21
1 AS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA – “O USO DAS IMAGENS COMO INTERPRETAÇÃO DO MEIO EM QUE VIVEMOS”. Arnaldo Wagner Trovo [1] RESUMO: O ambiente escolar tem encontrado certa dificuldade em proporcionar aos nossos alunos meios para que possam desenvolver um censo crítico do mundo ao qual eles se encontram. A teoria Histórico-crítica possibilita a formação do educando através do conhecimento da sociedade ao qual ele faz parte e também lhe dá condições de modificar essa sociedade. As imagens são carregadas de significados que podem estar claramente apresentados ou que devem ser descobertos por quem as observa. Este artigo tem por objetivo identificar estratégias que possam ser utilizadas para a leitura ou criação de imagens que permitam a interpretação do espaço em que os alunos estão inseridos. Dessa forma atender-se-á as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o ensino médio que indicam um caminho para uma educação libertadora. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Imagem. Metodologias. Interpretação ABSTRACT: The school environment has some difficulty to provide our students ways to develop a critical census about the world where they live. The Historical-critical theory helps students to be concerned about the society in which they take part and also gives conditions to change this society. All images have meanings, that can be clearly [1] Professor de Geografia do Ensino Fundamental e Médio da Rede Estadual de Ensino/ PR integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional/PR (PDE). E-mail: [email protected]

1 Arnaldo Wagner Trovo RESUMO - Operação de migração ... · RESUMO: O ambiente escolar tem encontrado certa dificuldade em proporcionar aos nossos ... As escolas e os educadores

  • Upload
    vuanh

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

AS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA – “O USO DAS IMAGENS

COMO INTERPRETAÇÃO DO MEIO EM QUE VIVEMOS”.

Arnaldo Wagner Trovo[1]

RESUMO:

O ambiente escolar tem encontrado certa dificuldade em proporcionar aos nossos

alunos meios para que possam desenvolver um censo crítico do mundo ao qual eles

se encontram. A teoria Histórico-crítica possibilita a formação do educando através

do conhecimento da sociedade ao qual ele faz parte e também lhe dá condições de

modificar essa sociedade. As imagens são carregadas de significados que podem

estar claramente apresentados ou que devem ser descobertos por quem as observa.

Este artigo tem por objetivo identificar estratégias que possam ser utilizadas para a

leitura ou criação de imagens que permitam a interpretação do espaço em que os

alunos estão inseridos. Dessa forma atender-se-á as Diretrizes Curriculares do

Estado do Paraná para o ensino médio que indicam um caminho para uma

educação libertadora.

PALAVRAS-CHAVE : Educação. Imagem. Metodologias. Interpretação

ABSTRACT:

The school environment has some difficulty to provide our students ways to develop

a critical census about the world where they live. The Historical-critical theory helps

students to be concerned about the society in which they take part and also gives

conditions to change this society. All images have meanings, that can be clearly

[1] Professor de Geografia do Ensino Fundamental e Médio da Rede Estadual de Ensino/ PR integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional/PR (PDE). E-mail: [email protected]

2

presented or have to be discovered by the reader / observer. The aim of this work is

to identify reading strategies or to create images to understand the space in which

students are placed. In this way, will be attending the Curriculum Guidelines of the

State of Paraná to high school that indicates a way for liberty education.

KEY-WORD: Education. Picture. Methodologies. Comprehension

1- INTRODUÇÃO

“A Geografia é uma ciência social. Ao ser estudada, tem de

considerar o aluno e a sociedade em que vive. Não pode ser uma coisa

alheia, distante, desconhecida da realidade. Não pode ser um amontoado

de assuntos, ou lugares (parte do espaço), onde os temas são soltos,

sempre defasados ou de difícil (e muitas vezes inacessível) compreensão

pelos alunos. Não pode ser feita apenas de descrição de lugares distantes

ou de fragmentos do espaço.” (CALLAI, 2003,p. 57)

Fazer uso das imagens para uma interpretação das relações econômicas,

sociais, culturais e ambientais dentro de uma ótica da prática escolar, e ao mesmo

tempo desenvolver meios que facilitem a aprendizagem do aluno e que também

atraiam a atenção desse educando, é uma tarefa que foi desenvolvida nos últimos

dois anos utilizando-se, para tanto, as tecnologias as mais variadas como a

fotografia, a informática e a TV Pendrive[2].

Sempre se faz questionamentos sobre o uso dessas tecnologias na escola,

pois a estamos utilizando em nosso cotidiano. Porém, quando planeja-se uma aula

algumas perguntas são evidenciadas: Como podemos fazer uso dessas

tecnologias ? Quais seriam as tecnologias em que temos mais facil idades de

[2] TV Pendrive – é um projeto que utiliza televisores de 29 polegadas- com entrada para VHS, DVD,

cartão de memória e pen drive e saídas para caixas de som e projeto multimídia – para todas as 22

mil salas de aula da rede estadual de educação.

3

manipulação ? Como fazer-se uma leitura de imagem e ao mesmo temp o

interpretar o espaço em que estamos inseridos?

Ao possibilitar a leitura das imagens em sala de aula estamos oportunizando

aos alunos um ambiente rico em discussões, idéias e propício para novas

conclusões. Cabe aos professores encontrarem meios para que esse trabalho possa

ser repleto de conhecimentos e que possa levar novas idéias aos alunos.

Fazer a leitura das imagens não é uma ação assim tão simples. É necessário

ter uma prática da convivência em sociedade, tendo como objetivo o

desvendamento do cotidiano representado pela imagem e buscar o que está por trás

dela, ou seja, aquilo que o autor subjetivamente deixou para que o leitor tire suas

próprias conclusões.

