55
1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011 /2

1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1

UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICOUNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUEDIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE

Luiz Albuquerque

2011/2

Page 2: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

2

PARTE GERALPARTE GERAL

TÍTULO ITÍTULO I

NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO INTERNACIONALDIREITO INTERNACIONAL

UNIDADE 1 INTRODUÇÃO GERAL

Luiz Albuquerque

Page 3: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1.1 Contextualização do Direito Internacional dentro do Direito

Page 4: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Para se compreender o Direito Internacional é preciso primeiro lembrar que:

“Nós” não estamos sozinhos no mundo.

Para o direito, existe um “nós” composto por aqueles que fazem parte de uma sociedade submetida a um Estado.

Mas a ideia de sociedade não se limita apenas à dimensão interna do Estado. Existe uma outra sociedade para além do nosso Estado: A “sociedade internacional”

Page 5: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

5

Nós, enquanto sociedade submetida a um Estado, também não estamos sozinhos no mundo, pois há uma sociedade internacional formada pela interação de diversas sociedades nacionais, cada uma organizada através do seu Estado. Trata-se de uma sociedade mais rústica, menos desenvolvida, mas nem por isso deixa de ser sociedade

A sociedade internacional é formada não apenas pela interação entre indivíduos e instituições oriundas de diferentes países. Ela também é formada pelas complexas relações entre os Estados que representam esses indivíduos e essas instituições.

Page 6: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Luiz Albuquerque 6

Os Estados, pela sua própria natureza, representam as múltiplas diversidades que eles têm, cada um, em sua sociedade “interna”. Mas quando os Estados se relacionam na sociedade internacional, por mais diversificados que sejam os interesses da sociedade nacional, será necessário que o Estado se relacione com os demais na qualidade de indivíduo.

Por isso, o relacionamento entre diversos Estados é, do ponto de vista da sua organização política, bem mais complicado do que o relacionamento entre pessoas dentro de um Estado.

Consequentemente, o nível de sofisticação desta na sociedade internacional será menor. Ou seja, o grau de desenvolvimento civilizatório da sociedade internacional é muito menor do que aquele que sociedade estatal experimenta.

Page 7: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Ubi societas, Ibi jus.Ubi societas, Ibi jus.O direito é resultado do processo

de interação dos sujeitos na sociedade.

Nesse sentido o direito é fruto da sociedade e, dessa forma, ele reflete essa sociedade.

Onde houver uma sociedade, haverá a necessidade do direito.

Quando falamos desta sociedade internacional, então chamaremos de direito internacional o direito que é produzido neste âmbito de relacionamento social.

Se houver uma sociedade internacional, então deverá haver um direito que regule as relações entre seus membros. Este direito é o que se chama de direito internacional, international law, law of nations, droit international, derecho international, Völkerrecht,

Page 8: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Quando se estuda o direito internacional no mesmo contexto em que se estuda Quando se estuda o direito internacional no mesmo contexto em que se estuda outras disciplinas de direito, é fundamental não perder de vista o fato de que o outras disciplinas de direito, é fundamental não perder de vista o fato de que o cada cada direito reflete uma determinada sociedade. direito reflete uma determinada sociedade.

Portanto, Portanto, diferentes sociedades diferentes sociedades desenvolverão desenvolverão diferentesdiferentes tipos de tipos de direitodireito. . Uma sociedade sofisticada terá um direito sofisticado e, naturalmente, Uma sociedade sofisticada terá um direito sofisticado e, naturalmente, uma uma

sociedade primitivasociedade primitiva – como é o caso da sociedade internacional – terá uma – como é o caso da sociedade internacional – terá uma organização jurídica primitivaorganização jurídica primitiva. .

O direito internacional está para o direito, como a sociedade internacional está para O direito internacional está para o direito, como a sociedade internacional está para a sociedade nacional. Esperar o contrário seria a sociedade nacional. Esperar o contrário seria ingênuoingênuo. Por isso, parece inútil, a . Por isso, parece inútil, a postura comum entre jovens estudiosos de postura comum entre jovens estudiosos de querer cobrar do direito internacional querer cobrar do direito internacional algo que a sociedade internacional não permite que ele sejaalgo que a sociedade internacional não permite que ele seja ..

