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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL. UMA ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ FORTALEZA 2012

1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE …...Aos jornalistas Mariana Sasso, Paulo César Norões e Fábio Pizzato, por terem dedicado um pouco do seu corrido tempo a esta

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  • 1

    CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

    FACULDADE CEARENSE

    CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

    EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR

    TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL.

    UMA ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ

    FORTALEZA

    2012

  • 2

    EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR

    TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL. UMA

    ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ

    Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Comunicação

    Social – habilitação em Jornalismo do Centro de Ensino Superior

    do Ceará Faculdade Cearense, como exigência parcial para

    obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social - habilitação

    em Jornalismo, sob a orientação da professora Klycia Fontenele

    Oliveira, especialista em Teorias da Comunicação e da Imagem

    (UFC) e em Jornalismo Político (Posead-Gama Filho).

    FORTALEZA

    2012

  • 3

    EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR

    TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL. UMA

    ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ

    Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Comunicação

    Social - habilitação em Jornalismo do Centro de Ensino Superior

    do Ceará Faculdade Cearense como exigência parcial para

    obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social - habilitação

    em Jornalismo, outorgado pela Faculdade Cearense, tendo sido

    aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

    Data de aprovação: _____/_______/________

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________

    Profa. Esp. Klycia Fontenele Oliveira - orientadora

    ________________________________________

    Professor Ms __________________________ - membro

    ________________________________________

    Professor Ms __________________________ - membro

  • 4

    Dedico esta monografia a todos os que dela fizeram parte, aos meus

    familiares, que nunca deixaram de me apoiar, à minha orientadora,

    que acreditou no meu trabalho desde o início, aos professores que

    passaram por minha vida acadêmica e aos amigos que sempre estão

    comigo.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Esta nova etapa da minha vida foi construída por cima de muitas dificuldades

    transpostas diariamente; sempre pensando no dia em que finalmente eu poderia dizer:

    venci. Mas, se esse dia finalmente chegou, não foi sozinha que o alcancei. Durante todo

    esse tempo, muitas pessoas passaram por minha vida e cada uma delas me ensinou algo

    que me trouxe até aqui e é a essas pessoas que venho agradecer.

    Mas, meu primeiro agradecimento é para Deus, que sempre esteve ao meu lado

    e que colocou pessoas maravilhosas em minha vida; sem ele nada disso teria acontecido.

    Meu próximo agradecimento é para a minha família, que mesmo quando eu pensava que

    não conseguiria, apoiava-me e me dava forças: minha mãe, Edna, pessoa querida que

    nunca desistiu de mim; meu pai, Elpidio, que ao seu modo sempre fez o que pôde para

    ajudar; e meus irmãos, Aldenicia e Erbeson, que mesmo brincando muito com as minhas

    loucuras, estavam sempre ali. A eles, todos os meus agradecimentos e meu amor.

    Aos amigos e amigas que conquistei durante essa jornada e àqueles que eu já

    tinha, por todo o apoio que me deram. Entre eles, Wilker C. Lima, companheiro querido,

    que mesmo sendo esquecido algumas vezes, sempre ficou ao meu lado.

    Aos jornalistas Mariana Sasso, Paulo César Norões e Fábio Pizzato, por terem

    dedicado um pouco do seu corrido tempo a esta pesquisadora.

    E por fim, mas não menos importante, aos meus mestres, com carinho. Pois

    foram eles que, ao longo de todo esse tempo, ensinaram-me o que é necessário para que o

    meu futuro profissional seja brilhante. A eles, que quase sempre são esquecidos na

    memória, toda a minha admiração. Entre todos, contudo, uma se destacou, pois foi ela

    quem acreditou em uma simples ideia e me ajudou a transformar tudo aquilo em realidade.

    Klycia Fontenele, a você todo o meu afeto e agradecimento.

    Obrigada a todos por fazerem parte da minha vida!!!!

  • 6

    RESUMO

    O presente trabalho propôs-se a realizar um estudo sobre a participação das mulheres no

    telejornalismo esportivo no Ceará, a partir da análise do programa regional “Globo Esporte

    Ceará”, da emissora de TV Verdes Mares, afiliada cearense da TV Globo. Para a sua

    concretização foram feitas pesquisas bibliográficas, documental e entrevistas. Analisaram-

    se os programas veiculados no mês de junho de 2012 para a obtenção dos dados

    necessários ao atingimento do objetivo proposto. Concluiu-se que a mulher está cada vez

    mais presente nessa editoria e ocupando os mais variados postos. No entanto, muitos ainda

    são os desafios a serem transpostos para a consolidação de sua participação nesse

    segmento editorial.

    Palavras-Chave: Telejornalismo. Mulher. Futebol. Globo Esporte Ceará.

  • 7

    ABSTRACT

    This paper proposed to conduct a study on the participation of women in sports journalism

    in Ceará, from the analysis of the regional program “Globo Esporte Ceará”, of Verdes

    Mares TV station, Ceará affiliated of TV Globo. For their implementation were made

    bibliographic and documentary research and interviews. Analyzed the programs aired in

    June 2012 to obtain the data necessary to the achievement of the objective proposed. It was

    concluded that the woman is increasingly present in the editing and occupying various

    posts, however, there are still many challenges to be overcome for the consolidation of

    their participation in this editorial segment.

    Keywords: Tv Journalism. Woman. Football. Globo Esporte Ceará.

  • 8

    LISTA DAS TABELAS E GRÁFICOS

    TABELA 1 – Referente ao panorama geral da análise .......................................................49

    GRÁFICO 1 – Referente aos assuntos das matérias............................................................50

    GRÁFICO 2 – Referente às ancoragens feitas no período...................................................51

  • 9

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 10

    2 MULHER E SOCIEDADE......................................................................................................... 12

    2.1 Sistema de gêneros.................................................................................................................. 12

    2.2 Divisão sexual do trabalho...................................................................................................... 16

    2.3 A mulher esportista................................................................................................................. 19

    3 FUTEBOL E O TELEJORNALISMO ESPORTIVO.............................................................. 24

    3.1 A história do futebol................................................................................................................ 24

    3.1.1 O futebol no Ceará............................................................................................................... 28

    3.2 Telejornalismo esportivo......................................................................................................... 31

    3.3 Telejornalismo esportivo e as jornalistas................................................................................ 35

    4 ANÁLISE DO PROGRAMA “GLOBO ESPORTE CEARÁ”................................................ 39

    4.1 Caminhos percorridos............................................................................................................. 39

    4.2 O programa.............................................................................................................................. 42

    4.2.1 Rotina de produção.............................................................................................................. 44

    4.2.2 Mariana Sasso: a presença feminina no “Globo Esporte Ceará”...................................... 46

    4.3 As edições analisadas.............................................................................................................. 48

    4.4 Análise do conteúdo do programa “Globo Esporte Ceara”..................................................... 49

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................... 53

    6 REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 55

    APÊNDICE A – ENTREVISTA COM PAULO CÉSAR NORÕES - CHEFE DE ESPORTES.......... 60

    APÊNDICE B – ENTREVISTA COM MARIANA SASSO - PRODUTORA E APRESENTADORA 62

    APÊNDICE C – ENTREVISTA (FECHADA) COM FÁBIO PIZZATO - PRODUTOR........... 66

    ANEXO 1 – PROGRAMAS GLOBO ESPORTE CEARÁ DOS DIAS 1º A 30/06/2012........................ 67

  • 10

    1 INTRODUÇÃO

    O tema principal deste trabalho consiste em entender de que modo funciona a

    participação feminina no Telejornalismo Esportivo, com foco nos comentários feitos pelos

    jornalistas homens e mulheres que fazem parte da equipe do programa “Globo Esporte

    Ceará”. Esse tema foi escolhido com o intuito de favorecer a compreensão acerca da atuação

    dessa editoria do jornalismo e do papel exercido pela mulher em seu âmbito.

    A mulher ao longo dos anos vem lutando para conquistar seu espaço na sociedade

    em que se insere. Primeiro, foram às ruas reivindicar melhores salários e condições de

    trabalho na revolução industrial, viraram rainhas que lutaram pelo bem de seu povo. Com o

    passar dos anos, foram assumindo cargos que até pouco tempo eram exclusivamente

    masculinos, saindo da margem da história para começar a escrevê-la. Por ainda ter muito que

    conquistar, essas mulheres lutam cada vez mais.

    Essa atitude se explica porquanto todos os avanços ocorridos em sua história até

    hoje não foram suficientes para impedir que ainda existam lugares e funções no âmbito dos

    quais ser mulher não é bem aceito. Entre esses lugares encontra-se o futebol, cuja prática,

    discussão e cobertura jornalística são consideradas, pela maioria, exclusividade dos homens.

    No entanto, como bem observa Soares (2009, p. 4), “o jornalismo esportivo ainda

    é uma especialização onde os homens são maioria, porém o número de mulheres que se

    direcionam para a área vem crescendo.”. Mas, o caminho que as mulheres percorreram para

    chegar ao jornalismo e, principalmente, ao jornalismo esportivo, é um dos questionamentos

    abordados em todo o decorrer desta pesquisa.

    Para se tentar chegar a uma resposta a essa indagação foram necessárias muitas

    pesquisas e reflexões acerca da participação da mulher na sociedade ao longo do tempo e na

    atualidade e um olhar, ainda que não muito extenso, para a história do Telejornalismo no

    Brasil e no mundo, com ênfase no telejornalismo esportivo e no tema futebol.

    O Globo Esporte Ceará foi o programa escolhido para oportunizar essa análise

    por ter toda a sua produção realizada na cidade de Fortaleza, tornando-se, assim, mais viável

    às incursões desta pesquisadora em seus domínios para aplicar as entrevistas e acompanhar as

    rotinas de produção, observando, com maior profundidade, como funcionam a dinâmica do

    programa e o trabalho de todos da equipe.

