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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 12 1. INTRODUÇÃO A presente dissertação surge no âmbito do Curso de Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª Edição), da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, sob a orientação do Prof. Doutor José Ferro, e com vista a obtenção do Grau de Mestre em Cuidados Paliativos. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em todo o mundo, havendo no entanto diferenças na incidência, prevalência e mortalidade nos diferentes países. Em Portugal, o Acidente Vascular Cerebral é a primeira causa de morte e a principal causa de incapacidade nas pessoas idosas. 33 O AVC pode ser definido como o desenvolvimento rápido de sinais clínicos de distúrbios focais (ou globais) da função cerebral, com sintomas que perduram por um período superior a 24 horas ou conduzem à morte, sem outra causa aparente que a de origem vascular. As manifestações clínicas dependem do território vascular e área cerebral afectada podendo deixar sequelas mais ou menos incapacitantes, se a morte não sobrevier nas primeiras horas ou dias.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 12

1. INTRODUÇÃO

A presente dissertação surge no âmbito do Curso de Mestrado em Cuidados

Paliativos (6ª Edição), da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, sob a

orientação do Prof. Doutor José Ferro, e com vista a obtenção do Grau de Mestre

em Cuidados Paliativos.

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morbilidade e

mortalidade em todo o mundo, havendo no entanto diferenças na incidência,

prevalência e mortalidade nos diferentes países.

Em Portugal, o Acidente Vascular Cerebral é a primeira causa de morte e a principal

causa de incapacidade nas pessoas idosas. 33

O AVC pode ser definido como o desenvolvimento rápido de sinais clínicos de

distúrbios focais (ou globais) da função cerebral, com sintomas que perduram por

um período superior a 24 horas ou conduzem à morte, sem outra causa aparente

que a de origem vascular.

As manifestações clínicas dependem do território vascular e área cerebral afectada

podendo deixar sequelas mais ou menos incapacitantes, se a morte não sobrevier

nas primeiras horas ou dias.

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O AVC constitui um acontecimento fortemente stressante, quer pela

imprevisibilidade do seu aparecimento, pelas sequelas que habitualmente deixa e,

finalmente pela reorganização individual e familiar que exige.

O doente com AVC pode ver-se confrontado com diversas alterações quer motoras,

sensoriais e cognitivas que se podem prolongar por períodos muito variáveis.

Um terço dos doentes que sobrevivem a um acidente vascular cerebral agudo ficam

com incapacidade importante e 10% ficam incapacitados de viver na comunidade,

necessitando dos cuidados de terceiros, em geral devido a uma combinação de falta

de apoios sociais e incapacidade grave, muitas vezes incluindo demência 82.

O aumento do conhecimento científico, e o aparecimento de novas terapêuticas

farmacológicas, cirúrgicas e neuro-radiológicas modificaram a abordagem da doença

vascular cerebral. O tratamento do AVC na fase aguda mudou drasticamente nos

últimos anos, passando de uma atitude niilista para uma abordagem interventiva.

No entanto, apesar de todo o avanço tecnológico, existem doentes que não irão

sobreviver à fase aguda do AVC. Alguns estudos referem que a mortalidade

hospitalar pode variar entre 17 e 30% nos doentes internados por AVC, na fase

aguda. 82

Embora seja a primeira causa de morte em Portugal, a mortalidade tem vindo a

decrescer nas últimas décadas, devido ao avanço da medicina preventiva e aos

cuidados sistematizados e protocolos de actuação durante o internamento nas

Unidades de AVC.

Num estudo levado a efeito pela Direcção-Geral da Saúde em colaboração com os

Hospitais públicos do Continente, com todos os doentes internados com o

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diagnóstico de AVC, durante o mês de Março de 1996 (foi obtida informação sobre 1

568 doentes), verificou-se que, durante o internamento, faleceram 158 doentes

(10,1%), até aos 30 dias pós AVC.33

Tal como foi referido anteriormente, o AVC é a primeira causa de morte em Portugal,

sendo que aproximadamente 30% morrem no primeiro ano após o evento vascular.

Os Cuidados Paliativos inicialmente vocacionados para o tratamento de doentes em

fase avançada de doenças crónicas, têm actualmente como objectivo prevenir e

aliviar o sofrimento e dar a melhor qualidade de vida aos doentes e suas famílias,

independentemente do estadio da doença, desde que não haja perspectiva de cura.

No Programa Nacional de Cuidados Paliativos, os Cuidados Paliativos são

dispensados com base nas necessidades dos doentes e não apenas no diagnóstico

ou no prognóstico, pelo que podem ser introduzidos de forma estruturada em fases

mais precoces da doença (qualquer que ela seja), mesmo quando outras

terapêuticas, cuja finalidade é prolongar a vida, estejam a ser utilizadas.36

Apesar destes dados, o que verifico na minha experiência profissional, é que os

doentes com AVC e seus familiares não são alvo de Cuidados Paliativos.

A prestação de Cuidados Paliativos aos doentes que se encontram na fase aguda

da sua doença, é ainda um tema sobre o qual pouco se sabe.

Apesar do Acidente Vascular Cerebral ser uma das principais causas de mortalidade

em todo o mundo, com o avanço tecnológico, o foco de actuação centra-se na

intervenção com intuito curativo, pelo que a prestação de Cuidados Paliativos é

ainda um tema pouco estudado.

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Sabendo que os Cuidados Paliativos se destinam a pessoas que enfrentam

problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico

limitado, através da prevenção e alívio do sofrimento, da preparação e gestão do fim

de vida e do apoio no luto, com recurso à identificação precoce e tratamento

rigoroso dos problemas não só físicos mas também psicossociais e espirituais no

sentido de melhorar a qualidade de vida dos doentes e suas famílias (OMS), e tendo

portanto, à partida, os doentes com AVC critérios de inclusão nestes cuidados,

porque será que estes doentes não são referenciados, em Portugal, de forma

sistemática? Será esta a realidade noutros países? Será que os doentes com AVC

em fase aguda têm critérios de inclusão nos Cuidados Paliativos?

O Programa Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP), ao assumir a filosofia e o

conceito dos Cuidados Paliativos, representa a resposta legislativa aos doentes sem

perspectiva de tratamento curativo; aos que têm rápida progressão da doença e

expectativa de vida limitada, àqueles que apresentam intenso sofrimento e ainda

problemas e necessidades de difícil resolução, exigindo apoio específico, organizado

e interdisciplinar que abranja a família, mesmo na fase de luto. Esta perspectiva

viabiliza-se através de quatro “áreas fundamentais” ou pilares: Controlo de

Sintomas; Comunicação Adequada; Apoio à Família; Trabalho em Equipa.

Desta definição, de acordo com Neto (2006), são de destacar alguns aspectos:

Os Cuidados Paliativos afirmam a vida e aceitam a morte como processo natural,

excluindo radicalmente, quer a eutanásia, quer a obstinação terapêutica; têm como

objectivo central o bem-estar e a qualidade de vida do doente; promovem uma

abordagem global e holística do sofrimento humano; são oferecidos com base nas

necessidades e não apenas no prognóstico ou no diagnóstico; têm a preocupação

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de abrangerem as necessidades das famílias e dos cuidadores, prolongando-se pelo

período de luto; utilizam ferramentas científicas e integram-se no Sistema de Saúde.

A diversidade das necessidades do doente na fase final de vida, bem como da

família e dos cuidadores, associada à complexidade que esse sofrimento encerra

em si e nas suas abordagens, tornam necessário o trabalho em equipa

multiprofissional, tendo como elementos o médico, o enfermeiro, o psicólogo, o

assistente social, o nutricionista e o assistente espiritual79.

Considerei pois pertinente desenvolver este trabalho de investigação para recolher

informação sobre a existência de estudos acerca da prestação de Cuidados

Paliativos a doentes com AVC em fase aguda.

Este estudo tem por título:

Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Defini a seguinte questão de investigação:

“São prestados Cuidados Paliativos aos doentes com AVC em fase aguda?” De que

tipo?

“Quais os doentes com AVC em que há necessidade de Cuidados Paliativos?”

O objectivo específico deste estudo é:

• Identificar a literatura existente sobre a prestação de Cuidados Paliativos a

doentes com AVC em fase aguda

• Identificar os critérios de referenciação dos doentes com AVC em fase aguda

à Equipa de Cuidados Paliativos

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Pretendo então, obter informação que me permita uma reflexão orientada para

desenvolver e melhorar as formas de organização dos cuidados de enfermagem

prestados, para responder a critérios de qualidade assistencial aos doentes

internados com AVC, na fase aguda.

Inicio o enquadramento teórico com a abordagem à patologia Cérebro-Vascular em

fase aguda, e aos Cuidados Paliativos.

Apresento de seguida o referencial teórico para a realização do estudo.

Após a fundamentação teórica, será apresentada a metodologia do presente estudo,

a revisão sistemática da literatura.

Para finalizar, serão apresentados os resultados obtidos através deste estudo, assim

como a discussão dos mesmos, seguido de uma breve conclusão e das referências

bibliográficas.

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2. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

2.1 – O Acidente Vascular Cerebral

O AVC pode ser definido como o desenvolvimento rápido de sinais clínicos de

distúrbios focais (ou globais) da função cerebral, com sintomas que perduram por

um período superior a 24 horas ou conduzem à morte, sem outra causa aparente

que a de origem vascular 38123.

Do ponto de vista anatomopatológico e fisiopatológico, os Acidentes Vasculares

Cerebrais, podem ser divididos em dois grupos: isquémicos e hemorrágicos. O AVC

isquémico está relacionado com a interrupção de aporte sanguíneo a uma região

cerebral após oclusão trombótica ou embólica de um vaso, o AVC hemorrágico está

relacionado com a ruptura de um vaso. Cerca de 80% dos AVC são isquémicos e

20% hemorrágicos.

Tipo de AVC

Isquémico Embólico

Trombótico

Hemorrágico Hemorragia Intracerebral

Hemorragia Subaracnoideia

Fig ! – Tipos de AVC

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O Acidente Vascular Cerebral é também definido como um grupo heterogéneo de

patologias cérebro-vasculares. Embora as manifestações clínicas sejam

semelhantes, consoante o tipo, AVC isquémico ou AVC hemorrágico, cada um deles

apresenta etiologia, mecanismos de instalação, opções terapêuticas e prognósticos

diferentes.

A nível mundial, o AVC é um problema de grande dimensão, por constituir a terceira

causa de morte e de incapacidade permanente, nos países desenvolvidos.

Em Portugal, o Acidente Vascular Cerebral é a primeira causa de morte e a principal

causa de incapacidade nas pessoas idosas.33

Estima-se que, em Portugal, ocorrem 25 mil novos AVC por ano, ou seja,

aproximadamente 70 novos AVC por dia. 40

A taxa de mortalidade por AVC, em Portugal é de 200 por cem mil habitantes (o que

corresponde a morrerem em cada hora dois portugueses), sendo a mais elevada da

União Europeia segundo a Sociedade Portuguesa AVC (2006).