Quando estamos diante de imagens estáticas ou em movimento, quase que

instantaneamente nos posicionamos de maneira critica sobre o que vemos (se

estamos capacitados para tal ação) ou simplesmente apagamos de nossa memória

o que acabamos de visualizar, pois não dispomos dos argumentos os quais

deveriam ter sido adquiridos ao longo de nossa existência sobre o assunto em

questão. Como a Geografia trabalha com a interpretação das relações econômicas,

sociais, culturais e ambientais, seja no contexto local ou global, a prática da leitura e

interpretação das imagens seria como um facilitador da aprendizagem do aluno.

“A Geografia contribui para esta formação, proporcionando ao aluno: -

orientar o seu olhar para os fenômenos ligados ao espaço, reconhecendo-

os não apenas a partir da dicotomia sociedade-natureza, mas tomando-os

como produtos das relações que orientam seu cotidiano, definem seu

“lócus espacial” e o interligam a outros conjuntos espaciais.” ( PCN, 1999)

Nos dias atuais a escola tem encontrado certa dificuldade em proporcionar

aos educando uma interpretação mais crítica do mundo. Com o advento da vida

moderna, com a facilidade de se encontrar quase tudo pronto, os nossos alunos

partem sempre para o pressuposto de que o certo é fazer uso aquilo que já está

definido, sem ter muita preocupação em chegar ao cerne da questão. A

interpretação, a busca pelo desvendamento das questões, o desejo de conhecer

além daquilo que é exposto são fatos que tem ficado em segundo plano.

4

As escolas e os educadores estão diante de um grande desafio. De um lado,

concorrer com os aparelhos eletrônicos disponíveis para os nossos alunos em casa

ou em lan house como computadores, internet, Tv. e vídeo games que proporcionam

diversão e passa-tempo. De outro, utilizar as tecnologias como a Tv pendrive, os

computadores, aparelhos de dvd etc. em disponibilidade nas escolas. No primeiro

caso, esses aparelhos estão habituando os nossos alunos a receber quase tudo

pronto, sem fazer muito esforço enquanto que, na escola, o professor utiliza as

mesmas tecnologias como se fosse algo “novo” no processo ensino-aprendizagem.

Para os alunos esses equipamentos são encarados como diversão. Proporcionar

situações de aprendizagem despertando o interesse pelo assunto com essas

metodologias é um avanço que deve ser alcançado conjuntamente por todos os

envolvidos no processo.

Destaque-se, também, a ênfase quem vem sendo dada a vários avanços

tecnológicos ligados à educação no estado do Paraná. Cita-se o Programa Paraná

Digital que proporciona aos professores e aos alunos acesso ao portal Dia-a-dia

Educação, que pode ser acessado através dos laboratórios de informática

disponibilizados aos professores e alunos em, praticamente, todas as escolas

estaduais. A Tv-multimídia é considerada como um avanço das tecnologias no uso

em sala de aula, uma vez que todas as sala contam com esse recurso. Ela pode ser

utilizada de diversas formas, destacando-se o uso de pequenos trechos de vídeos, a

projeção de imagens e outros recursos e ainda, pode ser usada como referência na

busca de conteúdos no próprio portal Dia-a-dia Educação.

Estudos e debates têm se realizados sobre a evolução tecnológica no

ambiente escolar. As novas tecnologias avançaram com uma velocidade sem igual

nos últimos anos e passou a ser um novo desafio para as escolas e para os

professores, como comenta MORAN :

“A Internet e as novas tecnologias estão trazendo novos desafios

pedagógicos para as universidades e escolas. Os professores, em

qualquer curso presencial, precisam aprender a gerenciar vários espaços e

a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é

o de uma nova sala de aula equipada e com atividades diferentes, que se

integra com a ida ao laboratório conectado em rede para desenvolver

atividades de pesquisa e de domínio técnico-pedagógico. Estas atividades

se ampliam a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem

5

conectados à Internet e se complementam com espaços e tempos de

experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes

profissionais e informais.”

Numa reflexão sobre o assunto que foi enfatizado pelo Programa de

Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do governo do

Paraná – PDE/SEED, foi desenvolvido um Plano de Trabalho com a finalidade de

registrar as atividades a serem realizadas dentro desse Programa. A partir das

atividades, de grande valor para compreensão do tema, foi elaborada uma proposta

de intervenção na escola e um trabalho em grupo em rede pela internet, o Grupo de

Trabalho em Rede - GTR. A aplicação da Proposta de Implementação ocorreu no

Colégio Estadual João XXIII – Ensino Fundamental e Médio (Maringá/PR) com a

turma do 2º ano do ensino médio. Foi aplicado o “Folhas” que trata-se de um

material didático fundamentado nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do

Estado do Paraná – DCE, com o título “Consumidor consciente ajuda a preservar o

meio ambiente”, tendo como principal objetivo colocar em prática o que havia sido

aprendido pelo professor durante a primeira etapa do PDE. Cabe ainda ressaltar

que o GRT era um grupo de trabalho em rede pela internet onde a aplicação da

Proposta de implementação era socializada com outros 40 professores de várias

cidades do Paraná.

Com base nestes elementos este trabalho visa determinar meios para

proporcionar aos alunos o desenvolvimento de uma visão crítica dos assuntos que

ora os afetam e, também, do espaço em que estão inseridos. Isto deve ser atingido

ao serem propiciadas inúmeras variáveis relacionadas com o conteúdo proposto.

Para tanto, os alunos terão que estar abertos a uma nova visão do conteúdo bem

como querendo buscar novos conhecimentos através de uma nova visão dentro

daquilo que já aprenderam e daquilo que ainda irão aprender.

O estudo da imagem

Quando se vê uma imagem, uma série de relações podem ser feitas com as

mais diferentes informações que graças as experiências de vida que foram se

acumulando na mente. Mas, o que se entende por imagem? Podemos falar das

imagens mentais (sonhos, lembranças) e visuais (com técnicas diversas e registros

6

mecânicos) de momentos importantes ou não, dependendo das intenções de quem

as registra. As imagens são utilizadas desde muito tempo atrás, mesmo antes da

escrita, com os registros feitos nas cavernas, em forma de pinturas.

