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1 UM ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE MULHERES EMPREENDEDORAS NO DISTRITO FEDERAL Prof. Dr. Alessandro Aveni ( UNB – UEG) [email protected] Prof. M. Sc. Carlos Neymer F. Nunes (FAC -SENAC) [email protected] Profa. M. Sc. Lucineide A. M. Cruz (PG – UnaM) [email protected] Resumo O presente artigo tem por objetivo geral identificar as principais características empreendedoras nas mulheres de negócios que fazem parte da Associação dos Jovens Empresários (AJE) do Distrito Federal. Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa com mulheres com negócios inovadores e de destaque no cenário regional e também com empreendedoras que buscaram na atividade própria um caminho para o sucesso em diferentes segmentos, como o comércio varejista e atacadista, moda, serviços e empreendimentos mistos. Vale ressaltar que o Distrito Federal foi o primeiro Estado a implantar a lei e conta com um sistema informatizado que integra Receita Federal, Estado e União, no intuito de formalizar o empreendedor, sendo o Sebrae, o órgão executor desta operação, por meio de um sistema integrado com as diferentes esferas governamentais, de tal modo que o empreendedor consegue, no mesmo dia, registrar a sua empresa. No bojo dessa discussão encerra-se a conquista da mulher no mercado de trabalho, participação esta que a cada dia é mais representativa, dado que elas possuem liberdade plena para exercer atividade profissional há somente vinte anos, pois, até 1943, o marido poderia pleitear a rescisão do contrato de trabalho se considerasse que este poderia acarretar ameaça aos vínculos da família. No artigo será abordado também o tema de algumas redes de apoio às empreendedoras, como o Banco Popular da Mulher e o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, assim como dados atuais de pesquisas. As empreendedoras do Distrito Federal apresentadas neste artigo relataram como conseguiram superar este paradigma e tornar-se exemplo de sucesso. Palavras-Chave: Empreendedorismo. Mulher. Distrito Federal, Associação dos Jovens Empresários.

1 UM ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE MULHERES

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UM ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE MULHERES EMPREENDEDORAS NO DISTRITO FEDERAL

Prof. Dr. Alessandro Aveni ( UNB – UEG)

[email protected] Prof. M. Sc. Carlos Neymer F. Nunes (FAC -SENAC)

[email protected] Profa. M. Sc. Lucineide A. M. Cruz (PG – UnaM)

[email protected] Resumo

O presente artigo tem por objetivo geral identificar as principais características

empreendedoras nas mulheres de negócios que fazem parte da Associação dos Jovens

Empresários (AJE) do Distrito Federal. Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa com

mulheres com negócios inovadores e de destaque no cenário regional e também com

empreendedoras que buscaram na atividade própria um caminho para o sucesso em diferentes

segmentos, como o comércio varejista e atacadista, moda, serviços e empreendimentos

mistos. Vale ressaltar que o Distrito Federal foi o primeiro Estado a implantar a lei e conta

com um sistema informatizado que integra Receita Federal, Estado e União, no intuito de

formalizar o empreendedor, sendo o Sebrae, o órgão executor desta operação, por meio de um

sistema integrado com as diferentes esferas governamentais, de tal modo que o empreendedor

consegue, no mesmo dia, registrar a sua empresa.

No bojo dessa discussão encerra-se a conquista da mulher no mercado de trabalho,

participação esta que a cada dia é mais representativa, dado que elas possuem liberdade plena

para exercer atividade profissional há somente vinte anos, pois, até 1943, o marido poderia

pleitear a rescisão do contrato de trabalho se considerasse que este poderia acarretar ameaça

aos vínculos da família. No artigo será abordado também o tema de algumas redes de apoio às

empreendedoras, como o Banco Popular da Mulher e o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios,

assim como dados atuais de pesquisas. As empreendedoras do Distrito Federal apresentadas

neste artigo relataram como conseguiram superar este paradigma e tornar-se exemplo de

sucesso.

Palavras-Chave: Empreendedorismo. Mulher. Distrito Federal, Associação dos Jovens

Empresários.

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ABSTRACT

This article aims at identifying the main characteristics in the entrepreneurial business women

who are part of the Young Entrepreneurs Association (AJE) in Distrito Federal. For this, we

conducted a qualitative study of women with business innovators and prominent on the

regional and also with entrepreneurial activity itself seeking a path to success in different

segments such as wholesale and retail trade, fashion, services and joint ventures. Importantly,

the Distrito Federal was the first state to implement the law and has a computerized system

that integrates Revenue Service, State and Union, in order to formalize the entrepreneur, and

Sebrae, the executing agency of this operation through a integrated with the different spheres

of government, so that the entrepreneur can, on the same day, register their company.

Amid this discussion ends with the conquest of women in the labor market, this participation

that every day is more representative, since they have full freedom to exercise a professional

activity there is only twenty years, because until 1943, the husband could claim termination of

employment contract it was considered that it could cause a threat to family ties. In the article

also will address the theme of some entrepreneurial support networks, such as “Banco

Popular” and the Women's Business Woman Award Sebrae, as well as current data for

research. Distrito Federal’s entrepreneurs as reported in this article succeeded in overcoming

this paradigm and become a success story.

Keywords: Entrepreneurship. Women. Distrito Federal’s Association of Young Entrepreneurs.

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1. Introdução

Na área de conhecimento sobre empreendedorismo há ainda questões não aceitas para

todos. Por exemplo, quais as tipologias de empreendedor podemos encontrar? Outra é a fala

da modalidade de ser empreendedor e a última sobre as características. Antes de colocar

exemplo de empreendedorismo de mulheres do DF trata-se de colocar este breve resumo

teórico por que é à base das pesquisas. Se não entendemos o fenômeno é difícil avaliar o

resultados de campo.

