaltar que a ado o faz transparecer duas abordagens, a da

ruptura entre a l gica das representa es de parentesco, das quais fazem parte aheran a e a hereditariedade1, e onde o adotado por n o ser um igual , acaba tendo, porsuas qualidades gen ticas desconhecidas , uma posi o amb gua no interior da fam liade ado o. Essa posi o acaba refletindo em uma linha biol gica e em uma linha declasse simbolicamente a transcender (COSTA, 1988).

Nesse caso, na ado o, h uma certa quebra no sentido da paternidade e dafilia o, desvinculando eixos biol gicos e sociais. O adotado, nesse sentido, n o umparente e nem um igual ; h uma quebra na regra.

Por outro lado pode-se pensar a ado o como uma continuidade, uma forma

1 As representa es de parentesco com nfase na heran a e na hereditariedade s o apontadas por M.Sahlins.

101

diferente e nova de parentesco e de filia o. Nesta continuidade familiar a ado o n o vista como uma forma natural , mas como uma inclus o de um novo membro vindode fora para dentro da fam lia/grupo. Uma identidade a ser absorvida, constru da oucomplementada pelas partes integrantes do grupo, em que a normalidade dessaatua o, ser definida segundo as normas postuladas pelos grupos sociais e n o pelanatureza .

Conforme COSTA (1988: p 194 it) aponta:

A BIOLOGIZA O e o SEGREDO, enquanto instrumentos de neutraliza o dos la os de

sangue e das rela es sociais que se pensa serem deles atributos, trazem como conseq ncia

que a VIDA do adotivo s tenha in cio no momento em que ele introduzido e se deve

incorporar a uma fam lia. A impossibilidade de tra ar-lhe um PASSADO - esse passado

constru do em torno de conex es geneal gicas - e a BIOLOGIZA O mostram que a

constru o da identidade social e at do corpo do adotivo - com a constru o da parecen a -

est o referidas e limitadas ao contexto da ado o.

Percebe-se em nossa sociedade, que as concep es cient ficas perneiam o senso

comum, dando legitimidade a cren as como as dos la os de sangue . Esta forma

distorcida de compreens o da ci ncia, por parte da popula o, acaba por refor ar de

forma prec ria a pr pria reflex o cient fica.

Vemos que h duas abordagens diferentes entre a sociologia e a gen tica,

concorrentes, e por vezes antag nicos entre os dois saberes, mas que no campo social

acabam por mesclarem atributos sociais com tra os biologicamente transmitidos. Esta

fus o , em ltima inst ncia, acaba por delegar arbitrariedades de valores dados

rela es geneal gicas e na quest o da variabilidade cultural.

Com o fortalecimento dos mitos dos la os biol gicos que se apresentam como

naturais e verdadeiros , os pais adotivos (...) tentam, como camale es, camuflar as

rela es e imitar uma fam lia biol gica (WEBER 2002: p 111it).

Como extens o biol gica, o sangue , seria o la o que uniria e fortaleceria os

sentimentos de pertencimento ao grupo, e que apontado como um princ pio

inquestion vel e no qual se assentam as rela es de parentesco (COSTA, 1988;

WEBER, 2002; FONSECA, 2002).

O sangue percebido como uma identidade social pr via; por essa

identidade , a crian a j traria res duos do passado dos pais genitores, o que

111

exemplificado pelo relato das assistentes sociais Rossana L. Pereira de Souza e Regina

N. Souza Mendes da ACRIDAS - Associa o Crist de Assist ncia Social, quando

falam do perfil que a maioria dos casais em processo para ado o pedem para o filho:

Beb , branco, menina, n o querem filhos de prostitutas, nem de drogados e nem de

HIV positivo, mesmo que a crian a n o tenha a doen a .

Ao se pensar em uma raz o cultural como norteadora deste trabalho, v -se a

import ncia atribu da, em nossa sociedade, pela transmiss o do sangue , entretanto,

apontamos para a cultura e socializa o como operadores das vari veis no processo

simb lico do parentesco, no qual os la os seriam constru dos no interior do grupo.

Quando se percebe como o sangue (elemento biol gico) influencia fortemente

nas atitudes e no comportamento (elemento cultural e social) dos indiv duos, tem-se a

no o de se estar frente a um paradoxo. Os pais biol gicos parecem ter um papel

indiscut vel: o de fornecer crian a uma identidade por filia o biol gica, o que

perante a sociedade ser visto como algo normal e imut vel ; enquanto a filia o

por ado o, quando percebida, ser vista como uma mistura , um agregado da

heran a biol gica, cultural e social do passado obscuro da crian a com a dos pais

atuais.

Esse tipo de coloca o nos leva a refletir sobre o preconceito que h sobre a

ado o, se talvez o senso comum veja essa miscegena o como uma impureza,

biol gica, social e cultural , e por conseguinte a filia o ou a paternidade/maternidade

por ado o seja colocada e percebida como uma categoria mais baixa do que a da

fam lia natural , e com isso menos prestigiada e com status menor.

A vida social da crian a na hist ria

Para entendermos melhor a id ia da ado o em nossa sociedade e os

mecanismos que a caracterizam, teremos que contextualizar historicamente a vida

social desta crian a e as suas vicissitudes durante o passar do tempo.

At a poucos anos, n o se falava e nem t o pouco se levava em conta s

necessidades para a crian a, do seu bem-estar, de crescer, de ser educado em uma

rela o familiar e a sociabilidade inerente a este conv vio. A vida cotidiana das

crian as, estava misturadas com a dos adultos, era um misto de crian a-prod gio com

121

guerreiros adulto; a crian a n o se fazia ausente, mas n o era demonstrada no seu

estado real de inf ncia, era algo idealizado. O seu cotidiano infantil s come a a ser

representado no final do s culo XVI (ARI S, 1981).

Podemos apontar que uma das causas dessa indiferen a se deve

principalmente pela mortalidade infantil que era extremamente alta e (...) as pessoas

n o podiam apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual (ARI S,

1981: p 57). O que tamb m nos transporta a outros questionamentos como os de que

em fun o dessa indiferen a para com as crian as, se a mortalidade infantil n o seria

ampliada, ou ela se devia a essa percep o social, ou ambas ao mesmo tempo, j que

nessa poca, n o se tinha a no o da inf ncia como n s a entendemos hoje.

Segundo ARI S (1981), a partir do s culo XVII que as crian as da primeira

inf ncia come aram a se fazer notar; percebido isso nos numerosos retratos de

crian as sozinhas e em outros onde ela se faz presente no centro e rodeada por

familiares. A crian a passa a ser descrita os seus h bitos e costumes, que s o afirmados

e confirmados pelos adultos.

At ent o, a crian a n o era vista como algo fr gil (j que n o havia a no o de

inf ncia). Foi somente a partir desta poca (s culo XVII) que se come ou a falar da

debilidade e da fragilidade da inf ncia. Tudo o que se relacionava s crian as e

fam lia passa a ser digno de aten o. A crian a passou a assumir dentro da fam lia um

lugar central, deixa de ser vista como um empecilho , miniaturas imperfeitas dos

adultos e passa a ser alvo pelas suas futuras e poss veis qualidades a um

sentimento de pertencimento ao grupo (ARI S, 1981).

Esse novo status da crian a faz com que ela passe a ser vista como um ser em

forma o que exige cuidados especiais, tanto material como afetivo. nesta fase que

come am a surgir especialistas (pedagogos, psic logos, pedi tricos) para

aconselharem os pais para a melhor forma de criar os filhos.

atrav s dos educadores e moralistas do s culo XVII (com extens o at os

nossos dias), que o apego inf ncia e suas particularidades se far pelo interesse

psicol gico e pela preocupa o moral. Estes, ao verem a necessidade de preservar e

disciplinar a inf ncia, acabam por modificar tamb m a vida familiar no conv vio e nos

sentimentos A preocupa o era sempre a de fazer dessas crian as pessoas honradas e

131

probas e homens racionais (ARI S, 1981: p 163 it.).

O in cio da passagem da crian a para o mundo adulto se d com o ingresso dela

na escola, ser a necessidade de controlar os corpos e a atividade dos trabalhadores que

faz surgir a escola e a sala de aula como conhecemos. Uma das dificuldades levantadas

na poca, segundo ARI S (1981: p 170), era a de que

N o se aplicou aos estudantes, com o fito de distingui-los dos adultos, um regime realmente

infantil e juvenil - ali s, n o se conhecia nem a natureza nem o modelo de um tal regime.

Desejava-se apenas proteger os estudantes das tenta es da vida leiga, uma vida que muitos

cl ricos tamb m levavam, desejava-se proteger sua moralidade.

Com as transforma es das rela es internas com a crian a, acabou-se

modificando profundamente a estrutura familiar, o que suscitou novas formas de

atitudes perante a sociedade, onde o desenvolvimento e o estabelecimento de um

sistema de disciplina se tornou cada vez mais rigoroso e o castigo corporal

generalizado. O h bito de gostar de ter crian as por perto e de brincar com elas sem

d vida antigo, (...) mas num determinado momento passou a ser notado a ponto de

provocar irrita o. Assim nasceu esse sentimento de irrita o diante da infantilidade,

que o reverso moderno do sentimento da inf ncia (ARI S, 1981: p 138).

somente ao longo do s culo XVIII que o castigo antes imposto para

distinguir e melhorar a inf ncia passa a ser atenuado e n o mais percebido como

(...) adaptado fraqueza da inf ncia. Ao contr rio, ele provocava uma reprova o de

in cio discreta, mas que se iria ampliar. Surgiu a id ia de que a inf ncia n o era uma

idade servil e n o merecia ser metodicamente humilhada (ARI S, 1981: p 181). H

um novo reconhecimento dos sentimentos da inf ncia, (...) onde se tenta despertar na

crian a a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade (ARI S, 1981: p

182).

Percebe-se aqui, o in cio de um sentimento que mais tarde resultaria na tentativa

de igualdade entre jovens e adultos, ambos como tendo os mesmos direitos e

responsabilidade de cidad o perante a sociedade e perante as Leis.

141

A vida social da crian a no Brasil

Em rela o a hist ria da crian a no Brasil a partir do s culo XIX, nos demonstra

RIZZINI e LOBO (2000), que pouco se discriminava as crian as dos adultos nas

camadas mais pobres; vemos resqu cios ainda hoje dessa percep o quando se trata a

crian as como menor . Embora j houvesse preocupa es com a mortalidade da

popula o por conta de epidemias e doen as, a crian a n o foi alvo de pr ticas

especiais. Em geral as preocupa es com as crian as se limitavam higiene do

rec m-nascido, ao funcionamento dos col gios internos das elites e aos expostos das

Casas de Miseric rdias.

Durante este s culo, mesmo as crian as com alguma defici ncia f sica n o eram

temas de interesses de m dicos, pensadores ou legisladores. As crian as e os adultos

conviviam e compartilhavam juntos em asilos e hospitais, que no fundo eram

verdadeiros dep sitos de todas as mis rias (internato de crian as, velhos, incur veis,

mendigos, alienados, loucos).

Conforme RIZZINI e LOBO (2000: p 89), somente a partir de 1895 no Rio de

Janeiro, que um novo regulamento mandar separar em institui es diferentes crian as

e adultos.

Ser com o tratamento moral , fundado no discurso da autoridade e da submiss o, que ser

entendido a preven o crian a, sendo que para isso haveria a necessidade dela ser preparada

por uma higiene pedag gica , visto que todos os desvios da inf ncia, neste momento eram

classificados como idiotia, imbecilidade e desequil brio mental.

A partir do final do s culo XIX e come o do s culo XX, o alvo principal

influenciados pela psiquiatria estrangeira ser a crian a na escola, n o mais os meninos

de elite reclusos nos col gios internos ou aquelas crian as desvalidas . A escola cresce

de import ncia e conforme RIZZINI; LOBO (2000: p 104):

(...) ser o os crit rios m dicos junto aos pedagogos que selecionar o as crian as, ou seja os

sintomas que come am a aparecer com o ingresso da crian a na escola, transformam-se em

crit rios de separa o classificat ria e passam a demarcar a inclus o em espa os institucionais

diferentes: crian as em escolas regulares, as de escolas especiais e as de asilo por serem

151

inedul veis.

interessante destacar que a figura do indisciplinado, vicioso, inst vel,

desequilibrado, impulsivo povoou toda a literatura m dica da poca sobre a crian a

anormal . Novas categorias v o surgindo e sendo definidas em fun o da

institucionaliza o do anormal de asilo (em princ pio exclu dos da escola), o

anormal escolar que, considerado educ vel, mas que precisava de outra escola

especial. Destaca-se nesta fase, a quest o da qual pol tica deveria ser aplicada a crian a,

na qual posto dois encaminhamentos o abrigo e a disciplina, ambas com a emerg ncia

de novas obriga es do Estado em cuidar da inf ncia pobre com educa o, forma o

profissional e encaminhamento (RIZZINI; LOBO, 2000).

A quest o desta crian a anormal passa a ser vista como um problema de

primeira ordem para o Estado que em 1922 prop s o 1 Congresso Brasileiro de

Prote o Inf ncia, no Rio de Janeiro, sendo que segundo RIZZINI; SARTOR (2000:

p 169):

(...) salvo algumas exce es a maioria dos congressistas remete-se s crian as pobres e

delinq entes preocupados apenas com as conseq ncias e manifesta es dos problemas, e com

o destino do pa s. A luta por uma identidade nacional institu da, e a crian a apenas um

instrumento de um projeto de preserva o da na o e do estabelecimento da ordem social.

As pr ticas, para com esses jovens margem da sociedade, acabam resultando e

reafirmando uma vis o somente assistencialista por parte dos governantes. Temos que

(...) as recomenda es do congresso denotaram uma clara e forte tend ncia para a

centraliza o e o controle governamental da assist ncia infantil p blica e privada,

propugnando a supervis o constante do poder p blico em rela o a todos os aspectos

relativos assist ncia inf ncia (RIZZINI; SARTOR, 2000: 179).

CAP TULO II

INST NCIA JUR DICA

161

A situa o irregular do ponto de vista jur dico ou familiar (orfandade,

abandono, delito) passa a ser generalizado a todas as crian as e adolescentes pobres,

atribu dos pela constante situa o de pen ria, mis ria e pela falta de moralidade dos

pais. Conforme RIZZINI (1995: p 209), h um novo enfoque, uma preocupa o com a

crian a solta , n o tutelada e que por isso mesmo perambulava pelas ruas sujeitas a

diversas experi ncias:

talvez em fun o da crian a moralmente abandonada , viciosa e delinq ente , que tem

in cio no Brasil, com o C digo Criminal de 1830, a defini o da responsabilidade penal da crian a.

