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LUCIANNE SCHEIDT
REFLEX ES SOBRE AS CONDI ES INSTITUCIONAIS DE CRIAN AS EADOLESCENTES RF OS OU ABANDONADOS
Monografia apresentada para
obten o do t tulo de
Bacharelado no Curso de
Ci ncias Sociais, no Setor de
Ci ncias Humanas, Letras e
Artes, Universidade Federal do
Paran .
Orientador: Prof. Dr. Pedro
Rodolfo Bod de Morais
Curitiba2004
LUCIANNE SCHEIDT
1 1
REFLEX ES SOBRE AS CONDI ES INSTITUCIONAIS DE CRIAN AS EADOLESCENTES RF OS OU ABANDONADOS
Monografia apresentada para
obten o do t tulo de
Bacharelado no Curso de
Ci ncias Sociais, no Setor de
Ci ncias Humanas, Letras e
Artes, Universidade Federal do
Paran .
Orientador: Prof. Dr. Pedro
Rodolfo Bod de Morais
Curitiba2004
AGRADECIMENTOS
2 1
Gostaria de agradecer a todos as pessoas que de um jeito ou de outro fizeram e
fazem parte da minha vida. Pois se hoje chego a concluir este trabalho e este curso,
neles h um pouco de cada um que passou por mim e que deixou algo encrostado na
minha vida (esta uma das primeiras li es que se internaliza das Ci ncias Sociais:
somos todos produtos e produtores, e a socializa o o permanente aprendizado das
rela es que os homens estabelecem entre si).
Desta mesma forma gostaria de incluir aqui, agradecimentos ao meu orientador
Professor Dr. Pedro Rodolfo Bod de Morais; aos professores de quem tive aulas, que
de uma forma ou de outra me ensinaram muitas coisas, desde colocar os pensamentos
em ordem at os exemplos de como n o ser como professor. Mas percebo que o maior
dos ensinamentos que levo ser sem d vida o de tirar os v us , saber e querer
conhecer mais e ter a oportunidade de poder passar isso adiante.
Tamb m quero incluir aqui o meu muito obrigada pela ajuda e paci ncia dos meus
entrevistados/informantes, pois para que este estudo se concretizasse a ajuda deles foi
essencial! Obrigada pelo entusiasmo e pela perseveran a colega Eliane do Projeto
Recriar - Fam lia e Ado o; Obrigada pela ajuda e paci ncia de voc s Rossana L.
Pereira de Souza e Regina N. Souza Mendes da ACRIDAS - Associa o Crista de
Assist ncia Social; Muito Obrigada Ant nia Penhalver do FAS - Funda o de
Assistencia Social, por contar um pouquinho do trabalho de voc s; do CEJA -
Comiss o Estadual Judici ria de Ado o, quero muito agradecer a Jane Pereira Prestes
que n o s me acolheu com o maior carinho, como abriu com suas dicas v rias
janelas...; Dentro do Juizado da Inf ncia e do Adolescente tamb m agrade o nas
pessoas de Neusa Maria dos Santos (1 Vara) por ter parado tudo e me dado sua
aten o; Obrigada Dr L dia Mattos Guedes por seus 5 minutos (que se tornaram 40,
numa 6 -feira depois do expediente); agrade o tamb m ao Dr. Fabian Schweitzer que
apesar de falar linguagem jur dica , me deu no in cio deste trabalho, v rios pontos
para reflex o.
M e, quase imposs vel n o ficar chata em um curso como este, acho que suas
previs es se concretizaram... mas sei que voc me ama de qualquer jeito!
Valeu pai, por fazer parte da minha vida (mesmo de longe), me escutando e me
ajudando com os seus relatos de como aconteceram as coisas no passado .
3 1
Meninas, Flor, Mel, D , V - realmente voc s s o campe s! Me ag entarem
durante as pocas de provas e na tens o da monografia, n o para qualquer um...
Julia, s por ter te conhecido e pela grande amizade, o curso j valeu!
Tia Aim e e tia Iara a LUZ de voc s foi de primeira, posso dizer que foi o
empurr o que eu precisava... Obrigada!
Muito obrigada meu querido Valmir pela for a, pela paci ncia e pelo amor,
apesar de nossas diverg ncias de pensamentos e opini es, brigamos s um pouquinho,
nada que n o se superava (com outra discuss o!).
Meu amorzinho LUCA, obrigada, pelas poucas vezes que voc atendeu a tia Lu
( que precisava de um pouco de paz) e ficou quietinho...
SUM RIO
RESUMO -------------------------------------------------------------------------------------06
INTRODU O -----------------------------------------------------------------------------07
CAP TULO I - ADO O ----------------------------------------------------------------10
A vida social da crian a na hist ria -------------------------------------------------------13
4 1
A vida social da crian a no Brasil ---------------------------------------------------------16
CAP TULO II - INST NCIA JUR DICA ---------------------------------------------18
Primeiro C digo de Menores --------------------------------------------------------------18
Segundo C digo de Menores --------------------------------------------------------------20
Estatuto da Crian a e do Adolescente - ECA -------------------------------------------22
A ado o na legisla o brasileira ---------------------------------------------------------23
Ado o brasileira --------------------------------------------------------------------------25
Circula o de crian as ----------------------------------------------------------------------26
Entrega ou abandono ---------------------------------------------------------------------28
Idade biol gica e idade social --------------------------------------------------------------30
Poder Familiar -------------------------------------------------------------------------------33
CAP TULO III - INSTITUI ES --------------------------------------------------------------36
Assistencialismo como salva o das almas -------------------------------------------38
Motivos para a institucionaliza o --------------------------------------------------------39
Categorias de classifica o -----------------------------------------------------------------40
A a o jur dica -------------------------------------------------------------------------------42
Estigma e institucionaliza o --------------------------------------------------------------44
Institui es totais - orfanatos/educand rios ---------------------------------------------46
Orfanatos vs Casas-Lares -------------------------------------------------------------------51
CONCLUS O -------------------------------------------------------------------------------58
REFER NCIA BIBLIOGR FICA--------------------------------------------------------62
ANEXO I -------------------------------------------------------------------------------------65
ANEXO II ------------------------------------------------------------------------------------69
ANEXO III -----------------------------------------------------------------------------------71
RESUMO
Veremos neste estudo, algumas das formas encontradas pela sociedade
juntamente com as do aparelho jur dico, a partir do s culo XIX, para tentar sanar
problemas encontrados em refer ncia a crian a e o adolescente rf o ,
abandonado , pobre , delinq ente , desajustado social , que destoam do cen rio
5 1
supostamente harm nico da sociedade.
A situa o irregular desses jovens, do ponto de vista jur dico, social ou
familiar, ser o ponto de partida para a busca das solu es . A institucionaliza o das
crian as e adolescentes, que ter como orientador o Estado e os C digos de Leis, ser
o caminho encontrado, na tentativa de resolver a constante situa o de pen ria, mis ria
da fam lia e a falta de moralidade dos pais, sem perder de vista o objetivo principal
alegado: o de proteger a inf ncia (e a sociedade).
Nas muitas varia es dos discursos, encontram-se programas espec ficos para
proteger, recuperar e disciplinar o jovem institucionalizado, sendo que estes, passam a
acarretar o preconceito da sociedade e o estigma no jovem; no caso da ado o h um
agravante, os mitos dos la os biol gicos sobrepor o s concep es da constru o
social e cultural do indiv duo. Apontaremos as atuais casas-lares , em contrapartida
com os antigos orfanatos, como exemplo das respostas encontradas pela sociedade
para os seus problemas .
Palavras-chave: institucionaliza o, ado o, sociedade, a o jur dica
INTRODU O
O princ pio que motivou esse estudo sobre a institucionaliza o de crian as e
adolescentes, com nfase na ado o, foi a mudan a que se deu no perfil dos velhos
orfanatos para as atuais Casas-Lares.
Essas mudan as foram percebidas como uma forma de ajuste da sociedade
6 1
para com o jovem institucionalizado, uma forma de reparar o que n o estava dando
certo. Foi pensada por n s, como um processo da sociedade utilizando-se de
mecanismos criados por ela pr pria para sanar defici ncias dentro do seu sistema,
ou seja, uma articula o ou uma remodela o da sociedade com o prop sito de
abracar uma fatia de exclu dos que n o estavam se adaptando ao modelo ideal
imposto pela sociedade e pela legisla o.
Este estudo est dividido em tr s cap tulos, sendo que o cap tulo I tratar do tema da
Ado o, de como ela percebida na sociedade brasileira. O que motivou e motiva
casais a adotarem, a influ ncia e a cobran a familiar pela falta de filhos .
Apontaremos para os valores dados aos la os de sangue , e como este ultrapassa a
esfera biol gica e atinge as rela es sociais e culturais de alguns grupos.
Para se entender determinados nuances em rela o ao tratamento dispensado
para a crian a, voltaremos na hist ria para compreendermos a no o social que se
desenvolveu em torno dela, desde a invisibilidade da crian a perante a sociedade,
at o seu aparecimento a partir do s culo XVI, quando surge, variados
procedimentos de como moldar n o s as suas atitudes morais, como tamb m o seu
comportamento f sico. Buscaremos no Brasil tamb m essa no o social da crian a,
sendo que at o s culo XIX , n o havia diferencia o entre crian a e adulto pobre, as
poucas pr ticas existentes estavam voltadas somente para a higieniza o e para a
caridade. Em uma fase mais tarde, veremos a inten o pol tica frente a essa crian a
com medidas de abrigo e de disciplinamento.
Demonstraremos a partir do cap tulo II - A Inst ncia Jur dica - de como foi forjada
juridicamente o termo menor , e a tend ncia da centraliza o e do controle
governamental para a assist ncia infantil. Expomos a generaliza o efetuada do ponto
de vista jur dico, como situa o irregular , a todas as crian as e adolescentes pobres,
em que os problemas dos pais (mis ria, pen ria), passam a serem vistos como falta
de moralidade .
Tomaremos contato com a senten a de menor irregular e de como ela
forjada a partir do primeiro C digo de Menores (1927), por esse C digo, os jovens
passam a serem pass veis a qualquer momento (por delega o judicial), de
enclausuramento em institui es delegadas com fim ltimo de ressocializa o, para
7 1
ent o, cessar a irregularidade . O segundo C digo de Menores (1979), ser uma
extens o do primeiro, e seguir os princ pios da assist ncia, prote o e vigil ncia
dos menores - para o bem da sociedade . Ser demonstrado que a a o do judici rio
estava voltada exclusivamente para uma profilaxia social, sendo que a educa o e o
trabalho seriam as alternativas para a revers o dos maus costumes .
O Estatuto da Crian a e do Adolescente (ECA-1990), limitar o car ter
repressivo que o Juizado de Menores incutia. Veremos pelo que ele promulga, que o
jovem passa a ser tomado como cidad o, sendo detentor de direitos humano, civil e
social, e que h grandes dist ncias entre as pr ticas e os discursos. Apontaremos na
hist ria da ado o, dentro da legisla o brasileira, que ser somente a partir de 1965
que se ter uma preocupa o mais acentuada para com o jovem adotado.
Questionaremos a no o de ado o tardia, que se dar com crian as
consideradas velhas - com mais de dois anos de idade - e de como o conceito do que
ser velho constru do socialmente. Tomaremos contato com as formas de destitui o
familiar e o que ela acarreta na vida de um jovem abandonado . Ao tratarmos da
ado o brasileira, perceberemos a cumplicidade que h dentro da sociedade em
apoiar pr ticas que burlam as Leis; em outra pr tica pouco explicitada nas an lises
das organiza es familiares, encontraremos a circula o de jovens entre parentes e
conhecidos .
Dentro do cap tulo III, abordaremos as Institui es e de quem dela faz parte. Os
funcion rios que s o vistos como burocratas e incompetentes perante o senso
comum e tendo a suas fun es desprestigiadas; a hierarquia demonstrada pelos
mandantes , onde a solu o encontrada para solucionar problemas s o as
classifica es dos institucionalizados. Refletiremos sobre o estigma que os
institucionalizados carregar o por serem diferentes , e a a o jur dica dando nfase no
retorno do jovem para a sua fam lia de origem. Debateremos tamb m, como se dava as
articula es das institui es totais , que tem um car ter de fechamento e das atuais
Casas-Lares, que aponta para uma nova articula o nas quais se tentar dar um car ter
mais individualizante para os institucionalizados.
8 1
CAP TULO I
ADO O
Encontram-se casos em um passado n o muito remoto, s culo XIX, em que a
ado o se restringia em resolver as necessidades de casais inf rteis, m o-de-obra
barata , compania e sustento na velhice, desbloqueio para a gesta o de um filho
biol gico e in meros outros objetivos para sanar necessidades individuais ou coletivas,
passando em quase todos os casos longe da id ia de simplesmente dar uma fam lia ao
rf o (FONSECA, 2002; WEBER, 2002).
J no s culo XX e in cio do XXI as necessidades primordiais para a ado o, n o
diferiam muito, pois o adotado continua a ter um papel de complementa o como por
9 1
exemplo, os de caridade, valores religiosos, import ncia social ou mesmo para cessar o
est gma que o casal que n o pode ter filhos sofre pela falha no padr o
comportamental familiar que a sociedade ocidental determina .
Este est gma, que pode ser visto como uma cobran a por n o se ter filhos, leva o
casal muitas vezes a ficar com uma maior evid ncia das influ ncias sociais familiares.
V m da pr ticas como empurrar crian as ao colo do casal sem filhos, o
apadrinhamento informal de crian as de parentes e amigos, as insinua es de como
maravilhoso ser m e e pai, e tamb m questionamentos em tons de chacota sobre a
vida sexual do casal e mais diretamente a do homem.
Estas formas de influ ncias familiares acabam resultando com que muitos
casais ao sentirem-se acuados recorrem a processos artificiais como insemina o
ou mesmo a ado o para dar vaz o a esta necessidade ditada pela sociedade.
No decorrer da pesquisa foi percebido que o sentimento de maternidade e
paternidade pouco destacado como um dos motivos para se pensar na ado o de uma
crian a ou de um adolescente. Este sentimento aparece como algo muito forte, mais
tarde, ap s a conclus o do processo da ado o. Atrav s dos relatos dos pais com suas
hist rias de vidas, temos o encontro com o sentimento da maternidade e
paternidade , que transparece nos discursos como: Sentia um calorzinho por dentro e
pensava que precisava passar por aquele momento (ter um filho) para ser feliz ; Faltava
alguma coisa em nossas vidas ; Havia uma brecha em nossas vidas ; Desde muito
crian a eu tinha o sonho de ser m e (WEBER, 2002).
A ado o tida como um v nculo jur dico que estabelece o parentesco civil
entre os contratantes, gerando la os de paternidade e filia o entre pessoas que n o
possuem tal rela o. interessante ressaltar que a ado o faz transparecer duas abordagens, a da
ruptura entre a l gica das representa es de parentesco, das quais fazem parte aheran a e a hereditariedade1, e onde o adotado por n o ser um igual , acaba tendo, porsuas qualidades gen ticas desconhecidas , uma posi o amb gua no interior da fam liade ado o. Essa posi o acaba refletindo em uma linha biol gica e em uma linha declasse simbolicamente a transcender (COSTA, 1988).
Nesse caso, na ado o, h uma certa quebra no sentido da paternidade e dafilia o, desvinculando eixos biol gicos e sociais. O adotado, nesse sentido, n o umparente e nem um igual ; h uma quebra na regra.
Por outro lado pode-se pensar a ado o como uma continuidade, uma forma
1 As representa es de parentesco com nfase na heran a e na hereditariedade s o apontadas por M.Sahlins.
101
diferente e nova de parentesco e de filia o. Nesta continuidade familiar a ado o n o vista como uma forma natural , mas como uma inclus o de um novo membro vindode fora para dentro da fam lia/grupo. Uma identidade a ser absorvida, constru da oucomplementada pelas partes integrantes do grupo, em que a normalidade dessaatua o, ser definida segundo as normas postuladas pelos grupos sociais e n o pelanatureza .
Conforme COSTA (1988: p 194 it) aponta:
A BIOLOGIZA O e o SEGREDO, enquanto instrumentos de neutraliza o dos la os de
sangue e das rela es sociais que se pensa serem deles atributos, trazem como conseq ncia
que a VIDA do adotivo s tenha in cio no momento em que ele introduzido e se deve
incorporar a uma fam lia. A impossibilidade de tra ar-lhe um PASSADO - esse passado
constru do em torno de conex es geneal gicas - e a BIOLOGIZA O mostram que a
constru o da identidade social e at do corpo do adotivo - com a constru o da parecen a -
est o referidas e limitadas ao contexto da ado o.
