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VOLUMOSOS SUPLEMENTARES: ESTRATÉGIAS PARA ENTRESSAFRA 1 Rogério Marchiori Coan 2 Djalma de Freitas 3 Ricardo Andrade Reis 4 Sérgio de Souza Nakagi 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos bovinos comerciais do mundo, com aproximadamente 180 milhões de cabeças, observa-se que a taxa de lotação média é muito baixa (0,6 U.A./ha), resultando em produtividade inferior ao potencial do setor pecuário. Dentre os vários fatores que contribuem para essa baixa produtividade, pode-se destacar a estacionalidade na oferta de alimento proveniente das pastagens, alternando-se períodos onde é grande a disponibilidade quantitativa e qualitativa da forragem (águas), com períodos em que o crescimento das plantas é reduzido (secas), em resposta às alterações climáticas (baixa precipitação e temperatura). Como conseqüência desse fato, tem-se uma repercussão zootécnica correspondente, alternando-se períodos de grande oferta de produtos de origem animal (carne e/ou leite), com épocas em que é grande a dificuldade em manter o processo produtivo. Considerando-se que a demanda por alimentos numa propriedade permanece praticamente constante durante todo o ano e que, tendo a pastagem como base, os meios utilizados para garantir o suprimento na época seca (pasto diferido, adubação estratégica no final das águas e irrigação) têm sua eficiência em termos práticos e econômicos dependentes do sistema de produção no qual estão inseridos, assim, resta ao produtor utilizar outras alternativas no período de escassez, de forma a contornar este problema e garantir a manutenção ou ganho em peso dos animais. A escolha de alternativas visando minimizar os efeitos da estacionalidade na produção de plantas forrageiras deve ser coerente com o nível de exploração pecuária, diferenciando-se, principalmente pela 1 Zootecnista, MSc. - Doutorando em Produção Animal – FCAVJ - UNESP. Bolsista do CNPq. 2 Zootecnista, MSc. – Doutorando em Produção Animal – FCAVJ – UNESP. Bolsista da Fapesp. 3 Professor do Departamento de Zootecnia – FCAVJ – UNESP. Bolsista do CNPq. 4 Zootecnista, Diretor da PlanGesPec – Consultoria Pecuária. [email protected]

1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

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Page 1: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

VOLUMOSOS SUPLEMENTARES: ESTRATÉGIAS PARA ENTRESSAFRA

1 Rogério Marchiori Coan

2 Djalma de Freitas 3 Ricardo Andrade Reis

4 Sérgio de Souza Nakagi

1. Introdução

Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos bovinos comerciais do

mundo, com aproximadamente 180 milhões de cabeças, observa-se que a taxa

de lotação média é muito baixa (0,6 U.A./ha), resultando em produtividade

inferior ao potencial do setor pecuário.

Dentre os vários fatores que contribuem para essa baixa produtividade,

pode-se destacar a estacionalidade na oferta de alimento proveniente das

pastagens, alternando-se períodos onde é grande a disponibilidade quantitativa

e qualitativa da forragem (águas), com períodos em que o crescimento das

plantas é reduzido (secas), em resposta às alterações climáticas (baixa

precipitação e temperatura). Como conseqüência desse fato, tem-se uma

repercussão zootécnica correspondente, alternando-se períodos de grande

oferta de produtos de origem animal (carne e/ou leite), com épocas em que é

grande a dificuldade em manter o processo produtivo.

Considerando-se que a demanda por alimentos numa propriedade

permanece praticamente constante durante todo o ano e que, tendo a

pastagem como base, os meios utilizados para garantir o suprimento na época

seca (pasto diferido, adubação estratégica no final das águas e irrigação) têm

sua eficiência em termos práticos e econômicos dependentes do sistema de

produção no qual estão inseridos, assim, resta ao produtor utilizar outras

alternativas no período de escassez, de forma a contornar este problema e

garantir a manutenção ou ganho em peso dos animais.

A escolha de alternativas visando minimizar os efeitos da

estacionalidade na produção de plantas forrageiras deve ser coerente com o

nível de exploração pecuária, diferenciando-se, principalmente pela

1 Zootecnista, MSc. - Doutorando em Produção Animal – FCAVJ - UNESP. Bolsista do CNPq. 2 Zootecnista, MSc. – Doutorando em Produção Animal – FCAVJ – UNESP. Bolsista da Fapesp.

3 Professor do Departamento de Zootecnia – FCAVJ – UNESP. Bolsista do CNPq.

4 Zootecnista, Diretor da PlanGesPec – Consultoria Pecuária. [email protected]

Page 2: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

necessidade de intensificação de uso das pastagens. É nesse sentido, que a

suplementação volumosa de bovinos mantidos em pastagens tem sido adotada

como estratégia para manutenção do equilíbrio entre a oferta e demanda de

alimentos nos sistema de produção.

Para tanto, é importante ressaltar que a adoção dessa tecnologia implica

primeiramente na escolha do alimento volumoso a ser utilizado, sendo

realizada em virtude da sua associação à oferta e qualidade da forragem

presente na pastagem, disponibilidade de área para condução da cultura,

máquinas e equipamentos para colheita, processamento e conservação de

forragem, estruturas de suplementação (cochos, bebedouros, etc.), sendo,

portanto, necessário o acompanhamento por um técnico de confiança, desde o

planejamento da cultura até a avaliação da qualidade da forragem produzida e

dos custos envolvidos na produção do alimento volumoso.

De qualquer forma, há diversos tipos de alimentos utilizados como

volumosos suplementares durante a época da seca. Assim, o objetivo deste

artigo é apresentar, de forma resumida, alguns aspectos relacionados aos

custos de produção e questões relevantes no uso de cada um destes

alimentos. Para esta análise, foram escolhidos alguns alimentos volumosos,

que tentam abranger diferentes sistemas de produção e níveis de tecnologia;

sendo eles: cana-de-açúcar, silagem de capim, silagem de sorgo e silagem de

milho.

2. Volumosos Suplementares

2.1. Cana-de-Açúcar

A utilização da cana-de-açúcar como alimento volumoso suplementar,

principalmente para bovinos, tem tido importância cada vez maior nas regiões

Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, em virtude de seus atributos positivos:

cultivada em todo território nacional; cultura permanente de fácil implantação,

requerendo poucos tratos culturais; elevada produtividade (ao redor de 90

ton./ha) em uma única colheita exatamente no período de escassez das

pastagens (dispensa ensilagem); possui moderada elevada concentração de

sacarose no colmo, mantendo condições adequadas de ser colhida de acordo

Page 3: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

com a necessidade durante a estação seca; e é bem consumida pelos animais,

ao contrário do que muitos pecuaristas acreditam.

No entanto, o uso intensivo da cana-de-açúcar apresenta algumas

limitações, no que diz respeito à mecanização do corte e valor alimentício.

No que se refere à mecanização do corte, de maneira geral, as máquinas

forrageiras utilizadas para essa finalidade ainda são pouco eficientes,

apresentam baixos rendimentos, necessidade freqüente de manutenção e,

principalmente, o tamanho de corte das partículas não é adequado para a

potencialização do desempenho animal.

O corte mecanizado da cana-de-açúcar teve como base o uso de

máquinas forrageiras inicialmente utilizadas para a ensilagem de milho e sorgo.

Problemas de manutenção, rendimento e longevidade dessas máquinas

sempre se apresentaram como limitantes ao desenvolvimento e à evolução de

grandes sistemas de produção baseados na utilização da cana-de-açúcar

como recurso forrageiro.

Embora ainda com certa “timidez”, nos últimos anos tem havido melhora

no desempenho das forrageiras utilizadas para o corte da cana. Porém, um

aspecto que deve ser lembrado, é que não existe tendência de correlação entre

a melhoria no desempenho das máquinas e as exigências dos animais, no

sentido de um alimento com tamanho de corte menor.