    O programa tenta abordar todos os tipos de esportes, desde golfe até tênis, porém,

    tem maior ênfase no futebol, dedicando-lhe uma grande parcela de toda a transmissão. O

    Globo Esporte Ceará é veiculado de segunda a sábado, das 12h50 às 13h20, e conta com uma

  • 11

    programação que mescla notícias locais, nacionais e internacionais. A equipe fixa de

    jornalismo é formada pelos jornalistas Mariana Sasso, Antero Neto, Luiz Costa, Alysson

    Oliveira e Paulo César Norões.

    Para se poder analisar os pontos aqui expostos, o método utilizado foi a análise do

    conteúdo, que, segundo Herscovitz (2007, p. 123), serve para “[...] descrever e classificar

    produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de

    indivíduos”. Através desse método é possível ter uma visão mais ampla de tudo aqui

    estudado.

    Para completar a obtenção dos dados também foram feitas entrevistas, tanto com a

    jornalista do programa, como também com um jornalista e com o chefe de esportes, que

    possibilitaram conhecer melhor como funciona o mundo do telejornalismo esportivo, o

    programa e a participação da mulher jornalista nesse universo.

    As discussões foram iniciadas no capítulo, que sucede esta introdução, com uma

    breve contextualização da participação da mulher na sociedade como um todo; suas lutas e

    vitórias, para que, assim, a pesquisa pudesse aos poucos se aprofundar em seu tema central,

    que consiste em entender como acontece a participação de jornalistas mulheres no Globo

    Esporte Ceará.

    No capítulo seguinte, o estudo se voltou para o mundo da televisão, do

    telejornalismo e do futebol. Já o quarto capítulo foi dedicado às análises sobre o programa e

    sua rotina, bem como, sobre presença feminina nesse espaço. A pesquisa se encerra com a

    apresentação de algumas conclusões a que se chegaram após a sistematização, análise e

    interpretação dos dados coletados, no capítulo quinto, que trata das considerações finais.

    Espera-se, com este trabalho, contribuir para futuras discussões sobre o

    telejornalismo esportivo e a participação da mulher nessa editoria.

  • 12

    2 MULHER E SOCIEDADE

    Quando se pensa na sociedade como um todo, logo se percebe que esta é dividida,

    basicamente, entre homens e mulheres e que estes apresentam diferenças entre si, sejam de

    ordem biológica, social, psicológica, entre outras. Essa organização homem/mulher é

    discutida há anos e, na maioria dos casos, o sexo feminino não foi devidamente representado.

    Vários autores já discutiram essa questão: Scott (1989), Guedes (1995), entre outros, que

    refletem sobre esse gênero de maneira muito mais abrangente do que simplesmente sob a

    ótica do determinismo biológico.

    Esta pesquisa a respeito dos estudos sobre gênero se faz necessária porque é, por

    intermédio dessas reflexões, que se pode analisar de maneira mais ampla a sociedade, o modo

    como funciona e o papel exercido pelas mulheres que nela se inserem. Além de perceber

    como se concretizam as relações sociais de poder e o modo como tudo isso afeta as mulheres,

    parte central da análise deste trabalho.

    Também são tratados, neste capítulo, assuntos ligados à divisão sexual do

    trabalho. Apresenta-se, ainda, breve análise sobre o desenvolvimento do mercado de trabalho

    no Brasil e como este está reagindo à inserção da mulher. Por fim, outro ponto forte que esta

    pesquisa tenta compreender diz respeito à participação da mulher no futebol, tomando-se

    como base uma amostragem da história desse esporte para se perceber também como essa

    inserção ocorreu.

    Todos esses levantamentos têm como objetivo possibilitar que se venha a obter

    uma visão mais ampla da situação feminina na sociedade, de modo a que se possa adentrar na

    questão principal deste trabalho, que consiste em verificar como as jornalistas estão atuando

    no telejornalismo esportivo no Ceará.

    2.1 Sistema de gêneros

    Antes de se fazer considerações quanto à participação da mulher na sociedade, há

    que se compreender como a sociedade se organiza, funciona e como afeta os indivíduos que

    nela se inserem. Inicialmente, reflete-se sobre o sistema de gêneros e o modo como trata a

    divisão homem e mulher; masculino e feminino.

    O estudo dos gêneros se iniciou, basicamente, com o movimento feminista norte-

    americano que adotou o termo como uma maneira de se desviar do “determinismo biológico”

    imposto pela sociedade (SCOTT, 1989). Tentava-se, assim, buscar muito mais do que simples

    explicações acadêmicas e gramaticais para a condição de ser mulher, que significaria mais do

    que ser do sexo feminino.

  • 13

    Determinismo biológico pode ser compreendido como o “conjunto de teorias

    segundo as quais a posição ocupada por diferentes grupos na sociedade, ou comportamentos e

    variações das habilidades, capacidades, padrões cognitivos e sexualidade humana derivam de

    limites ou privilégios inscritos na constituição biológica.” (MACÊDO, 2003, p. 35).

    Acreditava-se, assim, que as capacidades de uma pessoa vinham em sua genética, em sua

    estrutura anatômica e/ou fisiológica.

    Mas, por trás disso, observa-se uma tentativa de se privilegiar o sexo masculino,

    colocando-o como detentor dos privilégios biológicos, sem levar em conta as capacidades das

    mulheres, pondo-as apenas como genitoras que deveriam ser tratadas com cuidado; pois, por

    causa de sua biologia, não gozavam dos mesmos privilégios dos homens. Como resposta a

    esse comportamento,

    as feministas buscaram, então, demonstrar que a feminilidade e a masculinidade não

    são constituídas propriamente pelas características biológicas, mas, sim, por tudo

    que se diz ou representa a respeito dessas características (LOURO, 2001, apud

    MAGALHÃES; RIBEIRO, 2009, p. 693).

    Elas queriam mostrar que o ser humano, quer seja homem ou mulher, é muito

    mais abrangente do que podem definir simples explicações biológicas, tirando as mulheres da

    classificação simplista de apenas geradoras da vida e os homens de sua função de

    mantenedores da casa e da família: o centro do mundo. As feministas acreditavam que as

    pessoas são resultantes da junção de biologia, química e aprendizado diário, formadas e

    diferenciadas pelo que são e não somente pelo sexo que apresentam.

    Dessa maneira, o movimento feminista

    [...] surge numa dimensão de radicalidade tanto no seu conteúdo como nas formas

    com que deu seus primeiros passos. Da simbólica queima dos sutiãs à construção da

    idéia de que as causas da opressão da mulher estavam no nível da estrutura social,

    construiu-se uma ação e um pensamento essencialmente contestatório. Este era um

    sentimento comum à maioria das correntes, mesmo com as diferentes interpretações

    sobre o conceito de “estrutura” que “podia” ser postulada como patriarcado, como

    um sistema econômico, explorador ou como uma relação estrutural entre o lar e o

    local de trabalho (MORAES, 2000, p. 77).

    O movimento acreditava que a mulher não mais deveria viver sob a custódia dos

    pensamentos dos homens. A ideia era se contrapor à hierarquização entre as relações que se

    encontravam estabelecidas. Mesmo quando alcançavam alguma vitória, as feministas não

    deixavam de lutar e foram, assim, diversificando e ampliando cada vez mais seus campos de

    atuação. Com o passar do tempo, “o feminismo se diversificou, tornou-se mais plural,

    expressou-se em múltiplas estratégias e diferentes espaços de atuação.” (MORAES, 2000, p.

    78).

  • 14

    Para essas norte-americanas, o termo gênero poderia ser utilizado para definir uma

    “organização social da relação entre os sexos” (SCOTT, 1989), abrangendo aspectos mais

    sociais do que biológicos. Esse pensamento é também compartilhado por Macêdo (2003)

    quando diz que “esta categoria de análise, ainda em construção, tem o propósito de

    desnaturalizar as categorias homem e mulher, no sentido de indicar uma rejeição ao

    determinismo biológico.” (p. 32).

    Com isso, essas autoras vêm mostrar que uma sociedade pode ser muito mais

    complexa do que se pensava no começo do século passado e que não é formada por um único

    conjunto de organizações, mas por vários, não necessariamente organizados por causa da

    biologia envolvida, mas por outros fatores que fogem às regras do determinismo biológico a

    ela imposto. Portanto,

    [...] o surgimento dos estudos de gênero está relacionado com a maior visibilidade

    obtida pela mulher nos anos mais recentes e aos movimentos de mulheres e

    feministas na sociedade ocidental, de tal forma que, atualmente, o olhar sobre o

    movimento também nos remete a esta categoria de análise. Esta é uma afirmação

    polêmica que se instaura por entendimentos diferenciados acerca da questão, no

    campo dos estudos de gênero, mas acredita-se que a ciência é influenciada pelo

    contexto ao mesmo tempo em que o influencia. Afinal, a produção científica está

    inserida no contexto sócio-econômico-cultural onde surge e é utilizada (MACÊDO,

    2003, p. 35).

    Daí a escolha, no âmbito deste trabalho, por pesquisadoras que tratam os estudos

    sobre o sistema de gênero dentro da perspectiva feminista. Entende-se, então, que “[...] o

    gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre

    os sexos [...] e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder [...]”.

    (SCOTT, 1989, p. 21).

    Assim, tomando como base o estudo do gênero e o campo do jornalismo, este

    trabalho faz algumas indagações: será que dentro de um ambiente de trabalho como o de um

    jornal, emissora de TV ou estúdio de rádio ainda há essa relação de poder em que o homem é

    tido como superior à mulher? Quando esses veículos de comunicação tratam de futebol, como

    essa relação se estabelece? Com ou sem preconceito? É por isso que se optou por refletir

    sobre o sistema de gêneros cujos estudos abrem muitas indagações, impossíveis, talvez, de

    serem construídas se ainda estivéssemos presos(as) ao determinismo biológico.

