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Curso de Direito do Trabalho
Professor Agostinho Zechin
Aulas exibidas nos dias 03, 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2008
DIREITO DO TRABALHO
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO
Princípios são enunciados genéricos destinados a amparar o legislador e o intérprete.
Ex.: Princípio da isonomia (art. 5°, I, CF).
Princípios específicos do direito do trabalho:
O princípio da proteção ao trabalhador é o principal e dele decorrem outros. Caracteriza-
se pela intervenção estatal nas relações trabalhistas, colocando obstáculos à autonomia da
vontade dos contratantes e criando normas mínimas que formam a base do contrato de
trabalho. As partes podem, contudo, pactuar além desse mínimo, mas nunca abaixo dele.
O princípio protetor se concretiza em três idéias básicas, na verdade, em três outros
princípios:
• Princípio in dubio pro operario ou in dubio pro misero
Entre duas ou mais interpretações viáveis, o intérprete deve escolher a mais favorável ao
trabalhador. É uma regra de hermenêutica, e não um caso de lacuna da lei.
• Princípio da norma mais favorável
Não se aplica, no direito do trabalho, a famosa pirâmide kelseniana, que trata da
hierarquia das normas jurídicas. Aqui, o ápice da pirâmide deve ser ocupado pela norma
mais favorável ao trabalhador (ex.: arts. 444 e 620 da CLT).
• Princípio da condição mais benéfica
Prevalecem as condições mais vantajosas para o trabalhador, não importa o momento em
que foram ajustadas. Esse princípio pode ser encontrado de maneira concreta no art. 468
da CLT e súmula 51 do TST, e tem, como fundamento, o direito adquirido.
Ainda existem outros princípios enumerados pela maior parte dos autores:
• Princípio da primazia da realidade
Em matéria trabalhista, importa o que ocorre na prática, mais do que os documentos
demonstram. Segundo Plá Rodriguez, "significa que em caso de discordância entre o
que ocorre na prática e o que surge de documentos e acordos se deve dar preferência ao
primeiro, isto é, ao que sucede no terreno dos fatos"
• Princípio da irrenunciabilidade
Irrenunciabilidade é a impossibilidade jurídica de privar-se voluntariamente de uma ou
mais vantagens concedidas pelo direito trabalhista em benefício próprio. O "vício de
consentimento presumido" é um argumento relevante para justificar o presente princípio.
De fato, certas derrogações são proibidas por se acreditar não serem livremente
consentidas.
• Princípio da boa fé
Trata-se de um princípio jurídico fundamental, uma premissa de todo ordenamento
jurídico. É um ingrediente indispensável para o cumprimento do direito, sem o qual, a
maioria das normas jurídicas perde seu sentido e seu significado.
Refere à conduta da pessoa que considera cumprir realmente com seu dever. Pressupõe
honestidade, consciência de não enganar, não prejudicar, não causar danos, não trapacear
etc. A consciência do agente aqui é aquela exigida do homem médio. É um modo de
agir, um estilo de conduta. Tal princípio ganha especial relevo nesse ramo do Direito, eis
que o contrato de trabalho é uma relação continuada, e não uma transação mercantil, um
negócio circunstancial.
• Princípio da continuidade da relação de emprego
Este princípio é uma conseqüência de ser, o contrato de trabalho, um contrato de trato
sucessivo ou de duração, diverso, por exemplo, de um contrato de compra e venda, em
que a satisfação das prestações pode se realizar em um só momento (contrato
instantâneo).
A continuidade é benéfica para ambos os sujeitos do contrato: para o empregado porque
lhe dá segurança econômica; e, para o empregador, porque pode contar com a experiência
daquela mão-de-obra.
Campo de aplicação do direito do trabalho
A que pessoas o Direito do Trabalho se aplica ? Essa é a pergunta que deve ser feita
quando o assunto é o campo de aplicação do Direito do Trabalho. A resposta é a
seguinte: o Direito do Trabalho se aplica, em princípio, aos sujeitos do contrato de
trabalho, empregado e empregador.
Mas como definir, numa relação de trabalho, se existe ou não relação empregatícia?
Devemos analisar se os requisitos da relação de emprego se encontram presentes no caso
específico. O assunto, contudo, é complexo, haja vista as inúmeras espécies de prestação
de serviços existentes. O trabalho subordinado é apenas uma dessas espécies.
Art. 3° da CLT:
"Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário".
Características do empregado:
1 - pessoa física;
2 - serviço de natureza não eventual;
3 - sob dependência e
4 - mediante salário.
1 - Pessoa física:
• Uma pessoa jurídica não pode ser empregada;
• O contrato de prestação de serviços entre duas pessoas jurídicas não é contrato de
trabalho.
2 - Natureza não eventual:
Eventual - Considera-se eventual o serviço que não está ligado à atividade-fim da
empresa e tem com característica a curta duração do tempo de execução. Para alguns, tal
conceito está ligado à continuidade.
Ex.: técnico contratado para reparar o equipamento de ar condicionado numa empresa de
alimentos, realizará um serviço eventual, tendo em vista os fins normais da empresa que o
contratou.
Não eventual - É aquele que exerce atividade permanente, tendo em vista os fins normais
da empresa.
• Não importa quantas vezes por semana trabalhe, se o trabalhador realizar atividade
ligada à atividade fim da empresa, e a ela seja subordinado, mesmo que trabalhe apenas
uma vez na semana, já é caracterizado o vínculo empregatício.
