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1ª EDIÇÃO Resultados dos projetos distinguidos em 2013

1ª EDIÇÃO · 2018-01-23 · para melhores cuidados de saúde ... Durante o ano de 2014-15 foi dado especial relevo à caracterização genotípica de alguns isolados de HIV-2 focando

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1ª EDIÇÃO

Resultados dos projetos distinguidos em 2013

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FICHA TÉCNICAProdução editorial, design e paginação: Leadwide Consulting, Lda.Impressão e acabamentos: Soartes Lda | Tiragem: 300 exemplares

Gilead Sciences, Lda.Atrium Saldanha, Praça Duque de Saldanha n.º 1 - 8.º A e B 1050-094 Lisboa - Portugal Tel. 21 792 87 90 | Fax. 21 792 87 99www.gileadgenese.pt | [email protected]

000/PT/15-02/IN/1125Data de preparação: março 2015

Os textos são da autoria dos responsáveis de cada projeto. Foi respeitada a opção de escrita dos candidatos.

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O Programa Gilead GÉNESE foi criado em 2013, com o desígnio de incentivar em Portugal a investigação translacional e clínica, a geração de dados e a implementação de boas práticas de acompanhamento dos doentes. Em paralelo pretendemos com este programa apoiar projetos nas áreas de educação para a saúde, bem como a intervenção comunitária e cívica.

Fieis à nossa missão e aos nossos valores, temos apostado num ambicioso programa de Investigação & Desenvolvimento de medicamentos inovadores em áreas onde existem importantes lacunas terapêuticas, procurando garantir o acesso a esses medicamentos a todos os que deles necessitam.

Em termos temáticos, o Programa Gilead GÉNESE está alinhado com as áreas core da empresa como é o caso do VIH/SIDA e das hepatites virais crónicas B e C, e também a área das infeções fúngicas invasivas, da fibrose quística e, mais recentemente, da oncologia.

Este programa procura também adaptar-se às prioridades do país e à nossa filosofia de incentivar programas de geração de conhecimento, de prevenção e de discussão de políticas de saúde. O Programa Gilead GÉNESE é a moldura que encontrámos para os viabilizar.

O rigor, a excelência e a transparência são valores chave para nós, pelo que procurámos espelhar os mesmos neste programa através da criação de um regulamento específico e de uma Comissão Externa de Avaliação. Esta Comissão integra elementos de áreas profissionais diversas e complementares, assegurando o carácter independente

PROGRAMA GILEAD GÉNESE

deste programa e contribuindo de forma muito significativa para o seu enriquecimento.

Cumpridas duas edições do Programa Gilead GÉNESE considerámos que seria uma justa e oportuna homenagem a todos quantos já participaram neste programa, sempre em atualização, preparar uma publicação dos resultados dos projetos apoiados na 1ª edição. Para além de gerar conhecimento é essencial transmiti-lo e é também isso que procuramos fazer.

Esta é uma oportunidade única para celebrar o esforço, a competência e a dedicação de todos os que contribuíram para consolidar projetos capazes de marcar a diferença.

O nosso sincero agradecimento a todos aqueles cujos projetos já foram distinguidos pelo Programa Gilead GÉNESE e a todos os membros das Comissões de Avaliação Externa, que são o garante do elevado rigor que caracteriza este programa.

Cristina BernardoDiretora Geral Gilead Sciences

“A Gilead caminha ao lado daqueles que, desenvolvendo projetos em áreas diversificadas, produzem mais evidência e contribuem para melhores cuidados de saúde de forma sustentável”

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Dr. António DinizDiretor do Programa Nacional para a infeção VIH/SIDA e Hepatites viraisCoordenador da Unidade de Imunodeficiência do Serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente, CHLN

Prof. Dr. Armando CarvalhoDiretor do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra

Prof. Dr. João GonçalvesProfessor Associado da Faculdade de Farmácia da Universidade de LisboaDiretor do Laboratório de Retrovirologia do Instituto de Medicina Molecular

COMISSÃO DE AVALIAÇÃOA avaliação das candidaturas submetidas na 1ª edição do Programa Gilead GÉNESE foi realizada por uma Comissão Externa de Avaliação que integrou Profissionais experientes e Peritos em diferentes áreas, os quais foram os responsáveis pela apreciação da pertinência e carácter inovador dos projetos candidatos, bem como da sua qualidade, organização e metodologia de acordo com as definições do regulamento aplicável.

Dra. Maria Teresa BrancoRepresentante da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA (APECS)Assistente Hospitalar Graduada e Diretora do Serviço de Urgência do Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca

Prof. Dr. João PereiraDiretor da Escola Nacional de Saúde Pública, UNLEconomista da Saúde

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ÍNDICE DOS PROJETOSPROJETOS CIENTÍFICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05 ADEIM - Associação para o Desenvolvimento do Ensino e Investigação em Microbiologia “Viroteca-Seroteca do vírus da imunodeficiência humana (HIV)” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06 Centro de Imunodeficiências Primárias - Laboratório de Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina de Lisboa“Infecções crónicas por Candida albicans e defeitos intrínsecos do sistema imunitário: optimização dos cuidados de saúde através do diagnóstico de imunodeficiências” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08 FARM-ID Associação da Faculdade de Farmácia para a Investigação e Desenvolvimento“DUALBIOSOME – Estratégia nanotecnológica para o tratamento de infecções pulmonares crónicas em doentes com Fibrose Quística” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 FARM-ID Associação da Faculdade de Farmácia para a Investigação e Desenvolvimento“Novos alvos terapêuticos no controlo da Hepatite Viral” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa“Diagnóstico, Prognóstico e Tratamento Personalizado de Fibrose Quística” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia, Instituto Superior Técnico“PanCandida: Em direcção ao desenvolvimento de um chip pangenómico de DNA para a detecção de candidíase invasiva” . . 18 Instituto de Medicina Molecular“Estimativa da prevalência da esteatose hepática e da doença hepática viral em Portugal. Avaliação dos fatores de risco associados” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Instituto de Medicina Molecular“Reservatórios e Replicação Viral nas Células T CD4 de Memória-Central e Foliculares na Infecção HIV-2” . . . . . . . . . . . . . . . 22 Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge“Identificação de infecções recentes em novos diagnósticos de infecção por VIH, um contributo para conhecimento da epidemia em Portugal” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 PROJETOS DE INICIATIVA COMUNITÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 AJPAS - Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde“Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 AJPAS - Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde“ICAT - Intervenção Comunitária para a Adesão Terapêutica” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 GAT - Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos VIH/SIDA - Pedro Santos “Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde das comunidades migrantes” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Liga Portuguesa Contra a Sida “Encontros (in)seguros II” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 SER+ - Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à SIDA “Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde para migrantes” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

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PROJETOS CIENTÍFICOS

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ADEIM - Associação para o Desenvolvimento do Ensino e Investigação em Microbiologia

Viroteca-Seroteca do vírus da imunodeficiência humana (HIV)

José Miguel Azevedo PereiraHost-Pathogen Interaction Unit, iMed.ULisboaFaculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

OBJECTIVOSDurante o ano de 2014-15 foi dado especial relevo à caracterização genotípica de alguns isolados de HIV-2 focando essa caracterização nos genes virais, gag e env, cujos produtos proteicos são fundamentais em várias etapas do ciclo replicativo viral. Em particular foram feitos ensaios de mutagénese dirigida no gene env de isolados de HIV-2 que fazem parte da Viroteca/Seroteca. Essa experiência tinha como objectivo determinar quais os aminoácidos envolvidos na interacção com os co-receptores celulares.

METODOLOGIADepois de clonado e sequenciado, o gene env do isolado primário HIV-2MJC97 foram sujeitos a um conjunto sequencial de mutações, através da técnica de mutagénese dirigida (QuickChange II XL site-directed mutagenesis kit; Stratagene). As mutações introduzidas foram direccionadas às regiões variáveis 1 e 2 (V1/V2) da glicoproteína de superfície. Após as várias mutações terem sido feitas e confirmadas por sequenciação, o DNA recombinante dos vários mutantes criados foi usado para transfectar células 293T (FuGENE6 transfection reagent; Roche). Os vírus assim obtidos foram propagados em células mononucleadas do sangue periférico estimuladas com IL-2. Os stocks virais foram finalmente usados para aferir o uso de diferentes co-receptores (CCR5, CXCR4 e CCR8) por forma averiguar a influência das mutações introduzidas no processo de interacção com cada uma destes co-receptores.

RESULTADOS E CONCLUSÃODurante o ano de 2014 e graças ao financiamento dado pelo Programa Gilead Génese, foi possível terminar a caracterização molecular da interacção entre a glicoproteína do invólucro de HIV-2 e os co-receptores presentes na célula alvo. Essa caracterização foi feita usando um isolado primário que tinha como característica principal não usar os coreceptores CCR5 e CXCR4.

Os resultados obtidos foram publicados na revista Retrovirology (1) e descrevem pela primeira vez quais os aminoácidos envolvidos na ligação ao co-receptor. Esses aminoácidos localizam-se nas regiões variáveis 1 e 2 (V1/V2) da glicoproteína de superfície do invólucro viral (Fig 1). Por mutagénese dirigida e modificando aminoácidos dessa região foi possível alterar o co-receptor utilizado de CCR8 para CCR5 (R8 para R5) ou de CCR8 para CCR5/CXCR4 (R8 para R5X4). Estes resultados assumem uma grande importância porque demonstram pela primeira vez e inequivocamente que a região V1/V2 é, no HIV-2 e ao contrário do verificado no HIV-1, a principal determinante do uso dos coreceptores.Para além disso, estes resultados permitem sugerir uma razão provável para a menor virulência apresentada in vivo pela infecção por HIV-2: se se assumir que a região V1/V2 desencadeia uma resposta neutralizante in vivo mediada por anticorpos (tal como sugerido pelos resultados dos ensaios da vacina RV144 para o HIV-1), e se é simultaneamente determinante do uso dos co-receptores como demonstrámos, tal concomitância constituirá um forte constrangimento à replicação de HIV-2, permitindo explicar a baixa carga viral e a ampla susceptibilidade à neutralização verificada no decurso da infecção natural de HIV-2.