    Além disso, “a categoria gênero pode ser compreendida como um processo de

    mudança e conquista dos seres humanos, que tem lugar na trama das relações sociais entre

    mulheres, entre homens e entre mulheres e homens.” (MACÊDO, 2003, p. 34). Percebe-se

    que, para essas feministas, estudar o gênero é ir além das classes. É uma tentativa de se relatar

    a história da mulher, mas não “como a maioria dos historiadores não feministas que

  • 15

    reconheciam a história das mulheres para depois descartá-la ou colocá-la em um domínio

    separado.” (SCOTT, 1989, p. 5).

    Esse tipo de pensamento ocorre bastante nas histórias oficiais em que, apesar de a

    mulher ter uma representação forte, esta é logo atrelada a uma imagem masculina. A título de

    ilustração, pode-se mencionar a história de Anita Garibaldi, que teve grande importância na

    Revolução Farroupilha1, mas que geralmente é lembrada por ser esposa de Giuseppe

    Garibaldi, autor de grandes feitos. Trazendo-se para o Ceará, tem-se o exemplo de Bárbara de

    Alencar2, entre tantas outras que a história simplesmente esqueceu.

    Apesar da relevância, “as preocupações teóricas relativas ao gênero como

    categoria de análise só apareceram no final do século XX.” (SCOTT, 1989, p. 19). No Brasil,

    esses estudos só se iniciaram em meados de 1970, quando foi instalada aqui a Década da

    Mulher, pela Organização das Nações Unidas (ONU)3. Com a chegada desse novo momento,

    as brasileiras intensificaram as reflexões a respeito dos gêneros e do movimento feminista.

    Vale ressaltar que, nesse período, o Brasil se encontrava em plena ditadura militar (1964-

    1984), quando os direitos sociais e políticos de muitos foram cerceados para a satisfação de

    uns poucos que naquele período se encontravam no poder.

    Nessa época, além de terem que transpor barreiras sociais, biológicas e morais,

    essas feministas também tiveram pela frente um dos períodos em que havia a maior repressão,

    quer fosse de direitos humanos ou de expressão, quando qualquer ato era considerado

    transgressão e afronta ao poder regente. Aqui no Brasil, essas discussões foram encetadas por

    mulheres que vinham de outros países onde já haviam ocorrido processos parecidos de

    opressão.

    Com a vinda de militantes exiladas pelo regime ditatorial, a discussão sobre o

    feminino/feminismo se acentuou ainda mais, já que em outros países a discussão

    sobre a opressão feminina se encontrava em estágios bem avançados, enquanto no

    Brasil ainda engatinhávamos no pós-abertura. Os encontros/desencontros de

    militantes latino-americanas(os), com inglesas(es), francesas(es), alemãs(ães) com

    essa reflexão/discussão de um certo pensar a mulher possibilitaram modificações

    também no Brasil. Surge daí a afirmação primeira do movimento feminista

    brasileiro, ou sua primeira fase: visibilizar o feminino enquanto elemento qualitativo

    e constitutivo da população e das instituições brasileiras (GUEDES, 1995, s.p.).

    Essas mulheres tentam mostrar à população feminina do Brasil o que vinha

    acontecendo no resto do mundo, buscando fazer com que as brasileiras entendessem seu papel

    1 Guerra civil, ocorrida no Rio Grande do Sul, na qual se lutava contra o Império de D. Pedro I.

    2 Bárbara de Alencar foi uma revolucionária que participou ativamente da Revolução Pernambucana de 1817,

    mãe de José Martiniano Pereira de Alencar, Tristão Gonçalves e Carlos José dos Santos.

    3 A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou de 1976 a 1985 a Década da Mulher. Nesse período, houve

    várias manifestações pelo mundo em defesa da mulher e de seus direitos.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Martiniano_Pereira_de_Alencarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Trist%C3%A3o_Gon%C3%A7alves

  • 16

    nesse processo de maneira clara e ampla, para que compreendessem verdadeiramente a causa

    da qual deveriam fazer parte.

    Observa-se, portanto, que a relação homem e mulher é muito mais abrangente do

    que a sociedade revela, principalmente, a partir do estudo dos gêneros. No próximo tópico,

    discute-se como se apresenta o mercado de trabalho após tantos estudos terem sido elaborados

    e alguns avanços terem sido conquistados. Reflete-se sobre como as mulheres estão ocupando

    o mercado e em que ramo são mais reconhecidas. A ideia é ter uma visão mais ampliada da

    situação trabalhista da mulher no mercado brasileiro para, mais adiante, discutir a participação

    das jornalistas no telejornalismo esportivo.

    2.2 A divisão sexual do trabalho

    Quando se começa a estudar a participação das mulheres no mercado de trabalho,

    observa-se que a inserção delas começou a ocorrer na época em que o mercado fabril passou a

    necessitar de mão de obra, mais especificamente, na época da revolução industrial. Essa

    afirmação é exposta por Bravo (2009) quando diz que a entrada da mulher no mercado de

    trabalho “teve início, na Inglaterra, durante a revolução industrial, entre 1770 a 1830.” (p. 16).

    Portanto, a inclusão das mulheres no mercado de trabalho já ocorreu sob o jugo da

    exploração, pois trabalhavam nas mesmas condições que os homens, mas com salários mais

    baixos, além de enfrentarem jornada dupla: trabalhavam fora e cuidavam da casa. Assim,

    pode-se perceber que, em um primeiro momento, a admissão das mulheres no mercado de

    trabalho não decorreu, necessariamente, de uma questão emancipatória, mas de uma exigência

    do mercado que, naquele momento, vinha crescendo e tinha que buscar novas fontes de mão

    de obra.

    No século XIX e no início do século XX, nos paises que se industrializavam, o

    trabalho fabril era realizado por homens, mulheres e crianças em jornadas de 12, 14

    horas, em semanas de seis dias inteiros e frequentemente incluindo as manhãs de

    domingo. Os salários eram de fome, havia terríveis condições nos locais da

    produção e os proprietários tratavam as reivindicações dos trabalhadores como

    afronta, operárias e operários eram considerados as “classes perigosas”. Sucediam-se

    as manifestações de trabalhadores por melhores salários, pela redução das jornadas

    de trabalho e pela proibição do trabalho infantil (OLIVEIRA, 2011, p. 66).

    Observa-se que o trabalhador, de maneira geral (homens e mulheres), não era

    valorizado, o que levou a classe trabalhadora a iniciar vários processos de luta. Ocorre que até

    mesmo nessas lutas as mulheres eram vistas de maneira diferenciada. Representavam somente

    mais um número na luta e não tinham os mesmos direitos dos homens. A paridade entre os

    sexos não era discutida nesse processo, mesmo com as mulheres participando e lutando.

  • 17

    A cada conquista, o movimento operário iniciava outra fase de reivindicações, mas

    em nenhum momento, até por volta de 1960, a luta sindical teve o objetivo de que

    homens e mulheres recebessem salários iguais, pelas mesmas tarefas. As

    trabalhadoras participavam das lutas gerais, mas quando se tratava da igualdade

    salarial, não eram consideradas. Alegava-se que as demandas das mulheres

    afetariam a “luta geral”, prejudicariam o salário dos homens e, afinal, as mulheres

    apenas “completavam” o salário masculino (OLIVEIRA, 2011, p. 66).

    Contudo, as trabalhadoras não se deixaram subjugar e lutaram por seus direitos.

    Surgiram assim nos movimentos mulheres como Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, Clara

    Lemlich, Emma Goldman e tantas outras que [...] “dedicaram suas vidas ao que

    posteriormente se tornou o movimento feminista.” (OLIVEIRA, 2011, p. 66).

    Além de lutarem por melhores salários e condições de trabalho, essas mulheres

    também lutavam por um dos direitos mais básicos de uma sociedade: o direito ao voto, que só

    lhes foi assegurado em 1893, primeiramente, na Nova Zelândia e depois, espalhando-se por

    outros países e continentes. No Brasil, essa conquista só aconteceu plenamente em 1934.

    (PEREIRA; DANIEL, 2009), um pouco depois da entrada da mulher no mercado de trabalho,

    que só veio a acontecer, aqui, em 1910, seguindo os mesmos parâmetros de trabalho da

    Inglaterra (BRAVO, 2009).

    Acerca de outros fatores motivacionais que requereram e, consequentemente,

    oportunizaram a inserção da mulher no mercado de trabalho, tem-se que

    [...] o processo [inserção da mulher no mercado de trabalho] também aconteceu

    devido às transformações econômicas, políticas e sociais do país. Ou seja, a

    necessidade de mão-de-obra, da transição da atividade doméstica da mulher para o

    mercado de trabalho, e a vontade adquirida pelo sexo feminino de trabalhar e ter

    realização profissional, entre outros, foram alguns dos motivos que fizeram com que

    a mulher brasileira ingressasse nesse meio (BRAVO, 2009, p. 16).

    Nesse panorama, as mulheres eram consideradas integrantes da “classe inferior”.

    Segundo Rocha (2004, apud BRAVO, 2009, p. 16); “na prática, a inclusão de mulheres de

    classe média na força de trabalho mais beneficiou a economia do país do que as próprias

    mulheres.”. Afinal,

    [...] o acesso ao mercado de trabalho não se traduz em equidade entre homens e

    mulheres, ao contrário, a tendência dominante e a segregação, em que o trabalho das

    mulheres é marcado por algumas categorias, tais como: menores salários, maior

    instabilidade, maior desemprego, piores condições de trabalho, tarefas mais

    repetidas [...] (MACÊDO, 2003, p. 78).