Percebe-se em nossa sociedade, que as concep es cient ficas perneiam o senso
comum, dando legitimidade a cren as como as dos la os de sangue . Esta forma
distorcida de compreens o da ci ncia, por parte da popula o, acaba por refor ar de
forma prec ria a pr pria reflex o cient fica.
Vemos que h duas abordagens diferentes entre a sociologia e a gen tica,
concorrentes, e por vezes antag nicos entre os dois saberes, mas que no campo social
acabam por mesclarem atributos sociais com tra os biologicamente transmitidos. Esta
fus o , em ltima inst ncia, acaba por delegar arbitrariedades de valores dados
rela es geneal gicas e na quest o da variabilidade cultural.
Com o fortalecimento dos mitos dos la os biol gicos que se apresentam como
naturais e verdadeiros , os pais adotivos (...) tentam, como camale es, camuflar as
rela es e imitar uma fam lia biol gica (WEBER 2002: p 111it).
Como extens o biol gica, o sangue , seria o la o que uniria e fortaleceria os
sentimentos de pertencimento ao grupo, e que apontado como um princ pio
inquestion vel e no qual se assentam as rela es de parentesco (COSTA, 1988;
WEBER, 2002; FONSECA, 2002).
O sangue percebido como uma identidade social pr via; por essa
identidade , a crian a j traria res duos do passado dos pais genitores, o que
111
exemplificado pelo relato das assistentes sociais Rossana L. Pereira de Souza e Regina
N. Souza Mendes da ACRIDAS - Associa o Crist de Assist ncia Social, quando
falam do perfil que a maioria dos casais em processo para ado o pedem para o filho:
Beb , branco, menina, n o querem filhos de prostitutas, nem de drogados e nem de
HIV positivo, mesmo que a crian a n o tenha a doen a .
Ao se pensar em uma raz o cultural como norteadora deste trabalho, v -se a
import ncia atribu da, em nossa sociedade, pela transmiss o do sangue , entretanto,
apontamos para a cultura e socializa o como operadores das vari veis no processo
simb lico do parentesco, no qual os la os seriam constru dos no interior do grupo.
Quando se percebe como o sangue (elemento biol gico) influencia fortemente
nas atitudes e no comportamento (elemento cultural e social) dos indiv duos, tem-se a
no o de se estar frente a um paradoxo. Os pais biol gicos parecem ter um papel
indiscut vel: o de fornecer crian a uma identidade por filia o biol gica, o que
perante a sociedade ser visto como algo normal e imut vel ; enquanto a filia o
por ado o, quando percebida, ser vista como uma mistura , um agregado da
heran a biol gica, cultural e social do passado obscuro da crian a com a dos pais
atuais.
Esse tipo de coloca o nos leva a refletir sobre o preconceito que h sobre a
ado o, se talvez o senso comum veja essa miscegena o como uma impureza,
biol gica, social e cultural , e por conseguinte a filia o ou a paternidade/maternidade
por ado o seja colocada e percebida como uma categoria mais baixa do que a da
fam lia natural , e com isso menos prestigiada e com status menor.
A vida social da crian a na hist ria
Para entendermos melhor a id ia da ado o em nossa sociedade e os
mecanismos que a caracterizam, teremos que contextualizar historicamente a vida
social desta crian a e as suas vicissitudes durante o passar do tempo.
At a poucos anos, n o se falava e nem t o pouco se levava em conta s
necessidades para a crian a, do seu bem-estar, de crescer, de ser educado em uma
rela o familiar e a sociabilidade inerente a este conv vio. A vida cotidiana das
crian as, estava misturadas com a dos adultos, era um misto de crian a-prod gio com
121
guerreiros adulto; a crian a n o se fazia ausente, mas n o era demonstrada no seu
estado real de inf ncia, era algo idealizado. O seu cotidiano infantil s come a a ser
representado no final do s culo XVI (ARI S, 1981).
Podemos apontar que uma das causas dessa indiferen a se deve
principalmente pela mortalidade infantil que era extremamente alta e (...) as pessoas
n o podiam apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual (ARI S,
1981: p 57). O que tamb m nos transporta a outros questionamentos como os de que
em fun o dessa indiferen a para com as crian as, se a mortalidade infantil n o seria
ampliada, ou ela se devia a essa percep o social, ou ambas ao mesmo tempo, j que
nessa poca, n o se tinha a no o da inf ncia como n s a entendemos hoje.
Segundo ARI S (1981), a partir do s culo XVII que as crian as da primeira
inf ncia come aram a se fazer notar; percebido isso nos numerosos retratos de
crian as sozinhas e em outros onde ela se faz presente no centro e rodeada por
familiares. A crian a passa a ser descrita os seus h bitos e costumes, que s o afirmados
e confirmados pelos adultos.
At ent o, a crian a n o era vista como algo fr gil (j que n o havia a no o de
inf ncia). Foi somente a partir desta poca (s culo XVII) que se come ou a falar da
debilidade e da fragilidade da inf ncia. Tudo o que se relacionava s crian as e
fam lia passa a ser digno de aten o. A crian a passou a assumir dentro da fam lia um
lugar central, deixa de ser vista como um empecilho , miniaturas imperfeitas dos
adultos e passa a ser alvo pelas suas futuras e poss veis qualidades a um
sentimento de pertencimento ao grupo (ARI S, 1981).
Esse novo status da crian a faz com que ela passe a ser vista como um ser em
forma o que exige cuidados especiais, tanto material como afetivo. nesta fase que
come am a surgir especialistas (pedagogos, psic logos, pedi tricos) para
aconselharem os pais para a melhor forma de criar os filhos.
atrav s dos educadores e moralistas do s culo XVII (com extens o at os
nossos dias), que o apego inf ncia e suas particularidades se far pelo interesse
psicol gico e pela preocupa o moral. Estes, ao verem a necessidade de preservar e
disciplinar a inf ncia, acabam por modificar tamb m a vida familiar no conv vio e nos
sentimentos A preocupa o era sempre a de fazer dessas crian as pessoas honradas e
131
probas e homens racionais (ARI S, 1981: p 163 it.).
O in cio da passagem da crian a para o mundo adulto se d com o ingresso dela
na escola, ser a necessidade de controlar os corpos e a atividade dos trabalhadores que
faz surgir a escola e a sala de aula como conhecemos. Uma das dificuldades levantadas
na poca, segundo ARI S (1981: p 170), era a de que
N o se aplicou aos estudantes, com o fito de distingui-los dos adultos, um regime realmente
infantil e juvenil - ali s, n o se conhecia nem a natureza nem o modelo de um tal regime.
Desejava-se apenas proteger os estudantes das tenta es da vida leiga, uma vida que muitos
cl ricos tamb m levavam, desejava-se proteger sua moralidade.
Com as transforma es das rela es internas com a crian a, acabou-se
modificando profundamente a estrutura familiar, o que suscitou novas formas de
atitudes perante a sociedade, onde o desenvolvimento e o estabelecimento de um
sistema de disciplina se tornou cada vez mais rigoroso e o castigo corporal
generalizado. O h bito de gostar de ter crian as por perto e de brincar com elas sem
d vida antigo, (...) mas num determinado momento passou a ser notado a ponto de
provocar irrita o. Assim nasceu esse sentimento de irrita o diante da infantilidade,
que o reverso moderno do sentimento da inf ncia (ARI S, 1981: p 138).
somente ao longo do s culo XVIII que o castigo antes imposto para
distinguir e melhorar a inf ncia passa a ser atenuado e n o mais percebido como
(...) adaptado fraqueza da inf ncia. Ao contr rio, ele provocava uma reprova o de
in cio discreta, mas que se iria ampliar. Surgiu a id ia de que a inf ncia n o era uma
idade servil e n o merecia ser metodicamente humilhada (ARI S, 1981: p 181). H
um novo reconhecimento dos sentimentos da inf ncia, (...) onde se tenta despertar na
crian a a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade (ARI S, 1981: p
182).
Percebe-se aqui, o in cio de um sentimento que mais tarde resultaria na tentativa
de igualdade entre jovens e adultos, ambos como tendo os mesmos direitos e
responsabilidade de cidad o perante a sociedade e perante as Leis.
141
A vida social da crian a no Brasil
Em rela o a hist ria da crian a no Brasil a partir do s culo XIX, nos demonstra
RIZZINI e LOBO (2000), que pouco se discriminava as crian as dos adultos nas
camadas mais pobres; vemos resqu cios ainda hoje dessa percep o quando se trata a
crian as como menor . Embora j houvesse preocupa es com a mortalidade da
popula o por conta de epidemias e doen as, a crian a n o foi alvo de pr ticas
especiais. Em geral as preocupa es com as crian as se limitavam higiene do
rec m-nascido, ao funcionamento dos col gios internos das elites e aos expostos das
Casas de Miseric rdias.
Durante este s culo, mesmo as crian as com alguma defici ncia f sica n o eram
temas de interesses de m dicos, pensadores ou legisladores. As crian as e os adultos
conviviam e compartilhavam juntos em asilos e hospitais, que no fundo eram
verdadeiros dep sitos de todas as mis rias (internato de crian as, velhos, incur veis,
mendigos, alienados, loucos).
Conforme RIZZINI e LOBO (2000: p 89), somente a partir de 1895 no Rio de
Janeiro, que um novo regulamento mandar separar em institui es diferentes crian as
e adultos.
Ser com o tratamento moral , fundado no discurso da autoridade e da submiss o, que ser
entendido a preven o crian a, sendo que para isso haveria a necessidade dela ser preparada
por uma higiene pedag gica , visto que todos os desvios da inf ncia, neste momento eram
classificados como idiotia, imbecilidade e desequil brio mental.
A partir do final do s culo XIX e come o do s culo XX, o alvo principal
influenciados pela psiquiatria estrangeira ser a crian a na escola, n o mais os meninos
de elite reclusos nos col gios internos ou aquelas crian as desvalidas . A escola cresce
de import ncia e conforme RIZZINI; LOBO (2000: p 104):
(...) ser o os crit rios m dicos junto aos pedagogos que selecionar o as crian as, ou seja os
sintomas que come am a aparecer com o ingresso da crian a na escola, transformam-se em
crit rios de separa o classificat ria e passam a demarcar a inclus o em espa os institucionais
diferentes: crian as em escolas regulares, as de escolas especiais e as de asilo por serem
151
inedul veis.
interessante destacar que a figura do indisciplinado, vicioso, inst vel,
desequilibrado, impulsivo povoou toda a literatura m dica da poca sobre a crian a
anormal . Novas categorias v o surgindo e sendo definidas em fun o da
institucionaliza o do anormal de asilo (em princ pio exclu dos da escola), o
anormal escolar que, considerado educ vel, mas que precisava de outra escola
especial. Destaca-se nesta fase, a quest o da qual pol tica deveria ser aplicada a crian a,
na qual posto dois encaminhamentos o abrigo e a disciplina, ambas com a emerg ncia
de novas obriga es do Estado em cuidar da inf ncia pobre com educa o, forma o
profissional e encaminhamento (RIZZINI; LOBO, 2000).
A quest o desta crian a anormal passa a ser vista como um problema de
primeira ordem para o Estado que em 1922 prop s o 1 Congresso Brasileiro de
Prote o Inf ncia, no Rio de Janeiro, sendo que segundo RIZZINI; SARTOR (2000:
p 169):
(...) salvo algumas exce es a maioria dos congressistas remete-se s crian as pobres e
delinq entes preocupados apenas com as conseq ncias e manifesta es dos problemas, e com
o destino do pa s. A luta por uma identidade nacional institu da, e a crian a apenas um
instrumento de um projeto de preserva o da na o e do estabelecimento da ordem social.
As pr ticas, para com esses jovens margem da sociedade, acabam resultando e
reafirmando uma vis o somente assistencialista por parte dos governantes. Temos que
(...) as recomenda es do congresso denotaram uma clara e forte tend ncia para a
centraliza o e o controle governamental da assist ncia infantil p blica e privada,
propugnando a supervis o constante do poder p blico em rela o a todos os aspectos
relativos assist ncia inf ncia (RIZZINI; SARTOR, 2000: 179).
CAP TULO II
INST NCIA JUR DICA
161
A situa o irregular do ponto de vista jur dico ou familiar (orfandade,
abandono, delito) passa a ser generalizado a todas as crian as e adolescentes pobres,
atribu dos pela constante situa o de pen ria, mis ria e pela falta de moralidade dos
pais. Conforme RIZZINI (1995: p 209), h um novo enfoque, uma preocupa o com a
crian a solta , n o tutelada e que por isso mesmo perambulava pelas ruas sujeitas a
diversas experi ncias:
talvez em fun o da crian a moralmente abandonada , viciosa e delinq ente , que tem
in cio no Brasil, com o C digo Criminal de 1830, a defini o da responsabilidade penal da crian a.
Trata-se, de agora em diante, n o apenas de proteger, mas tamb m de prevenir , tratar , punir e
regenerar a crian a .
Primeiro C digo de Menores
somente na d cada de 30 que o Brasil vem a conhecer uma legisla o que vem
a dar origem e a ser ordenada em dois C digos de Menores. Por essa nova legisla o
as crian as e jovens eram pass veis, num momento ou em outro, de serem sentenciados
como irregulares e enviados s institui es de recolhimento, triagem, ressocializa o
ou guarda com o objetivo de que estas institui es cessassem a situa o irregular.
Nesses dois C digos de Menores, interessante salientar, que se constr i e se
afirma pelo modelo do judici rio, a defini o jur dica do que ser menor. Segundo
RIZZINI (1995), at o s culo XIX, no Brasil, o termo menor foi utilizado como
sin nimo de crian a, jovem, adolescente, porem de maneira pouco freq ente. Ser em
meados do s culo XIX, que al m dos termos menor e crian a aparecer o os
termos rf o e abandonado , estes como dependentes totais do Juiz de rf os.
Para COSTA (1988), o que ocorreu na realidade, foi um ponto de incid ncia dos
C digos de Menores, com suas especificidades, sobre todos os menores brasileiros e
n o apenas sobre os que se encontravam em situa o irregular .
A categoria mais abrangente apontada nos dois C digos a de menor
abandonado , da qual deriva a de menor delinq ente , englobando os dois g neros:
feminino e masculino. Mas a pr tica de classificar os menores ir se sofisticando, a
171
ponto de ser transformada em uma sombra em suas vidas - presente e passada - de
sua fam lia e de sua personalidade (RIZZINI, 1995: p 122).
Percebe-se que os C digos, ao criarem um termo t cnico-jur dico - menor ,
propiciam a dissemina o da vis o estigmatizadora dos sujeitos em quest o, pois se
refere basicamente, condi o de anormalidade , de irregularidade , de preju zo ,
ou seja, salienta apenas os aspectos depreciativos do sujeito em quest o.
O primeiro C digo de Menores (decreto 17.943-A de 12/10/1927), veio
consolidar diversas leis anteriores, dentre as quais se destaca a de 4.242 de 05/01/1921,
que incluiu no or amento da rep blica disposi es sobre menores e defini es de
abandono, suspens o, perda de p trio poder e outros (ARA JO, 1985: p 19).
Com a promulga o deste primeiro C digo, e visto que o atendimento aos
menores era centralizado nas iniciativas particulares, o poder p blico, atrav s da
inst ncia jur dica, viu-se obrigado a associar-se s iniciativa particulares por extens o
resultando a centraliza o de suas a es em torno das tarefas de prote o ,
assist ncia e preven o . Segundo ARA JO (1985), as atividades da assist ncia
jur dica e social inf ncia, durante esse per odo (1927), era tida pelos seus executores
como um empreendimento civilizat rio .
Esse modelo, que demorou 20 anos para ser aprovada marcado pela atua o do
primeiro Juiz de Menores, A. C. de Mello Mattos, que atribu a um cunho pessoal
mesma e que atrav s das suas atitudes acabou refletindo em uma figura do Juiz-Pai.
Este tomava para si qualificativos de jurista e filantropo e passa a ter sua atua o
caracterizada por um modelo caritativo-assistencial (ARA JO, 1985).
O regulamento da assist ncia ao abandonado era extenso e pela descri o de
RIZZINI (1995: p 134 it.), encobria uma tentativa de regulamentar a educa o dos
filhos das fam lias pobres, j que se referia basicamente a situa es vividas por crian as
das camadas populares, tais como: n o ter habita o certa, n o contar com meios de
subsist ncia, vagar pelas ruas, ter ocupa es contr rias moral e aos bons costumes.