No que diz respeito ao valor alimentício da cana-de-açúcar, esta ao

contrário da maioria das plantas forrageiras, apresenta melhora da

digestibilidade da matéria seca (MS) com o avanço da maturidade fisiológica,

devido a uma redução no espessamento da parede celular, com conseqüente

diminuição dos teores de FDN (fibra detergente neutro) e aumento dos teores

de carboidratos ou açúcares solúveis.

Dependendo da idade fisiológica no momento do corte, o teor de FDN

pode variar de 40 a 65%, porém próximo da idade ideal de corte essa variação

é menor. OLIVEIRA (1996) em uma avaliação de 16 variedades, sendo 15

originárias do Centro de Ciências Agrárias da UFSCAR (RB) e a CO 413,

observou que a proporção de FDN variou de 45,1 a 58,0% da MS, enquanto

que o teor de FDA (fibra detergente ácido) variou de 25,9 a 37,5 na MS.

A dieta de um animal, especialmente os ruminantes, deve conter níveis

mínimos de fibra. A fibra para esses animais é originária de alimentos

Page 4: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

volumosos ou resíduos que contenham maiores proporções de FDN, sendo

caracterizados por apresentarem mais que 18% de fibra bruta na matéria seca.

A fibra na dieta desses animais é requerida com o objetivo de manter as

funções ruminais e maximizar o consumo de energia. A fibra estimula o animal

a ruminar e, dessa forma, há produção de saliva, que é adicionada ao rúmen,

neutralizando os ácidos produzidos pela fermentação ruminal, sendo, portanto

um tamponante para do meio, mantendo o pH em níveis toleráveis.

A cana-de-açúcar integral é uma forragem rica em energia ( ± 60% NDT

na matéria seca), mas apresenta baixos teores de proteína bruta (2 a 3% na

matéria seca), enxofre, fósforo, zinco e manganês.

A inclusão da uréia, uma fonte de nitrogênio não protéico (NNP) de

baixo custo, para suprir nitrogênio aos microrganismos do rúmen, capazes de

converter NNP em proteína microbiana, é favorecida em razão dos altos

conteúdos de sacarose, que é um açúcar prontamente fermentável, da cana-

de-açúcar. Com a adição de 1,0 kg da mistura uréia + sulfato de amônio, para

cada 100 kg de cana-de-açúcar (peso fresco), o teor de proteína bruta na

forragem é aumentado de 2 a 3% para 10 a 12% na MS. No entanto, esta

tecnologia deve ser adotada com critério, pois a utilização inadequada da uréia

para ruminantes poderá levar a intoxicação por amônia e até a morte do

animal. Alguns casos ocorridos no passado, devido ao uso inadequado de

uréia, principalmente na mistura com melaço foram responsáveis pelas

restrições impostas ao uso desta tecnologia por pecuaristas e extensionistas.

O enxofre é indispensável para a síntese dos aminoácidos essenciais,

como metionina, cistina e cisteína. A adição de uma fonte de enxofre melhora a

síntese de proteína microbiana no rúmen, aumentando o fluxo de proteína

microbiana e o desempenho animal.

A utilização da tecnologia cana-de-açúcar + uréia é simples, podendo

ser adotada por pecuarista com diferentes níveis de tecnologia na propriedade,

envolvendo, basicamente, os seguintes passos:

1) Preparação da mistura uréia e fonte de enxofre. Esta mistura (uréia +

fonte de enxofre) pode ser previamente preparada em quantidade

suficiente para alimentar o rebanho por vários dias. A mistura

recomendada é de nove partes de uréia para uma de sulfato de

amônio (1:9) ou duas partes de uréia para oito partes de sulfato de

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cálcio (2:8). Com estas proporções obtém-se relação N:S da ordem

de 9 a 16:1. Uma vez preparada, a mistura uréia+fonte de enxofre

deve ser armazenada em sacos plásticos em local seco e fora do

alcance dos animais;

2) A colheita da cana-de-açúcar pode ser efetuada a cada dois dias em

pequenas propriedades e sua picagem realizada no momento de

fornecimento aos animais, de modo a evitar fermentações

indesejáveis, que podem promover redução do consumo;

3) Dosagem de uréia e fornecimento da mistura cana+uréia:

�Primeira semana (período de adaptação): a quantidade a ser usada é

de 0,5% de uréia na cana (Figura 2);

�Segunda semana em diante (rotina): a quantidade a ser usada é 1,0%

de uréia na cana (Figura 2);

A adição de uréia em água é indicada para facilitar e assegurar a

incorporação uniforme de uréia à cana-de-açúcar. Esta solução é distribuída

por cima da cana picada e rapidamente incorporada, visando uma mistura

homogênea antes de fornecer aos animais, evitando os riscos de intoxicação

pelo acúmulo da solução de uréia em algumas partes do cocho.

Page 6: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

Para o arraçoamento de grandes rebanhos tem sido utilizadas máquinas

colhedeiras de forragem para a colheita e picagem da cana, bem como vagões

simples ou misturadores (ração total), com descarga automática, para o

transporte, mistura da cana + uréia (sem adição de água) e distribuição nos

cochos.

4) Recomendações gerais para alimentar os animais com cana + uréia:

� Usar variedades de cana-de-açúcar produtivas, com altos teores de

sacarose;

� Após a colheita não estocar cana por mais de dois dias;

� Efetuar a picagem da cana-de-açúcar no momento de fornecer aos

animais;

� Usar uréia mais fonte de enxofre nas dosagens recomendadas;

� Misturar uniformemente a uréia à cana picada, para evitar riscos de

intoxicação;

� Priorizar o período de adaptação;

� Eliminar sobras de forragem do dia anterior;

� Manter água e sal mineral à disposição dos animais;

� Fornecer os alimentos concentrados em função do nível de produção

animal (ganho em peso e/ou produção de leite) desejados.

No que se refere aos custos de produção da cana-de-açúcar, a SCOT

Consultoria (julho/2003) apresenta um custo estimado de R$ 26,50 por

tonelada de massa verde. Esse dado nos mostra, que dependendo da região

na qual a propriedade está inserida, o custo da oportunidade, que é a

possibilidade de venda da produção para as usinas de açúcar e álcool, pode

diminuir a competitividade da cana-de-açúcar frente a outros alimentos

volumosos na formulação de dietas para bovinos.

Page 7: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

2.2. Silagem de Capim

.

A utilização da ensilagem como técnica de conservação de forrageiras

tropicais é uma prática que vem sendo adotada com freqüência no Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil, em substituição a fenação que, invariavelmente, é

prejudicada pelas condições climáticas predominantes na época chuvosa do

ano (outubro a março).

No entanto, para a obtenção de silagem de alta qualidade, faz-se

necessário que alguns fatores sejam considerados, como, por exemplo, os

teores de matéria seca (MS), que devem estar entre 28,0 e 35,0 %, a riqueza

em carboidratos solúveis (CS) e o baixo poder tampão (PT), que não deve

oferecer resistência à redução do pH para valores entre 3,8 e 4,2

(McCULLOUGH, 1977). Esses parâmetros influem, de maneira decisiva, na

natureza da fermentação e na conservação da massa ensilada. WOOLFORD,

(1984) relata que os teores de matéria seca, de carboidratos solúveis e a

capacidade tampão, são fatores importantes no que diz respeito a

ensilabilidade de uma planta forrageira. O autor sugeriu que os teores de MS

devem ser no mínimo de 25% e a relação entre carboidratos

solúveis/capacidade tampão, sendo inferior a 3,0 de forma a possibilitar a

obtenção de silagem de qualidade satisfatória (Figura 3).

Figura 3. Relação entre conteúdo de matéria seca e proporção açúcar: capacidade tampão e seus efeitos na qualidade final das silagens. Fonte: Weissbach et al., citado por WOOLFORD, 1984.