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Bibliografia:1. Santos-Costa Q, Lopes M, Calado M, Azevedo-Pereira J. HIV-2 interaction with cell coreceptors: amino acids within the V1/V2 region of viral envelope are determinant for CCR8, CCR5 and CXCR4 usage. Retrovirology. 2014 Nov 25;11(1):99. (Disponível em: www.retrovirology.com/content/11/1/99).

Figura 1 - Esquema representando a estrutura primária e secundária das regiões V1, V2 e V3 da glicoproteína de superfície da estirpe HIV-2MJC97. A vermelho estão assinalados os aminoácidos que foram modificados para se alterar o fenótipo de R8 para R5X4 (A) e de R8 para R5 (B). Adaptado de (1).

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Centro de Imunodeficiências Primárias - Laboratório de Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina de Lisboa

Infecções crónicas por Candida albicans e defeitos intrínsecos do sistema imunitário: optimização dos cuidados de saúde através do diagnóstico de imunodeficiências**Projeto ainda a decorrer à data desta Publicação

RESUMO DO PROJETOA Candidiase mucocutânea crónica (CMC) engloba síndromes de gravidade variável, cuja manifestação dominante é a susceptibilidade aumentada para infecções mucocutâneas por Candida, que se tornam crónicas ou recorrentes, podendo associar-se por vezes de candidíase.

Espécies do género Candida, são os agentes oportunistas mais frequentes nas imunodeficiências primárias (IDPs), defeitos genéticos raros que comprometem a imunidade inata e/ou adaptativa. Têm sido descritas múltiplas causas genéticas de CMC, a maioria relacionada directa ou indirectamente com defeitos da via da IL17.

Não existem dados nacionais relativamente à prevalência das diferentes formas de CMC, patologias que tal como as demais IDPs apresentam elevada taxa de subdiagnóstico.

É objectivo deste projecto criar uma plataforma informática para integração da informação clínica e laboratorial dos doentes com CMC, em associação com um banco de amostras biológicas dos doentes, um segundo objectivo é o desenvolvimento algoritmo de diagnóstico incorporando a caracterização imunológica e os dados clínicos, de forma a orientar o diagnóstico genético destes doentes em internacional com grupo internacional de referência na área da CMC.

Para concretizar estes objectivos será criada uma rede referenciadora de doentes com suspeita de CMC envolvendo as consultas diferenciadas IDPs e a realização de campanhas de divulgação/alerta junto de diversas especialidades.

A análise dos dados reunidos no final do primeiro ano de actividade da rede referenciadora e plataforma de dados, permitirá estimar a prevalência das diferentes formas de CMC e conhecer as características da coorte nacional, nomeadamente em relação às opções de terapêutica antifúngica. Está assegurada a continuidade das estruturas desenvolvidas no âmbito deste projecto, as quais beneficiarão largamente a longo prazo os doentes com CMC e clínicos que os acompanham.

Responsável: Susana Lopes da Silva

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FARM-ID Associação da Faculdade de Farmácia para a Investigação e Desenvolvimento

DUALBIOSOME – Estratégia nanotecnológica para o tratamento de infecções pulmonares crónicas em doentes com Fibrose Quística

António J. Almeida, Inês Santos Ferreira, Lídia M.D. Gonçalves, M. Eugénia Cruz, M. Manuela Gaspar, Rui Lopes, Susana CaladoNano2B Research Group; Research Institute for Medicines (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa.

OBJECTIVOSO principal objetivo do projeto é a aplicação de uma nova estratégia de combate às infecções pulmonares crónicas associadas à fibrose quística. Esta estratégia inovadora pretende a erradicação dos biofilmes bacterianos de Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus através do desenvolvimento de nanoformulações lipossomais contendo simultaneamente dois antibióticos de modo a promover uma maior penetração nos biofilmes à superfície do epitélio pulmonar, tendo em vista uma futura aplicação por via inalatória. A estratégia alia as vantagens da administração simultânea de dois antibióticos, cuja associação se tem revelado promissora, com as da sua co-incorporação em nanolipossomas.

METODOLOGIADe modo a avaliar as propriedades mucoadesivas dos lipossomas foi estudada a influência da composição lipídica, em função de diâmetro, carga eléctrica superficial e rigidez da bicamada lipídica. Os lipossomas carregados positiva e negativamente apresentaram propriedades mucoadesivas superiores às nanoformulações neutras. Com as composições lipídicas seleccionadas foram desenvolvidas e caracterizadas

fisico-quimicamente formulações lipossomais contendo os cada um dos antibióticos: a ceftazidima (CFZ) e a rifampicina (RFP) e em co-incorporação.

RESULTADOS:Através da selecção da composição lipídica, contendo fosfolípidos carregados negativamente, foram maximizados os parâmetros de incorporação dos dois antibióticos em lipossomas. Paralelamente a estas formulações foram também desenvolvidos para os dois antibióticos lipossomas contendo PEG na composição lipídica os quais demonstraram propridades mucoadesivas inferiores à das nanoformulações carregadas negativamente.

Estudos de estabilidade das formulações na forma liofilizada na presença de crioprotetor demonstraram uma preservação das propriedades fisico-químicas nomeadamente diâmetro médio, índice de polidispersão, potencial zeta e percentagem de antibiótico incorporado.

Estudos de estabilidade das formulações lipossomais na presença de surfactante pulmonar, a 37ºC, demonstraram uma dependência do antibiótico incorporado. Para as formulações lipossomais de CFZ, 48 h após incubação menos de 30% do antibiótico foi libertado. Por outro lado, no caso das formulações de RFP e após o mesmo período de incubação mais de 50% do antibiótico tinha sido libertado. A presença de trealose nos lipossomas de CFZ e RFP altera o perfil de libertação dos respetivos antibióticos. Assim enquanto que para os lipossomas contendo RFP cerca

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de 30% do antibiótico tinha sido libertado após 48 h de incubação, no caso da CFZ o valor é inferior a 1% ao fim do mesmo período de incubação.

De acordo com os resultados obtidos observa-se mais uma vez se observa que após incubação com mucina o potencial zeta de todas as formulações apresenta um valor entre -5 e -10 mV independentemente do valor inicial. Em termos de diâmetro das vesículas observa-se um ligeiro aumento. Estes resultados indicam que a mucina adere à superfície dos lipossomas, o que prova a capacidade destas nanoformulações para interagir com o muco, atravessando-o e podendo atingir os biofilmes bacterianos.

Estes estudos foram já iniciados no Charité Universitätsmedizin, Berl im, Alemanha. Resultados prel iminares obtidos por microcalorimetria revelaram que, tal como esperado, os lipossomas placebo (vazios) não apresentam actividade antibacteriana contra as formas planctónicas das estirpes bacterianas relevantes. Para além disto, estes resultados foram confirmados por estudos de microscopia de fluorescência utilizando lipossomas marcados com rodamina.

CONCLUSÕESPodemos então concluir que não são esperados efeitos antibacterianos das nanoformulações placebo sobre os biofilmes das estirpes relevantes.

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FARM-ID Associação da Faculdade de Farmácia para a Investigação e Desenvolvimento

Novos alvos terapêuticos no controlo da Hepatite Viral

OBJETIVOSA morte de células hepáticas, como os hepatócitos, a inflamação e o stresse oxidativo constituem mecanismos patogénicos fundamentais subjacentes à progressão da doença hepática crónica, incluindo as hepatites virais crónicas.Neste projeto pretendemos investigar a necrose regulada, ou necroptose, em modelos experimentais de doença hepática crónica e em doentes, assim como a sua associação com a libertação de TNF-α e o stresse oxidativo.

METODOLOGIAAs proteínas receptor interacting protein 3 (RIP3) e mixed lineage kinase domain-like (MLKL), mediadores centrais da necroptose, foram avaliadas em cortes histológicos de fígado de indivíduos controlo e de doentes com doença hepática crónica, incluindo hepatite B e C. Os mesmos mediadores foram avaliados num modelo de esteatohepatite, em ratinho e in vitro, em hepatócitos expostos a TNF-α/cicloheximida e com o inibidor de caspases zVAD-fmk. Citocinas pro-inflamatórias e outros marcadores de lesão hepática foram avaliados em doentes e ratinhos. Em hepatócitos de ratinho, a necroptose e o stresse oxidativo foram investigados depois de tratamento com necrostatinas, assim como após silenciamento e knockdown de RIP3.

RESULTADOSOs resultados demonstraram que os níveis de RIP3 estavam elevados e se correlacionavam com a severidade dos achados histológicos na doença hepática crónica (Figura 1). Os marcadores séricos de necrose e o TNF-α, assim como a fosforilação de MLKL, estavam também aumentados nos doentes. Do mesmo modo, a expressão de RIP3, MLKL e TNF-α aumentou no modelo animal de esteatohepatite. O sequestro de RIP3 e MLKL na fração proteica insolúvel, consistente com a formação do necrossoma, representou um evento precoce na progressão da hepatite. Estudos

mecanísticos e funcionais, levados a cabo em culturas primárias de hepatócitos de ratinho permitiram estabelecer uma associação entre expressão de RIP3 induzida pelo TNF-α, ativação de necroptose e stresse oxidativo.