Page 9: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

“Diversamente do que ocorre em relação aos estados de direito contemporâneos, e no âmbito interno de considerável parte destes – nos quais se respeitam os assim chamados direitos fundamentais, garantias individuais, direitos políticos e direitos sociais – nas relações entreentre os estados, no âmbito internacional, pode-se dizer, comparavelmente falando, estarmos em época em torno do ano 500 a.D. na altura e contexto em que o então homo líber começará o percurso de cerca de mil anos, até atingir a condição do cidadão nos estados de bem–estar social.” (ACCIOLY: 2009, p. 755) 9Luiz Albuquerque

Page 10: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Comparando diferentes ramos do Direito no que se refere ao seu grau de desenvolvimento técnicodesenvolvimento técnico, alguns civilistas dizem que o Direito Privado seria uma espaçonaveespaçonave, enquanto o Direito Público seria uma carroçacarroça.

Nesta linha, como estaria o Direito Internacional??

E por que?10Luiz Albuquerque

Page 11: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Para entender o porque, é preciso analisar as diferenças entre uma sociedade de pessoas e uma sociedade de entidades soberanas

11Luiz Albuquerque

Page 12: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

SISTEMA INTERNACIONAL

A igualdade soberana significa que um Estado não pode ser formalmente subordinado a outro Estado, resultando em uma sociedade horizontal .

SISTEMA ESTATAL

Poder:Normativo,Econômico,

Jurisdicional ,Coercitivo

“ESTADO DOS ESTADOS”

No plano externo, a soberania implica na independência , i.e. não há subordinação (a priori) de um Estado a qualquer entidade “superior”.

No plano interno a soberania implica na supremacia, i.e. na subordinação dos sujeitos ao Estado, resultando em uma sociedade vertical.

ESTADO

Sujeito1 Sujeito 2 Sujeito 3

O Estado e sua “Soberania” sob a perspectiva interna e externa.

E1 E2 E3 E4 E5

12Luiz Albuquerque

Page 13: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

13

SISTEMA INTERNACIONAL

∟Baseado na “Igualdade Soberana”;

∟Estado não reconhece qualquer autoridade superior que lhe defina obrigações, direitos e competências;

∟Estados se relacionam juridicamente no mesmo plano, criando, através de negociações voluntárias, as normas (tratados) que vão reger as relações entre eles;

∟ Por isso a sociedade internacional é descentralizada e horizontal organizada na idéia de cooperação;

∟Sistema coercitivo fraco; eficácia muito dependente de fatores políticos

SISTEMA ESTATAL

∟Baseado na supremacia do Estado;

∟Sociedade elege governo que administra o Estado e impõe sua jurisdição aos cidadãos, instituições;

∟ Relação entre Estado, como agente normativo, e cidadãos, como destinatários das normas, é vertical;

∟Sistema centralizado, estruturado na idéia de subordinação;

∟Sistema coercitivo forte com o aparato estatal que garante o cumprimento das normas;

∟ Tradição positivista, legalista no estudo do direito; Luiz Albuquerque

Page 14: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Mas atenção: NADA impede que os Estados criem, por sua própria vontade soberana, uma instituição internacional dotada de poderes e competências.

Ainda assim, seria uma relação horizontal marcada pela especialização de competências e não por uma

superioridade hierárquica.

E1

E3

E2

E4

Organização Organização InternacionalInternacional

dotada de poderespoderes oriundos dos

Estados

14Luiz Albuquerque

Page 15: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1.2 Debate sobre a Juridicidade do 1.2 Debate sobre a Juridicidade do Direito InternacionalDireito Internacional

Mas, afinal, o direito internacional Mas, afinal, o direito internacional é direito, mesmo?é direito, mesmo?

Page 16: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Estereótipo do Direito Internacional:Pacto Ribbentrop-Molotov: Não Agressão entre

Alemanha e União Soviética e partilha da Polônia.

Page 17: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Se o critériocritério for este, então vamos perguntar pro Al Capone o que ele acha do direito tributário.

Sabe, eu, particularmente, sempre achei um absurdo que uma pessoa pudesse

vir a ser presa só por não pagar alguns impostos!

17

Em uma abordagem acadêmica, e até mesmo por bom senso crítico, não parece produtivo iniciar uma análise sobre um

campo do direito pela sua exceção. Comecemos por desarmar os estereótipos.

Page 18: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

O Ceticismo quanto à juridicidade do direito internacional

Muitos estudiosos de Relações Internacionais, Ciências Políticas, Jornalismo e mesmo do Direito resistem a acreditar que direito internacional possa ser considerado, realmente, como um ramo do direito.