Havia a inten o de que se restringisse o acesso e a perman ncia nas ruas de pessoas
caracterizadas como desclassificados - era esse mesmo o termo utilizado na poca. O
movimento jur dico, social e humanit rio, que tornou poss vel a cria o de uma legisla o
181
especial para menores, veio de encontro a esse objetivo de manter a ordem almejada, medida
em que, ao zelar pela inf ncia abandonada e criminosa, prometia extirpar o mal pela raiz,
livrando a na o de elementos vadios e desordeiros, que em nada contribu ram para o
progresso do pa s.
Percebe-se que a a o do judici rio estava voltada para a no o de uma
profilaxia social (ARA JO, 1985; FONSECA, 2002; SILVA,1997), visando
educa o e o trabalho como alternativas para uma revers o de maus costumes e de
suas tend ncias . As medidas adotadas de amparo e higieniza o eram vistas como
tendo a principal finalidade de propiciar a integra o dos menores na sociedade. E a
partir delas, surgiu a id ia dos reformat rios , escolas correcionais , orfanatos, asilos
e abrigos.
Percebe-se que os dispositivos centrais deste primeiro C digo de Menores, era
resolver o problema dos menores prevendo e exercendo firme controle sobre os
menores, atrav s de mecanismos de tutela , guarda , vigil ncia , educa o e
reforma .
Segundo C digo de MenoresO segundo C digo de Menores (lei 6.697 de 10/10/1979)2 segue tend ncias do
primeiro C digo, tenta redefinir a situa o do menor, e assenta-se tamb m sobre osprinc pios da assist ncia, prote o e vigil ncia dos menores. Adota expressamente adoutrina da situa o irregular, que para RIZZINI (1995: p 81), (...) as condi essociais ficam reduzidas a o dos pais ou do pr prio menor, fazendo-se da v tima umr u e tornando a quest o ainda mais jur dica e assistencial, dando-se ao juiz o poder dedecidir sobre o que seja melhor para o menor: assist ncia, prote o, vigil ncia .
Este segundo C digo do Menor prev interven o e intermedia o do Juiz deMenores n o s nos casos em que h aus ncia ou inexist ncia de pais ou respons veis,mas sempre que estejam em quest o o envolvimento de algum menor em atividades dedelinq ncia, situa o de maus-tratos ou perigo moral, mesmo nos casos de estaremsob guarda dos pais ou respons veis. Fica criada a categoria b sica e nica a partir daqual passa a estar classificado o menor (menor em situa o de risco), passa-se com issoa se ter uma conota o essencialmente jur dica, no qual transfere-se o papeladministrativo das institui es de atendimento direto e assist ncia aos menores para oPoder Executivo (ARA JO, 1985).
Por ter um car ter mais repressivo e de vigil ncia do que o primeiro, estesegundo C digo de Menores, dota o Estado de um poder mais abrangente, este, passa2 Em novembro de 1959 entrou em vigor a declara o dos Direitos da Crian a, aprovada pelaassembl ia Geral das Na es Unidas (ONU). O que no Brasil se demonstrou como uma tentativa deconcilia o entre ela e o primeiro C digo de Menores.
191
a poder declarar como irregular parte da popula o. Atrav s de mecanismos jur dicos,ficava a pobreza (car ncia) convertida em hip teses de irregularidade - situa o quetendia a ser resolvida, n o se alterando as condi es de vida da popula o, mas atrav sde procedimentos tidos como pedag gicos e terap uticos (RIZZINI, 1995: p 212).
Como grande parte das crian as mantidas nos internatos n o eram rf s , mascarentes , a disputa pela guarda das crian as se tornam em v rios sentidos penosas
para todos os envolvidos. Este abandono , era muitas vezes, apontado pelos t cnicosdos internatos como mais uma prova da imoralidade das fam lias pobres,configurou-se muitas vezes como estrat gia dos pr prios internatos, para que estespudessem ocupar um lugar quase que absoluto face educa o da crian a (RIZZINI,1995).
Estatuto da Crian a e do Adolescente - ECACom a substitui o do antigo C digo de Menores pelo Estatuto da Crian a e do
Adolescente - ECA (lei 8.069 de 13/07/1990), este passa a ter como princ pio aDoutrina da Prote o Integral 3.
Com o ECA, o car ter repressivo, de vigil ncia, que o Juizado de Menoresimpunha as suas a es v -se limitado. O tratamento dado aos menores sofre umamudan a de atitude: do tratamento dos efeitos da situa o de mis ria na qual vivemmilhares de crian as e adolescentes, pretende-se focar na preven o dos mesmos.
Com o ECA, os jovens s o tomados como sujeitos de direitos , ou seja, passam a serem cidad os perante a lei, com seus direitos preservados na ordem civil,humana e social, deixando de serem simplesmente o objeto de medidas judiciais.Independente de vermos estas medidas sendo colocadas superficialmente na pr tica oun o sendo respeitadas com as crian as e os adolescentes, o discurso que o ECAproporciona, tenta estabelecer uma articula o do Estado com a sociedade naoperacionalidade da pol tica para a inf ncia com a cria o dos Conselhos de Direitos,dos Conselhos Tutelares e dos fundos geridos por esses Conselhos4.
No caso das ado es, o ECA teve um importante papel, pois a partir dele,passa-se n o mais tratar a ado o como um ato unicamente do interesse do adotante,mas como uma rela o onde os interesses do adotivo s o priorizados (ANEXO I). Ointeresse maior de acordo com WEBER (2002: p 68) o de (...) n o apenas encontrarbeb s para casais que n o podem gerar filhos biol gicos, mas tamb m encontrar paispara crian as destitu das de conviv ncia familiar (ANEXO II).
Pode-se destacar que os interesses do jovem a ser adotado, passa em muitoscasos, longe da sua pr pria vontade ou mesmo do seu conhecimento, j que s decis esdecorrentes ao seu processo trabalhado por pessoas alheias sua vida.
Vemos na Ado o Plena e Fechada 5, que um procedimento irrevog vel pelo
3 Pelo ECA considera-se crian a a pessoa at 12 anos de idade incompletos, e adolescentes aqueleentre 12 e 18 anos de idade.
4A inten o desses conselhos a de refor ar a estrat gia de defesa da cidadania, criando Fundos juntos prefeituras, fazendo diagn sticos da situa o da crian a e do adolescente, cobrando obras espec ficas
para implementa o do ECA.5 Este Contrato poder ser de duas formas: Ado o Aberta , onde os pais t m a possibilidade deselecionar os pais adotivos para a crian a, em alguns casos, h um conv vio entre pais biol gicos e osadotivos. Esta pr tica est sendo muito difundida nos Estados Unidos. Ado o Fechada , sedemonstra na aus ncia total de contato entre os pais biol gicos e os adotivos, o que v em a dificultar ouat mesmo impossibilitar futuros encontros. Este o nico modo de opera o segundo a legisla obrasileira.
201
qual a filia o adotiva passa a substituir a filia o biol gica, sendo que exclu dototalmente o contato com esta, que ela nos demonstra a princ pio, como um atofavor vel crian a. Entretanto, podemos questionar esse modelo, se refletirmos sobre oato da crian a, em assumir (imposto pelo judici rio) a identidade de sua fam liaadotiva, excluindo totalmente a identidade da fam lia biol gica (caso que se agravaainda mais, se pensarmos nas grandes descobertas pela ci ncia na rea da gen tica(DNA)).
Por esse processo os genitores acabam por desaparecer da exist ncia de seusfilhos. H uma tentativa de apagamento da filia o biol gica, efetuado e justificadopor Lei. Por m, apesar das normas estabelecidas e impostas pelos juristas frente a Lei,essa conduta n o garante com crian as maiores e adolescentes, que haja a substitui ototal e irrevog vel da antiga filia o pela nova.
A ado o na legisla o brasileira
Para que a ado o seja representada por sua justa perspectiva, faz-se necess rio
reconstituir a sua hist ria no tempo, com as transforma es pelas quais passou,
tomando como eixo principal o plano das legisla es (ANEXO III).
As primeiras leis que ir o tratar da quest o da ado o surgem em 1916 com o
C digo Civil, ser o 11 artigos que regular o e estabelecem os princ pios b sicos que
orientar o o legislador e os adotantes. Tratar da obrigatoriedade do car ter p blico do
ato, dos impedimentos matrimoniais entre adotante e adotado, das limita es quanto
heran a, e de uma n o extin o de direitos e deveres resultantes do parentesco
natural (COSTA, 1988: p 29).
Como se percebe, at meados do s culo XX, a uma grande desigualdade entre
filhos leg timos e de filhos de cria o estava estabelecida em lei. A rela o adotiva
a princ pio era uma pr tica de transferencia por escritura de responsabilidades
tutelares entre um adulto e outro e que poderia ser revogada. Nela o adotante deveria ter
mais que 50 anos, caso este j tivesse filhos, o filho adotivo n o herdava nada, mas
primeira vez, permite-se a ado o por aqueles j com filhos leg timos. Estas regras s
v m a sofrer altera es em 1957 no C digo Civil com a Lei n. 3.133, quando se reduz
o limite de idade dos adotantes de 50 para 30 anos, aqui tamb m surgem pela primeira
vez, indica es na lei em rela o ao bem-estar do menor , nessa poca que se
come a a ser exercidas press es para que os cart rios s lavrassem escrituras mediante
autoriza o do juiz (FONSECA, 2002; WEBER, 2002).
A legitima o adotiva se faz em 1965, ela um desdobramento da Lei
211
anterior, o que a distingue a preocupa o com o jovem adotado e tamb m o fato do
ato da ado o n o vir mais a constar nos registros e certid es do jovem, este jovem
passa a contar com a equipara o em termos de direitos e deveres com os outros filhos.
Nesta poca h a id ia de um la o irrevog vel que confere direitos heredit rios
(apesar de limitado) crian a e junto com ela cessa qualquer liga o com a fam lia
anterior. O adotado passa a ter parte na heran a, apesar de ser uma parte menor do que
a dos filhos biol gicos. No C digo de Menores em 1979, o filho adotivo herda como se
fosse filho leg timo e o (...) parentesco adotivo estendido por for a da lei aos
descendentes (FONSECA, 2002: p 123 it). Com a Constitui o de 1988 que se
acaba, juridicamente, com qualquer distin o entre filhos, sejam naturais, adulterinos,
incestuosos ou adotivos.
Com o ECA (1990) a ado o ficou facilitada , ampliou a categoria dos
adotantes (qualquer pessoa com idade m nima de 21 anos, desde que tenha pelo menos
16 anos a mais do que o adotado; independe o estado civil do(s) adotante(s);
ascendentes da crian a (ex. av ); esses termos vale para jovens de at 18 anos de idade
(FONSECA, 2002; RIZZINI, 1995; WEBER, 2002).
A introdu o de no es mais atualizadas e de reforma do estatuto resultou
segundo COSTA (1988), numa reda o bastante retr grada na qual ressaltavam
exig ncias, que n o favoreciam e nem estimulam a ado o dificultando o incremento
do uso da Lei.
Com esses nuances da Lei e as dificuldades impostas pelos processos
judiciais, percebe-se que s press es dos costumes e das pr ticas da ado o
brasileira , com sua facilidade nos procedimentos e na simplifica o da
regulamenta o, demonstra-se como uma for a n o-oficial com refer ncia a ado o.
Ado o brasileira
A ado o brasileira convencionalmente chamada assim por ser uma ado o
efetuada sem o apoio na lei, apenas feita de acordo com a vontade dos interessados.
Esse tipo de procedimento concretizado quando o interessado ou o casal, adotam
filhos alheios como seus e registrando-os como se fossem seus filhos naturais . Em
geral uma pr tica obscura, marginal, mas de uma forma quase institucionalizada
221
dentro da sociedade.
Por estar margem da Lei n o h dados estat sticos e Os casos
abundantemente relatados quase nunca s o datados ou localizados no tempo. Esparsas
recorda es, reminisc ncias vagas, n o permitem seguir este caminho e tom -las como
refer ncia central (COSTA, 1988: p 27).
Como esta forma de ado o se mant m sombra da Lei , h nela a coniv ncia
e cumplicidade de alguns respons veis pela sua execu o: funcion rios, enfermeiros,
m dicos e de alguns hospitais, principalmente de interior.
Esse procedimento da ado o brasileira, tamb m conta com a cumplicidade
da sociedade, que, como a Lei, fecha os olhos quanto ao modo que se realiza. Entre
alguns dos motivos que levam um casal a fazer esse tipo de ado o segundo SZNICK
(1993) est o:
- O desconhecimento dos tr mites legais;
- N o querer que o filho saiba que n o filho de sangue do casal; e
- A demora do judici rio para a legaliza o da situa o.
Em todos os casos, os motivos alegados levam a uma situa o arriscada e
inst vel para a fam lia, j que pode haver a qualquer tempo a volta da m e biol gica.
H tamb m a san o civil e penal inerente da transgress o lei, caso seja descoberta
a infra o . Entretanto, segundo FONSECA, (2002: p 130), mesmo envolvendo-se
com a falsifica o ideol gica , os pais (biol gicos) que se envolvem nessa pr tica
(...) mant m um certo controle , j que s o eles mesmos que, em geral, s o eles que
negociam a transfer ncia, sabem quem s o os pais adotivos e, assim, t m alguma
possibilidade de, eventualmente, reatar la os com seu filho .
Perante a Lei, a iniciativa a ser tomada segundo a DR L dia M. Guedes, ju za
da 1 Vara da Inf ncia e Juventude de Curitiba, ser de busca e apreens o da crian a,
isso, caso se tenha a den ncia e o reclame da m e biol gica em refer ncia ao filho
doado .
Circula o de crian asVemos no trabalho de FONSECA (2002)6 como intensa a circula o de
6 Trabalho efetuado sobre din micas familiares em grupos populares de Porto Alegre, analisando asredes de sociabilidade tecidas a partir da circula o de crian as - envolvendo parentes, amigos,vizinhos e at institui es estatais. A pesquisa foi efetuada em dois bairros com cerca de 120 fam lias,com relatos sobre quase cem crian as que haviam circulado sem que nenhuma crian a fosselegalmente adotada pela fam lia com quem vivia.
231
crian as nos grupos urbanos contempor neos e que uma pr tica hist rica, que mesmocompartilhada pelos membros do grupo nem sempre s o articuladas de maneira clara eexpl cita nas an lises da organiza o de fam lias de baixa renda no Brasil.
Conforme FONSECA (2002: p 81), coloca A circula o volunt ria decrian as, ocorrendo normalmente no interior do grupo consang neo, tende a repartir opeso financeiro do sustento de crian as entre os membros mais abastados do grupo, aomesmo tempo, que consolida os la as da consang inidade .
Os desejos e necessidades da crian a para esse grupo, n o s o motivos de muitaspreocupa es, a sua fragilidade decorre e est ligada em termos materiais (de sa de,etc.). Fica claro que o bem-estar da crian a insepar vel do bem-estar do grupo.
interessante destacar que no nosso imagin rio, como sociedade, temos ummodelo abstrato de crian a no seio de uma fam lia, e que normalmente esse modelo n ocondiz com a realidade vista. Temos em mente um modelo de fam lia classe m diaonde (...) os pais trabalham seus relacionamentos conjugais e investem nos filhosa fim de construir uma fam lia (FONSECA e CARDARELLO, 1999: p 38), epassasse a pensar a inf ncia a partir da vida protegida de seus pr prios filhos, e n ono contexto de diversidades culturais a que estamos expostos.
N o se leva em conta dentro da sociedade que as no es de fam lia, inf ncia,mis ria, abandono est o cal ados em preocupa es e prioridades historicamenteconstru das, muitas derivadas de pa ses europeus e americanos, que acabam porconfrontarem-se no nosso contexto de diversidades dos membros das v rias camadas,
estes, pendendo sempre para um status depreciativo (FONSECA e CARDARELLO,1999).
As m es que participam dessas pr ticas, a de colocarem seu (s) filho (os) em lar(es) adotivo (s), em seus meios, n o s o vistas e nem estigmatizadas como cru is oudesnaturadas, h uma aceita o na circula o das crian as, j que em sua maioria osadultos j presenciaram ou participaram de experi ncias semelhantes (FONSECA,2002: p 80).