CONCLUSÕESCom este projeto foi já possível concluir que a necroptose está aumentada no fígado de doentes com doença hepática crónica, incluindo em doentes com hepatite B e C, bem como num modelo de esteatohepatite em ratinho. O TNF-α, um estímulo relevante nas hepatites crónicas, induz stresse oxidativo dependente de RIP3. Em suma, a necroptose poderá constituir um alvo interessante para impedir a progressão da doença hepática crónica, incluindo as hepatites virais crónicas.

A expressão de RIP3 está aumentada em denotes com doença hepática crónica A. Coloração de hematoxilina e eosina (H&E) em cortes histológicos de tecido hepático em indivíduos controlo (n = 5) e em doentes com esteatose (n = 5), esteatohepatite não alcoólica (NASH; n = 11), esteatohepatite alcoólica (ASH; n = 5), hepatite B (Hep B; n = 4) e hepatite C(Hep C; n = 5). B. Imagens representativas de imunohistoquímica de RIP3 (vermelho) nos mesmos grupos de doentes. O núcleo aparece marcado, em contracoloração, com Hoechst 33258 (azul). (Modificado de Afonso et al., 2014, em revisão)

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Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Diagnóstico, Prognóstico e Tratamento Personalizado da Fibrose Quística

Investigador Responsável: Margarida D. Amaral

1. INTRODUÇÃOA Fibrose Quística (FQ), a doença genética letal mais comum em caucasianos (30 mil pacientes na EU), tem uma incidência de 1:5,000‐6,000 em recém‐nascidos em Portugal. Clinicamente a FQ é dominada pela doença respiratória, contudo, ocorrem sintomas noutros órgãos, embora com alguma variabilidade. Apesar dos avanços científicos, os pacientes com FQ continuam a possuir uma expetativa e qualidade de vida limitadas. A FQ deve‐se a uma disfunção do gene que codifica a proteína CFTR, um canal de Cl ‐ expresso nos epitélios. Os pacientes diagnosticados com FQ por rastreio neonatal (RNN), que são maioritariamente assintomáticos, e muitos pacientes dos países do Sul da Europa, como Portugal, apresentam formas “atípicas” de FQ que são um desafio para o diagnóstico. Assim, nestes casos os critérios de diagnóstico internacionais recomendam análises laboratoriais para obter evidência de disfunção da proteína CFTR, através de, p ex., medições eletrofisiológicas da secreção de Cl ‐ mediada pela CFTR em biopsias retais em câmara de Ussing, no qual temos já significativa experiência.

2. OBJETIVOSNo presente projeto, propusemo‐nos os seguintes 3 objetivos:1) Realizar a medição de secreção de Cl ‐ mediada por

CFTR em biopsias retais utilizando a câmara Ussing para o diagnóstico conclusivo de FQ;

2) Caraterização funcional de mutações CFTR novas/ raras detetadas nestes pacientes e cujo prognóstico quanto à gravidade de FQ é desconhecido;

3) Testar novas abordagens terapêuticas que visam corrigir o defeito básico associado a dada uma mutação CFTR.

3. METODOLOGIASDeteção de mutações CFTR: extração e análise do DNA por PCR, Tetra‐ARMS e sequenciação direta.Estudos de RNA: extração e análise do RNA por RT‐PCR e qPCR.Estudos da Função da Proteína CFTR: medição de secreção de Cl ‐ mediada por CFTR em biopsias retais ou em células respiratórias de doentes FQ utilizando micro‐câmaras de Ussing

4. RESULTADOS E CONCLUSÕESObjetivo 1 – Confirmação/exclusão de um diagnóstico em pacientes com suspeita de FQOs resultados obtidos para confirmação de um diagnóstico de FQ com formas “atípicas” de FQ, recorrendo à análise de mutações no gene CFTR, após deteção eletrofisiológica da secreção de Clmediada pela CFTR em biopsias retais.

Tabela 1 – Resultados da análise da função da CFTR em biópsias retais em indivíduos com suspeita de FQ

INDIVÍDUOS TESTE DO SUOR FUNÇÃO CFTR GENÓTIPO713/01 121,2/103,9 Sem Função F508del/S4X

2549/04 119,03/81,8 Função Residual F508del/n.i.525/00 17/20,5 Função Residual n.i./n.i696/09 96,6/74,2 Função normal n.i./n.i276/09 62,3/78,61 Função normal T940T** T>G/n.i.535/00 67,2/109 Função normal n.i./n.i389/09 55,3/53,65 Função normal n.i./n.i314/08 101,3/115,3 Função normal F508del/n.i.395/13* ‐‐ ‐‐ I556V/464delC**

*Paciente em análise para testes do suor e camaras de Ussing; **Mutação nova, não descrita; n.i. – (mutação) não identificada

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Através da análise da secreção de Cl ‐ mediada pela CFTR em biópsias retais por camaras de Ussing para os pacientes representados na Tabela 1, podemos confirmar ou excluir a presença de FQ. Assim, pelos valores obtidos para a secreção de Cl ‐ mediada pela CFTR confirmamos que o indivíduo 713/01 é o único indivíduo para o qual se pode confirmar um diagnóstico de FQ, tendo também sido identificada para este mesmo indivíduo confirmada a presença de duas mutações no gene CFTR.

Em paralelo, foi também realizada uma análise para confirmação de FQ em pacientes com alterações respiratórias e suspeita de FQ. Neste estudo foram analisados 30 indivíduos e identificamos mutações em 28 indivíduos. Resumindo, 26 indivíduos com FQ confirmada pela presença de duas mutações no gene CFTR, 2 indivíduos portadores (apenas uma mutação identificada) e 2 indivíduos sem nenhuma mutação identificada.

Objetivo 2 – Caraterização funcional de mutações CFTR novas/ rarasNa análise anterior, identificamos 2 mutações que ainda não estão descritas e que não é conhecido a gravidade da doença. Para estudo destas mutações, vão ser colhidas amostras de células do epitélio respiratório (onde é expresso o gene CFTR) para ser feita a análise do respetivo RNA. Também foram caracterizados os efeitos de 2 mutações de splicing: 2657+5G>A e I1234V tendo sido demonstrados os respetivos efeitos na produção de mRNAs aberrantes. Foi também testada com sucesso a correção da mutação de splicing 2657+5G>A por uma estratégia de oligonucleotidos antisense.

Em paralelo, foi iniciada uma técnica inovadora que permite o cultivo de células do epitélio nasal obtidas por escovado, com a qual se tem tido sucesso em células de indivíduos controlo (Fig.1), mas ainda com sucesso limitados em células de pacientes FQ.

Figura 1. Efeito da forscolina luminal (2 μM) nas correntes equivalentes de curto‐circuito (Isc‐eq) em células epiteliais obtidas a partir dum dador saudável por escovado nasal e cultivadas com 7 dias de incubação com ROCKinh (Y26732) 10 uM após 19 dias de cultura em filtros, dos quais 15 dias em interface ar‐líquido (ALI). Para além da indução pela forscolina, a inibição destas correntes pelo inibidor específico da CFTR (Inh172) demonstra a sua especificidade. (A) traçado típico. (B) resumo da quantificação das experiências efetuadas (n=3).

A BFsk 2μM-10

25

20

15

10

5

0

+Inh172 25μM

I SC

(μA/

cm2 )

Fsk+

Inh1

72Fs

k

V te

(mv)

% w

t

-15

-20

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-30

100 wt/wt

F508de I/F508de I F508de I/F508de I A561E/A561 E N1303K/G542X F508de I/G542X F508de I/Y1092X

80

60

40

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10

5

0

-352mm

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Anexo ‐ Publicações resultantes do projeto

1. Igreja S, Amaral MD (2015) In Vitro Correction of the CFTR 2657+5G>A Splicing Mutation by an Antisense Oligonucleotide. In Preparation.

2. Ramalho AS, Clarke LA, Felicio V, Barreto C, Lopes C, Amaral MD (2015) Comparative in vivo, in vitro and in silico Analyses of a CFTR Splicing Mutation: Importance of Functional Studies to Establish Disease Liability of Mutations. J Cyst Fibros. Under 2nd revision.

3. Awatade NT, Uliyakina I, Farinha CM, Clarke LA, Mendes K, Solé A, Pastor J, Ramos MM, Amaral MD (2015) Measurements of Functional Responses in Human Primary Lung Cells as a Basis for Personalised Therapy for Cystic Fibrosis. E‐Biomedicine. In press: http://dx.doi.org/10.1016/j.ebiom.2014.12.005

4. Amaral MD (2014) Novel Personalized Therapies for Cystic Fibrosis: Treating the Basic Defect in All CF Patients. J Intern Med. [Epub ahead of print: 29 Sept]. PMID: 25266997

Objetivo 3 – Avaliação de Corretores de Mutações CFTR em Tecidos/Células de Pacientes FQUsámos culturas primárias de células bronquiais humanas derivadas de pulmões explantados de pacientes com FQ para testar a eficácia do VX‐809 (corretor da F508del) em células com genótipos: A561E/ A561E; N1303K/G542X; F508del/G542X; F508del/Y1092X; e F508del/ F508del e wt/wt (controlos). Os resultados da análise da função da proteína CFTR em câmara de Ussing após incubação destas células com o composto VX‐809 mostram que este composto é eficaz na correção da mutação A561E/ A561E, e eventualmente na Y1092X, mas não na N1303K (Fig.2).

Figura 2. Resumo do efeito do VX‐809 em culturas primárias de células bronquiais de pacientes FQ com os genótipos indicados, tendo por base as variações da corrente equivalente de curto‐circuito (ΔIsc‐eq) para os genótipos analisados. Dados de 3‐6 experiências. É dado como 100% os valores em células não FQ (wt/wt).