Trata-se, de agora em diante, n o apenas de proteger, mas tamb m de prevenir , tratar , punir e

regenerar a crian a .

Primeiro C digo de Menores

somente na d cada de 30 que o Brasil vem a conhecer uma legisla o que vem

a dar origem e a ser ordenada em dois C digos de Menores. Por essa nova legisla o

as crian as e jovens eram pass veis, num momento ou em outro, de serem sentenciados

como irregulares e enviados s institui es de recolhimento, triagem, ressocializa o

ou guarda com o objetivo de que estas institui es cessassem a situa o irregular.

Nesses dois C digos de Menores, interessante salientar, que se constr i e se

afirma pelo modelo do judici rio, a defini o jur dica do que ser menor. Segundo

RIZZINI (1995), at o s culo XIX, no Brasil, o termo menor foi utilizado como

sin nimo de crian a, jovem, adolescente, porem de maneira pouco freq ente. Ser em

meados do s culo XIX, que al m dos termos menor e crian a aparecer o os

termos rf o e abandonado , estes como dependentes totais do Juiz de rf os.

Para COSTA (1988), o que ocorreu na realidade, foi um ponto de incid ncia dos

C digos de Menores, com suas especificidades, sobre todos os menores brasileiros e

n o apenas sobre os que se encontravam em situa o irregular .

A categoria mais abrangente apontada nos dois C digos a de menor

abandonado , da qual deriva a de menor delinq ente , englobando os dois g neros:

feminino e masculino. Mas a pr tica de classificar os menores ir se sofisticando, a

171

ponto de ser transformada em uma sombra em suas vidas - presente e passada - de

sua fam lia e de sua personalidade (RIZZINI, 1995: p 122).

Percebe-se que os C digos, ao criarem um termo t cnico-jur dico - menor ,

propiciam a dissemina o da vis o estigmatizadora dos sujeitos em quest o, pois se

refere basicamente, condi o de anormalidade , de irregularidade , de preju zo ,

ou seja, salienta apenas os aspectos depreciativos do sujeito em quest o.

O primeiro C digo de Menores (decreto 17.943-A de 12/10/1927), veio

consolidar diversas leis anteriores, dentre as quais se destaca a de 4.242 de 05/01/1921,

que incluiu no or amento da rep blica disposi es sobre menores e defini es de

abandono, suspens o, perda de p trio poder e outros (ARA JO, 1985: p 19).

Com a promulga o deste primeiro C digo, e visto que o atendimento aos

menores era centralizado nas iniciativas particulares, o poder p blico, atrav s da

inst ncia jur dica, viu-se obrigado a associar-se s iniciativa particulares por extens o

resultando a centraliza o de suas a es em torno das tarefas de prote o ,

assist ncia e preven o . Segundo ARA JO (1985), as atividades da assist ncia

jur dica e social inf ncia, durante esse per odo (1927), era tida pelos seus executores

como um empreendimento civilizat rio .

Esse modelo, que demorou 20 anos para ser aprovada marcado pela atua o do

primeiro Juiz de Menores, A. C. de Mello Mattos, que atribu a um cunho pessoal

mesma e que atrav s das suas atitudes acabou refletindo em uma figura do Juiz-Pai.

Este tomava para si qualificativos de jurista e filantropo e passa a ter sua atua o

caracterizada por um modelo caritativo-assistencial (ARA JO, 1985).

O regulamento da assist ncia ao abandonado era extenso e pela descri o de

RIZZINI (1995: p 134 it.), encobria uma tentativa de regulamentar a educa o dos

filhos das fam lias pobres, j que se referia basicamente a situa es vividas por crian as

das camadas populares, tais como: n o ter habita o certa, n o contar com meios de

subsist ncia, vagar pelas ruas, ter ocupa es contr rias moral e aos bons costumes.

Havia a inten o de que se restringisse o acesso e a perman ncia nas ruas de pessoas

caracterizadas como desclassificados - era esse mesmo o termo utilizado na poca. O

movimento jur dico, social e humanit rio, que tornou poss vel a cria o de uma legisla o

181

especial para menores, veio de encontro a esse objetivo de manter a ordem almejada, medida

em que, ao zelar pela inf ncia abandonada e criminosa, prometia extirpar o mal pela raiz,

livrando a na o de elementos vadios e desordeiros, que em nada contribu ram para o

progresso do pa s.

Percebe-se que a a o do judici rio estava voltada para a no o de uma

profilaxia social (ARA JO, 1985; FONSECA, 2002; SILVA,1997), visando

educa o e o trabalho como alternativas para uma revers o de maus costumes e de

suas tend ncias . As medidas adotadas de amparo e higieniza o eram vistas como

tendo a principal finalidade de propiciar a integra o dos menores na sociedade. E a

partir delas, surgiu a id ia dos reformat rios , escolas correcionais , orfanatos, asilos

e abrigos.

Percebe-se que os dispositivos centrais deste primeiro C digo de Menores, era

resolver o problema dos menores prevendo e exercendo firme controle sobre os

menores, atrav s de mecanismos de tutela , guarda , vigil ncia , educa o e

reforma .

Segundo C digo de MenoresO segundo C digo de Menores (lei 6.697 de 10/10/1979)2 segue tend ncias do

primeiro C digo, tenta redefinir a situa o do menor, e assenta-se tamb m sobre osprinc pios da assist ncia, prote o e vigil ncia dos menores. Adota expressamente adoutrina da situa o irregular, que para RIZZINI (1995: p 81), (...) as condi essociais ficam reduzidas a o dos pais ou do pr prio menor, fazendo-se da v tima umr u e tornando a quest o ainda mais jur dica e assistencial, dando-se ao juiz o poder dedecidir sobre o que seja melhor para o menor: assist ncia, prote o, vigil ncia .

Este segundo C digo do Menor prev interven o e intermedia o do Juiz deMenores n o s nos casos em que h aus ncia ou inexist ncia de pais ou respons veis,mas sempre que estejam em quest o o envolvimento de algum menor em atividades dedelinq ncia, situa o de maus-tratos ou perigo moral, mesmo nos casos de estaremsob guarda dos pais ou respons veis. Fica criada a categoria b sica e nica a partir daqual passa a estar classificado o menor (menor em situa o de risco), passa-se com issoa se ter uma conota o essencialmente jur dica, no qual transfere-se o papeladministrativo das institui es de atendimento direto e assist ncia aos menores para oPoder Executivo (ARA JO, 1985).

Por ter um car ter mais repressivo e de vigil ncia do que o primeiro, estesegundo C digo de Menores, dota o Estado de um poder mais abrangente, este, passa2 Em novembro de 1959 entrou em vigor a declara o dos Direitos da Crian a, aprovada pelaassembl ia Geral das Na es Unidas (ONU). O que no Brasil se demonstrou como uma tentativa deconcilia o entre ela e o primeiro C digo de Menores.

191

a poder declarar como irregular parte da popula o. Atrav s de mecanismos jur dicos,ficava a pobreza (car ncia) convertida em hip teses de irregularidade - situa o quetendia a ser resolvida, n o se alterando as condi es de vida da popula o, mas atrav sde procedimentos tidos como pedag gicos e terap uticos (RIZZINI, 1995: p 212).

Como grande parte das crian as mantidas nos internatos n o eram rf s , mascarentes , a disputa pela guarda das crian as se tornam em v rios sentidos penosas

para todos os envolvidos. Este abandono , era muitas vezes, apontado pelos t cnicosdos internatos como mais uma prova da imoralidade das fam lias pobres,configurou-se muitas vezes como estrat gia dos pr prios internatos, para que estespudessem ocupar um lugar quase que absoluto face educa o da crian a (RIZZINI,1995).

Estatuto da Crian a e do Adolescente - ECACom a substitui o do antigo C digo de Menores pelo Estatuto da Crian a e do

Adolescente - ECA (lei 8.069 de 13/07/1990), este passa a ter como princ pio aDoutrina da Prote o Integral 3.

Com o ECA, o car ter repressivo, de vigil ncia, que o Juizado de Menoresimpunha as suas a es v -se limitado. O tratamento dado aos menores sofre umamudan a de atitude: do tratamento dos efeitos da situa o de mis ria na qual vivemmilhares de crian as e adolescentes, pretende-se focar na preven o dos mesmos.

Com o ECA, os jovens s o tomados como sujeitos de direitos , ou seja, passam a serem cidad os perante a lei, com seus direitos preservados na ordem civil,humana e social, deixando de serem simplesmente o objeto de medidas judiciais.Independente de vermos estas medidas sendo colocadas superficialmente na pr tica oun o sendo respeitadas com as crian as e os adolescentes, o discurso que o ECAproporciona, tenta estabelecer uma articula o do Estado com a sociedade naoperacionalidade da pol tica para a inf ncia com a cria o dos Conselhos de Direitos,dos Conselhos Tutelares e dos fundos geridos por esses Conselhos4.

No caso das ado es, o ECA teve um importante papel, pois a partir dele,passa-se n o mais tratar a ado o como um ato unicamente do interesse do adotante,mas como uma rela o onde os interesses do adotivo s o priorizados (ANEXO I). Ointeresse maior de acordo com WEBER (2002: p 68) o de (...) n o apenas encontrarbeb s para casais que n o podem gerar filhos biol gicos, mas tamb m encontrar paispara crian as destitu das de conviv ncia familiar (ANEXO II).

Pode-se destacar que os interesses do jovem a ser adotado, passa em muitoscasos, longe da sua pr pria vontade ou mesmo do seu conhecimento, j que s decis esdecorrentes ao seu processo trabalhado por pessoas alheias sua vida.

Vemos na Ado o Plena e Fechada 5, que um procedimento irrevog vel pelo

3 Pelo ECA considera-se crian a a pessoa at 12 anos de idade incompletos, e adolescentes aqueleentre 12 e 18 anos de idade.

4A inten o desses conselhos a de refor ar a estrat gia de defesa da cidadania, criando Fundos juntos prefeituras, fazendo diagn sticos da situa o da crian a e do adolescente, cobrando obras espec ficas

para implementa o do ECA.5 Este Contrato poder ser de duas formas: Ado o Aberta , onde os pais t m a possibilidade deselecionar os pais adotivos para a crian a, em alguns casos, h um conv vio entre pais biol gicos e osadotivos. Esta pr tica est sendo muito difundida nos Estados Unidos. Ado o Fechada , sedemonstra na aus ncia total de contato entre os pais biol gicos e os adotivos, o que v em a dificultar ouat mesmo impossibilitar futuros encontros. Este o nico modo de opera o segundo a legisla obrasileira.

201

qual a filia o adotiva passa a substituir a filia o biol gica, sendo que exclu dototalmente o contato com esta, que ela nos demonstra a princ pio, como um atofavor vel crian a. Entretanto, podemos questionar esse modelo, se refletirmos sobre oato da crian a, em assumir (imposto pelo judici rio) a identidade de sua fam liaadotiva, excluindo totalmente a identidade da fam lia biol gica (caso que se agravaainda mais, se pensarmos nas grandes descobertas pela ci ncia na rea da gen tica(DNA)).

Por esse processo os genitores acabam por desaparecer da exist ncia de seusfilhos. H uma tentativa de apagamento da filia o biol gica, efetuado e justificadopor Lei. Por m, apesar das normas estabelecidas e impostas pelos juristas frente a Lei,essa conduta n o garante com crian as maiores e adolescentes, que haja a substitui ototal e irrevog vel da antiga filia o pela nova.

A ado o na legisla o brasileira

Para que a ado o seja representada por sua justa perspectiva, faz-se necess rio

reconstituir a sua hist ria no tempo, com as transforma es pelas quais passou,

tomando como eixo principal o plano das legisla es (ANEXO III).

As primeiras leis que ir o tratar da quest o da ado o surgem em 1916 com o

C digo Civil, ser o 11 artigos que regular o e estabelecem os princ pios b sicos que

orientar o o legislador e os adotantes. Tratar da obrigatoriedade do car ter p blico do

ato, dos impedimentos matrimoniais entre adotante e adotado, das limita es quanto

heran a, e de uma n o extin o de direitos e deveres resultantes do parentesco

natural (COSTA, 1988: p 29).

Como se percebe, at meados do s culo XX, a uma grande desigualdade entre

filhos leg timos e de filhos de cria o estava estabelecida em lei. A rela o adotiva

a princ pio era uma pr tica de transferencia por escritura de responsabilidades

tutelares entre um adulto e outro e que poderia ser revogada. Nela o adotante deveria ter

mais que 50 anos, caso este j tivesse filhos, o filho adotivo n o herdava nada, mas

primeira vez, permite-se a ado o por aqueles j com filhos leg timos. Estas regras s

v m a sofrer altera es em 1957 no C digo Civil com a Lei n. 3.133, quando se reduz

o limite de idade dos adotantes de 50 para 30 anos, aqui tamb m surgem pela primeira

vez, indica es na lei em rela o ao bem-estar do menor , nessa poca que se

come a a ser exercidas press es para que os cart rios s lavrassem escrituras mediante

autoriza o do juiz (FONSECA, 2002; WEBER, 2002).

A legitima o adotiva se faz em 1965, ela um desdobramento da Lei

211

anterior, o que a distingue a preocupa o com o jovem adotado e tamb m o fato do

ato da ado o n o vir mais a constar nos registros e certid es do jovem, este jovem

passa a contar com a equipara o em termos de direitos e deveres com os outros filhos.

Nesta poca h a id ia de um la o irrevog vel que confere direitos heredit rios

(apesar de limitado) crian a e junto com ela cessa qualquer liga o com a fam lia

anterior. O adotado passa a ter parte na heran a, apesar de ser uma parte menor do que

a dos filhos biol gicos. No C digo de Menores em 1979, o filho adotivo herda como se

fosse filho leg timo e o (...) parentesco adotivo estendido por for a da lei aos

descendentes (FONSECA, 2002: p 123 it). Com a Constitui o de 1988 que se

acaba, juridicamente, com qualquer distin o entre filhos, sejam naturais, adulterinos,

incestuosos ou adotivos.

Com o ECA (1990) a ado o ficou facilitada , ampliou a categoria dos

adotantes (qualquer pessoa com idade m nima de 21 anos, desde que tenha pelo menos

16 anos a mais do que o adotado; independe o estado civil do(s) adotante(s);

ascendentes da crian a (ex. av ); esses termos vale para jovens de at 18 anos de idade

(FONSECA, 2002; RIZZINI, 1995; WEBER, 2002).

A introdu o de no es mais atualizadas e de reforma do estatuto resultou

segundo COSTA (1988), numa reda o bastante retr grada na qual ressaltavam

exig ncias, que n o favoreciam e nem estimulam a ado o dificultando o incremento

do uso da Lei.

