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1- Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de ... · orçamento familiar, ... aconteceu o convite para a formação do grupo de estudos durante a reunião ... “mundo”

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1- Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Ensino. PDE/2010 e Especialista em Psicopedagogia. 2- Professora- Doutora da UEPG, Departamento de Letras, Orientadora PDE.

O uso do jornal como incentivo na formação de sujeitos-leitores

Roseane Aparecida Souza Castro¹

Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh²

Resumo

Este artigo é parte integrante e final da Formação Continuada PDE/2010 (Programa

de Desenvolvimento Educacional). Ele aborda alguns aspectos de um dos maiores

entraves no meio escolar: o ensino e aprendizagem em leitura. A leitura, através do

conhecimento que veicula, é a principal porta de inserção para o mundo culto e

cidadão. Mas, infelizmente, nossos alunos estão pouco interessados nessa “tal

cidadania” e nessa inserção de mundo que para eles está apenas no paralelo

(inatingível). Estão quase sempre à margem dos acontecimentos e aquém dos

resultados esperados em quase todas as disciplinas. Esse ainda não é o pior dos

problemas: observa-se que a maioria dos professores das diversas áreas de ensino

não sabe o que fazer. Esse artigo comenta a respeito do projeto elaborado pela

professora PDE, bem como o material pedagógico produzido e sua implementação

no Colégio Estadual Professor Júlio Teodorico no ano de 2011 com o objetivo maior

de contribuir de forma indireta para melhorar o hábito de leitura dos alunos nas

diversas disciplinas. Para isso, foram proporcionadas aos interessados (professores

e agentes educacionais) algumas oficinas com atividades variadas tendo o jornal

como aporte principal, bem como uma abordagem teórico- metodológica sobre o

tema . Acreditou-se que dessa forma o trabalho pudesse ter maior alcance na

tentativa de resolução da problemática citada, pois cada participante levaria para

seu ambiente de atuação os ganhos obtidos com a leitura dos diversos gêneros

textuais, as discussões, a troca de experiências e as oficinas realizadas. O

testemunho dos participantes, elemento central no relato dessa experiência, indica

que a tarefa foi bem sucedida.

Palavras-chave: Jornal. Leitura. Conhecimento de mundo. Multiletramento.

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1. Introdução

“Homens e mulheres, somos os únicos seres que, social e historicamente,

nos tornamos capazes de apreender. Por isso, somos os únicos em quem

aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do

que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir,

reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e

à aventura do espírito.”

Freire, 1997.

É público e notório que nossos alunos não gostam de ler. Juntemos a isso a

sua dificuldade de interpretar e produzir até mesmo pequenos e simples textos e

enunciados nas várias disciplinas, cuja parte mais visível são a ortografia debilitada,

o uso inadequado da pontuação básica, uso indevido das letras maiúsculas, o

desconhecimento das regras básicas de concordância nominal e verbal e ainda, a

ausência de organização e o uso consciente do caderno, a falta de silêncio e a

consequente falta de concentração, matérias-primas quase inexistentes em sala de

aula.

Diante da problematização parcialmente situada, já que os problemas não se

esgotam por aí, idealizou-se a busca por saídas viáveis quando postas em prática

em sala de aula. A participação no PDE possibilitou a leitura, a pesquisa e a seleção

de alguns novos caminhos e de outros já conhecidos, mas deixados de lado pelo

excesso de trabalho e finalmente, a implementação. Através da formação

continuada presencial e virtual, colegas professores e funcionários dispostos a

estudar mais sobre a temática puderam perceber a necessidade de algumas

mudanças na metodologia aplicada tanto no trabalho com alunos quanto na leitura

pessoal objetivando a aquisição de conhecimentos.

A contemporaneidade exige um indivíduo mais preparado para enfrentar as

dificuldades do mundo. Um sujeito capaz de se expressar com clareza nas mais

variadas situações de comunicação, que defenda com equilíbrio seu ponto de vista e

seja capaz de compreender opiniões discordantes. Isso tudo exige do profissional da

educação, independentemente da sua área de atuação, conhecimentos básicos a

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respeito de metodologias em leitura. Torna-se difícil e infrutífero, o trabalho que não

tem por base uma formação continuada atenta a essas necessidades atuais.

O tema escolhido para estudos e enfrentamento da problematização está em

consonância com as DCEs que afirmam que as propostas só se efetivarão com a

participação pró-ativa do professor...

Engajado com as questões do seu tempo, tal professor respeitará

as diferenças e promoverá uma ação pedagógica de qualidade a todos os

alunos, tanto para derrubar mitos que sustentam o pensamento único,

padrões pré-estabelecidos e conceitos tradicionalmente aceitos, como para

construir relações sociais mais generosas e includentes. [...] É tarefa da

escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas sociais

que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los

nas diversas esferas de interação. Se a escola desconsiderar esse papel, o

sujeito ficará à margem dos novos letramentos, não conseguindo se

constituir no âmbito de uma sociedade letrada. (PARANÁ, 2008, P.48).

O enfoque geral da abordagem de todo o trabalho realizado pela professora

PDE (Projeto, Material Pedagógico e Artigo) situa-se na perspectiva

sociointeracionista da língua (o uso prático da língua pelos falantes em sociedade),

alvo de estudos das Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua

Portuguesa. Este artigo é fruto desse processo, cujo espaço de implementação foi

Colégio Estadual Professor Júlio Teodorico/Ponta Grossa, no ano de 2011.

2. Escola e sociedade

Facilmente, percebe-se que se espera muito da escola. Esquece-se que a tão

almejada formação do leitor inicia-se em casa, durante as histórias ouvidas com a

TV desligada, na rua, com a leitura dos letreiros, no supermercado, com a lista de

compras, no cinema, buscando a melhor programação, nas brincadeiras, nas

livrarias com bons livros e preços acessíveis, na biblioteca pública ou escolar com

livros interessantes e com atendimento eficiente e facilitado, no bom salário dos pais

que podem adquirir exemplares de qualidade sem que isso comprometa o

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orçamento familiar, nos shoppings com ambientes atraentes e com direito à leitura

descompromissada das primeiras páginas dos livros, na formação competente e

comprometida do professor que trabalhará com esse aluno-leitor. Enfim, a formação

do leitor eficiente está nas mãos de muita gente. À escola caberia o dever de dar

continuidade, direção, aperfeiçoamento. Infelizmente, não é isso que acontece. A

escola, com raríssimas exceções, tem tentado realizar essa tarefa sozinha e tem

conseguido minguados resultados.