Page 8: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

A essência do processo de ensilagem é promover rápida fermentação

lática oriunda de bactérias predominantemente homofermentativas sob

condições anaeróbicas, as quais ocorrem naturalmente. Infelizmente, as

bactérias láticas não são os únicos microrganismos que ocorrem nas silagens.

Inúmeros microrganismos indesejáveis, como enterobactérias e clostrídios,

podem competir com as bactérias láticas pelos mesmos substratos,

dependendo das condições encontradas no silo.

Diversos capins tropicais têm sido estudados no sentido de se encontrar

alternativas para a conservação na forma de silagem e entre elas, destacam as

seguintes variedades: Tanzânia, Mombaça e Tobiatã (gênero Panicum), Coast-

Cross, Estrela-Roxa e Tifton 85 (gênero Cynodon), Braquiarão, Decumbens e

Ruziziensis (gênero Brachiaria) e Napier, Roxo e A-148 9 (gênero Penissetum).

Estas plantas apresentam limitações ao processo de ensilagem, devido ao fato

de apresentarem baixo teor de matéria seca (MS) no estádio de maior valor

nutritivo, elevado poder tampão e baixo conteúdo de carboidratos solúveis.

Esses fatores associados prejudicam o processo de fermentação, além de

promover perdas de nutrientes (proteínas, açúcares, vitaminas, etc.) no

efluente produzido (Tabela 1). Além disso, as silagens resultantes apresentam

médio valor nutritivo, apresentando ao redor de 55% NDT e 6 a 8% de proteína

bruta, na matéria seca.

Tabela 1 – Produção de efluentes e perda de matéria seca (Ms) em silos do tipo trincheira.

Produção de efluentes Conteúdo de MS (%)

(litros por tonelada de silagem) Perdas de MS (%)

30 0 0

25 20 0,4

20 60 1,6

15 200 7,2

Fonte: Pedrosos (1998)

De maneira geral, os capins tropicais não apresentam condições ideais

para serem ensilados (baixos teores de MS e/ou de carboidratos solúveis),

justificando assim o uso de aditivos que favoreçam o processo fermentativo. O

objetivo é encontrar um produto economicamente viável, que assegure a

Page 9: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

preservação eficiente desde o momento da abertura do silo até sua completa

utilização.

Os principais objetivos do uso de aditivos no processo da ensilagem

são: melhorar a qualidade da fermentação no silo, reduzir perdas de nutrientes

e aumentar a ingestão e o desempenho animal (WILKINSON, 1998).

Os aditivos enfocados neste artigo podem ser divididos em duas

categorias gerais:

- Substratos ou fontes de nutrientes, tais como: melaço, polpa de

citrus, rolão de milho, etc.;

- Estimulantes da fermentação, tais como: enzimas e inoculantes

bacterianos;

- Alguns substratos podem estar associados a mais de um efeito,

como os que estimulam a fermentação, têm capacidade absorvente e

também são fontes de nutrientes.

Analisando as limitações dos capins tropicais, como citado

anteriormente, conclui-se que o aditivo ideal a ser utilizado na ensilagem

deveria possuir alto teor de matéria seca, alta capacidade de absorver água,

elevado valor nutritivo, boa palatabilidade, elevado teor de carboidratos

solúveis, fácil manipulação e distribuição, boa disponibilidade de mercado e

baixo custo de aquisição. No entanto, entre as diversas opções de aditivos

dispostos e exaustivamente estudados nos últimos anos no Brasil, nenhum se

enquadra perfeitamente nessas condições.

No passado, diversos aditivos ricos em carboidratos foram utilizados na

ensilagem de forrageiras tropicais com níveis de açúcares solúveis abaixo do

crítico estabelecido para a adequada fermentação. O capim elefante, cortado

com idade inferior a 60 dias, foi uma destas forrageiras, e o uso de

estimulantes da fermentação, como melaço, farelos, milho moído e o

emurchecimento ao sol, ocuparam posição de destaque nas pesquisas com

aditivos (VILELA, 1997, 1998).

O rolão de milho, o milho desintegrado com palha e sabugo, assim como

os grãos moídos foram empregados na ensilagem do capim-elefante,

proporcionando fermentações adequadas. No entanto, o fubá que no passado

foi exaustivamente pesquisado, ainda proporciona dúvidas quanto ao tipo de

Page 10: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

carboidrato a ser fermentado. Um fator que deve ser considerado é que o

amido não constitui numa fonte adequada de substrato para a fermentação

dentro do silo, uma vez que esse polissacarídeo não é fermentado pelas

bactérias normalmente encontradas nas plantas forrageiras (McDONALD e

WHITTEMBERY, 1973).

Como conseqüência desta menor capacidade das bactérias láticas de

fermentarem o amido, o uso de fubá na ensilagem de capim elefante tem

proporcionado resultados muitas vezes inconsistentes. Nesse sentido, CONDÉ

(1970) ensilando o capim-elefante Taiwan A-146, com doses de 0; 15; 30; 60 e

90 kg de fubá/t de massa verde, concluiu que este aditivo não teve maior efeito

sobre a fermentação das silagens. Por outro lado, o autor verificou que o fubá

aumentou os teores de MS e a digestibilidade “ïn vitro” da MS das silagens.

Atualmente, tem-se a intensa utilização de polpa cítrica peletizada, que é

um subproduto da indústria de suco de laranja e se constitui no principal aditivo

comercializado e utilizado na alimentação de ruminantes, uma vez que

apresenta conteúdo de NDT variando entre 83 e 88 % e conteúdo de MS de

82,44 % (ASHBELL, 1994; EMBRAPA, 1991) e grande disponibilidade nas

regiões produtoras.

Esse alimento têm sido largamente recomendado como aditivo

acondicionador (aumento de MS) e estimulador da fermentação em silagens,

como demonstrado por estudos conduzidos por EVANGELISTA et al. (1996a,

1996b). A polpa peletizada apresenta capacidade de elevar seu peso em 145

%, em decorrência da absorção de água, quando em contato com forrageiras

úmidas, além de apresentar conteúdos de carboidratos totais entre 11 e 43,1 %

(LOPEZ, 1990), contribuindo para melhora no padrão de fermentação das

silagens. Todavia, deve-se analisar os aspectos relacionados com o custo, uma

vez que a eficiência desse aditivo no processo de fermentação é comprovada.

LIMA et al. (2000) trabalhando com o capim Coastcross com cinco semanas

de rebrota, observaram aumento linear no conteúdo de matéria seca da forragem

ensilada a medida que as doses de aditivos aumentavam, sendo que as silagens

que receberam doses de 10 e 15% dos aditivos (polpa cítrica e farelo de trigo)

apresentaram teores de matéria seca dentro da faixa adequada para uma boa

fermentação (30%).

Page 11: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

EVANGELISTA et al., (2000) ensilaram o capim Estrela Roxa (Cynodon

nlemfuensis Vanderyst) com 45 dias de idade, sob os seguintes tratamentos: 1-

Ensilagem após o corte; 2- Ensilagem após o corte + 4% de polpa cítrica; 3-

ensilagem após emurchecimento de 1 hora; 4- ensilagem após emurchecimento de

1 hora + 4% de polpa cítrica; 5- Ensilagem após emurchecimento de 2 horas; 6-

ensilagem após emurchecimento por 2 horas + 4% de polpa cítrica; 7- ensilagem

após emurchecimento de 3 horas e 8- ensilagem após emurchecimento de três

horas + 4% de polpa cítrica. Os autores observaram aumentos nos teores de MS,

no pH e diminuição nos teores de FDN e FDA das silagens confeccionadas com a

adição de polpa cítrica e submetidas ao emurchecimento ao sol.