Com esses nuances da Lei e as dificuldades impostas pelos processos

judiciais, percebe-se que s press es dos costumes e das pr ticas da ado o

brasileira , com sua facilidade nos procedimentos e na simplifica o da

regulamenta o, demonstra-se como uma for a n o-oficial com refer ncia a ado o.

Ado o brasileira

A ado o brasileira convencionalmente chamada assim por ser uma ado o

efetuada sem o apoio na lei, apenas feita de acordo com a vontade dos interessados.

Esse tipo de procedimento concretizado quando o interessado ou o casal, adotam

filhos alheios como seus e registrando-os como se fossem seus filhos naturais . Em

geral uma pr tica obscura, marginal, mas de uma forma quase institucionalizada

221

dentro da sociedade.

Por estar margem da Lei n o h dados estat sticos e Os casos

abundantemente relatados quase nunca s o datados ou localizados no tempo. Esparsas

recorda es, reminisc ncias vagas, n o permitem seguir este caminho e tom -las como

refer ncia central (COSTA, 1988: p 27).

Como esta forma de ado o se mant m sombra da Lei , h nela a coniv ncia

e cumplicidade de alguns respons veis pela sua execu o: funcion rios, enfermeiros,

m dicos e de alguns hospitais, principalmente de interior.

Esse procedimento da ado o brasileira, tamb m conta com a cumplicidade

da sociedade, que, como a Lei, fecha os olhos quanto ao modo que se realiza. Entre

alguns dos motivos que levam um casal a fazer esse tipo de ado o segundo SZNICK

(1993) est o:

- O desconhecimento dos tr mites legais;

- N o querer que o filho saiba que n o filho de sangue do casal; e

- A demora do judici rio para a legaliza o da situa o.

Em todos os casos, os motivos alegados levam a uma situa o arriscada e

inst vel para a fam lia, j que pode haver a qualquer tempo a volta da m e biol gica.

H tamb m a san o civil e penal inerente da transgress o lei, caso seja descoberta

a infra o . Entretanto, segundo FONSECA, (2002: p 130), mesmo envolvendo-se

com a falsifica o ideol gica , os pais (biol gicos) que se envolvem nessa pr tica

(...) mant m um certo controle , j que s o eles mesmos que, em geral, s o eles que

negociam a transfer ncia, sabem quem s o os pais adotivos e, assim, t m alguma

possibilidade de, eventualmente, reatar la os com seu filho .

Perante a Lei, a iniciativa a ser tomada segundo a DR L dia M. Guedes, ju za

da 1 Vara da Inf ncia e Juventude de Curitiba, ser de busca e apreens o da crian a,

isso, caso se tenha a den ncia e o reclame da m e biol gica em refer ncia ao filho

doado .

Circula o de crian asVemos no trabalho de FONSECA (2002)6 como intensa a circula o de

6 Trabalho efetuado sobre din micas familiares em grupos populares de Porto Alegre, analisando asredes de sociabilidade tecidas a partir da circula o de crian as - envolvendo parentes, amigos,vizinhos e at institui es estatais. A pesquisa foi efetuada em dois bairros com cerca de 120 fam lias,com relatos sobre quase cem crian as que haviam circulado sem que nenhuma crian a fosselegalmente adotada pela fam lia com quem vivia.

231

crian as nos grupos urbanos contempor neos e que uma pr tica hist rica, que mesmocompartilhada pelos membros do grupo nem sempre s o articuladas de maneira clara eexpl cita nas an lises da organiza o de fam lias de baixa renda no Brasil.

Conforme FONSECA (2002: p 81), coloca A circula o volunt ria decrian as, ocorrendo normalmente no interior do grupo consang neo, tende a repartir opeso financeiro do sustento de crian as entre os membros mais abastados do grupo, aomesmo tempo, que consolida os la as da consang inidade .

Os desejos e necessidades da crian a para esse grupo, n o s o motivos de muitaspreocupa es, a sua fragilidade decorre e est ligada em termos materiais (de sa de,etc.). Fica claro que o bem-estar da crian a insepar vel do bem-estar do grupo.

interessante destacar que no nosso imagin rio, como sociedade, temos ummodelo abstrato de crian a no seio de uma fam lia, e que normalmente esse modelo n ocondiz com a realidade vista. Temos em mente um modelo de fam lia classe m diaonde (...) os pais trabalham seus relacionamentos conjugais e investem nos filhosa fim de construir uma fam lia (FONSECA e CARDARELLO, 1999: p 38), epassasse a pensar a inf ncia a partir da vida protegida de seus pr prios filhos, e n ono contexto de diversidades culturais a que estamos expostos.

N o se leva em conta dentro da sociedade que as no es de fam lia, inf ncia,mis ria, abandono est o cal ados em preocupa es e prioridades historicamenteconstru das, muitas derivadas de pa ses europeus e americanos, que acabam porconfrontarem-se no nosso contexto de diversidades dos membros das v rias camadas,

estes, pendendo sempre para um status depreciativo (FONSECA e CARDARELLO,1999).

As m es que participam dessas pr ticas, a de colocarem seu (s) filho (os) em lar(es) adotivo (s), em seus meios, n o s o vistas e nem estigmatizadas como cru is oudesnaturadas, h uma aceita o na circula o das crian as, j que em sua maioria osadultos j presenciaram ou participaram de experi ncias semelhantes (FONSECA,2002: p 80).

Entrega ou abandonoPercebe-se que o significado de dar ou doar uma crian a nesses grupos,

quase nunca pensado por elas (m es biol gicas) em termos de abandono , o que svem a ressaltar as contradi es que h entre o universo jur dico e o universo popular .7

Esta mesma autora nos fornece pistas das raz es para o acolhimento dessascrian as em circula o : uma delas seria o prest gio que os pais adotivos passariam a

ter nas redes sociais, j que os sacrif cios que supostamente acompanham amaternidade s o ressaltados ante as carreiras conjugais e profissionais, outro dizrespeito ao prazer do conv vio com uma crian a, e aqui poder amos destacar que Certamente as pessoas esperam que os filhos adotivos lhes d em a mesma satisfa o

que seus pr prios rebentos pela vida afora . N o h d vida de que esperam que essascrian as lhes sirvam de amparo na velhice (FONSECA, 2002: p 41). Esse amparo navelhice pode ser melhor esclarecido se pensarmos na import ncia da responsabilidadefilial em um pa s onde n o se t m seguro para idosos e nem uma aposentadoria dignapara as camadas baixas brasileiras.

Um fator que pode quebrar com esta solidariedade entre parentes, para7 Conforme estudos de Geertz, h pr ticas que independente do sistema de leis , s o organizadas evistas como legais por quem delas participa.

241

FONSECA (2002: p 33-36), a mobilidade social, que amea a pela subidas cio-econ mica o esquecimento destes para com os seus parentes pobres. Esta ascens o econ mica reflete como um divisor de guas entre os indiv duos, alguns que

acabam adotando valores da classe m dia e com isso concentrando energias nos seuspr prios filhos com vista nas carreiras futuras e criando um ambiente dom sticofechado, em contraste com os indiv duos que apesar de viverem com mais conforto,mant m-se ligados cultura popular, continuando a receber crian as mais pobres e mantendo assim a continuidade dos la os.

Possivelmente ser dentro desta camada, a que preserva os la os com a classepopular, e que mant m a solidariedade do grupo fam lia que poderemos encontrar commais facilidade a ado o brasileira.

Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996

As condi es exigidas na ado o pelos candidatos a pais de classe sociais mais

baixas e com n vel econ mico menor s o menos/menores em rela o crian a, e,

adotam mais freq entemente crian as maiores e n o h preocupa es com a ra a. J

nas classes altas e m dias as exig ncias frente ao juizado s o muitas, entre as principais

251

ser uma crian a saud vel, do sexo feminino, branca (ou de pele clara) e ser beb .

Na pesquisa de WEBER e KOSSOBUDZKI (2002: p 33) realizada com a

totalidade das crian as e adolescentes do Estado do Paran , revelam que 64% dos

jovens institucionalizados t m entre 7 e 17 anos. Os dados dessa mesma pesquisa, a

n vel Brasil (gr fico), s v em a confirmar a problem tica, j que a maioria dos

candidatos a ado o preferem crian as de at no m ximo 02 (dois) anos de idade, e

as crian as que ultrapassam esta idade acabam sendo rejeitadas e deixadas em segundo

plano dentro da institui o.Estas crian as consideradas velhas acabam em muitos casos, ficando

institucionalizadas at sua maioridade quando s o expulsas e entregue a sorte, oucomo ocorre freq entemente, antes disso, acabam fugindo8 e tentando suprir suascar ncias e necessidades de outra forma, n o mais tendo a ilus o de virem a serfilhos e de participarem de uma fam lia (WEBER, 2002: p 38,51).

Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996

8 Pesquisa efetuada em Curitiba com 76 crian as e adolescentes em regime de internato entre 7 a 18anos e que n o possu am mais v nculo familiar: 56% dos entrevistados moraram em dois ou maisinternatos diferentes; 98% encontraram dentro de alguma institui o uma pessoa de apego a qual foiperdida; 57% j fugiram ou tiveram vontade de fugir .

261

Idade biol gica e idade social

interessante destacar a no o do que ser velho e como esse conceito pode

ser relativo nas sociedades e que a compreens o sobre o que ser velho n o est

obrigatoriamente associado idade cronol gica dos indiv duos.

Nos exemplos de ARI S (1985: p 47) nas sociedades europ ias, a velhice

constatada pela apar ncia: a velhice come a com a queda dos cabelos e o uso da

barba, e um belo anci o aparece s vezes como um homem calvo .

A concep o do que ser velho depende da natureza da sociedade e do lugar

que nela ocupa o indiv duo idoso, de modo que o envelhecer n o apenas cronol gico

mas determinado pelas rela es homem, sociedade e meio ambiente.

BOURDIEU (1983: p 112 it) em suas reflex es, comenta que entre a velhice e a

juventude n o h uma fronteira ou um limite, que estes conceitos s o forjados em cada

sociedade dependendo da estrutura desta e que tem por fim (...) impor limites e

produzir uma ordem onde cada um deve se manter, em rela o qual cada um deve se

manter em seu lugar . Esta luta entre a idade biol gica e a idade social, segundo este

mesmo autor, s o complexas, e por n o serem dadas mas constru das socialmente

podem vir a ser manipulada ou manipul vel .

Segundo BEAUVOIR (1976: p 13), o termo velho ou velhice est inserido na

vis o do homem como uma unidade biopsicossocial. um fen meno biol gico: o

organismo do homem idoso apresenta certas singularidades. Acarreta conseq ncias

psicol gicas: determina condutas. Tem uma dimens o existencial: modifica a rela o

do homem no tempo e, portanto, seu relacionamento com o mundo e com sua pr pria

hist ria .

As varia es sobre o que ser velho, dependem, para ARI S (1985: p 48) das

rela es demogr ficas de cada poca Tem-se a impress o de que a cada poca

corresponderiam uma idade privilegiada e uma periodiza o particular da vida humana:

a juventude a idade privilegiada do s culo XVII, a inf ncia , do s culo XIX, e a

adolesc ncia , do s culo XX .

Ao acompanharmos com ARI S (1981: p 195-274), a trajet ria da fam lia no

271

tempo (como refer ncia sociedade europ ia), vemos que ela assume diferentes

formas, at chegar a fam lia moderna , cujo modelo a fam lia nuclear (marido,

mulher e filhos). Esse modelo se constituiu primeiramente na burguesia, alcan ando

posteriormente as camadas populares. Essa trajet ria marcada por toda uma

transforma o na utiliza o do espa o dom stico, demarcando uma separa o n tida

entre o p blico (rua) e o privado (casa), onde a sociabilidade sai da multid o (rua) e

volta-se para o grupo dom stico (casa).

Conforme o gr fico, referente a pesquisa de WEBER e KOSSOBUDZKI (1996:

p 33) no Estado do Paran vemos que, os jovens realmente rf os de pai e m e

(bilaterais), s o somente 5% e que 14% destes jovens vieram de um lar onde o pai e a

m e viviam juntos. O restante 81%, adv m de fam lias monoparentais, chefiadas por

mulheres (a maior parte foi abandonada pelo seu companheiro, s o separadas ou s o

m es solteiras).

Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996

281

Analisando as formas de fam lia das crian as e adolescentes institucionalizados

no Paran , vemos que elas n o se encaixam no padr o da fam lia nuclear. S o fam lias

que n o apresentam uma unidade m e-pai-filhos bem delimitada. Muitas vezes s o

fam lias matrifocais, formadas basicamente por m es e filhos.

As necessidades materiais e afetivas de seus membros s o, muitas vezes,

satisfeitas por pessoas alheias ao n cleo familiar, havendo maior interc mbio com

outros grupos (vizinhan a, parentela, etc.), que se tornam mais fortes e leais

contrastando com a precariedade do la o conjugal (FONSECA, 2002: p 46-74).

Algumas das raz es para se entender essa exclus o da parte paterna, est o nas

atitudes culturais onde os estere tipos de g nero geram atitudes e expectativas que

dotam as crian as como pertencentes e de responsabilidade da mulher.

Conforme pesquisa de FONSECA (2002: p 110 it.), na FEBEM - RS, o pai,

embora presente em alguns dossi s, uma figura secund ria. Quando consultado,

pretende que a crian a foi internada sem o seu consentimento, mas nada faz para

assumir responsabilidades paternas de forma mais concreta . Nesta mesma linha

MOTTA (2001: p 156) relata que Os homens s o exclu dos deste processo pela

sociedade que os desculpa , o que lhes tolhe s mulheres a iniciativa da busca de

outras poss veis solu es para o dilema do que fazer com a crian a. Ou ainda em

COSTA (1988: p 215), referindo-se a entrega de beb s rec m-nascidos para ado o

O pai biol gico, n o se apresenta s mediadoras em momento algum do contato

durante a gravidez, ou no ato de ren ncia do p trio poder .

Percebe-se com estes relatos, outras abordagens para as tradicionais defini es

dos papeis do que ser pai e ser m e em nossa sociedade. Essas quest es ser o

trabalhadas com profundidade na continua o do estudo, tendo em vista, que as

grandes quest es de g nero perpassam as variadas esferas da sociedade.

Poder Familiar (P trio Poder)

A legisla o brasileira prev pela Guarda, Tutela, Ado o e Delega o do Poder

Familiar, uma forma (em diferentes graus), da coloca o em lar substituto do jovem

em situa o de risco , por iniciativa dos pais ou por interven o do Estado. No Brasil,

regido pelo C digo Civil est a Ado o Plena 9 que tem car ter definitivo e9 A partir das altera es do C digo Civil a ado o n o poder mais ser desfeita, mesmo ap s amaioridade do adotado.

