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1. Os Produtos Locais do “Douro Verde” Considerando que a Dolmen tem como objecto fundamental de intervenção a promoção do território de abrangência, é importante a valorização dos produtos locais, onde o artesanato, os vinhos e a gastronomia merecem particular referência. 1.1 O Artesanato do “Douro Verde” Com muitas semelhanças entre si, como é evidente, pela ruralidade que identifica a região, o artesanato do território de abrangência da Dolmen é muito diversificado. No entanto, sucintamente, pode dizer-se que este se baseia na cestaria variada, trabalhos em madeira, bordados e outros trabalhos de mão, barro negro, latoaria, entre outras artes muito próprias de determinadas freguesias, como é o caso das bengalas de Gestaçô. 1.1.1 Amarante O barro negro de Gondar é uma das principais referências quanto às artes tradicionais de Amarante. No lugar de Vila Seca, em Gondar, existe a Casa do Oleiro, com oficina e uma pequena secção museológica. As peças concebidas são, essencialmente, a panela, o púcaro, o assador, a caçoila, o cinzeiro, a vinagreira, a chocolateira, a pingadeira, o pote, a bilha de água, o assador de castanhas, o alguidar de arroz, o vaso, a cantara, o fundidor de ouro (em tempos muito exportado para Gondomar), o tacho de duas asas e o picador de alho. Figura 1 Peça de barro negro (César Teixeira) Esta olaria caracteriza-se por ser executada de forma muito rudimentar, recorrendo-se com recurso a técnicas de produção muito antigas. A modelagem do barro é feita numa roda baixa, muito próxima do chão e a sua cozedura é realizada em soenga (forno que consta de uma abertura feita no solo). A cor negra da louça é conseguida pela cozedura em atmosfera redutora. Pesquisas históricas revelam que Gondar fazia parte de um núcleo importante de barro negro que abrangia a freguesia do Gôve, no Concelho de Baião e a freguesia de S. Pedro de Paus, em Resende.

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1. Os Produtos Locais do “Douro Verde”

Considerando que a Dolmen tem como objecto fundamental de intervenção a promoção

do território de abrangência, é importante a valorização dos produtos locais, onde o

artesanato, os vinhos e a gastronomia merecem particular referência.

1.1 O Artesanato do “Douro Verde”

Com muitas semelhanças entre si, como é evidente, pela ruralidade que identifica a

região, o artesanato do território de abrangência da Dolmen é muito diversificado. No

entanto, sucintamente, pode dizer-se que este se baseia na cestaria variada, trabalhos em

madeira, bordados e outros trabalhos de mão, barro negro, latoaria, entre outras artes

muito próprias de determinadas freguesias, como é o caso das bengalas de Gestaçô.

1.1.1 Amarante

O barro negro de Gondar é uma das principais referências quanto

às artes tradicionais de Amarante. No lugar de Vila Seca, em

Gondar, existe a Casa do Oleiro, com oficina e uma pequena

secção museológica.

As peças concebidas são, essencialmente, a panela, o púcaro, o

assador, a caçoila, o cinzeiro, a vinagreira, a chocolateira, a

pingadeira, o pote, a bilha de água, o assador de castanhas, o

alguidar de arroz, o vaso, a cantara, o fundidor de ouro (em tempos

muito exportado para Gondomar), o tacho de duas asas e o picador

de alho. Figura 1 – Peça de barro negro (César Teixeira)

Esta olaria caracteriza-se por ser executada de forma muito rudimentar, recorrendo-se

com recurso a técnicas de produção muito antigas. A modelagem do barro é feita numa

roda baixa, muito próxima do chão e a sua cozedura é realizada em soenga (forno que

consta de uma abertura feita no solo). A cor negra da louça é conseguida pela cozedura

em atmosfera redutora.

Pesquisas históricas revelam que Gondar fazia parte de um núcleo importante de barro

negro que abrangia a freguesia do Gôve, no Concelho de Baião e a freguesia de S. Pedro

de Paus, em Resende.

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Respondendo às necessidades das actividades agrícolas, a cestaria é uma das artes que

mais se evidencia. Na confecção dos cestos são utilizadas técnicas e ferramentas do

passado – o banco e o ferro de lavrar a madeira, a fouce, a sovelha e a navalha. O

Senhor Abel Silva é o único cesteiro do concelho de Amarante. Como matéria-prima

usa sobretudo o lódão. Em tempos, o artesão utilizava também a mimosa, castanho,

salgueiro e carvalho para a realização de cestos de vindima. Em tempos fazia sobretudo

cestos de vindima e condessas. Depois, o plástico e o abandono das terras provocaram

uma grande diminuição da procura. De mãos hábeis, Abel Silva adaptou-se aos novos

tempos e deixou de trabalhar a pensar apenas nas tarefas agrícolas. Passou a produzir

pequenas cestas e condessas de compras ou destinadas a decoração, abanadores e

mesmo cacifos para pescadores. Na confecção das peças que produz, Abel Silva usa

ainda as técnicas e ferramentas que herdou de seu pai – o banco e o ferro de lavrar a

madeira, a fouce, a sovela e a navalha.