Entrega ou abandonoPercebe-se que o significado de dar ou doar uma crian a nesses grupos,
quase nunca pensado por elas (m es biol gicas) em termos de abandono , o que svem a ressaltar as contradi es que h entre o universo jur dico e o universo popular .7
Esta mesma autora nos fornece pistas das raz es para o acolhimento dessascrian as em circula o : uma delas seria o prest gio que os pais adotivos passariam a
ter nas redes sociais, j que os sacrif cios que supostamente acompanham amaternidade s o ressaltados ante as carreiras conjugais e profissionais, outro dizrespeito ao prazer do conv vio com uma crian a, e aqui poder amos destacar que Certamente as pessoas esperam que os filhos adotivos lhes d em a mesma satisfa o
que seus pr prios rebentos pela vida afora . N o h d vida de que esperam que essascrian as lhes sirvam de amparo na velhice (FONSECA, 2002: p 41). Esse amparo navelhice pode ser melhor esclarecido se pensarmos na import ncia da responsabilidadefilial em um pa s onde n o se t m seguro para idosos e nem uma aposentadoria dignapara as camadas baixas brasileiras.
Um fator que pode quebrar com esta solidariedade entre parentes, para7 Conforme estudos de Geertz, h pr ticas que independente do sistema de leis , s o organizadas evistas como legais por quem delas participa.
241
FONSECA (2002: p 33-36), a mobilidade social, que amea a pela subidas cio-econ mica o esquecimento destes para com os seus parentes pobres. Esta ascens o econ mica reflete como um divisor de guas entre os indiv duos, alguns que
acabam adotando valores da classe m dia e com isso concentrando energias nos seuspr prios filhos com vista nas carreiras futuras e criando um ambiente dom sticofechado, em contraste com os indiv duos que apesar de viverem com mais conforto,mant m-se ligados cultura popular, continuando a receber crian as mais pobres e mantendo assim a continuidade dos la os.
Possivelmente ser dentro desta camada, a que preserva os la os com a classepopular, e que mant m a solidariedade do grupo fam lia que poderemos encontrar commais facilidade a ado o brasileira.
Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996
As condi es exigidas na ado o pelos candidatos a pais de classe sociais mais
baixas e com n vel econ mico menor s o menos/menores em rela o crian a, e,
adotam mais freq entemente crian as maiores e n o h preocupa es com a ra a. J
nas classes altas e m dias as exig ncias frente ao juizado s o muitas, entre as principais
251
ser uma crian a saud vel, do sexo feminino, branca (ou de pele clara) e ser beb .
Na pesquisa de WEBER e KOSSOBUDZKI (2002: p 33) realizada com a
totalidade das crian as e adolescentes do Estado do Paran , revelam que 64% dos
jovens institucionalizados t m entre 7 e 17 anos. Os dados dessa mesma pesquisa, a
n vel Brasil (gr fico), s v em a confirmar a problem tica, j que a maioria dos
candidatos a ado o preferem crian as de at no m ximo 02 (dois) anos de idade, e
as crian as que ultrapassam esta idade acabam sendo rejeitadas e deixadas em segundo
plano dentro da institui o.Estas crian as consideradas velhas acabam em muitos casos, ficando
institucionalizadas at sua maioridade quando s o expulsas e entregue a sorte, oucomo ocorre freq entemente, antes disso, acabam fugindo8 e tentando suprir suascar ncias e necessidades de outra forma, n o mais tendo a ilus o de virem a serfilhos e de participarem de uma fam lia (WEBER, 2002: p 38,51).
Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996
8 Pesquisa efetuada em Curitiba com 76 crian as e adolescentes em regime de internato entre 7 a 18anos e que n o possu am mais v nculo familiar: 56% dos entrevistados moraram em dois ou maisinternatos diferentes; 98% encontraram dentro de alguma institui o uma pessoa de apego a qual foiperdida; 57% j fugiram ou tiveram vontade de fugir .
261
Idade biol gica e idade social
interessante destacar a no o do que ser velho e como esse conceito pode
ser relativo nas sociedades e que a compreens o sobre o que ser velho n o est
obrigatoriamente associado idade cronol gica dos indiv duos.
Nos exemplos de ARI S (1985: p 47) nas sociedades europ ias, a velhice
constatada pela apar ncia: a velhice come a com a queda dos cabelos e o uso da
barba, e um belo anci o aparece s vezes como um homem calvo .
A concep o do que ser velho depende da natureza da sociedade e do lugar
que nela ocupa o indiv duo idoso, de modo que o envelhecer n o apenas cronol gico
mas determinado pelas rela es homem, sociedade e meio ambiente.
BOURDIEU (1983: p 112 it) em suas reflex es, comenta que entre a velhice e a
juventude n o h uma fronteira ou um limite, que estes conceitos s o forjados em cada
sociedade dependendo da estrutura desta e que tem por fim (...) impor limites e
produzir uma ordem onde cada um deve se manter, em rela o qual cada um deve se
manter em seu lugar . Esta luta entre a idade biol gica e a idade social, segundo este
mesmo autor, s o complexas, e por n o serem dadas mas constru das socialmente
podem vir a ser manipulada ou manipul vel .
Segundo BEAUVOIR (1976: p 13), o termo velho ou velhice est inserido na
vis o do homem como uma unidade biopsicossocial. um fen meno biol gico: o
organismo do homem idoso apresenta certas singularidades. Acarreta conseq ncias
psicol gicas: determina condutas. Tem uma dimens o existencial: modifica a rela o
do homem no tempo e, portanto, seu relacionamento com o mundo e com sua pr pria
hist ria .
As varia es sobre o que ser velho, dependem, para ARI S (1985: p 48) das
rela es demogr ficas de cada poca Tem-se a impress o de que a cada poca
corresponderiam uma idade privilegiada e uma periodiza o particular da vida humana:
a juventude a idade privilegiada do s culo XVII, a inf ncia , do s culo XIX, e a
adolesc ncia , do s culo XX .
Ao acompanharmos com ARI S (1981: p 195-274), a trajet ria da fam lia no
271
tempo (como refer ncia sociedade europ ia), vemos que ela assume diferentes
formas, at chegar a fam lia moderna , cujo modelo a fam lia nuclear (marido,
mulher e filhos). Esse modelo se constituiu primeiramente na burguesia, alcan ando
posteriormente as camadas populares. Essa trajet ria marcada por toda uma
transforma o na utiliza o do espa o dom stico, demarcando uma separa o n tida
entre o p blico (rua) e o privado (casa), onde a sociabilidade sai da multid o (rua) e
volta-se para o grupo dom stico (casa).
Conforme o gr fico, referente a pesquisa de WEBER e KOSSOBUDZKI (1996:
p 33) no Estado do Paran vemos que, os jovens realmente rf os de pai e m e
(bilaterais), s o somente 5% e que 14% destes jovens vieram de um lar onde o pai e a
m e viviam juntos. O restante 81%, adv m de fam lias monoparentais, chefiadas por
mulheres (a maior parte foi abandonada pelo seu companheiro, s o separadas ou s o
m es solteiras).
Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996
281
Analisando as formas de fam lia das crian as e adolescentes institucionalizados
no Paran , vemos que elas n o se encaixam no padr o da fam lia nuclear. S o fam lias
que n o apresentam uma unidade m e-pai-filhos bem delimitada. Muitas vezes s o
fam lias matrifocais, formadas basicamente por m es e filhos.
As necessidades materiais e afetivas de seus membros s o, muitas vezes,
satisfeitas por pessoas alheias ao n cleo familiar, havendo maior interc mbio com
outros grupos (vizinhan a, parentela, etc.), que se tornam mais fortes e leais
contrastando com a precariedade do la o conjugal (FONSECA, 2002: p 46-74).
Algumas das raz es para se entender essa exclus o da parte paterna, est o nas
atitudes culturais onde os estere tipos de g nero geram atitudes e expectativas que
dotam as crian as como pertencentes e de responsabilidade da mulher.
Conforme pesquisa de FONSECA (2002: p 110 it.), na FEBEM - RS, o pai,
embora presente em alguns dossi s, uma figura secund ria. Quando consultado,
pretende que a crian a foi internada sem o seu consentimento, mas nada faz para
assumir responsabilidades paternas de forma mais concreta . Nesta mesma linha
MOTTA (2001: p 156) relata que Os homens s o exclu dos deste processo pela
sociedade que os desculpa , o que lhes tolhe s mulheres a iniciativa da busca de
outras poss veis solu es para o dilema do que fazer com a crian a. Ou ainda em
COSTA (1988: p 215), referindo-se a entrega de beb s rec m-nascidos para ado o
O pai biol gico, n o se apresenta s mediadoras em momento algum do contato
durante a gravidez, ou no ato de ren ncia do p trio poder .
Percebe-se com estes relatos, outras abordagens para as tradicionais defini es
dos papeis do que ser pai e ser m e em nossa sociedade. Essas quest es ser o
trabalhadas com profundidade na continua o do estudo, tendo em vista, que as
grandes quest es de g nero perpassam as variadas esferas da sociedade.
Poder Familiar (P trio Poder)
A legisla o brasileira prev pela Guarda, Tutela, Ado o e Delega o do Poder
Familiar, uma forma (em diferentes graus), da coloca o em lar substituto do jovem
em situa o de risco , por iniciativa dos pais ou por interven o do Estado. No Brasil,
regido pelo C digo Civil est a Ado o Plena 9 que tem car ter definitivo e9 A partir das altera es do C digo Civil a ado o n o poder mais ser desfeita, mesmo ap s amaioridade do adotado.
291
irrevog vel, a crian a vem a ser introduzida numa fam lia como filho, com todos os
direitos e deveres, n o tendo mais liga o com a fam lia biol gica.
Com a ren ncia do poder familiar, firmado um compromisso de desist ncia a
seus direitos sobre a crian a. A fam lia biol gica passa a ser exclu da das
informa es que se poderiam prestar aos adotantes e adotados, quanto origem social,
ficha m dica e biol gica e desta as suas caracter sticas heredit rias.
Durante a Antig idade, o p trio poder era um poder quase que ilimitado. Ao ser
exercido pelo pai dava-lhe o direito sobre os filhos de ocup -los, castig -los e at
mesmo de vende-los. O pai n o s exercia o direito de pai de fam lia, mas verdadeiro
dono e juiz, ele era o respons vel perante a sociedade por toda a fam lia incluindo as
responsabilidades civil e penal (SZNICK, 1993; RIZZINI, 1995).
Ao longo dos tempos houve uma limita o e um abrandamento do p trio poder.
A partir de 2003 foi alterado o termo P trio Poder para Poder Familiar, pois aquele n o
mais condizia com a realidade exposta, visto serem principalmente as m es as
atuantes nesses processos e o termo Matri Poder, conforme a ju za DR L dia M.
Guedes, n o existir na Constitui o Federal.
O ECA trata do p trio poder em seu artigo 21:
O p trio poder ser exercido, em igualdade de condi es, pelo pai e pela m e, na forma do que
dispuser a legisla o civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discord ncia,
recorrer autoridade judici ria competente para a solu o da diverg ncia. Ou seja, o p trio
poder exercido igualmente pelos pais deve ser executado no interesses do menor, no que se
refere a seus bens e sua pessoa.
Segundo o C digo Civil, o poder familiar um poder jur dico, um poder-dever,
exercido pelos pais por delega o do Estado, no interesse da fam lia. Atrav s dele,
compete aos pais dirigir a educa o dos filhos, tendo-os em sua companhia e guarda,
sustentando-os, criando-os e os representando perante atos jur dicos. Os casos de
suspens o do poder familiar est o previstos pelo artigo 394 deste mesmo C digo, sendo
que ele se extingue pela maioridade, pela emancipa o do jovem, pela ado o, al m da
morte do pai ou do filho. .
A perda do poder familiar considerada uma san o grave, por ser definitiva e
301
por se perder todos os direitos sobre o jovem. O artigo 395 do C digo Civil estatui:
Perder por ato judicial o poder familiar o pai ou a m e que:
I - que castigar imoderadamente o filho.
I I - que deixar em abandono.
III - que praticar atos contr rios moral e aos bons costumes .
Segundo a ju za DR L dia M. Guedes, em alguns casos a destitui o do poder
familiar priorit rio, para evitar que crian as que n o podem voltar para casa tenham a
chance de se integrarem a outra fam lia. Pela n o destitui o do poder familiar, estudos
e pesquisas na rea demonstram que a grande maioria das crian as institucionalizadas,
acabam permanecendo anos a fio de internamento, ficando na maioria dos casos, sem
receberem visitas de suas fam lias biol gicas (por op o deles pr prios) e portanto sem
a conviv ncia familiar ou a possibilidade legal de serem adotadas (WEBER 2002).
At a alguns anos atr s, o processo de destitui o do poder familiar demorava
quase dois anos, hoje de tr s a nove meses para ser conclu do se os pais forem
conhecidos e n o entrarem com recurso contra a decis o do juiz. Adotamos um meio
termo. Priorizamos o retorno familiar, mas n o podemos tolerar que um beb fique um
ano esperando at que os pais tenham condi es de cri -lo (DR L dia M. Guedes,
2004).
Mesmo com a tentativa de acelera o do processo, h grande nfase
primeiramente na valoriza o da reintegra o familiar biol gica, as autoridades nessa
rea, n o querem retroceder a erros anteriores, como na vig ncia do C digo de
Menores, no qual havia grande facilidade para a retirada dos filhos dos pais.
311
CAP TULO III
INSTITUI ES
A institucionaliza o de crian as e adolescentes leva a sociedade a constantes
questionamentos de como proceder com estes internados . Como deve-se refletir e
planejar os seus futuros onde haja o m nimo de preju zos para a forma o de suas
identidades e desenvolvimento? Como n o marginaliz -los ao afast -los do seu
conv vio social entregando-os nas institui es?
Frente a estes questionamentos n o poder amos deixar de remetermos inst ncia
jur dica, enquanto setor do poder p blico que ultrapassa essa esfera e enquanto
conjunto de leis, no sentido de verificar qual o tratamento que vem sendo dado
quest o da crian a ou do adolescente institucionalizado e sua influ ncia nas pr ticas de
atendimento aos mesmos e perante a sociedade.
As crian as e adolescentes institucionalizados s o percebidos pelo senso comum como
v timas ou como culpados da ordem social, ou como simplesmente Produto do
Sistema , este resultante da forma como a sociedade administra os seus processos de
exclus o, classifica o e de identidade. S o culpados quando t m que serem contidos,
dominados, controlados e at mesmo combatidos, e v timas quando a pr pria institui o
assume o discurso oficial no qual estes jovens s o influenciados por diversos fatores
como a sua classe social, cor, amizades, fam lia e do pr prio sistema quando ressalta os
seus princ pios ideol gicos (FONSECA e CARDARELLO 1999).
Estes argumentos acabam refletindo um teor altamente preconceituoso, o que
nos fazem refletir em como desconstruir conceitos naturalizantes de identidade e que
outros fatores contextuais podem determinar nossa maneira de olhar para esses
outros . Percebe-se que estes princ pios sociais tendem a priorizar certas categorias
em detrimento de outras.
Seguindo esta mesma linha de racioc nio, a do senso comum, as institui es que
desses jovens se ocupam, com suas variadas identidades ao mesmo tempo que, as
321
constroem com m ltiplas formas e propostas de atendimento e ressocializa o
demonstram-se em diversos n veis e pontos de vistas, nocivos a eles pr prios, a suas
fam lias e a sociedade.
Os funcion rios e t cnicos que da institui o fazem parte, nesta rela o, acabam
sentindo-se prejudicados e rotulados muitas vezes como burocr ticos, incompetentes e
aut matos nas suas fun es. Percebe-se que os agentes sociais, que s o respons veis
pela execu o das pol ticas no interior dos projetos e programas s o postos em n vel
mais baixo ao dos planejadores , em outras palavras, h um certo refor o na
hierarquia de prest gios que coloca a pr tica abaixo da teoria.
Esse tipo de atitude acaba refletindo sobre os funcion rios das institui es, que
t m que conviver com a heran a de car ter insidioso de institui es passadas, e com a
permanente desconfian a da opini o p blica. Esses procedimentos, acabam
estigmatizando os t cnicos dando-lhes um perfil marginalizado quanto execu o de
inova es no trabalho, bem como dando um destaque maior para a fragmenta o de
implementa o de alguns objetivos.
Vemos refor ado este pensamento na pesquisa feita em trabalhos anteriores
sobre institucionaliza o de crian as efetuada por FONSECA e CARDARELLO
quando relatam:
(...) percorre quase todas as obras um tom apocal ptico em que os administradores e
funcion rios das institui es parecem representar as for as do mal. Parece subentendido que se
somente fosse poss vel substituir esse aut matos da institui o total por uma equipe de pessoas
esclarecidas (cientes, entre outras coisas, das cr ticas anal ticas do pesquisador) as coisas
poderiam ser melhoradas (1999: p 91-92 it.).