291

irrevog vel, a crian a vem a ser introduzida numa fam lia como filho, com todos os

direitos e deveres, n o tendo mais liga o com a fam lia biol gica.

Com a ren ncia do poder familiar, firmado um compromisso de desist ncia a

seus direitos sobre a crian a. A fam lia biol gica passa a ser exclu da das

informa es que se poderiam prestar aos adotantes e adotados, quanto origem social,

ficha m dica e biol gica e desta as suas caracter sticas heredit rias.

Durante a Antig idade, o p trio poder era um poder quase que ilimitado. Ao ser

exercido pelo pai dava-lhe o direito sobre os filhos de ocup -los, castig -los e at

mesmo de vende-los. O pai n o s exercia o direito de pai de fam lia, mas verdadeiro

dono e juiz, ele era o respons vel perante a sociedade por toda a fam lia incluindo as

responsabilidades civil e penal (SZNICK, 1993; RIZZINI, 1995).

Ao longo dos tempos houve uma limita o e um abrandamento do p trio poder.

A partir de 2003 foi alterado o termo P trio Poder para Poder Familiar, pois aquele n o

mais condizia com a realidade exposta, visto serem principalmente as m es as

atuantes nesses processos e o termo Matri Poder, conforme a ju za DR L dia M.

Guedes, n o existir na Constitui o Federal.

O ECA trata do p trio poder em seu artigo 21:

O p trio poder ser exercido, em igualdade de condi es, pelo pai e pela m e, na forma do que

dispuser a legisla o civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discord ncia,

recorrer autoridade judici ria competente para a solu o da diverg ncia. Ou seja, o p trio

poder exercido igualmente pelos pais deve ser executado no interesses do menor, no que se

refere a seus bens e sua pessoa.

Segundo o C digo Civil, o poder familiar um poder jur dico, um poder-dever,

exercido pelos pais por delega o do Estado, no interesse da fam lia. Atrav s dele,

compete aos pais dirigir a educa o dos filhos, tendo-os em sua companhia e guarda,

sustentando-os, criando-os e os representando perante atos jur dicos. Os casos de

suspens o do poder familiar est o previstos pelo artigo 394 deste mesmo C digo, sendo

que ele se extingue pela maioridade, pela emancipa o do jovem, pela ado o, al m da

morte do pai ou do filho. .

A perda do poder familiar considerada uma san o grave, por ser definitiva e

301

por se perder todos os direitos sobre o jovem. O artigo 395 do C digo Civil estatui:

Perder por ato judicial o poder familiar o pai ou a m e que:

I - que castigar imoderadamente o filho.

I I - que deixar em abandono.

III - que praticar atos contr rios moral e aos bons costumes .

Segundo a ju za DR L dia M. Guedes, em alguns casos a destitui o do poder

familiar priorit rio, para evitar que crian as que n o podem voltar para casa tenham a

chance de se integrarem a outra fam lia. Pela n o destitui o do poder familiar, estudos

e pesquisas na rea demonstram que a grande maioria das crian as institucionalizadas,

acabam permanecendo anos a fio de internamento, ficando na maioria dos casos, sem

receberem visitas de suas fam lias biol gicas (por op o deles pr prios) e portanto sem

a conviv ncia familiar ou a possibilidade legal de serem adotadas (WEBER 2002).

At a alguns anos atr s, o processo de destitui o do poder familiar demorava

quase dois anos, hoje de tr s a nove meses para ser conclu do se os pais forem

conhecidos e n o entrarem com recurso contra a decis o do juiz. Adotamos um meio

termo. Priorizamos o retorno familiar, mas n o podemos tolerar que um beb fique um

ano esperando at que os pais tenham condi es de cri -lo (DR L dia M. Guedes,

2004).

Mesmo com a tentativa de acelera o do processo, h grande nfase

primeiramente na valoriza o da reintegra o familiar biol gica, as autoridades nessa

rea, n o querem retroceder a erros anteriores, como na vig ncia do C digo de

Menores, no qual havia grande facilidade para a retirada dos filhos dos pais.

311

CAP TULO III

INSTITUI ES

A institucionaliza o de crian as e adolescentes leva a sociedade a constantes

questionamentos de como proceder com estes internados . Como deve-se refletir e

planejar os seus futuros onde haja o m nimo de preju zos para a forma o de suas

identidades e desenvolvimento? Como n o marginaliz -los ao afast -los do seu

conv vio social entregando-os nas institui es?

Frente a estes questionamentos n o poder amos deixar de remetermos inst ncia

jur dica, enquanto setor do poder p blico que ultrapassa essa esfera e enquanto

conjunto de leis, no sentido de verificar qual o tratamento que vem sendo dado

quest o da crian a ou do adolescente institucionalizado e sua influ ncia nas pr ticas de

atendimento aos mesmos e perante a sociedade.

As crian as e adolescentes institucionalizados s o percebidos pelo senso comum como

v timas ou como culpados da ordem social, ou como simplesmente Produto do

Sistema , este resultante da forma como a sociedade administra os seus processos de

exclus o, classifica o e de identidade. S o culpados quando t m que serem contidos,

dominados, controlados e at mesmo combatidos, e v timas quando a pr pria institui o

assume o discurso oficial no qual estes jovens s o influenciados por diversos fatores

como a sua classe social, cor, amizades, fam lia e do pr prio sistema quando ressalta os

seus princ pios ideol gicos (FONSECA e CARDARELLO 1999).

Estes argumentos acabam refletindo um teor altamente preconceituoso, o que

nos fazem refletir em como desconstruir conceitos naturalizantes de identidade e que

outros fatores contextuais podem determinar nossa maneira de olhar para esses

outros . Percebe-se que estes princ pios sociais tendem a priorizar certas categorias

em detrimento de outras.

Seguindo esta mesma linha de racioc nio, a do senso comum, as institui es que

desses jovens se ocupam, com suas variadas identidades ao mesmo tempo que, as

321

constroem com m ltiplas formas e propostas de atendimento e ressocializa o

demonstram-se em diversos n veis e pontos de vistas, nocivos a eles pr prios, a suas

fam lias e a sociedade.

Os funcion rios e t cnicos que da institui o fazem parte, nesta rela o, acabam

sentindo-se prejudicados e rotulados muitas vezes como burocr ticos, incompetentes e

aut matos nas suas fun es. Percebe-se que os agentes sociais, que s o respons veis

pela execu o das pol ticas no interior dos projetos e programas s o postos em n vel

mais baixo ao dos planejadores , em outras palavras, h um certo refor o na

hierarquia de prest gios que coloca a pr tica abaixo da teoria.

Esse tipo de atitude acaba refletindo sobre os funcion rios das institui es, que

t m que conviver com a heran a de car ter insidioso de institui es passadas, e com a

permanente desconfian a da opini o p blica. Esses procedimentos, acabam

estigmatizando os t cnicos dando-lhes um perfil marginalizado quanto execu o de

inova es no trabalho, bem como dando um destaque maior para a fragmenta o de

implementa o de alguns objetivos.

Vemos refor ado este pensamento na pesquisa feita em trabalhos anteriores

sobre institucionaliza o de crian as efetuada por FONSECA e CARDARELLO

quando relatam:

(...) percorre quase todas as obras um tom apocal ptico em que os administradores e

funcion rios das institui es parecem representar as for as do mal. Parece subentendido que se

somente fosse poss vel substituir esse aut matos da institui o total por uma equipe de pessoas

esclarecidas (cientes, entre outras coisas, das cr ticas anal ticas do pesquisador) as coisas

poderiam ser melhoradas (1999: p 91-92 it.).

Dessa perspectiva, as institui es e de quem delas fizer parte, por sua fun o

social, s o percebidas como subvertidas e com isso deveriam ser combatidas e at

mesmo eliminadas. O que na pr tica acaba acorrendo s o reformas sobre reformas, e

que independem das ocorr ncia de mudan as na sociedade, no judici rio ou na

legisla o, sendo que esses tipos de mudan as ocorrem de forma lenta e n o

abrangem as dimens es necess rias, para uma eficaz transforma o . Entretanto, s o

travados programas espec ficos em todos os casos para disciplinar, recuperar, proteger e

331

tamb m para fazer a distin o dos bons e dos maus.

Assistencialismo como salva o das almas

Inicialmente a pr tica da institucionaliza o era posta aos miser veis, aos

doentes, aos loucos e aos abandonados e inseria-se numa concep o religiosa, na qual

consideravam estes como v timas da vontade de Deus e alvos privilegiados da pr tica

caritativa orientada para a vida eterna, o conforto do esp rito, e para a salva o das

almas ( RIZZINI, 1995; ALBUQUERQUE, 1978).

O hospital nesta poca (Santas Casas), cumpria o objetivo da salva o da alma

do pobre , era um lugar onde morrer , n o um lugar de tratamento m dico, de cura.

Os que nele trabalhavam eram um pessoal caritativo-religioso ou leigo , que ali estava

para fazer uma obra de caridade que lhe assegurasse a salva o eterna . Esses

hospitais tinham tamb m a fun o de realizar a separa o de indiv duos perigosos para

a sa de da popula o em geral (FOUCAULT, 1984).

conveniente destacar que neste contexto, os hospitais n o estavam ligados

essencialmente cl nica m dica, eram mais como um dep sito de doentes, loucos,

carentes, infratores e abandonados. Como nos relata FOUCAULT (1984: p 101):

(...) essencialmente uma institui o de assist ncia aos pobres. Institui o de assist ncia como

tamb m de separa o e exclus o. O pobre como pobre tem necessidade de assist ncia e, como

doente, portador de doen a e poss vel cont gio, perigoso. Por estas raz es, o hospital deve

estar presente tanto para recolh -lo quanto para proteger os outros do perigo que ele encarna.

Nestes hospitais al m do assistencialismo , continham as Rodas dos

Expostos ou Roda dos Enjeitados 10, onde os beb s rejeitados pela fam lia

encontravam amparo na institui o sem que houvesse a necessidade dos pais se

identificarem.

Para que houvesse a disciplinariza o principalmente das camadas populares,

a fam lia foi reorganizada pelo Estado em torno da higiene dom stica .

Motivos para a institucionaliza o

O princ pio da institucionaliza o de crian as e adolescentes serve como um

10 Manteve-se essa pr tica, em diversos lugares do Brasil at 1950.

341

dispositivo jur dico-t cnico-policial que pretende ter o objetivo de proteger a inf ncia

contra o abandono, maus-tratos, viol ncia, fome, falta de condi es de sa de e higiene,

etc.

Percebe-se que desde in cio da poca moderna, a ci ncia juntamente com o seu

discurso, tentam apurar suas categorias quanto aos indiv duos, hoje chamados de

exclu dos . Estes ao serem desajustados sociais por serem marginais econ micos ,

delinq entes , desviantes ou alienados , destoam do cen rio supostamente

harm nico da sociedade vigente.

Percebe-se que a discuss o sobre a institucionaliza o da inf ncia pobre com as

mudan as na lei e de leis, implica numa mudan a de categorias de classifica o destes

jovens. Atr s de cada mudan a h tamb m uma hist rica tentativa categoriza o dos

internos quanto a serem delinq entes , abandonados ou rf os .

Para as institui es a classifica o se torna um meio mais pr tico e r pido

para solucionar os problemas administrativos. Pela demanda excessiva da clientela

v -se uma reserva-se maior n o para crian as necessitadas, mas sim, para crian as

indisciplinadas, estas, que poder o a vir, supostamente, representar uma amea a

sociedade.

No Brasil, somente a partir do ECA (1990), que houve um esfor o para

racionalizar o atendimento ao jovem, instaura-se uma clara separa o entre duas

categorias de jovens institucionalizados: por um lado o abandonado , por outro lado o

adolescente autor de ato infracional .

Com a tentativa de introduzir uma nova proposta pedag gica seguindo os

preceitos do ECA, como os da proibi o de castigos f sicos, limitado n mero de

internos nas institui es, institucionaliza o somente com ordem judicial, estipulando

que ningu m seria privado de liberdade sen o em flagrante, o perfil dos internos

passou a mudar.

No perfil dos infratores temos, conforme FONSECA e CARDARELLO (1999: p

98):

(...) os autores de infra es leves passaram a receber medidas s cio-educativas relativamente

brandas: advert ncias, presta o de servi os comunidade, liberdade assistida - tudo menos a

351

institucionaliza o. Sobraram para a institui o apenas os jovens autores de crimes graves -

aqueles que ficam mais tempo internados.

J para os jovens entregues ou abandonados nas institui es temos que o

dilema ligado aos direitos humanos se demonstra n o s para as crian as mas tamb m

para as suas fam lias.

Trata-se de um dilema alimentado por dois princ pios contradit rios do ECA. Se por um lado

garante-se a crian a e adolescente o direito de serem criados e educados no seio da sua

fam lia (art. 19), por outro, devem tamb m ser assegurados seus direitos referentes ao acesso

sa de, educa o, alimenta o, lazer, esporte, entre outros (art. 4) (FONSECA e

CARDARELLO, 1999: p 103).

Categorias de classifica o

conveniente ressaltar que com o passar do tempo o sistema de classifica o

acaba multiplicando-se nas suas categorias, e certas categorias acabam sendo eleitas

como alvo merecedor e priorizados em detrimento de outras.

Na d cada de oitenta h uma certa prolifera o e aumento de categorias que

sublinham a falta de moral dos pais e tutores. O motivo nesta poca, para o ingresso nas

institui es era o problema s cio-econ mico ou decorr ncia direta dos mesmos. J

em meados da d cada de noventa as interna es caem em categorias que sugerem a

a o mal fica dos pais/tutores como abandono , maus-tratos , neglig ncia ,

abuso .

Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996

361

Com a mudan a da passagem do problema s cio-econ mico para a

neglig ncia percebe-se que os casos assistenciais s o os grandes problemas para as

institui es no Brasil, independente do nome que se d a eles. E que nas palavras de

FONSECA e CARDARELLO (1999: p 197):

Se em 1985 considerava-se que motivos como mendic ncia , maus tratos , desintegra o

familiar e doen a do menor eram decorr ncia direta de problemas s cio-econ micos ,

hoje, mais do que nunca, a fam lia pobre, e n o uma quest o estrutural, culpada pela situa o

em que se encontram seus filhos . ela que negligente , maltrata as crian as, as faz

mendigar, n o lhes proporciona boas condi es de sa de, enfim, n o se organiza . Em suma,

parece que a fam lia pobre - e n o o Poder P blico ou a sociedade em geral - o alvo mais

f cil de repres lias .