2.1 O interesse do aluno e a formação do professor

Buscou-se também, com esse trabalho de pesquisa e intervenção, entender

melhor a raiz do desinteresse e incapacidade para ler dos nossos alunos. Eles

certamente não são os únicos responsáveis pelos resultados negativos.

Não se almejou, apontar culpados ou inocentes. Buscou-se, sim,

compreender melhor a natureza de dois grandes problemas: o nosso aluno não

quer ler, melhor dizendo, ele, na maioria das vezes, não sabe ler (e o texto sem

sentido perde a força do interesse, da persuasão, do enredamento) e, ainda, os

professores não sabem o que fazer para resolver esse dilema. De acordo com

SILVA (2005, p. 20) “Nas escolas, a falta de gosto pela leitura não alcança

exclusivamente os alunos. Os próprios professores, com raras exceções, não trazem

consigo o hábito de ler (...)”.

“Não será por falta de conhecimento dos responsáveis pelo processo que o

terreno produz pouco?” (SILVA, 2005, p.20). Já dizia também Bertolt Brecht (1983)

que a árvore que não produz frutos era extirpada. Será que alguém havia se

lembrado de examinar o solo?

Infelizmente, muitos professores, atuantes em sala de aula, sobrecarregados

pelo excesso de trabalho, estão cada vez mais afastados das várias concepções de

leitura. Fazem uso apenas da sua experiência pessoal, muitas vezes deficitária,

esquecendo-se de buscar as teorias que poderiam direcionar e, assim, melhorar a

sua prática.

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Objetivou-se, assim, auxiliar, indiretamente, a formação do sujeito-leitor . Por

que indiretamente? Porque a implementação desse trabalho não aconteceu

diretamente com o aluno em sala de aula, mas contou com a participação de seis

colegas de profissão (professores das áreas de matemática, ciência e geografia e

dois agentes educacionais) na modalidade presencial e onze professores na

modalidade virtual (GTR), Grupo de Trabalho em Rede. Esperava-se que dessa

forma o projeto pudesse ter maior alcance.

3. A organização do trabalho

O projeto e a elaboração do material pedagógico tiveram um caráter

interdisciplinar, pois se entende que o compromisso com a leitura abrange as

diversas áreas de ensino. Isso não é uma “desculpa” de professores de língua

portuguesa, como muitos, infelizmente, assinalam. As próprias DCEs (2008)

sinalizam para a necessidade dessa cumplicidade entre as diversas disciplinas.

No ensino dos conteúdos escolares, as relações interdisciplinares

evidenciam, por um lado, as limitações e as insuficiências das disciplinas

em suas abordagens isoladas e individuais e, por outro, as especificidades

próprias de cada disciplina para a compreensão de um objeto qualquer.

Desse modo explicita-se que as disciplinas escolares não são herméticas,

fechadas em si, mas, a partir de suas especificidades, chamam umas às

outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos conteúdos de modo que

se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática pedagógica que leve

em conta as dimensões científica, filosófica e artística do conhecimento.

(PARANÁ, 2008, p.27).

Também de acordo com Neves e Souza

Costuma-se atribuir essa tarefa ao professor de Português, mas

qualquer professor, de qualquer disciplina, é pelo menos, também em

principio, um leitor de língua portuguesa e, como tal, pode fazer uma ponte

entre o significado construído pelo aluno e o significado corrente da

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expressão. E o princípio mais saudável para reger essa tarefa é a sabedoria

relativa de cada um. Vamos combinar que não é feio nem constrangedor

ignorar o significado de alguma palavra ou expressão, nem mesmo para

professores de português. Vamos combinar que é muito mais útil para

professores e alunos, que todos acabem achando natural procurar resolver

as próprias dúvidas em dicionários, enciclopédias, manuais, guias

ortográficos. Vamos combinar que feio e inútil (e muito mais trabalhoso) é

estigmatizar a ignorância alheia e esconder a própria.

(NEVES; SOUZA, 1998).

Ainda segundo Sole (1998): “o ensino de leitura não é uma questão de um curso

ou de um professor, mas questão de Escola, de Projeto Curricular e de todas as Matérias

(existe alguma em que não seja preciso ler?” (SOLÉ, 1998, p.19).

Dado o enfoque à problematização, pontuadas as responsabilidades e sem a

pretensão de apresentar respostas prontas (que bom seria se as tivéssemos!),

aconteceu o convite para a formação do grupo de estudos durante a reunião

pedagógica do 2º semestre de 2011.

Os oito encontros aconteceram de setembro a novembro, no Colégio Estadual

Professor Júlio Teodorico, no período noturno, com duração de quatro horas cada.

A cada encontro, promovia-se o diálogo e a reflexão coletiva sobre o ensino e

aprendizagem em leitura tendo o jornal como aporte principal. E através de oficinas,

os participantes puderam perceber a presença e a função de diferentes gêneros

textuais nas diversas situações de comunicação.

3.1 Por que o jornal?

Psicologicamente, o aluno sente-se importante usando um instrumento do

“mundo” adulto e culto. Mesmo com crianças não alfabetizadas podemos trabalhar a

informação, através da leitura de imagens e da narração do professor sobre os fatos

que possam interessá-las. É importante que a criança perceba que o jornal é um

objeto de estudo vivo e que está bem próximo aos interesses da sua comunidade. O

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seu conteúdo permite desenvolver atividades de todas as áreas, tornando o leitor

informado e contextualizado com a realidade.

Na educação de adultos, o jornal é uma ótima ferramenta de ensino. Além de

servir como suporte para a alfabetização, incentiva a discussão e a aquisição de

informações atuais e variadas. Com isso, o estudante adulto, muitas vezes com a

autoestima baixa pelo atraso na escolaridade, vai adquirindo confiança, autonomia e

desembaraço na comunicação e melhorando seu desempenho social.

O jornal pode, perfeitamente, ser trabalhado de forma interdisciplinar. Muitos

temas quando trabalhados com múltiplos olhares, tornam-se mais ricos e

envolventes.

É inegável a riqueza textual presente nos jornais. Sua linguagem simples,

mas correta, objetiva, dinâmica e atual nos faz acreditar que ele é um ótimo ponto de

partida para o trabalho com leitura. Seus textos curtos, rápidos e híbridos fazem

parte da modernidade podendo ser trabalhados por qualquer disciplina.

Essa leveza do texto jornalístico e a possibilidade de transmutação de gênero

são atraentes aos olhos do aluno que poderá transformar um texto informativo, após

leitura e compreensão, em poesia. Uma notícia, após discussão, em júri simulado ou

charge. Uma reportagem em história em quadrinhos. Poderá dramatizar um texto

publicitário... .