A respeito das tipologias há autores como Filion que ressaltam a grande variedade de

tipos de empreendedores. Há autores clássicos como Druker que ressaltam um tipo de

empreendedorismo corporativo e outro social. Enfim a maioria coloca pelos menos quatro

categorias. São estas: o empreendedor, o intra-empreendedor, o empreendedor social e o

empreendedor do conhecimento.

O primeiro é o mais conhecido e faz parte dos estudos de economia e na ciência da

administração desde 1755. Os autores que trataram desta tipologia mais conhecidos são R.

Cantillon, J.B. Say, J. A. Schumpeter, F. Knight, I. Kirzner , P. Drucker . Pode-se colocar

aqui todo empreendedorismo corporativo (a maioria segundo Druker e outros autores dos

negócios de empreendedorismo) e o empreendedorismo pessoal ou familiar que se diferencia

de ser empresário.

O intra-empreendedorismo é definido por Nielson, Peters & Hisrich (1985) “.... o desenvolvimento, dentro de uma grande empresa, de mercados internos e relativamente pequenos, através de unidades independentes projetadas para criar, testar internamente e expandir ou melhorar certos serviços, tecnologias e métodos dentro de uma organização. É diferente do empreendedorismo ligado a novas unidades de negócios em grandes empresas, que tem o propósito de desenvolver ações lucrativas em mercados externos à empresa”.

O intra-empreendedorismo é parte do sucesso da organização que conta com a

competência dos seus recursos humanos para levarem as UEN´s (Unidades Estratégicas de

Negócios) boas práticas de negócios para o seu desenvolvimento.

Outro autor, Pinchot III (1985) coloca que “Intra-empreendedores são os sonhadores

que fazem acontecer. Aqueles que assumem a responsabilidade de criar e inovar dentro de

qualquer tipo de organização. Eles podem ser os criadores ou inventores, mas são sempre os

sonhadores que entendem como transformar uma idéia em algo real e lucrativo”.

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O empreendedorismo social coloca que deve ter uma pessoa ou mais um grupo de

pessoas quem usam as qualidades e conhecimentos empreendedores para mudanças sociais. O

empreendedor social nasce quando o indicador dele não é o lucro, mas, as mudanças sociais.

Autores como Bill Drayton, Charles Leadbeater, Muhammad Yunus são exemplos também de

empreendedores sociais.

Em geral um empreendedor social é um "indivíduo com experiência na área social,

desenvolvimento comunitário ou de negócios, que persegue uma visão desenvolvimento

econômico através da criação de empreendimentos sociais voltados para prover oportunidades

àqueles que estão à margem ou fora da economia de um país". (Jed Emerson e Fay

Twersky,1996).

Enfim, há empreendedores que visam um objetivo de crescimento de conhecimento e

pesquisa mais que os resultados de lucros típicos sujeitos dessa modalidade de

empreendedorismo são: ONG, Educadores, Pesquisadores, Institutos de pesquisa.

Pode-se encontrar com a definição de “empreendedorismo tecnológico” – que envolve a

geração de empresas de base tecnológica (EBT’s). Este vem sendo apontado em todo o

mundo como forte tendência para as próximas décadas (NDONZUAU et al., 2002;

ROBERTS, 1991). Nas universidades, a criação dos chamados spin-off’s acadêmicos – ou

EBT’s de origem acadêmica – é um fenômeno cada vez mais comum.

Nesse sentido, a mentalidade acadêmica, voltada para o avanço da ciência e a

publicação, vem sendo ampliada na direção de uma mentalidade empreendedora, focada

também em pesquisas com aplicação prática e que gerem desenvolvimento econômico e

social (PLONSKI, 1999). Sabe-se que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja,

é fruto dos hábitos, práticas e valores das pessoas. Durante muitos anos, as empresa familiares

foram vistas como se fossem fontes de sobrevivência dos membros da família. A empresa

familiar Brasileira tem origem nos fluxos migratórios entre e após as duas grandes guerras

mundiais. Os imigrantes de vários países formavam empresas, que progrediam em períodos

de desenvolvimento industrial. Hoje em dia ocorreram muitas mudanças na família e no

mercado de trabalho que permite falar de um crescimento de empreendedorismo de gênero.

Mas com a diferença de renda há diferentes maneiras de enfrentar o desafio de criar novos

negócios.

È importante ressaltar o tipo porque temos modalidades diferentes de empreender e

também situações diferentes que são o berço de cada um desses tipos. Assim em uma

pesquisa de campo no DF podemos ressaltar onde se colocam as mulheres empreendedoras.

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A respeito das modalidades de criação dos empreendimentos, nas últimas décadas há

uma retomada por economistas do precursor Schumpeter. Análises econômicas atuais tratam

de modelos de empreendedorismo que usam modelos microeconômicos e a nova geografia

econômica para explicar o fenômeno localizado. Há muitos autores1 que concordam com os

conceitos dos economistas Krugman e Romer. Estes autores sustentam teorias de

empreendedorismo que se manifestam com aglomeração de conhecimento e “spillovers” para

sustentar o crescimento endógeno, com base microeconômica. Segundo estas explicações na

verdade os “spillovers” nascem porque há conhecimentos dentro a empresa. Os

empreendedores aproveitam desses conhecimentos para criação de novos negócios, na

ausência de intra-empreendedorismo. A vantagem social nasce do fato de estes

conhecimentos não serem comercializados na empresa por falta de interesse ou recursos e

ficariam presos não acrescentando inovações no mercado e assim não beneficiando os

consumidores destas novas tecnologias. O beneficio é obviamente um aumento da

concorrência com conseguinte redução de preços.