Destaca-se com essa id ia uma situa o em que a no o de crian a cidad ,

com os seus direitos e deveres adquiridos e garantidos atrav s do ECA, leva como

complemento quase que de modo inevit vel a de ter pais negligentes . Antes do ECA,

as institui es muitas vezes eram utilizados pelos pais como uma esp cie de internato

do pobre (FONSECA, 2002), que consideravam a institui o como um recurso

complementar vida familiar, apesar do rep dio institucionaliza o. Com o ECA

t m-se que a institucionaliza o dever ser transit ria, ou seja, uma medida

provis ria e excepcional, utiliz vel como forma de transi o para a coloca o em

fam lia substituta (art. 101).

A a o jur dica

Segundo o ECA, o objetivo principal das institui es a tentativa do retorno do

jovem para a fam lia biol gica, t o logo esta fam lia esteja em condi es de a acolher

novamente. Caso a fam lia, durante o tempo estipulado n o conseguir se reestruturar

para acolher a crian a ou o adolescente, este por medida judicial se manter na

institui o e dependendo do caso ser destitu do o poder familiar.

371

O tempo para reaver o jovem da institui o depender da a o da sua fam lia

que dever ser e estar constantemente avaliada pelos t cnicos do servi o social do

Juizado da Inf ncia e Juventude. Para que possa haver o encontro entre as partes,

feita uma interven o t cnica entre a fam lia do jovem em situa o de risco , o

assistente social e a Vara da Inf ncia e da Juventude.Ser na Vara da Inf ncia e da Juventude, atrav s da Comiss o Estadual

Judici ria de Ado o (CEJA)11, que se demonstra como parceiro do juizado e nelecentraliza-se todas as ado es do Estado, e na qual, se (...) pretende dar nfase n o sno aspecto legal, mas tamb m aos aspectos t cnicos, visto que o problema b sico dasado es reside no campo s cio-cultural , segundo a SR Jane A. Pereira Prestes(Coordenadora do CEJA/PR - Ado o Internacional), o objetivo da atua o da equipede interven o t cnica o de trabalhar com uma abordagem sist mica: Entendendoque a fam lia funciona como um sistema de intera o, constitu da por elementos ligadosentre si, de forma que a mudan a em um elemento ser seguida por uma nova mudan anos outros elementos .

Temos tamb m, como uma extens o e apoio da Vara da Inf ncia e da Juventudede Curitiba o Projeto Recriar: Fam lia e Ado o, que se constitui, seguindo tend nciasde associa es existentes em outros Estados, como um grupo de apoio ado o,formado por profissionais de diversas reas, pais, filhos adotivos e pessoas volunt rias,que atrav s de informativos, encontros, reuni es e muita conversa, tentam esclarecer eapoiar os futuros pais e tamb m conscientizarem e estimularem a comunidade sobrea ado o.

Conforme entrevista com a SR Neuza M. dos Santos, assistente social da 1Vara, feito todo um trabalho de acompanhamento para as fam lias de crian as eadolescentes em situa o de risco e tamb m dos jovens nas casas lares e nos abrigos.No transcorrer do processo, ser , principalmente o Conselho Tutelar dos bairros queindicar e encaminhar o jovem em situa o de risco . Mais tarde haver a tentativade fazer v rios estudos psico-sociais da fam lia, que contar com entrevistas,orienta es e acompanhamento dos pais e outros familiares. Os problemas familiaresapresentados em sua maioria s o o alcoolismo, as drogas e em muitos casos defici nciamental, e que segundo a entrevistada nem sempre decorrente do uso cont nuo dessesprodutos.

O processo, at chegar ou n o a destitui o do poder familiar se dar , conformea entrevistada, em etapas. Ap s a avalia o, a pedido do Conselho Tutelar ou de algumrg o da Prefeitura, ser efetuado a busca e apreens o do jovem que ir para o abrigo

(que ser tempor rio). Esta uma medida de prote o determinada pelo juiz, que pedirpara a equipe t cnica do juizado um estudo social da fam lia desse jovem. O t cnicoque um profissional do servi o social trabalhar durante um certo tempo, formulandov rios estudos e diagn sticos de acompanhamento das vontades (de manter a crian a) eda probabilidade social desta fam lia para manuten o da crian a ou do adolescente.Em posse desse diagn stico o juiz far sua avalia o, e determinar a volta desse jovem

sua casa, a manuten o por mais algum tempo na institui o ou ainda da destitui o

11 O Juizado da Inf ncia e da Juventude da Comarca de Curitiba foi fundada em 02/04/1925, com onome de Juizado de Menores. O CEJA - PR foi criado em 1983, com a inten o de ser um rg ofiscalizador da rea, sendo o terceiro do Brasil, ap s ele, foram criados mais 26 em diversos capitais dopa s.

381

familiar para que essa crian a ou adolescente possa ter a oportunidade de ser adotadoe ter uma outra fam lia.

Segundo a ju za DR L dia Mattos Guedes da 1 Vara de Curitiba (...) n o setira uma crian a dos pais por motivo de pobreza. A pobreza n o crit rio parainstitucionalizar uma crian a ou adolescente, mas sim os maus tratos, abandono,abuso .

Estigma e institucionaliza o

A institui o concorre para a estigmatiza o das crian as e adolescentes que

dela fazem parte, na medida em que imputam-lhes marcas tais como crian as

carentes , crian as abandonadas , crian as rebeldes , crian as-problemas , que vem

diferenci -las das demais crian as e adolescentes normais .

No trabalho de GOFFMAN (1975), observamos que o estigma se demonstra

como uma situa o do indiv duo que est inabilitado para a aceita o social plena , e

que acaba por refletir em seus atos ou na aus ncia destes, uma forma de culpa ou de

puni o pelos pecados seus ou dos outros. Uma das caracter sticas centrais da vida de

uma estigmatizado, s o as buscas pela aceita o .

O estigmatizado v -se e sente-se incapaz e inabilitado para uma aceita o social

plena. Este indiv duo atinge este estere tipo, quando for ado pelas exig ncias feitas

pelos que o cercam, de como ele deveria ser e agir, e sendo enquadrado como algu m

diferente do que se caracterizaria como normal , dentro da sociedade.

Percebe-se dentro do processo de ado o, tanto o estigma de adotivo como no

preconceito social da ado o. Ambos reafirmam o preconceito e alimentam a

estigmatiza o do adotado, medida que incidem sobre o n o-pertencimento a uma

fam lia e, de modo menos expl cito, a uma classe social, mas tamb m sobre o

desconhecimento relativo identidade do adotivo.

Em outras palavras, quando a sociedade ao categorizar os indiv duos pelos

atributos comuns e naturais entre os seus membros, faz, inconscientemente,

afirmativas de como o indiv duo deveria ser, a partir dessas compara es , que

podem surgir evid ncias que este indiv duo observado, tem atributos que o tornam

diferente dos outros que se encontram na mesma categoria. A partir de ent o, deixa-se

de v -lo como um comum e passa-se a v -lo como um inferior . Esses atributos

variaram dependendo dos estere tipos criados. O estigma acaba atuando sobre a

391

identidade social dos indiv duos e que consequentemente os transporta margem da

sociedade.

Observa-se atrav s do trabalho de GUIRADO (1980) que o jovem tratado

acentuadamente como um sujeito jur dio-penal: entrevistas com o menor , relat rio

social , encaminhamento adequado do caso , elabora o de parecer . Na pr tica d

para perceber como se concebia o atendimento crian a-menor na institui o e

tamb m como se concebia a pr pria no o de crian a-menor . Esta, vista pelos

funcion rios da institui o como um ser carente e pass vel de transforma o e com

poucas ou nenhuma caracter sticas pr prias.

Segundo GOFFMAN (1990: p 24), essa falta de individualidade se d tamb m

por parte do interno que acaba sistematicamente mudando o seu eu :

O novato chega ao estabelecimento com uma concep o de si mesmo que se tornou poss vel

por algumas disposi es sociais est veis no seu mundo dom stico. Ao entrar, imediatamente

despido do apoio dado por tais disposi es.(...) come a a passar por algumas mudan as radicais

em sua carreira moral, uma carreira composta pelas progressivas mudan as que ocorrem nas

cren as que t m a seu respeito e a respeito dos outros que s o significativos para ele.

Na pesquisa de WEBER (2002: p 51), que teve por objetivo identificar os

sentimentos das crian as institucionalizadas em rela o a seus pais biol gicos e suas

expectativas em rela o ao futuro, demonstra que h um certo conformismo para o

jovem frente a sua situa o de institucionalizado, aliado a um desejo de mudan a e

liberdade. Tais conflitos tendem a ser abafados pelo processo disciplinador da

institui o, que valoriza a obedi ncia e a submiss o . Vemos essa mesma perspectiva

em GUIRADO (1980: p 160) (...) essas crian as adquirem uma certa capacidade de

resist ncia e auto-defesa que as fazem sobreviver a evidentes condi es de sofrimento .

Essa barreira formada e concretizada tanto por funcion rios como pelos

pr prios internos acabam refletindo em um abismo com o mundo externo. A perda dos

la os sociais ser um fator significativo para esse indiv duo, visto que mais tarde com o

seu reingresso na sociedade, ele conseguir restaurar somente alguns pap is,

enquanto outros se demonstrar o como perdas irrecuper veis (GOFFMAN, 1990).Percebe-se que o tipo de institui o, das quais fazem parte os antigos orfanatos12,12 Ao fazer o tratamento de antigos orfanatos , estarei delimitando estes como anteriores ao Estatuto

da Crian a e do Adolescente, promulgado em 1990.

401

n o preparavam o jovem para a sua sa da na maior idade ou pela ado o e com umgrande agravante, pela sua estrutura o a institui o retirava deste jovem qualquertipo de possibilidade de integra o e intera o com a sociedade. O reflexo sedemonstrar na falta de preparo desses jovens para enfrentar um mundo onde ascondi es sociais se tornar o irreais para quem dele estava exclu do.

Institui es totais - orfanatos/educand rios

A preocupa o de in cio com o abrigo das crian as deserdadas da sorte ,

abandonadas e rf os, n o era somente dar-lhes um teto e alimento, mas tamb m

forma o religiosa, alfabetiz -los e ensinar-lhes uma arte de of cio. O que na realidade

refletia em m o-de-obra com boa qualifica o para a poca, m o-de-obra especializada

e civilizada , com forma o moral e religiosa e ordeira, como se desejava, e, torn -los

teis sociedade (SILVA, 1997; MATTA, 1999).

O ambiente institucional dos antigos orfanatos e educand rios, a partir do

C digo de Menores, se constitu a atrav s das normas imputadas por ele, refletia uma

extens o da entidade jur dica. Temos que o objetivo principal para essas institui es era

o de planejar e executar programas de atendimento integral ao menor carente,

abandonado ou infrator, fazendo cumprir as diretrizes da pol tica nacional do

bem-estar do jovem e tamb m da sociedade.

Se considerarmos as condi es f sicas do local destinado ao funcionamento

dessas institui es e suas formas de utiliza o nos remeteremos ao trabalho de

GOFFMAN (1990), que destaca esse tipo de grupo fechado com tend ncia ao

isolamento como institui es totalit rias ou institui o total. T m-se dentro dos

muros dessas institui es totais todos os variados aspectos da vida, ou seja,

engloba-se v rios procedimentos como resid ncia, trabalho, estudo, tudo em um mesmo

local, planejado, supostamente, para atender aos objetivos oficiais da institui o.Percebe-se a inflexibilidade deste tipo de institui o no relato de SILVA (1997: p164)13 A estrutura f sica da institui o determina o espa o, o lugar, a cama, a mesa e oassento que o interno passar a ocupar, estabelecendo total controle sobre o corpof sico, tanto do adulto como da crian a .

Se retrocedermos para a hist ria dos antigos orfanatos , veremos que a pol tica

da interna o dentro das institui es se dava de forma muito distinta da qual se

13 Estudo realizado sobre as condi es institucionais de atendimento s crian as rf s e abandonadas,em S o Paulo, sob a tutela do Estado, durante o per odo de vig ncia do governo militar. Trabalho quecontou com a an lise de 370 crian as precocemente institucionalizadas sendo que o autor se encontravaentre elas.

411

prop e o Estatuto atual. Tem-se, que a partir da coloca o feita pelos pais dos

motivos para o internamento, os assistentes sociais selecionavam os casos que

realmente necessitassem de interna o, estes, encaminhavam os pais e filhos para

outros projetos ou marcava novos retornos para novas entrevistas, raramente ocorria a

interna o de forma imediata, visto que a procura era grande e o n mero de vagas

limitado.

Com o internamento da crian a a m e recebia por alto algumas informa es

elementares como em que abrigo a crian a estaria e os dias de visita, entretanto (...) a

m e recebe pouqu ssimas informa es a respeito do que acontecer com seu filho, dos

locais de perman ncia e das possibilidades de remo o ou perman ncia (GUIRADO,

1980: p 57).

Nesta mesma linha, a da falta de di logo, temos que tamb m h restri es para a

transmiss o de informa es quanto aos planos dos dirigentes para os internos, estes

acabavam n o tendo conhecimento das decis es quanto ao seu destino e

consequentemente n o poderiam intervir sobre ele (GOFFMAN, 1990).

A ant tese do conformismo , nos apresenta por SILVA (1997: p 164), no

desenvolvimento de mecanismos de resist ncia ao processo da institucionaliza o.

No universo infantil, tais mecanismos, quando vistos por um observador externo,

podem apresentar-se como uma s rie de comportamentos e de atitudes logo tipificados

como rebeldia e indisciplina . Enquanto que para um adolescente o esfor o n o s

para defender suas particularidades (vaidades ou prefer ncias pessoais) mas, Ele

exercita sim sua capacidade de resist ncia para defender e preservar um conjunto de

valores adquiridos, sejam eles valores pr prios ou incorporados dentro da

institui o (1997: p 167).

Destacamos que no atendimento de crian as e adolescentes, os moldes dos

antigos orfanatos refletiam uma tentativa de organizar o trabalho, no qual se dar uma

certa previs o das atribui es de cada funcion rio e o tempo gasto com cada crian a.

De acordo com GOFFMAN (1990) e ALBUQUERQUE (1978: p 72), nessas

institui es totais h uma dist ncia social e uma clara divis o entre o grande grupo

controlado (internados) e o pequeno grupo que controla (dirigentes).

421

(...) como institui o uma estrutura de pr ticas institucionalizadas, isto , que tendem a se

reproduzir e se legitimar, definindo, portanto, uma institui o como estrutura, ela n o pode

existir, sen o na pr tica dos atores concretos que a constituem praticando-a. Dentre os atores

institucionais, cabe distinguir os agentes institucionais, o mandante, a clientela e o p blico, e o

contexto institucional.