A riqueza do jornal como aporte textual é incontestável. Daí a importância de

possibilitar ao professor e ao aluno, leitor em formação, maior intimidade com a

leitura desse material. De acordo com Lage,

A linguagem jornalística oferece hoje uma espécie de ”português

fundamental”, uma língua de base, não tão restrita que limite o crescimento

linguístico do aluno e nem tão ampla que torne difícil ou inacessível o texto

escrito ao comum dos estudantes (LAGE, apud FARIA, 1991, p.12)

Na seção a seguir, relataremos com mais detalhes essa experiência de

trabalho com o jornal, procurando evidenciar, a partir do testemunho dos próprios

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participantes, os deslocamentos que ela lhes propiciou. A cada encontro, um dos

participantes descrevia as atividades realizadas e as suas impressões do momento,

como em um “diário de bordo”.

4. A implementação: do projeto à ação

“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não

posso abrir-lhe outro mundo de imagens além daquele que há em

sua própria alma (...). Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade,

o impulso, a chave (...). Ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo,

e isso é tudo”. HERMANN HESSE, 1927

Para iniciar o trabalho, buscou-se a descontração e a interação entre os

participantes que formavam o grupo de estudos. Algumas técnicas humanísticas,

presentes no Material Pedagógico elaborado para o PDE, páginas 14, 15, 16 e 17,

foram aplicadas e suas respostas foram expostas pela sala de encontro. Eram

atividades simples, mas ofereciam a possibilidade de cada um retratar a sua

personalidade, gosto e preferências. O objetivo era fazer o grupo perceber a

necessidade de darmos voz a nós mesmos e ao outro (o aluno). Uma voz com

objetivo e que “denunciasse” nosso conhecimento de mundo, nossas fragilidades ou

a riqueza da nossa personalidade, a existência de preconceito, a estrutura familiar,

sonhos e “delírios”, preferências, fobias, dificuldades de comunicação oral e escrita,

tolerância, ansiedade , criatividade, consciência crítica, solidariedade, participação,

liderança,... . Aspectos importantíssimos que podem nortear um plano de ação para

o trabalho com os gêneros textuais presentes no jornal. Cordeiro ressalta que

(...) torna-se necessário deixar clara a relevância social e afetiva a

cada novo gesto e olhar do professor sobre o seu campo de trabalho.

E é a partir desse saber que nós, professores, vamos com múltiplos olhares,

ressignificando conceitos, reelaborando nossas práticas de leitura e escrita.

(CORDEIRO, 2004, p.95).

As atividades lúdicas devem acompanhar todo trabalho pedagógico

independentemente da área e nível de ensino onde for aplicada. Mas uma ressalva

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é feita aos educadores: nada do que foi descrito anteriormente será possível, se não

tivermos interesse nem sensibilidade para as palavras e pequenos gestos tão

reveladores da personalidade humana.

Nos encontros seguintes, foram sondados os conceitos de leitura de cada

participante, sua importância, suas dificuldades e seus interesses. Eles se

pronunciaram a respeito da seguinte afirmação: ensinar a ler e incentivar o gosto

pela leitura, em qualquer disciplina, não são tarefas fáceis. Exige-se um professor

bem formado pela sua instituição, que seja experiente e acima de tudo: LEITOR.

“Baseado (a) nessa informação, registre suas impressões nessa área. Relate

dificuldades, experiências bem sucedidas, surpresas, decepções...

*P.1 “Sou agente educacional e cuido da biblioteca do colégio onde trabalho. Vejo

livros todos os dias, mas tenho dificuldades para ler. Meu maior problema é a falta

de interesse pessoal. Tenho consciência disso, até aconselho as pessoas a lerem,

principalmente as que vão prestar concurso, mas não consigo convencer a mim

mesma...”

*P.2 “Sou agente educacional no colégio onde trabalho. Fico feliz quando posso

responder uma pergunta dos alunos. Acho que devemos estar atualizados com

cursos e palestras porque o que recebemos das pessoas bem informadas são

pérolas valiosas (...)”

*P.3 “Sou professor de geografia e acredito que as dificuldades encontradas no

ambiente escolar em promover a leitura está na concorrência com a tecnologia.

Muitos dos nossos alunos passam horas navegando na Internet em vez de

“mergulhar em um livro”. Que tal aliarmos a tecnologia com a leitura?(...)”

*P.4 “Sou professora de matemática e vejo a leitura como algo que nos permite ou

facilita a compreensão de conceitos, amplia informações que necessitamos no dia a

dia. Infelizmente, ela é deixada em segundo plano nas salas de aula, esperando um

tempo livre. Nas minhas aulas, utilizo as leituras de imagens e gráficos o que auxilia

os alunos a construir o conhecimento. (...) Na matemática, o aluno acredita que

basta saber calcular, não conseguem relacionar os conteúdos estudados com as

situações do cotidiano. Mais leitura e exercícios de interpretação auxiliariam na

formação de uma aprendizagem mais significativa.”

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*P.5 “A matemática também é a minha área. Estudei em um colégio de freiras muito

rígido, mas pude perceber que os professores de língua portuguesa tinham “um

encanto” pelo que faziam. (...) Hoje, vejo que o que faço precisa ser melhorado no

sentido de proporcionar a meus alunos experiências positivas tais como as que

presenciei enquanto aluna. Sei que os tempos são outros, mas precisamos buscar

alternativas, diversificarmos metodologias para tocarmos esses alunos e despertá-

los. Acredito que o trabalho com gêneros textuais variados e abordados por

diversas disciplinas possa fazer alguma diferença. (...) Por isso, aqui estou,

buscando...”

P.6 “Sou formada na área de Ciências e a necessidade de ampliar o conhecimento

em áreas que fundamentam a minha disciplina criou em mim a mania de acreditar

que a leitura é imprescindível para todos. (...) muitos alunos permanecem no

descaso ou têm dificuldades para entender então demoram mais para se dar conta

do mundo que os cerca, esses alunos são desafios constantes para nossa

persistência.(...)”

Diante desses relatos, embora se perceba formações e interesses diferentes,

fica evidente a importância do trabalho com todas as formas de leitura: gráficos,

imagens, informativos,... nas esferas concreta e virtual.

4.1 Como iniciar o trabalho com os gêneros presentes no jornal?

As atividades presentes no material pedagógico produzido para esse PDE

(2010) e desenvolvidas durante a implementação foram baseadas nos livros de

Isabel Solé, Regina Maria Braga, Carmen Lozza, Maria Alice Faria e a participação

da professora PDE no Projeto Vamos Ler do Jornal da Manhã (2009).