2.2 – As Unidades de AVC e a via verde

O reconhecimento das doenças cardiovasculares como a principal causa de morte

no País levou a que em 2001, a Direcção Geral da Saúde estabelecesse que as

doenças vasculares se constituíam uma prioridade nas suas linhas de actuação e

foram publicadas as recomendações para o desenvolvimento das Unidades de

AVC.33

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A luta contra esta doença foi considerada uma prioridade no Plano Nacional de

Saúde 2004-2010, que apresenta como metas para 2010 a redução da taxa de

mortalidade por AVC dos indivíduos com menos de 65 anos, de 17,9 para 12 por

100.000.35

Na Europa foi elaborado um plano para travar esta doença, que é a 3ª causa de

morte. A Declaração de Helsingborg (na cidade Sueca de Helsingborg, em 1995, um

grupo de peritos, com o patrocínio da Organização Mundial de Saúde, que incluía

médicos de Medicina Interna, Neurologistas, Epidemiologistas, Fisiatras, médicos de

Saúde Pública e Terapeutas prepararam e divulgaram a Declaração de Helsingborg,

que estabelecia um conjunto de metas, para serem atingidas até ao ano 2005) sobre

as estratégias europeias para o AVC, tem como objectivo principal assegurar que

todos os pacientes europeus vítimas de AVC têm acesso a cuidados permanentes

por parte de Unidades especializadas.

Segundo a Declaração de Helsingborg, nas metas para o ano 2005 estabeleceu-se

que:

• Todos os Estados Membros deverão ter estabelecido um sistema

organizado de cuidados do AVC, de modo a reduzir para menos de

20% a proporção de doentes que morre no primeiro mês.

• A incidência do AVC recorrente (fatal e não fatal) em doentes

sobrevivendo 2 anos depois do 1º AVC deverá ser reduzida para

menos de 20%. As mortes devidas a Doença Vascular deverão ser

inferiores a 40%.

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• Todos os doentes deverão ter acesso a medidas de prevenção

secundária apropriadas.

• Todos os doentes com AVC agudo deverão ter acesso a uma unidade

ou equipa especializadas em AVC.

Mais recentemente, a Declaração de Helsingborg actualizada (2006), propõe

algumas metas ambiciosas na área do Acidente Vascular Cerebral até 2015 das

quais realçamos: todos os doentes com AVC deverão ter acesso à continuidade de

cuidados, desde as Unidades de AVC organizadas para a fase aguda até à

reabilitação apropriada e a prevenção secundária, e ainda que, mais de 85% dos

doentes devem sobreviver no 1º mês após o AVC.123

A evolução em Portugal mostra uma tendência favorável à diminuição da

mortalidade dos doentes com AVC que era superior à dos outros países europeus.

O Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares,

refere que no entanto, e apesar do notável decréscimo observado, somos ainda um

dos países da União Europeia que apresenta a taxa de mortalidade mais elevada.32

De acordo com dados do Alto Comissariado da Saúde (DGS, 2010), as mortes

provocadas por AVC, em Portugal, diminuíram 33,9 por cento entre 2000 e 2008.69

Segundo a mesma fonte, em 2009 a taxa de mortalidade padronizada por AVC,

antes dos 65 anos, apurada para Portugal Continental, foi de 9,5 óbitos por 100 000

habitantes, mantendo-se a tendência de decréscimo verificada nos anos anteriores.

Apesar desta tendência, a mortalidade por AVC abaixo dos 65 anos em Portugal

está ainda acima do melhor valor da Europa dos 15 (França: 5,1 óbitos por 100 000

habitantes). 69

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A mortalidade intra-hospitalar por AVC diminuiu 2,6% e aproximou-se 16,0% da

meta definida para 2010 (menos de 13 óbitos por 100 internamentos), em Portugal

Continental, entre 2004 e 2009.

Ano 2001 2004 2009

Mortalidade

intrahospitalar (%) 14.5 15,5 15,1

Tabela 1 - Mortalidade intrahospitalar (Fonte PNS 2004-2010)

As Unidades de AVC têm sido apontadas como uma das formas que mais têm

contribuído para diminuir a mortalidade e morbilidade destes doentes, não só

através de uma intervenção multiprofissional, como de novas abordagens à doença

que passam por uma terapêutica interventiva.

A denominação de Unidade de AVC, significa um sistema de organização de

cuidados prestados aos doentes com AVC numa área geograficamente bem

definida. Uma Unidade de AVC é uma área hospitalar que se ocupa exclusivamente

ou quase exclusivamente de doentes com Acidente Vascular Cerebral, e caracteriza-

se por ter uma equipa de saúde com formação específica e por uma abordagem

multidisciplinar e especializada no tratamento desta patologia.38

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De acordo com a DGS, vários estudos têm demonstrado que estas novas formas

organizativas dos serviços contribuem para mais ganhos de saúde tais como menor

mortalidade e incapacidade dos doentes com AVC.33

Também segundo a European Stroke Organization, está comprovado que o

tratamento de doentes com AVC isquémico em Unidades de AVC reduz

significativamente a mortalidade.38

Nas Guidelines de 2008 da ESO, uma revisão sistemática actualizada confirmou

uma redução significativa na letalidade (redução absoluta de 3%), dependência

(aumento de 5% de sobreviventes independentes) e na necessidade de cuidados

institucionais (redução de 2%) em doentes tratados em Unidades de AVC,

comparados com doentes tratados em enfermarias gerais. Todos os tipos de

doentes, independentemente do género, idade, subtipo de AVC e gravidade do AVC,

parecem beneficiar do tratamento em Unidades de AVC. Estes resultados foram

confirmados em grandes estudos observacionais da prática corrente. 38

O acesso às Unidades de AVC é reconhecido actualmente pela comunidade

científica como o modo mais eficaz de tratar qualquer tipo de AVC.

Há estudos indicadores de que os cuidados organizados prestados nas primeiras 4

semanas, por uma equipe saúde interdisciplinar, resultam numa redução absoluta do

número de mortes.

Bershad (2007), citando uma revisão Cochrane, refere que cuidados organizados

numa Unidade, providenciados por uma equipa multidisciplinar, melhoram o

prognóstico destes doentes quando comparados com os cuidados standard,

diminuindo mesmo a mortalidade. 14,

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Nos últimos anos, de forma análoga ao Enfarte Agudo do Miocárdio, estabeleceu-se

que o Acidente Vascular Cerebral representa uma emergência médica. Foram

analisados os efeitos da terapêutica trombolítica que visa diminuir a mortalidade e

morbilidade destes doentes, em diversos estudos. 2,117, 124

Assim, o tratamento do AVC passou a ser considerado uma emergência, implicando

uma actuação num intervalo de tempo muito preciso e com procedimentos

sistematizados.

Com a aprovação da terapêutica trombolítica, tornou-se necessário o acesso rápido

destes doentes a esta terapêutica pelo que foi criado o conceito de “via verde”.

A via verde pré-hospitalar é uma estratégia organizada que visa a melhoria da

acessibilidade dos doentes na fase aguda da doença aos cuidados médicos mais

adequados de diagnóstico e tratamento dentro da janela terapêutica

confirmadamente mais eficaz, com o objectivo de reduzir morbilidade e mortalidade.

Para agilizar os procedimentos do transporte do doente do local onde se iniciam os

sintomas até ao hospital e deste até à administração daquela terapêutica, criou-se o

conceito de via verde nas suas componentes extra e intrahospitalar.

A implementação da Via Verde do AVC, com inicio a 7 de Maio de 2001, assentou

no pressuposto de que as medidas preconizadas para a sua total concretização

seriam adoptadas de uma forma faseada, particularmente no que se refere aos

hospitais e à abertura das respectivas Unidades.

O Ministério da Saúde, em articulação com o INEM (Instituto Nacional de

Emergência Medica) e alguns hospitais da rede do Serviço Nacional de Saúde,

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dinamizou uma nova metodologia na abordagem destes doentes, designada de Via

Verde do AVC. A Via Verde visa fundamentalmente melhorar a assistência pré –

hospitalar na fase aguda e optimizar o acesso destes doentes às unidades de saúde

adequada, onde lhes possa ser instituído o tratamento definitivo. 87

Pretende-se que os doentes identificados pelos profissionais de saúde como

podendo estar numa fase aguda do AVC, sejam encaminhados via INEM, para as

estruturas hospitalares que estejam em condições de melhor responder à sua

situação.

A redução do tempo de demora entre o inicio dos sintomas e o inicio do tratamento

constitui um objectivo prioritário em todos os programas de AVC, sobretudo do AVC

isquémico, onde a janela terapêutica para a trombólise situa-se actualmente nas

primeiras 4,5 horas após início dos sintomas, segundo o Alto Comissariado para a

Saúde (2007). 69

2.3 – A abordagem do AVC na fase aguda

O AVC isquémico é responsável por cerca de 80% dos casos, e a maioria dos

restantes casos divide-se entre a Hemorragia Cerebral com cerca de 10 a 20% e a

Hemorragia subaracnoideia (HSA) com 5 a 10%.

O aumento do conhecimento fisiopatológico e o aparecimento de novas terapêuticas

para o AVC agudo vieram alterar a abordagem destes doentes.38

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Sendo o mais frequente, o AVC isquémico é, desde há uns anos, uma doença

tratável na fase aguda com medicamentos que promovem a recanalização arterial, a

terapêutica trombolítica.

No entanto, para que isto aconteça, os doentes devem ser levados aos serviços de

urgência hospitalares em tempo útil e ser atendidos por equipas vocacionadas, em

salas de emergência e Unidades de AVC.

Assim, a rápida identificação do tipo de AVC, como isquémico, hemorrágico ou

Hemorragia Subaracnoideia (HSA), é essencial para a abordagem do AVC, e esta

identificação pode influenciar a utilização de tratamentos específicos.

Perante um doente com diagnóstico de AVC, um processo ordenado de avaliação e

tratamento deve ser seguido, pois o primeiro objectivo é evitar ou reverter a lesão

cerebral.

Bershad (2007), refere que as primeiras 24h após o início dos sintomas, são críticas

na determinação do prognóstico. Agir rapidamente e com eficácia juntamente com o

uso de tecnologia avançada na neuroimagem, e tecnologia endovascular, alarga as

opções terapêuticas a um maior número de doentes, diminuindo a morbilidade e

mortalidade atribuída ao AVC.14

Temos assistido nos últimos anos a avanços significativos no tratamento agudo do

AVC, no que diz respeito ao estabelecimento do conceito de AVC como uma

emergência médica, à eficácia da trombólise ser efectuada nas primeiras 4h30 e ao

reconhecimento baseado na evidência, de que o tratamento dos doentes com AVC

em Unidades, reduz a mortalidade, a dependência a curto e longo prazo e os custos

inerentes ao tratamento destes doentes

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Alguns autores referem que os cuidados sistematizados e os protocolos de actuação

durante o internamento, com monitorização dos parâmetros vitais e do estado

neurológico, utilizando escalas de avaliação neurológica, levam a uma menor

mortalidade nestes doentes. 82

Nas últimas décadas temos assistido a um progresso acentuado quer nas

terapêuticas farmacológicas quer nos procedimentos diagnósticos e terapêuticos

quer ainda nos cuidados prestados a estes doentes.