Dentro da estrutura desse tipo de institui o havia certa rigidez refor ada no

tratamento desses jovens (clientela), onde a disciplina, a organiza o, o respeito, a

obedi ncia, a servilidade e a resigna o dos mesmos refor avam o lugar, a hierarquia e

o papel que cada um deveria manter frente a autoridade central (mandante), e onde

a sociedade (p blico) muitas vezes n o participa, s na percep o da a o institucional,

mas, podendo eventualmente, fazer parte da clientela.

O estabelecimento de um poder absoluto, ou seja, a exist ncia de um chefe

estabelecendo regras de controle tem a inten o de unir os membros imagem do

grupo que ele pr prio representa. O lugar dos adultos nitidamente demarcado,

estabelecendo um relacionamento baseado no respeito e na evita o , tendo como

objetivo evitar o conflito aberto, mantendo a rela o num n vel amig vel

Pela autoridade conferida a estes t cnicos, estes, acabam sendo os detentores de

um grande n mero de tens de conduta (comportamento, maneiras, roupas). Ao ser

incutida essa pr tica nos internos, principalmente os mais novos, estes sentem-se

acuados frente a tantos mandos e desmandos e pelas conseq ncias funestas quanto

desobedi ncia s regras; (...) qualquer pessoa da classe dirigente tem alguns direitos

para impor disciplina a qualquer pessoa da classe de internados, o que aumenta

nitidamente a possibilidade de san o (GOFFMAN, 1990: p 45).

Para que se tivesse fidelidade s normas estabelecidas pelo regimento, a

responsabilidade recaia sobre os membros que compunham a dire o e a administra o

das institui es no geral. Percebe-se que o perfil tra ado dos servidores, no in cio e

meados do s culo XX, beira uma forma de perfei o humana . Aspectos como

doutrina, disciplina, moralismo, postura, higiene e caridade deveriam ser o pr prio

exemplo do comportamento social desses funcion rios (MATTA, 1999).

Os funcion rios ao serem os respons veis pela administra o do cotidiano e vida

dos rf os, e por estarem em contato direto com os jovens , exigiam-se daqueles

431

virtudes morais , requisitos estes que se estendiam tamb m para os professores, cujo

plano de instru o deveria ser rigorosamente cumprido com relat rios semanais sobre a

educa o e o adiantamento dos colegiais. De todos se exigia o m ximo de empenho,

interesse compet ncia e responsabilidade perante as suas fun es. (MATTA, 1999).

Destacamos que o cargo de Censor foi especialmente criado para a manuten o

da ordem , visando inspecionar e dirigir as atividade e conduta dos rf os, conforme

MATTA (1999: p 71): Os observaria nas horas de estudo fora das aulas, recreio,

banho, comida ou passeio. Ele deveria ser o respons vel direto por manter a disciplina

da institui o . Percebe-se que para haver a necessidade de cria o deste cargo, a

institui o desejava uma maior vigil ncia e rigidez sobre os jovens internos, tanto

em rela o a sua postura f sica como mental.

Tamb m a hierarquia entre os alunos (delegada pelos professores) servia de

controle das atividades di rias dos institucionalizados. Estes tinham por obriga o

inspecionar os seus colegas , em qualquer parte onde estivessem, aconselhando-os a

cumprirem seus deveres de estudo. O trabalho de MATTA (1999: p 116), reflete a

grande dist ncia que se constru a entre a institui o e o interno, este com sua posi o

bem delineada:

Era tamb m claro que cada aluno deveria servir a si pr prio , sem jamais usar os empregados

do col gio. Arrumar camas, varrer aposentos, depositar lixo em local apropriado, vestir-se,

eram obriga es que o estudante deveria cumprir logo pela manh . Em seguida, esperava pelas

ordens do decuri o. Os alunos eram educados para a disciplina e mansid o; para se

acostumarem ao trabalho bra al e duro .

Orfanatos vs Casas-Lares

A institucionaliza o vista pelos pais como uma medida curto prazo, uma

maneira eficaz de assegurar o sustento e o disciplinamento dos jovens durante um certo

tempo. Mas estas circunst ncias excepcionais de pen ria (justifica o oficial da

interna o das crian as), s o, para muitas fam lias, n o-tempor rias, mas sim perp tuas,

e que pela omiss o do Estado para com estas fam lias para manter o filho junto a si,

acaba ocorrendo que 70% deles nunca recebem visita, e os outros 30% recebem

algumas visitas no in cio do internamento, mas que cessam mais tarde por completo

441

(WEBER e KOSSOBUDZKI, 1996: p 34).

A quest o da institucionaliza o pelo abandono ou pela destitui o dos pais, ou

por determina o jur dica, levam estes jovens a fazerem parte de uma forma de

exclus o social, sendo retirado deles as condi es b sicas para o exerc cio de sua

cidadania, ou seja, retira-se o contato com os v nculos com as institui es sociais como

a fam lia, a vizinhan a, a igreja, o clube, etc.

Se nos propusermos a observar melhor o Estatuto da Crian a e do Adolescente

(ECA) no que ele prop e ao sistema institucional para as crian as e adolescentes

abrigados e em referencia ao aspecto f sico da institui o veremos que a partir dele

houve uma prioridade nos desmonte dos grandes pr dios institucionais para pequenas

unidades residenciais.

A inten o formalizada do ECA, a de acolher a crian a ou jovem em situa o

de risco e dar-lhes um tratamento individualizado, personalizado e em pequenos

grupos, respeitando a preserva o dos v nculos familiares atrav s do

n o-desmembramento de grupos de irm os.

Para desenvolver os programas determinados pelo Estatuto (art. 92), as

institui es devem adotar v rios princ pios novos, inclusive, dando nfase nas

instala es f sicas, higiene, salubridade, seguran a, ou seja, em condi es adequadas

para a habita o. Entre alguns pontos que poder amos destacar, em contra-partida aos

C digos anteriores est o:

II - Integra o em fam lia substituta, quando esgotados os recursos de

manuten o na fam lia de origem;

V - N o-desmembramento de grupos de irm o;

VI - Evitar, sempre que poss vel, a transfer ncia para outras entidades de

crian as e adolescentes abrigados;

VII - Participa o na vida da comunidade local;

VIII - Prepara o gradativa para o desligamento.Na tentativa de seguir o que o ECA preconiza, houve a necessidade de umareestrutura o total das institui es que abrigavam esses jovens. As crian as eadolescentes antes institucionalizados em grandes orfanatos que chegavam a ter mais deuma centena de jovens, gradativamente14 passam a morar em novos projetos ou em

14 O processo de reformula o para se enquadrar dentro do que o ECA prop e, se deu maisacentuadamente a partir de 1998. O Instituto de Assist ncia Social do Paran (IASP) era o rg orespons vel pelos jovens dos educand rios do Estado, com a Lei de Municipaliza o (1989), estespassam a ser responsabilidade de cada prefeitura. Em muitos casos as prefeituras acabaram porassociar-se atrav s de conv nios com ONG's e com o pr prio governo estadual.

451

projetos reformulados, temos ent o as Unidades de Abrigo 15 Fam liasAcolhedoras e as Casas-Lares 16

V -se nessas novas diretrizes um refor o nos processos de integra o com a

comunidade, com a utiliza o de recursos externos dispon veis como escolas pr ximas,

postos de sa de, igrejas, reas de lazer e de recrea o. Essas atitudes acabam por

contrastar com a filosofia das institui es totalit rias, que pela sua atitude de

fechamento, barravam qualquer v nculo com o mundo exterior (GOFFMAN, 1990).

Na sua maioria, as entidades de atendimento se constituem como ONG'S ou por

pessoas volunt rias, que se disp em a trabalhar em parcerias com as prefeituras ou

outros rg os do Estado. O valor financeiro concedido para os projetos, segundo os

relatos, nunca o suficiente par sanar as necessidades b sicas das institui es, pois

al m do valor repassado para os projetos, referente a uma percapta por crian a (que

variar dependendo da idade do jovem, se beb valor menor, se adolescente valor

maior), h tamb m despesas com a estrutura administrativa, t cnica, al m de melhorias

necess rias aos programas.

Nos deteremos exemplificando a estrutura o social e familiar e a proposta de

atendimento das Casas-Lares. Pela experi ncia com esse modelo, h uma tentativa de

forjar um ambiente familiar para as crian as e adolescentes institucionalizados, sendo

que em muitos casos, essa ser a sua primeira experi ncia familiar . Dentro desse processo da constru o das casas-lares, faz-se necess rio pesquisar apartir do Estatuto o modo que se d s articula es dos seus artigos, que delegamamplos poderes17 para as entidades de atendimento, sejam elas governamentais oun o-governamentais. Segundo o ECA, entre as obriga es das entidades quedesenvolvem programas de interna o, destacamos (art. 94):

III - Oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos

reduzidos;

15A Funda o de Assist ncia Social de Curitiba (FAS), trabalha diretamente com as Unidades deAbrigo que conta com uma rede de institui es oficiais e outras conveniadas, destinadas a atendercrian as e adolescentes em situa o de risco , encaminhadas pelos Conselhos tutelares, SOS Crian a eo juizado. Veio substituir a Secretaria da Inf ncia, o que diferente deste, atende e orienta a crian a e oadulto da fam lia.

16As Unidades de Abrigos s o os primeiros locais onde os jovens s o encaminhados por recomenda ojudicial, como medida de prote o, por estarem vitimizadas, sofrendo maus tratos, abandono ouneglig ncia. A partir das Casas-Lares, est se concretizando outros modelos como a das Fam liasAcolhedores, que uma forma mais enxuta (2 ou 3 crian as) de institucionaliza o.

17 O Minist rio P blico e o Judici rio delegar o poderes desde que as entidades estejam cadastradasaos Conselhos Municipais dos Direitos da Crian a e do Adolescente da qual manter estreito contatojunto aos Conselhos Tutelares e s autoridades judici ria da respectiva localidade que far o afiscaliza o.

461

IV - Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao

adolescente;

XV - Informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situa o

processual;

XX - Manter arquivo de anota es onde constem data e circunst ncia do

atendimento, nome do adolescente, seus pais ou respons vel, parentes, endere os, sexo,

idade, acompanhamento da sua forma o, rela o de seus pertences e demais dados que

possibilitem sua identifica o e a individualiza o do atendimento.

Seguindo a id ia da constru o de novos modelos com novas condi es

institucionais , vemos elas serem asseguradas como uma nova perspectiva no art. 90 do

ECA - As entidades de atendimento s o respons veis pela manuten o das pr prias

unidades, assim como pelo planejamento e execu o de programas de prote o e

s cio-educativos destinados a crian a e adolescentes.

Com o gerenciamento ocorrendo dentro de cada entidade de atendimento,

estas tem uma maior autonomia para elaborar projetos, conseguir parcerias;

organizam-se atrav s das suas pr prias diretrizes em rela o a quais procedimentos

tomar que melhor ir sanar as necessidades do grupo e da institui o.

As informa es sobre as Casas-Lares foram tomadas em depoimentos no Projeto

RECRIAR e na Associa o ACRIDAS. necess rio que se fa am algumas ressalvas,

pois conforme apontamos anteriormente, as variadas formas de articula es ,

depender o dos moldes dados pelas coordena es e administra es das entidades de

atendimento; por se tratar de um projeto de mbito nacional (em muitos Estados ainda

est sendo estruturado), estes variar o de acordo com o contexto e com os atores que

deles participar o.As casas-lares s o unidades residenciais sob responsabilidade de m e e pai sociais18,que abrigam at no m ximo 10 crian as e adolescentes (tenta-se acomodar jovens deidades semelhantes), entre eles contar os filhos biol gicos do casal. O painecessariamente dever ter emprego, enquanto que a m e se dedicar a cuidar dascrian as ou dos adolescentes. Tenta-se com a perpetua o dos papeis, recriar o maistradicional poss vel o modelo familiar, em que o papel da m e abrigar e o do pai amanuten o da fam lia.

Nesse tipo de projeto os pais-sociais podem ser contratados 19, ou como no

18 Considera-se m e social aquela que, dedicando-se assist ncia da crian a ou adolescenteabandonado, exer a o encargo a n vel social, dentro do sistema de casas-lares, visando proporcionarcondi es familiares ideais ao seu desempenho e reintegra o social - Boletim IOB (Legisla oTrabalhista e Providenciaria), n. 3/88,Cad.TL.

19 Lei da M e Social, n 7.644, de 18 de dezembro de 1987 (sancionado pelo Pres. Jos Sarney). Leique regulamenta as atividades com profiss o, assegurando os seus direitos com: carteira assinada;remunera o (n o inferior ao sal rio m nimo); repouso semanal remunerado; trinta dias de f riasremuneradas; benef cios e servi os previdenci rios; 13 sal rio; INSS.

471

nosso exemplo s o volunt rios , pois segundo a Associa o, esta atividade n o vistocomo um emprego (apesar de alguns anos atr s os educadores terem tido registro emcarteira de trabalho, o que para hoje, por falta de recursos financeiros n o seriam maisposs vel).

Os pr -requisitos para serem pais-sociais, neste caso, ser o: terem estabilidadena uni o com mais de 10 anos, serem evang licos e seguirem as normas do Estatutopara os Pais-Sociais , que a Associa o fornece. Dentro de uma institui o total, comovisto por GOFFMAN (1990), s o essas mesmas normas , regras da casa que dar oum conjunto formal e explicito de proibi es e prescri es quanto conduta do interno.O que s v em a perturbar ou profanar as a es que na sociedade civil s o t o caras,como a autonomia e a liberdade de a o.

Entretanto, dentro das institui es acontecem ajustamentos internossecund rios , que s o pr ticas que n o desafiam diretamente a equipe dirigente, masque permitem que os internos consigam certos ganhos , o que poder acarretar dentrodo grupo formas de eleva o moral e de solidariedade (GOFFMAN, 1990; WEBER,M. 1974), independente desses ganhos serem limitados. Vemos no nosso exemplo,que h varia es de uma casa para a outra em referencia as regras , j que os pais,podem imprimir o seu jeito de dirigir a casa , sendo que em muitas vezes os jovensparticiparam do estabelecimento das normas.

Para o recrutamento dos pais-sociais/educadores (n o s o muitos os candidatos),eles passam por um processo seletivo. O perfil dos selecionados demonstra que eless o na sua maioria de Curitiba, sabem da vaga atrav s da igreja (por ser um dos locaisem que toda a fam lia participa, acaba acontecendo uma certa propaganda ), o n vels cio-econ mico baixo e a escolaridade tamb m baixa (h poucos casos de terem oensino m dio), tem em m dia 3 a 4 filhos, seus trabalhos acabam sendo servi oscomo os de vigias e oper rios. O contrato com esses pais, n o por per ododeterminado, h um termo de compromisso, que caso aja desist ncia a parte contr riatem que ser avisada com 30 dias de anteced ncia. Se o casal que vai embora, oprocedimento da Associa o o de tentar manter o grupo de crian as na mesma casa eencontrar outros pais-sociais. GOFFMAN (1990) aponta que dentro das institui es

h uma procura eterna para se atingir um objetivo oficial . Em muitos casos serindicado como a reforma dos internos como o padr o ideal a ser atingido, sendo queneste contexto tanto a equipe dirigente como os t cnicos e educadores dever o estarsintonizados para com os objetivos comuns.