A BFsk 2μM-10

25

20

15

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0

+Inh172 25μM

I SC

(μA/

cm2 )

Fsk+

Inh1

72Fs

k

V te

(mv)

% w

t

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-20

-25

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100 wt/wt

F508de I/F508de I F508de I/F508de I A561E/A561 E N1303K/G542X F508de I/G542X F508de I/Y1092X

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15

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-352mm

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Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia, Instituto Superior Técnico

PanCandida: Em direcção ao desenvolvimento de um chip pangenómico de DNA para a detecção de candidíase invasiva

O projecto PanCandida, iniciado em Janeiro de 2014, está a ser levado a cabo por uma equipa multidisciplinar de investigadores das áreas de ciências biológicas e informática do Instituto Superior Técnico (equipa que lidera este projecto) e da University College of Dublin, na Irlanda, em conjunto com uma equipa de micologistas com larga experiência clínica afiliados ao Centro Hospitalar de Lisboa Central e à Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. O objectivo principal do projecto PanCandida passa pelo desenvolvimento de um chip pangenómico de DNA contendo informação para um conjunto de genes cuja variação de expressão esteja associada ao desenvolvimento de candidíases invasivas causadas por Candida albicans e C.

Ruben Bernardo1, Diana V Cunha1, Can Wang2, Markus Schroeder2, Carolina Nunes3,Maria Manuel Lopes4, Teresa Ferreira5, Rosa Barros5, Sara C Madeira3, Geraldine Butler2 e Nuno Pereira Mira1

1 Instituto de Bioengenharia e Biociências, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Av Rovisco Pais,1049-001 Lisboa;

2 School of Biomolecular and Biomedical Sciences, Conway Institute, University College of Dublin, Belfield, Dublin, Ireland;

3 INESC-ID, Knowledge Discovery and Bioinformatics Group, R. Alves Redol, 9,1000-029 Lisbon, Portugal;

4 Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Departamento de Microbiologia e Imunologia, Av Prof Gama Pinto, 1649-003 Lisboa;

5 Laboratório de Microbiologia do Centro Hospitalar Lisboa Central

glabrata. Para a identificação destes genes bio-marcadores de infecção invasiva pretende-se comparar o transcritoma de isolados recolhidos do sangue de doentes com candidemia medicamente diagnosticada (designados isolados invasivos)e de isolados recolhidos de nichos ecológicos onde estas espécies existem como comensais (designados isolados comensais). Pretende-se também fazer uma caracterizaçãoo filogenética dos isolados recolhidos destes diferentes nichos com vista a uma avaliação do papel desempenhado pela flora comensal no desenvolvimento de infecções invasivas. Espera-se que a avaliação do perfil transcritómico de isolados com este chip de DNA possa permitir o desenvolvimento de uma ferramenta de diagnóstico mais sensível para a detecção precoce de candidiase invasiva, um dos factores que se saber ser mais determinante no prognóstico dos doentes infectados. Além disso, a utilização deste chip de DNA poderá ainda permitir uma avaliação da propensão que os isolados da flora comensal terão para virem a desenvolver uma candidíase invasiva. É também expectável que os resultados gerados forneçam pistas importantes sobre os mecanismos moleculares usados por C. albicans e C. glabrata na caracterização do seu comportamento dual como organismos colonizadores ou geradores de infecções invasivas.

O desenvolvimento do projecto PanCandida assenta maioritariamente na análise de expressão genómica dos isolados comensais e invasivos de C. albicans e C. glabratausando “custom-made” microarrays de DNA. Após a análise transcritómica dos isolados seleccionados, foram/estão a ser usadas abordagens de bioinformática baseadas em clustering e bi-clustering para identificar conjuntos de genes

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diferentemente expressos nos isolados examinados e que possam servir para a identificação das assinaturas de infecção invasiva e colonização comensal. Está ainda a ser realizado um profilling fenotípico dos isolados selecionados para a análise transcritómica com o objectivo de avaliar se a colonização do sangue está correlacionada com alterações fenotípicas substanciais da morfo-fisiologia das células de C. albicans e C. glabrata. Para este análise fenotípica foram considerados um conjunto de características de interesse no contexto da infecção por Candida incluindo a produção de factores de virulência (proteinases e lipases), capacidade defilamentação, fitness, tolerância a stresses ambientais com interesse no contexto da infecção (como sejam temperatura aumentada, stresse oxidativo ou carência de nutrientes) e virulência no modelo de infecção Galleria mellonela.

Os resultados obtidos nas análises transcritómicas previstas permitiram já identificar conjuntos de genes cuja expressão é significativamente diferente nos isolados invasivos e comensais (conforme exemplificado na Fig.1), sendo que está neste momento em curso a validação da expressão diferencial destes genes nos isolados invasivos e comensais testados e também noutros. Do ponto de vista fenotípico não foi possível até agora observar diferenças fisiológicas significativas (Fig.1) entre os isolados comensais e invasivos, sendo apenas de realçar o facto de aparentemente os isolados invasivos de C. albicans parecerem apresentar maior fitness em condições de carência de fonte de carbono sugerindo que a colonização do sangue poderá passar por um aumento da eficiência na captação e utilização das fontes de carbono disponíveis.

Fig.1.Profiling transcritómico e fenotípico dos isolados invasivos e comensais testados de C. albicans. O perfil de expressão genómica de um conjunto de três isolados invasivos de C. albicans foi comparado com o apresentado por três isolados comensais. Os genes incluídos no cluster verde representam genes que se verificaram ser diferentemente expressos nos isolados invasivos e comensais (painel da esquerda). A tolerância dos isolados invasivos e comensais de C. albicans a stresse causado por H2O2, temperatura elevada, carência de glucose ou utilização de acetato como fonte de carbono foi comparada e os resultados obtidos representados na forma de um heatmap (painel da direita)

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Instituto de Medicina Molecular

Estimativa da prevalência da esteatose hepática e da doença hepática viral em Portugal. Avaliação dos fatores de risco associados

OBJETIVOSOs objectivos do presente estudo foram obter a estimativa da prevalência da hepatite B e C, numa amostra da população Portuguesa, e ainda avaliar a prevalência de esteatose hepática com identificação de potenciais factores de risco. Secundariamente, pretendemos determinar os hábitos alcoólicos e nutricionais, no nosso país. Este estudo pretende assim um melhor conhecimento da realidade da população portuguesa, para uma projeção das necessidades de intervenção, quer preventiva ou curativa. Este estudo insere-se num projeto mais alargado de avaliação de risco cardiovascular: E-Cor, da responsabilidade do INSA, que tem como coordenadora a Professora Mafalda Bourbon.

METODOLOGIAEntre Abril/2012 e Janeiro/2015, recrutamento aleatório de indivíduos da população inscrita nos centros de saúde de 5 regiões de Portugal continental (E_COR), numa amostra representativa da população adulta portuguesa. Coletadas amostras de sangue para serologias do vírus da hepatite C (anti-VHC) e hepatite B (AgHBs, anti‐ HBs, anti‐HBc). As amostras anti-VHC positivas foram testadas para o RNA do VHC. Numa sub‐amostra dos indivíduos que aceitaram participar na avaliação da esteatose e inquérito alimentar mais detalhado, foi realizada Ecografia Abdominal, com quantificação do grau de esteatose de 0 a 6 pontos conforme o score de Hamaguchi, considerando‐se esteatose hepática ≥2 pontos. Este score avalia o grau de esteatose segundo a ecogenecidade do parenquima hepático, a atenuação da onda de ultra-sons com a profundidade e a definição dos vasos intra‐hepáticos. Para além da ecografia abdominal,

foi realizado inquérito alimentar através da “Unidade de Epidemiologia Nutricional Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina do Porto”, e ainda inquérito detalhado do consumo de álcool.

RESULTADOSTerminou a 8 de Janeiro de 2015, o recrutamento do E-Cor, estando no entanto em Curso, a avaliação por Ecografia e o inquérito alimentar, na zona do Alentejo.

Estudamos 1675 individuos adultos, 50,5%, homens com idade media 50,5±18,2 anos.

Em relação à hepatite C, os marcadores avaliados em 1622 indivíduos, revelaram prevalência de anti‐VHC, após confirmação por RIBA de 0,37% (6 sujeitos, sendo 5 do sexo masculino). Entre estes, 33,3% apresentou PCR do VHC positiva (0,13%) e 50% apresentou aminotransferases elevadas.

Em relação a hepatite B, os marcadores avaliados em 1607 indivíduos, revelaram prevalência de AgHBs positiva de 1,2% sendo que apenas um destes indivíduos apresentava aminotransferases elevadas. A prevalência de anti-HBc positivo foi de 9,3%. A prevalência de Anti-HBs positivo isolado (AgHBs e anti‐HBC negativos) foi de 30,9%, com uma idade média nesta subpopulação de 37,2 anos, sugerindo uma elevada taxa de vacinação contra a hepatite B na população mais jovem.

A prevalência de anti-HCV ou AgHBs positivo foi mais elevada no sexo masculino, no grupo etário 35‐64 anos

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e não se correlacionou com a naturalidade ou a raça. Os resultados preliminares da prevalência de esteatose hepática avaliada por fatty liver índex (FLI) e por ecografia abdominal (n=535) foi de 14,5% (FLI>60) e de 36,7%, respetivamente. Foram factores de risco para esteatose hepática o excesso de peso/obesidade, a presença de síndrome metabólico, a evidência de resistência à insulina e o perfil lipídico alterado, nomeadamente colesterol total e LDL aumentados e HDL diminuídos.

Não temos ainda concluída a análise dos resultados respeitantes ao inquérito nutricional ou de consumo de álcool.

CONCLUSÕES:Este estudo verificou que numa amostra aleatória da população portuguesa, a prevalência de hepatite C era baixa, assim como a prevalência da hepatite B. Quanto à prevalência de esteatose avaliada por Ecografia, verificou-se ser elevada, com um terço da população adulta apresentando evidência de esteatose.