    A admissão das mulheres no mercado de trabalho brasileiro se intensificou

    verdadeiramente em 1970, período de grandes modificações econômicas no Brasil (ABREU,

    2006 e PEIXOTO; OSTERNE, 2012). Isso ocorreu não somente em uma área, mas em quase

  • 18

    todo o mercado brasileiro, incluindo a área do jornalismo e seus mais variados campos de

    atuação: TV, rádio, jornal e revista.

    Essas mudanças no mercado de trabalho brasileiro marcam também a “[...]

    entrada de um grande número de mulheres nas redações.” (ABREU, 2006, p. 9). Mas, essa

    introdução não foi somente na área jornalística. Abreu ressalta que a inserção aconteceu

    também na “medicina, arquitetura, direito, pesquisas científicas”, áreas que “até 30 anos

    atrás” também pertenciam “ao mundo masculino” (2006, p. 9).

    Outro fator que ajudou no processo de introdução das mulheres na área do

    jornalismo foi a aprovação da lei de regulamentação da profissão que obrigava a todos os

    profissionais da área a terem o diploma ou o registro profissional.

    Naquele momento havia um maior número de homens nas redações e muitos não

    tinham curso de jornalismo. Essa situação deu uma certa vantagem às mulheres, que

    hoje, comparativamente aos homens da mesma geração, apresentam maior

    qualificação do ponto de vista da formação (ABREU, 2006, p. 10).

    Nessa época, não só as mulheres entraram no mercado como também o nível de

    escolaridade aumentou. Porém,

    [...] a inserção das mulheres no mercado de trabalho tem ocorrido em condições

    desiguais de tratamento, tempo, mobilidade e remuneração, em relação aos homens.

    A segregação no mercado de trabalho destinou às mulheres os empregos mais

    precários, geralmente informais ou em tempo parcial [...]. De um lado, um pequeno

    contingente minoritário de mulheres encontra-se nos cargos executivos que exigem

    um nível de escolaridade superior (PEIXOTO; OSTERNE, 2012, p. 53).

    Segundo explica Heródoto Barbeiro (2005, p. 4), no prefácio do livro Jornalista:

    profissão mulher, “hoje as redações são formadas por mulheres e homens [...]”, mas “[...] não

    é fácil vencer em uma profissão ainda marcada pelo preconceito, machismo e rivalidades de

    toda ordem [...]”. Assim, supõe-se que, mesmo trabalhando na área, a profissional jornalista

    ainda enfrenta muitos percalços para poder cumprir suas atividades e conseguir galgar um

    lugar de destaque.

    Atualmente, as mulheres estão, cada vez mais, inseridas no mercado de trabalho.

    Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) sobre a

    mulher no mercado de trabalho, as mulheres formaram, em 2011, 46,1% da população

    economicamente ativa (PEA), indicando um aumento de 1,8% quando comparado a 2003.

    Essa pesquisa quantitativa faz parte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e tem como base

    o ano de 2011 e cidades das mais variadas regiões do Brasil.

    A pesquisa revelou, ainda, que cerca de 63,9% das mulheres ocupadas em 2011

    tinham de 28 a 49 anos de idade; já entre o percentual masculino, a média foi de 61,0%. Os

    estudos apontaram, também, que o percentual de mulheres ocupadas em prestação de serviços

  • 19

    a empresas, entre 2003 e 2011, foi de 3,2%. Já em outras categorias, também houve

    crescimento em relação ao período pesquisado: de 15,1% para 16,2%. Ainda de acordo com o

    IBGE, a maioria das mulheres está no funcionalismo público, militar (54,2%) e no trabalho

    doméstico (94,9%). Esses dados mostram que as mulheres estão ocupando seu espaço, mas

    que, para isso, o seu grau de escolaridade teve que crescer.

    Segundo a pesquisa, as mulheres chegam a ter até 11 anos ou mais de estudos do

    que os homens. Mesmo assim, elas ainda são a maioria nos trabalhos domésticos,

    possivelmente, um reflexo da história da mulher na sociedade brasileira. Porém, essa situação

    vem mudando. Um dos dados mais reveladores da pesquisa refere-se justamente a essa

    mudança: a participação das mulheres em serviços domésticos encontra-se em declínio de

    2,2% entre 2003 e 2011.

    O IBGE revelou ainda que o rendimento médio do trabalho das mulheres em 2011

    foi de R$ 1.343,81 e o dos homens, R$ 1.857,63. Apesar da diferença, segundo a pesquisa

    houve um aumento de 24,9% em relação a 2003. Mesmo assim é questionável, afinal, se a

    mulher exerce a mesma função do homem e tem a mesma produtividade, deve ganhar o

    mesmo valor. Pode-se, então, perceber que o mercado está mudando, mas ainda se encontra

    preso a velhos preconceitos.

    Em 2011, o rendimento das mulheres continuou inferior ao dos homens. Em média

    elas ganhavam 72,3% do rendimento recebido pelos homens. Em 2003, essa razão

    foi de 70,8%. Com o intuito de evitar disparidade na comparação do rendimento

    provocado por fatores que podem contribuir para diferenciação do rendimento,

    foram estudados os grupos de pessoas com a mesma escolaridade e do mesmo

    grupamento de atividade, observa-se que, tanto para as pessoas que possuíam 11

    anos ou mais de estudo quanto para as que tinham curso superior completo, os

    rendimentos da população masculina eram superiores aos da feminina; a exceção foi

    na construção para os ocupados com 11 anos ou mais de idade (IBGE, 2012, p. 17).

    Pode-se perceber que, com o passar do tempo, as mulheres estão crescendo no

    mercado de trabalho e nos mais variados campos. Mas, observa-se que há muito que se

    melhorar, como no âmbito da equiparação salarial.

    Esta monografia trata da mulher no telejornalismo esportivo no Ceará, tendo

    como base o programa “Globo Esporte Ceará”, razão pela qual, no próximo tópico, traça-se

    um panorama da relação das mulheres com o esporte, especialmente, com o futebol.

    2.3 A mulher esportista

    Como se observou nos tópicos anteriores, as mulheres sempre enfrentaram muitas

    lutas para serem reconhecidas na e pela sociedade, principalmente nos séculos passados,

    quando eram retratadas e tratadas como seres frágeis e delicados que necessitavam da

  • 20

    proteção do sexo masculino. Essa realidade de exclusão e separação não foi diferente no

    mundo dos esportes.

    O esporte, até o século XIX, era tido como prática exclusivamente masculina.

    Acreditava-se que o vigoroso esforço físico comprometia a saúde e sua capacidade

    de procriação [...] Na Grécia, as mulheres lutavam por espaço nos eventos

    desportivos, nos jogos era proibida a participação delas (MARTINS, 2009, p. 17).

    Essas ideias se perpetuaram durante anos, fazendo das mulheres somente

    expectadoras das atividades praticadas pelos homens. Para o Barão de Coubertin4, as

    mulheres só serviam para coroar os campeões. Pois elas não teriam capacidade física ou

    mental de praticarem os esportes. Também, acreditava-se que “a inserção das mulheres no

    esporte competitivo, em especial nas Olimpíadas poderia vulgarizar esse ambiente recheado

    de honras e conquistas.” (GOELLNER, 2005, p. 144).

    Segundo Martins (2009), as mulheres só teriam começado a participar

    verdadeiramente dos esportes em 1900. Mesmo assim, somente naqueles considerados

    delicados e apropriados para elas e que não faziam parte do quadro Olímpico.

    [...] fora do quadro olímpico: golfe, tênis e tiro com arco. A primeira participação

    oficial ocorreu somente em 1908, vela e patinagem artística eram abertas à

    participação feminina. Vinte anos depois, nas Olimpíadas de Amsterdã, as mulheres

    começaram a ganhar espaço. Elas competem em três modalidades: 100, 400 e 800

    metros com barreiras, salto em alturas e lançamento de disco (MARTIS, 2009, p.

    18).

    As mulheres não poderiam, então, praticar outros esportes. Para Lovisolo (2009),

    isso teria uma explicação pautada nas vivências femininas e masculinas, segundo a qual as

    mulheres eram criadas para a maternidade e os homens, para as lutas.

    A prática das lutas regradas, a mimese da guerra, seria civilizadora para os homens,

    formados em séculos de tradições de guerreiros e caçadores, amantes da festa das

    espadas, e fortemente potenciados e excitados pela carne, álcool, drogas, morte e

    sangue [...] Creio que, em relação às mulheres, a prática desses esportes era

    considerada como uma espécie de retrocesso: processos (des)civilizadores e

    corrosivos das doces virtudes do caráter feminino, associadas ao carinho, aos

    cuidados, à fala e a essa imagem tão valorizada: a de mãe (LOVISOLO, 2009, p. 4).

    Assim, percebe-se que eram utilizados os mais variados pretextos para se defender

    a não participação das mulheres. Do determinismo biológico tão combatido pelas feministas

    até as diferenciações culturais. Muitos acreditavam que o meio esportivo era destinado

    somente para os homens e que a introdução feminina poderia “[...] desestabilizar a

    estruturação de um espaço de sociabilidade criado e mantido sob domínio masculino, cuja

    4 Considerado o pai dos Jogos Olímpicos modernos.

  • 21

    justificativa para sua consolidação, assentada na biologia do corpo e do sexo deveria atestar a

    superioridade deles em relação a ela [...]” (GOELLNER, 2005, p. 144).

    Assim, o esporte também trazia pensamentos e conceitos que pregavam a

    superioridade de um gênero e a inferioridade de outro, utilizando-se de uma ideia que não

    possuía qualquer caráter científico. Entretanto, as mulheres não se abateram e continuaram a

    praticar esportes. Em 1917, criaram a Federação Internacional Desportiva Feminina e quatro

    anos depois já se realizavam os Jogos Olímpicos das Mulheres, posteriormente chamados de

    Jogos Mundiais das Mulheres (MARTINS, 2009).