As crian as e adolescentes em condi es de abrigo , por via de regra, s o todaspreviamente cadastradas pelo juizado, e as entidades s recebem jovens vindos pormeio de entidades conveniadas. Segundo relato, n o h fila de espera para oacolhimento nas casas-lares. Nessas casas-lares, os internos passam a dividir e aintegrar a rotina de uma fam lia normal . Desde repartir o p o com o irm o (atent o, dentro das grandes unidades havia o servi o de bandeij o , onde os internoseram servidos por funcion rios), at a administra o, junto com os pais-sociais, dodinheiro (percapta) referente a cada um.

Esta percapta por crian a abrigada , utilizada para o pagamento das suasdespesas como roupas, alimenta o, material escolar, lazer , sendo que todos os gastoss o acompanhados pela supervis o das notas fiscais, e, independente da n ocobran a de aluguel, gua e luz dos pais-sociais, estes acabam constantemente

481

inteirando - com o seu pr prio dinheiro - despesas extras da sua fam lia . Percebe-se que diferente do distanciamento que os dirigentes das institui es

totais tentam manter dos internos, essa nova abordagem das casas-lares, acabaaproximando os atores, com sentimentos de camaradagem, de preocupa o com o seu

bem-estar, de afei o. No esfor o de manterem-se unidos como fam lia , vemos queh uma tentativa dos pais-sociais, de criarem para si mesmos, uma imagem de pessoascompreensivas e bondosas; ser o controle emocional, perante as diversas situa es queregular as boas rela es entre os membros do grupo.

A partir dos 14, 15 anos, os adolescentes passar o por um processo gradual dedesligamento (segundo a institui o, depender da maturidade de cada um), passar o

para outro projeto onde n o haver mais pais sociais, mas atendentes. Neste novoabrigo (rep blica), o adolescente dever aprender a se virar sozinho (cozinhar, lavar,procurar emprego), pois segundo a entrevistada: Daqui, eles saem sozinhos, eles ter oque se virar sozinhos! Com rela o a est gios ou trabalho, nesta institui o n o hnenhuma forma de conv nios; o adolescente que ir determinar a sua profiss o, sendoque at a sua sa da o estudo ser obrigat rio.

No in cio do trabalho apontamos as novas mudan as institucionais como uma

forma da sociedade reparar e ajustar processos que n o estavam cumprindo o seu

papel perante a comunidade. A integra o na sociedade, de jovens institucionalizado,

que anteriormente, ao completar a sua maior idade (18 anos), e n o tendo tido a

oportunidade de serem adotados, e eram empurrados das institui es para dentro da

sociedade , acabava gerando um engrossamento na fatia de exclu dos , j que estes

n o se adaptar ao modelo ideal imposto pela legisla o e pela sociedade.

Em certa medida, atrav s do perfil imposto pelas casas-lares da socializa o em

fam lia e do tratamento da individualidade de cada jovem, tenta-se abrandar o

processo da institucionaliza o. Percebe-se que h efetivamente, uma tentativa da

pr pria sociedade em encontrar medidas para sanar defici ncias dentro do seu

sistema, que se demonstram nas variadas articula es pensadas para o ECA. Neste

momento, independente das a es n o estarem sendo colocadas em pr ticas em sua

forma integral, muitos segmentos da sociedade est o se mobilizando, o primeiro

passo. A sociedade j percebeu o problema.

CONCLUS O

491

O trabalho apresentado nestas p ginas, n o pretende solucionar problemas de

ordem social, econ mica, cultural, psicol gica ou pol tica, uma reflex o, cujo foco a

institucionaliza o da crian a e do adolescente, mas que vai muito al m deles. Abrange

a legisla o, o preconceito, o abandono , o estigma, a falta de oportunidades, e a

tentativa de diversas camadas da sociedade em driblar e moldar a sua realidade

social.

Buscamos atrav s da vida social da crian a dentro da hist ria e mais

explicitamente a do Brasil, perceber como a sociedade concebeu a no o de crian a e a

concebe hoje, atrav s das inst ncias jur dicas, estas que por fim ltimo, acabam por

regularem e definirem os destinos delas. Por meio dessa retrospectiva tentamos

apreender tra os que marcaram e marcam a hist ria da nossa na o. Sendo que a

interfer ncia do Estado na desprivatiza o da esfera dom stica se demonstrar como

um processo complexo e ainda inacabado.

O que fazer com os jovens abandonados ? Quem deve cuidar da crian a?

Quem pode adotar? Quem det m o p trio poder? Quem o respons vel , o tutor , o

guardi o ? De quem a responsabilidade do que deve ser feito? Quem pagar pelas

atitudes tomadas?

Este trabalho poder dar indica es de como esses problemas foram tratados

atrav s da responsabilidade historicamente assumida pela Fam lia, pela Igreja, pelo

Estado e pela Sociedade. As respostas ser o, em v rias medidas, apontadas neste

estudo, e depender da percep o de cada um frente ao que se prop e, j que h v rias

formas de entendimento e abordagem sobre a quest o. Entretanto, frente aos variados

comportamentos familiares, e por se tratar de diversas esferas da sociedade,

entendemos que relativizar perante as situa es, seriam as op es mais acertadas.

Ser em muitos casos a heran a social da crian a, obtida pela classifica o da

sua origem familiar, que determinar as variantes das responsabilidades. Os

bem-nascidos ter o a inf ncia garantida; os demais estar o sujeitos ao aparato

jur dico-assistencial destinado a educ -los ou corrig -los. Alguns ser o crian as e os

demais menores .

A protagonista desta hist ria foi a crian a-menor, denominada assim

501

juridicamente, e vista como a que necessitar de orienta o , assist ncia e

amparo ; e na qual a sociedade como um todo deveria definir o campo das

responsabilidades e das a es, indo desde a caridade, a filantropia, a assist ncia p blica

ou privada at a regulamenta o de cunho social ou penal.

Percebeu-se que situa es onde aparecem a pobreza, a inseguran a e a

estabilidade tanto emocional como profissional, passam a ser elementos quase que

invari veis para que as fam lias recorram a esses tipos de artif cios da interna o

como solu o para o problema-crian a .

Ao tratarmos, com algumas ressalvas, da legisla o relativa inf ncia, dando

nfase ao C digo Civil, aos C digos de Menores e ao Estatuto da Crian a e do

Adolescente, tentamos reconstruir um pouco das suas trajet rias para podermos

enfrentarmos o desafio que o tema instiga. Vemos que a proposta dos dois C digos de

Menores, de se dar um tratamento jur dico diferenciado a crian as e adolescentes com

o Estado vindo a ser chamado para intervir e mediar, demonstra uma tentativa de

reordenamento pela esfera da a o p blica (RIZZINI,1995).

Com o Estatuto da Crian a e do Adolescente, em vigor, vemos acontecer uma

ruptura com o sistema anterior. Surgem mudan as significativas no cen rio social e

pol tico do pa s, refletindo a emerg ncia de outro movimento em torno da inf ncia,

contando desta vez com a participa o de diversos segmentos da sociedade civil. s a

partir dele que a cidadania da crian a e do adolescente passam a fazer parte nos

discursos e nas agendas dos atores pol ticos.

Ao confrontarmos as novas normas institu das pelo ECA, com as delegadas nos

antigos orfanatos e educand rios - institui es totais (GOFFMAN 1990), vimos que

os seus princ pios hier rquicos que demarcam posi es e status social de cada um dos

atores. A vida era administrada pelos funcion rios em atitudes de vigil ncia e de

reprodu o da estrutura social, sendo que a pr pria institui o diferenciava as suas

crian as das demais normais na tentativa de sociabiliz -las segundo o modelo

dominante. Nestes casos as atividades s o coletivas e programadas em todas as fases, as

crian as e jovens acabavam por levar uma vida enclausurada, an nima e administrada

rigidamente.

No exemplo das casas-lares, percebe-se nestas uma maior autonomia dos

511

pais-sociais para o gerenciamento e constru o do cotidiano junto aos seus filhos .

Pela quantidade menor de internos , h a tentativa de busca de uma maior

individualidade para com os jovens. Uma nfase para a sociabiliza o destes junto a

comunidade, (igreja, escola), visando principalmente a sua integra o na sociedades

para mais tarde a sua sa da . Entretanto, n o se pode deixar de lembrar que as

casas-lares continuam sendo institui es, e que apesar dos pais-sociais n o serem

empregados, mas sim volunt rios , estes acabam por ter que responder a crit rios,

normas e regimentos previamente estabelecidos, o que por extens o, acabar por refletir

nos seus filhos .

Percebemos no decorrer deste estudo, como os la os de sangue acabam por

delegar na crian a uma identidade n o s biol gica, mas tamb m uma identidade social

pr via. O sangue passa a influenciar nas atitudes sociais e culturais dos indiv duos

demonstrando o seu poder enquanto fornecedor de identidade, o que perante a

sociedade ser algo normal e imut vel em detrimento ao processo da ado o que

tender a ser percebido como uma miscegena o da heran a biol gica, cultural e social

do passado obscuro da crian a juntamente com a dos pais atuais.

Pelo preconceito que encontramos frente ao processo da ado o, principalmente

com crian as consideradas velhas (com mais de 2 anos), e independente de

percebermos uma corrente jur dica tentando uma abordagem mais otimista (talvez para

influenciar uma abertura maior frente aos poss veis adotantes ), esta impureza

biol gica, social e cultural poderia vir a ser a respons vel por categorizar perante a

sociedade, de forma mais baixa, a fam lia adotiva do que a da fam lia natural , e

consequentemente os adotantes e os adotivos seriam mais desprestigiados e teriam

uma delega o menor no status familiar.

Apontamos a circula o de crian as entre parentes e conhecidos , e para a

situa o que os pais passam a perceber as institui es como um recurso a curto prazo,

como maneiras eficazes de se assegurar o sustento e o disciplinamento dos jovens

durante os tempos dif ceis , e que estas medidas passam a ter e ser uma

complementa o corriqueira vida familiar. Dentre estas solu es para o problema

do que fazer com os filhos, tamb m podemos incluir a ado o brasileira (apesar da

ilegalidade ), como uma transfer ncia entre as partes, para suprimir defici ncias

521

(de variados graus) entre ambos os casais contratados.

Quando tratamos da ado o, percebemos ser um grande sistema que abrange em

seu seio o preconceito, o estigma, as virtudes morais , juntamente com as m ltiplas

conseq ncias sociais da legisla o. Quando a legisla o brasileira decreta a cess o dos

v nculos entre os genitores e seus filhos, ressalta os nobres gestos dos pais adotivos e

os privilegia, em contrapartida a exclus o total (perante a Lei) dos pais genitores.

Os pais biol gicos, ao n o refletirem um padr o de fam lia nuclear ou normal,

s o percebidos pelos de fora como desestruturados . S o os p rias da sociedade

(pobres, m es solteiras, desempregados), que ao n o poderem oferecer ou manter o

bem-estar das crian as acabam sendo moralmente conden veis . Como apontamos no

decorrer do estudo, pelas v rias facetas e articula es que se d o nesse meio, dar

uma crian a, para esses pais, tem significado diferente do que os percebidos pelos

legisladores.

Ao longo desta reflex o percebeu-se que em muitos casos os aspectos

burocr ticos e jur dicos-legais acabam ecoando como grande impedimento, inclusive

para a ado o de crian as e adolescentes. D -nos a impress o de que tanto os Direitos

Humanos, o ECA, o C digo Civil e at a pr pria Constitui o em suas formas abstratas

e descontextualizadas, pouco significam, independente de serem bem-intencionadas,

mas que acabam embrenhadas em determinadas estruturas de significa o que n o

correspondem necessariamente realidade vivida das classes que realmente

utilizam-se dessas Leis.

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WEBER, Lidia N. D. (2002) La os de ternura - pesquisa e hist rias de ado o. 2 ed.Curitiba: Juru Editora.

WEBER, Max. (1974) Ensaios de sociologia; e outros escritos. In: Os pensadores. S oPaulo: Editora Abril Cultural.

ANEXO I

ESTATUTO DA CRIAN A E DO ADOLESCENTE (ECA) - lei 8069 de 13/07/1990CAP TULO III - DO DIREITO CONVIV NCIA FAMILIAR E COMUNIT RIA

SE O I - DISPOSI ES GERAIS

Art. 19 - Toda crian a ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua fam lia eexcepcionalmente, em fam lia substituta, assegurada a conviv ncia familiar e comunit ria, em ambientelivre da presen a de pessoas dependentes de subst ncias entorpecentes.

Art. 20 - Os filhos, havidos ou n o da rela o do casamento, ou por ado o, ter o os mesmos direitos equalifica es, proibidas quaisquer designa es discriminat rias relativas filia o.

Art. 21 - O p trio poder ser exercido, em igualdade de condi es, pelo pai e pela m e, na forma doque dispuser a legisla o civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discord ncia,recorrer autoridade judici ria competente para a solu o da diverg ncia.

Art. 22 - Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educa o dos filhos menores, cabendo-lhesainda, no interesse destes, a obriga o de cumprir e fazer cumprir as determina es judiciais.

Art. 23 - A falta ou a car ncia de recursos materiais n o constitui motivo suficiente para a perda ou asuspens o do p trio poder. Par grafo nico - N o existindo outro motivo que por si s autorize a decreta o da medida, a crian aou o adolescente ser mantido em sua fam lia de origem, a qual dever obrigatoriamente ser inclu da

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em programas oficiais de aux lio. Art. 24 - A perda e a suspens o do p trio poder ser o decretadas judicialmente, em procedimentocontradit rio, nos casos previstos na legisla o civil, bem como na hip tese de descumprimentoinjustificado dos deveres e obriga es a que alude o Art. 22.

SE O II - DA FAM LIA NATURAL

Art. 25 - Entende-se por fam lia natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seusdescendentes.

Art. 26 - Os filhos havidos fora do casamento poder o ser reconhecidos pelos pais, conjunta ouseparadamente, no pr prio termo de nascimento. Por testamento, mediante escritura ou outrodocumento p blico, qualquer que seja a origem da filia o. Par grafo nico - O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe aofalecimento, se deixar descendentes.

Art. 27 - O reconhecimento do estado de filia o direito personal ssimo, indispon vel eimprescrit vel, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restri o,observado o segredo de Justi a.