AGUIAR et al., (2000) avaliaram a produção de efluentes em silagens de

capim Tanzânia, ensilado com 60 dias de idade, picado com três tamanhos de

partículas (1; 2 e 3), sendo o tamanho 1, referente ao corte das máquinas

forrageiras comerciais e três quantidades de polpa de citrus peletizada (0; 5 e

10%) na matéria natural. Os autores encontraram perdas de efluentes (% MS) de

13,88; 3,73 e 2,46% para as silagens com sem polpa e as com 5 e 10% de

inclusão de polpa de citrus no tamanho de partícula 1, respectivamente.

Outra alternativa que tem sido recomendada por diversos autores,

refere-se ao processo de pré-murchamento antes da ensilagem. De acordo

com WILKINSOSN (1983), esta técnica é tida como um dos processos mais

viáveis, técnica e economicamente, na elevação da matéria seca das forragens

a serem ensiladas.

Quanto ao efeito do pré-murchamento sobre os teores de CS, os

resultados têm se mostrado variáveis. De acordo com FARIA (1971) o pré-

murchamento por aproximadamente 6 horas não provocou alterações

significativas no teor de CS do capim elefante Napier, cortado aos 86 dias de

crescimento. Por outro lado, GUTIERREZ e FARIA (1976) trabalhando com o

capim elefante "Taiwan A-148", colhido aos 62 dias de crescimento,

constataram redução expressiva no teor de CS em função do pré-murchamento

por 2, 4 e 6 horas.

WILKINSON (1983) comenta que em relação às forrageiras de clima

tropical, a falta de máquinas adequadas para o corte, acondicionamento da

planta, seu recolhimento no campo após o emurchecimento e o seu transporte

até o silo, dificultam sobremaneira essa prática.

Page 12: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

Contudo, segundo o mesmo autor, o emurchecimento é um dos métodos

mais eficientes, técnica e economicamente para a elevação do teor de MS de

forrageiras. Em condições de fazenda o pré-murchamento torna-se um método

sem praticidade e de difícil execução, pois os melhores resultados são obtidos

com 6 a 8 horas de exposição ao sol. Se levarmos em consideração que o

corte vai ocorrer por volta das 9 às 10 horas da manhã, para que ocorra a

perda de água das plantas, a picagem e o enchimento do silo só poderia ser

iniciado por volta das 17 horas, dificultando o processo de ensilagem.

EVANGELISTA et al., (2000) ensilaram o capim Estrela Roxa (Cynodon

nlemfuensis Vanderyst) com 45 dias de idade, sob os seguintes tratamentos:

1-Ensilagem após o corte; 2-Ensilagem após o corte + 4% de polpa cítrica,

3-ensilagem após emurchecimento de 1 hora; 4-ensilagem após

emurchecimento de 1 hora + 4% de polpa cítrica; 5-Ensilagem após

emurchecimento de 2 horas; 6-ensilagem após emurchecimento por 2 horas +

4% de polpa cítrica; 7-ensilagem após emurchecimento de 3 horas e

8-ensilagem após emurchecimento de três horas + 4% de polpa cítrica. Os

autores observaram aumentos nos teores de MS, no pH e diminuição nos

teores de FDN e FDA das silagens confeccionadas com a adição de polpa

cítrica e submetidas ao emurchecimento ao sol.

Nos últimos cinco anos tem ressurgido o interesse de produtores e

técnicos pelo uso de inoculantes bacterianos e mais opções de produtos

comerciais deste tipo têm surgido no mercado. Uma grande variedade de

aditivos está sendo recomendada e utilizada com o intuito de se melhorar e

garantir a qualidade das silagens. Os aditivos biológicos, compostos por

lactobacilos homofermentativos e/ou enzimas, abrangem hoje, a classe com

mais rápido desenvolvimento em todo o mundo. Os fabricantes preconizam que

o uso destes aditivos contribui para acelerar o processo fermentativo, reduzir

as perdas de nutrientes e maior estabilização da silagem após a abertura dos

silos e com isso produzir silagens de melhor qualidade.

Um ponto fundamental, quando se utiliza um aditivo biológico, é

conhecer o quanto ele pode melhorar o padrão de fermentação, o consumo, a

digestibilidade e a produção animal, e se é economicamente viável.

Infelizmente, são poucos os trabalhos na literatura que abordam todos estes

parâmetros. Normalmente, os estudos se detêm apenas aos aspectos

Page 13: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

qualitativos das silagens resultantes e dessa forma, não permitem ainda uma

posição segura quanto à sua utilização ou não em larga escala.

GUIM et al. (1995) avaliaram o efeito conjunto do inoculante bacteriano,

fubá de milho (9,0% na massa verde) e emurchecimento na ensilagem do

capim-elefante (Pennisetum purpureum), cortado aos 90 dias de crescimento, e

observaram não haver diferenças significativas nos valores de digestibilidade

entre as silagens de capim com 9,0% de fubá de milho com inoculante (65,5%)

e sem inoculante (65,1 %). Porém ambas foram superiores a silagem do capim

pré-murchado e ensilado com inoculante (51,7%).

Nesta mesma linha de raciocínio KUNG Jr e MUCK (1997) mostraram

essa variação, apontando que as respostas positivas ao uso de inoculantes

ocorreram em 28, 53 e 47% das pesquisas efetuadas para avaliação do

consumo, ganho de peso e produção de leite, respectivamente. Nos casos em

que se verificou resposta positiva ao uso do inoculante, esse valor

correspondeu a um incremento médio de 1,4 kg de leite/dia ou 1,8 kg de ganho

de peso/tonelada de forragem ensilada. Os mesmos autores verificaram

resultados ainda menos positivos para o uso de enzimas em relação ao uso de

inoculantes bacterianos.

COAN et al., (2001) avaliaram a adição do inoculante enzimático-

bacteriano (Bacto Silo C - KATEC) na ensilagem dos capins Tanzânia e

Mombaça (Panicum maximum) em duas idades de corte, 45 e 60 dias. Os

autores concluíram que a cultura enzimática bacteriana não melhorou o valor

nutritivo das silagens produzidas, no que se refere aos teores de MS, PB, FDN,

FDA, valores de DIVMS (digestibilidade “in vitro” da matéria seca), pH e

conteúdo de N-NH3 / N total.

Os inoculantes podem inibir o crescimento de outros microrganismos na

silagem, limitando a produção de toxinas e ter um efeito positivo sobre o

ambiente ruminal. De acordo com ROTZ e MUCK (1994) resultados de um

grande número de experimentos realizados entre 1985 e 1992, evidenciam que

houve melhora na fermentação em 40% das silagens de milho, 75% das

silagens de alfafa e 71% para silagens de outras gramíneas. Como média de

todos os experimentos, a performance animal aumentou na ordem de 2 a 4%,

dependendo do parâmetro avaliado (ganho de peso, produção de leite,

ingestão, eficiência do alimento).

Page 14: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

A eficiência de utilização de inoculantes bacterianos depende do

conteúdo de MS da forragem, da quantidade de CS disponíveis e da

anaerobiose no silo. Quando o carregamento do silo é demorado favorece o

desenvolvimento de microrganismos indesejáveis em prejuízo das bactérias

produtoras de ácido lático. O uso do inoculante bacteriano promove aumento na

taxa de fermentação (maior relação ácido lático/acético), diminuindo a

proteólise e a desanimação da proteína da forragem, com uso mais eficiente

dos CS e, em conseqüência, maior retenção de nutrientes na silagem

(HENDERSON, 1993). A maioria dos produtos comercial inclui as bactérias dos

gêneros Pediococcus e/ou Streptococcus, os quais têm sua atividade em pH

entre 5,0 e 6,5 e estirpes de Lactobacillus homofermentativos que são mais

efetivos na produção de ácido lático em pH mais ácido (Figura 02).