Os resultados preliminares deste estudo, foram apresentados em 12 comunicações, sob a forma oral e de poster em Congressos Nacionais: Semana Digestiva 2013 e 2014, e Internacionais: EASL 2013 e 2014, e UEG 2013 e 2014.Foi até agora publicado um artigo:

Carvalhana S, Leitão J, Alves AC, Bourbon M, Cortez-Pinto H How good controlled attenuation parameter and fatty liver index for assessing liver steatosis in general population: correlation with ultrasound. Liver Int, 2014; 34: 111-117

Estão em preparação outros artigos que irão ser submetidos.

EQUIPAS:

Equipa e-Cor:Mafalda BourbonAna Catarina Alves

Equipa do estudo hepatológico:Helena Cortez‐Pinto (Lisboa)Jorge Leitão (Coimbra)José Fraga (V.N. Gaia)Sofia Carvalhana (Lisboa)Ana Paula Silva (V.N. Gaia)Horácio Guerreiro (Faro)Francisco Velasco (Faro)Isabel Medeiros (Evora)

Estes são os principais colaboradores, mas vários outros elementos têm colaborado ativamente, nomeadamente dietistas.

Este estudo recebeu além do apoio da Gilead Genese, apoios económicos da Roche, da Lunbeck, e Bolsa da APEF. Foi ainda apoiado do ponto de vista logístico pelo CEREGA.

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Portugal é o país não-Africano com prevalência mais elevada de infecção HIV-2, representando actualmente cerca de 3,5% dos casos HIV/SIDA reportados. Apesar da progressão mais lenta da doença e da virémia frequentemente indetectável, o espectro clínico da infecção pelo HIV-2 é semelhante ao do HIV-1, sendo o seguimento clínico destes doentes muito dificultado pela ausência de parâmetros virológicos de avaliação e de ensaios clínicos de terapêutica antirretroviral. Os nossos trabalhos anteriores mostraram que apesar da reduzida virémia, o número de células circulantes infectadas, estimado pela quantificação do DNA proviral, é semelhante em individuos infectados pelo HIV-2 e pelo HIV-1, configurando o HIV-2 como um modelo único para o estudo dos factores que determinam controlo da replicação viral. Trabalhos recentes suportam um papel distinto de subpopulações de células T CD4+ de memória, nomeadamente células de memória-central e células foliculares, no estabelecimento e persistência dos reservatórios HIV-1, com implicações para a progressão da imunodeficiência dado o papel fundamental destas subpopulações de células T CD4+ na sustentabilidade e renovação do sistema imunitário, bem como na ajuda às células B para uma produção de anticorpos eficaz.

Este projecto tem por objectivo principal quantificar pela primeira vez os reservatórios e replicação viral ex vivo em sub-populações de células T CD4+ na infecção pelo HIV-2 e estudar o papel das células de memória-central e das células foliculares na progressão da imunodeficiência HIV/SIDA.

Foram até ao momento recrutados 7 indivíduos infectados pelo HIV-2 não tratados; 3 indivíduos infectados pelo HIV-2 sob tratamento antirretroviral; 7 indivíduos infectados pelo

Instituto de Medicina Molecular

Reservatórios e Replicação Viral nas Células T CD4 de Memória-Central e Foliculares na Infecção HIV-2**Projeto ainda a decorrer à data desta Publicação – Relatório intercalar

HIV-1 não tratados com virémias indetectáveis preenchendo os critérios de controladores elite; 7 indivíduos infectados pelo HIV-1 não tratados com virémia elevada considerados progressores; e 5 indivíduos seronegativos como população controlo.

Todos os indivíduos infectados pelo HIV-2 apresentavam virémias abaixo do limite de detecção do teste realizado pela Prof. Perpétua Gomes no Hospital Egas Moniz, Lisboa.

Assim, os indivíduos infectados pelo HIV-1 controladores elite serão um grupo muito importante de comparação, podendo gerar dados únicos a publicar numa revista internacional de alto impacto.

Em todos os indivíduos foi efectuado um estudo detalhado das populações linfocitárias circulantes por citometria de fluxo, utilizando um citometro de fluxo Fortessa com 8 cores, utilizando painéis com marcadores de linhagem, de diferenciação celular, de activação, de exaustão e de função celular, incluindo: CD3, CD4, CD8, CD45RO, CD45RA, CD31, CCR7, CXCR5, CCR6, CXCR3, CD27, FoxP3, CD127, CD38, CD25, HLA-DR, PD-1, PD-L1, Tim-3, Ki-67, Bcl-2, Bcl-6, IL-2, IL-4, IFN-γ, IL-17, IL-21 e IL-22. A análise destes resultados está decorrer em paralelo com o recrutamento de novos indivíduos até se atingir a significância estatística pretendida.

Foram também sorteadas, imediatamente após a colheita de sangue, as subpopulações de linfócitos T CD4+ naive (CD45RA+CCR7+), de células T foliculares (CD45RA¯ CXCR5+), de células de memória central não foliculares (CD45RA¯ CCR7+CXCR5¯ ) e as células de memória efectora

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não foliculares (CD45RA¯ CCR7 ¯ CXCR5 ¯ ). Estas células foram armazenadas em “pellets” a -80ºC para quantificação posterior de DNA proviral e para os transcritos que se considerarem relevantes conforme programado.

Um objectivo secundário deste projecto é testar a possibilidade de as células T CD4+ foliculares serem um alvo preferencial da infecção pelo HIV-2 e avaliar o impacto dos fármacos anti-retrovirais num modelo de infecção in vitro usando culturas de tecidos linfóides.

Para este objectivo foram produzidos nestes seis meses os isolados primários utilizadores de CCR5 bem como de CXCR4, e quantificados para serem usados nas infecções virais in vitro dos tecidos linfoides. Foram também optimizadas as condições de cultura e infecção de fragmentos de amígdalas. Finalmente, foi selecionado o protocolo que garante a melhor pureza e rentabilidade da separação subsequente das subpopulações de linfócitos T a serem utilizadas para quantificar o DNA proviral e o mRNA do gag, bem como para marcação intracelular por citometria de fluxo da proteína Gag do HIV-1 e do HIV-2 usando o anticorpo KC-57 (Coulter).

Esta parte do projecto terá que ser no entanto limitada ao essencial para complementar os estudos ex vivo, tendo em conta que o financiamento final do projecto foi cerca de metade do financiamento inicialmente solicitado.

Em conclusão, neste relatório parcelar correspondente aos primeiros seis meses do projecto é patente que o recrutamento dos indíviduos a estudar está a decorrer de acordo com o esperado e que as metodologias estão todas

optimizadas e validadas para garantir a execução atempada do projecto proposto. Estes resultados serão importantes para uma definição futura mais fundamentada das directivas de tratamento dos indivíduos infectados pelo HIV-2, sendo também expectável que gerem avanços importantes na compreensão da patogénese da SIDA relevantes para a infecção HIV-1.

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Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

Identificação de infecções recentes em novos diagnósticos de infecção por VIH, um contributo para conhecimento da epidemia em Portugal**Projeto ainda a decorrer à data desta Publicação

RESUMO DO PROJETOPortugal é um dos países da Europa ocidental com maior incidência de casos de infecção por vírus da imunodeficiência humana (VIH) e de Síndroma de Imunodeficiência Adquirida (SIDA), sendo o distrito de Lisboa o mais afectado. Apesar dos esforços realizados para reduzir a transmissão da infecção, nomeadamente na prevenção, diagnóstico e tratamento, o número de novos casos não regista um decréscimo significativo. Assim, torna-se imperativa a recolha de informação mais precisa sobre as características dos novos casos diagnosticados para melhor compreender se resultam de transmissões recentes ou de políticas mais eficazes de diagnóstico.

Se os casos de infecção por VIH associados ao consumo de drogas foram o motor da epidemia durante a década de noventa, actualmente a transmissão sexual é responsável pela maioria dos casos notificados, com predomínio claro da transmissão heterossexual. Contrariando a tendência verificada nas outras categorias de transmissão, a partir de 2005 regista-se um aumento preocupante do número de casos em homens que têm sexo com homens (HSH), cujos determinantes não são bem conhecidos. A caracterização aprofundada destes casos afigura-se imprescindível para melhor adequação das intervenções necessárias à inversão da tendência.

A possibilidade de identificar seroconversões para o VIH-1 ocorridas há menos de seis meses com recurso a métodos serológicos, entre os quais a determinação do índice de avidez (IA) dos anticorpos específicos, permite melhor entender as tendências de transmissão da infecção, representando ainda um contributo inovador para o cálculo de incidência.

Com este projeto propõe-se a identificação das infecções recentes, através da determinação do índice de avidez dos anticorpos, nos novos casos de infecção VIH-1 diagnosticados num centro de rastreio anónimo dirigido a HSH e dos novos casos admitidos num serviço de infecciologia de um hospital central de Lisboa.

Equipas participantes no estudo:

Equipa 1 > INSA - Departamento de Doenças Infecciosas:• Helena Cortes Martins - Técnica Superior de Saúde,

Assistente principal• Elizabeth Pádua - Investigadora Auxiliar

Equipa 2 > Centro Hospitalar de Lisboa Central - Hospital de Santo António dos Capuchos:• Eugénio Teófilo - Especialista em Medicina Interna, Consultor• Rita Corte-Real - Médica, Patologista Clínica

Equipa 3 > GAT:• Raquel Lucas - Investigadora PostDoc no Instituto

de Saúde Pública da Universidade do Porto e coordenadora científica do estudo PREVIH

• Ricardo Fuertes - Psicólogo clínico, Técnico no CheckpointLX e coordenador de diferentes projetos do GAT

Equipa 4 > Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental - Hospital Egas Moniz• Isabel Aldir - Assistente Graduada de Infecciologia• Perpétua Gomes - Investigadora auxiliar

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PROJETOS DE INICIATIVA COMUNITÁRIA

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Projeto realizado em parceria com o GAT e a SER+, a AJPAS desenvolveu a sua intervenção nos municípios da Amadora e de Sintra.