A imagiologia do cérebro e dos vasos que o irrigam é crucial na avaliação dos

doentes com AVC e AIT (Acidente Isquémico Transitório). A imagem cerebral

distingue AVC isquémico de hemorragia intracraniana e de outras patologias

confundíveis com AVC e identificando não só o tipo como também a causa do AVC,

ajuda a diferenciar entre lesão tecidular irreversível e áreas que podem recuperar,

guiando assim o tratamento de urgência e subsequente e podendo ainda ajudar a

prever o prognóstico. A imagem vascular pode também identificar o local e a causa

da obstrução arterial e identificar os doentes com alto risco de recorrência de AVC.38

Na última década novas opções terapêuticas trombolíticas, endovenosas e intra-

arteriais foram estabelecidas.

Uma vez que cerca de 80% dos AVC são isquémicos, a terapêutica trombolítica é a

terapêutica de eleição e benéfica para doentes seleccionados. Assim, a

administração precoce de terapêutica trombolítica, baseia-se no conceito de que a

restituição precoce da circulação no território afectado, mediante a recanalização de

uma artéria intracraniana ocluída, preserva o tecido neuronal reversivelmente

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danificado levando à recuperação da função neuronal o que reduz a incapacidade

neurológica avaliada clinicamente.

O rtPA (activador do plasminogênio tecidual recombinado) é uma substância que

destrói o trombo (trombolítica) instantaneamente, desobstruindo a artéria, sendo

utilizada já há algum tempo para o tratamento do enfarte agudo do miocárdio.

No entanto, a terapêutica com rtPA intravenoso, só deve ser considerada em

doentes seleccionados.

As recomendações da ESO de 2008, propõem uma janela terapêutica inferior a 3 h

para a administração desta terapêutica. Em Janeiro de 2009, esta janela terapêutica

foi ampliada até às 4h 30, no entanto não foi ainda aprovada pelo INFARMED.

De acordo com as Guidelines internacionais, a terapêutica trombolítica com rtPA (0,9

mg/kg peso corporal, dose máxima 90mg) administrada nas 4,5 horas após a

instalação do AVC, melhora significativamente o prognóstico destes doentes.

Ensaios com rtPA, envolvendo um total de 2889 doentes, mostraram uma redução

significativa no número de doentes falecidos ou dependentes.2, 15, 29

A administração de um agente trombolítico específico para o tratamento do AVC

agudo do adulto, por via intra-arterial pode trazer, em certos casos, um benefício

real, especialmente na oclusão da ACM (Artéria Cerebral Média). Esta conclusão é

baseada em resultados de estudos que testaram o tratamento até às 6h após a

instalação do evento vascular. A trombólise intra-arterial é uma opção terapêutica

para doentes seleccionados que tenham sofrido um AVC major há menos de 6 horas

e que, por outro lado, não sejam candidatos a terapêutica endovenosa com rtPA.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 29

Estes tratamentos requerem, no entanto, que o doente se encontre numa Unidade

de AVC mais diferenciada, com acesso a Angiografia Cerebral e com

intervencionistas qualificados.22, 47

A oclusão aguda da artéria cerebral média nas primeiras 6 horas e a oclusão aguda

da artéria basilar podem ser tratados com terapêutica trombolítica intra – arterial em

centros seleccionados” 38

Em diversos estudos, que avaliavam o benefício da utilização da terapêutica

trombolítica com rtPA, verificou-se aumento da proporção de doentes com melhor

prognóstico, apesar do aumento do número de mortes atribuíveis à Hemorragia

intracraniana.117

Aceita-se hoje em dia, que não só os doentes com AVC isquémico beneficiam de

internamento em Unidades. “ A realidade tem demonstrado que os doentes com

AVC, dispersos por várias enfermarias, não usufruem das sinergias que podem

resultar de uma intervenção multiprofissional”. 33

Assim, as Guidelines recomendam que todos os doentes com AVC sejam tratados

numa Unidade de AVC (Classe I, Nível A); que os sistemas de saúde assegurem

que os doentes com AVC agudo tenham acesso a cuidados médicos de alta

tecnologia e a cuidados cirúrgicos para o AVC quando necessário (Classe III, Nível

B), e que todos os doentes com AVC agudo necessitam de cuidados especializados

multidisciplinares providenciados numa unidade de AVC, e também que doentes

seleccionados necessitarão de intervenções adicionais de alta tecnologia.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 30

Deste modo, os serviços de saúde têm de estabelecer infra-estruturas para que

possam oferecer estas intervenções a todos os doentes que delas necessitem. A

única razão para a exclusão de doentes de unidades de AVC é se a sua condição

não necessitar de cuidados activos. 38

2.4 – Gravidade e prognóstico na fase aguda do AVC

A taxa de mortalidade nos primeiros 30 dias após o Acidente Vascular Cerebral tem

vindo a diminuir devido aos avanços na medicina de emergência e cuidados

prestados aos doentes nesta fase.

No entanto, na fase aguda, que é definida como o primeiro mês depois da

ocorrência do AVC, a mortalidade é considerável.89

Alguns estudos referem que a mortalidade hospitalar pode variar entre 17 e 30%.82

A capacidade de estabelecer um prognóstico com um elevado grau de certeza, na

fase aguda, é um requisito essencial para determinar qual o tratamento/ terapêutica

adequada. 122

De acordo com Ferro (2010), a avaliação da gravidade do quadro clínico inaugural é

essencial na previsão do prognóstico vital e funcional, da duração da hospitalização

e do tipo de cuidados que o doente vai necessitar. 39

A gravidade do quadro inicial pode, no entanto, variar muito. Nas lesões isquémicas,

depende essencialmente do calibre do vaso afectado e da circulação colateral

fornecida por outras artérias à volta da área afectada.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Nas Hemorragias cerebrais, o local e o volume do hematoma condicionam a

apresentação do quadro e a sua evolução.

Os predictores de prognóstico nos doentes com AVC têm diversas aplicações

importantes tais como suportar decisões terapêuticas.1,72, 96,105,120

Segundo Wijdicks, os estudos disponíveis sobre os predictores de prognóstico em

doentes com AVC grave, devem ser interpretados com precaução, não existindo na

investigação um quadro/tabela de pontuação possível. Há no entanto, alguma

evidência de que a clínica e os achados radiológicos podem prever um mau

prognóstico, após um AVC grave. Em muitos AVC devastadores, a presença de

coma e perda de reflexos do tronco cerebral juntamente com achados de destruição

de estruturas vitais em imagem, é incompatível com significativa recuperação

funcional, apesar da possibilidade de terapêutica agressiva.122

A gravidade do AVC pode ser medida utilizando as escalas de avaliação

neurológica.

Doentes com alteração do estado de consciência devem ser considerados como

apresentando elevado risco de vida. A avaliação sequenciada do estado de

consciência permite a detecção precoce da deterioração neurológica. 57

A escala de Coma de Glasgow, foi publicada oficialmente em 1974, como uma forma

de se avaliar a profundidade e duração clínica de inconsciência e coma. Inicialmente

usada para avaliar o nível de consciência após um traumatismo encefálico, é

actualmente aplicada a diferentes situações. O score, obtido com a avaliação dos

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Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 32

parâmetros de resposta a estímulos, é também utilizado no prognóstico e na

previsão de eventuais sequelas.

A avaliação neurológica de um doente com AVC, pode fazer-se utilizando escalas

como a Canadian Neurological Scale (CNS) ou a National Institute of Health Stroke

Scale (NIHSS).

Estas escalas foram desenvolvidas por uma variedade de razões, incluindo

acompanhar a deterioração neurológica do doente e poder ajustar o prognóstico de

gravidade inicial do AVC em ensaios clínicos.

A Canadian Neurological Scale (CNS) foi desenhada para monitorizar as funções

mentais e motoras dos doentes com AVC. Desenvolvida em 1985 em Montreal,

fornece um método padronizado para detectar deterioração neurológica que pode

levar à necessidade de uma intervenção precoce. É uma ferramenta que tem sido

recomendada como uma medida padronizada válida e confiável para avaliação de

défices neurológicos no Acidente Vascular Cerebral agudo. As pontuações mais

elevadas da CNS (> 11) tendem a ser associadas com resultado favorável. Menor

pontuação CNS (< 9) tende a ser associada com aumento da morbilidade ou

mortalidade. O score inicial da escala tem um significativo valor preditivo. 25, 105

A escala de AVC do National Institute of Health (NIHSS) é um instrumento de uso

sistemático que permite uma avaliação quantitativa dos défices neurológicos

relacionados com o AVC e é usada para medir a gravidade da disfunção neurológica

no momento do acidente vascular cerebral. Foi inicialmente desenhada como

instrumento de investigação, com o intuito de avaliar o estado neurológico inicial nos

ensaios clínicos realizados na fase aguda do AVC. Actualmente, é utilizada

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 33

generalizadamente na valorização do carácter agudo do AVC, na determinação do

tratamento mais apropriado e na previsão do prognóstico do doente.1, 120

Assim, a NIHSS pode então ser usada como instrumento de avaliação clínica para

documentar o estado neurológico no doente com AVC agudo. Esta escala é válida

para prever o tamanho da lesão e a gravidade do AVC, tem revelado valor

prognóstico, tanto a curto como a longo prazo, nestes doentes. Adicionalmente, a

escala serve ainda para monitorizar o estado do doente, é útil no planeamento dos

cuidados, e permite uma linguagem comum para troca de informações entre os

profissionais de saúde. A NIHSS foi desenvolvida para ser um instrumento simples,

válido e fiável, que pode ser aplicado à cabeceira do doente de forma consistente

por médicos, enfermeiros ou terapeutas.

Esta escala, tem 15 itens de exame neurológico para avaliação do efeito do AVC

agudo no nível de consciência, linguagem, negligência, perda de campo visual,

movimentos oculares, força muscular, ataxia, disartria e perda sensitiva.

A definição de predictores de prognóstico, parâmetros clínicos tais como a gravidade

do AVC (avaliação neurológica com escala NIHSS), depressão do estado de

consciência e localização e extensão da lesão, podem indicar quais os doentes com

mau prognóstico.

Segundo Mohr (Stroke, pathopysiology, diagnosis and management, 2004) uma

escala NIHSS≥ 16 é predictor de uma elevada probabilidade de morte ou severa

incapacidade.70

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Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 34

O AVC hemorrágico, constitui cerca de 10 a 20% de todos os AVC mas acarreta o

mais alto risco de mortalidade. O prognóstico imediato para uma média ou grande

hemorragia é de 30 a 35% de mortalidade nos primeiros 30 dias.