O universo da leitura precisa ser atraente aos sentidos do leitor. Pensando

nessa afirmativa, vários materiais ficaram disponíveis pelo ambiente que fora

organizado para os encontros. A estratégia surtiu efeito, como indica o relato dos

participantes P.5 e P.3:

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P. 5: “(...) ao chegarmos à sala de encontros temos um convite “natural” `a

leitura: diversos materiais dispostos pelas mesas, cartazes de incentivo à leitura,

livros que versam sobre o tema, todos cuidadosamente selecionados e organizados.

Isso tudo sem falar no quadro de giz da sala, um convite especial aos olhos: um

misto de frases, imagens e textos num conjunto harmonioso... Em um ambiente

assim, fica difícil não encontrar algo que não nos interesse. Movidos pela

curiosidade natural, percorremos a sala, livres para escolhermos o que mais nos

atraía, tanto no início como no intervalo de cada encontro (...)”.

P.3 “(...) é importante destacar algo que desde o início me atraiu a atenção:

são os vários elementos distribuídos pela sala como cartazes, banners, frases de

incentivo à leitura, comentários feitos por nós nos encontros anteriores e registrados

no quadro de giz, jornais, revistas, entre outros. Apesar de ser um laboratório de

ciências, a professora organizadora procurou deixá-lo o mais temático possível. É

um ambiente chamativo e agradável, o que o torna um portal para a leitura.”

De fato, cada participante “passeou” à vontade entre os materiais e escolheu

o que queria ler. Cada qual comentou por que havia escolhido essa ou aquela

reportagem. Após esse momento, foi reforçada a ideia de que deve haver momentos

em que o professor deve dá liberdade ao aluno (leitor em formação) de escolher o

que quer ler e ao leitor adulto (que busca melhorar a sua formação) de abandonar a

leitura daquilo que não correspondeu às suas expectativas e ir à busca de outras.

Pennac (1998, p.13) já afirmava que “o verbo ler não suporta o imperativo e que

uma curiosidade não pode ser forçada apenas, despertada.” Deixar o aluno

manusear o material de leitura com liberdade e escolher o que quer ler também é

uma das dicas do Jornal Diário dos Campos (2001).

Ler jornal é como fazer compras. A gente sai para comprar uma

coisa e acaba levando outras que nos atraíram. O professor pode escolher

uma notícia para discutir em determinada hora. No entanto, o aluno irá se

deparar, no ato da procura, com outras matérias que lhe chamarão a

atenção. Deixe que ele “compre” todas as informações que quiser, até

chegar ao tema pré-escolhido. (Claro, que nem sempre poderá ser assim!),

mas inicialmente, professor, tenha paciência, não comprometa todo um

trabalho posterior, revertendo resultados. Assim correrá o risco de estar

fazendo o aluno se chatear com o jornal em vez de despertar-lhe o prazer

pela leitura e busca de informações.

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(PROJETO CIDADÃO DO FUTURO, 2001)

Um item importante quanto à leitura de qualquer gênero textual é que o aluno,

leitor em formação, seja levado a perceber a presença desses gêneros textuais no

nosso dia-a-dia e a que se destinam. O bilhete, a receita médica ou culinária, a lista

de compras, o boleto bancário, o informe publicitário presente na embalagem do

papel higiênico e na pasta dental, o manual de instruções, o comprovante de

pagamento, a oração, a música, o horóscopo, a piada... são a materialização desses

gêneros. É o uso prático da língua em sociedade.

P. 2 “Nossa, eu não sabia que conhecia tantos gêneros textuais!”

O gênero textual notícia foi selecionado para um dos encontros. Foram

comentadas as características desse gênero e sua função (informações presentes

das páginas 30 a 36 no Material Pedagógico). E ainda, segundo BRAGA,2009,p.20.

No momento da leitura, é preciso levar em conta que o texto, ou o

livro envolve: autoria, data de publicação, editora, edição, ilustração e

ilustrador, origem, público-alvo, distribuição, tamanho e posição da

impressão, custo etc.(...) A observação desses índices precisam ser

incorporados à leitura para que o aluno-leitor “enxergue” que toda produção

escrita é uma atividade comunicativa, com uma função social, realizada em

uma determinada situação, que abrange tanto o conjunto de enunciados

que lhe deu origem quanto as condições nas quais foi produzido. O que

ocorre com frequência em sala de aula é o texto ser tratado como um

discurso desvinculado de seu autor, de sua fonte, enfim, de seu contexto.

(...) O que se quer dizer é que não se dá, em sala de aula, a essas

informações a importância que têm para a construção do sentido do texto

(...).

O texto RIQUEZA AMBIENTAL É ALVO DE DISPUTA JURÍDICA, publicado

no Jornal da Manhã, no dia 31 de julho de 2011, foi apresentado ao grupo. Antes de

iniciarmos a leitura, fizemos a exploração minuciosa dos elementos pré-textuais: o

título, as fotos, legendas, gráficos, página onde fora publicado, o espaço ocupado,...

Como o texto selecionado era uma notícia, tornou-se necessário comentar

esse tipo de gênero textual: narração de um fato, escrita em terceira pessoa de

forma objetiva e imediata. De acordo com Faria, 2009, p.151, “na esfera jornalística

faz-se o uso da pirâmide invertida”. Um recurso estrutural que inicia a notícia pela

parte mais importante, objetivando responder a questões curiosas como: Quem? O

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quê? Como? Quando? Onde? Tudo isso pensando no leitor apressado que muitas

vezes não lê todo o texto. Nesse momento, o participante P.2 declarou

“(...) essa exploração do texto ajuda muito. Eu nunca tinha percebido a

importância das pistas. Normalmente, a gente lê legendas, vê gráficos... depois de

ler os textos e, muitas vezes, essas coisas até passam despercebidas.”

Iniciamos o texto, fazendo uma leitura compartilhada. Cada participante

incumbiu-se de um trecho. Parávamos após cada parágrafo mais extenso e

fazíamos comentários a respeito do que líamos. Para isso as informações de Frank

Smith (apud Braga, 2009, p.17) foram esclarecedoras:

O cérebro não tem tempo para atentar para todas as informações

impressas, e pode ser facilmente inundado pela informação visual. Nem a

memória é capaz de lidar com todas as informações que poderiam estar

disponíveis em uma página. O segredo para uma leitura eficiente é fazer

uma amostragem do texto ( em partes). O cérebro deve ser parcimonioso,

fazendo uso máximo daquilo que já sabe e analisando o mínimo de

informação visual necessária para a verificação ou modificação do que já

pode ser previsto quanto ao texto. (...) A seletividade para leitura. (.a coleta

e análise de amostragens de informação visual disponível no texto vem

com a experiência de...) O cérebro é capaz de direcionar corretamente os

olhos, na leitura e em outros aspectos da visão, desde que compreenda o

que deve procurar.”