Ao se buscar a etimologia da palavra, ela se apresenta relacionada ao

substantivo latino “imago” que significa figura, imitação, e com o grego “eikon”, que

corresponde a ícone ou retrato. Desta forma podemos dizer que as imagens estão

muito mais relacionas com os ícones ou objetos que as representam. Os ícones são

para nós referências próximas ou não de que há uma relação entre a imagem e o

real.

No momento em que se vê uma imagem, instantaneamente a mente faz

diversas relações com a mesma, porém isso também depende da formação de cada

um. É aí que entra a educação escolar e propriamente a escola, que tem uma

função especificamente educativa, com meios e fins pedagógicos, ligados

diretamente ao conhecimento sistematizado. Ao longo dos últimos anos a escola tem

perdido um pouco da sua função, da sua importância como organizadora do

conhecimento. Afirma-se que não é só através dela que se educa; educa-se através

de muitas outras formas ou até mesmo através de outras instituições como

sindicatos, associações de bairro, associações religiosas, através de relações

informais, da convivência, dos meios de comunicação em massa como o rádio, a

televisão e mais recentemente a Internet. Assim, há muitas formas de educação e

reconhece-se que a escola não é a única. Ela está junta com outras formas de

educar. Segundo essa tendência, a escola não é a única e nem mesmo a principal

forma de educar. Há, quem diga, que a escola é negativa do ponto de vista

educacional. Nessa proposta de desescolarização, defendida por Ivan Illich, a escola

é desnecessária e até prejudicial. É bem verdade que essa visão, nesta forma

extrema de se pensar não tem encontrado muitos adeptos, mas de qualquer

maneira, hoje está se difundindo um sentimento de secundarização da escola,

fazendo dela um meio pelo qual os governantes chegam ao povo na sua forma

assistencialista, com a distribuição de alimentos, entre outros (ZANIRATO, 2005,

P.16).

A escola passa então por uma situação um pouco inusitada. Para alguns

deve aumentar a carga horária das aulas, criando o período integral, não apenas

para melhorar a qualidade do ensino, mas também para se retirar das ruas os

menores que com a ausência dos pais que saíram para o mercado de trabalho,

7

deixaram seus filhos a mercê de “outros” educadores. Chegou-se a questionar a

educação pré-escolar não como uma fase anterior a idade propriamente escolar de

um ou dois anos, mas sim desde o zero ano. Podemos perceber que a família, em

lugar de guardar para si a educação desde os primeiros anos de vida dos seus

filhos, questiona a ampliação da jornada escolar. Querem então que as crianças não

fiquem apenas três ou quatro horas por dia na escola mas, sim, seis ou até oito

horas. Enfim querem repassar para as escolas “toda” a obrigação da educação e de

certo modo, colocam a escola como uma forma dominante de educação, enfim, seria

até difícil pensar-se em educação sem a escola.

É necessário que não tomemos visões radicais nem de uma forma nem de

outra. Não podemos pensar na educação como sendo a escola a única forma ou

meio, mas não podemos também admitir que ela esteja superada ou que até seja

algo nocivo para os nossos filhos.

Com essa visão histórica da sociedade moderna podemos nos orientar pela

pedagogia histórico-crítica, que se empenha em defender a especificidade da

escola. Para ela a escola tem uma função especificamente educativa, propriamente

pedagógica, ligada à questão do conhecimento; é preciso resgatar a importância da

escola, do saber sistematizado e do conhecimento onde a escola é o ponto de

partida e o principal meio para se chegar lá. (SAVIANI, 2005, P. 97-98).

Para fazermos uma leitura de imagem

Para fazermos uma leitura de uma imagem precisamos saber em qual

contexto ela está inserida. A imagem possui uma base de formação e para

interpretá-la necessita-se de um conhecimento que em muitos casos nossos

educandos não possuem. Aparecem então as interpretações dúbias ou fora de nexo

com aquilo que o autor do texto ou da mensagem gostaria de passar. Contextos

diferentes sobre o significado de uma imagem, levam a interpretações diferentes.

A imagem é uma mídia que utilizamos para nos comunicarmos. Assim, como

as palavras e os vídeos (seqüência de imagens que nos dão a impressão de

movimento). As imagens possuem um poder muito grande de comunicação, por isso

um dito popular enfatiza: “uma imagem vale mais do que mil palavras”.

As imagens, em especial as fotos, são representações de um objeto real, que

possuem uma opinião de quem as realizam. O autor tem o poder de captar através

8

de sua câmera fotográfica aquilo que lhe interessa, podendo então aumentar as

dúvidas daqueles que estão fazendo a leitura de suas fotos. Por isso, além da

análise do contexto (foco no ambiente em que a imagem é criada e usada), devemos

observar atentamente à análise do conteúdo da imagem (o que ela mostra em si).

Com as tecnologias disponíveis atualmente é possível processar as imagens

em programas especiais e inverter ou subtrair a verdade das imagens geradas nas

fotografias. Esses programas têm possibilitado o surgimento de novos atores no

processo de criação das imagens, que são os técnicos em informática, os quais

manipulam as imagens. Isso já era feito há muito tempo, mas com as fotos digitais e

suas ferramentas, não podemos mais confiar no que vemos (RIBEIRO 2008).

Temos que estar atentos para o que vemos e muito mais atentos quando

disponibilizamos para nossos alunos imagens para serem trabalhadas nas salas de

aula, pois em muitos casos essas imagens são inéditas para os alunos e eles

necessitam de um auxílio, que deve vir do professor, para desvendar o que está

sendo passado a eles. “A máquina fotográfica não se apresenta como um remédio

para nossas limitações visuais, mas como um auxiliar para nossa percepção”

(COLLIER Jr, 1973, p. 1). As imagens não poderão por si só responder tudo aquilo

que o autor da fotografia quis eternizar naquele momento, pois elas não servirão

apenas para observar-se os detalhes contidos na foto já que deve-se ir além do que

está se vendo. Devemos buscar sempre novos conhecimentos para sairmos da

idéia de superficialidade do conhecimento. Essa forma de compreender a realidade

dos ícones representados pelas imagens pode ser observada na visão de COLLIER

Jr, (1973, p.3).