Segundo Brandt (1996), os predictores de mortalidade incluem tamanho da

hemorragia, aumento do hematoma, depressão do estado de consciência na

admissão, baixo score na escala de comas de Glasgow, presença de hemorragia

intraventricular, aumento da tensão arterial, idade avançada e origem infratentorial

da hemorragia. 18

Também Ropper (2005) refere que Broderick and coworkers desenvolveram uma

fórmula que previa o prognóstico com base no tamanho do hematoma: um volume

de 30ml ou menos, calculado na TAC, era predictor de prognóstico favorável. Pelo

contrário, em doentes com hematomas de 60 ml ou mais e um score inicial de 8 ou

menos, na Escala de Comas de Glasgow, a mortalidade era de 90%. No entanto, a

localização da hemorragia, e não só o seu tamanho/ volume, determinavam os

efeitos clínicos.90

O AVC isquémico apresenta cerca de 8 a 20% maior risco de mortalidade nos

primeiros 30 dias. A diminuição da mortalidade sugere por isso, melhoria geral no

manuseamento do AVC agudo, com avanço tecnológico da neuroimagem.

Os predictores de risco de mortalidade no AVC isquémico, estão relacionados com

elevado score na escala NIHSS, depressão do estado de consciência, síndrome

basilar ou hemisférico de grandes dimensões, subtipo (cardioembólico ou

aterotrombótico), e presença de febre, Hipertensão Arterial, Fibrilhação Auricular,

Insuficiência Cardíaca Congestiva ou AVC prévio. 70

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 35

Também segundo Mohr, que refere vários estudos, a gravidade inicial do AVC,

frequentemente medida pela escala NIH é um dos maiores predictores de mau

prognóstico, incluindo mortalidade após o AVC. 70

Num estudo levado a cabo por Saposnik (2008) a gravidade do AVC, a deterioração

neurológica durante o internamento, a não utilização de terapêutica trombolítica e o

facto de o doente não ser admitido numa Unidade de AVC foram os predictores mais

consistentes na mortalidade dos doentes aos 7 e 30 dias.96,97

Têm sido publicadas durante a última década muitas recomendações sobre o

tratamento do AVC ou sobre aspectos específicos dos cuidados no AVC. Diversas

entidades internacionais, entre elas a OMS (Organização Mundial da Saúde), EUSI

(European Stroke Iniciative), IST (International Stroke Society) e Conferência de

Helsingborg, têm vindo a produzir normas que traduzem os consensos sobre a

maneira mais correcta de tratar estes doentes.

Apesar de todo o avanço tecnológico, existem doentes que não irão sobreviver à

fase aguda do AVC.

Começam a surgir na literatura científica referências à necessidade de Cuidados

Paliativos nos doentes que se encontram na fase aguda da sua doença.

As recentes Guidelines americanas já referem a importância de prestar Cuidados

Paliativos, aos doentes que deles necessitem. “Infelizmente, alguns pacientes com

acidente vascular cerebral têm uma lesão cerebral fatal. Essas pessoas criticamente

doentes têm profundas deficiências neurológicas como um estado vegetativo

persistente ou evidência de sinais vitais instáveis. Outros pacientes têm doenças

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 36

graves, preexistentes, médicas ou neurológicas, e o novo evento cerebrovascular

pode adicionar mais deficiência. Apesar das intervenções descritas, compete ao

médico envolver a família e fornecer informações claras sobre a natureza da

doença, o prognóstico e ainda as opções de tratamento…” 2

Nestas Guidelines, é ainda abordada a importância do envolvimento da família nas

decisões, tendo a equipa de saúde o papel de fornecer informações claras sobre a

natureza do AVC, o prognóstico e as opções de tratamento. Em situações de fim de

vida, os profissionais de saúde devem enfatizar as medidas de conforto e apoiar a

família.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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3 - CUIDADOS PALIATIVOS

Os Cuidados Paliativos são os cuidados activos e totais prestados às pessoas cuja

doença não responde ao tratamento curativo, dando prioridade ao controle da dor,

bem como ao controle de outros sintomas, problemas psicológicos, sociais e

espirituais, tendo como objectivo a melhor qualidade de vida para os doentes e suas

famílias, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (1990).79

Por Cuidados Paliativos entendem-se os cuidados activos e totais prestados aos

pacientes com doenças que constituam risco de vida, e suas famílias, realizados por

uma equipa multidisciplinar, num momento em que a doença do paciente já não

responde aos tratamentos curativos ou que prolongam a vida. 114

De acordo com o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (2004), os Cuidados

Paliativos constituem uma resposta organizada à necessidade de tratar, cuidar e

apoiar activamente os doentes na fase final da vida. Pressupõem uma abordagem

holística e multiprofissional, para lidar com os diferentes problemas que o doente e a

família enfrentam.36

3.1 – História dos Cuidados Paliativos

O aumento da longevidade e das doenças crónicas conduziram a um aumento

significativo do número de doentes que não se curam, apesar de todos os

progressos da Medicina, especialmente na 2ª metade do séc. XX.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 38

A intensidade da luta pela busca da cura de muitas doenças e a sofisticação dos

meios associados a essa luta levaram, de algum modo, a uma cultura de “negação

da morte”, de “ilusão de pleno controlo sobre a doença”, relegando para segundo

plano as intervenções na saúde que, longe de garantir a cura, garantissem e

promovessem um final de vida condigno. A morte passou a ser negada e encarada

como uma “derrota” por muitos profissionais de saúde, como falhanço e frustração, e

o treino dos profissionais sofreu, de algum modo, uma desumanização, com menor

enfoque nas questões da “não-cura”.75

Assim, o modelo da medicina curativa, agressiva, centrada no ‘ataque à doença’,

não se coaduna com as necessidades dos doentes cuja doença não responde aos

tratamentos curativos, necessidades estas que têm sido frequentemente

esquecidas.

“O movimento moderno dos Cuidados Paliativos, iniciado em Inglaterra na década

de 60, e que posteriormente se foi alargando ao Canadá, Estados Unidos e mais

recentemente (no último quarto do séc. XX) à restante Europa, teve o mérito de

chamar a atenção para o sofrimento dos doentes incuráveis, para a falta de

respostas por parte dos serviços de saúde e para a especificidade dos cuidados que

teriam que ser dispensados a esta população”.99

Os Cuidados Paliativos surgem em Inglaterra, “em 1967, Cicely Saunders,

enfermeira que posteriormente adquiriu formação médica, funda o St. Christopher´s

Hospice, originando o movimento dos hospices ingleses e sendo hoje reconhecida

como fundadora do movimento dos cuidados paliativos”

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Este movimento tinha como objectivo chamar a atenção para a necessidade de

oferecer cuidados rigorosos, científicos e de qualidade, a um grupo cada vez mais

numeroso de doentes com doenças incuráveis, progressivas e avançadas que,

frequentemente, eram encaradas como doentes a quem já não havia nada a fazer.79

A noção de ‘paliativo’ é, no entanto, conhecida em medicina desde o séc.XVII e

servia para designar toda e qualquer terapêutica que actuasse sobre o sintoma e

não sobre a causa. 99

Inicialmente apenas destinados aos doentes oncológicos e em fases muito

avançadas dessa doença, os Cuidados Paliativos passaram progressivamente a ser

recomendados para todo o tipo de doentes que tivessem necessidades comuns, e

não apenas com base num diagnóstico ou prognóstico.

Hoje em dia, os Cuidados Paliativos assumem-se como um imperativo ético,

organizacional e como um direito humano e uma área de desenvolvimento técnico

fundamental na prestação de cuidados de saúde.

3.2 – Os Cuidados Paliativos em Portugal

Em Portugal, a introdução dos Cuidados Paliativos é bastante mais lenta, com as

primeiras iniciativas a surgirem apenas durante a década de noventa.

Em 2004 foi publicado pelo Ministério da Saúde o Programa Nacional de Cuidados

Paliativos. O Programa indica que os Cuidados Paliativos se desenvolvem em vários

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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níveis e são exercidos por equipas interdisciplinares, prevendo a criação de

unidades de Cuidados Paliativos.36

Em 6 de Junho de 2006, foi publicado o decreto-lei n.º101/2006 que criou a Rede

Nacional de Cuidados Continuados Integrados, instituindo a colaboração dos

Ministérios da Saúde e da Segurança Social na obrigação da prestação dos

cuidados de saúde às pessoas com doenças crónicas incapacitantes e ainda com

doenças incuráveis na fase avançada e no final da vida.

Esta legislação de grande importância veio reconhecer o direito inalienável à

prestação dos Cuidados Paliativos, institucionalizando os serviços destinados a

prover os tratamentos e cuidados activos e organizados às pessoas com doenças

irreversíveis, com sofrimento intenso e na fase final das suas vidas. 66

“Em 2002, a OMS definiu os cuidados paliativos como uma abordagem que visa

melhorar a qualidade de vida dos doentes – e suas famílias – que enfrentam

problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico

limitado, através da prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à identificação e

tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas também dos

psicossociais e espirituais.

Desta definição da OMS, também adoptada entre nós (Programa Nacional de

Cuidados Paliativos, 2004), vale a pena ressaltar alguns aspectos:

• Os Cuidados Paliativos afirmam a vida e aceitam a morte como um processo

natural, pelo que não pretendem provocá-la ou atrasá-la, através da

eutanásia ou de uma obstinação terapêutica desadequada;

• Os Cuidados Paliativos têm como objectivo central o bem-estar e a qualidade

de vida do doente, pelo que s deve disponibilizar tudo aquilo que vá de

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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encontro a essa finalidade, sem recorrer a medidas agressivas que não

tenham esse objectivo em mente;

• Os Cuidados Paliativos promovem uma abordagem global e holística do

sofrimento dos doentes, pelo que é necessária formação nas diferentes áreas

em que os problemas ocorrem – física, psicológica, social e espiritual – e uma

prestação de cuidados de saúde verdadeiramente interdisciplinar. Médico,

Enfermeiro e Assistente Social serão os elementos básicos da equipa mas

são desejáveis outros contributos, equacionados sempre em função das

necessidades do binómio doente-família;

• Os Cuidados Paliativos são oferecidos com base nas necessidades e não

apenas no prognóstico ou no diagnóstico, pelo que podem ser introduzidos

em fases mais precoces da doença – qualquer que ela seja -, quando o

sofrimento é intenso e outras terapêuticas, cuja finalidade é prolongar a vida,

estão a ser utilizadas;

• Os Cuidados Paliativos, tendo a preocupação de abranger as necessidades

das famílias e cuidadores, prolongam-se pelo período do luto. A unidade

receptora de cuidados é sempre doente e família e não devem considerar-se

realidades desligadas;

• Os Cuidados Paliativos pretendem ser uma intervenção rigorosa no âmbito

dos cuidados de saúde, pelo que utilizam ferramentas científicas e se

integram no sistema de saúde, não devendo existir à margem do mesmo.”