    Atualmente, as mulheres já participam das principais competições esportivas

    mundiais e nos mais variados esportes. Na Olimpíada de 2000, as esportistas participaram de

    25 das 28 modalidades da competição (MARTINS, 2009). Nos últimos Jogos Olímpicos,

    realizados em Londres, em 2012, o Brasil levou 259 atletas dos quais 123 eram mulheres

    (PORTAL BRASIL, 2012). Isso mostra que a cada nova Olimpíada as mulheres vêm

    ampliando seu espaço.

    Além das Olimpíadas, hoje também se tem a participação feminina na Copa do

    Mundo de Futebol, que acontece desde 1971. Mas a participação das mulheres no futebol não

    vem de agora. Remonta ao século XII quando o esporte ainda se encontrava em seus

    primeiros momentos (MARTINS, 2009). Ainda segundo Martins, em 1894 teria sido fundado

    o primeiro time de futebol feminino em Londres: as “Senhoras Britânicas”. Iniciativas como

    essas incentivaram a criação de vários outros times pelo mundo.

    As francesas, em 1910, criaram as equipes Rouge Esportive e Femina Esporte Paris.

    No mesmo ano, 53 mil pessoas compareceram ao estádio Boston Park, para assistir a

    um jogo feminino beneficente. Mais de mil pessoas ficaram de fora por falta de

    espaço. O futebol feminino estava desabrochando (MARTINS, 2009, p. 18).

    No Brasil, o futebol teria chegado na época da independência brasileira, trazido

    por homens que vinham da Europa para trabalhar nos campos do país (GOELLNER, 2012).

    Mesmo as mulheres jogando futebol ou praticando outros esportes, sua presença

    [...] exercitando-se fisicamente se traduzia como uma novidade nesse tempo, pois

    sob a égide do romantismo na literatura, as imagens associadas às mulheres

    brasileiras eram imagens românticas. Mulheres lânguidas e gráceis, portadoras de

    gestualidades comedidas e delicadas, cuja educação estava voltada,

    prioritariamente, para o casamento e a maternidade. Essa imagem, mesmo que

    fosse bastante divulgada na literatura e em outros espaços sociais, não perdurou por

    muito tempo. Os médicos, em especial, os higienistas, iniciaram a proclamar os

    benefícios que o exercício físico trazia para as mulheres proporcionando-lhes

    melhores condições orgânicas não só para enfrentar a maternidade, mas, inclusive,

    para embelezá-las (GOELLNER, 2012. s.p.).

    Inicialmente, como aconteceu no restante do mundo, as mulheres brasileiras

    praticavam esportes considerados femininos como ciclismo, turfe, remo, natação, tênis, e arco

  • 22

    e flecha. Esportes com mais contato – futebol, futebol de praia, futebol de salão, rugby,

    halterofilismo, lutas, boxe, salto com vara, salto triplo, decatlo e pentatlo – não poderiam ser

    praticados. Para reforçar essas interdições, foi criado, em 1941, o Conselho Nacional de

    Desportos, que oficializou as proibições (GOELLNER, 2005).

    Porém, mesmo com essas restrições, as mulheres não deixaram de realizar os seus

    esportes, e, apesar de proibido, o futebol foi um deles. Em 1940, as mulheres, mesmo de

    maneira tímida, formaram seus próprios times para competir. Verifica-se, aqui, que

    mesmo que incipiente, a participação das mulheres no futebol representava uma

    transgressão ao hegemonicamente aceito como constitutivo da identidade feminina

    que tinha na imagem da mãe grande aceitabilidade. Lembramos que neste tempo o

    corpo feminino é visto como um bem social a alojar a esperança de uma prole sadia.

    (GOELLNER, 2005, p. 146).

    Assim, além de ter que lutar dentro dos campos, as mulheres também precisavam

    transpor as barreiras biológicas criadas pelos homens que olhavam, nas práticas esportivas,

    um mal que poderia prejudicar as futuras gerações. Acreditava-se que os esportes poderiam

    prejudicar a formação das crianças. Trata-se, novamente, da utilização do determinismo

    biológico para impor limites às mulheres.

    Contudo, não houve argumento que segurasse as mulheres e, em 1979, elas

    conseguiram revogar as regras impostas pelo Conselho Nacional de Desportos, podendo dessa

    feita, praticar livremente os esportes, entre eles, o futebol. Nos primeiros anos da década de

    1980, já havia vários times e uma liga de Futebol Feminino de Praia no Rio de Janeiro. Em

    1983, foi realizado o primeiro Campeonato Carioca de Futebol de Campo (GOELLNER,

    2005).

    Não demorou muito e, em abril de 1983, o Conselho Nacional de Desportos

    reconheceu o futebol feminino como esporte oficial (GOELLNER, 2005). O futebol feminino

    passou, então, de esporte praticado ilegalmente para esporte reconhecido e com competições

    próprias, seguindo as mesmas regras do futebol masculino e com os mesmos benefícios.

    Segundo a Fédération Internationale de Football Association (FIFA, 2012), “29

    milhões de meninas e mulheres jogam futebol em todo o mundo”. No Brasil, destaca-se a

    jogadora Marta Vieira da Silva, que já recebeu cinco vezes o prêmio de melhor jogadora do

    mundo de futebol, concedido anualmente pela FIFA, maior instância do futebol em todo o

    mundo. Neste ano, 2012, o Brasil tem concorrentes, tanto no feminino quanto no masculino.

    Concorrem ao prêmio de melhor jogadora da FIFA as jogadoras: Camille Abily

    (FRA), Miho Fukumoto (JPN), Carli Lloyd (USA), Marta da Silva (BRA), Aya Miyama

    (JPN), Alex Morgan (USA), Megan Rapinoe (USA), Homare Sawa (JPN), Christine Sinclair

  • 23

    (CAN) e Abby Wambach (USA). Já no masculino concorrem 23 jogadores, entre eles, Lionel

    Messi (ARG), Cristiano Ronaldo (POR) e Neymar (BRA), único brasileiro na lista.

    Apesar de não ter sido fácil para as brasileiras praticarem esportes, em especial, o

    futebol, atualmente, no Brasil, existe uma seleção brasileira de futebol feminino. Essa seleção

    vem trilhando um caminho de bons resultados em Pan-Americanos e Copas do Mundo. Hoje,

    há competições de futebol feminino, a exemplo da Copa do Brasil de Futebol Feminino que

    neste ano foi vencida pelo São José (SP) e contou com 16 times inscritos5. Porém, muitas

    brasileiras jogam em times profissionais em outros países onde a prática feminina do esporte é

    mais desenvolvida, como Japão e Alemanha; é o caso da jogadora Marta.

    No Ceará, as mulheres também estão presentes no futebol. Atualmente, existe no

    estado a Liga Cearense de Futebol Feminino e a Federação Cearense de Futebol. No

    Campeonato Cearense de 2012, participaram cinco times: Santa Cruz, Paracuru, América,

    Caucaia e Pacatuba, segundo a Federação Cearense de Futebol.

    Percebe-se que as mulheres desde muito cedo lutam para mostrar seu potencial e

    que podem fazer as mesmas coisas que os homens. Foi assim na luta por melhores condições

    de trabalho, na conquista de espaço no mercado de trabalho, na luta pelo voto e, finalmente,

    na luta pelo direito de praticar esportes. Adiante, analisa-se a participação das mulheres no

    telejornalismo esportivo, quando trata de assuntos ligados ao futebol. Antes, porém, discute-

    se como este esporte está inserido na cultura brasileira. Tecem-se, ainda, algumas

    considerações sobre o telejornalismo esportivo no Brasil.

    5 Site oficial da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Disponível em:

    . Acesso em: 22/10/2012.

  • 24

    3 FUTEBOL E O TELEJORNALISMO ESPORTIVO

    Jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. Pode ser

    propagado em televisão, rádio, jornal, revista ou internet. Não importa. A essência

    não muda porque sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e

    ao interesse público (BARBEIRO; RANGEL, 2012, p. 13).

    Analisa-se, neste capítulo, como surgiu o futebol, quais as suas raízes, como

    chegou a este continente e, principalmente, como se tornou tão conhecido e popular. Também

    se relata como foi a sua chegada ao Brasil e Ceará. Essa retrospectiva se faz necessária para

    que se possa mostrar como esse esporte faz parte da cultura nacional.

    Após essas primeiras exposições sobre o futebol, traçam-se algumas reflexões

    sobre o telejornalismo, seu desenvolvimento e suas origens, para, posteriormente, se fazer

    uma análise do telejornalismo esportivo e da participação das jornalistas nessa área,

    especialmente quando a cobertura se refere ao futebol.

    3.1A história do futebol

    Segundo pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

    (IBOPE) em 2011, o futebol é, juntamente com as telenovelas, a grande atração da televisão

    aberta latino-americana.

    Esse esporte, tão popular no país teria suas raízes em jogos praticados desde 206

    a.C. na China (DAMASCENO, 2002), principalmente por militares; e tinha como regra se

    jogar uma bola de couro com os pés. Para Damasceno (2002), essa prática existe desde o

    império de Shih Huang-ti Che Houngti6 quando era utilizada como forma de interação. Já em

    meados de 150 a.C. os romanos, ao invadir a Grécia, teriam gostado de um jogo chamado

    episkuros, cujas regras eram muito parecidas com as do futebol atual. Esse jogo ficou muito

    conhecido após a dominação da Grécia pelos romanos.