Reforçou-se a ideia de que a leitura apressada de qualquer gênero nem

sempre nos traz os resultados almejados. A indisponibilidade de tempo, muitas

vezes, produz frutos minguados!

O grupo também foi orientado a não parar a leitura diante de palavras

desconhecidas. O texto lido apresentava palavras, expressões, conceitos e

nomenclaturas “estranhos” ao universo de alguns participantes: Código de Águas,

Código Florestal, Lei Ambiental Municipal, Ministério Público, Área de Preservação

Permanente..., mas foi salientado que nem todo significado é necessário para

entendermos um texto. As palavras que já conhecemos e estão ao redor da

desconhecida nos dão pistas sobre ela. É a chamada inferência lexical. Rubem

Braga retrata muito bem a aceitação do desconhecido, quando irrelevante. A crônica

Nascer no Cairo e ser fêmea de cupim do referido autor exemplifica muito bem isso.

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Disponível em: www.releituras.com/rubembraga.cairo.asp. Em caso de permanência

da dúvida, o bom e velho dicionário, a Internet,... tornam-se grandes aliados.

Como o grupo era heterogêneo quanto à sua formação profissional, os

professores de Geografia e Ciências puderam nos socorrer quanto aos termos

desconhecidos, o que evidenciou a importância do trabalho interdisciplinar e a

realização de projetos coletivos.

Cada parágrafo foi discutido minuciosamente na tentativa de captarmos a

tendência do jornalista e do próprio jornal. Seriam eles favoráveis às ações de

despejo dos antigos e novos moradores das margens da Represa dos Alagados ou

não? Afinal, a interpretação dada pelo jornal também deve ser interpretada. O

debate se instalou entre os participantes. Logo, ficou clara a necessidade de darmos

espaço para o aluno leitor comentar, dar a sua opinião. Percebemos também

possibilidades inúmeras de trabalho interdisciplinar, dando ao texto (notícia) um

olhar multifocal. O P.3 ainda comentou: “Um assunto, que muitas vezes nos passa

despercebido, poderia criar no aluno o senso crítico quanto às ações de preservação

a natureza. Afinal, ele faz parte desse planeta tão mal ocupado.”

Voltando ao texto em questão, após leitura, análise textual e discussão,

chegamos à conclusão de que o ser humano é imediatista e não se preocupa com o

futuro do planeta. O P.2 ainda comentou “(...) vocês sabiam que os esgotos dessas

casas são despejados dentro dessas águas... é... depois sobra para nós da área

urbana.”

Assistimos, para finalizar, a um vídeo que mostra imagens aéreas da

Represa do Alagados e ficamos impressionados com a audácia de alguns

proprietários que, sem escrúpulos, construíram suas casas praticamente dentro das

águas da represa. Seus barcos e iates atracam junto à porta da sala de estar.

Ainda nesse encontro, cada participante produziu uma notícia que gostaria

de ver publicada, tomando o devido cuidado de produzir a manchete, o

lide,configurar a pirâmide invertida e ainda produzir a ilustração para enriquecer o

seu texto, o que motivou o comentário de P.2 : “Estou até me sentindo importante

escrevendo uma notícia, quem diria?”

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O encontro seguinte foi marcado pela leitura do texto de opinião do economista

Cláudio de Moura e Castro, publicado na Revista Veja on-line, 06/03/2002, nº 1.741,

cujo título é O Brasil lê mal. Antes foi comentado a respeito das características

desse gênero textual: sua estrutura, força de persuasão e formação de opinião.

Seguimos o passo-a-passo: elementos pré-textuais, leitura-descoberta e atividades

pós-leitura. Segundo Braga (2009, p. 29), “é no momento da pós-leitura que o aluno

leitor poderá utilizar criticamente o sentido construído, refletir sobre as informações

recebidas e, assim, construir conhecimento.” A pós-leitura é outra importante etapa

da leitura, pois consiste na fase de ampliação, confirmação ou transformação da

visão de mundo do leitor, na fase do confronto do sentido construído com o seu

próprio sistema de valores. Como sinalizam as DCEs, p.75, “é o momento de romper

e alargar horizontes”.

Para o P.4 “o maior destaque do texto estava no tópico: (...) Nossa

incapacidade de decifrar um texto escrito não se deve a nossa pobreza de

conhecimentos, mas a um erro sistêmico. Aprendemos errado e por isso mesmo,

ensinamos sistematicamente errado (...). O participante 5 completou: “ Diante do

exposto , temos que destacar o projeto da professora PDE que nos propõe o uso do

jornal como um novo incentivo na busca de uma “revolução possível”, como nos

sugere o autor do texto citado.”

Demos continuidade ao encontro com a leitura de outro gênero textual: o

conto. Publicado originalmente no Journal of Educational Psychology e traduzido por

Pitchert, J. & Anderson R. Narra a história de uma família muito rica que morava fora

da área urbana. Os pais, muito ocupados, quase nunca estavam presentes em casa.

O texto descrevia detalhadamente o rico ambiente e a presença de três filhos ainda

muito jovens. A imaginação correu solta. O desfecho parecia certo, até o momento

em que foi proposto a cada participante para posicionar-se como um personagem

dentro da história: uma possível empregada interessada no futuro emprego, um

ladrão, um corretor de imóveis, um comprador... .Cada participante do grupo de

estudos foi convidado a relatar de que forma via o texto posicionando-se sob o ponto

de vista das diversas personagens. Ideias expostas, era chegada a hora de

comentarmos a respeito do Horizonte de Expectativas, ou seja, de acordo com

Bordini e Aguiar (1993), só recebemos e analisamos um texto de acordo com nossa

16

formação, visão de mundo e interesses. Muitas vezes, o texto toma rumos

inesperados, rompendo e ampliando nossas expectativas.

De acordo com a P.6 “(...) isso explica por que nossos alunos reagem de

maneira diversa diante de um mesmo texto (...). Fica óbvio por que nos

decepcionamos ou nos surpreendemos diante das diferentes respostas que nossos

alunos nos dão perante um texto.” Trabalhar com o horizonte de expectativas de um

grupo não é tarefa fácil. As experiências vividas são diferentes e as respostas,

divergentes. Precisamos estar atentos às características gerais que permeiam o

grupo para chegarmos a um consenso na hora de escolhermos um gênero textual,

um livro, uma música,... para análise coletiva.