OBJETIVOContribuir para controlar a incidência da infeção pelo VIH e outras IST’s, através do diagnóstico precoce e da redução dos comportamentos de risco e facilitar o acesso ao sistema nacional de saúde dos casos reativos para o VIH, VHB, VHC e Sífilis.

METODOLOGIAA nossa metodologia assentou em ações de proximidade junto de grupos específicos da comunidade, com vista a ganhar a sua confiança e participação. Para tal, recorremos a mediadores da própria comunidade, que funcionando como pares, conseguem mais facilmente passar a informação e a pertinência do rastreio como uma mais-valia para a manutenção do seu estado de saúde.

As ações de sensibi l ização ocorreram em locais de concentração destes grupos ou nos seus percursos habituais e foi efetuada uma abordagem direta e pessoal, incluindo a distribuição de folhetos e preservativos. Para além dos locais para a realização dos rastreios, também se privilegiou a adaptação de horários de atendimento compatíveis com a disponibilidade das pessoas a rastrear.

Paralelamente, foram afixados em locais públicos, cartazes de divulgação com os contactos, locais e dias das ações do rastreio comunitário.

Foi garantida a marcação da 1.ª consulta e análises confirmatórias nos hospitais, com acompanhamento de um técnico do projeto, às pessoas com testes reativos para o VIH (n=18), sempre que existiu concordância das mesmas (4 recusas). Os casos de VHB foram encaminhados para os centros de saúde.

AJPAS - Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde

Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde

RESULTADOSI - No período de vigência do projeto foram rastreadas 635 pessoas e realizados 994 testes:

- 9 locais diferentes para a realização dos testes;- 68 ações de sensibilização, em 28 locais; - Equipa: 5 técnicos/rastreio e 10 mediadores.

II – Testes VIH – Das pessoas rastreadas, cerca de 80% são originários da África Subsariana:

0

200

400

600

800 TESTESREALIZADOS635

VIH VHB VHC Sífilis

154

20

185

336

299

MulheresHomens280

290

300

310

320

330

340 TESTES VIH,POR GÉNERO

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III – N.º de testes efetuados/N.º de testes reativos

Apesar dos testes reativos para o VIH representarem apenas 2,8% dos testes realizados, importa referir que 83% correspondem a pessoas da comunidade guineense ( H-8 e M-7).Os testes reativos para o VHB representam 9,1% dos testes efetuados, sendo que 71% são de pessoas da comunidade guineense.

IV – Testes reativos para o VIH / idade e origem por género

TESTES VIHP/ NATURALIDADE/

GÉNERO

CaboVerde

98

117

Homens

115

59 56

4134 36

1523

6

199

1 3 3

Guiné Portugal Angola SãoTomé

Brasil OutrosAS

Outros0

20

40

60

80

100

120

Mulheres

635

18

VIH VHB VHC Sífilis

154

14 20 1

185

2

RealizadosReativos

0

100

200

300

400

500

600

700

HomensMulheres

HomensMulheres

0

1

2

3

4

5

0

≤ 20

Cabo Verde Guiné Senegal

21 - 30 31 - 40 41 - 50 > 50

0

1 1

8

7

1

0

0 0

2

5

3

4

3

1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

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V – Testes reativos para o VHB / idade e origem por género

CONCLUSÕES Confirmámos que a metodologia utilizada, se mostrou eficaz e adequada para intervir neste tipo de população.

Ainda assim, podemos constatar a fraca adesão das mulheres guineenses, que representaram cerca de 50% dos homens guineenses rastreados, comparativamente com os outros grupos onde o n.º de mulheres é igual ou mesmo superior ao dos homens. No entanto e apesar do número de mulheres guineenses ser bastante baixo (n=59), a percentagem de casos reativos é de 12%. Importa, a nosso ver, intervir, com carácter de urgência, nesta população.

A obtenção destes resultados, que ultrapassaram largamente a meta estabelecida, deveram-se a 3 fatores: metodologia, disponibilidade de uma equipa para trabalhar em horário alargado (5 técnicos e 10 mediadores) e as parcerias estabelecidas que permitiram a utilização de outros espaços em locais de proximidade do público-alvo.

A bolsa concedida pela Gilead Génese permitiu custear os testes e outros materiais de apoio, despesas de transporte e alimentação das equipas, material de divulgação e algumas despesas de funcionamento, não tendo no entanto, sido suficiente para atribuir qualquer remuneração.

HomensMulheres

Angola

1 1

2 2

0 0 0

8

Cabo Verde

≤ 20

0 0

2 2

4

1

3

1 1

0

21 - 30 31 - 40 41 - 50 > 50

Guiné São Tomé P

0

1

2

3

4

0

2

4

6

8

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O ICAT é um programa de educação para a saúde e para o tratamento, dirigido a pessoas seropositivas para o VIH, em situação de falência terapêutica ou em risco da mesma e em acompanhamento clínico, no qual são identificadas as causas da não adesão à terapêutica antirretroviral (TAR) ou de situações previsíveis da mesma. O modelo contempla um programa base, com duração de 18 meses e uma fase de acompanhamento pós-alta de 24 meses.

Assenta num programa base no qual se pretende que cada individuo adquira competências para fazer a autogestão da doença, esperando-se que aos 12 meses tenha atingido a carga viral indetetável e que a mantenha até ao fim do programa.

OBJETIVOSO programa tem como objetivo principal a promoção de uma maior adesão ao tratamento dos indivíduos em situação e/ou risco de não adesão terapêutica, através da aquisição de competências, orientação e autonomia necessárias à autogestão da doença.

Como objetivos específicos definiu-se: A Identificação das causas da não adesão e o desenvolvimento de estratégias necessárias para a sua mitigação; Capacitação dos indivíduos de forma a incorporarem na rotina diária comportamentos conducentes à adaptação e facilitação para o cumprimento da terapêutica, dotando-os do conhecimento necessário para permitir uma maior responsabilização e participação no tratamento; Promoção da afetação de recursos mais efetivos/eficientes ao tratamento da pessoa com VIH e verificação do nível de orientação e autonomia dos indivíduos, na fase pós-alta, face à gestão da doença.

METODOLOGIAA metodologia assenta em dois vetores fundamentais: Ir ao encontro das pessoas para a entrega e ou administração da terapêutica antirretroviral e manter uma vigilância ativa do seu estado de saúde.

Após a referenciação, pelo médico assistente, a pessoa é contactada e procede-se a uma visita domiciliária, para conhecer o contexto em que a mesma vive. De acordo com as causas da não adesão e outras necessidades identificadas, é definido um plano individual de intervenção que contempla o controlo da terapêutica (Toma Observada Direta (TOD), controlo semanal, quinzenal ou mensal), gestão do calendário de consultas e análises, com acompanhamento às mesmas sempre que necessário, vigilância do estado de saúde em contexto extra-hospitalar, ações de educação para a saúde e para o tratamento, apoio psicológico e social.

No período pós alta estas pessoas serão alvo de uma monitorização de forma a avaliar a sua evolução.

RESULTADOSNo ano de 2014, foram apoiadas 150 pessoas (80 Homens e 70 Mulheres), com idades compreendidas entre os 14 e os 78 anos, maioritariamente situadas na faixa etária entre os 31 e os 50 anos (n= 82). Relativamente à situação profissional, destacam-se as pessoas desempregadas (n=77).

Neste período, foram referenciados 33 indivíduos, 27 dos quais foram integrados no programa. sendo que os restantes são pessoas que transitaram do Projeto “Hospital na Comunidade”.

AJPAS - Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde

ICAT – Intervenção Comunitária para a Adesão Terapêutica

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Foi aplicada aos mesmos a bateria de testes definida para o momento de avaliação inicial, aquando da sua aceitação no programa e que compreende a avaliação da adesão ao tratamento antirretroviral, a avaliação do estado de saúde geral e a avaliação da qualidade de vida.A avaliação da adesão à TAR foi realizada com 15 dos 27 indivíduos, considerando que os restantes 12 apresentavam uma situação de diagnóstico inaugural ou de início de tratamento. A avaliação realizada permite identificar um índice global de adesão 60 (0-100), com um mínimo de 49 e um máximo de 74, e com 80% dos indivíduos (12) com um índice de 66 ou inferior, representando um nível de adesão insuficiente. Uma análise por item revela que a totalidade dos indivíduos refere ter falhado pelo menos alguma vez a medicação na última semana, 11 referem ter falhado pelo menos um dia completo no último ano, e apenas 2 referem cumprir sempre a hora da toma da medicação.

A avaliação do estado geral de saúde e da qualidade de vida na infeção por VIH foi realizada com a totalidade dos 27 indivíduos.

No que respeita ao estado geral de saúde, o índice global evidencia um valor de 57,30 próximo do ponto médio da escala (0-100). Este valor reflete maiores limitações evidenciadas pelos indivíduos em dimensões como desempenho físico (46,3) e intensidade e desconforto causados pela dor (44,44). O resultado do índice global da escala de qualidade de vida na infeção por VIH evidencia um resultado de 47,08 abaixo do ponto médio da escala (0-100). Quando analisados os resultados pelas 6 dimensões da escala, identificamos um maior impacte da infeção VIH percebida pelos doentes no que respeita ao seu nível de independência (41,35) e espiritualidade (42,75). Estas dimensões refletem itens como

a necessidade de cuidados de saúde diários, mobilidade, desempenho de atividades diárias e capacidade de trabalho, assim como o sentido percebido para a sua vida, receio de culpabilização pela condição de portador do VIH, receio relativamente ao futuro, e preocupação relacionada com a morte.