A cegueira pessoal que obscurece nossa visão individual está

relacionada com o isolamento que é possível em nossa sociedade urbana

mecanicista. Aprendemos a ver apenas o que praticamente precisamos

ver. Atravessamos nossos dias com viseiras, observando somente uma

fração do que nos rodeia. E quando observamos criticamente, é quase

sempre com o auxilio de alguma tecnologia.

Nos parece que nos dias atuais a percepção da realidade tem se tornado

algo mecânico, repetitivo, uma seqüência de que tudo é “normal”. Só nos damos

conta de certos detalhes quando fazemos uso das tecnologias, hoje cada vez mais

disponibilizadas para muitos da sociedade em que vivemos. É claro que ainda uma

9

boa parte dos alunos, oriundos de classes menos favorecidas, não tem acesso a

essas tecnologias, mas com certeza já visualizaram ou tomaram contato com esses

recursos tecnológicos. O simples manuseio ou o folhear de um livro didático já o está

inserindo nesse contexto de se fazer observações com o auxilio das tecnologias. O

uso quase diário do meio televisível também é uma forma de utilização dessa

tecnologia que se não for orientada, trabalhada e desmistificada em nada irá

colaborar com o desenvolvimento do conhecimento dos nossos alunos.

Com a melhora nas condições de vida da sociedade e particularmente dos

alunos percebemos que a tecnologia tem sido implementada no nosso dia-a-dia e

cada vez mais essa mudança pode ser observada no cotidiano das pessoas. A

informação tem chegado em diversas formas para todos. Como cita Milton Santos

sobre a tecnicização e cientificização da paisagem.

Podemos então falar de uma cientificização e de uma tecnicização da

paisagem. Por outro lado, a informação não apenas está presente nas

coisas, nos objetos técnicos, que formam o espaço, como ela é necessária

à ação realizada sobre essas coisas. A informação é o vetor fundamental

do processo social e os territórios são, desse modo, equipados para

facilitar a sua circulação. (SANTOS, 2006, p. 239).

O aumento da informação e o crescimento no conhecimento proporcionará a

qualquer sociedade novos relacionamentos e significados daquilo que as imagens

nos revelam. Esse crescimento cultural não pode estar apenas a cargo das escolas,

pois isso vai muito além. Devemos considerar que existe um conjunto de fatores que

se relacionam entre si para compor o desenvolvimento cultural da sociedade. A

leitura de livros, jornais e revistas, os programas televisivos, teatros, enfim tudo

aquilo que podemos considerar como formadores de opiniões e propagadores do

conhecimento fazem parte desse conjunto de meios que proporcionaram o

desenvolvimento cultural dessa sociedade e devemos estar atentos para fazermos

uso de todos esses elementos através das tecnologias disponíveis e

proporcionarmos uma prática educacional com uma melhor qualidade.

A cultura modifica a percepção e cada imagem é uma espécie de

texto cultural que relaciona a forma de conteúdo e o conteúdo com a

estética e os significados. Ao se deparar com uma imagem o leitor realiza

10

atos de leitura que implicam uma série de competências e habilidades:

sensoriais, históricas, cognitivas, etc. ( ZANIRATO, 2005, p. 19)

Material didático

Terminado o trabalho direcionado para a pesquisa bibliográfica foi iniciada a

produção de um material didático para ser aplicado em sala de aula. Entre as várias

opções foi escolhido o “folhas” que tem como proposta uma produção direcionada

aos alunos com o uso de uma linguagem clara e objetiva, que visa proporcionar ao

aluno uma compreensão mais fácil do assunto e ao mesmo tempo leva o professor a

sair da rotina dos livros didáticos onde o aluno muitas vezes estuda como sendo

apenas um conteúdo a ser decorado pois ele não consegue perceber que ele, aluno,

está dentro daquele conteúdo, ou seja, são conteúdos que não provocam a

curiosidade e nem possibilitam ao aluno a idéia de sentir a importância do que está

sendo trabalhado. Na proposta do “Folha”, o aluno percebe que o que está

estudando tem um sentido, um significado, pois ele pode visualizar o conteúdo

trabalhado como parte do seu cotidiano.

O projeto “folhas” é um projeto de formação continuada para os professores

da rede estadual de ensino do Paraná que abre uma oportunidade ao educador de

repensar sobre os encaminhamentos de sua disciplina e a concepção de ciência, o

que pode interferir diretamente na sua prática docente.

A aplicação do “Folhas” está diretamente relacionadacom a proposta do

PDE, pois busca proporcionar um estudo de caso levando em conta o aluno e o

professor. Desenvolver uma investigação nesse sentido faz parte do saber

geográfico e a importância desse conhecimento na vida das pessoas. Para isso

temos que buscar a compreensão dos estudos de casos que envolvem os dois

seguimentos. Como foi a preocupação de Cavalcanti, 2005, p.168:

“... busquei compreender melhor os processos mentais dos alunos

envolvidos nas situações de ensino e aprendizagem, nas quais os alunos

estariam construindo conhecimentos de Geografia. O que me levou,

portanto, a desenvolver esta investigação foi a preocupação com o ensino

de Geografia e com o professor dessa matéria, tendo em vista que o

ensino, como atividade mediadora da relação cognitiva do aluno com os

11

objetos de conhecimento, precisa basear-se nas peculiaridades do

processo de desenvolvimento mental dos alunos. Ou seja, ensinar a

pensar, ajudar os alunos a potencializar suas habilidades cognitivas, prover

os alunos de instrumentos conceituais para construção do conhecimento

são tarefas que requerem do professor uma compreensão desse processos

de modo a realizar seu trabalho com maior eficácia.”