Dessa perspectiva, as institui es e de quem delas fizer parte, por sua fun o
social, s o percebidas como subvertidas e com isso deveriam ser combatidas e at
mesmo eliminadas. O que na pr tica acaba acorrendo s o reformas sobre reformas, e
que independem das ocorr ncia de mudan as na sociedade, no judici rio ou na
legisla o, sendo que esses tipos de mudan as ocorrem de forma lenta e n o
abrangem as dimens es necess rias, para uma eficaz transforma o . Entretanto, s o
travados programas espec ficos em todos os casos para disciplinar, recuperar, proteger e
331
tamb m para fazer a distin o dos bons e dos maus.
Assistencialismo como salva o das almas
Inicialmente a pr tica da institucionaliza o era posta aos miser veis, aos
doentes, aos loucos e aos abandonados e inseria-se numa concep o religiosa, na qual
consideravam estes como v timas da vontade de Deus e alvos privilegiados da pr tica
caritativa orientada para a vida eterna, o conforto do esp rito, e para a salva o das
almas ( RIZZINI, 1995; ALBUQUERQUE, 1978).
O hospital nesta poca (Santas Casas), cumpria o objetivo da salva o da alma
do pobre , era um lugar onde morrer , n o um lugar de tratamento m dico, de cura.
Os que nele trabalhavam eram um pessoal caritativo-religioso ou leigo , que ali estava
para fazer uma obra de caridade que lhe assegurasse a salva o eterna . Esses
hospitais tinham tamb m a fun o de realizar a separa o de indiv duos perigosos para
a sa de da popula o em geral (FOUCAULT, 1984).
conveniente destacar que neste contexto, os hospitais n o estavam ligados
essencialmente cl nica m dica, eram mais como um dep sito de doentes, loucos,
carentes, infratores e abandonados. Como nos relata FOUCAULT (1984: p 101):
(...) essencialmente uma institui o de assist ncia aos pobres. Institui o de assist ncia como
tamb m de separa o e exclus o. O pobre como pobre tem necessidade de assist ncia e, como
doente, portador de doen a e poss vel cont gio, perigoso. Por estas raz es, o hospital deve
estar presente tanto para recolh -lo quanto para proteger os outros do perigo que ele encarna.
Nestes hospitais al m do assistencialismo , continham as Rodas dos
Expostos ou Roda dos Enjeitados 10, onde os beb s rejeitados pela fam lia
encontravam amparo na institui o sem que houvesse a necessidade dos pais se
identificarem.
Para que houvesse a disciplinariza o principalmente das camadas populares,
a fam lia foi reorganizada pelo Estado em torno da higiene dom stica .
Motivos para a institucionaliza o
O princ pio da institucionaliza o de crian as e adolescentes serve como um
10 Manteve-se essa pr tica, em diversos lugares do Brasil at 1950.
341
dispositivo jur dico-t cnico-policial que pretende ter o objetivo de proteger a inf ncia
contra o abandono, maus-tratos, viol ncia, fome, falta de condi es de sa de e higiene,
etc.
Percebe-se que desde in cio da poca moderna, a ci ncia juntamente com o seu
discurso, tentam apurar suas categorias quanto aos indiv duos, hoje chamados de
exclu dos . Estes ao serem desajustados sociais por serem marginais econ micos ,
delinq entes , desviantes ou alienados , destoam do cen rio supostamente
harm nico da sociedade vigente.
Percebe-se que a discuss o sobre a institucionaliza o da inf ncia pobre com as
mudan as na lei e de leis, implica numa mudan a de categorias de classifica o destes
jovens. Atr s de cada mudan a h tamb m uma hist rica tentativa categoriza o dos
internos quanto a serem delinq entes , abandonados ou rf os .
Para as institui es a classifica o se torna um meio mais pr tico e r pido
para solucionar os problemas administrativos. Pela demanda excessiva da clientela
v -se uma reserva-se maior n o para crian as necessitadas, mas sim, para crian as
indisciplinadas, estas, que poder o a vir, supostamente, representar uma amea a
sociedade.
No Brasil, somente a partir do ECA (1990), que houve um esfor o para
racionalizar o atendimento ao jovem, instaura-se uma clara separa o entre duas
categorias de jovens institucionalizados: por um lado o abandonado , por outro lado o
adolescente autor de ato infracional .
Com a tentativa de introduzir uma nova proposta pedag gica seguindo os
preceitos do ECA, como os da proibi o de castigos f sicos, limitado n mero de
internos nas institui es, institucionaliza o somente com ordem judicial, estipulando
que ningu m seria privado de liberdade sen o em flagrante, o perfil dos internos
passou a mudar.
No perfil dos infratores temos, conforme FONSECA e CARDARELLO (1999: p
98):
(...) os autores de infra es leves passaram a receber medidas s cio-educativas relativamente
brandas: advert ncias, presta o de servi os comunidade, liberdade assistida - tudo menos a
351
institucionaliza o. Sobraram para a institui o apenas os jovens autores de crimes graves -
aqueles que ficam mais tempo internados.
J para os jovens entregues ou abandonados nas institui es temos que o
dilema ligado aos direitos humanos se demonstra n o s para as crian as mas tamb m
para as suas fam lias.
Trata-se de um dilema alimentado por dois princ pios contradit rios do ECA. Se por um lado
garante-se a crian a e adolescente o direito de serem criados e educados no seio da sua
fam lia (art. 19), por outro, devem tamb m ser assegurados seus direitos referentes ao acesso
sa de, educa o, alimenta o, lazer, esporte, entre outros (art. 4) (FONSECA e
CARDARELLO, 1999: p 103).
Categorias de classifica o
conveniente ressaltar que com o passar do tempo o sistema de classifica o
acaba multiplicando-se nas suas categorias, e certas categorias acabam sendo eleitas
como alvo merecedor e priorizados em detrimento de outras.
Na d cada de oitenta h uma certa prolifera o e aumento de categorias que
sublinham a falta de moral dos pais e tutores. O motivo nesta poca, para o ingresso nas
institui es era o problema s cio-econ mico ou decorr ncia direta dos mesmos. J
em meados da d cada de noventa as interna es caem em categorias que sugerem a
a o mal fica dos pais/tutores como abandono , maus-tratos , neglig ncia ,
abuso .
Fonte: Weber e Kossobudzki, 1996
361
Com a mudan a da passagem do problema s cio-econ mico para a
neglig ncia percebe-se que os casos assistenciais s o os grandes problemas para as
institui es no Brasil, independente do nome que se d a eles. E que nas palavras de
FONSECA e CARDARELLO (1999: p 197):
Se em 1985 considerava-se que motivos como mendic ncia , maus tratos , desintegra o
familiar e doen a do menor eram decorr ncia direta de problemas s cio-econ micos ,
hoje, mais do que nunca, a fam lia pobre, e n o uma quest o estrutural, culpada pela situa o
em que se encontram seus filhos . ela que negligente , maltrata as crian as, as faz
mendigar, n o lhes proporciona boas condi es de sa de, enfim, n o se organiza . Em suma,
parece que a fam lia pobre - e n o o Poder P blico ou a sociedade em geral - o alvo mais
f cil de repres lias .
Destaca-se com essa id ia uma situa o em que a no o de crian a cidad ,
com os seus direitos e deveres adquiridos e garantidos atrav s do ECA, leva como
complemento quase que de modo inevit vel a de ter pais negligentes . Antes do ECA,
as institui es muitas vezes eram utilizados pelos pais como uma esp cie de internato
do pobre (FONSECA, 2002), que consideravam a institui o como um recurso
complementar vida familiar, apesar do rep dio institucionaliza o. Com o ECA
t m-se que a institucionaliza o dever ser transit ria, ou seja, uma medida
provis ria e excepcional, utiliz vel como forma de transi o para a coloca o em
fam lia substituta (art. 101).
A a o jur dica
Segundo o ECA, o objetivo principal das institui es a tentativa do retorno do
jovem para a fam lia biol gica, t o logo esta fam lia esteja em condi es de a acolher
novamente. Caso a fam lia, durante o tempo estipulado n o conseguir se reestruturar
para acolher a crian a ou o adolescente, este por medida judicial se manter na
institui o e dependendo do caso ser destitu do o poder familiar.
371
O tempo para reaver o jovem da institui o depender da a o da sua fam lia
que dever ser e estar constantemente avaliada pelos t cnicos do servi o social do
Juizado da Inf ncia e Juventude. Para que possa haver o encontro entre as partes,
feita uma interven o t cnica entre a fam lia do jovem em situa o de risco , o
assistente social e a Vara da Inf ncia e da Juventude.Ser na Vara da Inf ncia e da Juventude, atrav s da Comiss o Estadual
Judici ria de Ado o (CEJA)11, que se demonstra como parceiro do juizado e nelecentraliza-se todas as ado es do Estado, e na qual, se (...) pretende dar nfase n o sno aspecto legal, mas tamb m aos aspectos t cnicos, visto que o problema b sico dasado es reside no campo s cio-cultural , segundo a SR Jane A. Pereira Prestes(Coordenadora do CEJA/PR - Ado o Internacional), o objetivo da atua o da equipede interven o t cnica o de trabalhar com uma abordagem sist mica: Entendendoque a fam lia funciona como um sistema de intera o, constitu da por elementos ligadosentre si, de forma que a mudan a em um elemento ser seguida por uma nova mudan anos outros elementos .
Temos tamb m, como uma extens o e apoio da Vara da Inf ncia e da Juventudede Curitiba o Projeto Recriar: Fam lia e Ado o, que se constitui, seguindo tend nciasde associa es existentes em outros Estados, como um grupo de apoio ado o,formado por profissionais de diversas reas, pais, filhos adotivos e pessoas volunt rias,que atrav s de informativos, encontros, reuni es e muita conversa, tentam esclarecer eapoiar os futuros pais e tamb m conscientizarem e estimularem a comunidade sobrea ado o.
Conforme entrevista com a SR Neuza M. dos Santos, assistente social da 1Vara, feito todo um trabalho de acompanhamento para as fam lias de crian as eadolescentes em situa o de risco e tamb m dos jovens nas casas lares e nos abrigos.No transcorrer do processo, ser , principalmente o Conselho Tutelar dos bairros queindicar e encaminhar o jovem em situa o de risco . Mais tarde haver a tentativade fazer v rios estudos psico-sociais da fam lia, que contar com entrevistas,orienta es e acompanhamento dos pais e outros familiares. Os problemas familiaresapresentados em sua maioria s o o alcoolismo, as drogas e em muitos casos defici nciamental, e que segundo a entrevistada nem sempre decorrente do uso cont nuo dessesprodutos.
O processo, at chegar ou n o a destitui o do poder familiar se dar , conformea entrevistada, em etapas. Ap s a avalia o, a pedido do Conselho Tutelar ou de algumrg o da Prefeitura, ser efetuado a busca e apreens o do jovem que ir para o abrigo
(que ser tempor rio). Esta uma medida de prote o determinada pelo juiz, que pedirpara a equipe t cnica do juizado um estudo social da fam lia desse jovem. O t cnicoque um profissional do servi o social trabalhar durante um certo tempo, formulandov rios estudos e diagn sticos de acompanhamento das vontades (de manter a crian a) eda probabilidade social desta fam lia para manuten o da crian a ou do adolescente.Em posse desse diagn stico o juiz far sua avalia o, e determinar a volta desse jovem
sua casa, a manuten o por mais algum tempo na institui o ou ainda da destitui o
11 O Juizado da Inf ncia e da Juventude da Comarca de Curitiba foi fundada em 02/04/1925, com onome de Juizado de Menores. O CEJA - PR foi criado em 1983, com a inten o de ser um rg ofiscalizador da rea, sendo o terceiro do Brasil, ap s ele, foram criados mais 26 em diversos capitais dopa s.
381
familiar para que essa crian a ou adolescente possa ter a oportunidade de ser adotadoe ter uma outra fam lia.
Segundo a ju za DR L dia Mattos Guedes da 1 Vara de Curitiba (...) n o setira uma crian a dos pais por motivo de pobreza. A pobreza n o crit rio parainstitucionalizar uma crian a ou adolescente, mas sim os maus tratos, abandono,abuso .
Estigma e institucionaliza o
A institui o concorre para a estigmatiza o das crian as e adolescentes que
dela fazem parte, na medida em que imputam-lhes marcas tais como crian as
carentes , crian as abandonadas , crian as rebeldes , crian as-problemas , que vem
diferenci -las das demais crian as e adolescentes normais .
No trabalho de GOFFMAN (1975), observamos que o estigma se demonstra
como uma situa o do indiv duo que est inabilitado para a aceita o social plena , e
que acaba por refletir em seus atos ou na aus ncia destes, uma forma de culpa ou de
puni o pelos pecados seus ou dos outros. Uma das caracter sticas centrais da vida de
uma estigmatizado, s o as buscas pela aceita o .
O estigmatizado v -se e sente-se incapaz e inabilitado para uma aceita o social
plena. Este indiv duo atinge este estere tipo, quando for ado pelas exig ncias feitas
pelos que o cercam, de como ele deveria ser e agir, e sendo enquadrado como algu m
diferente do que se caracterizaria como normal , dentro da sociedade.
Percebe-se dentro do processo de ado o, tanto o estigma de adotivo como no
preconceito social da ado o. Ambos reafirmam o preconceito e alimentam a
estigmatiza o do adotado, medida que incidem sobre o n o-pertencimento a uma
fam lia e, de modo menos expl cito, a uma classe social, mas tamb m sobre o
desconhecimento relativo identidade do adotivo.
Em outras palavras, quando a sociedade ao categorizar os indiv duos pelos
atributos comuns e naturais entre os seus membros, faz, inconscientemente,
afirmativas de como o indiv duo deveria ser, a partir dessas compara es , que
podem surgir evid ncias que este indiv duo observado, tem atributos que o tornam
diferente dos outros que se encontram na mesma categoria. A partir de ent o, deixa-se
de v -lo como um comum e passa-se a v -lo como um inferior . Esses atributos
variaram dependendo dos estere tipos criados. O estigma acaba atuando sobre a
391
identidade social dos indiv duos e que consequentemente os transporta margem da
sociedade.
Observa-se atrav s do trabalho de GUIRADO (1980) que o jovem tratado
acentuadamente como um sujeito jur dio-penal: entrevistas com o menor , relat rio
social , encaminhamento adequado do caso , elabora o de parecer . Na pr tica d
para perceber como se concebia o atendimento crian a-menor na institui o e
tamb m como se concebia a pr pria no o de crian a-menor . Esta, vista pelos
funcion rios da institui o como um ser carente e pass vel de transforma o e com
poucas ou nenhuma caracter sticas pr prias.
Segundo GOFFMAN (1990: p 24), essa falta de individualidade se d tamb m
por parte do interno que acaba sistematicamente mudando o seu eu :
O novato chega ao estabelecimento com uma concep o de si mesmo que se tornou poss vel
por algumas disposi es sociais est veis no seu mundo dom stico. Ao entrar, imediatamente
despido do apoio dado por tais disposi es.(...) come a a passar por algumas mudan as radicais
em sua carreira moral, uma carreira composta pelas progressivas mudan as que ocorrem nas
cren as que t m a seu respeito e a respeito dos outros que s o significativos para ele.
Na pesquisa de WEBER (2002: p 51), que teve por objetivo identificar os
sentimentos das crian as institucionalizadas em rela o a seus pais biol gicos e suas
expectativas em rela o ao futuro, demonstra que h um certo conformismo para o
jovem frente a sua situa o de institucionalizado, aliado a um desejo de mudan a e
liberdade. Tais conflitos tendem a ser abafados pelo processo disciplinador da
institui o, que valoriza a obedi ncia e a submiss o . Vemos essa mesma perspectiva
em GUIRADO (1980: p 160) (...) essas crian as adquirem uma certa capacidade de
resist ncia e auto-defesa que as fazem sobreviver a evidentes condi es de sofrimento .
Essa barreira formada e concretizada tanto por funcion rios como pelos
pr prios internos acabam refletindo em um abismo com o mundo externo. A perda dos
la os sociais ser um fator significativo para esse indiv duo, visto que mais tarde com o
seu reingresso na sociedade, ele conseguir restaurar somente alguns pap is,
enquanto outros se demonstrar o como perdas irrecuper veis (GOFFMAN, 1990).Percebe-se que o tipo de institui o, das quais fazem parte os antigos orfanatos12,12 Ao fazer o tratamento de antigos orfanatos , estarei delimitando estes como anteriores ao Estatuto
da Crian a e do Adolescente, promulgado em 1990.