    Dominadores do povo grego, os Romanos simpatizaram com o esporte e o levaram a

    Roma, onde foi bastante difundido, alcançando outros povos dominados, e

    difundido-o por grande parte do mundo conhecido da época, sob a denominação de

    harpastum, que utilizava um campo retangular, com duas linhas de meta (ou de

    fundo), com dada equipe se postando sobre uma destas linhas, e partindo no sentido

    contrário, tentando alcançar primeiro a bola, que estava colocada na linha que

    dividia o campo, e que era feita de couro de cabra ou ovelha, contendo em seu

    interior (como a câmara de ar atual), uma bexiga, que era soprada até ganhar

    condição de jogo (DAMASCENO, 2002, p. 13).

    Como se pode observar, o jogo criado pelos chineses foi se aperfeiçoando e se

    modificando até adquirir, em Roma (hoje, capital da Itália), um aspecto não só de jogo, mas

    6 Imperador Chinês por volta de 2.500 anos a.C (antes de Cristo).

  • 25

    de regras muito parecidas com as do atual futebol. O jogo foi sendo transmitido entre os

    povos e assim, incrementando cada vez mais o esporte, que foi se adequando à realidade e às

    necessidades de seus praticantes.

    Na Idade Média, também há indícios de um jogo parecido com o futebol. Este se

    chamava cálcio e era praticado na região de Florença, na Itália. Tratava-se de um

    esporte jogado em campo dividido ao meio, com equipes constituídas de 27

    jogadores cada, com alguns jogadores, aqueles que atuavam mais próximo à linha de

    meta, utilizando as mãos, e os demais, utilizando os pés, e também, os pontos, eram

    contados cada vez que a meta, constituída por dois portes em cada uma das linhas de

    fundo era ultrapassada. Também a bola de couro de cabra, com capim em seu

    interior (DAMASCENO, 2002, p. 14).

    Uma das partidas mais famosas de cálcio teria acontecido em 1529, em Florença,

    quando esta estava sob o poder do príncipe de Orange. “Velhos rivais, as facções políticas

    lideradas por Seglio Antinori e Dante Contiglione resolveram acertar suas diferenças em um

    jogo de bola na Piazza Santa Croce.” (UNZELTE, 2009, p. 15). Até hoje os habitantes de

    Florença reproduzem a partida.

    Ao longo dos séculos, mais e mais jogos parecidos com o futebol foram surgindo

    em todo o mundo. Um deles é o soule, criado e praticado nas regiões onde hoje se encontram

    a França e a Inglaterra, cuja prática consiste em

    [...] atletas que utilizavam as mãos ou os pés, dependendo de sua posição na equipe,

    utilizando uma bola de couro recheada de farelo de milho, trigo ou feno, com regras

    que permitiam a violência nas jogadas, como socos e pontapés, e permitindo em

    alguns casos, que, até morte se verificasse como conseqüência dessa liberdade física.

    (DAMASCENO, 2002, p. 14).

    Contudo, devido a seu alto grau de violência, o então regente Rei Eduardo II

    proibiu o soule de ser praticado. Porém, o esporte já se encontrava tão encaixado na cultura

    inglesa que o decreto acabou por ser categoricamente descumprido por aqueles que

    praticavam o esporte. Como o decreto de Eduardo II não fez efeito, seu sucessor, Eduardo III,

    acrescentou na lei a pena de morte para aqueles que viessem a praticá-lo (DAMASCENO,

    2002).

    Mas o esporte encontrou seu jeito: mudou de nome e novamente se adaptou ao

    momento, passando a se denominar burling over country, adotando novas regras que

    refreassem as atitudes de violência de seus praticantes dentro das partidas. Com essas

    medidas, o esporte foi ultrapassando a lei que impedia a prática do soule e não do burling

    over country. Foi se difundindo, então, nas comunidades inglesas, principalmente, nas

    universidades. Por volta de 1863, foi criada a Football Association para estruturar de maneira

    mais organizada o esporte.

  • 26

    De acordo com Damasceno,

    com a criação da Associação, e em acordo com a Universidade de Cambridge dando

    integral apoio, o futebol nascia oficialmente com registro e tudo, em 26 de outubro

    de 1863, e já sob controle da Football Association, começaram as disputas de

    competições entre as cidades inglesas, e apareceram as primeiras variações táticas

    do agora organizado esporte bretão (DAMASCENO, 2002, p. 16).

    O primeiro grande torneio de futebol ocorreu em 1871, sob a denominação de

    Copa da Inglaterra. “No ano seguinte, em 30 de novembro de 1872, Inglaterra e Escócia

    empataram por 0 a 0 no que se considera a primeira partida internacional da história.”

    (UNZELTE, 2009, p. 19).

    Nesse período, as mulheres ainda não podiam participar de atividades esportivas,

    pois, como já relatado nesta pesquisa, acreditava-se que o esforço físico poderia fazer mal às

    mulheres, que eram tratadas como seres frágeis a ser mantidos em segurança para gerarem

    filhos fortes e saudáveis. As mulheres só começaram a jogar futebol em meados de 1894,

    quando foi criado, em Londres, o time “Senhoras Britânicas”.

    No Brasil, os jogos de futebol feminino só foram liberados em 1979 e somente

    após travarem uma grande batalha contra o Conselho Nacional de Desportos, que proibia a

    sua prática por mulheres. Atualmente, o número de mulheres que praticam o esporte no Brasil

    vem aumentando, contudo, ainda é pequeno se comparado ao de outros países.

    [...] a presença feminina dentro das quatro linhas ainda busca a sua afirmação.

    Segundo dados recentes da Confederação Brasileira de Futebol, o país tem cerca de

    400 mil jogadoras, número irrisório se comparado ao de nossos jogadores

    profissionais, ou então aos 12 milhões de atletas que pisam os gramados norte-

    americanos [...] (FRANZINI, 2005. s.p.).

    Já em meados de 1940, alguns times femininos podiam ser vistos, entre eles, o

    Eva Futebol Clube e o Primavera F. C.. “Àquela altura, matéria do jornal paulistano Folha da

    Manhã reconhecia a existência de dez equipes de senhoritas futebolistas „em franca e regular

    atividade‟ na capital federal7”. (FRANZINI, 2005. s.p.).

    Com toda essa estrutura e organização, o esporte foi se espalhando pelo mundo,

    por meio dos estudantes e operários que, ao retornarem às suas casas, levavam consigo uma

    bola e o livro de regras do novo esporte (DAMASCENO, 2002). Assim, de posse desses dois

    objetos tão significativos para aqueles que fazem desse esporte seu divertimento ou profissão,

    por volta de 1894, o esporte chegou ao Brasil.

    Isso aconteceu quando um estudante brasileiro filho de ingleses, em retorno ao

    Brasil após uma temporada na Inglaterra, iniciou aqui o esporte. Esse estudante era Chalés

    7 Nessa época, a capital do Brasil era a cidade do Rio de Janeiro.

  • 27

    Miller, que, entusiasmado com o jogo aprendido em terras além-mar, convidou amigos,

    vizinhos e colegas para participar do esporte.

    Organizou treinos, mais tarde, jogos amistosos, e quando acreditou que a novidade

    pegara, que passava a ser do agrado de todos, estimulou e conduziu o processo de

    criação das entidades que iriam organizar os torneios, os campeonatos. É justo se

    dizer que Chalés Miller era um fidalgo e o seu comportamento era um modelo para

    os contemporâneos, além de ser em campo um dos maiores jogadores de futebol

    (DAMASCENO, 2002, p. 21).

    Essa afirmação também é feita por Pinto (2007, p. 37): “[...] começa com um

    rapazote que, em regresso dos seus estudos na Europa, traz na bagagem um livro de regras,

    uma bola de couro, e dois jogos de uniformes. Charles Miller [...]”.

    No Brasil e no mundo, o futebol só tomou a forma que tem atualmente em 1904,

    com a fundação da FIFA. Fundada pela Bélgica, Dinamarca, França, Países Baixos, Espanha,

    Suécia e Suíça, essa organização detém o poder máximo sobre o esporte (DAMASCENO,

    2002). No Brasil, quem representa essa autoridade é a Confederação Brasileira de Desportos

    (CBF), criada em 1916, mas que já existia desde 1914, só que com a denominação de

    Federação Brasileira de Sport. (DAMASCENO, 2002).

    Atualmente, as regras do futebol consistem em um conjunto de 17 regras pré-

    estabelecidas pela FIFA. São as mesmas para todo o mundo e em todas as competições

    oficiais. Essas regras foram criadas em 1938 e de lá pra cá, são a base do jogo. Entre as

    regras, encontram-se as medidas oficiais que devem ter os estádios onde os jogos são

    executados. O campo de futebol deve ter no mínimo entre 45 a 90 metros de largura e 90 a

    120 metros de comprimento, para jogos nacionais. Já para os jogos internacionais, o campo

    deve ter de 100 a 110 metros de comprimento e de 90 a 75 metros de largura.

    (DAMASCENO, 2002).

    A FIFA também estabelece quantos jogadores podem jogar, quantas substituições

    podem ser feitas em cada jogo. Conforme as regras atuais, em cada partida, cada time pode ter

    em campo um total de onze jogadores, sendo que destes um deve ser o goleiro e pode, no

    decorrer do jogo, fazer até três alterações. Nas partidas de amistosos, a quantidade de

    jogadores é a mesma, mas podem ser feitas cinco alterações.

    As regras tratam até mesmo do tamanho da bola que deve ser o mesmo em todas

    as competições: de 68 a 70 centímetros. A bola deve ser esférica e pesar entre 410 e 450

    gramas (DAMASCENO, 2002). Todas essas regras fazem do futebol um esporte não somente

    de força física, mas também, de raciocínio e equilíbrio. As regras são as mesmas seja para os

    jogos masculinos ou femininos. Isso demonstra que as diferenças biológicas não são

    empecilhos para tal prática esportiva.

  • 28

    3.1.1 O futebol no Ceará

    Do mesmo modo que chegou ao Brasil, esse esporte foi se expandindo pelo país.