Entretanto há sempre uma modalidade clássica que vem do conceito de ‘destruição

criativa’ de Schumpeter que é também a base de definições de autores da Administração

como Drucker, sendo o mais representativo em colocar uma tipologia clássica de formação de

empreendedores: ‘as janelas de oportunidades’.

Para Drucker, o empreendedor é alguém que usa uma tecnologia nova (uma tecnologia

de ruptura que cria novos valores ou modifica os velhos) e usa teoria e conceitos de

administração empreendedora. A inovação tem estas características: Pesquisa de

oportunidades, união de conceitos e percepções de campo, simplicidade e liderança. Em seu

livro Inovação e Espírito Empreendedor (1986) coloca-se como oportunidades de negócio sete

fontes de oportunidades inovadoras. São elas: o inesperado, a incongruência, a inovação com

base na necessidade do processo, mudanças na estrutura do mercado, mudanças demográficas,

mudanças em percepção, disposição e significado, novos conhecimentos científicos. Acredita-

se que este parágrafo de Drucker foi pouco aproveitado e todos que falam de oportunidades

ainda focam muito sobre inovação e mercados. Na fala de Druker há também o significado do

nascimento de tipos de empreendedores sociais e de conhecimento. A modalidade de

acontecimento de novo empreendedores no mercado é tema da pesquisa anual GEM (Global

Entrepreneurship monitor).

1 Zoltan Je A. Varga Entrepreneurship, aglomeration and Thecnological change. Trabalho apresentado a GEMS 2003 Berlin Germany.

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2. Revisão da Literatura

Ser empreendedor de sucesso é saber lidar com os desafios, com as inconstâncias do

mercado, é saber entender os gostos e as preferências de seus clientes, é saber prestar um

serviço de qualidade, é inovar continuamente.

O empreendedor, além de empregar a si, pode vir a empregar a outras pessoas, o que é

bastante representativo para a economia, pela movimentação financeira que proporciona. Por

exemplo, João, contratado por Maria, recebe 500,00 por mês. Esse dinheiro não fica guardado

o mês inteiro na carteira de João... Vamos supor que ele gaste com alimentação, lazer,

telefone e aluguel. Enquanto ele estiver empregado, terá dinheiro para gastar,

consequentemente os estabelecimentos onde ele é cliente, recebem dinheiro. Se a empresa de

Maria tem progresso e ela pode dar uma promoção para João, este provavelmente irá efetuar

compras que antes não fazia e mais estabelecimentos o terão como cliente ou ele poderá

gastar mais nos quais já é cliente. Porém, se Maria não desenvolve uma boa gestão de seu

negócio e vai à falência, e o que acontece com o João? Fica desempregado. Logo, não poderá

efetuar suas compras e enquanto ele não conseguir um novo emprego, os estabelecimentos

deixarão de tê-lo como cliente, ou seja, perde Maria, perde João, perdem os estabelecimentos

que deixaram de vender. Essa análise pode se estendida, dado que os estabelecimentos onde o

João é cliente também não ficam com o dinheiro guardado na carteira. Pagam, por exemplo,

seus funcionários, os fornecedores, impostos, conta de água, luz e telefone. Isso implica dizer

que Maria, enquanto empreendedora influencia os fatores econômicos.

Para Seiffert (2004) a atividade empreendedora é arriscada porque é sempre incerta e

dinâmica, apresentando altas taxas de fracasso, além de complexa, por ser afetada por uma

série de fatores econômicos, sociais e institucionais, requerendo uma fusão ótima de talentos,

idéias e conhecimento. Talvez seja por essa razão que Chiavenato (2005) chama os

empreendedores de heróis populares do mundo dos negócios.

De acordo com Greco (2009), no projeto Global Entrepreneurship Monitor (GEM),

realizado em 2008, que no Brasil, estuda o comportamento do empreendedor, a cada 100

brasileiros, 12 realizavam alguma atividade empreendedora, o que coloca o Brasil na 13ª

posição no ranking mundial de empreendedorismo, sendo que em 2008, foram registrados

dois empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade, o que

implica dizer que mais pessoas estão escolhendo empreender por visualizarem oportunidade

de negócio e não apenas como uma forma de sobrevivência.

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Na visão do SEBRAE o Brasil é o sétimo país mais empreendedor do mundo, é o 10°

país que mais abre empresas no mundo, cerca de 15 milhões de pessoas (12,72% da

população) abrem um negócio próprio ao ano. Portanto 80% dos empreendedores abrem um

negócio por oportunidade, mas 59% das empresas fecham nos dois primeiros anos de vida e

70% dos empreendedores fazem bootstrapping (tiram do próprio bolso) para levantar capital

inicial. Assim apenas 14% dos empreendedores possuem curso superior, e 22% das empresas

são abertas com recursos superiores a R$ 20 mil. Nesse montante 98% das pequenas empresas

são responsáveis por um faturamento anual de US$ 1,906 bilhão, 10,8% dos empreendedores

são mulheres, segundo dado da GEM, SEBRAE, Universia Brasil, NIC.br, IBGE, GPTW,

S/A.