Com relação aos efeitos dos inoculantes sobre a qualidade das silagens,

tem-se observado na prática a redução nas perdas de MS, com pequeno efeito

sobre os teores de proteína verdadeira, resultando em menor concentração de

NH3. Durante o processo de fermentação os teores dos constituintes da parede

celulares praticamente não são afetados. Segundo MUCK (1996) o rápido

abaixamento do pH, devido ao uso de inoculantes, pode reduzir a quebra

enzimática da hemicelulose a partir da ação da hemicelulase oriunda da planta

ou dos microrganismos, enquanto que o pH baixo pode aumentar a hidrólise

ácida deste carboidrato estrutural levando a um equilíbrio.

O principal enfoque na indústria de inoculantes é a busca de produtos a

base de bactérias homofermentativas. Contudo, uma linhagem de bactéria

heterofermentativa (Lactobacillus buchaneri), tem-se mostrado promissora em

aumentar a estabilidade aeróbia das silagens devido a produção de ácido

acético que pode inibir as leveduras (Driehuis et al. Citado por MUCK e

SHINNERS, 2001).

Inoculantes microbianos nem sempre funcionam da maneira esperada,

sendo a principal causa a competição com a população natural de bactérias

láticas. Se a população de bactérias láticas for suficientemente maior do que o

número aplicado, é difícil para as bactérias introduzidas superarem as

existentes na forragem (MUCK, 1996).

Para CORSI et al. (2000) o uso de inoculantes bacterianos e outros

aditivos em silagens de capins tropicais também deverão ser motivo de mais

Page 15: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

estudos no futuro, no sentido de desenvolver produtos e protocolos práticos

mais adequados às situações brasileiras. A literatura tem demonstrado

resultados inconsistentes quanto aos efeitos desses inoculantes, o que coloca

em dúvida a sua economicidade no sistema de produção. Os autores também

chamam a atenção em relação ao custo de inoculantes no Brasil, variando de

R$ 0,70 a R$ 2,10/tonelada aditivada, lembrando que isto deve ser analisado

com cautela, visto que a resposta média ao emprego desse insumo é

insuficiente para resposta econômica no processo produtivo. Todavia, esse fato

não deve desencorajar o uso dessa tecnologia, uma vez que resultados

consistentes e positivos têm sido observados para alguns microrganismos

(Lactobacillus plantarum MTD1), conforme os resultados apresentados por

KUNG Jr e MUCK (1997).

Outro fator que deve ser considerado no uso desses produtos, refere-se

a eficiência na aplicação dos inoculantes sobre a forragem em grandes

sistemas de produção, uma vez que os mesmos devem ser aplicados no

momento da compactação da forragem. Para tanto, diversos produtores tem

adaptado pulverizadores (de barra) para esta finalidade, e com grande ganho

de tempo e eficiência no processo final (Figura 4).

Figura 4 – Aplicação de Inoculante em silagem de capim Tanzânia.

De maneira geral, a análise dos trabalhos referentes ao uso de aditivos

que melhoram o padrão de fermentação evidenciam a ocorrência de melhora

na qualidade da silagem final, contudo há que se considerar os aspectos

Page 16: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

relacionados com a disponibilidade, custo de transporte, armazenamento e

métodos de aplicação do aditivo. Muitas vezes a escolha de um determinado

aditivo deve-se a sua disponibilidade e custo na época de ensilagem e não a

sua eficiência em melhorar o padrão de fermentação.

Outro aspecto que deve ser considerado pelo pecuarista no momento de

se realizar a ensilagem dos capins, refere-se aos custos de produção por

tonelada de silagem. Ao contrário do que muitos acreditam, a silagem de capim

não é um alimento barato, apresentando um custo estimado de

R$ 45,00/ton. de massa verde. Já se considerarmos uma silagem aditivada

com 10% de polpa de citrus peletizada, este custo é elevado para

aproximadamente R$ 70,00, mas com o benefício de melhora do processo

fermentativo e valor nutritivo. As silagens obtidas com adição de 10% de polpa

de citrus peletizada apresentam em média 60 a 62% de NDT e 7 a 10% de

proteína bruta na matéria seca.

2.3. Silagem de Sorgo

As culturas de milho e sorgo têm sido as mais utilizadas no processo de

ensilagem, por sua facilidade de cultivo, altos rendimentos por área e

especialmente pela qualidade da silagem produzida, sem necessidade de

inclusão de aditivos para estimular o processo fermentativo.

O sorgo pode ser cultivado em todo território nacional, sendo plantado a

partir de meados de setembro até abril, e seu uso para ensilagem se justifica

pelas suas características agronômicas favoráveis, como elevada produtividade

de forragem (ao redor de 50 ton./ha), maior tolerância à seca e ao calor (boa

opção para a safrinha), capacidade de explorar maior volume de solo, por

apresentar um sistema radicular bem desenvolvido e possibilidade de se

explorar a rebrota (com produções ao redor de 60% do primeiro corte) quando

submetido à manejo adequado.

Além disso, o sorgo tem como característica favorável uma maior

flexibilidade no momento da ensilagem, mantendo-se por mais tempo no ponto

adequado de colheita, quando comparado ao milho. As silagens obtidas

apresentam entre 85 e 90% do valor nutricional do milho. Este fato é devido ao

menor consumo da silagem proveniente do sorgo, graças a uma menor

Page 17: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

digestibilidade do mesmo, por fatores como a presença de tanino, menor

digestibilidade natural do amido do sorgo e a presença do tegumento do grão.

Diversos trabalhos vem sendo realizados para a resolução desses problemas,

já com resultados bem positivos, que praticamente igualam o desempenho de

novos cultivares de sorgo (duplo propósito) ao da silagem de milho.

O conteúdo de matéria desempenha papel importante na confecção da

silagem, quer aumentando a proporção de nutrientes e facilitando os processos

fermentativos quer diminuindo a ação de microrganismos do gênero

Clostridium, responsáveis pela produção de ácido butírico e degradação da

fração protéica, com conseqüente redução do valor nutricional da silagem.

Quanto maior a umidade menor será o pH limite para inibir esse crescimento,

mesmo com níveis adequados de carboidratos solúveis para promover

fermentação lática, silagens muito úmidas, são pouco desejáveis devido ao

menor consumo voluntário, reduzindo o desempenho animal.

Além disso, silagens com menor teor de umidade tem menor custo de

transporte, pois cada vagão ou carreta leva maior quantidade de matéria seca.

Silagens com alto teor de umidade produzem maior quantidade de efluentes,

responsáveis pela perda de nutriente de alta digestibilidade.

Por outro lado, silagens com alto teor de matéria seca têm grande

tendência a produção de calor e crescimento de fungos devido à dificuldade de

compactação e exclusão do oxigênio, promovendo assim a perda do valor

nutritivo do material final.

Diversos ensaios de digestibilidade in vitro da matéria seca e

determinação de componentes da porção fibrosa , além de outros parâmetros

nutricionais foram realizados comparando diferentes teores de matéria seca e

estágios de maturação do material ensilado. Na Tabela 2, apresentamos

alguns dados obtidos por ANDRADE & CARVALHO (1992).

De maneira geral, híbridos de sorgo no estágio de grãos leitosos

normalmente apresentam maiores coeficientes de digestibilidade da porção

fibrosa. No entanto, o rápido aumento da proporção de grãos e,

conseqüentemente, de amido altamente digestível que ocorre com o

amadurecimento, compensa a diminuição da digestibilidade da fração fibrosa,

mantendo inalterada a digestibilidade da matéria seca.

Page 18: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

Tabela 2 – Média dos teores de matéria seca (MS), fibra bruta (FB), proteína bruta (PB), digestibilidade aparente da matéria seca (DMS) e da fibra bruta das silagens de sorgo AG-2002 e BR-506.