O Programa Nacional de Cuidados Paliativos afirma que os cuidados paliativos têm

como componentes essenciais: o alívio dos sintomas; o apoio psicológico, espiritual

e emocional; o apoio à família; o apoio durante o luto e a interdisciplinaridade.

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Os Cuidados Paliativos, tal como são definidos no âmbito do Programa Nacional de

Cuidados Paliativos (2004) destinam-se a doentes que cumulativamente:

• a) não têm perspectiva de tratamento curativo;

• b) têm rápida progressão da doença e expectativa de vida limitada;

• c) têm intenso sofrimento;

• d) têm problemas e necessidades de difícil resolução, que exigem apoio

específico, organizado e interdisciplinar.

Actualmente, os Cuidados Paliativos têm como objectivo prevenir e aliviar o

sofrimento e dar a melhor qualidade de vida aos doentes e suas famílias,

independentemente do estadio da doença ou da necessidade de outros

tratamentos.36

3.3 – Áreas - chave de intervenção dos Cuidados Paliativos

As áreas - chave de intervenção dos Cuidados Paliativos são então:

• Controlo sintomático

• Apoio à família

• Trabalho em equipa

• Comunicação adequada

Estas áreas devem no entanto, ser encaradas como tendo todas igual importância.

3.3.1 - Controlo sintomático

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“os sintomas representam complexos multidimensionais e carecem de uma

avaliação rigorosa e tão objectiva quanto possível. Existem escalas de auto

avaliação de sintomas. A necessidade de controlo rigoroso dos sintomas, pelo que a

sua avaliação e monitorização é fundamental, com instrumentos de registo rigorosos

já validados e largamente difundidos com por exemplo a ESAS (Edmont Symptom

Assessment Scale).

É através do registo e monitorização dos sintomas que se pode avaliar o impacto

das medidas terapêuticas no bem-estar do doente.

O controlo sintomático tem princípios bem definidos e representa não só uma

estratégia de intervenção no sofrimento como também no curso da doença. As

constantes de conforto facilitam a monitorização sintomática” 79

Para Neto (2004), negligenciar o controlo sintomático inviabiliza que o doente possa

encontrar sentido e qualidade na vida que tem ainda para viver, e as questões em

torno do sofrimento e do sentido da vida são centrais na prática dos Cuidados

Paliativos, evitando a futilidade diagnóstica e terapêutica que o Programa Nacional

de Cuidados Paliativos define como os procedimentos diagnósticos e terapêuticos

desadequados e inúteis face à situação evolutiva e irreversível da doença e que

podem causar sofrimento acrescido ao doente e à família.75

Assim, o respeito pelo valor da vida humana não implica necessariamente o dever

de administrar sempre terapêuticas que prolonguem a vida, já que também se deve

aceitar o facto de que a vida é finita e a morte inevitável.79

O acesso precoce dos doentes aos Cuidados Paliativos, tenta assegurar que os

sintomas são adequadamente manuseados.

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Para João Lobo Antunes (2006), reduzir os Cuidados Paliativos ao alívio do

sofrimento físico é esquecer, imperdoavelmente, o sofrimento psicológico e o

padecer existencial.10

3.3.2 – Apoio à família

No contexto sociocultural, a família desempenha desde sempre, um papel

fundamental no desenvolvimento e socialização dos seus membros.

Independentemente da sua estrutura, a família é o lugar onde cada um dos seus

elementos procura encontrar o seu equilíbrio. 46

Como refere Twycross (2003), o apoio à família é parte integrante dos Cuidados

Paliativos.114

O objectivo dos Cuidados Paliativos é assegurar a melhor qualidade de vida possível

aos doentes e sua família. A família deve ser activamente incorporada nos cuidados

presta dos aos doentes e, por sua vez, ser, ela própria, objecto de cuidados, quer

durante a doença, quer durante o luto. 36

Para que aos familiares possam, de forma concertada e construtiva, compreender,

aceitar e colaborar nos ajustamentos que a doença e o doente determinam,

necessitam de receber apoio, informação e educação.

Como refere Guarda (2006), “ a doença de um membro da família é também doença

familiar, pelo que para a equipa terapêutica o doente e a família constituem a

unidade a tratar. A escuta activa e uma relação baseada na verdade e na confiança

são duas formas de prevenção do luto patológico” 46

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O luto é a maior crise pessoal que muitas pessoas têm jamais de enfrentar e, tal

como outros acontecimentos de vida stressantes, tem sérias consequências para um

número substancial de pessoas. O luto não é apenas emocional, é também uma

experiência física, intelectual, social e espiritual. 114

3.3.3– Trabalho em equipa

A equipa é um conjunto de profissionais com uma concepção comum, que elaboram

em conjunto a abordagem aos problemas do doente, que consideram de todos. Os

membros da equipa disponibilizam competências ou capacidades ao serviço de um

interesse comum, através de uma livre expressão e partilha de opiniões, com o

objectivo de realizar uma tarefa determinada.

Para Bernardo (2006) “ os Cuidados Paliativos requerem uma abordagem

transdisciplinar, isto é, os elementos da equipa usam uma concepção comum,

desenham juntos a teoria e a abordagem dos problemas que consideram de

todos”.13

No Programa Nacional de Cuidados Paliativos, os Cuidados Paliativos são

prestados de forma multidimensional e sistemática por uma equipa multidisciplinar,

cuja prática e método de tomada de decisões são baseados na ética clínica.

A interdisciplinaridade representa uma das características fundamentais da dinâmica

do funcionamento dos Cuidados Paliativos, que também integra o doente e a família,

como decorre do próprio Plano Nacional Cuidados Paliativos: “A família deve ser

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Maria João da Silva Duarte Mestrado em Cuidados Paliativos (6ª edição) Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa 46

activamente incorporada nos cuidados prestados e, por sua vez, ser, ela própria,

objecto de cuidados, quer durante a doença, quer durante o luto.” 36

3.3.4 – Comunicação adequada

A comunicação é um dos pilares principais em Cuidados Paliativos, funcionando

como uma estratégia terapêutica de intervenção no sofrimento e controlo de

sintomas associados à doença avançada e terminal.

A eficácia na comunicação consegue-se através de formação padronizada e do

treino de todos os elementos da equipa.

Como nos refere Barbosa (2008) “São tarefas essenciais de comunicação: Captar os

principais problemas do doente e a sua percepção sobre eles; Transmitir o

diagnóstico; Explorar aspectos relacionados com o prognóstico; Captar o impacto

físico, emocional e social sobre o doente e a família; Adequar a informação ao que o

doente quer saber e verificar a compreensão” 10

Qualquer estratégia adoptada para se conseguir uma comunicação eficaz deve ter

em conta que cada doente é único, assim como é única e particular a situação em

que se encontra e o momento que vive.

Também o apoio psicológico, espiritual e emocional é essencial. Tem aumentado a

evidência de que a espiritualidade e a religiosidade são importantes factores que

contribuem para o bem-estar dos doentes em fim de vida.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Para que esta prestação de cuidados seja eficaz, a formação dos profissionais de

saúde é fundamental, pois durante muito tempo achou-se que os Cuidados

Paliativos viviam da compaixão e do apoio moral e que a exigência técnica dos

cuidados era irrelevante. 99

A formação em Cuidados Paliativos, abrangendo os intervenientes multi-

profissionais das equipas, mostra actualmente algum desenvolvimento, e Neto

(2004) 75 afirma que “aquilo a que hoje se chamam cuidados de suporte – cuidados

devidos a todos os doentes que não carecem das terapêuticas com intuito curativo,

em contexto de doença aguda ou crónica, prestados por qualquer profissional de

saúde sem treino específico em Cuidados Paliativos – não deve ser entendido como

cuidados paliativos, já que estes últimos são aqueles prestados por uma equipa

especializada e diferenciada neste tipo de tratamentos àqueles que estão na fase

terminal de uma doença. Os Cuidados Paliativos vão para além dos cuidados de

suporte, na especificidade da sua intervenção e na dos profissionais que os prestam.

Segundo a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (2006), Cuidados

Paliativos são os cuidados prestados aos doentes com doenças que colocam a vida

em risco, prevenindo e aliviando o sofrimento através da detecção precoce,

avaliação adequada e tratamento rigoroso. 7

Como vem citado no Programa Nacional (2004), a complexidade do sofrimento e a

combinação de factores físicos, psicológicos e existenciais na fase final da vida,

obrigam a que a sua abordagem, com o valor de cuidado de saúde, seja, sempre,

uma tarefa multidisciplinar, que congrega, além da família do doente, profissionais

de saúde com formação e treino diferenciados.36

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Para Neto (2010), os Cuidados Paliativos correspondem a cuidados de saúde

estruturados, interdisciplinares, aliando o melhor das competências técnicas que a

Ciência e o Humanismo têm para dar aos doentes em sofrimento decorrente de

doença grave e/ou incurável, avançada e progressiva e aos seus familiares.77

Os Cuidados Paliativos são hoje reconhecidos como um direito humano,

nomeadamente na Comunidade Europeia.

Em Portugal, apesar da legislação existente, Dec Lei 101/2006, Capítulo I, art.º 5º,

ainda nos deparamos com muitas assimetrias na acessibilidade a estes cuidados.

3.4 - Organização dos Cuidados Paliativos

A Organização Mundial de Saúde considera os Cuidados Paliativos como uma

prioridade da política de saúde, recomendando a sua abordagem programada e

planificada, numa perspectiva de apoio global aos múltiplos problemas dos doentes

que se encontram na fase mais avançada da doença e no final da vida.

Na Europa existem diferentes modelos de organização de Cuidados Paliativos bem

como diferenças na disponibilidade de serviços e sua qualidade.

A Associação Europeia de Cuidados Paliativos (EAPC) propõe a estratificação dos

tipos de cuidados em quatro níveis que se distinguem entre si pela capacidade de

responder a situações mais ou menos complexas e pela especialização e formação

dos profissionais

No Programa Nacional de Cuidados Paliativos consideram-se 4 níveis de

organização de cuidados:

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A acção paliativa representa o nível básico de paliação e corresponde

genericamente à prestação de acções paliativas, sem recurso a equipas ou

estruturas diferenciadas, pode ser prestada em internamento, em ambulatório ou no

domicílio, por qualquer profissional clínico e em todos os níveis de instituições e

cuidados de saúde. São fundamentais para dar resposta à maioria das situações

não complexas que os doentes e/ou as suas famílias apresentam.