No Brasil, de acordo com Pesquisa Mensal de Emprego, os principais destaques da

evolução do mercado de trabalho são as regiões metropolitanas abrangidas pela pesquisa de

2003-2008, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou em 2009, a

participação da mulher no mercado de trabalho tem aumentado. Em 2003, essa participação

era de 43,0%, e em 2008 o registro foi de 44,7%, sendo que em 2003 a participação das

mulheres dentre os empregados com carteira de trabalho foi de 38,3% e em 2008, 39,5%. A

pesquisa é realizada nos seguintes estados: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro,

São Paulo e Porto Alegre.

Para iniciar ou ampliar seus negócios, empreendedores do Distrito Federal, do Brasil e

de países menos desenvolvidos, contam também com o apoio do Banco Popular da Mulher.

O Banco é uma entidade solidária, sem fins lucrativos, resultado de uma parceria entre

entidades da sociedade civil com o poder público municipal.

De acordo com informações obtidas no site do Banco este atende aos homens, mas

prioriza as mulheres, pois acredita que, via regra a mulher é a principal, quando não o único

elemento de sustentação e agregação das famílias de baixa renda, não só no Brasil, mas

também nos países menos desenvolvidos.

Para o empreendedor que trabalha por conta própria e fatura até trinta e seis mil reais

por ano, é possível contar também com o apoio da Lei Complementar nº 128 de 19/12/2008,

que visa estimular o empreendedor a legalizar-se como pequeno empresário, para isso

oferecem os benefícios previdenciários como auxílio maternidade, auxílio doença e

aposentaria, assim como benefícios em relação aos impostos.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por meio do

Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, criado em 2004, com apoio da Secretaria Especial de

Políticas para Mulheres e da Federação das Associações de Mulheres de Negócios e

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Profissionais do Brasil, valoriza as histórias de empreendimentos bem sucedidos e geridos

por mulheres. Ressaltamos, porém que nem sempre as mulheres tiveram esse apoio (...). O

direito a voto, por exemplo, faz somente 77 anos que a mulher passou a ter, ou seja, foi em

1932 que mulheres casadas que tivessem a autorização do marido, assim como as viúvas e

solteiras com renda própria puderam votar. Essa restrição durou até 1934 e somente em 1946,

este passou a ser obrigatório.

Isso implica dizer que a mulher, como membro ativo da sociedade, no sentido de poder

escolher os seus governantes, participa ativamente a somente sessenta e três anos. Outro dado

interessante sobre a história da mulher é que ao marido era dado o direito de pleitear a

rescisão do contrato de trabalho da esposa se considerasse que este fosse suscetível de

acarretar ameaça aos vínculos da família. Porém a mulher evoluiu bastante no mercado de

trabalho, em todo o mundo, de acordo com o Novo Relatório da CIA (2009, p. 75), “O maior

poder político e econômico conquistado pelas mulheres pode transformar a paisagem global

nos próximos 20 anos”, e os dados demográficos apontam uma correlação entre um alto nível

de alfabetização feminina e um maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que

em regiões, como Ásia do sul e ocidental e o mundo árabe onde existem as menores taxas de

alfabetização feminina, são as mais pobres de todo o mundo.

No processo de construção de uma nova identidade, as mulheres procuram desconstruir

estereótipos sociais e culturais há tempos construídos para que seja possível a transposição de

barreiras, principalmente de natureza psicológica, que ainda permanecem e que se mostram

como as mais difíceis de serem superadas. Outro tipo de barreira enfrentada é a cobrança

familiar, devido à concorrência da atividade laboral com a dedicação à família. Esse fato

revela o conflito por um sentimento de culpa por terem que abdicar, muitas vezes, do convívio

familiar, antes tido como o único ambiente em que podiam interagir.

Na Pesquisa Mensal de Emprego, os principais destaques da evolução do mercado de

trabalho nas regiões metropolitanas abrangidas pela pesquisa 2003-2008, do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2009, relata que em relação a

trabalhadores por conta própria, o índice da participação da mulher no mercado também

aumentou, de 36,6% em 2003, para 38,5% em 2008. No estudo compreendido entre 2007 e

2008, em relação ao contingente mensal médio de desocupados, entre as mulheres, o

movimento foi de crescimento de 56,7% para 58,1% embora se comparar os dados de 2003

com os de 2008, é possível verificar um registro de queda de 25% no contingente de mulheres

desempregadas. Porém, apesar do crescimento da participação da mulher no mercado de

trabalho brasileiro, a pesquisa, revela que em 2008, comparado a média anual dos

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rendimentos dos homens e das mulheres é possível afirmar que as mulheres ganham em torno

71,0% do rendimento recebido pelos homens, ou seja, ganham menos que os homens. Apesar

da diferença entre rendimentos, no Distrito Federal, conforme esse artigo irá apresentar, não

faltam mulheres empreendedoras, que conseguem obter sucesso em seus negócios. O termo

empreendedor, do francês entrepreneur, significa aquele que assume riscos e começa algo. De

acordo com Chiavenato:

“Os empreendedores são heróis populares do mundo dos negócios.

Fornecem empregos, introduzem inovações e incentivam o crescimento

econômico. Não são simplesmente provedores de mercadorias ou de

serviços, mas fontes de energia que assumem riscos inerentes em uma

economia em mudança, transformação e crescimento.” (CHIAVENATO,

2005, p. 4)

É importante ressaltar que no relatório do projeto Global Entrepreneurship Monitor

2008, de acordo com Greco (2009), são pontuadas algumas questões, ou desafios que estão

contidos na atividade empreendedora, como por exemplo, a questão da inovação, tecnologia e

exportação, treinamento e qualificação.