Estágios de Maturação

AG - 2002

BR - 506

(grãos) MS FB PB DMS DFB MS FB PB DMS DFB Leitoso 23,2 33,5 5,3 57,3 51,2 26,6 31,4 6,1 61,4 54,2

Farináceo 30,3 24,3 5,9 61,7 42,2 28,2 25,8 5,0 63,7 52,2

Duro 31,0 28,7 5,5 59,0 43,5 29,2 28,0 54,0 62,0 44,1

Adaptado de ANDRADE & CARVALHO (1992).

JOHNSON et al. (1973) estudando o efeito da maturação da planta de

sorgo, relatam que o aumento no teor de matéria seca da panícula, durante a

maturação, é o maior responsável pela queda da umidade da planta total, como

elucidado na Tabela 3.

Tabela 3 – Porcentagem de matéria seca da planta total, colmos, folhas e panículas, em diferentes estágios de colheita.

Estágio de Colheita Planta Inteira Colmos Folhas Panículas

Emergência da panícula 26,2 15,8 22,8 22,8 Grão leitoso 29,1 29,3 21,7 26,8 Grão leitoso - farináceo 33,2 20,0 27,4 43,6 Grão farináceo 43,1 18,8 34,2 61,1 Grão duro 52,9 23,3 64,6 75,4

CORRÊA (1996) avaliando três híbridos de sorgo, um de porte alto e dois

de porte médio, concluiu que há aumento significativo na porcentagem de

panículas e conseqüente redução nas porcentagens de colmo e folhas com o

avanço da maturidade. O teor de matéria seca se mostrou crescente, atingindo

o ponto adequado para ensilagem (30%) em torno da quarta semana após o

florescimento.

No que se refere ao ponto de colheita, o ideal é que a planta acumule a

máxima produção de matéria seca, máximo potencial de consumo e

digestibilidade em que tenha teor de matéria seca capaz de assegurar um bom

processo de fermentação para que as perdas sejam reduzidas e o valor

Page 19: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

nutritivo da silagem seja maximizada e permita compactação adequada.

Naturalmente, o ponto ideal de colheita depende do híbrido utilizado, local de

plantio, fertilidade do solo e condições climáticas.

De maneira geral, os híbridos de sorgo de porte médio a baixo são mais

precoces que os de porte alto; seu ponto de ensilagem está entre 90 e 110 dias

após o plantio, no Brasil Central, podendo ser mais tardios no sul do país. Os

híbridos de porte alto normalmente apresentam menores porcentagens de

grãos na massa total ensilada.No Brasil central o ponto ideal de colheita está

entre 98 e 112 dias após o plantio.

Quanto aos custos de produção, o valor estimado é de

R$ 46,54 / tonelada de silagem, e poderá variar em função de diversos fatores,

como: produtividade, fertilidade do solo, condições climáticas, manejo da

cultura, etc.

2.4. Silagem de Milho

O milho é a mais popular cultura utilizada no processo de ensilagem, e

extensas áreas são cultivadas em diferentes partes do mundo. A silagem de

milho é tida como alimento volumoso nutricionalmente completo, pois quando

obtida de forma adequada, associa elevada densidade energética (> 64%

NDT), com teores moderados de proteína bruta (6 a 9%) e sem a necessidade

de incorporação de aditivos. A produção média estimada para o milho é de

40 toneladas de massa/ha, podendo esse dado variar em função do híbrido

utilizado, região do país e manejo da cultura.

A qualidade da silagem de milho geralmente é uma função da:

(a) porcentagem de grãos na matéria seca do material ensilado e b) da

qualidade dos colmos e folhas (NUSSIO et al., 1996), principalmente colmos.

A maior quantidade de grãos no material ensilado poderá representar

economia em ingredientes concentrados, sendo assim, a escolha dos materiais

genéticos para produção de silagens deve recair não só sob o fato do mesmo

ser adaptado à determinada região geográfica e ser mais produtivo, mas sim

sob o aspecto de minimizar o custo da ração total à ser fornecida aos animais.

Page 20: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

2.3.1. Escala de Semeadura, Programação do Corte e Ponto de

Colheita

O planejamento da semeadura das áreas de produção deve seguir de

acordo com as perspectivas de colheita futura e estar em sincronismo com o

ponto de colheita desejado. De acordo com NUSSIO e MANZANO (1999) a

planta de milho, dependendo do tipo do híbrido e das condições edafo-

climáticas, apresenta gradiente de maturação com velocidade variável. Esse

fato determina a definição de uma “janela de corte”, ou seja, período útil de

trabalho para colheita da forragem dentro de um gradiente de maturidade

desejado. Após o estádio de grãos leitosos, o material sofre aumento de 0,5%

por dia, no teor de matéria seca, determinando a necessidade de 10 dias, como

intervalo adequado para o corte na evolução de cinco unidades percentuais em

matéria seca (30-35%).

Esse período compreende estádios fisiológicos de maturação da planta,

cujos gradientes no teor de umidade da planta (70-65%) e textura do grão

(linha do leite 1/3 à 2/3) são considerados aceitáveis para a maximização da

eficiência do processo fermentativo no silo.

Como média da região Sudeste do Estado de São Paulo, somente 60%

do período descrito como ideal para colheita da forragem é efetivamente

utilizado, devido as conseqüências do período chuvoso, assim dos 10 dias de

evolução fisiológica, somente 6 dias serão úteis para o corte.

Para grandes áreas agrícolas destinadas à produção de silagem, são

sugeridas duas épocas de semeadura. A primeira época (35-40%) de

semeadura deve ser efetuada de setembro em diante, com o plantio de

híbridos de ciclo precoce, e a segunda época (60-65%) com o plantio de

híbridos de ciclo normal, a partir de meados de outubro, nas regiões Central e

Sudeste do Brasil.

Como exemplo, podemos assumir que se a eficiência de corte de uma

máquina forrageira de uma linha é de 10 ton./hora e a jornada de trabalho de

10 horas/dia, seriam então trazidas ao silo cerca de 100 toneladas/dia. Numa

área hipotética de 120 hectares, com produção média de 40 ton. massa/ha, e a

operação de corte com quatro colhedoras de forragem simultâneas, ou seja,

Page 21: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

cerca de 400 toneladas de massa verde colhidas por dia (10 horas), seriam

necessários aproximadamente 5 dias para colheita de 48 hectares (40% da

área – precoce) e 7 dias para os 72 hectares restantes (60% - normal).

O milho deve ser cortado para ensilagem quando apresentar 30 a 35% de

matéria seca, ou seja, no ponto em que os grãos estiverem variando entre a

textura pastosa (1/4 a 1/3 da linha do leite) até farináceo-duro (2/3 a 3/4 da

linha do leite), sendo a amplitude de período de colheita de aproximadamente 6

dias, dependendo do híbrido utilizado e condição climática (Figura 5).

Figura 5 – Pontos de colheita do milho para ensilagem.

O corte do milho no ponto de pamonha (grão leitoso), com a planta

apresentada entre 24-28% de matéria seca, resulta em menor produção de

matéria seca e silagem de baixa qualidade. Silagem produzida com o milho

nesse ponto apresenta fermentação indesejável, alta umidade, baixo pH e

baixo teor de grãos, apesar de elevado nível de açúcares solúveis. O consumo

voluntário dessa silagem é reduzido, cerca de 75% do consumo observado em

silagens mais ecas, o que resulta em limitação do desempenho do animal.

Como regra geral, o ponto ideal de colheita ocorre 30 dias após o ponto de

pamonha (grãos leitosos), quando as plantas apresentam as palhas da espiga

externamente amarelecidas, os grãos do meio da espiga se apresentam

denteados e a seção longitudinal revela a linha do leite de 1/3 até 2/3.