A escolha do tema – Consumidor consciente ajuda a preservar o meio

ambiente - está relacionada com a importância que o assunto vem sendo tratado

pela mídia, e pela possibilidade de despertar um interesse do conteúdo nos alunos,

uma vez que ele poderá perceber nos seus atos, no seu cotidiano, que suas ações

podem ser trabalhadas como conteúdo em sala de aula. Esse conteúdo, por sua

vez, está relacionado com vários aspectos dos Conteúdos Básicos – da disciplina de

Geografia para o Ensino Médio que encontramos nas Diretrizes Curriculares da

Educação Básica do Estado do Paraná, entre eles “O comércio e as implicações

socioespaciais”. Mas o que é um consumidor consciente? É o ato de consumir

levando em consideração os impactos provocados pelo consumo. Explicando

melhor: o consumidor pode, por meio de suas escolhas, procurar aumentar os

impactos positivos e diminuir os negativos nos seus atos de consumo, e desta forma

contribuir para construir um mundo melhor, sem grandes diferenças entre os mais

ricos e os mais pobres, sem fazer o uso desregrado dos recursos naturais,

possibilitando que o seu uso controlado não trará nenhum desastre para a natureza,

isso é Consumo Consciente. Em outras palavras, é um consumo com consciência de

seu impacto, e do isso vai causar no mundo que está ao seu redor, e voltado a

atender suas necessidades sem prejudicar as futuras gerações que estão por vir, ou

seja, pensando na sustentabilidade.

O consumidor consciente busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal e

o que isso vai acarretar para o planeta, lembrando que a sustentabilidade implica em

um modelo ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. O

consumidor consciente reflete sobre os seus atos de consumo e como eles irão

atingir não só sobre si mesmo, mas também sobre as outras pessoas, sobre a

economia e sobre a natureza. O consumidor consciente também busca espalhar

esse conceito e a realização da prática do consumo consciente, influenciando e

contagiando outras pessoas para seguirem o seu gesto, fazendo com que pequenas

ações no simples ato de consumo, realizados por um número muito grande de

12

pessoas promovam grandes transformações para todos os envolvidos.

O consumo consciente pode ser praticado no dia-a-dia, por meio de gestos

simples que levem em conta os impactos da compra, o uso e o descarte de produtos

ou serviços. Tais gestos incluem o uso e descarte de recursos naturais que fazemos

em todo momento na nossa vida. A compra, uso e descarte dos diversos produtos

ou serviços e a escolha das empresas das quais iremos comprar, procurando saber

se essas empresas também se preocupam com a sociedade e com o meio

ambiente, nos tornará consumidores conscientes e essa contribuição voluntária,

cotidiana e solidária terá uma grande importância para garantir a sustentabilidade no

planeta.

O material também levanta alguns questionamentos que tem a intenção de

provocar o aluno para uma conscientização sobre o tema e ainda abre espaço para

uma amplo debate em sala de aula e que extrapola os limites da escola. A presença

de imagens serve como relação entre o ideal e o imaginário, provocando um

repensar de suas ações.

Os debates surgiram naturalmente quando se aplicava o material, uma vez

que a idade dos alunos contribuía muito para o processo, sendo que o mesmo foi

produzido para os alunos do segundo ano do Ensino Médio. Nas aulas em que se

debatia sobre o assunto ou nas produções de textos elaborados individualmente ou

em grupo, podemos observar uma mudança na conscientização do tema pelos

alunos. Creio que somente pela mudança da postura nos debates e nas análises

dos casos-problemas levantados pelos próprios alunos já se configura um grande

avanço no processo ensino/aprendizagem.

Implementando a produção didática

Colocarmos em prática o que foi planejado e estudado foi uma atividade

desafiadora e prazerosa ao mesmo tempo. Desafiadora, pois não sabíamos qual

seria a reação e a participação dos alunos em uma prática em sala de aula onde

eles deveriam elaborar o conhecimento e ser parte ativa de todo o processo.

A intervenção foi realizada com os alunos do segundo ano do Ensino Médio

do Colégio Estadual João XXIII – Ensino Fundamental e Médio de Maringá, no

primeiro semestre de 2009. A escolha dos alunos do segundo ano do Ensino Médio

não foi por acaso uma vez que eles já possuem um nível de criticidade da sociedade

13

em que vivem e por isso podem compreender com maior facilidade as diferentes

formas de linguagem visual.

Ao desenvolver o trabalho, tomando como objeto de investigação as mais

variadas formas de linguagem visual, numa perspectiva de transmissão,

interpretação e análise das mesmas, definimos como opção metodológica a

pesquisa qualitativa. Dentro das possibilidades da pesquisa qualitativa as opções do

desenvolvimento do trabalho foram: conhecimento das origens das imagens,

análises das imagens, interpretação e crítica das imagens, produções e debates.

O objetivo de se trabalhar com a pesquisa qualitativa não é apenas observar

as opiniões dos alunos, mas explorar as diferentes representações sobre o assunto

estudado. Para isso precisamos estar atentos nas formações das idéias elaboradas

pelos alunos, proporcionando a eles um estado de liberdade para opinarem sem a

interferência direta do professor ou mesmo de “grupos” que se formam dentro das

salas de aula que podem influenciar os demais alunos com os seus pensamentos de

forma direta nas suas intervenções ou simplesmente ironizando a fala dos demais.

Procuramos então, proporcionar uma interação entre os alunos, observando as

representações emocionais, o humor, a espontaneidade e a criatividade de cada um

dentro dos grupos.

Como proposta de trabalho inicial, foi solicitada uma produção de texto, para

os alunos para sabermos o nível de entendimento dos mesmos sobre a leitura de

imagens, o conhecimento sobre os equipamentos disponíveis para se fazer as

imagens, sejam elas estáticas como nas fotografias ou em movimentos como nos

filmes e nos teatros. Desta forma obtivemos uma visão, mesmo que geral, dos

saberes já adquiridos pelos alunos ao longo de suas vidas e pudemos então,

constatar se existe uma necessidade do conhecimento geográfico na vida de cada

um deles. Com esses dados em mãos passamos a direcionar a proposta,

relacionando o uso da tecnologia, disponibilizada pela escola, ou seja, a Tv pen

drive, e o laboratório de informática, utilizando o programa BrOffice Impresst[3] com a

[3] BrOffice Impress – é um programa gratuito que faz parte do BrOffice.Org. É um

gerenciador que permite a criação, edição e exibição de apresentações. Esse tipo de arquivo

permite apresentar/informar sobre um determinado tema, serviço ou produto, possibilitando

utilizar arquivos de imagens, sons, textos e vídeos, os quais podem ser animados de diferentes

maneiras.