401
n o preparavam o jovem para a sua sa da na maior idade ou pela ado o e com umgrande agravante, pela sua estrutura o a institui o retirava deste jovem qualquertipo de possibilidade de integra o e intera o com a sociedade. O reflexo sedemonstrar na falta de preparo desses jovens para enfrentar um mundo onde ascondi es sociais se tornar o irreais para quem dele estava exclu do.
Institui es totais - orfanatos/educand rios
A preocupa o de in cio com o abrigo das crian as deserdadas da sorte ,
abandonadas e rf os, n o era somente dar-lhes um teto e alimento, mas tamb m
forma o religiosa, alfabetiz -los e ensinar-lhes uma arte de of cio. O que na realidade
refletia em m o-de-obra com boa qualifica o para a poca, m o-de-obra especializada
e civilizada , com forma o moral e religiosa e ordeira, como se desejava, e, torn -los
teis sociedade (SILVA, 1997; MATTA, 1999).
O ambiente institucional dos antigos orfanatos e educand rios, a partir do
C digo de Menores, se constitu a atrav s das normas imputadas por ele, refletia uma
extens o da entidade jur dica. Temos que o objetivo principal para essas institui es era
o de planejar e executar programas de atendimento integral ao menor carente,
abandonado ou infrator, fazendo cumprir as diretrizes da pol tica nacional do
bem-estar do jovem e tamb m da sociedade.
Se considerarmos as condi es f sicas do local destinado ao funcionamento
dessas institui es e suas formas de utiliza o nos remeteremos ao trabalho de
GOFFMAN (1990), que destaca esse tipo de grupo fechado com tend ncia ao
isolamento como institui es totalit rias ou institui o total. T m-se dentro dos
muros dessas institui es totais todos os variados aspectos da vida, ou seja,
engloba-se v rios procedimentos como resid ncia, trabalho, estudo, tudo em um mesmo
local, planejado, supostamente, para atender aos objetivos oficiais da institui o.Percebe-se a inflexibilidade deste tipo de institui o no relato de SILVA (1997: p164)13 A estrutura f sica da institui o determina o espa o, o lugar, a cama, a mesa e oassento que o interno passar a ocupar, estabelecendo total controle sobre o corpof sico, tanto do adulto como da crian a .
Se retrocedermos para a hist ria dos antigos orfanatos , veremos que a pol tica
da interna o dentro das institui es se dava de forma muito distinta da qual se
13 Estudo realizado sobre as condi es institucionais de atendimento s crian as rf s e abandonadas,em S o Paulo, sob a tutela do Estado, durante o per odo de vig ncia do governo militar. Trabalho quecontou com a an lise de 370 crian as precocemente institucionalizadas sendo que o autor se encontravaentre elas.
411
prop e o Estatuto atual. Tem-se, que a partir da coloca o feita pelos pais dos
motivos para o internamento, os assistentes sociais selecionavam os casos que
realmente necessitassem de interna o, estes, encaminhavam os pais e filhos para
outros projetos ou marcava novos retornos para novas entrevistas, raramente ocorria a
interna o de forma imediata, visto que a procura era grande e o n mero de vagas
limitado.
Com o internamento da crian a a m e recebia por alto algumas informa es
elementares como em que abrigo a crian a estaria e os dias de visita, entretanto (...) a
m e recebe pouqu ssimas informa es a respeito do que acontecer com seu filho, dos
locais de perman ncia e das possibilidades de remo o ou perman ncia (GUIRADO,
1980: p 57).
Nesta mesma linha, a da falta de di logo, temos que tamb m h restri es para a
transmiss o de informa es quanto aos planos dos dirigentes para os internos, estes
acabavam n o tendo conhecimento das decis es quanto ao seu destino e
consequentemente n o poderiam intervir sobre ele (GOFFMAN, 1990).
A ant tese do conformismo , nos apresenta por SILVA (1997: p 164), no
desenvolvimento de mecanismos de resist ncia ao processo da institucionaliza o.
No universo infantil, tais mecanismos, quando vistos por um observador externo,
podem apresentar-se como uma s rie de comportamentos e de atitudes logo tipificados
como rebeldia e indisciplina . Enquanto que para um adolescente o esfor o n o s
para defender suas particularidades (vaidades ou prefer ncias pessoais) mas, Ele
exercita sim sua capacidade de resist ncia para defender e preservar um conjunto de
valores adquiridos, sejam eles valores pr prios ou incorporados dentro da
institui o (1997: p 167).
Destacamos que no atendimento de crian as e adolescentes, os moldes dos
antigos orfanatos refletiam uma tentativa de organizar o trabalho, no qual se dar uma
certa previs o das atribui es de cada funcion rio e o tempo gasto com cada crian a.
De acordo com GOFFMAN (1990) e ALBUQUERQUE (1978: p 72), nessas
institui es totais h uma dist ncia social e uma clara divis o entre o grande grupo
controlado (internados) e o pequeno grupo que controla (dirigentes).
421
(...) como institui o uma estrutura de pr ticas institucionalizadas, isto , que tendem a se
reproduzir e se legitimar, definindo, portanto, uma institui o como estrutura, ela n o pode
existir, sen o na pr tica dos atores concretos que a constituem praticando-a. Dentre os atores
institucionais, cabe distinguir os agentes institucionais, o mandante, a clientela e o p blico, e o
contexto institucional.
Dentro da estrutura desse tipo de institui o havia certa rigidez refor ada no
tratamento desses jovens (clientela), onde a disciplina, a organiza o, o respeito, a
obedi ncia, a servilidade e a resigna o dos mesmos refor avam o lugar, a hierarquia e
o papel que cada um deveria manter frente a autoridade central (mandante), e onde
a sociedade (p blico) muitas vezes n o participa, s na percep o da a o institucional,
mas, podendo eventualmente, fazer parte da clientela.
O estabelecimento de um poder absoluto, ou seja, a exist ncia de um chefe
estabelecendo regras de controle tem a inten o de unir os membros imagem do
grupo que ele pr prio representa. O lugar dos adultos nitidamente demarcado,
estabelecendo um relacionamento baseado no respeito e na evita o , tendo como
objetivo evitar o conflito aberto, mantendo a rela o num n vel amig vel
Pela autoridade conferida a estes t cnicos, estes, acabam sendo os detentores de
um grande n mero de tens de conduta (comportamento, maneiras, roupas). Ao ser
incutida essa pr tica nos internos, principalmente os mais novos, estes sentem-se
acuados frente a tantos mandos e desmandos e pelas conseq ncias funestas quanto
desobedi ncia s regras; (...) qualquer pessoa da classe dirigente tem alguns direitos
para impor disciplina a qualquer pessoa da classe de internados, o que aumenta
nitidamente a possibilidade de san o (GOFFMAN, 1990: p 45).
Para que se tivesse fidelidade s normas estabelecidas pelo regimento, a
responsabilidade recaia sobre os membros que compunham a dire o e a administra o
das institui es no geral. Percebe-se que o perfil tra ado dos servidores, no in cio e
meados do s culo XX, beira uma forma de perfei o humana . Aspectos como
doutrina, disciplina, moralismo, postura, higiene e caridade deveriam ser o pr prio
exemplo do comportamento social desses funcion rios (MATTA, 1999).
Os funcion rios ao serem os respons veis pela administra o do cotidiano e vida
dos rf os, e por estarem em contato direto com os jovens , exigiam-se daqueles
431
virtudes morais , requisitos estes que se estendiam tamb m para os professores, cujo
plano de instru o deveria ser rigorosamente cumprido com relat rios semanais sobre a
educa o e o adiantamento dos colegiais. De todos se exigia o m ximo de empenho,
interesse compet ncia e responsabilidade perante as suas fun es. (MATTA, 1999).
Destacamos que o cargo de Censor foi especialmente criado para a manuten o
da ordem , visando inspecionar e dirigir as atividade e conduta dos rf os, conforme
MATTA (1999: p 71): Os observaria nas horas de estudo fora das aulas, recreio,
banho, comida ou passeio. Ele deveria ser o respons vel direto por manter a disciplina
da institui o . Percebe-se que para haver a necessidade de cria o deste cargo, a
institui o desejava uma maior vigil ncia e rigidez sobre os jovens internos, tanto
em rela o a sua postura f sica como mental.
Tamb m a hierarquia entre os alunos (delegada pelos professores) servia de
controle das atividades di rias dos institucionalizados. Estes tinham por obriga o
inspecionar os seus colegas , em qualquer parte onde estivessem, aconselhando-os a
cumprirem seus deveres de estudo. O trabalho de MATTA (1999: p 116), reflete a
grande dist ncia que se constru a entre a institui o e o interno, este com sua posi o
bem delineada:
Era tamb m claro que cada aluno deveria servir a si pr prio , sem jamais usar os empregados
do col gio. Arrumar camas, varrer aposentos, depositar lixo em local apropriado, vestir-se,
eram obriga es que o estudante deveria cumprir logo pela manh . Em seguida, esperava pelas
ordens do decuri o. Os alunos eram educados para a disciplina e mansid o; para se
acostumarem ao trabalho bra al e duro .
Orfanatos vs Casas-Lares
A institucionaliza o vista pelos pais como uma medida curto prazo, uma
maneira eficaz de assegurar o sustento e o disciplinamento dos jovens durante um certo
tempo. Mas estas circunst ncias excepcionais de pen ria (justifica o oficial da
interna o das crian as), s o, para muitas fam lias, n o-tempor rias, mas sim perp tuas,
e que pela omiss o do Estado para com estas fam lias para manter o filho junto a si,
acaba ocorrendo que 70% deles nunca recebem visita, e os outros 30% recebem
algumas visitas no in cio do internamento, mas que cessam mais tarde por completo
441
(WEBER e KOSSOBUDZKI, 1996: p 34).
A quest o da institucionaliza o pelo abandono ou pela destitui o dos pais, ou
por determina o jur dica, levam estes jovens a fazerem parte de uma forma de
exclus o social, sendo retirado deles as condi es b sicas para o exerc cio de sua
cidadania, ou seja, retira-se o contato com os v nculos com as institui es sociais como
a fam lia, a vizinhan a, a igreja, o clube, etc.
Se nos propusermos a observar melhor o Estatuto da Crian a e do Adolescente
(ECA) no que ele prop e ao sistema institucional para as crian as e adolescentes
abrigados e em referencia ao aspecto f sico da institui o veremos que a partir dele
houve uma prioridade nos desmonte dos grandes pr dios institucionais para pequenas
unidades residenciais.
A inten o formalizada do ECA, a de acolher a crian a ou jovem em situa o
de risco e dar-lhes um tratamento individualizado, personalizado e em pequenos
grupos, respeitando a preserva o dos v nculos familiares atrav s do
n o-desmembramento de grupos de irm os.
Para desenvolver os programas determinados pelo Estatuto (art. 92), as
institui es devem adotar v rios princ pios novos, inclusive, dando nfase nas
instala es f sicas, higiene, salubridade, seguran a, ou seja, em condi es adequadas
para a habita o. Entre alguns pontos que poder amos destacar, em contra-partida aos
C digos anteriores est o:
II - Integra o em fam lia substituta, quando esgotados os recursos de
manuten o na fam lia de origem;
V - N o-desmembramento de grupos de irm o;
VI - Evitar, sempre que poss vel, a transfer ncia para outras entidades de
crian as e adolescentes abrigados;
VII - Participa o na vida da comunidade local;
VIII - Prepara o gradativa para o desligamento.Na tentativa de seguir o que o ECA preconiza, houve a necessidade de umareestrutura o total das institui es que abrigavam esses jovens. As crian as eadolescentes antes institucionalizados em grandes orfanatos que chegavam a ter mais deuma centena de jovens, gradativamente14 passam a morar em novos projetos ou em
14 O processo de reformula o para se enquadrar dentro do que o ECA prop e, se deu maisacentuadamente a partir de 1998. O Instituto de Assist ncia Social do Paran (IASP) era o rg orespons vel pelos jovens dos educand rios do Estado, com a Lei de Municipaliza o (1989), estespassam a ser responsabilidade de cada prefeitura. Em muitos casos as prefeituras acabaram porassociar-se atrav s de conv nios com ONG's e com o pr prio governo estadual.
451
projetos reformulados, temos ent o as Unidades de Abrigo 15 Fam liasAcolhedoras e as Casas-Lares 16
V -se nessas novas diretrizes um refor o nos processos de integra o com a
comunidade, com a utiliza o de recursos externos dispon veis como escolas pr ximas,
postos de sa de, igrejas, reas de lazer e de recrea o. Essas atitudes acabam por
contrastar com a filosofia das institui es totalit rias, que pela sua atitude de
fechamento, barravam qualquer v nculo com o mundo exterior (GOFFMAN, 1990).
Na sua maioria, as entidades de atendimento se constituem como ONG'S ou por
pessoas volunt rias, que se disp em a trabalhar em parcerias com as prefeituras ou
outros rg os do Estado. O valor financeiro concedido para os projetos, segundo os
relatos, nunca o suficiente par sanar as necessidades b sicas das institui es, pois
al m do valor repassado para os projetos, referente a uma percapta por crian a (que
variar dependendo da idade do jovem, se beb valor menor, se adolescente valor
maior), h tamb m despesas com a estrutura administrativa, t cnica, al m de melhorias
necess rias aos programas.
Nos deteremos exemplificando a estrutura o social e familiar e a proposta de
atendimento das Casas-Lares. Pela experi ncia com esse modelo, h uma tentativa de
forjar um ambiente familiar para as crian as e adolescentes institucionalizados, sendo
que em muitos casos, essa ser a sua primeira experi ncia familiar . Dentro desse processo da constru o das casas-lares, faz-se necess rio pesquisar apartir do Estatuto o modo que se d s articula es dos seus artigos, que delegamamplos poderes17 para as entidades de atendimento, sejam elas governamentais oun o-governamentais. Segundo o ECA, entre as obriga es das entidades quedesenvolvem programas de interna o, destacamos (art. 94):
III - Oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos
reduzidos;
15A Funda o de Assist ncia Social de Curitiba (FAS), trabalha diretamente com as Unidades deAbrigo que conta com uma rede de institui es oficiais e outras conveniadas, destinadas a atendercrian as e adolescentes em situa o de risco , encaminhadas pelos Conselhos tutelares, SOS Crian a eo juizado. Veio substituir a Secretaria da Inf ncia, o que diferente deste, atende e orienta a crian a e oadulto da fam lia.
16As Unidades de Abrigos s o os primeiros locais onde os jovens s o encaminhados por recomenda ojudicial, como medida de prote o, por estarem vitimizadas, sofrendo maus tratos, abandono ouneglig ncia. A partir das Casas-Lares, est se concretizando outros modelos como a das Fam liasAcolhedores, que uma forma mais enxuta (2 ou 3 crian as) de institucionaliza o.
17 O Minist rio P blico e o Judici rio delegar o poderes desde que as entidades estejam cadastradasaos Conselhos Municipais dos Direitos da Crian a e do Adolescente da qual manter estreito contatojunto aos Conselhos Tutelares e s autoridades judici ria da respectiva localidade que far o afiscaliza o.
461
IV - Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao
adolescente;
XV - Informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situa o
processual;
XX - Manter arquivo de anota es onde constem data e circunst ncia do
atendimento, nome do adolescente, seus pais ou respons vel, parentes, endere os, sexo,
idade, acompanhamento da sua forma o, rela o de seus pertences e demais dados que
possibilitem sua identifica o e a individualiza o do atendimento.
Seguindo a id ia da constru o de novos modelos com novas condi es
institucionais , vemos elas serem asseguradas como uma nova perspectiva no art. 90 do
ECA - As entidades de atendimento s o respons veis pela manuten o das pr prias
unidades, assim como pelo planejamento e execu o de programas de prote o e
s cio-educativos destinados a crian a e adolescentes.
Com o gerenciamento ocorrendo dentro de cada entidade de atendimento,
estas tem uma maior autonomia para elaborar projetos, conseguir parcerias;
organizam-se atrav s das suas pr prias diretrizes em rela o a quais procedimentos
tomar que melhor ir sanar as necessidades do grupo e da institui o.