Além das particularidade citadas acima, é necessário que o produtor

tenha experiência na condução da cultura de milho, uma vez que a negligência

em qualquer fase do processo (calagem, adubação de plantio, tratos culturais,

tamanho de corte, compactação, vedação, etc.) podem acarretar elevação do

Page 22: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

custo de produção, que hoje se situa ao redor de R$ 54,80 / tonelada de massa

verde.

3. Interações entre Pasto e o Volumoso Suplementar

Conforme descrito anteriormente, na maioria das situações, a forragem

disponível nas pastagens não contém todos os nutrientes essenciais e na

proporção adequada, de forma a atender integralmente as exigências dos

animais em pastejo. Contudo, as tentativas de se corrigir o desbalanceamento

de nutrientes pela manipulação da composição dos suplementos são de valor

limitado, exceto em relação ao uso de minerais a fim de controlar desordens

metabólicas.

Em muitos sistemas de produção de ruminantes, que tem como base a

exploração intensiva de pastagens, nutrientes suplementares são necessários

para se obter níveis aceitáveis de desempenho, sendo um desafio constante

predizer com eficiência o impacto que o fornecimento destes nutrientes terá

sobre o animal (REIS et al., 1996, MOORE et al., 1999).

Considerando que o objetivo principal da suplementação é maximizar a

utilização da forragem disponível, deve-se ter em mente que o suplemento não

deve fornecer nutrientes além das exigências dos animais (PARSONS e

ALLINSON, 1991; PATERSON et al., 1994). Através do fornecimento de todos,

ou de alguns nutrientes específicos, que resultarão no consumo de maior

quantidade de matéria seca (MS) e no aumento na eficiência de sua digestão,

pode-se atingir os objetivos esperados com a suplementação (SIEBERT e

HUNTER, 1982, HODGSON, 1990, HUTER, 1991).

De acordo com MOORE (1980) o fornecimento de suplementos

apresenta efeito associativo em relação à utilização da forragem disponível na

pastagem, ou seja, acarreta mudanças na digestibilidade e ou consumo do

volumoso da dieta basal, podendo-se observar o efeito substitutivo, aditivo e

combinado (Figura 6). O efeito substitutivo refere-se a manutenção do nível de

ingestão total de energia digestível, através da ingestão constante de

suplemento, mas com decréscimo no consumo de forragem proveniente das

pastagens. Por outro lado, quando se observa o efeito aditivo, tem-se aumento

no consumo total de energia digestível, sem se observar decréscimo na

Page 23: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

ingestão da forragem proveniente da pastagem. No efeito combinado, observa-

se elevação no consumo de energia digestível do suplemento e também

decréscimo no consumo de forragem.

Figura 6. Representação dos tipos de efeito associativo (MOORE, 1980).

Quando um suplemento é fornecido, o consumo de forragem dos

animais mantidos em pastagens pode permanecer inalterado, aumentar ou

diminuir, sendo que as respostas, muitas vezes, dependem da quantidade e da

qualidade da forragem disponível (HODSON, 1990, MOORE et al., 1999). Em

condições práticas, há poucas situações nas quais o fornecimento de

concentrados ou de forragens conservadas atuam como verdadeiros

suplementos, ou seja, são consumidos sem acarretar diminuição no consumo

da forragem disponível nas pastagens. A resposta na produção de animais em

pastejo ao uso de suplementos é, provavelmente, influenciada pela

disponibilidade e qualidade do pasto e características do suplemento, bem

como pela maneira de seu fornecimento e pelo potencial de produção dos

animais (SIEBERT e HUNTER, 1982; MOORE et al., 1999).

Em condições de pastagens com baixa disponibilidade de forragem, a

suplementação energética poderá resultar em maior resposta animal,

particularmente se o volumoso suplementar for rico em fibra de alta

digestibilidade (REIS et al., 1996). Todavia, se houver forragem em abundância

no pasto, ocorrerá resposta animal somente se a forragem disponível for de

baixo valor nutritivo, uma vez que se observa alto nível de substituição

(SIEBERT e HUNTER, 1982).

Page 24: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

4. Desempenho de Bovinos em Pastejo Recebendo Volumosos

Suplementares

De maneira geral, pode-se inferir que são poucos os trabalhos de

pesquisa que utilizam a suplementação volumosa como estratégia na produção

de bovinos em pastagens. Contudo, atualmente, os produtores têm buscado

alternativas que minimizem os custos de produção e o pronunciado efeito da

estacionalidade da produção forrageira sobre a taxa de lotação das pastagens,

especialmente em sistemas intensivos (NUSSIO et al., 2000).

Considerando que o objetivo principal da suplementação é maximizar a

utilização da forragem disponível, deve-se ter em mente que o suplemento não

deve fornecer nutrientes além das exigências dos animais. Através do

fornecimento de todos, ou de alguns nutrientes específicos, que resultarão no

consumo de maior quantidade de matéria seca (MS) e no aumento na

eficiência de sua digestão, pode-se atingir os objetivos esperados com a

suplementação volumosa.

Em condições de pastagens com baixa disponibilidade de forragem, a

suplementação energética poderá resultar em maior resposta animal,

particularmente se o volumoso suplementar for rico em fibra de alta

digestibilidade (REIS et al., 1996). Todavia, se houver forragem em abundância

no pasto, ocorrerá resposta animal somente se a forragem disponível for de

baixo valor nutritivo, uma vez que se observa alto nível de substituição.

Embora o efeito substitutivo seja necessário, quando se trabalha em

condição de baixa oferta de forragem proveniente das pastagens, é necessário

considerar a qualidade da forragem conservada, uma vez que esta terá que

suprir a demanda de nutrientes dos animais, mantendo os níveis de produção

registrados durante o período de intenso crescimento das plantas. Portanto, a

produção e conservação de forragem de alto valor nutritivo, são de extrema

importância para se garantir a continuidade da oferta de forragem durante o

período de escassez de pasto, permitindo aos animais plenas condições para

expressarem seu potencial genético (REIS e ROSA, 2001).

Page 25: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

VIGLIZZO (1981) observou que a resposta à suplementação com

alimentos volumosos esta relacionada com sua qualidade (Tabela 04),

identificando maiores alterações na produção animal com a utilização de

silagens de alta qualidade ou com o fornecimento da planta de milho verde.

A análise dos dados da Tabela 5 evidenciam os baixos ganhos de peso

de animais mantidos em pastagens de gramíneas de clima tropical durante o

período de escassez de forragem, podendo-se observar que o fornecimento de

volumosos (LIMA et al., 1973; VALVASORI et al., 1986) e de volumosos

associados a concentrados (BENINTENDI e ANDRADE, 1982; VALVASORI et

al., 1986) resultou em aumento no desempenho dos animais.

Tabela 4. Produção de leite de vacas recebendo diferentes tipos de volumosos como suplemento.

Suplementos Resposta

Kg de leite/kg de MS do suplemento

Feno de baixa qualidade -0,009 Silagem de pasto de baixa qualidade 0,272 Silagem de pasto de boa qualidade 0,481 Silagem de milho 0,532 Milho verde (Planta inteira) 0,568 Adaptado de Viglizzo, 1981.

Tabela 5. Ganho de peso de bovinos mantidos em pastagens e suplementados com

diferentes tipos de alimentos durante o período seco. Pastagem Animal Suplemento Ganho

(kg/dia) Referência

Colonião Novilhas ------- 0,16 Lima et al., 1973 Silagem de sorgo 0,31 Capim elefante 0,27 Cana-de-açúcar 0,26 Colonião Novilhos --------- 0,007 Benintendi e Feno jaraguá + FS 0,22 Andrade, 1982 Silagem de milho + FS 0,15 MDPS 0,26 FS 0,13 B. decumbens Novilhas -------- 0,37 Valvasori et al., 1986 Feno braquiária 0,45 Cana + MDPS+ CF 0,57 MDPS= Milho desintegrado com palha e sabugo, CF= Cama de frango, FS= Farelo de soja.