Os Cuidados Paliativos de nível I, II e III são respostas organizadas e planificadas

Nível I

• São prestados por equipas multidisciplinares, com formação diferenciada em

Cuidados Paliativos, que podem prestar directamente os cuidados ou exercer

funções de apoio técnico a outras equipas;

• Estruturam-se habitualmente como Equipas intra-hospitalares ou domiciliárias

de Suporte em Cuidados Paliativos

Nível II

• Garantem a prestação directa e/ou apoio efectivo nas 24 horas

• Requerem a prestação directa de cuidados por equipas multidisciplinares

alargadas, em que a maioria dos elementos tem a sua base de actividade

na equipa, em que todos têm formação diferenciada em Cuidados

Paliativos e em que os elementos com função de chefia ou coordenação

têm formação avançada em Cuidados Paliativos;

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• Habitualmente, são prestados através de Unidades de Cuidados

Paliativos, com internamento próprio, podendo incluir também cuidados

domiciliários e no ambulatório.

Nível III

Habitualmente correspondem a centros de elevada diferenciação que se assumem

como referência na prestação de cuidados, na formação e na investigação. 36

Podemos dizer que na sequência das alterações que a OMS introduziu no conceito

de Cuidados Paliativos centrando a sua prática nas necessidades dos doentes e não

no seu prognóstico, também os alvos dos cuidados paliativos mudaram.

Actualmente preconiza-se que estes cuidados e os recursos específicos que os

disponibilizem deverão estar vocacionados para cuidarem de doentes oncológicos,

com SIDA, insuficiência terminal de órgãos (coração, rins, fígado, pulmão),

demências, doenças vasculares cerebrais, Esclerose lateral amiotrófica, doenças do

neurónio motor, entre outras. 78

Os Cuidados Paliativos procuram assim, dar resposta às necessidades de pessoas

atingidas por uma doença grave de mau prognóstico.

Inicialmente este tipo de cuidados destinava-se apenas aos doentes com cancro,

nos estádios terminais da doença mas com o desenvolvimento crescente da

paliação e por questões éticas de equidade, justiça e acessibilidade a cuidados de

saúde, foram alargados a outras patologias, entre elas o AVC. Assim, como nos diz

Neto (2009), “os Cuidados Paliativos a pessoas doentes com AVC abrangerão o

controlo sintomático rigoroso (nomeadamente, em problemas como a confusão, a

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dor, as alterações da comunicação e deglutição, a ansiedade e depressão), o apoio

às famílias e aos cuidadores, a intervenção em questões éticas específicas e

complexas (a ponderação sobre as medidas apropriadas e sobre o que é obstinação

terapêutica em cada caso, a suspensão de medidas terapêuticas fúteis) e até a

intervenção no luto” 76

As Guidelines australianas também referem que as equipes de prestação de

cuidados a doentes com AVC devem ser ensinadas a reconhecer os doentes que

poderiam beneficiar de Cuidados Paliativos (Austrália)

Actualmente, o número de serviços e programas de Cuidados Paliativos tem uma

expansão ainda muito limitada. O governo procura desde 2006 incentivar com

medidas mais concretas, incluídas num Programa alargado de Cuidados a doentes

crónicos, esta área de cuidados que, no entanto, continua a ser a menos

desenvolvida. Este documento (PNCP), considera os cuidados paliativos como

constituintes essenciais dos cuidados de saúde gerais, tendo em atenção o

imperativo ético da promoção e defesa dos direitos humanos fundamentais e ser

uma obrigação social em termos de saúde pública. 36

No entanto, Cuidados Continuados e Cuidados Paliativos não são sinónimos.

Cuidados Continuados são aqueles que se destinam aos indivíduos com perda de

autonomia, de qualquer espécie, que lhes cause dependência de terceiros e

limitação na funcionalidade. 75

Importa ainda referir que as acções paliativas constituem um nível básico de

intervenção paliativa, exercido por equipas ou estruturas não diferenciadas.

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Neste sentido a Associação Nacional de Cuidados Paliativos, no documento

respeitante às Recomendações para Organização de Serviços em Cuidados

Paliativos sublinha que estas acções devem ser consideradas claramente distintas

das práticas estruturadas, organizadas e específicas de Cuidados Paliativos que

implicam outros níveis de diferenciação (Cuidados Paliativos de nível I, II, III).

Embora tenha havido grandes avanços nesta área, ainda se encontra difundida

entre nós a ideia de que quando não é possível curar a doença, já não há nada a

fazer. Por isso, muitos profissionais de saúde têm a noção de que os Cuidados

Paliativos apenas devem ser iniciados quando se terminam as terapêuticas com

carácter curativo. Actualmente pretende-se que os Cuidados Paliativos sejam

introduzidos o mais precocemente possível no curso da doença, com vista a

melhorar a qualidade de vida do doente.

Os hospitais de agudos estão vocacionados e estruturados com elevada sofisticação

tecnológica, para tratar activamente a doença. No entanto, quando se verifica a

falência dos meios habituais de tratamento e o doente se aproxima inexoravelmente

da morte, o hospital raramente está preparado para o tratar e cuidar do seu

sofrimento.

Deverão então existir “equipas de suporte” hospitalar, nos hospitais de agudos, sem

camas adstritas para apoiar doentes em fim de vida, nos serviços onde se

encontram internados. Pois mesmo quando a cura não é possível, deve existir

investimento médico e dos outros profissionais envolvidos.

De facto, num ambiente onde predomina o carácter premente da cura ou a

prevenção da doença, torna-se difícil o tratamento e o acompanhamento global dos

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doentes com sofrimento intenso na fase final da vida e a ajuda que necessitam para

continuarem a viver com dignidade e qualidade.

A prática de Cuidados Paliativos requer organização própria e abordagem

específica, prestada por equipas técnicas preparadas para o efeito.

Mantêm-se no entanto algumas questões:

• Quais os doentes que se devem referenciar para Cuidados Paliativos na fase

aguda do AVC?

• De que se compõem esses cuidados?

• Como se avaliam?

• Quais são os resultados dessa avaliação?

Segundo o Plano Nacional de Cuidados Paliativos, estes cuidados não se destinam

a doentes em situação clínica aguda, em recuperação ou em convalescença ou,

ainda, com incapacidades de longa duração, mesmo que se encontrem em situação

de condição irreversível.

Para Neto (Manual) os tratamentos curativos e paliativos não são mutuamente

exclusivos mas assumem ênfases diferentes em função da fase evolutiva da

doença. Embora haja pouca investigação sobre cuidados em fim de vida

especificamente focados nos doentes com AVC, tais cuidados e decisões precisam

ser considerados na abordagem clínica a estes doentes.

Será então que faz sentido propor a introdução destes cuidados na fase aguda do

AVC?

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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4. METODOLOGIA

4.1 – Tipo de estudo

Neste trabalho, foi feita uma revisão sistemática da literatura, identificando artigos

publicados em bases de dados electrónicas internacionais.

A revisão sistemática é uma forma de pesquisa que utiliza como fonte de dados a

literatura sobre determinado tema, e os estudos primários têm sido há décadas uma

forma de gerar conhecimento.3, 24,28,58

Para identificar o que existe actualmente na literatura científica, sobre esta

problemática, realizámos este estudo, pois este é um tipo de estudo útil para

identificar temas que necessitam de evidência, ajudando na orientação de

investigações futuras.

A revisão sistemática da literatura consiste numa forma de síntese dos resultados de

pesquisa relacionados com um problema específico.

Por definição a revisão sistemática requer uma exaustiva, explícita e reprodutível

identificação de toda a evidência relacionada com o tema da revisão. 102

Este tipo de revisão permite seleccionar todos os artigos e estudos mais relevantes

sobre um determinado tema, uma vez que a publicação de informação é contínua.

A revisão sistemática identifica estudos relevantes, avalia a sua qualidade e resume

os seus resultados utilizando uma metodologia científica.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Todos os passos da revisão são explícitos e exaustivos; são minorados os viés de

informação e selecção, a influência dos pontos de vista e convicções pessoais.

4.2 – Estratégia de pesquisa

A estratégia de pesquisa realizada compreendeu uma pesquisa em base de dados,

Cochrane, Pubmed, Cochrane data base of systematic review e Guidelines recentes.

Fizemos uma identificação inclusiva pelo título e resumo de referências relevantes.

Palavras-chave para a pesquisa:

“stroke” , “acute stroke”, “cerebrovascular accident”, “ palliative care”, “end of life

care”

Limitámos as buscas aos doentes adultos, incluindo AVC isquémico e hemorrágico,

em fase aguda. Foram excluídos os doentes não adultos com AVC em fase sequelar

(crónica).

Critérios de selecção Critérios de inclusão Critérios de exclusão

Participantes

Pessoas adultas com AVC

isquémico ou hemorrágico

em fase aguda

Doentes adultos com AVC em

fase sequelar

Intervenção

Cuidados Paliativos/

Cuidados em fim de vida

Sem intervenção de Cuidados

Paliativos

Tabela 2 - Critérios de inclusão/exclusão dos artigos

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Pesquisámos também as referências de publicações relevantes, e fizemos pesquisa

manual de outras fontes (livros, teses, e material não publicado).

A informação recolhida foi:

Informação geral

Autor Título Tipo de publicação

Características do estudo

Finalidade Objectivos Desenho

Características dos

participantes

idade sexo nº tipo de avc

Tipo

Controle sintomático • dor • dispneia • convulsões • delírio

Apoio à família Comunicação Apoio no luto

Intervenções (cuidados

paliativos)

Local Referenciação à equipe de CP

Resultados Método de análise Resultados

Tabela 3 – Informação recolhida dos artigos seleccionados

4.3 - Selecção dos artigos

Os artigos identificados pela estratégia de busca inicial (bases de dados electrónicas

Medline, PubMed, CINAHL, B-on) foram avaliados independentemente por dois

investigadores, conforme os critérios de inclusão (1) população (adultos com

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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diagnóstico de AVC agudo, (2) intervenção (cuidados paliativos), usando os termos

“acute stroke” “ cerebrovascular accident”, “palliative care” “end of life care”.

Procurámos artigos que incluíssem doentes com internamento por AVC até 30 dias,

pelo que excluímos artigos com doentes com AVC em fase sequelar/crónica.

No período de 1966 até 2010, um total de 15 estudos cumpriram os critérios de

inclusão.

Também pesquisámos as referências dos artigos seleccionados.

Fig.2 – Esquema de pesquisa e selecção dos artigos

85 Resumos

12 EBSCO

71 Pub Med

2 Cochrane Library

35 Referências

1 Resumo excluído (em alemão)

34 Referências não relevantes

49 Artigos texto integral

34 Artigos excluídos

23 com AVC não agudo

7 não mencionavam AVC

2 não mencionavam CP

1 era duplicado

15 Artigos incluídos

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Os estudos que cumpriram os critérios de inclusão foram avaliados quanto às

características da população, dos cuidados paliativos (áreas), ao tipo de AVC.

Dos 49 artigos inicialmente identificados, 34 foram excluídos pelas seguintes razões:

Foram excluídos 7 artigos que não mencionavam o Acidente Vascular Cerebral.

Foram excluídos 23 artigos que não mencionavam o Acidente Vascular Cerebral na

fase aguda.

Foram excluídos 2 artigos que não mencionavam os Cuidados Paliativos.