Figura 2 – Trabalhos de cestaria (Sr. Abel Silva)

As rendas, os bordados, as mantas, os trabalhos em linho, as luvas e as meias de lã

constituem também importantes produtos artesanais do Concelho de Amarante.

Destacando duas jovens artesãs, temos os exemplos da “Tecelagem Marta Cruz” e da

Teresa Gouveia. A Marta Cruz, a partir do tear tradicional, desenvolve bonitos

trabalhos, tais como colchas, centros de mesa, cortinas, tapetes, jogos de banho, entre

um vasto leque de produtos. A Teresa Gouveia, da freguesia de Telões, realiza bonitos

bordados em linho, como centros de mesa, toalhas de mesa, panos de tabuleiro, toalhas

para camilhas, jogos de quarto, jogos de casa de banho, sacos para guardanapos, entre

outros.

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Figura 3 – Trabalhos “Tecelagem Marta Cruz”

Figura 4 – Trabalhos da artesã Teresa Gouveia

Importa ainda fazer referência aos artigos de couro desenvolvidos pela empresa

Alicouro, da freguesia de Cepelos, em Amarante.

Figura 5 – Artigos em couro (Alicouro)

1.1.2 Baião

As bengalas de Gestaçô constituem um dos principais elementos artesanais no

concelho de Baião. Surgiu como um dos passatempos de Manuel Negrão que se baseava

em lavrar castões de bengalas (cortadas nos rebentos das melhores cepeiras da sua

quinta solarenga de Mosteirô).

As primeiras bengalas de Gestaçô eram obtidas recortando-se a bengala de uma placa de

madeira. Esta operação causava grandes desperdícios de madeira. Esta técnica do

recorte foi usada até ser introduzida a técnica inovadora da dobragem que consistia em

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amolecer a madeira em água a ferver, para depois se dobrar e fazer o gancho

característico das bengalas.

De entre os ilustres portugueses, que notabilizaram a bengala de Gestaçô, destacam-se

Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz.

As bengalas podem ter variadas formas e feitios, que vão desde cabeças de cão e de

cobras, podem imitar o bambu, a cana, o tojo, polir a madeira de cerejeira, ou fazer

incrustações de madrepérola, de prata ou de ouro. Há feitos para quase todos os gostos,

não esquecendo os célebres robertos e as bengalas mais simples que, depois de pintadas

conforme o curso dos estudantes, animam a Queima das Fitas em muitas Universidades

deste país.

O lódão é o material que predomina nos modelos mais simples e populares, o processo

de fabrico é mais elementar. Descasca-se a vergôntea depois de ter ido ao forno, dobra-a

directamente logo que é retirada da água fervente na panela de ferro de três pés.

Nos modelos de qualidade utilizam-se as madeiras de macieira, castanho e cerejeira.

A Casa das Bengalas, na Freguesia de Gestaçô, apresenta uma colecção particular de

castões de guarda-chuva e de equipamento utilizado no fabrico artesanal de bengalas.

Para além disso, poderá também conhecer as diferentes fases de fabrico das bengalas de

Gestaçô, famosas pela técnica original de dobragem e pela sua decoração.

Figura 6 – Bengalas de Gestaçô (miniatura)

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Figura 7 – Bengalas de Gestaçô

A Cestaria de Frende representa, essencialmente, o fabrico de peças de cestaria para

uso doméstico, sendo o exemplo mais comum, o açafate para o pão ou para os ovos. São

fabricadas com giesta “Piorna” (planta comum em algumas serras), o que obriga à

deslocação dos artesãos a concelhos vizinhos, como Cinfães, para a adquirirem, visto

não haver no concelho de Baião. Uma vez que a utilização das cestas para uso

doméstico tem vindo a diminuir, actualmente as artesãs dedicam-se ao fabrico de

exemplares de dimensões reduzidas para fins decorativos, como são exemplo as cestas

de “Dedal” ou as “Garrafeiras”.

Figura 8 – Cestaria de Frende

A empresa de inserção “O Canto do Tear” enquadra-se numa perspectiva de

inclusão social e integra-se na tutela da Associação Cultural e Recreativa de Santa Cruz

do Douro. Assumindo a cultura popular como grande elemento distintivo da região, “O

Canto do Tear” visa preservar e continuar as artes e ofícios que eram tradicionais na

região, onde a costura, aliada aos bordados, passando por artigos decorativos, de

natureza doméstica ou de uso pessoal. A empresa desenvolve trabalhos que tenham a

ver com artes e ofícios tradicionais - rendas, bordados, trabalhos em tear manual

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(tapetes, carpetes, colchas, etc.), artigos decorativos (lençóis, jogos de banho), artigos

alusivos à comemoração de datas (aniversários, casamentos, eventos), assim como

trabalhos relacionados com a costura – arranjos e confecção, designadamente de

uniformes e fardas.