“Os empreendedores brasileiros se caracterizam como não-inovadores, dado

que 84% só lançam produtos conhecidos no mercado, 65% têm muitos

concorrentes, 98% utilizam tecnologias disponíveis há mais de um ano no

mercado, 85% não possuem expectativa de exportar seus produtos, 45%

abrem suas empresas para gerarem o próprio emprego, Sem expectativa de

gerarem novos empregos nos próximos cinco anos, 78,3% não esperam

gerar mais do que cinco empregos (normalmente de familiares), e 60%

desenvolvem atividades orientadas aos consumidores finais em atividades

de prestação de serviços pessoais, de baixa qualificação, tais como vendas

ambulantes, serviços de reparos e manutenção do lar, jardinagem, vendas de

cosméticos, entre outras. “(GRECO, 2009, pg. 71)

O empreendedor seja do sexo masculino ou feminino enfrenta desafios. A maneira

como lida com a realidade, diz muito sobre o seu espírito empreendedor. Embora seja

possível afirmar que no Brasil haja um amadurecimento nessa questão, dado apontado pela

GEM 2008, informa que ocorreu uma redução significativa na taxa de pessoas que

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descontinuaram sua participação em algum empreendimento, quando comparada com o valor

obtido em 2007 (6,5%) com 2008 (3,5%). Essa é uma vitória, o somatório de iniciativas,

projetos e programas, sejam governamentais ou não, embora haja muito a ser feito, pois a

pesquisa aponta que 90% dos empreendedores pesquisados, nunca participaram de atividades

relacionadas ou direcionadas para a abertura de negócios.

Fazendo uma comparação com nações européias como a Itália, têm-se dois pontos que

dificultam a comparação. Uma primeira diferença está no campo das análises estatísticas

Italianas que são feitas para empreendimentos divididos por ano de início da atividade e são

bem diferenciados os de menos de três anos de funcionamento e regularmente registradas.

Portanto, como já mostrado pela GEM2 há maneiras diferentes de classificar os

empreendedores e os novos negócios. Outro ponto abrange a maneira de classificar as

empresas pelas estatísticas nacionais. Nessas estatísticas, na Itália, as profissões intelectuais

viram empreendimentos, sendo que os dados são recolhidos por tipo de atividade. Portanto há

empreendedores de conhecimento, sociais e também “clássicos” que são classificados em

base a sua forma jurídica se não tiver análises estatísticas especiais com questionários

regionais. Esta falha nas estatísticas é comum em muitos ordenamentos que tem fiscalização

regular e continuada nas estatísticas, pois as atividades entram na análise do PIB nacional.

Segundo dados de 2007 da Unioncamere3, associação que integra todas as agências

municipais de comercio (públicas) Italianas, 24,02% das empresas italianas são de mulheres

(isso acontece quando pelos menos 60% da propriedade são de mulheres), segundo a seguinte

tabela que mostra os dados por Região.

2 GEM – Global Entrepeunier Monitor 3 Camere di Commercio Italiane, Unioncamere IMPRESA IN GENERE 2007-2003, 2007, Primi dati dell’imprenditoria femminile

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Fonte Unioncamere (2007). Itália

Surpreendentemente a maior percentagem relativa se encontra na região de Roma

(26,63%) capital de Estado e não de Milão (20,64%) capital econômica, que tem o maior

número de empresas femininas (166.981).Acerca disso, 3% dessas empresas (32 mil) são de

mulheres estrangeiras (na maioria Cineses, Marroquinas, Romenas), o demonstra esse

fenômeno de grande crescimento. Segundo os dados apresentados em 20104 a última crise

teve um efeito de redução de 0,06% do número das empresas registradas para mulheres

(contra 0,33% das empresas de homens). O fenômeno do empreendedorismo feminino

segundo as pesquisas aumenta sua relevância no setor terciário e em serviços5. Em geral 6 a

percentagem entre os setores são: 4% no setor primário, 21% no secundário e 74% no

terciário. Em algumas áreas podem chegar a 30%, no caso do agronegócio, (pecuária,

agricultura, viticultura) e chega a 40% no turismo agrícola.7 Em geral estas empresas tem um

numero de 2 a 4 funcionários com a maioria colocadas juridicamente como empresa

4Cagliari, 15 settembre 2010, III Giro d’Italia delle donne che fanno impresa.

5 para uma analise qualitativa Valentina Mucciarelli, Percorsi al femminile della formazione imprenditoriale 6 Dados de 2000 7 Relatório 2007 da vareador Gabriella Montera da “província de Bologna”.

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individual.8 Em geral, pode-se observar também um forte crescimento das mulheres no

mercado de trabalho e nas cúpulas das empresas. Outro fator que merece destaque é a

exclusividade da presença feminina nas empresas: as mulheres entre 25 e 55 anos preferem

trabalhar com outras mulheres. A maioria são empresas presentes no mercado depois dos anos

80, portanto, há uma mudança no mercado de trabalho nesses anos, pois mais mulheres

chegam ao mercado de trabalho e acumulam funções do lar e as profissionais.

Há várias causas do crescimento do empreendedorismo feminino depois os anos 80:

uma é a desigualdade no mercado de trabalho, a segunda, a transformação em um mercado de

livre concorrência, mais competitivo. Este último fator parece mais explicativo na formação

do empreendedorismo das mulheres, pois entre aspirações e sonhos a realidade econômica e

do mercado pode explicar o posicionamento das mulheres empreendedoras em setores de

serviços. Uma característica que ressaltada nos estudos aponta a uma melhor predisposição da

mulher ao trabalho descontínuo e temporário a respeito dos homens. Parece que no panorama

das explicações, a Itália possui necessidades de trabalho flexível e condições das mulheres

participam igualmente a uma escolha para criar novos empreendimentos.