As informa es sobre as Casas-Lares foram tomadas em depoimentos no Projeto
RECRIAR e na Associa o ACRIDAS. necess rio que se fa am algumas ressalvas,
pois conforme apontamos anteriormente, as variadas formas de articula es ,
depender o dos moldes dados pelas coordena es e administra es das entidades de
atendimento; por se tratar de um projeto de mbito nacional (em muitos Estados ainda
est sendo estruturado), estes variar o de acordo com o contexto e com os atores que
deles participar o.As casas-lares s o unidades residenciais sob responsabilidade de m e e pai sociais18,que abrigam at no m ximo 10 crian as e adolescentes (tenta-se acomodar jovens deidades semelhantes), entre eles contar os filhos biol gicos do casal. O painecessariamente dever ter emprego, enquanto que a m e se dedicar a cuidar dascrian as ou dos adolescentes. Tenta-se com a perpetua o dos papeis, recriar o maistradicional poss vel o modelo familiar, em que o papel da m e abrigar e o do pai amanuten o da fam lia.
Nesse tipo de projeto os pais-sociais podem ser contratados 19, ou como no
18 Considera-se m e social aquela que, dedicando-se assist ncia da crian a ou adolescenteabandonado, exer a o encargo a n vel social, dentro do sistema de casas-lares, visando proporcionarcondi es familiares ideais ao seu desempenho e reintegra o social - Boletim IOB (Legisla oTrabalhista e Providenciaria), n. 3/88,Cad.TL.
19 Lei da M e Social, n 7.644, de 18 de dezembro de 1987 (sancionado pelo Pres. Jos Sarney). Leique regulamenta as atividades com profiss o, assegurando os seus direitos com: carteira assinada;remunera o (n o inferior ao sal rio m nimo); repouso semanal remunerado; trinta dias de f riasremuneradas; benef cios e servi os previdenci rios; 13 sal rio; INSS.
471
nosso exemplo s o volunt rios , pois segundo a Associa o, esta atividade n o vistocomo um emprego (apesar de alguns anos atr s os educadores terem tido registro emcarteira de trabalho, o que para hoje, por falta de recursos financeiros n o seriam maisposs vel).
Os pr -requisitos para serem pais-sociais, neste caso, ser o: terem estabilidadena uni o com mais de 10 anos, serem evang licos e seguirem as normas do Estatutopara os Pais-Sociais , que a Associa o fornece. Dentro de uma institui o total, comovisto por GOFFMAN (1990), s o essas mesmas normas , regras da casa que dar oum conjunto formal e explicito de proibi es e prescri es quanto conduta do interno.O que s v em a perturbar ou profanar as a es que na sociedade civil s o t o caras,como a autonomia e a liberdade de a o.
Entretanto, dentro das institui es acontecem ajustamentos internossecund rios , que s o pr ticas que n o desafiam diretamente a equipe dirigente, masque permitem que os internos consigam certos ganhos , o que poder acarretar dentrodo grupo formas de eleva o moral e de solidariedade (GOFFMAN, 1990; WEBER,M. 1974), independente desses ganhos serem limitados. Vemos no nosso exemplo,que h varia es de uma casa para a outra em referencia as regras , j que os pais,podem imprimir o seu jeito de dirigir a casa , sendo que em muitas vezes os jovensparticiparam do estabelecimento das normas.
Para o recrutamento dos pais-sociais/educadores (n o s o muitos os candidatos),eles passam por um processo seletivo. O perfil dos selecionados demonstra que eless o na sua maioria de Curitiba, sabem da vaga atrav s da igreja (por ser um dos locaisem que toda a fam lia participa, acaba acontecendo uma certa propaganda ), o n vels cio-econ mico baixo e a escolaridade tamb m baixa (h poucos casos de terem oensino m dio), tem em m dia 3 a 4 filhos, seus trabalhos acabam sendo servi oscomo os de vigias e oper rios. O contrato com esses pais, n o por per ododeterminado, h um termo de compromisso, que caso aja desist ncia a parte contr riatem que ser avisada com 30 dias de anteced ncia. Se o casal que vai embora, oprocedimento da Associa o o de tentar manter o grupo de crian as na mesma casa eencontrar outros pais-sociais. GOFFMAN (1990) aponta que dentro das institui es
h uma procura eterna para se atingir um objetivo oficial . Em muitos casos serindicado como a reforma dos internos como o padr o ideal a ser atingido, sendo queneste contexto tanto a equipe dirigente como os t cnicos e educadores dever o estarsintonizados para com os objetivos comuns.
As crian as e adolescentes em condi es de abrigo , por via de regra, s o todaspreviamente cadastradas pelo juizado, e as entidades s recebem jovens vindos pormeio de entidades conveniadas. Segundo relato, n o h fila de espera para oacolhimento nas casas-lares. Nessas casas-lares, os internos passam a dividir e aintegrar a rotina de uma fam lia normal . Desde repartir o p o com o irm o (atent o, dentro das grandes unidades havia o servi o de bandeij o , onde os internoseram servidos por funcion rios), at a administra o, junto com os pais-sociais, dodinheiro (percapta) referente a cada um.
Esta percapta por crian a abrigada , utilizada para o pagamento das suasdespesas como roupas, alimenta o, material escolar, lazer , sendo que todos os gastoss o acompanhados pela supervis o das notas fiscais, e, independente da n ocobran a de aluguel, gua e luz dos pais-sociais, estes acabam constantemente
481
inteirando - com o seu pr prio dinheiro - despesas extras da sua fam lia . Percebe-se que diferente do distanciamento que os dirigentes das institui es
totais tentam manter dos internos, essa nova abordagem das casas-lares, acabaaproximando os atores, com sentimentos de camaradagem, de preocupa o com o seu
bem-estar, de afei o. No esfor o de manterem-se unidos como fam lia , vemos queh uma tentativa dos pais-sociais, de criarem para si mesmos, uma imagem de pessoascompreensivas e bondosas; ser o controle emocional, perante as diversas situa es queregular as boas rela es entre os membros do grupo.
A partir dos 14, 15 anos, os adolescentes passar o por um processo gradual dedesligamento (segundo a institui o, depender da maturidade de cada um), passar o
para outro projeto onde n o haver mais pais sociais, mas atendentes. Neste novoabrigo (rep blica), o adolescente dever aprender a se virar sozinho (cozinhar, lavar,procurar emprego), pois segundo a entrevistada: Daqui, eles saem sozinhos, eles ter oque se virar sozinhos! Com rela o a est gios ou trabalho, nesta institui o n o hnenhuma forma de conv nios; o adolescente que ir determinar a sua profiss o, sendoque at a sua sa da o estudo ser obrigat rio.
No in cio do trabalho apontamos as novas mudan as institucionais como uma
forma da sociedade reparar e ajustar processos que n o estavam cumprindo o seu
papel perante a comunidade. A integra o na sociedade, de jovens institucionalizado,
que anteriormente, ao completar a sua maior idade (18 anos), e n o tendo tido a
oportunidade de serem adotados, e eram empurrados das institui es para dentro da
sociedade , acabava gerando um engrossamento na fatia de exclu dos , j que estes
n o se adaptar ao modelo ideal imposto pela legisla o e pela sociedade.
Em certa medida, atrav s do perfil imposto pelas casas-lares da socializa o em
fam lia e do tratamento da individualidade de cada jovem, tenta-se abrandar o
processo da institucionaliza o. Percebe-se que h efetivamente, uma tentativa da
pr pria sociedade em encontrar medidas para sanar defici ncias dentro do seu
sistema, que se demonstram nas variadas articula es pensadas para o ECA. Neste
momento, independente das a es n o estarem sendo colocadas em pr ticas em sua
forma integral, muitos segmentos da sociedade est o se mobilizando, o primeiro
passo. A sociedade j percebeu o problema.
CONCLUS O
491
O trabalho apresentado nestas p ginas, n o pretende solucionar problemas de
ordem social, econ mica, cultural, psicol gica ou pol tica, uma reflex o, cujo foco a
institucionaliza o da crian a e do adolescente, mas que vai muito al m deles. Abrange
a legisla o, o preconceito, o abandono , o estigma, a falta de oportunidades, e a
tentativa de diversas camadas da sociedade em driblar e moldar a sua realidade
social.
Buscamos atrav s da vida social da crian a dentro da hist ria e mais
explicitamente a do Brasil, perceber como a sociedade concebeu a no o de crian a e a
concebe hoje, atrav s das inst ncias jur dicas, estas que por fim ltimo, acabam por
regularem e definirem os destinos delas. Por meio dessa retrospectiva tentamos
apreender tra os que marcaram e marcam a hist ria da nossa na o. Sendo que a
interfer ncia do Estado na desprivatiza o da esfera dom stica se demonstrar como
um processo complexo e ainda inacabado.
O que fazer com os jovens abandonados ? Quem deve cuidar da crian a?
Quem pode adotar? Quem det m o p trio poder? Quem o respons vel , o tutor , o
guardi o ? De quem a responsabilidade do que deve ser feito? Quem pagar pelas
atitudes tomadas?
Este trabalho poder dar indica es de como esses problemas foram tratados
atrav s da responsabilidade historicamente assumida pela Fam lia, pela Igreja, pelo
Estado e pela Sociedade. As respostas ser o, em v rias medidas, apontadas neste
estudo, e depender da percep o de cada um frente ao que se prop e, j que h v rias
formas de entendimento e abordagem sobre a quest o. Entretanto, frente aos variados
comportamentos familiares, e por se tratar de diversas esferas da sociedade,
entendemos que relativizar perante as situa es, seriam as op es mais acertadas.
Ser em muitos casos a heran a social da crian a, obtida pela classifica o da
sua origem familiar, que determinar as variantes das responsabilidades. Os
bem-nascidos ter o a inf ncia garantida; os demais estar o sujeitos ao aparato
jur dico-assistencial destinado a educ -los ou corrig -los. Alguns ser o crian as e os
demais menores .
A protagonista desta hist ria foi a crian a-menor, denominada assim
501
juridicamente, e vista como a que necessitar de orienta o , assist ncia e
amparo ; e na qual a sociedade como um todo deveria definir o campo das
responsabilidades e das a es, indo desde a caridade, a filantropia, a assist ncia p blica
ou privada at a regulamenta o de cunho social ou penal.
Percebeu-se que situa es onde aparecem a pobreza, a inseguran a e a
estabilidade tanto emocional como profissional, passam a ser elementos quase que
invari veis para que as fam lias recorram a esses tipos de artif cios da interna o
como solu o para o problema-crian a .
Ao tratarmos, com algumas ressalvas, da legisla o relativa inf ncia, dando
nfase ao C digo Civil, aos C digos de Menores e ao Estatuto da Crian a e do
Adolescente, tentamos reconstruir um pouco das suas trajet rias para podermos
enfrentarmos o desafio que o tema instiga. Vemos que a proposta dos dois C digos de
Menores, de se dar um tratamento jur dico diferenciado a crian as e adolescentes com
o Estado vindo a ser chamado para intervir e mediar, demonstra uma tentativa de
reordenamento pela esfera da a o p blica (RIZZINI,1995).
Com o Estatuto da Crian a e do Adolescente, em vigor, vemos acontecer uma
ruptura com o sistema anterior. Surgem mudan as significativas no cen rio social e
pol tico do pa s, refletindo a emerg ncia de outro movimento em torno da inf ncia,
contando desta vez com a participa o de diversos segmentos da sociedade civil. s a
partir dele que a cidadania da crian a e do adolescente passam a fazer parte nos
discursos e nas agendas dos atores pol ticos.
Ao confrontarmos as novas normas institu das pelo ECA, com as delegadas nos
antigos orfanatos e educand rios - institui es totais (GOFFMAN 1990), vimos que
os seus princ pios hier rquicos que demarcam posi es e status social de cada um dos
atores. A vida era administrada pelos funcion rios em atitudes de vigil ncia e de
reprodu o da estrutura social, sendo que a pr pria institui o diferenciava as suas
crian as das demais normais na tentativa de sociabiliz -las segundo o modelo
dominante. Nestes casos as atividades s o coletivas e programadas em todas as fases, as
crian as e jovens acabavam por levar uma vida enclausurada, an nima e administrada
rigidamente.
No exemplo das casas-lares, percebe-se nestas uma maior autonomia dos
511
pais-sociais para o gerenciamento e constru o do cotidiano junto aos seus filhos .
Pela quantidade menor de internos , h a tentativa de busca de uma maior
individualidade para com os jovens. Uma nfase para a sociabiliza o destes junto a
comunidade, (igreja, escola), visando principalmente a sua integra o na sociedades
para mais tarde a sua sa da . Entretanto, n o se pode deixar de lembrar que as
casas-lares continuam sendo institui es, e que apesar dos pais-sociais n o serem
empregados, mas sim volunt rios , estes acabam por ter que responder a crit rios,
normas e regimentos previamente estabelecidos, o que por extens o, acabar por refletir
nos seus filhos .
Percebemos no decorrer deste estudo, como os la os de sangue acabam por
delegar na crian a uma identidade n o s biol gica, mas tamb m uma identidade social
pr via. O sangue passa a influenciar nas atitudes sociais e culturais dos indiv duos
demonstrando o seu poder enquanto fornecedor de identidade, o que perante a
sociedade ser algo normal e imut vel em detrimento ao processo da ado o que
tender a ser percebido como uma miscegena o da heran a biol gica, cultural e social
do passado obscuro da crian a juntamente com a dos pais atuais.
Pelo preconceito que encontramos frente ao processo da ado o, principalmente
com crian as consideradas velhas (com mais de 2 anos), e independente de
percebermos uma corrente jur dica tentando uma abordagem mais otimista (talvez para
influenciar uma abertura maior frente aos poss veis adotantes ), esta impureza
biol gica, social e cultural poderia vir a ser a respons vel por categorizar perante a
sociedade, de forma mais baixa, a fam lia adotiva do que a da fam lia natural , e
consequentemente os adotantes e os adotivos seriam mais desprestigiados e teriam
uma delega o menor no status familiar.
Apontamos a circula o de crian as entre parentes e conhecidos , e para a
situa o que os pais passam a perceber as institui es como um recurso a curto prazo,
como maneiras eficazes de se assegurar o sustento e o disciplinamento dos jovens
durante os tempos dif ceis , e que estas medidas passam a ter e ser uma
complementa o corriqueira vida familiar. Dentre estas solu es para o problema
do que fazer com os filhos, tamb m podemos incluir a ado o brasileira (apesar da
ilegalidade ), como uma transfer ncia entre as partes, para suprimir defici ncias
521
(de variados graus) entre ambos os casais contratados.
Quando tratamos da ado o, percebemos ser um grande sistema que abrange em
seu seio o preconceito, o estigma, as virtudes morais , juntamente com as m ltiplas
conseq ncias sociais da legisla o. Quando a legisla o brasileira decreta a cess o dos
v nculos entre os genitores e seus filhos, ressalta os nobres gestos dos pais adotivos e
os privilegia, em contrapartida a exclus o total (perante a Lei) dos pais genitores.
Os pais biol gicos, ao n o refletirem um padr o de fam lia nuclear ou normal,
s o percebidos pelos de fora como desestruturados . S o os p rias da sociedade
(pobres, m es solteiras, desempregados), que ao n o poderem oferecer ou manter o
bem-estar das crian as acabam sendo moralmente conden veis . Como apontamos no
decorrer do estudo, pelas v rias facetas e articula es que se d o nesse meio, dar
uma crian a, para esses pais, tem significado diferente do que os percebidos pelos
legisladores.
Ao longo desta reflex o percebeu-se que em muitos casos os aspectos
burocr ticos e jur dicos-legais acabam ecoando como grande impedimento, inclusive
para a ado o de crian as e adolescentes. D -nos a impress o de que tanto os Direitos
Humanos, o ECA, o C digo Civil e at a pr pria Constitui o em suas formas abstratas
e descontextualizadas, pouco significam, independente de serem bem-intencionadas,
mas que acabam embrenhadas em determinadas estruturas de significa o que n o
correspondem necessariamente realidade vivida das classes que realmente
utilizam-se dessas Leis.
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WEBER, Max. (1974) Ensaios de sociologia; e outros escritos. In: Os pensadores. S oPaulo: Editora Abril Cultural.
ANEXO I
ESTATUTO DA CRIAN A E DO ADOLESCENTE (ECA) - lei 8069 de 13/07/1990CAP TULO III - DO DIREITO CONVIV NCIA FAMILIAR E COMUNIT RIA
SE O I - DISPOSI ES GERAIS
Art. 19 - Toda crian a ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua fam lia eexcepcionalmente, em fam lia substituta, assegurada a conviv ncia familiar e comunit ria, em ambientelivre da presen a de pessoas dependentes de subst ncias entorpecentes.