A cada encontro, percebia-se que o grupo estava mais habituado ao uso das

técnicas de leitura sugeridas logo no início. Ao receberem os gêneros textuais

selecionados, começavam logo a explorar as pistas pré-textuais. A participante 6

comentou: “ Na pressa, em sala de aula, partia logo para a leitura oral do texto e

depois as atividades de interpretação. Ficava insatisfeita com os resultados. Os

alunos sempre vinham me perguntar onde estavam as respostas. Queriam até que

eu marcasse com o lápis, no livro, em qual parágrafo as encontrariam. Uma

verdadeira decepção! Hoje, trabalho com menos pressa, fazemos a exploração pré-

textual, a leitura descoberta partilhada e depois de tiradas as dúvidas vamos para o

pós- leitura. Confesso que tenho ficado satisfeita.”

4.2 Os textos não verbais

Os dois últimos encontros foram permeados por textos jornalísticos, mas,

dessa vez, trabalhamos também com as imagens. Os participantes foram levados a

perceber que um tema também poderia ser abordado dentro de textos não verbais.

De acordo com o Jornal da Manhã, Projeto Vamos Ler, 2009, “A imagem é uma

linguagem universal, compreendida por qualquer sociedade. Daí o seu poder de

comunicação. (...) ao ler uma imagem, estamos desenvolvendo o senso estético,

criativo e crítico que é peculiar a cada indivíduo” .

A leitura compreensiva de uma imagem (efeito produzido) depende da

recepção do leitor. Mais uma vez, percebemos o quão influentes são a história de

17

cada um, o conhecimento de mundo, as experiências vividas e as expectativas

individuais. Por isso mesmo, não deveríamos esperar que um grupo de leitores

interpretasse da mesma forma uma charge, uma obra de arte, uma HQ, um filme... .

Isso não se realiza por outrem, depende de sintonia, fruição compreensiva e

prazerosa de cada um. É o que chamamos de Estética da Recepção, estudada por

Hans Robert e Wolfgang Iser. Nesse encontro, ainda, comentamos as diferenças

tênues que há entre os gêneros charge, caricatura e cartoon. Foi solicitado aos

participantes que analisassem atentamente a charge logo abaixo e comentassem o

que entenderam. O que o autor desejava satirizar e /ou criticar?

Figura 1 - Fonte: Jornal da Manhã

Surgiram inúmeros comentários, como: “É o melhor local porque poderia

servir às pessoas que acompanharam um enterro.” “É um local estratégico porque

está longe dos outros concorrentes.” “É estratégico porque o movimento do trânsito

é quase inexistente, portanto haveria mais segurança para o consumidor”. ... Até

então não haviam chegado a um consenso. Partimos, então, para a leitura da

reportagem que tratava a respeito da Lei Municipal que proibia o comércio

ambulante de lanches e a consequente retirada dos carrinhos. Um dos principais

motivos alegados na reportagem era a falta de higiene básica na manipulação dos

produtos comercializados. Enfim, o humor e a crítica embutidos na charge estavam

no fato de comer o lanche e já estar próximo ao cemitério. Para o jornalista e

chargista do Jornal da Manhã, Danilo Kossoski (2009), “A charge retrata uma

situação real e específica, normalmente orientada por uma notícia de jornal. Por

18

isso, as mais antigas podem não fazer sentido para o leitor não familiarizado com o

contexto ao qual elas se referem.”

Nesse mesmo encontro, assistimos ao curta metragem “Frango a la carte”,

filme premiado mundialmente em 2010 e noticiado nos grandes jornais. Ficamos

sem comentários. O curta é maravilhoso e retrata a disparidade econômica e a fome

no mundo. Para completar assistimos a uma reportagem veiculada pelo Jornal

Nacional na noite de 31 de outubro de 2011, cujo tema era o nascimento do

habitante de número 7 bilhões, os problemas que enfrentamos e enfrentaremos com

o crescimento populacional e algumas saídas encontradas pelo Japão. Buscamos

nos jornais as reportagens do dia para compararmos as informações. Baseados nos

dados obtidos, os participantes procuraram expressar por escrito o fato, escolhendo

o gênero textual preferido. Como resultado, obtivemos a produção de cartazes,

paródias, frases de incentivo à preservação do meio ambiente e poesia.

Chegamos ao último encontro do grupo de estudos. Iniciamos com a leitura

da crônica Evolução de Fernando Veríssimo onde o autor narra de forma inteligente

e humorada a chegada do final dos tempos quando apenas sobreviverão no planeta

os pobres, os sem teto, os descamisados, pois eles já estarão acostumados a não

comer, a andar a pé, a não ter plano de saúde... e nos aconselha a começar a

aprender com eles . Caso contrário, estaremos fadados a não sobreviver. Depois,

para completar o circuito temático, passamos para o vídeo Home, que retrata a

ocupação desordenada do ser humano no planeta e a exploração desenfreada da

natureza. Os participantes foram levados à percepção de que um gênero pode

completar as informações de outro tornando assim o tema muito mais interessante e

com informações completas o que poderia acontecer se trabalhássemos de forma

interdisciplinar. Como atividade prática final, deixei-os escolher uma entre as três

que seguem.

1) Sabemos que nem tudo que lemos, ouvimos e/ou assistimos tem 100% de

verdade. Sempre haverá uma forte influência ideológica de quem produz esses

materiais. No caso do documentário assistido, baseado (a) no seu conhecimento e

leituras complementares, essa afirmação pode ser considerada verdadeira ou é uma

falácia? Explique sua resposta. Você observou alguma afirmação duvidosa no

vídeo? O quê?

19

2) No encontro de número sete, assistimos a uma gravação do Jornal Nacional

dando-nos a notícia a respeito dos sete bilhões de habitantes no planeta. No

encontro oito, lemos a crônica de Luis Fernando Veríssimo, Evolução e fechamos o

assunto com o documentário HOME, o que nos mostrou a intertextualidade entre os

diferentes gêneros textuais: notícia, reportagem, crônica e documentário. Os fatos

apresentados geram uma preocupação incômoda, principalmente porque sabemos

que muitos não dão a menor atenção aos perigos iminentes. Escolha um dos

gêneros textuais presentes no jornal e produza uma chamada aos “desavisados”

para as catástrofes globais. Use como título uma das frases citadas no vídeo.

3) Pensando na máxima “FAÇA SUA PARTE!” Invente um produto inovador,

alternativo e autossustentável. Você poderá fazer uso do desenho, recorte e

colagem,... Leia se necessário, o material disponibilizado que trata da linguagem

publicitária e imagem (PDE) e elabore a propaganda para divulgar o seu produto.