As mulheres são menos motivadas psicologicamente a competir com os homens.

Permanece como motivação principal o empreender, fora da competição com os homens, e a

auto-afirmação, ou seja, não parece estar ligada com a competição entre gêneros, raça e renda

que pode ser mais importante em países como o Brasil. A atuação das mulheres no mercado

Italiano é diferenciada e não homogênea. Tudo isso leva a inferir que é um fenômeno novo. A

maioria tem um diploma técnico e/ou superior, mas uma parte só licenciatura média. Como

em outras nações da Europa são poucos os empreendedores com diploma de bacharel. A

respeito da formação do empreendedor, mesmo sem titulação acadêmica superior, há cursos

técnicos superiores para mulheres empreendedoras, on-line e presenciais. Não faltam centros

de orientação, centros de pesquisa e incubadoras.

Há projetos específicos para empreendedorismo feminino em cada região

administrativa (veja anexo I caso da Região Toscana) e redes de informação geridas pelo

Estado com financiamentos público e pessoal administrativo público dedicado. O marco

jurídico importante das leis a favor das empreendedoras se encontra em “Legge 215/92 -

Azioni positive per l'imprenditoria femminile” e “Legge 8 marzo 2000, n°. 53”. Os fundos

não são homogêneos, mas diferentes por regiões visando aumentar as contribuições em conta

8 Por exemplo em Câmera di Commercio di Cuneo, INDAGINE SULL’IMPRENDITORIA FEMMINILE, novembro 2008, Pesquisa em “Provincia di Venezia” Lo sviluppo della piccola imprenditorialità femminile locale e la domanda di servizi di supporto, 2000

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de capital (entre 30% e 50%) dos custos de financiamentos do empreendimento e outras

medidas fiscais de redução de encargos nos primeiros períodos de atuação da empresa,

sobretudo em áreas menos desenvolvidas.

3. Metodologia

O presente artigo caracteriza-se por estudos exploratórios e representa o primeiro passo

para se conhecer uma situação de mercado ou até aprofundar na realidade existente,

identificando evoluções e tendências de um segmento específico em que se pretende atuar.

Segundo Samara e Barros (2007, p. 34), “procura obter um primeiro contato com a realidade

para um melhor conhecimento do objeto em estudo”.

Este método foi escolhido pelo fato de não conhecer em profundidade a clientela

entrevistada, tampouco, o seu comportamento empreendedor que será objeto deste estudo. Em

relação aos estudos exploratórios, Malhotra (2006, p.100), diz que “caracteriza-se pela

flexibilidade e versatilidade em relação aos outros métodos de pesquisa, principalmente, os

quantitativos. Assim, a criatividade e o engenho do pesquisador têm um papel muito

importante neste tipo de pesquisa”.

A metodologia de pesquisa escolhida foi à qualitativa, pois proporciona uma melhor

visão da realidade social e compreensão das oportunidades de negócios empreendidas na

pesquisa. Segundo Malhotra (2006, p. 155), “é um tipo de pesquisa não-estruturada e

exploratória baseada em pequenas amostras que proporciona percepções e compreensão do

contexto do problema”. Este tipo de pesquisa tem suas vantagens pelo cunho informal para

obtenção de informações, trabalha com um baixo volume de dados, além de proporcionar ao

pesquisador liberdade para analisar o contexto social. Porém, tem suas limitações, como, não

pode ser usadas para grandes populações, quando o cunho da pesquisa é estatístico ou exigir

maior precisão nos resultados da pesquisa. É indicada para pesquisa com fontes de dados

secundárias por ser coletada de forma rápida e barata, sendo que a fonte de dados mais

utilizada em pesquisa qualitativa é a secundária, pois permite levantar um grande volume de

informações de fontes diversas em pouco tempo.

Esta pesquisa utilizou a fonte de dados secundária como subsídio a fonte primária e aos

resultados da pesquisa, principalmente, para o marco teórico e a justificativa da pesquisa.

Diferentemente da fonte de dados secundária, a análise primária foi utilizada na colheita de

dados com o público-alvo da pesquisa por meio da aplicação de um roteiro de entrevista, uma

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série de questões estruturadas a partir dos objetivos da pesquisa que procurou responder as

oportunidades do trabalho em questão, serviu como fonte de informação junto às mulheres

empreendedoras.

Em relação à técnica utilizada foi escolhida a entrevista em profundidade, que segundo

Aaker e Day (2004, p. 209) são “aquelas realizadas frente a frente com o respondente, na qual

o assunto-objeto da entrevista é explorado em detalhes”. A entrevista em profundidade

procurou conhecer a clientela em suas preferências, modo de escolha e prioridade que dão a

assuntos importantes do dia-a-dia como atender a um cliente, planejar o seu negócio e adotar

estratégias diferenciadas em relação ao mercado concorrente.

Como definição da amostra, por ser uma pesquisa qualitativa, deu-se preferência a

amostragem não probabilística, por conveniência, que segundo Malhotra (2006, p. 326) “é

uma técnica que procura obter uma amostra de elementos convenientes. A seleção das

unidades amostrais é deixada a cargo do entrevistador”. Assim, foram escolhidas pelas suas

competências e habilidades, 12 (doze) empreendedoras para responder a pesquisa e dar as

suas valiosas contribuições para a comunidade científica. Também, procuramos conhecer o

perfil das empreendedoras, características psicológicas mais marcantes e sua história de vida

sempre marcada por atitudes empreendedoras. A ferramenta de pesquisa utilizada foi o roteiro

de entrevista que se pautou em questões amplas para discussão com o entrevistado, abordando

assuntos relativos ao negócio, aos mercados cliente e concorrente e aos principais produtos

oferecidos pela empresa. Houve a preocupação em conhecer a história de vida das

empreendedoras participantes da pesquisa, para fins exploratórios.