Figura 9 - “Canto do Tear” - exemplares de trabalhos

De mosaico cerâmico ou em tesselas de pedras policromas pacientemente polidas, os

artífices da oficina da Cooperativa Cultural de Baião - Fonte do Mel, não só executam

murais, bem como, belas peças de arte decorativas. O processo da realização de um

mosaico em tesselas de pedra natural implica um trabalho duro, paciente e demorado,

embora entusiasmante.

Figura 10 – Cooperativa Cultural de Baião – Fonte do Mel – peças de

mosaico

1.1.3 Marco de Canaveses

Os chapéus de palha, considerados o expoente máximo do artesanato do concelho do

Marco de Canaveses, circunscreve-se a duas freguesias: Vila Boa de Quires e Maureles,

embora a primeira seja o ponto principal da actividade. Estes chapéus são feitos de

palha fina entrelaçada e com linha e podem ter vários tamanhos. Os chapéus de palha

eram particularmente úteis na execução dos diversos trabalhos agrícolas, funcionando

como importante protector ao sol.

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A cantaria é forma de arte tradicional das freguesias de Alpendorada e Várzea do

Douro, que se deve sobretudo ao facto de esta ser uma zona onde a exploração de

pedreiras e os trabalhos em pedra são a principal base de subsistência. O artesanato em

pedra caracteriza-se por serem miniaturas de artefactos agrícolas, como são exemplos

os lagares de vinho e azeite. Este tipo de artesanato produz-se em Alpendorada, no

Marco de Canaveses, freguesia afamada pelas pedreiras e pela cantaria. Para a produção

das miniaturas corta-se a pedra com uma rebarbadora. As miniaturas são feitas tanto

com uma peça única que é esculpida manualmente, como com mais que uma peça que

no fim são colocadas com uma cola especial. Para a recriação das peças agrícolas usam-

se também pequenas peças em madeira ou de tecido.

A arte de trabalhar a madeira gera a criação de bonitos e minuciosos trabalhos e

miniaturas em madeira como enxadas, engaços, escadas, rodos, entre outros.

Figura 11 – Trabalhos em madeira

As bonecas de folhelho executadas pela D. Conceição da freguesia do Freixo são o

resultado de um trabalho delicado e muito paciente, em que a partir do folhelho do

milho, a artesã consegue bonitas figuras, cada uma com a sua particularidade. As

bonecas de folhelho nascem a partir de uma estrutura interior em arame, cabeça de

bagulho, vestido de folhelho e com cabelos de barbas de milho. Existem vários

modelos, que vão desde a mulher agricultora, a padeira, a noiva, a dama, etc.

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Figura 12 – Bonecas de folhelho

O Prof. Mário Henrique tenta afirmar-se no campo de Arte Sacra onde pode

encomendar a imagem que for do agrado individual e Olaria, desenvolvendo conjuntos

de peças ligadas ao vinho, serviços rústicos de jantar, chá e café, entre um vasto

conjunto de peças para o lar.

Figura 13 – Peças de Arte Sacra e Olaria

1.1.4 Cinfães

A latoaria é uma das artes que mais se destaca no Concelho de Cinfães. Do trabalho da

folha-de-flandres resultam lampiões, candeias, copos, regadores, lamparinas, almotolias,

baldes, braseiras, botijas e “caça toupeiras” cântaros, característicos de Porto Antigo e

Boassas. O Senhor Rui Teixeira é o único artesão que, actualmente, se dedica a esta

actividade.

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Figura 14 – Peças de Latoaria

Há também fortes marcas da tecelagem no Concelho Cinfães, pelo que há ainda artesãs

que trabalham bonitos cobertores da serra, lisos e carpados, em lã; carpetes, mantas,

tapetes e passadeiras em tiras de pano, mantas, lençóis e toalhas, em linho; capuchas,

em burel.

1.1.5 Penafiel

Do Concelho de Penafiel, destaca-se o artesanato em ferro desenvolvido pela D. Maria

Emília da freguesia de Abragão. Importa também referir os trabalhos de cestaria

realizados pelo Sr. Francisco Alves, da freguesia de Vila Cova.

1.1.6 Resende

As brezes ou brezas são cestos de formas diversas, feitos com palha de centeio ou

colmo atadas com cascas de silvas. Este tipo de artesanato é muito conhecido no norte

do país, particularmente em regiões serranas como é o caso da Serra de Montemuro.

José Almeida e seu filho Jaime, são os únicos artesãos do concelho a realizar com este

processo, cestos de vários feitios, conforme os fins a que são destinados, tais como:

brezes de formato redondo e rectangulares de diversos tamanhos, que se destinavam a

guardar produtos agrícolas e os balaios destinados a guardar e conservar o pão, que

devido ao seu arejamento não permitia a entrada do bicho.

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Figura 15 – Brezes

Os mesmos artesãos fazem também coroças (eram usadas pelos homens), e os capelos

(eram usadas pelos mulheres) para “livrar o corpo da invernia”, principalmente da

chuva, pois a palha funcionava como um excelente impermeável, fazendo com que a

chuva escorresse, não sendo absorvida pela roupa. As polainas, executadas igualmente

com junco, eram usadas nas pernas e tinham a mesma função. As coroças, eram usadas

pelos montanheses das serras agrestes, durante o Inverno, nos serviços campestres e no

pastoreio.