Haveria por partes deles um preconceito com relação aos jus-internacionalistas como se fosse ingênuo e inculto acreditar que aquilo que nós chamamos “direito internacional” se enquadrasse dentro do que eles chamariam genericamente de “direito”. Seria, na opinião destes críticos, uma cortesia diplomática, um arranjo político ou, no máximo um soft law .

18Luiz Albuquerque

Page 19: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

“Muitos estudantes de Direito reagem com uma certa indulgência quando encontram o termo ‘direito internacional’, como se dissessem:

19

“Bem, nós sabemos que não é realmente direito, mas também sabemos que os advogados e professores de direito internacional têm interesse profissional em chamá-lo de ‘direito’...

Luiz Albuquerque

Page 20: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

“... Ou eles podem concordar em conversar sobre direito internacional como se fosse

direito, uma espécie de quasi-direito...”

20Luiz Albuquerque

Sacou?!

Page 21: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Mas não pode ser verdadeiramente direito, dizem eles, porque não se pode garantir a sua execução compulsoriamente (i.e. o seu cumprimento através de uma ação institucional ou de uso ou ameaça de sanção [it cannot be enforced]) : como se poderia forçar todo um Estado a cumprir uma norma, especialmente se for uma superpotência como os Estados Unidos ou a União Soviética? (tradução nossa)

(D’AMATO in SIMPSON: 2001, p. 137)

21Luiz Albuquerque

Page 22: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Este tipo de ceticismo tem sua origem histórica associada à tradição do pensamento de autores como Hobbes e Spinosa, Lasson, Lundstedt, Aron, Morguenthau, Austin e Binder (DINH, DAILLER, PELLET: 1992, pp. 78-79)

22Luiz Albuquerque

Page 23: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

•Eduardo Prado, autor de “A Ilusão Americana”, obra publicada em 1893, ressaltou que "não se toma a sério a lei das nações, senão entre as potências cujas forças se equilibram. E como o único direito que não prescreve é o da força” - acrescentou - “os juristas universalmente reconhecidos são Armstrong, Bange e Krupp”, i. e., os grandes fabricantes de armamentos nos fins do século XIX

23Luiz Albuquerque

Page 24: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

24

O maior problema/diferença do DIP residiria na ausênciaausência de um “LeviatãLeviatã” na Sociedade Internacional. Ou seja, uma força (estatal)

central e superior capaz de impor o cumprimento do direito através de sançõessanções. Sem isso, a sociedade internacional seria “anárquicaanárquica”

(de acordo com a TRI) ou apenas “descentralizadadescentralizada” (DIP)

Luiz Albuquerque

Page 25: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Kelsen e a sanção na base do conceito de direito

“ Entendendo o Direito como ordem normativa de coação, Kelsen repudiou a possibilidade da existência, sempre afirmada pela doutrina, de obrigações jurídicas sem sanção para o seu descumprimento, de dever jurídico sem coação. Assim se expressa o autor:

‘ É por isso, de rejeitar uma definição do direito que não o determine como ordem de coação, especialmente porque só através do elemento coação no conceito do direito este pode ser distintamente separado de toda outra ordem social, e porque, como elemento de coação, se toma por critério um fator sumamente significativo para conhecimento das relações sociais e altamente característico da ordem social a que chamamos de direito” (KELSEN apud AFONSO: 1997, p. 5)

25Luiz Albuquerque

Page 26: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Kelsen se pergunta se haveria sanção no Direito Internaiconal

“Estabelece o Direito Internacional atos coercitivos (ações de imposição de sanções) como consequência estabelecida pelo direito Internacional para certa

conduta de Estados?? Ou, em outros termos: O Direito Internacional determina certa conduta dos Estados como condição para a aplicação de determinadas ações de coerção, fazendo assim dessa conduta um delito internacional e tendo as ações de coerção o

caráter de sanção ??” (KELSEN: 2010, p. 51-52)26Luiz Albuquerque

Page 27: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Para Kelsen há, sim, sanções no Direito Internacional

Não há, portanto, nada que nos impeça de chamar as represálias de sanções de Direito Internacional, pois retaliações são reações a violações do Direito Internacional, isto é aos delitos internacionais. O Direito Internacional geral confere a cada Estado o poder jurídico de tomar determinadas medidas coercitivas que têm o caráter de represália [...]