14

leitura das imagens. O objetivo dessa prática realizada pelos alunos é analisar

criticamente todos esses elementos.

As atividades práticas foram desenvolvidas em grupo, já que possibilitam

aprofundar a compreensão do problema, analisando os objetos de estudo e

buscando uma solução para o mesmo, para assim desenvolver valores nesse tipo

de atividade e que, em muitos casos com atividades escritas ou orais na forma

individual não são encontrados.

Durante a parte considerada teórica observamos que os alunos estavam

familiarizados com o modo de trabalho, ou seja, quando estava passando no quadro

negro o conteúdo do projeto, eles acompanhavam sem nenhum problema, pois era

algo que já fazia parte do seu cotidiano escolar. Assim eles faziam a cópia alheios

àquilo que lhes era passado, apenas reproduziam o conteúdo nos seus cadernos.

No primeiro momento em que convidei-os para um debate sobre os

encaminhamentos práticos de como seria o nosso trabalho, pude perceber que a

maioria da sala de aula que é composta por 32 alunos, teve uma certa dificuldade

em se expressar mesmo sendo sem nenhuma obrigação em fazê-lo. Assim

caminhamos por seis aulas (duas semanas), introduzindo o conteúdo e buscando

conscientizá-los de como seria a implementação do projeto.

Depois de passar e debater teoricamente como seria o desenvolvimento do

projeto, levamos os alunos a uma atividade individual de leitura de imagens no

laboratório de informática do colégio. Nessa atividade os alunos deveriam analisar

as fotos do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Foi passado então o

caminho de como os alunos deveriam fazer para chegar às fotos (na internet –

Google – imagens) e fazer a atividade que consistia em baixar uma foto, salvar a

imagem no computador, escrever um comentário sobre a mesma, de forma livre,

sem a interferência do professor. Depois os alunos deveriam encaminhar a atividade

por e-mail para o professor.

Nessa atividade pude observar que os alunos ficaram impressionados com as

fotos, porém quando chegou a hora de escrever o comentário sobre elas tiveram

grandes dificuldades, uma vez que eu não me pronunciei sobre o que eles deveriam

escrever. Era para ser assim mesmo. Eles teriam liberdade de expressão mas, a

minha grande surpresa foi a facilidade em fazer o trabalho, ou seja, o manuseio do

computador e a pesquisa pela internet, que foi atingido por 95% dos alunos e pude

constatar um grande contraponto, ou seja, a dificuldade da elaboração dos

15

comentários, onde 30% não ultrapassaram se quer uma frase de uma linha apenas,

e somente 20% atingiram as expectativas de se fazer uma análise crítica da imagem

escolhida.

O que será que tem podado os nossos alunos em suas criatividades? Será

que eles estão tão habituados a receber as coisas prontas que quando tem que

produzir algo não estão sabendo como fazer? Em sala de aula muitas vezes,

percebemos que eles esperam que nós estejamos a todo o tempo dizendo

exatamente o que eles devem fazer. Inclusive perguntam em qual página, em qual

parágrafo podem encontrar determinada resposta. Esta faltando em muitos de

nossos alunos a autonomia para realizares análises e tirassem suas próprias

conclusões sem um direcionamento prévio por parte do professor, seja em relação a

uma imagem, um filme ou mesmo um texto.

Quando é para trabalhar com as tecnologias a maioria parece que já nasceu

sabendo e estão num patamar até maior de conhecimento do que o nosso, mas

quando foi deixado livre para que eles produzirem, não pareciam que sabiam tanto

assim e que nem eram alunos do 2º ano do ensino médio.

Na atividade seguinte, achei que seria necessário uma apresentação em

grupo para quebrar um pouco as amarras e os medos do trabalho. Desta forma,

propus um trabalho em que eles teriam que pesquisar em revistas de circulação

nacional, fotos referentes a propagandas e publicidades. Separei-os em grupos de

quatro ou cinco alunos e ao encontrarem as referidas fotos (mínimo de quatro), o

grupo deveria analisá-las seguindo algumas recomendações propostas pelo

professor como objetivo da propaganda, público alvo, relação entre a imagem e a

escrita contida na propaganda e outros detalhes que eles mesmos poderiam achar

necessários de serem abordados. Em seguida deveriam colar as imagens em

cartolinas e escreverem as conclusões que o grupo chegou sobre a análise.

Depois de todos terem colado e escrito suas opiniões, eles passaram a

apresentar os cartazes para a sala de aula. Esse trabalho em grupo foi realizado

sem nenhum problema, pois todos participavam até com certo entusiasmo. O

objetivo era que cada um apresentasse uma das imagens, mas pude então perceber

a dificuldade de alguns alunos em se apresentar perante os colegas e ainda mais,

que eles sentem uma “certa” vergonha e até um receio de errar diante dos demais, o

que foi minimizado por mim, porém não surtiu muito efeito para todos e alguns se

16

recusaram a apresentar a sua parte, sendo então apresentado pelos demais colegas

do grupo.

Ao fim dessa atividade iniciei o que eu considerava a parte principal do projeto

onde o uso das tecnologias em sala de aula seriam então analisadas. Na minha

concepção somente fazer o uso dessas tecnologias pelo professor talvez não fosse

atraí-los tanto, então passei a direcionar as atividades onde os alunos seriam parte

ativa do projeto.