Figura 16 – Coroça, Polaina e Capelo

A microcestaria reflecte as características de peças executadas pela cestaria “grossa”

(cestos vindimos, cestas, canastras, etc.), mas são reproduzidas por mãos hábeis a uma

escala reduzida, conferindo-lhes funções decorativas. O processo inicia-se com tiras de

vime. As tiras de vime vão conferindo forma ao fundo da peça. Feito o fundo, o artesão

começa a trabalhar a peça. No entrelaçar do vime, a peça vai surgindo e ganhando

forma. São dados os retoques finais e eis que surgem as mais variadas peças em

miniatura.

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Figura 17 – Cestas miniatura

1.2 Os Vinhos do “Douro Verde”

Particularmente reconhecidos como “…vinhos verdes macios, com aromas

singulares…”, os vinhos do “Douro Verde” integram-se na Região Demarcada dos

Vinhos Verdes. As mais antigas referências que se conhecem da existência de produção

de vinho na Região Demarcada dos Vinhos Verdes remontam à época romana., embora

haja evidências de que a designação Vinho Verde tenha surgido no século XVII. Esta

região estende-se por todo o Noroeste de Portugal na zona tradicionalmente conhecida

como Entre Douro e Minho. Está situada numa zona de relevo muito variado, com

exposição atlântica e um clima caracterizado por elevada pluviosidade, humidade

atmosférica, temperatura amena e pequenas amplitudes térmicas.

1.2.1 Amarante

A Associação de Produtores de Vinho Verde de Amarante (Proviverde) agrega cerca de

200 produtores de vinho, embora apenas cerca de três dezenas sejam produtores-

engarrafadores de vinho verde. Com o intuito de promover o vinho do concelho, a

Proviverde dispõe de uma pequena loja no centro da cidade, para prova e venda das

principais marcas dos produtores-engarrafadores do concelho. Situada na rua Teixeira de

Vasconcelos, onde funcionou a antiga cadeia, a loja é a actual sede da Proviverde, espaço

cedido pela Câmara Municipal de Amarante.

Amarante representa oito por cento do vinho verde (cerca de 6,4 milhões de litros de

vinho em termos de produção anual), o correspondente a uma média de quatro milhões de

euros de receitas por ano.

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Em termos de viticultores, Amarante tem registados 3.216, o que corresponde a 9,5 por

cento dos 34.000 da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV),

que ocupam cerca de 2.800 hectares de terra.

A Casa das Laraias, Encosta da Lage, ARH e Fregim e são exemplos de vinhos que se

têm distinguido no Concelho de Amarante.

Figura 18 – Garrafas de Vinho de Amarante

1.2.2 Baião

A história do Mosteiro de Santo André de Ancêde, no concelho de Baião, encontra-se

“intimamente relacionada com a produção e comercialização do vinho”, que era

“canalizado para a cidade do Porto, integrando os circuitos comerciais do Rio Douro”.

Produtores

Adega Cooperativa de Baião

Fundada em 1962 por alguns viticultores do concelho de Baião laborou, pela primeira

vez, em 1966. Actualmente tem cerca de 250 associados efectivos, com uma área de

produção de mais ou menos 636 hectares recebendo em média, anualmente, 800.000

quilos de uvas. As vinhas dos associados estão instaladas nas margens do rio Douro, com

exposição predominantemente a sul, e são, essencialmente, constituídas por uvas brancas

das castas Avesso, Arinto e castas regionais.

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As vinhas deste concelho (Sub-região de Baião) estão inseridas numa zona de transição, o

que lhe confere a obtenção de vinhos verdes, mas com um teor alcoólico mais elevado

que a restante região e a acidez fixa mais baixa.

A adega está equipada com a mais avançada tecnologia, permitindo-lhe a

obtenção de vinhos de excelente qualidade. A sua capacidade total é na

ordem dos 22.500hl. Está inserida na rota dos vinhos verdes, tendo uma sala

de provas para o efeito com um pequeno museu que expõe algum

equipamento usado no início da laboração da Adega.

Para o aumento da qualidade dos seus vinhos, o Agrupamento de

Produtores, fundado pela Adega, criou um corpo técnico de apoio aos

associados na instalação de novas vinhas com encepamentos adequados e

marcação das vindimas, segundo os critérios de qualidade e as necessidades

comerciais.

Figura 19 – Garrafa de vinho palhete D. Arnaldo

Casa da Cancela

A nobre e secular Casa da Cancela coincide com um ecossistema único e específico,

talhado para a cultura da casta Avesso. A partir da selecção das melhores uvas da casta

Avesso e respeito pelos métodos tradicionais de vinificação, obtém-se este vinho de

Quinta, rigorosamente personalizado, de aroma frutado e sabor complexo e fresco.

Casa das Corujeiras

Inserida na região demarcada dos vinhos verdes, sub-região de Baião, a Quinta é

encimada pela casa de família, construída no século XVIII, que dá o nome a um dos

vinhos produzidos e engarrafados na propriedade.