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4. Resultados da Pesquisa

A presente pesquisa entrevistou doze empreendedoras no Distrito Federal associadas à

Associação dos Jovens Empresários (AJE) e procurou definir o seu perfil demográfico

marcado pela jovialidade, alto grau de empreendedorismo e iniciativa das participantes que

responderam a um roteiro de entrevista a partir de questões pessoais e de seus negócios.

As primeiras questões definiram as características demográficas das empreendedoras,

como escolaridade, porte do empreendimento, localização, tempo de atividade, número de

empregados, principais clientes-serviços, fornecedores e outras participações.

No primeiro rol de perguntas, o que ficou mais ressaltado, 67% das entrevistadas

possuem nível superior completo, o que confirma a alta escolaridade das empreendedoras

apontando uma alta correlação entre escolaridade e crescimento dos seus negócios na região

do DF onde existem as maiores taxas de escolaridade do Brasil. A segunda pergunta de

destaque, parte do empreendimento, mostrou que 60% das empresas entrevistadas são Micro e

Pequenas Empresas (MPE´s) com até oito funcionários, entre dois a quatro anos de

funcionamento, e representam: 25% Comércio Varejista, 8% Comércio Atacadista, 50%

Serviços Especializados, 8% beleza e Moda e 9% outros segmentos sendo o mais

representativo, serviços especializados, até pelo perfil do grupo escolhido.

Dos segmentos entrevistados, destaque para os serviços (moda, consultoria, contabilidade e

eventos); Segundo dados da pesquisa - setor de serviços no Brasil, realizada pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA,1998) nos países pertencentes à Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o setor de serviços, alcançava quase

65% dos negócios. Serviços estes que exigem inovação, especialidade, alto grau de

escolaridade e diferenciação, características marcantes nas entrevistadas.

A outra parte da pesquisa explorou variáveis qualitativas das empreendedoras e de seus

negócios. Foi perguntado acerca das características empreendedoras, o que lhes mantinham no

negócio, principais diferenciais, as dificuldades e problemas encontrados, em qual fase do

ciclo de vida o negócio se encontrava, além das principais estratégias de crescimento.

A respeito das características empreendedoras, persistência obteve 30% da preferência,

em seguida, 22% comprometimento, 8% busca de oportunidade e iniciativa, 8%

planejamento, 8% persuasão e rede de contatos, 8% independência e autoconfiança, 4%

estabelecimento de metas e 12% outros. Pelas respostas das entrevistadas, persistência foi a

mais escolhida até pelo perfil do brasileiro, para sobreviver, manter no negócio, enfrentar

altas cargas tributárias, muita burocracia, tem que persistir, não dá para desistir na primeira

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tentativa e o empreendedor é aquele que não desiste diante dos obstáculos, pelo contrário,

sendo uma idéia viável persiste continuamente.

Foram perguntadas as empreendedoras o que lhes mantinham no negócio, auto-

realização, independência e autoconfiança foi o que apareceu em primeiro lugar.

Contraditoriamente, este item aparece com pouca força nas características empreendedoras, o

que motiva a aprofundar a pesquisa neste quesito.

É visto que as empreendedoras, principalmente as mulheres, depois da revolução

sexual de 60 e de seus direitos civis conquistados, foi um continum a busca pela

independência pessoal e financeira, até como símbolo da luta pelos direitos civis. Agrega-se a

isto o fato que o ser humano, de acordo com a pirâmide de Maslow que busca atender as

necessidades primárias e em seguida as secundárias, que são as necessidades superiores do

homem. Estas mencionadas acima estão neste segundo grupo e a auto-realização seria a mais

alta aspiração no desenvolvimento humano, que já conquistou as necessidades inferiores,

agora, lutam por alcançar as outras, mais importantes e simbólicas para o homem. Talvez isto

justifique em parte como a característica empreendedora mais citada por elas.

O principal diferencial mostrado pelas empreendedoras, até pelo seu perfil arrojado e ao

mesmo tempo elegante, foi à diferenciação, segundo especialistas, medido pelo grau de

inovação colocado no negócio. Foi visto que pelos tipos de empreendimentos estudados esta

estratégia é fator crítico de sucesso, que na sua maioria contam com uma alta concorrência,

produtos maduros e uma clientela extremamente informada e exigente.

As principais dificuldades relatadas por elas foram, a saber: carga tributária (30%),

concorrência (20%), capital de giro (20%), crédito (10%), equipe de trabalho qualificada

(10%), crise financeira mundial (10%). Dos aspectos mais importantes citados, observa-se

que carga tributária, concorrência e capital de giro, ficaram em destaque, possivelmente, pela

alta carga tributária do país comparada com uma das maiores do mundo.

A respeito do Ciclo de Vida do Produto (CVP), a maior parte dos empreendimentos está

em fase de crescimento e expansão pelo seu tempo de mercado, negócios em consolidação,

abertura de novas lojas, linhas de produtos e novos negócios como a exportação.

Por meio da entrevista, foi possível observar que são empreendedoras que buscam um

espaço maior no mercado, reconhecimento na prestação de seus serviços e elevado

posicionamento na mente do cliente, como forma de garantir vantagem competitiva no

negócio.