O Estado que, autorizado pelo Direito Internacional, recorrer a retaliações*, pode ser considerado um órgão da comunidade internacional constituído por Direito Internacional. A ação coercitiva, na condição de ação dessa comunidade, é reação à violação de Direito Internacional (KELSEN: 2010, p. 54-55)

* A definição usual de retaliação é a seguinte: são atos que – apesar de, normalmente, ilegais – são excepcionalmente permitidos como reação de um Estado à violação de seus direitos por outro. (KELSEN: 2010, p. 53)

27Luiz Albuquerque

Page 28: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Exemplos de Sanções em Direito Internacional posteriores a Kelsen

• Sanções comerciais na OMC e no Mercosul;

• Suspensão de financiamentos, ajuda humanitária, assistêencia técnica, etc.;

• Congelamento de bens, confisco de propriedade,

• Bloqueio de comunicações, comércio, e trânsito

• Suspensão ou expulsão de organizações internacionais como a OEA;

• Uso da força pelo Conselho de Segurança;28Luiz Albuquerque

Page 29: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Dificuldades no Sistema Coercitivo da Sociedade Internacional

•Há vários tipos de sanções no Direito Internacional.

•Contudo, é preciso reconhecer que a aplicação ou a eficácia destas sanções, muitas vezes, dependem de fatores não jurídicos, como:– Conjunturas políticas,

– Situação econômica e

– Capacidade militar.

•A fragilidade do sistema coercitivo não faz com que o Direito Internacional deixe de ser um sistema jurídico 29Luiz Albuquerque

Page 30: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

 ”Destas premissas conclui-se que a existência do direito internacional está[ria] condicionada pela de uma organização SUPERESTATAL da sociedade internacional. Ora, uma tal organização é inteiramente incompatível com a soberania do Estado. Não podem existir e, de fato, não existem na sociedade internacional (*), nem legislador, nem juiz, nem polícia. Faltando esta tríade necessária, o direito internacional seria simplesmente um mito.” (DINH, DAILLER, PELLET: 1992, p. 77)

30Luiz Albuquerque

Page 31: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1.3 Espécies diferentes de um mesmo gênero: O direito internacional como direito:

DIREITO

Direito Civil Direito Civil ≠ ≠ Direito Penal Direito Penal ≠ ≠ Direito do Trabalho Direito do Trabalho ≠ ≠ Direito ProcessualDireito Processual ≠ ≠ Direito Humanos Direito Humanos ≠ ≠ Direito Ambiental Direito Ambiental ≠≠ Direito Previdenciário Direito Previdenciário

≠ ≠ Direito InternacionalDireito Internacional

31Luiz Albuquerque

Page 32: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

O Direito Internacional é “político”? É claro que sim!Tanto no plano interno, quanto no plano internacional, o

direito é fruto de um processo político.Os problemas existentes no

plano do relacionamento internacional no que se refere à assimetria do poder de barganha ...

... são parecidos com os problemas enfrentados na

política interna.32Luiz Albuquerque

Page 33: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

direito e direito internacional

Pellet aponta que “As objeções comuns dirigidas contra o direito internacional derivam de uma concepção geral do direito” (1992, p. 77).

Neste debate de opiniões, o que precisaria ser esclarecido pelos críticos do direito internacional seria o que eles entenderiam por “direito”. Neste esforço, talvez se verifique que dentro desta grande categoria “dentro desta grande categoria “direitodireito” cabem ” cabem institutos diferentes entre si, mas nem por isso mais ou institutos diferentes entre si, mas nem por isso mais ou menos “jurídicos”menos “jurídicos”.

33Luiz Albuquerque

Page 34: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

direito interno e direito internacional

Na bela síntese transcrita do clássico do Direito Internacional:

 “Não sem paradoxo, os negadores do direito internacional contestam a sua existência em nome de uma definição abusivamente exigente do direito. Partindo do princípio de que só existe direito quando este apresenta os mesmo caracteres e a mesma mesma estrutura do direito interno,estrutura do direito interno, eles verificaram que tal não é o caso do direito internacional e “portanto”, que ele não constitui verdadeira ordem jurídica. (...) 34Luiz Albuquerque

Page 35: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Um tipo de direito diferenteNa verdade, [o DIP] existe, mas é

diferentediferente tanto no que respeita à elaboração das regras como à sua aplicação, ou mais exatamente, apresenta sob estes dois pontos de vista caracteres que não são desconhecidos em direito internacional mas não têm a mesma intensidade ou não se produzem com mesma freqüência estatística.” (DINH, DAILLER, PELLET: 1992, p. 77)

“ (...) a negação da especificidade do direito internacional em relação ao direito interno corre o risco de lançar uma séria dúvida sobre a própria existência do primeiro.” (1992, p. 78).