Os 17 hectares de vinha estendem-se pela margem direita do rio Douro, em socalcos de

origem granítica banhados pelo sol, calor e humidade quanto basta, criando um micro

clima responsável pelas características únicas deste vinho verde.

Recorrendo a uma criteriosa e cuidada selecção de castas e às mais modernas técnicas de

vinificação produzem-se, desde 1991, na adega da Quinta, os vinhos “Casa das

Corujeiras” (casta Avesso e Arinto) e “Vinha do Mestre” (casta Avesso).

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Reconhecidos como vinhos de qualidade superior, apresentam aspecto

límpido, cor citrina, aroma pronunciado e frutado que deixam na boca

um sabor macio persistente.

Figura 20 – Garrafa de vinho Vinha do Mestre

Casa das Hortas

A Casa das Hortas Sociedade e Comercial, Lda. iniciou a sua actividade em 1995, não

parando de crescer desde essa altura, fruta da qualidade dos vinhos que produz que têm

ganho, anualmente, prémios em diversos concursos de vinhos. Tem área de vinha própria,

cujo encepamento é, essencialmente, das castas brancas, Arinto

e Avesso e, nas tintas, Vinhão espadeiro, touriga Nacional e

Touriga Franca.

A Casa das Hortas produz e engarrafa diversas marcas sendo

as mais representativas: Casa das Hortas, Portal das Hortas,

portal do Zêzere, Vinha dos Eidos e Cabeça de Gaio.

Figura 21 – Garrafas de vinho Portal das Hortas

Casa da Lage

Virada a Sul, com uma panorâmica única sobre o rio e as serras da Gralheira e

Montemuro, a Casa da Lage fica a meia encosta do douro nas chamadas faldas do Marão.

É uma das principais casas do século passado advindo-lhe o nome de ter sido erguida

sobre uma só lage. Leonor Sotto Mayor Azevedo Aides de Campos, actual proprietária,

segue a tradição de uma família que há gerações se apaixonou pela produção de vinho de

qualidade, contando-se entre as primeiras na aplicação de novas técnicas de vitivinicultura

em Baião. Nas suas vinhas, cerca de 8 hectares, predomina a casta do Avesso que aí

desenvolve uvas de qualidade excepcional.

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Casa do Moninho

Produzido na sub-região de Baião, de cor citrina, apresenta aroma e sabor

frutados, muito típicos da casta “Avesso” que lhe deu origem.

Figura 23 – Garrafa de vinho Casa do Moninho

Casa da Mó

A propriedade deve o seu nome a um achado arqueológico: uma mó, que foi encontrada

há 12 anos, quando se procedia à surriba do terreno para implementar a actual vinha e que

terá sido de um moinho de vento construído em tempo imemorial.

A quinta localiza-se em Viariz, a 400 metros de altitude e de olhos postos no Marão. Na

vinha exposta a Sul e de baixa produção, as castas seleccionadas foram Avesso e Arinto,

sendo os solos de origem granítica e textura predominantemente franco arenosa. Existe

um pequeno campo experimental no qual as castas mais importantes nacionais e

internacionais estão representadas, tendo como objectivo seleccionar as mais adequadas,

que visem a elaboração futura, de vinhos únicos no mundo.

A longa tradição familiar e a experiência acumulada, proporcionou à actual geração um

invulgar conhecimento que, aliado às mais recentes tecnologias e rigor, permitiram com

uma criteriosa selecção de uvas, a produção do vinho Navarros, fazendo, assim,

prevalecer o nome da família para gerações vindouras.

De salientar que, em 2009, o vinho Navarros foi o único da região dos vinhos verdes a ser

premiado na nona edição do concurso internacional "La Selezione del Sindaco" (A

Selecção do Presidente), realizado em Brindisi, na região da Apúlia, em Itália. O concurso

- organizado pela Associação de Municípios Italianos do Vinho, em parceria com a

Associação de Municípios Portugueses do Vinho e com a Associação Europeia de

Municípios do Vinho -, é o único que prevê a participação conjunta do produtor e do

município de proveniência das produções. O objectivo é valorizar as pequenas produções

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de vinho de qualidade, produzido em quantidades não superiores a 50

mil garrafas por lote.

Figura 24 – Garrafa de Vinho “Navarros”

Encosta d’Arêgos

Trata-se de um vinho de quinta regional, de características muito próprias: tem boa

capacidade de envelhecimento, teor alcoólico elevado, bom corpo, boa estrutura e

complexidade, sem perder conteúdo, elegância e frescura próprios da região de origem.

É elaborado com base em duas castas notáveis: Avesso e Arinto. A primeira (casta

autóctone desta região) confere-lhe estrutura e complexidade e a segunda, frescura e

elegância.