Às 150 pessoas apoiadas, foram prestadas as seguintes respostas: (1) Levantamento da TAR na farmácia hospitalar ao total dos indivíduos apoiados; (2) No controlo da TAR, tivemos 3 pessoas em TOD, 103 com controlo semanal, 59 com quinzenal e 82 com mensal. De referir que nestes totais estão incluídas as alterações aos planos individuais, que como acima referido, são ajustados às necessidades e evolução das pessoas; (3) 111 pessoas tiveram apoio social, 62 das quais com apoio nas deslocações para consultas e análises e 14 tiveram apoio alimentar; (4) 35 pessoas tiveram acompanhamento psicológico.

CONCLUSÕES Os resultados apresentados não refletem a avaliação do programa, uma vez que a duração prevista é de 42 meses.

Pese embora ainda seja prematura a abordagem de resultados no que respeita a adesão à terapêutica e fundamentalmente à manutenção da mesma, de uma forma geral, verificamos a melhoria clínica, o cumprimento do tratamento e a adoção de atitudes promissoras para a autogestão da doença.

O ICAT funcionou com a bolsa da Gilead Génese e apoio de outra farmacêutica (BMS), não tendo sido possível contratualizar com os hospitais. Caso não venhamos a obter financiamentos, será difícil dar continuidade ao programa.

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GAT - Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos VIH/SIDA - Pedro Santos

Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde das comunidades migrantes

A investigação sobre os determinantes socioeconómicos e comportamentais da infeção pelo VIH e outras IST tem-se revelado essencial para a tomada de decisões na área da saúde pública e nos esforços na área da prevenção, adequados e efetivos, dirigidos a grupos mais vulneráveis.

A evidência mostra-nos que a população migrante apresenta um risco aumentado de infeção pelo VIH, resultante das condições e características dos processos migratórios. Os imigrantes em situação irregular encontram-se em situação de maior vulnerabilidade uma vez que a natureza do estatuto legal, diferenças linguísticas e culturais, falta de informação, educação e trabalho, assim como um tendencial menor acesso aos serviços de saúde (prevenção, redução de danos e cuidados de saúde em geral), exclusão social, fatores relacionados com o género, potenciam o isolamento e o stress, colocando-os em maior risco de exposição a infeções sexualmente transmissíveis. Este risco é fortemente aumentado devido ao acesso inadequado a informação sobre prevenção, serviços e medo de estigmatização quando serviços ou informação são procurados.

Em 2012, de acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, 4,1% da população do país era estrangeira, sendo o segundo grupo mais representativo (21,6%) oriundo dos PALOP. Contudo, o conhecimento sobre a situação epidemiológica e os fatores que a influenciam continua a ser limitado.

O projeto apresentado destina-se a oferecer um serviço anónimo, confidencial e gratuito, para rastreio rápido do VIH, VHB, VHC e sífilis dirigido à população imigrante. O aconselhamento é personalizado e feito por pares com treino certificado, promovendo o acesso à prevenção e à saúde sexual de uma forma mais eficaz e integrada na realidade da comunidade migrante.

O rastreio é realizado num centro de referência localizado no bairro da Mouraria, caracterizado por uma zona fortemente habitada por cerca de 30 diferentes nacionalidades, e que pretende:

- Contribuir para controlar a incidência da infeção pelo VIH na população migrante, através do diagnóstico precoce e da redução dos comportamentos de risco, na fase de maior infecciosidade;

- Contribuir através da recolha de dados anónimos, para o conhecimento epidemiológico e comportamental dos migrantes em Portugal.

Para além da disponibilização gratuita, confidencial e anónima dos diferentes testes rápidos, numa tentativa de equilibrar a necessidade de recolher dados epidemiológicos de base para a caraterização da população-alvo, é utilizado o questionário proposto no âmbito do projeto europeu COBATEST (www.cobatest.org) que visa, entre outros objetivos, homogeneizar boas práticas de recolha de dados em centros de rastreio comunitário na Europa.

No ano de 2014, o projeto apoiado pela Gilead rastreou um total de 638 pessoas para o VIH, dos quais 420 eram migrantes, tendo obtido um total de 13 resultados reativos, dos quais 8 em migrantes (incidência de 1,90%).

Os migrantes rastreados provinham de 50 países diferentes, sendo que dentro deste grupo, 64% das pessoas rastreadas eram do sexo masculino, sendo a idade média dos homens de 36 anos e da das mulheres de 34. Esta distribuição de sexo é para nós muito importante, já que significa que conseguimos rastrear o grupo que usualmente está mais distante dos cuidados de saúde (homens).

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Dividindo os resultados por regiões, verificamos que 58% dos migrantes são originários da África Subsaariana (245 pessoas), e é neste grupo que se identificam mais casos reativos para o VIH (8 reativos), curiosamente todos com idades superiores a 40 anos. Assim, a incidência nos migrantes originários desta região é de 3,26%.

De salientar ainda que 40% dos migrantes rastreados fizeram no projeto o seu primeiro teste de VIH, e que 75% dos migrantes rastreados reportaram ter tido relações sexuais desprotegidas no último ano, sendo que 55% referiram não ter usado preservativo na última relação sexual. Estes últimos dados reforçam a importância da manutenção de uma estratégia continuada de informação, sensibilização e distribuição de material preventivo, sendo que a importância do rastreio é inegável, especialmente junto de migrantes oriundos da África Subsaariana, dada a incidência de novas infeções por VIH.

Nesta sequência, referimos ainda que o projeto distribuiu, ao longo de 2014, 96377 preservativos masculinos, 5726 preservativos femininos e 36335 embalagens de gel lubrificante. A vasta maioria deste material é distribuído juntamente com informação sobre o projeto, e esta tem sido uma estratégia bastante eficaz não só para promover o uso do preservativo, como para divulgar o serviço de rastreio, sendo o contacto com material de divulgação do projeto o fator mais mencionado pelas pessoas rastreadas para se deslocarem ao espaço.

Quanto a outras infeções, o projeto rastreou 153 migrantes para o VHC, com 3 resultados reativos (1,96% incidência), 186 migrantes para o VHB, com 9 resultados reativos (4,84% de incidência) e 196 migrantes para sífilis, com 1 resultado reativo (0,5% incidência).

Comparativamente, foram realizados 57 rastreios de VHC fora do grupo de migrantes, com 1 resultado reativo (1,75% incidência), 30 rastreios de VHB, sem que tenham existido resultados reativos, e 66 rastreios de sífilis, com um resultado reativo (1,52% incidência).

Estes resultados sublinham a importância da proposta de rastreio de VHB junto das comunidades migrantes, uma vez mais com especial enfoque nas comunidades originárias de países da África Subsaariana, onde se verificaram 8 dos 9 reativos. O 9º reativo reporta-se a uma pessoa de origem asiática, mas dado que esta é uma comunidade muito fechada e de difícil entrada, pelo que os números que temos não nos permitem traçar conclusões ainda que, considerando que o VHB é endémico em alguns países asiáticos (nomeadamente a China, cujos migrantes são bastante representativos na zona da Mouraria) poderá ser interessante uma tentativa mais focada de aproximação a esta comunidade de forma a obter dados fiáveis sobre a prevalência desta infeção.

O projeto confirma desta forma a necessidade de uma intervenção dirigida às comunidades migrantes na cidade de Lisboa, com enfoque na zona da Mouraria, sendo que a comunidade migrante oriunda de países da África Subsaariana merece uma adequada priorização dos esforços de divulgação e rastreio, dada a incidência de novos casos nestes grupos.

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Henrique Pereira (1,2), Inês Gonçalves (2), Isabel Borges (2), Justino Filho (2), Natália Cerqueira (2) & Maria Eugénia Saraiva (2)(1) – Universidade da Beira Interior(2) – Liga Portuguesa Contra a Sida

INTRODUÇÃOA Liga Portuguesa Contra a Sida (LPCS) propôs-se levar a cabo o projecto Encontros (in)seguros 2 cujo público alvo foram trabalhadores sexuais masculinos (TS) e homens que têm sexo com homens (HSH). Tratou-se de dar continuidade ao sucesso da 1ª edição do projecto, cujos objectivos principais foram: desenvolver e aprofundar o conhecimento acerca da problemática do VIH/SIDA junto dos TS e HSM, apoiar na adequação de comportamentos de saúde, realizar testes do VIH em contexto de unidade móvel, diminuir as barreiras associadas à prática de sexo inseguro entre HSH, contribuir para a quantificação do número de infectados pelo VIH/SIDA e outras IST e contribuir para a compreensão dos determinantes da infecção pelo VIH e outras IST. Para tal, contou-se com a colaboração de dois técnicos responsáveis pela avaliação e monitorização das medidas; pela realização dos testes de rastreio do VIH em contexto de unidade móvel; pela implementação de acções de sensibilização sobre o VIH/SIDA e IST; por visitas diurnas e nocturnas às zonas da cidade de Lisboa com maior incidência de trabalhadores sexuais masculinos: Parque Eduardo VII, Cais do Sodré, Belém e Monsanto, e também a apartamentos (indoor); por realizar actividades de apoio psicossocial aos indivíduos infectados e afectados; e também pela disseminação dos resultados obtidos de modo a divulgar e sustentar boas práticas futuras de actuação na área da prevenção e tratamento do VIH/SIDA.