Foi excluído 1 artigo que era duplicado do mesmo estudo.

Foi excluído um artigo de opinião em alemão.

Os artigos excluídos foram, no entanto, analisados para obtenção de possíveis

referências.

Foi utilizado o consenso como método de resolução de discordância entre os

investigadores.

Não foram encontrados resultados usando os termos “Cuidados Paliativos e AVC

agudo”

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5. RESULTADOS

Da pesquisa realizada, foram seleccionados 15 artigos que cumpriam os critérios de

inclusão.

Título Autor Ano/País Publicação 1 - Palliative treatment for stroke Volpe, B

2001/ USA

Neurologic Clinics

2 – The interface between acute and palliative care: acute stroke

Rogers, A

2003/ UK

CINAHL European Journal of Palliative Care

3- Towards a good death: the impact of the care of the dying pathway in an acute stroke unit

Jack, C

2004/ UK

Medline Age and Ageing

4 – Care of the dying stroke patient in the acute setting

Rogers, A 2005/ UK

CINAHL Journal of research in Nursing

5 – Prognosis and decision making in severe stroke

Halloway, R 2005/ USA

JAMA

6 – Palliative care in stroke: a critical review of the literature

Stevens, T

2007/ UK

EBSCO British Nursing Index

7 – Palliative care needs of patients with neurologic or neurosurgical conditions

Chahine, L

2008/ USA

Medline European Journal of Neurology

8 – Palliative care in acute stroke: research findings and recommendations

Payne, S 2008/UK Palliative Neurology

9 – Palliative care and the acute stroke patient

Creutzfeldt, C

2009/ USA

Journal of Hospice and Palliative Nursing

10 –Evaluating an organized palliative care approach in patients with Severe stroke

Blacquiere, D

2009/ Canadá

Medline The Canadian Journal of Neurologic Sciences

11 - End of life decision making in individuals with Locked-in Syndrome in the acute period after brainstem stroke

Anderson, J 2010/ Austrália

Internal Medicine Journal

12 - The last days of dying stroke patients referred to a palliative care consult team in an acute hospital

Mazzocato, C

2010/ Suiça

Pubmed European Journal of Neurology

13 – End of life issues in acute stroke care: a qualitative study of the experiences and preferences of patients and families

Payne, S

2010/ UK

Palliative Medicine

14 – Palliative care consultations in Hospitalized stroke patients

Holloway, R

2010/ USA

Journal of Paliiative Medicine Vol13, nº4:407-412

15 – The palliative care needs of acute stroke patients: a prospective study of hospital admissions

Burton,C

2010/ UK

Age and ageing

Tabela 4 – Artigos seleccionados

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Dos 15 artigos seleccionados, 5 foram publicados em 2010, 2 artigos publicados em

2009, 2 artigos publicados em 2008, 1 artigo publicado em 2007, 2 artigos

publicados em 2005, 1 artigo publicado em 2004, 1 artigo publicado em 2003 e 1

artigo publicado em 2001.

Relativamente ao tipo de estudo, todos eram artigos originais sendo um artigo de

opinião, dois estudos de caso, uma revisão da literatura, um artigo de revisão, dois

estudos qualitativos, uma revisão sistemática, um estudo prospectivo e seis estudos

retrospectivos.

Todos os artigos foram recolhidos sem ter em conta o desenho do estudo.

Artigo Autor Tipo de estudo 1 Volpe, B

(2001) Artigo de revisão

2 Rogers, A (2003)

Artigo de opinião

3 Jack, C (2004) Estudo retrospectivo 4 Rogers, A

(2005) Estudo qualitativo, prospectivo

5 Halloway, R (2005)

Revisão sistemática

6 Stevens, T (2007)

Revisão da literatura

7 Chahine, L (2008)

Estudo retrospectivo de 177 doentes, 33 com AVC isquémico

8 Payne, S (2008)

Estudo retrospectivo

9 Creutzfeldt, C (2009)

Estudo de caso

10 Blacquiere, D (2009)

Estudo retrospectivo 104 doentes

11 Anderson, J (2010)

Estudo de 2 casos

12 Mazzocato, C (2010)

Estudo retrospectivo 42 doentes referenciados à consulta de CP

13 Payne, S (2010)

Estudo qualitativo 28 doentes/25 familiares

14 Holloway, R (2010)

Estudo retrospectivo 101 consultas

15 Burton, C (2010)

Estudo prospectivo 191 doentes

Tabela 5- Desenho dos estudos seleccionados

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Destes 15 artigos, destacamos os que abordavam as áreas-chave de intervenção

em Cuidados Paliativos na prestação de cuidados ao doente com AVC, e que são:

o Comunicação

o Controlo sintomático

o Apoio à família

o Trabalho em equipa

Autor Comunicação Controlo sintomas Apoio à família Trabalho em equipa Jack, C (2004) X x Rogers, A (2005) X Halloway, R (2005) X x Chahine, L (2008) X X x Payne, S (2008) X X Creutzfeldt, C (2009)

X X

Blacquiere, D (2009)

X x X

Mazzocato, C (2010)

X X X

Payne, S (2010) X x X Holloway, R (2010) X Burton, C (2010) X

Tabela 6 - Áreas de Cuidados Paliativos consideradas nos artigos/estudos

Os conceitos mais abordados nos vários artigos, relativamente aos Cuidados

Paliativos foram: controlo sintomático, decisões em fim de vida, comunicação,

aspectos psicológicos, cuidados espirituais e apoio à família.

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Conceitos Nº artigos

Referenciação à equipe de Cuidados Paliativos 5

Comunicação 8

Controle sintomático 8

Apoio à família 4

Trabalho em equipa 2

Decisões em fim de vida 7

Vontade do doente 1

Aspectos psicológicos 6

Aspectos espirituais/religiosos 4

Suspensão de terapêutica fútil 2

Tabela 7- Conceitos abordados nos estudos

Relativamente ao controlo sintomático, referido em 8 dos artigos, o sintoma mais

descrito foi a dor, como podemos observar na tabela seguinte.

Sintoma Nº de artigos

Dor 3

Dispneia 1

Disfagia 1

Depressão 1

Ansiedade 2

Agitação 1

Tabela 8 – Sintomas referidos nos estudos

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Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

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Das conclusões destes artigos, algumas que podem ser referidas separadamente,

dão importância à prestação de Cuidados Paliativos nesta fase da doença:

o Cuidados Paliativos geram menos conflitos nas decisões em fim de vida

o Cuidados Paliativos devem fazer parte do plano terapêutico na fase aguda da

doença

o Cuidados Paliativos são um desafio na fase aguda da doença

o Importância da referenciação à equipe de suporte em Cuidados Paliativos

o Cuidados prestados devem ser baseados nas necessidades dos

doentes/família

o Decisões devem ser centradas no doente

o Abordagem moderna dos sintomas inclui os Cuidados Paliativos

o Necessidade de mais estudos/ Pequeno nº de estudos

o Necessidade de desenvolver ferramentas para medir eficácia dos Cuidados

Paliativos

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No entanto, destes 15 artigos, foram apreciados os 7 estudos que apresentavam

séries de doentes.

Autor/ Artigo Tipo de estudo Nº de doentes

Chahine, L (2008) Palliative care needs of patients with neurologic or neurosurgical conditions

Estudo retrospectivo 33

Payne, S (2008) Palliative care in acute stroke: research findings and recommendations

Estudo retrospectivo 191

Blacquiere, D (2009) Evaluating an organized palliative care approach in patients with severe stroke

Estudo retrospectivo 104

Mazzocato, C (2010) The last days of dying stroke patients referred to a palliative care consult team in an acute hospital

Estudo retrospectivo 42

Payne, S (2010) End of life issues in acute stroke care: a qualitative study of the experiences and preferences of patients and families

Estudo qualitativo Entrevistas 28 doentes e 25 familiares

Holloway, R (2010) Palliative care consultations in Hospitalized stroke patients

Estudo retrospectivo 101

Burton, C (2020) The palliative care needs of acute stroke patients: a prospective study of hospital admissions

Estudo prospectivo 191

Tabela 9 – Estudos com séries de doentes

Dos 7 estudos, apenas um estudo de natureza qualitativa que tinha como objectivo

identificar as experiências dos doentes e família e suas preferências nos cuidados

em fim de vida.

Quanto aos restantes estudos, 5 eram estudos retrospectivos, e 1 estudo

prospectivo.

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Os objectivos e conclusões retiradas dos estudos são apresentados na seguinte

tabela:

Autor/ Artigo Objectivos Conclusões

Chahine, L (2008) Palliative care needs of patients with neurologic or neurosurgical conditions

Descrever as características dos doentes com doenças neurológicas ou neurocirúrgicas admitidos num serviço de Medicina Paliativa ou consultados pela equipa de CP

Estes doentes têm múltiplas necessidades físicas, preocupação com doentes que não comunicam

Payne, S (2008) Palliative care in acute stroke: research findings and recommendations

Identificar as necessidades em CP dos doentes com AVC

Cuidados paliativos mais efectivos, globais. Decisões em fim de vida

Blacquiere, D (2009) Evaluating an organized palliative care approach in patients with severe stroke

Avaliar as Guidelines utilizadas na Unidade de AVC

Cuidados Paliativos geram menos conflitos nas decisões de fim de vida

Mazzocato, C (2010) The last days of dying stroke patients referred to a palliative care consult team in an acute hospital

Acesso aos sintomas dos doentes referenciados à equipa de CP e rever estratégias de tratamento

Doentes referenciados têm múltiplos sintomas (+ dispneia e dor). Necessárias ferramentas para medir eficácia dos CP

Payne, S (2010) End of life issues in acute stroke care: a qualitative study of the experiences and preferences of patients and families

Identificar as experiências dos doentes e famílias e suas preferências

Sintomas físicos comparáveis aos doentes com cancro, importância de melhorar a comunicação com doente/família

Holloway, R (2010) Palliative care consultations in Hospitalized stroke patients

Determinar as características dos Cuidados Paliativos prestados nas consultas e comparar com doentes não AVC

AVC é diagnóstico frequente nas consultas de Cuidados Paliativos. Cada tipo de AVC tem potencialmente necessidades diferentes

Burton, C (2020) The palliative care needs of acute stroke patients: a prospective study of hospital admissions

Identificar as necessidades de CP dos doentes com AVC

Alta prevalência de necessidade de Cuidados Paliativos, necessidades pouco percebidas, usar escalas de avaliação. Prioridade aos doentes com índice de Barthel <15/20

Tabela 10 - objectivos e conclusões retiradas dos estudos

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Em relação ao número de doentes incluídos nos estudos e quanto ao tipo de AVC:

Autor/ Artigo Nº de doentes Tipo de AVC

Chahine, L (2008) Palliative care needs of patients with neurologic or neurosurgical conditions

33 AVC isq -26

AVC Hem - 5

Payne, S (2008) Palliative care in acute stroke: research findings and recommendations