O Encosta d’Arêgos surge no mercado com a colheita de 2001, e está inserido num

projecto que visa estudar e desenvolver as potencialidades da Casta

Avesso. Os resultados têm sido encorajadores, sendo hoje considerado

um caso de sucesso na região. Diversos prémios consecutivos, artigos de

opinião e a boa aceitação que tem tido junto do consumidor em geral,

confirmam-no, tendo sido mesmo considerado por José Salvador

(respeitado crítico de vinhos) como um dos melhores vinhos do ano.

Para a qualidade do mesmo vinho, contribuem diversos factores: as

vinhas instaladas nos melhores terroirs, a baixa altitude (150-200 metros),

com óptimas condições de maturação e baixos rendimentos. Um bom

vinho nasce numa boa vinha.

Figura 25 – Garrafa de Vinho “Encosta d’Arêgos”

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Montez Champalimaud

Paço do Teixeiró, pertença da Montez Champalimaud, situa-se nos contrafortes a sul da

serra do Marão. A Casa é um edifício característico dos séculos XIV-XV, embora

mantenha traços anteriores. As vinhas ocupam 12 hectares, predominando a casta Avesso,

destacando-se pelo facto, raro entre os vinhos verdes, de estarem plantados em solos

xistosos, o que associado ao clima moderado e fresco da serra do Marão, lhe oferece

características únicas para a produção de vinhos brancos.

Quinta de Beiredos

A Quinta de Beiredos, pertencente à família Dantas Amorim, foi revitalizada há cerca de

duas décadas, pelos actuais proprietários. Da casa, que foi Casa do Passal, onde os

Abades de Santa Cruz do Douro moraram, recuperou-se o que ao longo dos últimos

quatro séculos a Natureza e o Homem não destruíram.

As vinhas com mais de 20 anos de idade, inseridas em terroir de montanha, na margem

direita do rio Douro em pleno coração de Santa Cruz do Douro, produzem as uvas das

castas Avesso e Arinto, com as quais são produzidos os vinhos, espumantes e

aguardentes.

A adega, de construção recente, encontra-se devidamente equipada para a produção de

vinhos e espumantes, com total autonomia, desde o espremer das uvas até à rotulagem e

embalagem, passando pelo estágio nas caves. No alambique do tipo Charantês, são

destiladas as aguardentes que, posteriormente, são envelhecidas em cascos de carvalho de

Limoges.

Quinta do Ferro

A história da Quinta do Ferro liga-se à história da casa cuja primitiva planta foi totalmente

modificada não ficando senão sinais da primeira ocupação residencial. Depois de meados

do século XIX foi convertida em casa de caseiros onde se guardavam os produtos da

quinta.

A plantação da vinha e sua exploração manteve-se de forma tradicional e, em 1998, eram

ainda visíveis antigas cepas de vinha que bordejam entre culturas. Adquirida em 1998

pela Felcapital – Sociedade Imobiliária, SA, passou a ser explorada pela Sociedade de

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Agro Turismo Quinta do Ferro, Unipessoal, Lda. desde então sofreu beneficiações e foi

transformada numa moderna unidade agrícola.

Figura 26 – Garrafa de Vinho “Quinta do Ferro” e garrafas de espumante “Quinta

do Ferro”

Fundação Eça de Queiroz

A Fundação Eça de Queiroz é uma instituição sem fins lucrativos

dedicada não só à divulgação da obra de Eça de Queiroz e à preservação

da componente museológica de Tormes (centro de A Cidade e as

Serras) mas também à produção do multipremiado Verde de Tormes,

um vinho, garantia Eça, “fresco, esperto e seivoso, e tendo mais alma,

entrando mais na alma que muito poema ou livro santo."

Figura 27 – Garrafa de Vinho “Tormes”

Quinta de Porto Ferrado

As vinhas de Porto Ferrado ficam localizadas na margem direita do rio Douro. A vinha

está implantada em terrenos de meia encosta, com óptima exposição a sul. As uvas,

exclusivamente da casta Avesso, depois de cuidadosamente vinificadas dão origem a um

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vinho de aroma intenso, sabor macio e frutado. Para que possa ser devidamente apreciado,

aconselha-se que não seja servido demasiadamente fresco.

Figura 28 – Garrafas de Vinho “Porto Ferrado”

Quinta da Quebrada

A Quinta da Quebrada situa-se próxima das faldas do Marão e na confluência da região

do Douro no Concelho de Baião.

A sua localização geográfica e as características do seu solo conferem aos seus vinhos um

aroma suave e fresco de um carácter elegante provenientes das castas Avesso e Arinto,

tornando-os inconfundíveis e inigualáveis na região.

Seguindo a tradição das gerações, do avô (Adelino Nogueira) e filho (Adelino Nogueira),

o neto, Luís Nogueira, tem continuado a produção deste néctar que, para muitos, é um

Verde de Ouro.

Quinta das Quintãs

A quinta das quintãs fica situada na zona ribeirinha do Concelho de Baião, possuindo uma

localização privilegiada pela riqueza natural e paisagística da sua envolvente. A 50 metros

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do rio, a Casa, um solar construído no início do século XX, foi totalmente reconstruído

para acolher actividade de turismo em condições de conforto, mas conservando, no

entanto, as características da sua época.