35Luiz Albuquerque

Page 36: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

DI é “direito” para o Estado.

• Como o Direito Internacional é uma disciplina de um curso superior, é importante saber que de acordo como entendimento do Ministério da Educação do Brasil e dos demais países o direito internacional é “direito”;

• O direito internacional também é considerado “direito” pelos demais órgãos públicos estatais;

• O direito internacional é considerado “direito” pelo próprio direito interno. Isso não significa que não possa haver conflito entre diferentes normas de direito. Mas o próprio fato de poder haver conflitos reflete o fato de direito internacional ser uma parte daquilo que se chama de “direito” Luiz Albuquerque 36

Page 37: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

Tabela de Áreas de Conhecimentos da CAPES6000000 60100001

Ciências Sociais Aplicadas DIREITO

60101008 TEORIA DO DIREITO60101016 TEORIA GERAL DO DIREITO60101024 TEORIA GERAL DO PROCESSO60101032 TEORIA DO ESTADO60101040 HISTÓRIA DO DIREITO60101059 FILOSOFIA DO DIREITO60101067 LÓGICA JURÍDICA60101075 SOCIOLOGIA JURÍDICA60101083 ANTROPOLOGIA JURÍDICA60102004 DIREITO PÚBLICO60102012 DIREITO TRIBUTÁRIO60102020 DIREITO PENAL60102039 DIREITO PROCESSUAL PENAL60102047 DIREITO PROCESSUAL CIVIL60102055 DIREITO CONSTITUCIONAL60102063 DIREITO ADMINISTRATIVO60102071 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO60103000 DIREITO PRIVADO60103019 DIREITO CIVIL60103027 DIREITO COMERCIAL60103035 DIREITO DO TRABALHO60103043 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO60104007 DIREITOS ESPECIAIS

Luiz Albuquerque 37

Page 38: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

O direito internacional também é direito interno.

Por fim, vale esclarecer que o direito internacional é “direito” porque além de tudo ele também é parte do direito interno positivado na legislação ordinária. Um tratado não é apenas uma norma de direito internacional, ele provoca a criação de uma formulação jurídica de direito interno. Por exemplo, um tratado é internalizado através de um Decreto Executivo com a aprovação prévia pelo Legislativo. Nesse sentido, o Decreto 1.355/94, cujo conteúdo semântico é de direito internacional (Acordos da OMC) é tão direito interno quanto o Decreto 1.354/94 sobre, p. ex., direito previdenciário, ou o Decreto 1.356/94 sobre direito administrativo. Luiz Albuquerque 38

Page 39: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

•Vale ainda lembrar que o direito é um fruto da sociedade, e por isso acompanha as transformações da sociedade. Se a sociedade se globaliza, então não há nada mais natural do que o direito se internacionalizar.

39

•Neste sentido é importante que os estudiosos do direito tenham a capacidade analítica e a flexibilidade intelectual para compreender a dinâmica das transformações da sociedade e a forma pela qual elas modificam o que se pode entender por “direito”. Luiz Albuquerque

Page 40: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

O marco teórico aqui adotado entende que o:

direito internacional

é, sim,

direito.

As fontes de direito internacional têm natureza jurídicanatureza jurídica. Isso significa que são normas cujo cumprimento é tido, pelos próprios sujeitos de direito internacional que as criaram, como obrigatórioobrigatório, e, portanto, seu descumprimento pode estar sujeito a sançõessanções , ainda que, às vezes, não seja juridicamente ou factualmente possível garantir a sua observância.

40

Isso não significa dizer que o direito internacional seja idêntico a outros ramos do direito, como o constitucional, civil ou penal (que, aliás, nem são idênticos entre si). É diferente mas é da família.

Mas as diferenças que, de fato, existem não são suficientes para descaracterizar a essência jurídica do direito internacional.