5. GTR (Grupo de Trabalho em Rede) :

Durante a implementação do Projeto, que aconteceu entre setembro e

novembro de 2011, houve também a participação de onze professores que

formaram um grupo de estudos à distância. Eram professores de diversas regiões

do Estado do Paraná interessados na temática apresentada pela professora PDE.

Alguns da área de Língua Portuguesa, outros, da Pedagogia e Filosofia, e ainda,

Educação Especial. Todos os envolvidos no processo tomaram conhecimento via

on-line do Projeto e do Material Pedagógico produzido para a sua implementação.

Eram unânimes em afirmar que os percalços encontrados no ensino de leitura eram

comuns a todos. A participante virtual, aqui identificada como P.V.1 conta: “Nossa

missão, enquanto formadores de leitores competentes, realmente, é muito árdua,

pois temos concorrentes “de peso” que são muito mais sedutores do que a leitura de

um livro, ou de um texto, cuja atividade exige tempo, concentração, observação de

detalhes, ausência de imagens, por essa razão, essa prática é rejeitada por nossos

alunos (...).”

20

Já a P.V.2 nota que os jovens não têm interesse pela leitura porque não são

motivados para isso nem na família e nem na escola.

O P.V.3 diz: “Infelizmente, a maioria dos professores não está preocupada

com a leitura de seus alunos. A própria avaliação é elaborada de forma a facilitar a

correção com questões de complete, ligue, assinale, enumere... As questões abertas

e reflexivas ficam apenas para os professores de português e alguns poucos

interessados em fazer o aluno ler, refletir e elaborar suas respostas.”

De acordo com o P.V.4: “A própria escola pública, claro com algumas

exceções, não se preocupa em atualizar acervo, assinar periódicos,... Normalmente,

esperam que o Governo Estadual promova ações de envio de algum material para

leitura.

O P.V.5, professor de Língua Portuguesa, comenta: “É com tristeza que

observo que a maioria dos professores das demais disciplinas não costumam expor

pelas paredes das salas de aula os trabalhos realizados pelos alunos, muito menos

recados, textos informativos relacionados à suas disciplinas o que poderia aguçar a

curiosidade e levá-los a ler e a melhorar na próxima oportunidade as atividades que

produzem.”

Material lido, sugestões dadas, algumas atividades foram implementadas por

esses professores e depois com resultados comentados.

A P.V.6 comentou: “O material produzido pela professora-tutora é de fácil

aplicação e reúne informações valiosas para o trabalho com o jornal em sala de

aula”.

A P.V.1 para resolver a falta de material para todos os alunos sugeriu o recorte

das notícias, reportagens, HQs, charges, informes publicitários, crônicas, e depois,

trabalhar. Já que algumas matérias não envelhecem logo e nos permitem o trabalho

algum tempo depois.

O P.V.7 comentou: “A escola onde trabalho fica em uma área rural. Quando

venho da área urbana, trago comigo vários informes publicitários, revistas, HQs,

jornais, mesmo os já adormecidos... tudo é novidade. O jovem que está afastado do

21

excesso de tecnologia gosta de ler e com esse material sugerido pela professora-

tutora, vou aumentar a motivação da garotada.”

A P.V.8 também aprovou o uso do jornal em sala de aula para motivar a

leitura oral, o debate e a formação de opinião e ainda sugeriu a produção do jornal-

mural.

O P.V.9 contou que testou, entre várias atividades, o retrato chinês (sugestão

presente na página 14 do Material Pedagógico); sua turma gostou muito, o que

oportunizou a interação entre todos.

O P.3 registrou: “A minha visão sobre leitura mudou. Hoje, estou mais atento

aos textos que escolho para a turma. Tenho aplicado o que aprendi no grupo de

estudos e venho obtendo êxito.

Os participantes presenciais 1 e 2 declararam: “Queremos ser convidados

para um próximo grupo de estudos porque com os encontros a gente aprendeu a

prestar mais atenção aos detalhes do texto, perdemos até a vergonha de falar perto

dos outros(...).

6. Conclusão:

A oportunidade de interagir com colegas de trabalho na modalidade

presencial e virtual foi uma das etapas mais ricas do PDE. Apresentar, após

pesquisa, uma possibilidade de trabalho pedagógico, talvez, mais atraente, mais

real, palpável... foi gratificante.

Os gêneros textuais estão presentes em todos os momentos do nosso dia-a-

dia. Trazê-los para dentro das salas de aula, através do jornal, não é uma tarefa

difícil como se imagina. Os próprios PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e as

DCEs (Diretrizes Curriculares do Ensino Básico de Língua Portuguesa), ambos

postados no portal dia-a-dia-educação, preocupados com a formação de sujeitos

autônomos (aluno e professor), propiciam um ótimo embasamento teórico,

almejando essa formação. Desejam-se indivíduos sensíveis aos problemas que os

circundam, conhecedores dos seus direitos e deveres, sabedores da força de

atuação coletiva e da capacidade de persuasão produzida pelas palavras quando

organizadas dentro de um discurso bem elaborado.

22

Aproveito para deixar uma coletânea, algumas minhas, professora PDE,

outras de escritores consagrados como Augusto Cury, Carmen Lozza, Regina Maria

Braga e Ângela kleiman que contribuíram enormemente com a realização desse

trabalho. Costumo chamá-las de “máximas”:

1- Não escrevo para heróis, mas para pessoas que sabem que educar é realizar a

mais bela e complexa arte da inteligência. Educar é acreditar na vida e ter

esperança no futuro mesmo que os jovens nos decepcionem no presente. (CURY,

2003)

2- A emoção define a qualidade do registro na memória. (CURY, 2003)

3- Os mesmos erros merecem novas atitudes: não insista naquilo que não deu certo!

(CURY, 2003)

5- Se você não gosta de ler, esqueça-se de persuadir alguém para isso.

6- Você moverá alguém pelo exemplo e não pela força.(BRAGA, 2009)

7- Já é tempo de produzirmos autores e não vítimas da própria história. (CURY,

2003)

8- Todos querem educar jovens dóceis, mas são os que nos frustram que testam

nossa qualidade de educadores. (CURY, 2003)

9- A punição só é útil quando é inteligente. Mude seus paradigmas educacionais!

Elogie o jovem antes de corrigi-lo ou criticá-lo. (CURY, 2003)

10- O trabalho com o jornal aproxima o aluno de uma vida mais real, mais palpável,

mais próxima a ele.

11- Conheça os diferentes gêneros textuais que circulam pelo dia-a-dia do seu

aluno. Conheça seu interesse, sua criatividade... Não o sufoque ou desestimule

trazendo apenas aquilo que você acha necessário ler!

12- Conte o que você aprecia ler, por que lê e quais são as suas estratégias de

leitura.