A Casa está inserida numa propriedade agrícola de cerca de 35 hectares, onde é produzido

vinho, predominando as castas Tinto Roriz e Touriga Nacional.

Sociedade Agrícola e Comercial Encosta do Zêzere, Lda.

O produtor – Engarrafador, Sociedade Agrícola e Comercial Encosta do Zêzere, Lda.,

localiza-se em Santa Marinha do Zêzere, Concelho de Baião. Tendo

iniciado a sua actividade em 2001, a empresa vitivinícola possui 8 hectares

de vinha, distribuídos por várias propriedades: Casal Paio, Salgueirais e

Quinta da Lama.

A selecção das castas Avesso e Arinto, a óptima exposição solar e a

proximidade das ribeiras do Zêzere e Patacão criam condições especiais

para a elaboração de vinhos com carácter único. A criteriosa e cuidada

selecção de uvas, o rigor da vinificação e a enologia de vanguarda

permitiram o premiar consecutivo e o enaltecer dos seus vinhos no

mercado, através das marcas “Entre Margens” e “Camponês”.

Figura 29 – Garrafa de Vinho “Entre Margens”

1.2.3 Marco de Canaveses

A Rota dos Vinhos do Marco de Canaveses foi lançada em Maio de 2002 e integra 20

produtores que produzem e engarrafam vinho no Concelho. No âmbito deste organismo

realiza-se, anualmente, a Feira de Vinhos do Marco de Canaveses que integra

actividades como o Concurso de Vinhos Brancos e a Prova dos Visitantes da Feira.

Existem ainda outras iniciativas de promoção e divulgação destes néctares de referência

como a Prova dos Vinhos Novos de S. Martinho, Apresentação dos Vinhos à

Restauração, Viagem à Descoberta das Vindimas (com as escolas), Feira das

Colectividades e participação em Feiras/Mostras de Vinhos.

A Rota de Vinhos do Marco de Canaveses pretende tornar o vinho verde um produto

turístico capaz de oferecer ao visitante uma experiência integrada, alicerçada também na

gastronomia, no artesanato e no património natural e edificado da Região.

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Figura 30 – Garrafas de Vinho do Marco de Canaveses

1.2.4 Cinfães

O afamado néctar é produzido em todo o concelho, embora o mais apreciado e

solicitado seja proveniente das solarengas terras do baixo concelho, como Tarouquela,

Espadanedo, Souselo e Travanca. Entre os produtores de vinho desta zona destacam-se

a Quinta do Palheiro, a Quinta das Roçadas e Vinhos Florido Calheiros em S. Cristóvão

de Nogueira, a Quinta das Almas na freguesia de Moimenta, a Quinta do Fijô, António

Fontes & Filhos e a Quinta de S. João em Souselo e a Quinta da Giesta em Tarouquela.

Nota: Dos concelhos de Cinfães, Penafiel e Resende, destaca-se, essencialmente, o

artesanato e vinhos com origem ou desenvolvido nas freguesias pertencentes ao

território de abrangência da Dolmen.

2. Gastronomia e Doçaria do “Douro Verde”

1.1 Amarante

Situada na charneira entre o Minho e Trás-os-Montes, o Concelho de Amarante

comunga das características de ambas as províncias, pelo que a sua gastronomia foi

também influenciada pela situação geográfica. Por outro lado, a estrada real entre o

Porto e o interior transmontano atravessava Amarante, onde muitas vezes viajantes

sujeitos a penosas viagens de liteira, diligência ou a cavalo aproveitavam para

retemperar forças.

O facto é que, ainda hoje, a cozinha amarantina é baseada em pratos substanciosos,

como o cabrito serrano, a vitela arouquesa e maronesa, as feijoadas, as tripas, o cozido à

portuguesa, o bacalhau... Para variar, a delicadeza de umas trutas pescadas nas

cachoeiras do Tâmega e o requinte de um fumeiro bem temperado.

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A doçaria de Amarante é outra forte marca concelho. Nasce conventual, mas as

Invasões Francesas, obrigando à retirada das clarissas, precipitam a sua difusão pelas

famílias da vila e pelas lojas próximas do rio. Uma referência especial às pastelarias,

que continuam a garantir a amarantinos e sobretudo a viajantes os deliciosos papos de

anjo, foguetes, lérias e brisas do Tâmega que rivalizam em fama (diz-se em Amarante)

com o convento e a ponte, sem esquecer, num passado não muito longínquo, Alcino dos

Reis e a sua confeitaria "Casa das Lérias".

Figura 31 – Doces Conventuais de Amarante

1.2 Baião

A gastronomia de Baião é tão especial que até há quem diga que Eça de Queiroz se

apaixonou tanto pela paisagem desta terra como pelos sabores da sua cozinha

tradicional quando escreveu “A Cidade e as Serras". A comprová-lo, aí está o título que

o embaixador brasileiro atribuiu ao dicionário gastronómico cultural queirosiano: “Era

Tormes e Amanhecia”.