191 AVC hemisfério Esq – 76

AVC hemisfério Dto - 104

Blacquiere, D (2009) Evaluating an organized palliative care approach in patients with severe stroke

104 AVC isq – 68

AVC Hem- 27

Mazzocato, C (2010) The last days of dying stroke patients referred to a palliative care consult team in an acute hospital

42 AVC isq – 31

AVC Hem - 11

Payne, S (2010) End of life issues in acute stroke care: a qualitative study of the experiences and preferences of patients and families

Entrevistas 28 doentes e 25 familiares

AVC isq e AVC Hem, mas não HSA

Holloway, R (2010) Palliative care consultations in Hospitalized stroke patients

101 AVC isq -31

AVC Hem – 26

HSA - 30

Burton, C (2020) The palliative care needs of acute stroke patients: a prospective study of hospital admissions

191 AVC hemisfério Esq – 76

AVC hemisfério Dto - 104

Tabela 11 – Tipo de AVC/ nº doentes

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Relativamente aos sintomas e problemas apresentados pelos doentes, são referidos

nos estudos:

Autor/Artigo Sintomas/ problemas referidos

Chahine, L (2008) Palliative care needs of patients with neurologic or neurosurgical conditions

Doentes que não conseguem comunicar

Disfagia, dor, dispneia

Payne, S (2008) Palliative care in acute stroke: research findings and recommendations

Problemas na comunicação, dor, problemas psicológicos, preocupações religiosas

Blacquiere, D (2009) Evaluating an organized palliative care approach in patients with severe stroke

Controle sintomático e apoio à família

Mazzocato, C (2010) The last days of dying stroke patients referred to a palliative care consult team in an acute hospital

Dispneia e dor

Payne, S (2010) End of life issues in acute stroke care: a qualitative study of the experiences and preferences of patients and families

Comunicação doente/família e profissionais de saúde

Holloway, R (2010) Palliative care consultations in Hospitalized stroke patients

Dor e dispneia

Burton, C (2020) The palliative care needs of acute stroke patients: a prospective study of hospital admissions

50% - problemas relacionados com sintomas,

25% - preocupações com a morte

Tabela 12- Sintomas referidos nos estudos

Efectuada a apresentação dos dados recolhidos, apresento de seguida a discussão

dos mesmos.

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6 – DISCUSSÃO

Os resultados obtidos evidenciam que ainda muito pouco é conhecido sobre a

natureza e magnitude dos serviços de Cuidados Paliativos que estão disponíveis

para doentes com AVC na fase aguda e a forma como tais serviços podem ser

prestados. Apenas encontrámos, na revisão realizada, sete estudos sobre a

prestação de Cuidados Paliativos aos doentes diagnosticados com AVC na fase

aguda.

Destes 7 estudos avaliados, verificamos que relativamente ao ano de publicação,

dois foram publicados em 2008, um em 2009 e quatro em 2010, apontando

possivelmente para um crescente interesse neste tema.

Uma das limitações deste estudo prende-se com o facto da maioria dos estudos

analisados serem retrospectivos (tabela 9), uma vez que se fica dependente de

informação colhida no passado.

Relativamente ao tipo de estudo, apenas um estudo qualitativo de Payne, S (2010)

cujo objectivo era identificar as experiências dos doentes e famílias e suas

preferências nos cuidados em fim de vida, concluindo que os resultados

demonstram a importância de melhorar a comunicação entre os profissionais de

saúde, o doente e família. Este estudo excluía doentes inconscientes ou que não

podiam dar o consentimento para a realização do estudo.

Nos estudos que foram alvo da nossa análise, podemos notar que as áreas-chave

de intervenção dos Cuidados Paliativos vêm relatadas em vários deles. Pois sendo

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considerados os pilares de intervenção em Cuidados Paliativos, são a essencial

preocupação de quem presta estes cuidados.

Para Neto (2009) Os Cuidados Paliativos a pessoas doentes com AVC abrangerão o

controlo sintomático rigoroso (nomeadamente, em problemas como a confusão, a

dor, as alterações da comunicação e deglutição, a ansiedade e depressão), o apoio

às famílias e aos cuidadores, a intervenção em questões éticas específicas e

complexas (a ponderação sobre as medidas apropriadas e sobre o que é obstinação

terapêutica em cada caso, a suspensão de medidas terapêuticas fúteis) e até a

intervenção no luto.76

Área-chave de intervenção em CP nº estudos /%

Controle sintomático 6 - 85%

Comunicação 3 - 42%

Apoio à família 1 - 14%

Trabalho em equipe 1 – 14%

Tabela 13 – Área-chave de intervenção em CP

O controle sintomático é mencionado em 85% dos estudos, no entanto é também

referido nalguns estudos que grande parte dos doentes apresenta alteração do

estado de consciência ou dificuldade/incapacidade na comunicação pelo que o

controle sintomático é difícil de fazer, podendo ser subavaliado.

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Também a comunicação (referida em 42% dos estudos), é um aspecto muito

abordado nestes estudos, mas nestes doentes com AVC grave existem muitas

vezes, alterações neurológicas que impedem ou dificultam a comunicação.

A incerteza sobre o prognóstico é inevitável na prática clínica, e isso pode ser difícil

para os doentes e famílias pelo que a comunicação com a equipe de saúde se torna

importante.

Doentes e familiares parecem dar tanta importância ao estilo de comunicação

quanto ao conteúdo da informação fornecida, pretendem fazer parte das decisões

Payne ( 2010).

A diversidade das necessidades do doente na fase final de vida, bem como da

família e dos cuidadores, associada à complexidade que esse sofrimento encerra

em si e nas suas abordagens, tornam necessário o trabalho em equipa

multiprofissional, tendo como elementos o médico, o enfermeiro, o psicólogo, o

assistente social, o nutricionista e o assistente espiritual.

Na prestação de cuidados, a presença de um núcleo central mantém a congruência

dessa prestação, mas a participação de outros intervenientes pontuais é igualmente

indispensável.

A interdisciplinaridade representa uma das características fundamentais da dinâmica

do funcionamento dos Cuidados Paliativos, que também integra o doente e a família,

como vem explícito no Plano Nacional Cuidados Paliativos: “A família deve ser

activamente incorporada nos cuidados prestados e, por sua vez, ser, ela própria,

objecto de cuidados, quer durante a doença, quer durante o luto.”

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Quanto ao tipo de AVC, os dados dos estudos apenas indicam um maior número de

doentes com AVC isquémico, relativamente aos doentes com AVC hemorrágico, o

que está de acordo com o facto de cerca de 80% dos AVC serem isquémicos e 20%

hemorrágicos.

Não é possível tirar conclusões acerca da diferença das características e

necessidades dos doentes, embora nas conclusões de um dos estudos, Holloway

(2010) refira que cada tipo de AVC terá necessidades diferentes.

A gravidade do AVC e o seu prognóstico podem influenciar a necessidade de um

plano organizado que englobe o controlo sintomático e os cuidados psicológicos,

espirituais e religiosos. As preocupações espirituais e religiosas, quer sejam

relacionadas com a morte ou dependência de outro, e os problemas psicológicos

estão também mencionados em 28% dos estudos.

Um dos estudos refere a necessidade de suspensão de terapêutica fútil, na fase

terminal da doença. Para Neto “é preciso relembrar o compromisso de não

abandono do doente e prestar tratamento proporcionado e apropriado, em que a

intencionalidade seja sempre, no respeito inquestionável pela vida humana, permitir

que a morte aconteça”.76

Das conclusões apresentadas nestes estudos podemos destacar:

• a Comunicação é uma preocupação evidente, sendo também mencionada a

importância de melhorar a comunicação entre doente, família e profissionais

nos doentes com AVC grave.

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• os Cuidados Paliativos ajudam estes doentes e suas famílias nas decisões

em fim de vida, referido nas conclusões em 3 dos estudos.

• os doentes com AVC grave devem ser referenciados à consulta de Cuidados

Paliativos ou à equipa de suporte em Cuidados Paliativos por serem doentes

com múltiplos sintomas e necessidades diversas.

É também citada a necessidade de mais investigação nesta área e de desenvolver

ferramentas que permitam medir a eficácia destes cuidados.

No entanto, são poucos os estudos, com pequeno número de doentes e todos

estudos retrospectivos ou prospectivos.

Mantêm-se assim, as questões sobre o benefício da prestação de Cuidados

Paliativos na fase aguda do AVC e quais os critérios de referenciação desses

doentes.

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7 - CONCLUSÃO

Apenas 7 estudos não permitem responder às questões colocadas no início do

nosso trabalho.

A análise dos resultados mostrou que alguns estudos referem ser importante e

essencial a prestação de Cuidados Paliativos aos doentes com AVC na fase aguda.

São prestados Cuidados Paliativos a doentes com AVC na fase aguda mas de que

tipo? A que doentes? Como é feita a avaliação do prognóstico e referenciação?

A referenciação desses doentes com necessidades específicas à equipa de

Cuidados Paliativos é referida como indispensável na fase aguda, uma vez que o

acesso precoce aos Cuidados Paliativos assegura que os sintomas são

adequadamente manuseados. Não sabemos, no entanto, quais os critérios de

referenciação desses doentes.

Para alguns autores, os Cuidados Paliativos constituem hoje uma resposta

indispensável aos problemas do final da vida. São considerados um direito humano

e estão integrados no cuidado fora da possibilidade da cura.

Não existe, no entanto, evidência científica que comprove a necessidade de

Cuidados Paliativos dos doentes com AVC na fase aguda.

Um dos maiores problemas é a escassez de estudos mas há apesar disso, alguns

autores para quem é claro que os doentes com AVC têm necessidade de Cuidados

Paliativos, na fase aguda da doença.

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Para Rubiales (2005), a Medicina Paliativa partilha as limitações da investigação que

são comuns a todas as áreas da Medicina, mas com as nuances próprias do que é o

cuidar de um doente em fim de vida. Essas limitações estão relacionadas com a falta

de experiência e hábito de investigação dos profissionais, as condições dos doentes

que se encontram em situação de debilidade física, vulnerabilidade emocional e com

alterações neuropsicológicas; à peculiaridade da aplicação da metodologia de

investigação e aos limites deontológicos da investigação clínica. 93

Há necessidade de mais investigação na área, são poucos os estudos publicados e

não referem quais os critérios de referenciação, nem como avaliam o benefício dos

Cuidados Paliativos.

Pela natureza das amostras estudadas apenas se pode concluir que a

fundamentação científica dos Cuidados Paliativos na fase aguda do Acidente

Vascular Cerebral é fraca se é que existe, uma vez que os poucos estudos

existentes são quase todos retrospectivos e descritivos.

Como conclusão podemos dizer que estes achados concorrem apenas para o

conhecimento parcelar sobre os Cuidados Paliativos prestados aos doentes na fase

aguda do AVC, e sobretudo não permitem concluir sobre como avaliar as

necessidades dos doentes.

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