1.3 A Natureza do Direito Internacional1.3 A Natureza do Direito Internacional

Luiz Albuquerque

Page 41: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

• E além de ter natureza jurídica e ser obrigatório, o direito internacional também tem eficácia e aplicabilidade. Basta observar, sem cinismo ou preconceitos, a realidade cotidiana das chancelarias ao redor do mundo para perceber que, nas palavras de Henkin: “: “quase todas as nações quase todas as nações obedecem quase todos os princípios de direito internacional e quase obedecem quase todos os princípios de direito internacional e quase todas as suas obrigações quase todo o tempotodas as suas obrigações quase todo o tempo” ” (tradução nossa). (HENKIN, L. apud D’AMATO, 138).

41Luiz Albuquerque

Page 42: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

•Este tipo de opinião é bastante compreensível tendo em vista que a maior parte dos exemplos de “manifestações do direto” a que as pessoas estão diariamente submetidas, como constitucional, civil ou direito penal, apresentam características um tanto diferentes daquilo que elas enxergam como direito internacional, e daí a sensação de que o direito internacional não seria “direito”: 42Luiz Albuquerque

Page 43: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1.4 A Apologia e a Utopia na justificação do 1.4 A Apologia e a Utopia na justificação do direito internacional na obra de Koskenniemidireito internacional na obra de Koskenniemi

• Filósofo, jurista, diplomata finlandês (NYU)

• Autor de “From Apology to Utopia: The structure of international legal argument”

Luiz Albuquerque 43

• Principal referencial teórico adotado em aula;

• Para Koskenniemi o direito internacional tem dois padrões de argumentação igualmente válidos, porém, conflitantes e excludentes

Page 44: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1.4.1 APOLOGIA 1.4.1 APOLOGIA (Padrão Ascendente) (Padrão Ascendente)

Luiz Albuquerque 44

•Koskenniemi chama de “Apologia” o tipo de argumentação segundo o qual o direito internacional é é aquilo que oaquilo que o Estado faz Estado faz no exercício do seu poderno exercício do seu poder soberanosoberano..•Por esta orientação, o Por esta orientação, o EstadoEstado é quem seria o criador é quem seria o criador do direito internacional, agindo pela sua própria do direito internacional, agindo pela sua própria “vontade”;“vontade”;•O direito “é” aquilo que os Estados já fazem;O direito “é” aquilo que os Estados já fazem;•Ou seja, o direito internacional seria sempre apenas Ou seja, o direito internacional seria sempre apenas aquilo que o Estado quisesse que ele fosse; um direito aquilo que o Estado quisesse que ele fosse; um direito construído sobre a vontade e a prática do Estado.construído sobre a vontade e a prática do Estado.•Argumentar que a ação do Estado Argumentar que a ação do Estado deve ser o direito deve ser o direito consistem em uma “consistem em uma “ApologiaApologia““•Este entendimento traz duas consequências: Se o Este entendimento traz duas consequências: Se o direito internacional for apenas aquilo que o estado direito internacional for apenas aquilo que o estado faz, então pode-se dizer que ele tem grande faz, então pode-se dizer que ele tem grande ““concretudeconcretude” e efetividade, mas pequena ” e efetividade, mas pequena ““normatividade”enormatividade”e obrigatoriedade. obrigatoriedade.

Page 45: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

•O padrão descendente é baseado na ideia de que existe uma ordemordem jurídica superior e anterior que limitaria o poder soberano e constrangeria o Estado a ter que aceitar como obrigatório mesmo situações em que ele não gostaria de se encontrar.

•Essa ordem normativa superior pode ser uma noção de justiça, um princípio geral, um costume reconhecido, um bem maior, deus, dignidade, direitos humanos várias coisas, mas o importante é notar o argumento de autoridade que se faz ao argumentar que existe (independente) da vontade de um determinado Estado uma obrigação jurídica superior para ele fazer uma coisa que ele contra sua vontade

• Se o direito internacional for esta ordem superior então ele tem muita normatividadenormatividade, mas pouca concretudeconcretude; Luiz Albuquerque 45

1.4.2 UTOPIA 1.4.2 UTOPIA (Padrão Descendente)(Padrão Descendente)

Existiria uma parte do direito internacional que seria um resultado da convivência coletiva na sociedade internacional e que independeria da vontade específica de um ou de outro Estado para seja universalmente reconhecido como norma jurídica vinculante. Este tipo de padrão argumentativo segundo o qual o direito internacional “deve ser assim” parece uma “Utopia”

Page 46: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1.4.3 Dinâmica Argumentativa1.4.3 Dinâmica Argumentativa• Apologia e Utopia são as duas principais estruturas argumentativas do direito internacional.