Obrigatório em dias de festa, casamentos, baptizados e aniversários é o Anho assado

com arroz do forno. Muita gente, porém não dispensa o Verde ou Bazulaque que era

oferecido aos convidados dos noivos antes de se dirigirem para a Igreja.

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Figura 32 – Arroz do Forno com Anho Assado e Batata Assada

O fumeiro tradicional tem características únicas e, tal como o Anho assado, dá origem a

um festival que todos os anos atrai milhares de visitantes à Vila de Baião.

É claro que a posta de vitela arouquesa, raça autóctone, constitui uma especialidade a

não esquecer pelos apreciadores. Quem melhor do que o especialista internacional da

F.A.O, M.H.French, que já em 1967 afirmava: “A raça Arouquesa é sem dúvida a

melhor raça de carne de Portugal…”

No que respeita à doçaria, o Biscoito da Teixeira é o doce

mais emblemático de Baião. Não tendo a sua origem histórica

bem definida, sabe-se que o seu nome deriva da terra

que tem o seu nome - freguesia da Teixeira. Sabe-se

também que este bolo típico tem origens pobres

devido à sua constituição (contém poucos

ingredientes). Daí a razão de o Biscoito da Teixeira

ser, ainda hoje, comercializado em festas e romarias.

Figura 33 – Biscoito da Teixeira

De não esquecer os Licores de Baião e as Compotas de Baião, que embora com tradição

no Concelho, foi há pouco mais de um ano que duas artesãs se dedicaram à sua

produção e venda. Não obstante a sua recente comercialização, estes produtos são já

alvo de muitos sucessos.

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Figura 34 – Licores de Baião e Compotas de Baião

1.3 Marco de Canaveses

O Anho Assado com Arroz de Forno, o Verdinho (ou Bazulaque), a Roupa Velha e a

lampreia (na freguesia do Torrão) são os pratos mais tradicionais do Marco de

Canaveses.

Em termos de doçaria, o Concelho do Marco de Canaveses distingue-se pelas fatias do

Freixo, as cavacas do Freixo e de Favões, os biscoitos de Soalhães, o pão-de-ló e o pão-

podre (estes dois últimos mais utilizados na época da Páscoa). As fatias e as cavacas do

Freixo, tal como o nome indica, são feitas na freguesia do Freixo pela "Casa dos

Lenteirões", uma casa com tradição na confecção destes doces regionais, que também

fabrica um delicioso pão-de-ló.

O pão-de-ló e o Pão Podre são os nossos doces tradicionais na Páscoa. Como uma boa

refeição não é completa sem uma boa entrada não podemos deixar de referir os nossos

enchidos.

A broa de milho de fabrico caseiro é mais uma das iguarias muito apreciadas no Marco

de Canaveses.

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Figura 35 – Broa de milho

1.4 Cinfães

Surgindo como consequência lógica da interligação das produções agrícolas regionais, à

semelhança de concelhos vizinhos, Cinfães tem como pratos típicos o cabrito ou anho

assado com arroz do forno. Os torresmos (ou torresmada), papas milhas com fígado de

porco cozido, bolo de forno de farinha de milho com carne gorda ou sardinhas, arroz de

lampreia e lampreia à bordalesa, sável frito, carnes de porco fumadas e rojões à moda de

Cinfães são também pratos típicos do Concelho de Cinfães.

É ainda de referir a Associação Nacional dos Criadores de Raça Arouquesa (ANCRA),

com sede neste Concelho. A “Carne Arouquesa”, oriunda não só de Cinfães, mas de

vários concelhos a nível nacional (incluindo também concelhos do “Douro Verde”) é

comercializada por este organismo

Figura 36 – Raça Arouquesa

Como doçaria, é de salientar o Pão-de-ló de Cinfães, os doces de manteiga, a sopa seca,

os formigos, os bolinhos de centeio e os bolinhos de trigo e de milho.

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Figura 37 – “Memórias” - Biscoitos artesanais

1.5 Penafiel

A gastronomia típica do Concelho de Penafiel consiste, fundamentalmente, nos

seguintes pratos: Arroz de Lampreia de Entre-os-Rios, Lampreia à Bordalesa, Bacalhau

com Broa, Pica no Chão (mais conhecido como Arroz de Cabidela), Bazulaque, Rojões

com Arroz de Sarrabulho e Cabrito Assado com Arroz de Forno.

No que respeita à doçaria, destacam-se os bolinhos de amor, o leite-creme, a sopa seca,

o pão-de-ló e as tortas de S. Martinho.

1.6 Resende

Os fumeiros são bem conhecidos e apreciados. Presunto, chouriço e salpicão são

obrigatórios em qualquer ementa que se escolha em terras de Resende.

O anho assado no forno é o prato mais típico e aqui é cozinhado com todos os requintes

e toda a sensibilidade da cozinha tradicional portuguesa. Mas também vale e a pena

provar o bazulaque.

Na doçaria e frutas, destacam-se as famosas cavacas, os rosquilhos de Aregos, as

falachas, as torradas do Barreiro e as características cerejas de Resende.

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Figura 38 – Cavacas de Resende e Cereja de Resende