Page 26: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

Deve-se considerar, que nos trabalhos consultados não há informações

sobre o consumo e digestibilidade da forragem proveniente das pastagens, não

permitindo o cálculo dos coeficientes de substituição. Todavia, segundo REIS

et al. (1996), considerando a qualidade da forragem disponível e as

características dos suplementos utilizados, provavelmente ocorreu alto efeito

substitutivos em decorrência da suplementação.

LIMA et al. (1973) estudaram o uso de três volumosos para

suplementação de novilhas recriadas em pastagens de capim Colonião,

fornecendo 10 kg por cabeça /dia de cada volumoso, além de um tratamento

testemunha (sem suplementação). Dentre os volumosos avaliados a silagem

de sorgo apresentou o melhor desempenho (0,314 kg/dia) seguido do capim

elefante e da cana-de-açúcar que apresentaram respectivamente as seguintes

taxas de ganho em peso (0,277 e 0,26 kg/dia). Todos os tratamentos que se

utilizaram volumosos suplementares foram superiores ao tratamento

testemunha que apresentou ganho médio diário de 0,16 kg/dia.

O efeito da qualidade da pastagem sobre o desenvolvimento ponderal e

reprodutivo de novilhas Canchim foi estudado por MANZANO et al. (1993) e

MANZANO et al. (1994). Estes autores avaliaram o efeito da suplementação

em duas fases de vida da fêmea Canchim, recriadas em pastagens de

Brachiaria decumbens associada ao capim Pangola (Digitaria decumbens) e a

grama Batatais (Paspalum notatum). Estas bezerras foram suplementadas por

92 dias, de junho a setembro, dos 8 aos 12 meses de idade (1a

suplementação) e dos 18 aos 22 meses deidade (2a suplementação). Os

tratamentos utilizados consistiram na testemunha sem suplemento; 0,7 kg de

farelo de soja/cab./dia (suplemento protéico); cana-de-açúcar à vontade

(suplemento energético) e cana-de-açúcar à vontade + 0,7 kg de farelo de soja

(suplemento proteico/energético). O experimento foi conduzido por três anos

consecutivos de forma que 2 lotes de novilhas fossem avaliadas para averiguar

possíveis efeitos de ano sobre os parâmetros avaliados. Os autores

observaram que os efeitos da suplementação sobre as idades à puberdade e

aos 300 kg das novilhas dependeram das condições das pastagens que

variaram entre os anos.

Page 27: 1. Introdução Apesar do Brasil deter um dos maiores rebanhos

O uso da cana + FS ou do FS exclusivo, no primeiro ano de experimento,

aumentou o desempenho dos animais em relação aos animais testemunha

daqueles suplementados apenas com cana à vontade. Este fato demonstra que

houve restrição associada ao nível de proteína da forragem.

No segundo ano, os autores observaram que os animais suplementados

com cana + farelo de soja, obtiveram ganho de peso inferior àqueles

submetidos aos outros tratamentos (0,459 kg/cab./dia vs. 0,048 kg/cab./dia),

evidenciando que tanto a deficiência de proteína (% MS) quanto a deficiência

de energia (quantidade e qualidade da MS) foram limitantes para os animais

em crescimento mantidos em pastagens no período seco.

CORRÊA e CORDEIRO (2000) forneceram silagem de capim Tanzânia e

Coast-Cross produzida dentro do próprio sistema de produção

(EMBRAPA - CPPSE), onde os animais tinham livre acesso a pastagem e a

silagem durante o período da seca, verificaram que o consumo das silagens foi

considerado elevado, atingindo praticamente 2% de matéria seca em relação

ao peso vivo dos animais, resultando em ganho de peso médio de 200

g/animal/dia.

No caso do sistema de produção utilizando o capim Tanzânia (recria-

engorda), ainda CORRÊA e CORDEIRO (2000) obtiveram bovinos da raça

Canchim com peso vivo de abate na faixa de 450 Kg aos 19-20 meses de

idade. No período das águas, a alimentação constituiu somente de forragem

pastejada, proporcionando em média de ganho de 850 g/animal/dia. No

período de seca, a dieta dos animais foi a forragem pastejada mais a silagem

produzida com o excesso de forragem obtida no período anterior e 0,5 Kg de

farelo de soja, resultando em ganho médio de 440 g/animal/dia.

OLIVEIRA (1985) em estudo com novilhas mantidas em pastagens e

suplementadas exclusivamente com cana-de-açúcar e uréia verificaram ganhos

de peso diário da ordem de 0,19 a 0,30 kg/dia, respectivamente.

Outras opções podem ser citadas, dentre as quais, destaca-se a cana-de-

açúcar corrigida com 1% da mistura uréia + sulfato de amônio, na proporção de

9:1, capaz de permitir a manutenção dos animais ou pequenos ganhos, da

ordem de 100 a 150 gramas/dia. De acordo com TORRES et al., (1991)

trabalhando com novilhas Holandês-Zebú suplementados ou não com cana-de-

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açúcar e uréia e observaram ganho de peso diário de - 0,19 e 0,13

kg/animal/dia, respectivamente para cada grupo.

5. Considerações Gerais

→→→→ A cultura da cana-de-açúcar deve ser tecnicamente bem estabelecida e

manejada para obter altas produções por hectare. È um recurso alimentar

com grande capacidade para incrementar a produção de bovinos nas

regiões tropicais, desde que suplementada com fontes de proteína (uréia) e

enxofre (sulfato de amônio e/ou sulfato de cálcio), além de análise das

limitações estruturais e econômicas da propriedade;

→→→→ A conservação de forragens como silagem envolve processos bioquímicos e

microbiológicos complexos, da colheita até a sua utilização na alimentação

animal. O uso de gramíneas forrageiras pertencentes aos gêneros Panicum,

Brachiaria, Cynodon e Pennisetum aparecem como alternativas para

ensilagem, contribuindo para aumentar o aproveitamento do excedente de

forragem e minimizando o custo final de produção. No entanto, a baixa

concentração de matéria seca, de carboidratos solúveis e a elevada

capacidade tampão parecem ser fatores limitantes à ensilagem dessas

forrageiras, o que pode ser manipulado através do processo de pré-

secagem e/ou a inclusão de aditivos com características de absorção de

água e incorporação de carboidratos melhorando assim o padrão de

fermentação na ensilagem;

→→→→ A silagem de milho é tida como alimento nutricionalmente completo, pois

associa elevada densidade energética, médio teor de proteína bruta e boa

composição mineral. Um aspecto importante relacionado à qualidade da

silagem de milho diz respeito à porcentagem de grãos no material final, uma

vez que quanto maior esse valor, menor será o gasto com alimentos

concentrados. Além disso, é necessário que o produtor tenha experiência

na condução da cultura, uma vez que a negligência em qualquer fase do

processo (calagem, adubação de plantio, tratos culturais, etc.), pode

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acarretar elevação do custo de produção e inviabilizar a adoção desse

alimento volumoso no sistema de produção;

→→→→ A cultura de sorgo tem sido largamente utilizada para ensilagem, por sua

facilidade de cultivo, altos rendimentos por área e especificamente pela

qualidade da silagem obtida, sem necessidade de aditivos no processo de

ensilagem. Além disso, o sorgo possibilita maior flexibilidade no momento

de ensilagem, já que permanece por mais tempo no ponto de colheita e

permite obtenção de silagens com custo inferior, quando comparado ao

milho.

Associado a estas informações há ainda que se considerar os aspectos

relacionados a estrutura da propriedade, eficiência das máquinas e

equipamentos nos sistemas de colheita, processamento e conservação de

forragem, sendo necessário portanto, o acompanhamento por um técnico de

confiança, desde o planejamento da cultura até a avaliação da qualidade da

forragem produzida e dos custos envolvidos na produção do alimento

volumoso.