23

13- Conte-lhe situações difíceis ou vexatórias nas quais se meteu por não ter se

informado (através da leitura) antes. Contar histórias humaniza o professor e o

coloca mais próximo da turma.

14- O ensino de leitura não é questão de um curso ou de um professor, mas questão

de escola: se a instituição falha, todos falham! (KLEIMAN, 2010)

15- O jornal é o material mais completo para se trabalhar com a leitura.

16- A leitura de jornal é um possível instrumento de abertura para outras leituras. Ao

ler o jornal, cada um pode ser levado a ler mais, ler livros e ler a vida, ler e reler,

sempre. Ou não. ( LOZZA, 2010)

16- Ao fazer uso de um texto para estudo, interpretação, elaboração de outro, lazer,

informação complementar... observe se ele está dentro da capacidade de

compreensão do leitor; isso é válido para leitores maduros ou em formação. Nada

mais chato e desanimador do que precisar ler algo além do alcance da

compreensão.

17- As estratégias de pré-leitura, leitura-descoberta e pós-leitura podem, depois de

algum tempo, ser deixadas de lado, pois com a experiência, o leitor redefine as

tarefas por si próprio, constituindo as suas estratégias de leitura. (BRAGA, 2009)

18- Ao fracasso na formação de leitores podemos atribuir o fracasso geral do aluno

na escola. (KLEIMAN, 2010)

E, para finalizar, permito-me uma citação:

“Enquanto não tivermos claros nossos referenciais teóricos, nossos

objetivos (o alicerce), construiremos um edifício frágil, confuso, um

verdadeiro entulho. Portanto, há que se estudar, trabalhar mais em grupo,

dividir mais com nossos colegas nossas angústias, nossos sucessos,

nossos fracassos. Haja coragem! (...) Nossos entulhos precisam ser

removidos. (...) precisamos ir além, buscar um novo alicerce. É um processo

demorado , mas nos possibilita um edifício mais sólido.” KAERCHER, 1998

24

REFERÊNCIAS

BRAGA, Maria Regina; SILVESTRE, Maria de Fátima Barros. Construindo o leitor

competente. São Paulo: Global, 2009.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC,

1996.

CORDEIRO, Verbena Maria Rocha. Itinerários de leitura no espaço escolar. In

revista pedagógica. São Paulo: Dimensão, 2000.

CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro:

Sextante, 2003.

FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal em sala de aula. São Paulo: Contexto,

2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

HESSE, Herman. O lobo da estepe. Tradução de Ivo Barroso. São Paulo: Record,

1993.

JORNAL DA MANHÃ. Projeto Vamos Ler. Oficina l “Por que e como utilizar o jornal

em sala de aula”. Oficina ll “Leitura de imagens e linguagem audiovisual”. Oficina lll

“A cultura, o cinema e o jornal na sala de aula”. Ponta Grossa, 2009.

JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ. Projeto cidadão do futuro. Ponta Grossa, 2001.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura - teoria e prática. São Paulo: Pontes, 2010.

KAERCHER, Nestor André. Desafios e utopias no ensino de geografia. 2.ed.

Santa Cruz do Sul: Ed. da Unisc, 1998.

LOZZA, Carmem. Escritos sobre jornal e educação – olhares de longe e de perto.

São Paulo: Global, 2009.

NEVES, Iara Conceição Bitencourt. et.al. (Org.). Ler e escrever – compromisso de

todas as áreas. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2000.

25

PARANÁ. SEED. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos

finais do Ensino Fundamental e Médio. Curitiba: SEED, 2008.

SILVA, Ezequiel Teodoro. A produção da leitura na escola: pesquisa x propostas.

2. ed. São Paulo: Ática, 2002.

_____________. De olhos abertos. São Paulo: Ática, 2005.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Leituras sugeridas:

REVISTA NOVA ESCOLA. 15 mitos da Educação. v.1, n.240. p.76-80, mar.

2011.

REVISTA SELEÇÕES. Nota 10! v.1, n.770. p. 49-55, mar. 2006.

A procura da poesia. Disponível em:

<http://www.uniblog.com.br/aprocuradapoesia/269061/analise-o-testemunho-dos-

poetas-em-tempos-sombrios-breve-leitura-da-poetica-de-brecht.html>. Acesso

em:20 jun. 2011.

Campanhas publicitárias brasileiras premiadas. Disponível em:

http://www.youtube.com/results?search_query=campanhas+publicit%C3%A1rias

+brasileiras+premiadas&aq=f. Acesso em: 03 jul. 2011.

Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim. Disponível em: <

www.releituras.com/rubembraga_cairo.asp>. Acesso em: 20 jun. 2011.

Riqueza ambiental é alvo de disputa jurídica. Disponível em: <

http://jmnews.com.br/noticias/ponta%20grossa/1,11320,31,07,riqueza-ambiental-e-

alvo-de-disputa-juridica.shtml>. Acesso em: 05 jul. 2011.

Tiras do Danilo. Disponível em:

<http://www.odanilo.com.br/?idfe=210&idfo=252>. Acesso em: 05 jul. 2011.

26

VERÍSSIMO, Luís Fernando. O nariz e outras crônicas. 10 ed., São Paulo,

Ática, 2002.

Agradecimentos especiais:

Acima de tudo, a Deus, pelas condições físicas e intelectuais a mim

dispensadas;

A minha família, pela compreensão nas horas de abandono;

A minha orientadora na UEPG, pelo apoio, disponibilidade e confiança;

A todos os meus colegas que participaram da implementação desse projeto

na forma presencial e on-line;

A todos os meus atuais e ex- alunos que foram a grande fonte de inspiração

para o estudo, para a pesquisa e a vontade de inovar;

A todos os escritores que através de anos de pesquisa, estudo, publicações,

possibilitaram de alguma forma a realização desse trabalho. Em especial, a Nestor

André Kaercher pelo retorno do e-mail com sugestões de leitura e pelas palavras de

incentivo.

Ao Governo do Estado do Paraná pela atitude pioneira e por confiar mais uma

vez nos profissionais da educação.

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APÊNDICE

Figura 1 - Grupo de estudos presencial – FONTE: Do autor

Figura 2 - Atividades com gêneros textuais - Fonte: Do autor

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Figura 3 - Nossas atividades em registro - Fonte: Do autor

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Figura 2 - Laboratório de ciências do Colégio Júlio Teodorico adaptado para o grupo de estudos - Fonte: Do autor

Figura 5 - O participante Antônio (agente educacional) com sua produção final usando material reciclado - Fonte: Do autor

Figura 6 - Material produzido pelo participante Antônio em uso doméstico - Fonte: Do autor