Art. 20 - Os filhos, havidos ou n o da rela o do casamento, ou por ado o, ter o os mesmos direitos equalifica es, proibidas quaisquer designa es discriminat rias relativas filia o.
Art. 21 - O p trio poder ser exercido, em igualdade de condi es, pelo pai e pela m e, na forma doque dispuser a legisla o civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discord ncia,recorrer autoridade judici ria competente para a solu o da diverg ncia.
Art. 22 - Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educa o dos filhos menores, cabendo-lhesainda, no interesse destes, a obriga o de cumprir e fazer cumprir as determina es judiciais.
Art. 23 - A falta ou a car ncia de recursos materiais n o constitui motivo suficiente para a perda ou asuspens o do p trio poder. Par grafo nico - N o existindo outro motivo que por si s autorize a decreta o da medida, a crian aou o adolescente ser mantido em sua fam lia de origem, a qual dever obrigatoriamente ser inclu da
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em programas oficiais de aux lio. Art. 24 - A perda e a suspens o do p trio poder ser o decretadas judicialmente, em procedimentocontradit rio, nos casos previstos na legisla o civil, bem como na hip tese de descumprimentoinjustificado dos deveres e obriga es a que alude o Art. 22.
SE O II - DA FAM LIA NATURAL
Art. 25 - Entende-se por fam lia natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seusdescendentes.
Art. 26 - Os filhos havidos fora do casamento poder o ser reconhecidos pelos pais, conjunta ouseparadamente, no pr prio termo de nascimento. Por testamento, mediante escritura ou outrodocumento p blico, qualquer que seja a origem da filia o. Par grafo nico - O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe aofalecimento, se deixar descendentes.
Art. 27 - O reconhecimento do estado de filia o direito personal ssimo, indispon vel eimprescrit vel, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restri o,observado o segredo de Justi a.
SE O III - DA FAM LIA SUBSTITUTASubse o I - Disposi es Gerais
Art. 28 - A coloca o em fam lia substituta far-se- mediante guarda, tutela ou ado o,independentemente da situa o jur dica da crian a ou adolescente, nos termos desta Lei.
1 - Sempre que poss vel, a crian a ou adolescente dever ser previamente ouvido e a sua opini odevidamente considerada.
2 - Na aprecia o do pedido levar-se- em conta o grau de parentesco e a rela o da afinidade ou deafetividade, a fim de evitar ou minorar as conseq ncias decorrentes da medida.
Art. 29 - N o se deferir coloca o em fam lia substituta a pessoa que revele, por qualquer modo,incompatibilidade com a natureza da medida ou n o ofere a ambiente familiar adequada.
Art. 30 - A coloca o em fam lia substituta n o admitir transfer ncia da crian a ou adolescente aterceiros ou a entidades governamentais ou n o-governamentais, sem autoriza o judicial.
Art. 31 - A coloca o em fam lia substituta estrangeira constitui medida excepcional, somenteadmiss vel na modalidade de ado o.
Art. 32 - Ao assumir a guarda ou a tutela, o respons vel prestar compromisso de bem e fielmentedesempenhar o encargo, mediante termo nos autos.
Subse o II - Da guarda
Art. 33 - A guarda obriga presta o de assist ncia material, moral e educacional crian a ouadolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
1 - A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ouincidentemente, nos procedimentos de tutela e ado o, exceto no de ado o por estrangeiros.
2 - Excepcionalmente, deferir-se- a guarda, fora dos casos de tutela e ado o, para atender asitua es peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou respons vel, podendo ser deferido o direito derepresenta o para a pr tica de atos determinados.
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3 - A guarda confere crian a ou adolescente a condi o de dependente, para todos os fins e efeitosde direito, inclusive previdenci rios.
Art. 34 - O Poder P blico estimular , atrav s de assist ncia jur dica, incentivos fiscais e subs dios, oacolhimento, sob a forma de guarda, de crian a ou adolescente rf o ou abandonado.
Art. 35 - A guarda poder ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvidoo Minist rio P blico.
Subse o III - Da tutela
Art. 36 - A tutela ser deferida, nos temos da lei civil, a pessoa de at vinte e um anos incompletos. Par grafo nico - O deferimento da tutela pressup e a pr via decreta o da Perda ou suspens o dop trio poder e implica necessariamente o dever de guarda.
Art. 37 - A especializa o de hipoteca legal ser dispensada, sempre que o tutelado n o possuir bens ourendimentos ou por qualquer outro motivo relevante. Par grafo nico - A especializa o de hipoteca legal ser tamb m dispensada se os bens, porventuraexistentes em nome do tutelado, constarem de instrumento p blico, devidamente registrado no registrode im veis, ou se os rendimentos forem suficientes apenas para a manten a do tutelado, n o havendosobra significativa ou prov vel.
Art. 38 - Aplica-se destitui o da tutela o disposto no Art. 24.
Subse o IV - Da ado o
Art. 39. A ado o de crian a e de adolescente reger-se- segundo o disposto nesta lei.Par grafo nico. vedada a ado o por procura o.
Art. 40. O adotando deve contar com, no m ximo, 18 (dezoito) anos data do pedido, salvo se jestiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.
Art. 41. A ado o atribui a condi o de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusivesucess rios, desligando-o de qualquer v nculo com pais e parentes, salvo os impedimentosmatrimoniais.& 1 . Se um dos c njuges ou concubinos adota o filho do outro, mant m-se os v nculos de filia oentre o adotado e o c njuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.& 2 . rec proco o direito sucess rio entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes,descendentes e colaterais at o 4 grau, observada a ordem de voca o heredit ria.
Art. 42. Podem adotar os maiores de 21 (vinte e um) anos, independentemente do estado civil.& 1 . N o podem adotar os ascendentes e os irm os do adotando.& 2 . A ado o por ambos os c njuges ou concubinos poder ser formalizada, desde que um delestenha completado 21 (vinte e um) anos de idade, comprovada a estabilidade da fam lia.& 3 . O adotante h de ser, pelo menos, 16 (dezesseis anos mais velho do que o adotando.& 4 . Os divorciados e os judicialmente separados poder o adotar conjuntamente, contanto queacordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o est gio de conviv ncia tenha sido iniciadona const ncia da sociedade conjugal.& 5 . A ado o poder ser deferida ao adotante que, ap s inequ voca manifesta o de vontade, vier afalecer no curso do procedimento, antes de prolatada a senten a.
Art. 43. A ado o ser deferia quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se emmotivos leg timos.
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Art. 44. Enquanto n o der conta de sua administra o e saldar o seu alcance, n o pode o tutor ou ocurador adotar o pupilo ou o curatelado.
Art. 45. A ado o depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.& 1 . O consentimento ser dispensado em rela o crian a ou adolescente cujos pais sejamdesconhecidos ou tenham sido destitu dos do p trio poder.
& 2 . Em se tratando de adotando maior de 12 (doze) anos de idade ser tamb m necess rio o seu
consentimento.
Art. 46. A ado o ser procedida de est gio de conviv ncia com a crian a ou adolescente, pelo prazoque a autoridade judici ria fixar, observadas as peculiaridades do caso.& 1 . O est gio de conviv ncia poder ser dispensado se o adotando n o tiver mais de 1 (um) ano deidade ou se, qualquer que seja a sua idade, j estiver na companhia do adotante durante temposuficiente para se poder avaliar a conveni ncia da constitui o do v nculo.& 2 . Em caso de ado o por estrangeiro residente ou domiciliado fora do Pa s, o est gio deconviv ncia, cumprido no territ rio nacional, ser de no m nimo 15 (quinze) dias para crian as de at 2(dois) anos de idade, e de no m nimo 30 (trinta) dias quando se tratar de adotando acima de 2 (dois)anos de idade.
Art. 47. O vinculo da ado o constitui-se por senten a judicial, que ser inscrita no registro civilmediante mandado do qual n o se fornecer certid o.& 1 . A inscri o consignar o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.& 2 . O mandado judicial, que ser arquivado, cancelar o registro original do adotado.& 3 . Nenhuma observa o sobre a origem do ato poder constar nas certid es de registro.& 4 . A crit rio da autoridade judici ria, poder ser fornecida certid o para a salvaguarda de direitos.& 5 . A senten a conferir ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poder determinar amodifica o do prenome.& 6 . A ado o produz seus efeitos a partir do transito em julgado da senten a, exceto na hip teseprevista no Art. 42, & 5 ., caso em que ter for a retroativa data do bito.
Art. 48. A ado o irrevog vel.
Art. 49. A morte dos adotantes n o restabelece o p trio poder dos pais naturais.
Art. 50. A autoridade judici ria manter , em cada comarca ou foro regional, um registro de crian as eadolescentes em condi es de serem adotados e outro de pessoas interessadas na ado o.& 1 . O deferimento da inscri o dar-se- ap s pr via consulta aos rg os t cnicos do Juizado, ouvidoo Minist rio P blico.& 2 . N o ser deferida a inscri o se o interessado n o satisfizer os requisitos legais, ou verificadaqualquer das hip teses previstas no Art. 29.
Art. 51. Cuidando-se do pedido de ado o formulado por estrangeiro residente ou domiciliado fora doPa s, observar-se- o disposto no Art. 31.& 1 . O candidato dever comprovar, mediante documento expedido pela autoridade competente dorespectivo domic lio, estar devidamente habilitado `a ado o, consoante s leis do seu pa s, bem comoapresentar estudo psicossocial elaborado por ag ncia especializada e credenciado no pa s de origem.& 2 . A autoridade judici ria, de of cio ou a requerimento do Minist rio P blico, poder determinar aapresenta o do texto pertinente legisla o estrangeira, acompanhado de prova da respetiva vig ncia.& 3 . Os documentos em l ngua estrangeira ser o juntados aos autos, devidamente autenticados pelaautoridade consular, observados os tratos e conven es internacionais, e acompanhados da respetivatradu o, por tradutor p blico juramentado.& 4 . Antes de consumada a ado o n o ser permitida a sa da do adotando do territ rio nacional.
Art. 52. A ado o internacional poder ser condicionada a estudo pr vio e an lise de uma comiss o
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estadual judici ria de ado o, que fornecer o respectivo laudo de habilita o para instruir o processocompetente.Par grafo nico. Competir comiss o manter registro centralizado de interessados estrangeiros emado o.
ANEXO IIQUEM PODE ADOTAR DE ACORDO COM A LEI E OUTRAS D VIDAS
QUEM PODE ADOTAR:Qualquer pessoa maior de 21 anos pode adotar uma crian a ou um adolescente. Oestado civil n o importa. Ela pode ser solteira, casada, divorciada ou legalmenteseparada.Os ascendentes (av s por exemplo) n o podem adotar seus descendentes.O adotante (aquele que adota) tem de ser, pelo menos, 16 anos mais velho do que oadotado.Se um c njuges ou concubinos adota o filho do outro, mant m-se os v nculos defilia o entre o adotado e o c njuge ou concubino do adotante e os respectivosparentes.Os c njuges ou concubinos, em conjunto, desde que um deles seja maior de 21 anose comprovada a estabilidade da fam lia.Os divorciados ou separados judicialmente, em conjunto, desde que acordem sobrea guarda e o regime de visitas e desde que o est gio de conviv ncia haja sidoiniciado na const ncia haja sido iniciado na const ncia da sociedade conjugal.Tutor ou curador, desde que encerrada e quitada a administra o dos bens do pupiloou curatelado.O requerente da ado o falecido no curso do processo, antes de prolatada a senten ae desde que haja manifestado sua vontade em vida.Fam lia estrangeira residente ou domiciliada fora do Brasil.
QUEM PODE SER ADOTADO:A crian a ou adolescente que vai ser adotado (adotando) deve Ter, no m ximo, 18anos de idade, data do pedido de ado o e independentemente de situa o jur dica.Pessoa maior de 18 anos que j estivesse sob a guarda ou tutela dos adotantes.Maiores de 18 anos, nos termos do C digo Civil.
CONDI ES PARA ACEITA O DO PEDIDO DE ADO O:Preenchimento dos requisitos.A ado o deve apresentar reais vantagens para o adotando e fundamentar-se em
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motivos leg timos.Consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, dispensando quandoforem desconhecidos ou tenham sido destitu dos do p trio poder.Se o adotante for maior de 12 anos, ele tamb m ter de concordar com sua pr priaado o.Cumprimento de est gio de conviv ncia pelo prazo que o juiz fixar, ou seja, umtempo para que o adotante e o adotado se conhe am bem. Esse est gio deconviv ncia pode ser dispensado se o adotado (adotando) n o tiver mais de um anode idade ou se, qualquer que seja a idade, o jovem j estiver na companhia doadotante durante muito tempo.
CONSEQ NCIAS JUR DICAS DA ADO O:Cria v nculo de paternidade.Extingue o p trio poder dos pais biol gicos.Extingue os v nculos de filia o e parentesco do adotado com sua fam lia deorigem, mantendo os impedimentos matrimoniais.Concede plenitude de direitos sucess rios, inclusive quanto aos descendentes doadotado em rela o aos seus ascendentes.O adotado passa ater todos os direitos e deveres do filho, inclusive o direito deheran a.O v nculo da ado o, isto , a oficializa o da ado o, constitui-se por senten ajudicial.A morte dos adotantes n o devolve o p trio poder aos pais naturais.Concede ao adotado o nome de fam lia adotante, que poder requerer mudan a deprenome.O registro de nascimento do filho adotivo id ntico ao filho biol gico. Ap s aado o n o poder constar em nenhum documento da crian a adotiva qualquerobserva o sobre o fato. Sob todos os aspectos, n o poder haver distin o entre ofilho biol gico e o adotivo.
irrevog vel, ou seja, n o pode ser anulada.
DOCUMENTOS PARA HABILITA O:Requerimento ao Juiz da Inf ncia e da Juventude.Certid o de Nascimento ou Certid o de Casamento, de acordo com o estado civil.C pia da Carteira de Identidade.Comprova o de Idoneidade Moral.Atestado de Sanidade F sica e Mental. Comprovante de Renda (fotoc pia do contracheque do casal).Comprova o de Resid ncia ( fotoc pia da conta de energia el trica, gua outelefone em nome do casal).Certid o Negativa ou Folha Corrida Judici ria.Estudo Social Oficial.FotografiasTodos os documentos em fotoc pias dever o ser autenticados.Onde se informar sobre a crian a para adotar: nos Juizados da Inf ncia e daJuventude de todo o pa s.
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Direitos iguais(igualdade decondi es comos filhosconsang neos)
a) Simples:idem
b) Plena:direitosiguais
IdemSe for filhonico, o adotado
herda tudo. Seao tempo daado o osadotantes j t mfilhos, o adotadonada herda. Seh filhossupervenientes ado o, oadotado terdireito metadedo que couber aofilho leg timo.
S pessoas semprole leg timat m direito aadotar filhos. Sepermanecer filho
nico, o adotadoherdaintegralmente.Havendo filhosleg timossupervenientes ado o, oadotado terdireito metadedo que couber aofilho leg timo.
Heran a
Substitutiva(integra o totaldo adotando nanova fam lia)
a) Simples:aditiva
b) Plena:substitutiva
Substitutiva(cessa liga ocom fam liaconsang nea)
AditivaAditiva (parentesco civilcriado entreadotante eadotado semromper v nculocom fam liaconsang nea)
Filia o
Irrevog vela) Simples:aditiva
b) Plena:irrevog vel
Irrevog velRevog velRevog velPerman ncia
1616161618 anosDiferen a deidade
187(plena)18 (simples)
7Sem restri oSem restri oIdade doadotando
2130303050 anosIdade m nima doadotante
19901979196519571916Ano delegisla o
ECAC digo deMenores
Legitima oAdotiva (4.655)
Lei 3.133C digo CivilLegisla o
Fonte: WEBER, 2002: p 207-208.
ANEXO III
EVOLU O DA LEGISLA O BRASILEIRA SOBRE ADO O
Fonte: FONSECA, 2002: p 121.
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LUCIANNE SCHEIDT
REFLEX ES SOBRE AS CONDI ES INSTITUCIONAIS DE CRIAN AS EADOLESCENTES RF OS OU ABANDONADOS
Monografia apresentada para
obten o do t tulo de
Bacharelado no Curso de
Ci ncias Sociais, no Setor de
Ci ncias Humanas, Letras e
Artes, Universidade Federal do
Paran .
Orientador: Prof. Dr. Pedro
Rodolfo Bod de Morais
Curitiba2004
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