MÉTODOParticiparam neste projeto 149 TSM da cidade de Lisboa com uma idade média de 28,30 anos (DP=5,93), variando entre os 18 e os 43 anos de idade. Em média, os TS

Liga Portuguesa Contra a SIDA

Encontros (in)seguros II

inquiridos disseram obter 1612€ mensais pelo seu trabalho (DP=870€), variando entre os 80€ e os 4400€. Relativamente à orientação sexual, verificou-se que 51% dos TS identificaram-se como homossexuais, 35% como bissexuais e 14% como heterossexuais. Apenas 20.8% dos TS disseram ser portugueses sendo que a maioria (76%) eram brasileiros. 94% dos TS indicaram trabalhar em contexto indoor (apartamentos). De maneira a monitorizar as mudanças pretendidas, utilizaram-se os seguintes instrumentos: Questionário Sociodemográfico e o Questionário 3C–VIH/SIDA. Os dados foram recolhidos respeitando a confidencialidade e o consentimento informado. O Questionário 3C- VIH/ SIDA constituído nove dimensões: Conhecimentos em relação ao VIH/ SIDA; Optimismo e Cepticismo face ao VIH; III auto eficácia na utilização de Preservativos; Comportamentos em relação ao VIH; Comportamentos em Relação a outras infeções sexualmente transmissíveis (IST); Comportamento sexual com companheiro (s); Comportamento sexual com os clientes; Comportamentos relacionados com o uso de substâncias (Álcool e Drogas). Relativamente aos procedimentos, a equipa técnica aplicou os questionários no contacto direto com os TS e apelou aos participantes que preenchessem os mesmos, depois de obtido o seu consentimento informado. Foi garantido que os dados recolhidos seriam confidenciais e apenas usados para análise estatística tendo em conta o âmbito deste estudo.

RESULTADOSTaxa de prevalência de infeção pelo VIH: 8.4%. Realização do teste VIH/SIDA: 9,2% que nunca realizou o teste; 39, 4 % afirma realizar de 6 em 6 meses; 12 %, 3 em 3 meses; 32, 4%, uma vez por ano. Utilização do preservativo com os clientes: no sexo oral, apenas 3,5% afirma usar preservativo; no sexo anal apenas 1 participante afirma não usar enquanto 95,8% afirma que usa sempre. Utilização do preservativo com os companheiros: no sexo oral 46,5% assume nunca usar preservativo, 18, 3% quase sempre e apenas 23,9% afirma usar sempre; no sexo anal 19% afirma nunca usar e 64, 1 % sempre.

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Relativamente à auto-eficácia na utilização do preservativo, os TS avaliados apresentam níveis elevados de autoeficácia. No entanto, os resultados demonstram que os TS homossexuais apresentam maior nível de autoeficácia no uso do preservativo do que os bissexuais (F (104; 50,700) = 11,445; p= 0,013). Foi também possível encontrar diferenças estatisticamente significativas relativamente à periocidade em que o teste do VIH é feito, sendo que há uma elevada percentagem de bissexuais que fazem o teste de 3 em 3 meses, e os homossexuais de 6 em 6 F (109; 91,886)= 5,895; p= 0,08).Os resultados obtidos indicam que os TS têm grande nível de conhecimento face ao VIH/SIDA (média=27,13; DP=3,33 escala 0-17), mas, apresentam baixos níveis de otimismo face ao VIH (média=20,63, DP=4,79, escala 12-48) e níveis altos de auto-eficácia no uso do preservativo (média = 61,51; DP = 6,08, escala 13-65). A análise correlacional demonstra que níveis mais elevados de otimismo estão negativamente correlacionados com a auto-eficácia (r=-0,203, p=0,029), indicando que os participantes mais otimistas são menos eficazes no uso do preservativo.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOSBons níveis de conhecimento face ao VIH e autoeficácia na utilização do preservativo, e baixos níveis de otimismo face ao VIH. Os TS que se identificam como bissexuais necessitam de uma atenção específica na tarefa de prevenção do VIH/SIDA que atende às particularidades desta categoria de orientação sexual. Os TS apresentam-se como assertivos no uso de preservativo com os seus clientes, mas não no uso do preservativo com os seus companheiros. A não utilização do preservativo nas relações com os parceiros é tomada por muitos como prova de confiança, como envolvimento não só físico mas emocional e sentimental que tem que ser respeitado. Muitos dos seus companheiros, praticam também trabalho sexual. Nestes casos, a tendência ao não uso de preservativo entre estes é ainda mais vincada. Ambos nutrem a necessidade emocional de pertença um para com o outro, usando assim o contexto sexual e a variável do (não) uso

do preservativo para demonstra-la ao parceiro e distinguir o envolvimento dos outros em contexto profissional.

LIMITAÇÕES E CONTRIBUTOSDificuldade de acesso aos TS. O questionário como fonte de medida para variáveis que podem ativar alguma conformidade com a desejabilidade social. Contributo para a eficácia dos programas de prevenção do VIH/SIDA em TSM tendo em contas todas as especificidades inerentes. Contributo para a necessidade de validar o TS como uma atividade reconhecida e diminuir o estigma e a discriminação associada a esta prática.

Mais informações:Pereira H, Gonçalves I, Borges I, Filho J, Cerqueira N, et al. (2014) Male Sex Workers in Lisbon, Portugal: A Pilot Study of Demographics, Sexual Behavior, and HIV Prevalence. J AIDS Clin Res 5: 342. doi:10.4172/2155-6113.1000342

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O projeto “Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde para Migrantes”, a decorrer no Concelho de Cascais de Abril de 2014 a Março de 2015, pretende levar informação e o rastreio do VIH, hepatites víricas e sífilis a contextos comunitários, maioritariamente frequentados por comunidades migrantes, com especial incidência nas comunidades migrantes originárias da África subsaariana, onde quer o VIH, quer as hepatites víricas têm prevalências elevadas.

Dada a ausência de informação epidemiológica relativa às prevalências destas infeções nas comunidades migrantes residentes em Portugal, e tendo em consideração o arranque de um projeto de investigação liderado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical que visava estimar as referidas prevalências em Setembro de 2014, existia uma oportunidade única junto destas mesmas comunidades para alcançar os seguintes objetivos:- Implementar um serviço de rastreio rápido nos bairros com

elevada população migrante, periféricos e de difícil acesso;- Promover o conhecimento e sensibilização sobre a Saúde

e as Infeções Sexualmente Transmissíveis, a importância da prevenção e do diagnóstico precoce das mesmas e as condições de acesso a cuidados no Serviço Nacional de Saúde.

Estes serviços foram prestados em 6 bairros do Concelho de Cascais e a metodologia utilizada foi fundamental para o sucesso da implementação destes serviços, não obstante as dificuldades encontradas, nomeadamente as que se prendem com a pouca experiência da organização em atividades de outreach nas comunidades e os preconceitos da população

SER+ - Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à SIDA

Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde para migrantes*Projeto ainda a decorrer à data desta Publicação - Relatório intercalar

e de alguns técnicos sobre o VIH. Destacamos as seguintes etapas metodológicas:- Conhecimento do território e divulgação do projeto e

serviços: compreensão da dinâmica das entidades e da população, das questões socioculturais inerentes a esta temática e delinear em conjunto estratégias adequadas para a promoção do diagnóstico precoce;

- Troca de experiências e boas práticas com as duas organizações parceiras do projeto;

- Estratégias de outreach nos bairros com ações de sensibilização para a saúde e o VIH em grupos organizados e população em geral, com uma metodologia dinâmica e atividades e atores diversificados e com impacto na realização dos objetivos propostos, respetivamente: Informação sobre cuidados de saúde (Centro de Saúde), Acesso dos migrantes a cuidados de Saúde (Mediação Intercultural nos Serviços Públicos) Vídeo sobre VIH com entrevistas a moradores de um bairro de Cascais, Teatro Fórum, o VIH (SER+), Testemunho de uma Pessoa que Vive com VIH (Mulheres Ativistas Intervenção na Sociedade);

- Realização de rastreios no âmbito das sessões de sensibilização, em ações pontuais e de forma regular em espaços fixos nos bairros, com utilização de dois instrumentos de recolha de dados: 1- questionário proposto no âmbito do projeto COBATEST (um projeto europeu que visa, entre outras coisas, homogeneizar boas práticas de recolha de dados em centros de rastreio comunitário); 2- questionário sobre “Saúde Sexual nas comunidades migrantes” (no âmbito do respetivo Projeto do Instituto de Higiene e Medicina Tropical).

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Destacamos duas mais-valias que consideramos funda-mentais:

- A colaboração do Centro Anti-Discriminação VIH/SIDA da SER+;

- A qualidade institucional/ da equipa da SER+.

RESULTADOS OBTIDOS ATÉ DEZEMBRO DE 2014:

Nº testes realizados: 246 > Não reativos: 229 > Reativos: 8 > Inválidos: 9Dos quais, 77 realizados a pessoas do género feminino e 169 do género masculino.

População geral: 109 testes

Migrantes (1ª ou 2ª geração): 137 testes > 95 Masculino > 42 Feminino

Países de Origem:

Material distribuído:

Preservativos M 1931

Preservativos F 15

Gel lubrificante 360

Folhetos 105

Os 8 testes com resultado reativo foram realizados a migrantes de 1ª ou 2ª geração, dos seguintes países: > 1 Brasil; > 3 Cabo Verde; > 4 Guiné-Bissau.

Referem-se a 2 novos diagnósticos, tendo sido referenciados para o SNS e 6 já se encontravam em acompanhamento médico.

As conclusões ainda não podem ser apresentadas pois à data do envio da informação, o projeto ainda está a decorrer.

Angola – 30Brasil – 10Cabo Verde – 19Canadá – 1França – 1Guiné – 56Itália – 1

Moçambique – 4Paquistão – 1Rússia – 1São Tomé – 5Senegal – 4Ucrânia – 3Venezuela – 1

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