Como eu tinha que direcioná-los, propus uma atividade inicialmente em sala

de aula para planejarmos o que seria feito. A idéia era a seguinte: os alunos

divididos em seis grupos deveriam tirar fotos do colégio utilizando câmeras digitais.

Depois eles deveriam passar essas fotos para o computador, analisar e escrever

uma crítica sobre o espaço em que eles estão inseridos, ou seja, o ambiente escolar.

Com o roteiro pronto disponibilizei uma aula para eles fotografarem o que quisessem

do colégio. A primeira dúvida dos alunos foi: o que fotografar? Propus então que

eles teriam total liberdade para produzirem as imagens que seriam trabalhadas

posteriormente. Foram produzidas várias fotos, principalmente do espaço físico do

colégio e das condições de conservação do mesmo, uma vez que ele já tem mais de

50 anos e nunca passou por uma reforma. Com as imagens nas mãos, digo nas

máquinas fotográficas digitais, levei-os para o laboratório de informática onde passei

o caminho de como se trabalhar com as imagens, inserir os comentários, salvar no

Pen drive para que então fossem apresentados na sala de aula pela TV Pen drive.

Praticamente deixei tudo por conta deles, apenas tirava as dúvidas que iam

surgindo e o resultado foi muito bom. Todas as equipes concluíram a atividade,

todos participaram e até para a minha surpresa disputavam entre eles quem iria

apresentar primeiro. Esse foi um momento muito especial, observar que eles podem

produzir o conhecimento com o acompanhamento do professor.

Acredito que essa atividade atingiu um dos objetivos que era relacionar o

conhecimento adquirido com o espaço em que os alunos estão inseridos, nesse

caso em questão, o espaço físico do colégio, que foi criticado por muitos, com um

debate sobre a ação dos alunos em destruir o patrimônio público.

O próximo passo foi aplicar na prática o “Folhas”, que vocês já tem

conhecimento, sobre o consumismo e propus a mesma forma de atividade só que

eles deveriam tirar as fotos dos bairros onde moram e as fotos deveriam estar

relacionadas com o consumismo.

17

Essa atividade foi proposta para colocar em prática uma das possibilidades de

utilização dos meios tecnológicos na educação. Nela pude testar o uso de várias

tecnologias ao mesmo tempo como as câmeras digitais, o laboratório de informática

e os computadores, o Pen drive e até os mp4 dos alunos que funciona como um Pen

drive e a televisão Pen drive das salas de aula. Assim, depois de receberem o

conteúdo teórico sobre o consumismo, os alunos deveriam transformar esse

conhecimento em uma aula prática e participativa utilizando as tecnologias referidas

acima e no final demonstrar o que aprenderam sobre o assunto para os demais

colegas socializando o conhecimento. Para dar um sentido de ordem na atividade

direcionei os alunos passando para eles como deveriam ocorrer os trabalhos nos

seguintes passos: 1º- dividi a sala em grupos; 2º- cada grupo deveria elaborar um

roteiro que direcionaria as atividades do grupo; 3º - os grupos deveriam obter no

mínimo quatro imagens coletadas por eles no bairro em que residem em uma

atividade extra classe; 4º - com as fotos nas câmeras ou nos Pen drive passamos

para aula no laboratório de informática com montagem e preparação das imagens

pelos alunos bem como seriam as apresentações com o acompanhamento do

professor;

5º- A apresentação das imagens fazendo uso da Tv Pendrive e debate com

questionamentos dos demais alunos em sala de aula.

Foi uma experiência muito boa para mim e acredito que para os alunos

também. Pude aprender muito, não só com as minhas pesquisas para desenvolver o

meu projeto, mas também com os alunos, que em alguns momentos, no que se

refere às tecnologias sabem mais do que nós. O uso dessas ferramentas, que estão

disponíveis para nós, podem ser parceiras muito importante no processo ensino

aprendizagem, que estão aí para nos auxiliar e que em muitos casos não fazemos

uso das mesmas por medo ou receio de não sabermos utilizá-lo ou em outros

momentos se fazemos, fazemos sem a devida preparação ou com um objetivo pré-

estabelecido. Isso talvez explique o comentário que já estava acostumando a ouvir

de meus colegas de trabalho: “- Esses alunos não querem aprender nem utilizando

essas parafernálias modernas”.

A efetivação de uma aula diferente, pouco utilizada no colégio em que

trabalho, motivou os alunos a uma participação poucas vezes vista por mim. Não

quero dizer que não encontrei dificuldades (que relatarei mais a frente), mas,

novamente venho dizer que senti uma motivação em mim que não tinha a algum

18

tempo na minha prática rotineira em sala de aula na forma de transmitir

conhecimento. Foi uma satisfação ver as coisas acontecerem sem ter que ficar como

em outras aulas “implorando para eles fazerem” ou sem ter que “ameaçá-los” que

isso vale nota ou coisas do gênero.

Não posso dizer que foi tudo 100%, se não estaria aqui fazendo uma

propaganda enganosa, mas posso afirmar sim que o meu objetivo de analisar e

constatar que é possível envolver os alunos do segundo ano do ensino médio com

uma aula participativa, criativa, com os alunos dando idéias e discutindo como seria

o roteiro, o local das fotos, como trabalhar as fotos no computador, um grupo

ajudando o outro, pode acontecer sim, enfim, fiquei muito satisfeito ao constatar o

que eles estavam sentindo: (relato deles) – “que a escola poderia ser tão gostosa

como o mundo que vivemos lá fora”. Quanto às dificuldades vamos começar dizendo

que o consenso é quase impossível de se conseguir quando estamos trabalhando

com adolescentes, por tanto alguns componentes de alguns grupos discordavam

com o caminho que tracei para as atividades, na verdade eles já queriam trazer tudo

pronto de casa, sem ter que fazer nos computadores da escola que segundo eles

são ruins de mexer. Um outro problema foi a dificuldade que alguns grupos tiveram

ao fazer uso da Tv Pendrive, essas coisas que nós já estamos acostumados, ( “eu

fiz tudo certo e agora não funciona...”), na verdade o erro foi que eles gravaram no

pen drive um formato que a Tv Pendrive não lê e assim tiveram que refazer e

apresentar em outro momento e também uma equipe que não conseguiu apresentar

por não se organizarem com o material completo para o dia da apresentação.