No geral, a principal estratégia adotada pelas empresas foi de diferenciação. Porter

(1986, p 51) diz que diferenciação é “criar algo que seja único ao âmbito de toda a indústria,

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como, projeto de imagem e a marca, tecnologia, serviços sob encomendas”. Dentro desta

visão, as empreendedoras citaram várias estratégias deliberadas que utilizam em seus

negócios, a saber: produtos customizados e marketing individual para atrair clientes fiéis,

desenvolvimento de marca buscando a liderança de mercado, layout facilitado para o cliente

buscar e experimentar os produtos, embalagem personalizada, equipe bem treinada, estoque

mínimo dentro dos conceitos de just-in-time1, implantação de tecnologias da informação,

como sites, blogs, twitter2 e e-comerce3, ampliação da linha de oferta de produtos,

comunicação customizada para clientes prime, utilização de um data-base marketing4 para

inteligência de marketing, inovação contínua e utilização de tecnologia de ponta.

O resultado da pesquisa aponta para negócios com perfil inovador, em fase de

crescimento e diferenciação. Inovador pelo alto grau de empreendedorismo de suas gestoras e

toque diferenciado que elas primem nos seus negócios. Em fase de crescimento, por que a

maioria busca consolidação no mercado, bases sólidas e reconhecimento da clientela, o que se

conquista com tempo e experiência de mercado. E diferenciado pela busca constante de ‘fazer

diferente’ o que os concorrentes fazem todos os dias. Observa-se que os três conceitos estão

interligados e interdependentes pela sua origem e aplicação, o que confere um perfil

empreendedor para as entrevistadas e lhes colocam com uma boa perspectiva de mercado

percebendo que são negócios duradouros e com vistas à perenidade.

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5. Considerações Finais

Esta pesquisa entrevistou mulheres empreendedoras no Distrito Federal que tivessem

um perfil inovador e diferenciado em seus negócios, independente do porte do

empreendimento. Para isto foi escolhida empresas ligadas a Associação dos Jovens

Empresários (AJE) como forma de valorizar a classe e dar um tom social, visto que esta é

uma das principais bandeiras da AJE.

No desenvolvimento das entrevistas percebeu-se o interesse unânime em desenvolver o

empreendimento, por meio de projetos orientados dentro da própria organização, junto a sua

clientela e com a sociedade civil organizada disseminando a cultura empreendedora.

Pode-se dizer que a pesquisa foi exitosa, pois conheceu melhor a forma como as empresárias

locais fazem os seus negócios e como elas conquistaram mais espaço no empresariado por

meio de suas características intuitivas e maior sensibilidade para o negócio. Percebe-se que há

tendência de mais mulheres ganharem posição neste mercado competitivo.

Fica a contribuição para os setores e públicos interessados na tentativa de despertar nas

autoridades o interesse de explorar este tema, que não é somente das mulheres, mas de toda a

sociedade que participa em maior ou menor grau de ações empreendedoras que envolvam

mulheres de negócios, e assim, poderem dentro de suas alçadas pensarem projetos de apoio a

classe como forma de fomentar o desenvolvimento local e dar maior visibilidade a ‘elas’ que

fazem parte de nossas vidas.

Este trabalho servirá de subsídio a pesquisadores e participantes da pesquisa como fonte

de informação, e outras autoridades que queiram publicitar o assunto.

Notas de final de texto

1 - Just in time é um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser

produzido, transportado ou comprado antes da hora exata. Pode ser aplicado em qualquer

organização, para reduzir estoques e os custos decorrentes.

2 - Twitter é uma rede social baseada na web 2.0 que permite aos usuários que enviem e

leiam atualizações pessoais de outros contatos.

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3 - e-comerce conceitua-se como o uso da comunicação eletrônica e digital, aplicada aos

negócios, criando, alterando ou redefinindo valores entre organizações (B2B) ou entre estas e

indivíduos (B2C), ou entre indivíduos (C2C), permeando a aquisição de bens, produtos ou

serviços, terminando com a liquidação financeira por intermédio de meios de pagamento

eletrônicos.

4 - Data-base marketing é um banco de dados utillizado para armazenar informações

relativas às atividades de inteligência de marketing de forma consolidada.

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6. Referências

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Page 22: 1 UM ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE MULHERES

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7. Anexo ANEXO I - Marco jurídico para financiamentos a favor empreendedorismo feminino na Toscana a partir de 1992 Legge 215/92 - Azioni positive per l'imprenditoria femminile

Legge 135/97 - Giovani imprenditori agricoli

Legge 236/93 - Opportunità per nuove imprese di giovani nei settori

turismo, beni culturali, innovazione tecnologica, ambiente, agricoltura

Legge 598/94 - Finanziamenti agevolati per interventi di tutela ambientale

e innovazione tecnologica

Legge regionale 23/98 - Misure per favorire l’accesso ai giovani alle

attività agricole, di servizio per l’agricoltura e di supporto al territorio rurale

Legge 949/52 - Nuovi investimenti di imprese artigiane e consorzi

Legge regionale 67/98 - Programma di interventi a favore dell’artigianato

artistico e tradizionale

Legge regionale 36/95 mod. legge 101/98 - Contributi in

conto interesse per i programmi di sviluppo dell’artigianato

Legge regionale 27/93 - Agevolazioni per la creazione di nuove

imprese da parte di giovani

Legge 449/97 - Incentivi fiscali alle PMI commerciali e turistiche

Legge 488/92 - Investimenti nelle aree depresse

Legge 49/85 - Agevolazioni per società cooperative

Legge 52/92 - Fondo mutualistico per la cooperazione

Legge 448 art. 51 - Agevolazioni per cooperative sociali di tipo b