    Eram filhos de brasileiros que estudavam fora e, em suas estadias nas cidades natais,

    apresentavam o novo jogo para os conhecidos; ou eram trabalhadores europeus que aqui se

    estabeleciam para trabalhar nas fábricas e acabavam por disseminar o futebol.

    (DAMASCENO, 2002).

    Foi desse modo que o futebol se estabeleceu no Ceará, trazido primeiramente por

    trabalhadores ingleses que, em seus momentos de folga, aproveitavam para jogar o já popular

    futebol. Isso acontecia no ano de 1902, mesmo de maneira não oficial, já que não havia um

    número de jogadores firmado ou um campo como mandam as regras. Mas, foi assim que os

    fortalezenses conheceram o jogo inglês.

    Oficialmente, ou de acordo com os registros, o primeiro jogo de futebol, com

    respeito, às regras, com um referee (árbitro) em ação, aconteceu em 1903,

    aproveitando a passagem de navio inglês por Fortaleza, em direção ao sul brasileiro.

    Se nunca haviam convidado jovens para suas apresentações, desta vez, o pessoal

    organizador da partida, tratou de chamar a população em geral, para ver aquela

    exibição, apenas envolvendo estrangeiros, os do navio contra os que aqui

    trabalhavam (DAMASCENO, 2002, p. 38).

    “No Ceará, como em vários outros estados brasileiros, os primeiros jogos de

    futebol foram disputados por marinheiros e empregados de companhias inglesas que

    praticavam „rachas‟ pelas ruas da capital, sem ater-se muito às regras de jogo.” (FARIAS,

    2005, p. 14). Percebe-se, pois, que o futebol chegou às terras brasileiras e cearenses cercado

    pelo universo masculino dos trabalhadores das fábricas inglesas e dos estudantes que iam para

    a Europa. No Ceará, um dos principais expoentes do futebol foi José Silveira, que trouxe

    consigo uma bola e um livro de regras em 1904 (DAMASCENO, 2002).

    Um ano após os ingleses jogarem a primeira partida em solo cearense aconteceu a

    primeira partida entre brasileiros e ingleses. O jogo aconteceu em dezembro de 1904, entre o

    time brasileiro Foot-Ball Club e o time inglês English Team, com o jogo tendo como

    vencedor o time estrangeiro (DAMASCENO, 2002). Foi com essa mistura de trabalhadores

    brasileiros e estrangeiros que o Brasil viu o esporte nascer.

    No Brasil, é possível perceber que as primeiras partidas não foram tão elitistas

    quanto se coloca; o caso cearense, portanto, não extrapola a realidade nacional. Com

    o déficit de jogadores, a maior parte das primeiras partidas conglomerava

    trabalhadores braçais e funcionários de empresas britânicas instaladas na República

    (PINTO, 2007, p. 43).

    Segundo Damasceno (2002), após esse primeiro jogo só se ouviu novamente falar

    de um jogo em 1911, em uma partida entre o Ceará Futebol Clube e o América. Depois desse

  • 29

    momento, o esporte retornou com toda a sua força. O Fortaleza Sporting Clube foi criado um

    ano depois, em 1912, por Alcides Santos, mas o nome seria mudado em 1915 para Stela, em

    homenagem ao colégio em que a maioria dos jogadores estudou, só retornando à

    denominação de Fortaleza em 1918 (DAMASCENO, 2002). Mais tarde, Alcides Santos

    comprou um terreno para a construção de um campo para o Fortaleza

    [...] onde construiu o Campo do Alagadiço para o seu Fortaleza, e ao mesmo tempo,

    fundou e dirigiu interinamente a Liga Metropolitana Cearense de Futebol, em 1915,

    e cinco anos depois, 1920, a transformaria na Associação Desportiva Cearense de

    Futebol presidindo a sessão de mudança e a presidindo interinamente

    (DAMASCENO, 2002, p. 46).

    Em 1914, foi fundado o Rio Branco Foot-Ball Club, pelo estudante Luis Esteves

    Jr, juntamente com um grupo de amigos. O Rio Branco se tornou no ano seguinte o Ceará

    Sporting Clube, que, assim como o Fortaleza, existe até hoje. Foi também em 1914 que

    ocorreu o primeiro grande campeonato de futebol, promovido pelos clubes.

    Um campeonato como já estava existindo em vários estados do Brasil, que

    enfrentava dificuldades iguais as nossas, mas as superavam e promoviam

    competições [...] Naquele tempo, não havia cobrança de ingressos, o campo era

    aberto, e ainda eram distribuídos licores no intervalo dos jogos [...] (DAMASCENO,

    2002, p. 54).

    Quando, em 1915, foi criada a Liga Metropolitana de Foot-Ball, o futebol

    cearense já se organizava e realizava alguns jogos e até um campeonato. Além do Rio Branco

    e do Fortaleza havia o Rio Negro, o Tabajara, entre outros times que ajudaram a difundir o

    esporte não somente na capital cearense, mas também, no interior (DAMASCENO, 2002).

    Mesmo com um campeonato realizado, uma liga montada, o futebol não recebia muita

    atenção da mídia cearense.

    “Embora fosse uma novidade que atraía muita gente aos jogos, o futebol não

    tinha, entretanto, a merecida cobertura da imprensa, e no período de 1914 a 1920, eram

    esporádicas as notícias publicadas pelos jornais da época.” (DAMASCENO, 2002, p. 56).

    [...] por volta de 1914/15 [surgem] as primeiras notas de jornais noticiando partidas

    de futebol. Quanto às anteriores, até o momento não foi possível recuperar e/ou

    encontrar referências, nem aqueles que noticiem as primeiras partidas de 1903 e

    1904 já citadas (PINTO, 2007, p. 51).

    Observa-se que mesmo sendo praticado e assistido por muitos, o futebol ainda não

    era tratado como notícia pelos jornais. Talvez, isso se desse pelo fato de o esporte ainda ser

    amador nessa época, não atraindo investidores financeiros e nem o interesse daqueles que

    faziam as notícias, fato que não acontece atualmente.

  • 30

    É comum, hoje em dia, um caderno especial destinado para esportes nos jornais

    impressos, e um período (uma coluna) nos telejornais. Não estou afirmando que as

    pessoas são “engolidas” pelo futebol. Entretanto, para não viverem ou não

    perceberem notícias a respeito da prática do esporte, terão que driblar o que se

    tornou comum – haja vista as exposições midiáticas durante o período de Copa do

    Mundo de Futebol [...] (PINTO, 2007, p. 52).

    Retornando à história do futebol cearense, chega-se ao ano de 1920, quando a

    Liga se torna Associação Desportiva Cearense de Foot-ball (ADCF ou ADC). Porém, os

    integrantes da nova associação não tiveram o cuidado de registrá-la devidamente, o que

    acarretou, em 1936, um grande problema para o futebol cearense.

    [...] inconformados com algumas decisões da Associação, o Ceará se manifestou

    com críticas pesadas e como punição, foi afastado do campeonato, ganhando a

    solidariedade do Maguary [...] Uma devassa completa constatou que a ADCF nunca

    tinha se preocupado com a documentação, e que embora existindo de fato,

    promovendo campeonatos desde 1920, ela de direito não existia. O grupo rebelado

    buscou o apoio jurídico junto aos componentes de suas administrações que eram

    expert em direito, reuniram os clubes interessados, aprovaram estatutos e

    registraram a documentação [...] (DAMASCENO, 2002, p. 113).

    Oficialmente, a Associação só começou a valer em 1936, porém, não durou muito.

    Em 1941, cinco anos depois de oficializada, a ADCF passa a se chamar – por ordem de

    decreto do então Presidente Getúlio Vargas – Federação Cearense de Desporto. Contudo, o

    fato mais relevante do ano foi a inauguração do primeiro estádio de futebol do Ceará, o

    estádio Presidente Getúlio Vargas (ou PV), que teve shows, partida de futebol, desfiles de

    equipes esportivas, discursos e tudo mais que o evento merecia (DAMASCENO, 2007). A

    criação do PV foi um grande acontecimento, pois até aquele momento não havia ainda um

    “campo apropriado para a prática do futebol” no estado (DAMASCENO, 2002, p. 135).

    Atualmente, o futebol cearense está mais organizado, com muito mais times

    inscritos em seu campeonato estadual do que nos seus primeiros anos lá em 1914. Existem o

    campeonato cearense principal e o de acesso. Há times do estado competindo na segunda

    divisão (série B) do Campeonato Brasileiro, que é o campeonato nacional. Quanto à

    infraestrutura, existem, hoje, dois grandes estádios: Presidente Vargas e Castelão (este último

    irá receber alguns jogos da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014),

    além de outros espalhados por todo o interior do estado.

    Como se percebe, o futebol evoluiu bastante no decorrer do tempo, passando de

    amador para profissional, de jogo de trabalhadores para jogo de elite, mas a participação

    feminina ainda continua tímida, bem como, são raras as coberturas do esporte quando

    praticado por mulheres. Atualmente, há times e competições de futebol feminino, cujos feitos,

    porém, são pouco noticiados. No Ceará, por exemplo, existe uma liga de Futebol Feminino e

    competições, mas quase não se vê notícias sobre esse fato na mídia.

  • 31

    3.2 O telejornalismo esportivo

    Atualmente, a televisão é o meio de comunicação mais utilizado pela população

    brasileira. São 96,6% dos brasileiros assistindo à TV (SECOM, 2010). Mas, sua história é

    recente no país, surgindo, a partir do desenvolvimento de outros meios de comunicação que

    deram o suporte necessário para que a televisão pudesse engrenar seus primeiros passos.

    (SQUIRRA, 1995).