• Elas são incompatíveis entre sí. Uma não aceita a lógica da outra e ambas se refutam reciprocamente sem que seja possível que um prevaleça sobre o outro porque ambos são racionalmente justificáveis;

• Nenhuma das duas é perfeita para explicar a conduta dos Estados nem para desqualificar a teoria rival;Luiz Albuquerque 46

Page 47: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

•A crítica utopista à apologia é que um direito que tenha se curvar à vontade do sujeito não é “direito” pois carece da compulsoriedade do “dever ser”, da normatividade da fenômeno jurídico;

•A crítica apologista à Utopia é que o que faz o direito é o Estado, e o direito internacional não pode ser algo desconectado da realidade, sem efetividade, algo que careça de concretude.

• Dependendo do objetivos e do contexto, cada país, em cada situação, faz uso de um ou de outro tipo de padrão argumentativo. Cada uso de um determinado padrão argumentativo tenta se impor ao outro

Luiz Albuquerque 47

Page 48: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

•Não há uma estrutura argumentativa “cientificamente” superior à outra. Ambas são intrinsecamente coerentes e incapazes de refutar definitivamente a outra.

•Em cada caso concreto um jurista poderia encontrar um veio argumentativo a favor ou contra uma determinada posição tanto pela perspectiva da Utopia, quanto da Apologia.

•Não há um certo ou errado a priori. Tudo depende da qualidade da argumentação e das condições de possibilidade relacionadas ao episódio analisado pelo direito internacional.

Luiz Albuquerque 48

Page 49: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

1.5 Conceitos de Direito Internacional

Construção coletiva de um conceito de Direito internacional em sala:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 50: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

50

Conceito tradicional

Conjunto de regras e princípios que regem as relações jurídicas entre os Estados.

Luiz Albuquerque

Page 51: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

51

Conceito Operacional Adotado

Sistema de normas jurídicas aplicável aos sujeitos de direito internacional pelo qual se estabelecem conceitos, direitos e obrigações em seus inter-relacionamentos na sociedade internacional.

Este sistema normativo é constituído essencialmente, por (fontes): princípios, costumes, convenções (tratados), atos unilaterais, normas de organizações internacionais e sentenças proferidas por jurisdições internacionais.

Luiz Albuquerque

Page 52: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

52

Perspectiva Analítica

• O que hoje se chama “direito internacional”, em sentido amplo, se configurou a partir da regulamentação do relacionamento entre Estados soberanos na ordem de Westphalia, e se desenvolveu de forma a reger outras dimensões das relações internacionais. •A compreensão da evolução histórica do direito internacional parece ser fundamental para o entendimento do que seja o direito internacional hoje.

Luiz Albuquerque

Page 53: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

53

Questões a serem consideradas

A perspectiva analítica aqui adotada entende que a efetividadeefetividade do direito internacional é condicionada por diversos fatores não-jurídicos como a conjuntura internacional e a correlação entre poder de barganha entre as partes.

Nesse sentido, para se compreender melhor o próprio direito internacional é importante considerar o jogo das interações político-estratégicas tanto no momento da criação do direito, quanto no momento de sua aplicação.

Luiz Albuquerque

Page 54: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

O que caracteriza o Direito Internacional?•O Direito Internacional, enquanto ramo autônomo das

ciências jurídicas com um objeto de estudo próprio, não tem sua natureza definida por algum tipo de conteúdo semântico específico (como direito penal ou civil), e sim por um elemento formal, qual seja, o de se encontrar previsto em alguma fonte formal de direito internacional.

•Como existem fontes de DIP que regulam os mais variados temas (economia, meio ambiente, direitos humanos, guerra etc.), então as normas de DIP não têm, entre si, uma identidade material, mas, tão somente, uma coincidência formal.

•Por isso, temos uma teoria geral do DIP e vários temas específicos, cada um regulado por suas fontes. 54Luiz Albuquerque

Page 55: 1 UNIDADE I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: PROF. LUIZ ALBUQUERQUE Luiz Albuquerque 2011/2

TEMAS & PROBLEMAS DO DIREITO INTERNACIONAL•Os limites da teoria: Os limites da teoria: Direito InternacionalDireito Internacional não é uma “ciência exata” não é uma “ciência exata”

•Não é útil tentar entender o direito internacional pela perspectiva de outra disciplina diferente como o direito penal ou direito civil, nem tampouco exigir suas característica.