SE O III - DA FAM LIA SUBSTITUTASubse o I - Disposi es Gerais

Art. 28 - A coloca o em fam lia substituta far-se- mediante guarda, tutela ou ado o,independentemente da situa o jur dica da crian a ou adolescente, nos termos desta Lei.

1 - Sempre que poss vel, a crian a ou adolescente dever ser previamente ouvido e a sua opini odevidamente considerada.

2 - Na aprecia o do pedido levar-se- em conta o grau de parentesco e a rela o da afinidade ou deafetividade, a fim de evitar ou minorar as conseq ncias decorrentes da medida.

Art. 29 - N o se deferir coloca o em fam lia substituta a pessoa que revele, por qualquer modo,incompatibilidade com a natureza da medida ou n o ofere a ambiente familiar adequada.

Art. 30 - A coloca o em fam lia substituta n o admitir transfer ncia da crian a ou adolescente aterceiros ou a entidades governamentais ou n o-governamentais, sem autoriza o judicial.

Art. 31 - A coloca o em fam lia substituta estrangeira constitui medida excepcional, somenteadmiss vel na modalidade de ado o.

Art. 32 - Ao assumir a guarda ou a tutela, o respons vel prestar compromisso de bem e fielmentedesempenhar o encargo, mediante termo nos autos.

Subse o II - Da guarda

Art. 33 - A guarda obriga presta o de assist ncia material, moral e educacional crian a ouadolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.

1 - A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ouincidentemente, nos procedimentos de tutela e ado o, exceto no de ado o por estrangeiros.

2 - Excepcionalmente, deferir-se- a guarda, fora dos casos de tutela e ado o, para atender asitua es peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou respons vel, podendo ser deferido o direito derepresenta o para a pr tica de atos determinados.

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3 - A guarda confere crian a ou adolescente a condi o de dependente, para todos os fins e efeitosde direito, inclusive previdenci rios.

Art. 34 - O Poder P blico estimular , atrav s de assist ncia jur dica, incentivos fiscais e subs dios, oacolhimento, sob a forma de guarda, de crian a ou adolescente rf o ou abandonado.

Art. 35 - A guarda poder ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvidoo Minist rio P blico.

Subse o III - Da tutela

Art. 36 - A tutela ser deferida, nos temos da lei civil, a pessoa de at vinte e um anos incompletos. Par grafo nico - O deferimento da tutela pressup e a pr via decreta o da Perda ou suspens o dop trio poder e implica necessariamente o dever de guarda.

Art. 37 - A especializa o de hipoteca legal ser dispensada, sempre que o tutelado n o possuir bens ourendimentos ou por qualquer outro motivo relevante. Par grafo nico - A especializa o de hipoteca legal ser tamb m dispensada se os bens, porventuraexistentes em nome do tutelado, constarem de instrumento p blico, devidamente registrado no registrode im veis, ou se os rendimentos forem suficientes apenas para a manten a do tutelado, n o havendosobra significativa ou prov vel.

Art. 38 - Aplica-se destitui o da tutela o disposto no Art. 24.

Subse o IV - Da ado o

Art. 39. A ado o de crian a e de adolescente reger-se- segundo o disposto nesta lei.Par grafo nico. vedada a ado o por procura o.

Art. 40. O adotando deve contar com, no m ximo, 18 (dezoito) anos data do pedido, salvo se jestiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.

Art. 41. A ado o atribui a condi o de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusivesucess rios, desligando-o de qualquer v nculo com pais e parentes, salvo os impedimentosmatrimoniais.& 1 . Se um dos c njuges ou concubinos adota o filho do outro, mant m-se os v nculos de filia oentre o adotado e o c njuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.& 2 . rec proco o direito sucess rio entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes,descendentes e colaterais at o 4 grau, observada a ordem de voca o heredit ria.

Art. 42. Podem adotar os maiores de 21 (vinte e um) anos, independentemente do estado civil.& 1 . N o podem adotar os ascendentes e os irm os do adotando.& 2 . A ado o por ambos os c njuges ou concubinos poder ser formalizada, desde que um delestenha completado 21 (vinte e um) anos de idade, comprovada a estabilidade da fam lia.& 3 . O adotante h de ser, pelo menos, 16 (dezesseis anos mais velho do que o adotando.& 4 . Os divorciados e os judicialmente separados poder o adotar conjuntamente, contanto queacordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o est gio de conviv ncia tenha sido iniciadona const ncia da sociedade conjugal.& 5 . A ado o poder ser deferida ao adotante que, ap s inequ voca manifesta o de vontade, vier afalecer no curso do procedimento, antes de prolatada a senten a.

Art. 43. A ado o ser deferia quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se emmotivos leg timos.

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Art. 44. Enquanto n o der conta de sua administra o e saldar o seu alcance, n o pode o tutor ou ocurador adotar o pupilo ou o curatelado.

Art. 45. A ado o depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.& 1 . O consentimento ser dispensado em rela o crian a ou adolescente cujos pais sejamdesconhecidos ou tenham sido destitu dos do p trio poder.

& 2 . Em se tratando de adotando maior de 12 (doze) anos de idade ser tamb m necess rio o seu

consentimento.

Art. 46. A ado o ser procedida de est gio de conviv ncia com a crian a ou adolescente, pelo prazoque a autoridade judici ria fixar, observadas as peculiaridades do caso.& 1 . O est gio de conviv ncia poder ser dispensado se o adotando n o tiver mais de 1 (um) ano deidade ou se, qualquer que seja a sua idade, j estiver na companhia do adotante durante temposuficiente para se poder avaliar a conveni ncia da constitui o do v nculo.& 2 . Em caso de ado o por estrangeiro residente ou domiciliado fora do Pa s, o est gio deconviv ncia, cumprido no territ rio nacional, ser de no m nimo 15 (quinze) dias para crian as de at 2(dois) anos de idade, e de no m nimo 30 (trinta) dias quando se tratar de adotando acima de 2 (dois)anos de idade.

Art. 47. O vinculo da ado o constitui-se por senten a judicial, que ser inscrita no registro civilmediante mandado do qual n o se fornecer certid o.& 1 . A inscri o consignar o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.& 2 . O mandado judicial, que ser arquivado, cancelar o registro original do adotado.& 3 . Nenhuma observa o sobre a origem do ato poder constar nas certid es de registro.& 4 . A crit rio da autoridade judici ria, poder ser fornecida certid o para a salvaguarda de direitos.& 5 . A senten a conferir ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poder determinar amodifica o do prenome.& 6 . A ado o produz seus efeitos a partir do transito em julgado da senten a, exceto na hip teseprevista no Art. 42, & 5 ., caso em que ter for a retroativa data do bito.

Art. 48. A ado o irrevog vel.

Art. 49. A morte dos adotantes n o restabelece o p trio poder dos pais naturais.

Art. 50. A autoridade judici ria manter , em cada comarca ou foro regional, um registro de crian as eadolescentes em condi es de serem adotados e outro de pessoas interessadas na ado o.& 1 . O deferimento da inscri o dar-se- ap s pr via consulta aos rg os t cnicos do Juizado, ouvidoo Minist rio P blico.& 2 . N o ser deferida a inscri o se o interessado n o satisfizer os requisitos legais, ou verificadaqualquer das hip teses previstas no Art. 29.

Art. 51. Cuidando-se do pedido de ado o formulado por estrangeiro residente ou domiciliado fora doPa s, observar-se- o disposto no Art. 31.& 1 . O candidato dever comprovar, mediante documento expedido pela autoridade competente dorespectivo domic lio, estar devidamente habilitado `a ado o, consoante s leis do seu pa s, bem comoapresentar estudo psicossocial elaborado por ag ncia especializada e credenciado no pa s de origem.& 2 . A autoridade judici ria, de of cio ou a requerimento do Minist rio P blico, poder determinar aapresenta o do texto pertinente legisla o estrangeira, acompanhado de prova da respetiva vig ncia.& 3 . Os documentos em l ngua estrangeira ser o juntados aos autos, devidamente autenticados pelaautoridade consular, observados os tratos e conven es internacionais, e acompanhados da respetivatradu o, por tradutor p blico juramentado.& 4 . Antes de consumada a ado o n o ser permitida a sa da do adotando do territ rio nacional.

Art. 52. A ado o internacional poder ser condicionada a estudo pr vio e an lise de uma comiss o

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estadual judici ria de ado o, que fornecer o respectivo laudo de habilita o para instruir o processocompetente.Par grafo nico. Competir comiss o manter registro centralizado de interessados estrangeiros emado o.

ANEXO IIQUEM PODE ADOTAR DE ACORDO COM A LEI E OUTRAS D VIDAS

QUEM PODE ADOTAR:Qualquer pessoa maior de 21 anos pode adotar uma crian a ou um adolescente. Oestado civil n o importa. Ela pode ser solteira, casada, divorciada ou legalmenteseparada.Os ascendentes (av s por exemplo) n o podem adotar seus descendentes.O adotante (aquele que adota) tem de ser, pelo menos, 16 anos mais velho do que oadotado.Se um c njuges ou concubinos adota o filho do outro, mant m-se os v nculos defilia o entre o adotado e o c njuge ou concubino do adotante e os respectivosparentes.Os c njuges ou concubinos, em conjunto, desde que um deles seja maior de 21 anose comprovada a estabilidade da fam lia.Os divorciados ou separados judicialmente, em conjunto, desde que acordem sobrea guarda e o regime de visitas e desde que o est gio de conviv ncia haja sidoiniciado na const ncia haja sido iniciado na const ncia da sociedade conjugal.Tutor ou curador, desde que encerrada e quitada a administra o dos bens do pupiloou curatelado.O requerente da ado o falecido no curso do processo, antes de prolatada a senten ae desde que haja manifestado sua vontade em vida.Fam lia estrangeira residente ou domiciliada fora do Brasil.

QUEM PODE SER ADOTADO:A crian a ou adolescente que vai ser adotado (adotando) deve Ter, no m ximo, 18anos de idade, data do pedido de ado o e independentemente de situa o jur dica.Pessoa maior de 18 anos que j estivesse sob a guarda ou tutela dos adotantes.Maiores de 18 anos, nos termos do C digo Civil.

CONDI ES PARA ACEITA O DO PEDIDO DE ADO O:Preenchimento dos requisitos.A ado o deve apresentar reais vantagens para o adotando e fundamentar-se em

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motivos leg timos.Consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, dispensando quandoforem desconhecidos ou tenham sido destitu dos do p trio poder.Se o adotante for maior de 12 anos, ele tamb m ter de concordar com sua pr priaado o.Cumprimento de est gio de conviv ncia pelo prazo que o juiz fixar, ou seja, umtempo para que o adotante e o adotado se conhe am bem. Esse est gio deconviv ncia pode ser dispensado se o adotado (adotando) n o tiver mais de um anode idade ou se, qualquer que seja a idade, o jovem j estiver na companhia doadotante durante muito tempo.

CONSEQ NCIAS JUR DICAS DA ADO O:Cria v nculo de paternidade.Extingue o p trio poder dos pais biol gicos.Extingue os v nculos de filia o e parentesco do adotado com sua fam lia deorigem, mantendo os impedimentos matrimoniais.Concede plenitude de direitos sucess rios, inclusive quanto aos descendentes doadotado em rela o aos seus ascendentes.O adotado passa ater todos os direitos e deveres do filho, inclusive o direito deheran a.O v nculo da ado o, isto , a oficializa o da ado o, constitui-se por senten ajudicial.A morte dos adotantes n o devolve o p trio poder aos pais naturais.Concede ao adotado o nome de fam lia adotante, que poder requerer mudan a deprenome.O registro de nascimento do filho adotivo id ntico ao filho biol gico. Ap s aado o n o poder constar em nenhum documento da crian a adotiva qualquerobserva o sobre o fato. Sob todos os aspectos, n o poder haver distin o entre ofilho biol gico e o adotivo.

irrevog vel, ou seja, n o pode ser anulada.

DOCUMENTOS PARA HABILITA O:Requerimento ao Juiz da Inf ncia e da Juventude.Certid o de Nascimento ou Certid o de Casamento, de acordo com o estado civil.C pia da Carteira de Identidade.Comprova o de Idoneidade Moral.Atestado de Sanidade F sica e Mental. Comprovante de Renda (fotoc pia do contracheque do casal).Comprova o de Resid ncia ( fotoc pia da conta de energia el trica, gua outelefone em nome do casal).Certid o Negativa ou Folha Corrida Judici ria.Estudo Social Oficial.FotografiasTodos os documentos em fotoc pias dever o ser autenticados.Onde se informar sobre a crian a para adotar: nos Juizados da Inf ncia e daJuventude de todo o pa s.

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Direitos iguais(igualdade decondi es comos filhosconsang neos)

a) Simples:idem

b) Plena:direitosiguais

IdemSe for filhonico, o adotado

herda tudo. Seao tempo daado o osadotantes j t mfilhos, o adotadonada herda. Seh filhossupervenientes ado o, oadotado terdireito metadedo que couber aofilho leg timo.

S pessoas semprole leg timat m direito aadotar filhos. Sepermanecer filho

nico, o adotadoherdaintegralmente.Havendo filhosleg timossupervenientes ado o, oadotado terdireito metadedo que couber aofilho leg timo.

Heran a

Substitutiva(integra o totaldo adotando nanova fam lia)

a) Simples:aditiva

b) Plena:substitutiva

Substitutiva(cessa liga ocom fam liaconsang nea)

AditivaAditiva (parentesco civilcriado entreadotante eadotado semromper v nculocom fam liaconsang nea)

Filia o

Irrevog vela) Simples:aditiva

b) Plena:irrevog vel

Irrevog velRevog velRevog velPerman ncia

1616161618 anosDiferen a deidade

187(plena)18 (simples)

7Sem restri oSem restri oIdade doadotando

2130303050 anosIdade m nima doadotante

19901979196519571916Ano delegisla o

ECAC digo deMenores

Legitima oAdotiva (4.655)

Lei 3.133C digo CivilLegisla o

Fonte: WEBER, 2002: p 207-208.

ANEXO III

EVOLU O DA LEGISLA O BRASILEIRA SOBRE ADO O

Fonte: FONSECA, 2002: p 121.

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LUCIANNE SCHEIDT

REFLEX ES SOBRE AS CONDI ES INSTITUCIONAIS DE CRIAN AS EADOLESCENTES RF OS OU ABANDONADOS

Monografia apresentada para

obten o do t tulo de

Bacharelado no Curso de

Ci ncias Sociais, no Setor de

Ci ncias Humanas, Letras e

Artes, Universidade Federal do

Paran .

Orientador: Prof. Dr. Pedro

Rodolfo Bod de Morais

Curitiba2004

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