    O atual estado da arte da televisão não deve ser entendido isoladamente dos outros

    meios de comunicação descobertos e desenvolvidos pelo homem. [...] A forma de

    expressão, a linguagem e os recursos empregados pela televisão na produção dos

    programas não apareceram com a sua descoberta. Mas, sim, a partir das conquistas e

    aperfeiçoamentos de outros meios, como por exemplo: a literatura, o teatro, a

    música e, sobretudo, o cinema e a fotografia (SQUIRRA, 1995, p. 19).

    A TV foi evoluindo, aperfeiçoando-se e dominando o mundo. Em 1949,

    Chateaubriand começou a fazer as primeiras instalações que dariam início, em 1950, à

    primeira transmissão de televisão no Brasil (MATTOS, 2002).

    Os equipamentos para as nossas primeiras emissoras chegaram no ano de 1949, com

    Chateaubriand iniciando sua instalação sob muito mistério, quase às escondidas,

    pois ele queria inaugurar a televisão no Brasil antes do México e de Cuba, países

    que também instalaram a televisão no ano de 1950 (MATTOS, 2002, p. 171).

    A primeira transmissão televisiva aconteceu em setembro de 1950, com a voz e o

    rosto de Getúlio Vargas sendo propagados para todos que estivessem perto de um aparelho.

    Depois desse primeiro momento, a TV foi se aperfeiçoando e novas emissoras surgiram e,

    com isso, novos programas que tinham todo um modo diferenciado de serem elaborados,

    sempre levando em consideração as características próprias do veículo.

    Por ser a notícia na televisão uma mistura de som e imagem, ela não pode ser

    muito descritiva e nem falar o óbvio, já que a imagem fala por si só, seguindo um processo

    bem diferente dos utilizados para o jornal, revista e rádio. Nesses meios, utilizam-se mais os

    aspectos descritivos, pois não se pode mostrar em sequência o que realmente está

    acontecendo, fato que não acontece com a televisão, veículo em que texto e imagem tendem a

    caminhar juntas, ofertando ao telespectador uma grande gama de possibilidades.

    [...] a televisão é contemporânea ao fato. Pelas suas próprias características técnicas,

    ela proporciona possibilidades de mostrá-lo logo depois de ele ter acontecido, quase

    instantaneamente. Em vez de relatar o fato, ela o mostra em toda a sua dimensão.

    Ela pode, assim, atingir quantidade muito maior de sentidos humanos, já que se

    utiliza do movimento, da cor, do som, e de toda a dramaticidade do acontecimento

    quase ao mesmo tempo em que ele se deu. Por isso pode se dizer que a televisão é

    cômoda, já que ela não exige esforço por parte do telespectador. O mesmo não

    acontece com o jornal impresso (SQUIRRA, 1995, p. 51).

  • 32

    O primeiro modelo de telejornalismo surgiu em 1939 nos Estados Unidos. “No

    início eram apenas imagens paradas em preto e branco, ou seja, eram fotos ou mapas

    ilustrando a notícia.” (BRAVO, 2009, p. 22). Assim, percebe-se que inicialmente a TV era

    muito amadora. Não havia profissionais qualificados, por isso, a televisão passou a se utilizar

    de profissionais do rádio e dos jornais (BRAVO, 2009).

    Os telejornais dessa época tinham mais notadamente influência e características dos

    programas de rádio. O apresentador ficava em frente à câmera e lia as notícias

    escritas no script como um radiojornal. Assim sendo, as matérias e reportagens eram

    longas e detalhadas. Nesse contexto, importantes programas de rádio foram

    transferidos para a televisão [...]. (BRAVO, 2009, p. 22).

    É nesse estilo engessado, sem movimento e de voz acentuada que surge, ainda na

    década de 1950, o primeiro telejornal brasileiro, o “Imagens do dia”, da TV Tupi. Depois

    dele, em 1952, outro grande jornal de sucesso foi o já conhecido no rádio, “Repórter Esso”,

    que ficou no ar até a década de 1970. Esses programas tratavam de notícias variadas.

    Como todos os meios de comunicação existentes no Brasil, a televisão também

    passou por grandes problemas por causa da ditadura militar, pois alguns conteúdos eram

    impedidos de serem veiculados. Porém, mesmo assim, esta se supera e cresce cada vez mais;

    os telejornais também acompanham esse crescimento. Assim, apesar da censura e de outros

    problemas, essa é uma das épocas em que as telecomunicações mais se desenvolveram no

    país.

    Na década de 70, o telejornalismo sofreu alguns problemas com a censura devido às

    pressões do regime militar. No entanto, mesmo com dificuldade nas transmissões,

    foi nessa época que ocorreram evoluções para o telejornalismo, como a chegada dos

    equipamentos do videoteipe com fitas – ficando mais leves – o surgimento da

    transmissão à cor e o início das transmissões ao vivo (BRAVO, 2009, p. 23).

    Foi nessa época que o futebol viveu um de seus maiores momentos. Com todo o

    crescimento tecnológico existente, pôde-se fazer a primeira transmissão em cores e o

    momento escolhido foi justamente uma partida de futebol, sendo que, desde 1955, já se

    transmitiam alguns jogos de futebol, só que, na época, em preto e branco.

    A primeira transmissão da TV em cores foi a Copa do Mundo no México, 1970, na

    qual o Brasil foi Tri-Campeão Mundial. Em 1983, com o fim da ditadura e a

    abertura da imprensa, o telejornalismo voltou a ganhar força e reforço tecnológico.

    Em 90 começavam os telejornais locais que tinham suas matérias reaproveitadas nos

    telejornais nacionais (BRAVO, 2009, p. 23).

    Com todo esse desenvolvimento, a TV se tornou uma grande fonte de informação

    para a população. Em 1978, já existiam 14.825.000 aparelhos de TV no Brasil; em 1980,

    havia 113 emissoras e o Brasil ocupava o sexto lugar no mundo em número de televisores.

    (MATTOS, 2002).

  • 33

    Com o tempo, a televisão não parou mais de crescer e os aparelhos de TV foram

    tomando conta do país, fazendo com que as emissoras fossem desenvolvendo cada vez mais

    tecnologias e programas nas regiões onde estavam estabelecidas. Tanto que na década de

    1990 já havia telejornais locais e nacionais, tornando as coberturas bem mais ampliadas.

    Segundo pesquisa da Secretária de Comunicação da Presidência da República,

    realizada em 2010, 68,8% da população assistem a até quatro horas de TV por dia. Entre os

    principais programas visualizados estão os telejornais, com 64,6%, as novelas, com 16,4%, e

    os programas esportivos, com 7,2%. Pode-se perceber, por essa pesquisa, que o esporte tem

    um lugar especial na vida do brasileiro, tanto que aparece em 3° lugar em sua preferência.

    Mas, antes de se fazer uma análise mais profunda sobre o tema, há primeiro que se entender o

    que é o telejornalismo esportivo.

    O jornalismo esportivo é uma especialização do próprio jornalismo. Com

    linguagem e maneiras diferentes para abordar os assuntos, nessa área se tem certa liberdade

    para trabalhar.

    [...] a cobertura esportiva é realizada com ferramentas gerais, do próprio jornalismo,

    e com ferramentas específicas do esporte. Isto é, as regras gerais (entrevistas com

    fontes, formas de apreensão, construção do lead, apresentação do título, texto claro e

    conciso, composição da página e outros valores exigidos pelos manuais de redação)

    valem para todas as editorias (BORELLI, 2002, p. 10).

    Isso significa que para ser um bom jornalista de esportes o necessário é ter

    conhecimento e competência. Nesse caso, o sexo não deveria ser levado em consideração.

    Ocorre que ainda existem poucas mulheres nessa editoria, questão que será analisada com

    mais profundidade no terceiro capítulo desta pesquisa.

    O jornalismo esportivo ainda

    [...] acaba incorporando fatores característicos do esporte, como a descrição da ficha

    técnica em jogos, o uso de expressões características do campo competitivo

    (linguagem agonizante, de combate, mais despojada, em função do campo ser,

    sobretudo, de entretenimento etc.) (BORELLI, 2002, p. 10).

    Quando a TV brasileira ainda dava seus primeiros passos e tudo ainda era meio

    amador, o esporte e, principalmente, o futebol já começavam a buscar o seu lugar no novo

    veículo. Como já dito, em 1955 foi transmitida a primeira partida de futebol. O jogo era

    Santos x Palmeiras; depois, veio Brasil x Inglaterra, com transmissão interestadual; os dois

    veiculados pela TV Tupi (MATTOS, 2002).

    Segundo Bravo (2009), essa preocupação com as transmissões esportivas tinha

    um motivo: o alto interesse da população com a chegada da Copa de 1958, realizada na

    Suécia e que teve o Brasil como campeão. Foi o futebol que também marcou um grande

  • 34

    avanço da TV no Brasil, pois foi durante a Copa de 1970, no México, que se teve a primeira

    transmissão em cores no país. Vale mencionar que isso ocorreu em plena Ditadura Militar,

    que, como dito anteriormente, foi uma época em que a televisão, do ponto de vista

    tecnológico, mais se desenvolveu, apesar da censura.

    Mas, para manter esse crescimento, as emissoras precisavam de anunciantes que

    se baseiam na audiência para saber onde irão aplicar o seu dinheiro. Os meios de

    comunicação, então, necessitavam elaborar estratégias para ampliar suas audiências. Essa

    relação não vem de hoje; no início da TV no Brasil, um artifício muito utilizado foi produzir

    programas cujos nomes eram de marcas famosas, a exemplo do “Repórter Esso”.

    Com o futebol não poderia ser diferente. A TV e o futebol têm entre si uma

    ligação quase de necessidade, pois os times precisam dela para mostrar seus shows ao mundo

    e assim ganhar dinheiro, enquanto a TV precisa deles para trazer audiência à emissora.