Grupo de Trabalho em Rede – GTR

Através de uma capacitação proporcionada pela Secretaria Estadual de

Educação através da Coordenação Regional de Tecnologia na Educação - CRTE,

os professores do PDE, tiveram uma grande possibilidade de socialização do

conhecimento sistematizado e elaborado juntamente com a troca de experiências

durante a Implementação do projeto. Tudo isso foi possível pela aplicação de um

Grupo de Trabalho em Rede (GTR) pela internet com professores da rede estadual

19

de ensino do Paraná. Utilizando a plataforma MOODLE[4] foi possível colocar em

prática mais uma das novas tecnologias disponibilizadas para os professores da

rede. Esse trabalho foi de grande valia para troca de informações com colegas que

puderam vivenciar, mesmo que à distância, em um ambiente virtual, o que estava

sendo aplicado em sala de aula com os alunos onde era aplicado o projeto.

Essa modalidade à distância também pode proporcionar situações

interessantes. Professores que estão a quilômetros de distância podem acompanhar

o que se passa em uma outra realidade diferente da sua, mas pode também

perceber que o que se passa no seu ambiente de trabalho é muito parecido com os

demais. Um dos comentários postado por uma das cursistas reflete essa situação:

Referente a dificuldade dos alunos em relação a ter opinião sobre

determinado assunto ou imagem relacionadas ao tema é bem complexa,

pois eles não estão habituados a fazer este tipo de análise. O que é mais

comum infelizmente, é a cópia. Identifiquei-me com está situação quando

levei os alunos no laboratório de informática para analisar mapas ou

imagem sobre um determinado assunto e eles questionaram: " Mas

professora não tem nada para copiar? É só pra ficar olhando? Dois minutos

depois...Pronto já olhei, posso jogar um joguinho? Ai eu me pergunto: O

que será que estou fazendo de errado??? Deve ter um jeito de fazer estas

"criaturinhas" a agirem melhor. (Rosecleia Andretta Correa; Professora do

Col. Est. Carlos A. Camargo, da Cidade de Capitão Leônidas Marques).

Conclusão

O uso das tecnologias no ambiente escolar é positiva se soubermos

direcionar nossas ações e as ações dos nossos alunos para um propósito em

comum que é o conhecimento. Manusear as tecnologias é apenas uma questão de

interesse e uma superação pelo novo, tanto por parte dos alunos como dos

professores.

As imagens são carregadas de significados que estão bem visíveis ou que

estão à espera de serem descobertas por quem a observa. Identificar estratégias de

[4] Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment – Moodle é um software livre, de apoio à

aprendizagem, executado num ambiente virtual (internet). A expressão designa ainda um Sistema de

gestão da aprendizagem, ou seja, um trabalho colaborativo baseado nesse programa.

20

como realizar essa leitura e conduzir os alunos para a busca de novos significados é

função do professor. É importante não esquecermos o papel da Geografia nessa

atividade, pois sabemos que as imagens fazem parte de um espaço e compreender

as relações sociais dos homens que ocupam esse espaço bem como analisar as

relações, econômicas e culturais que ai encontramos é pertinente dessa disciplina.

A internet e as novas tecnologias estão trazendo novos desafios pedagógicos

para as escolas. Os professores precisam então aprender e reaprender a gerenciar

os vários espaços que nos são disponibilizados e integra-los de forma aberta, sem

obstruir o que os alunos já trazem do seu conhecimento do cotidiano, ou seja, do

seu censo comum; equilibrada, para não deixarmos que as parafernálias

tecnológicas superem a intervenção didática e metodológicas dos professores e

inovadoras, ao ponto de sempre buscarmos pelo novo sem termos que ficar presos

a práticas que não atraem mais a atenção desses alunos que vivenciam as

tecnologias a todo instante em suas vidas.

Queremos uma escola onde o aprender a pensar possa ser também ser um

meio que auxilie os alunos a utilizar os aparelhos eletrônicos numa visão crítica, para

que sejam capazes de construírem em seus intelectos uma leitura de mundo e de

vida e que isso possa proporcionar a eles o surgimento de uma identidade que o

referencie dentro de um espaço local ou global numa busca pela melhora constante

de sua vida.

REFERÊNCIAS:

CALLAI, Helena Copetti. O ensino de Geografia: Recortes espaciais para

análise . In: Castrogiovanni, Antonio Carlos; Callai, Helena Copetti; Schäffer Neiva

Otero; Kaercher, Nestor André (Org). Geografia em sala de aula – práticas e

reflexões. 4 ed. Porto Alegre, Editora da UFRGS. 2003.

COLLIER, John Jr. A fotografia como método de pesquisa . São Paulo, EPU,

1973.

MORAN, José Manuel. Os novos espaços de atuação do educador com as

tecnologias. Disponível em : www.eca.usp.br/prof/moran/espacos.htm - acesso em

08/11/2009.

MORAN, Jose Manuel. As mídias na educação . Disponível em:

http://www.eca.usp.br/prof/moran/midias_educ.htm - acesso em: 22/7/08.

21

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, BRASIL: Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN –

Ensino Médio.

RIBEIRO, Antonio Mendes. Representação com imagens

(http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?pub_id=9574 – acessado em

15/06/08).

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e em oção . 4 ed.

São Paulo, Edusp. 2006

SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico-critica: primeiras aproximações . 9. ed.

Campinas, S P: Autores associados, 2005.

ZANIRATO, Silvia Helena. A fotografia de imprensa: Modos de ler . In: Pelegrini,

Sandra de C. A; Zanirato, Silvia H. (Org.). As dimensões da imagem: abordagens

teóricas e metodológicas. Maringá: Eduem, 2005.