3 -Sob dependência :
• Subordinação do empregado ao empregador. É o mais importante requisito da relação
de emprego.
4 - Mediante salário:
• Deve-se levar em consideração a pactuação do salário, e, por óbvio, não o seu efetivo
recebimento. Diferentemente o trabalho humanitário, que não recebe salário. (Lei
9.608/98). Assim, a expressão "mediante salário" é utilizada para diferenciar os que
trabalham por caridade, por intenção piedosa.
OUTROS TRABALHADORES
AUTÔNOMO
• É um empresário modesto (próximo do eventual).
• É independente no ajuste e na execução de serviço.
• Geralmente possui clientela múltipla.
Ex.: Representante comercial de vendas.
A diferença entre o trabalhador autônomo e o empregado é de suma importância, eis que
aquele não é protegido pelo direito do trabalho. A diferença marcante entre os dois, é a
subordinação, o trabalhador autônomo, como o próprio nome já diz, não é subordinado.
A subordinação que aqui se fala é a jurídica, significando a situação contratual do
trabalhador em decorrência da qual está sujeito a receber ordens.
JURISPRUDÊNCIA
Configuração da relação de emprego
Acórdão : 02990305399 Turma: 09 Data Julg.: 21/06/1999 Data Pub.: 06/07/1999
Processo : 02980312813 Relator: NARCISO FIGUEIROA JUNIOR
Os requisitos necessários para configuração da relação de emprego encontram-se
previstos no Artigo 3º, da CLT, quais sejam: onerosidade, pessoalidade, trabalho não
eventual e a subordinação. Dentre estes, podemos afirmar que a subordinação jurídica é
o elemento primordial na medida em que a sua ausência impossibilita o reconhecimento
judicial do contrato de trabalho, ainda que presentes os demais requisitos.
Acórdão : 19990469876 Turma: 08 Data Julg.: 30/08/1999 Data Pub.: 05/10/1999
Processo : 02980533224 Relator: WILMA NOGUEIRA DE ARAUJO VAZ DA SILVA
VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE. O fato de o
reclamante estar inscrito em registro de autônomos, cadastrado como autônomo no
INSS e receber por meio de RPAs constitui, apenas, aspecto formal que não gera
presunção absoluta da feição civil do contrato, ainda mais quando se nota que se trata
freqüentemente de mero ardil com que procura o tomador de serviços mascarar a
verdadeira natureza da relação de emprego. Prevalece no Direito do Trabalho o
princípio da primazia da realidade, "em razão do qual a relação objetiva evidenciada
pelos fatos define a verdadeira relação jurídica estipulada pelos contratantes, ainda que
sob capa simulada, não correspondente à realidade" (seguindo os ensinamentos de
Arnaldo Süssekind, em Instituições de Direito do Trabalho - Vol.1 - 15a Edição - LTr -
pág. 136).
Acórdão : 02980656946 Turma: 05 Data Julg.: 15/12/1998 Data Pub.: 15/01/1999
Processo : 02980403614 Relator: TANIA BIZARRO QUIRINO DE MORAIS
AUTONOMO E EMPREGADO. DIFERENCIAÇÃO. A autonomia se caracteriza pela
liberdade de ação de quem presta serviços a outros, sem interferências. A prestação de
serviços, na hipótese dos autos, estava sujeita a toda sorte de interferências. Autônomo é
quem trabalha por contra própria e o simples "nomen juris" de contratos que pretendem
apenas mascarar o real vínculo empregatício não tem qualquer eficácia jurídica.
Acórdão : 02960495750 Turma: 07 Data Julg.: 30/09/1996 Data Pub.: 31/10/1996
Processo : 02950210656 Relator: BRAZ JOSE MOLLICA
Descaracteriza-se o trabalho autônomo quando suas atividades confundem-se com o
próprio objeto social da empresa, descrito em estatuto social.
Acórdão : 02960441669 Turma: 05 Data Julg.: 03/09/1996 Data Pub.: 16/09/1996
Processo : 02950223049 Relator: FRANCISCO ANTONIO DE OLIVEIRA
CONTRATO DE TRABALHO. MÚSICO. CANTOR. DUPLA MUSICAL - O trabalho
artístico (músico instrumentista, cantor) peculiar das noites paulistanas e dos grandes
centros não fazem parte do objetivo econômico do bar ou do restaurante onde o mister
artístico é desenvolvido. O talento artístico poderá até atrair clientela, mas o trabalho
assim desenvolvido nunca fará parte dos objetivos comerciais do estabelecimento. Não
existe a subordinação jurídica e nem a econômica o que desprestigia qualquer alento por
parte do art. 3º da CLT.
EMPREGADO DOMÉSTICO
Lei 5.859/72
Art. 1° - Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de
natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou a família, no âmbito
residencial destas, aplica-se o disposto nesta lei.
• Natureza contínua
Duas correntes preponderantes:
1a – Contínuo é aquilo que não sofre interrupção, assim, trabalho contínuo significa
trabalho dia a dia, sem interrupção, de segunda à sexta-feira ou de segunda à sábado.
Caso não haja trabalho durante toda a semana, tratar-se-á, a trabalhadora, de faxineira,
diarista, eventual, autônoma, seja qual for a nomenclatura utilizada, mas não será
empregada.
Acórdão : 19990371639 Turma: 06 Data Julg.: 20/07/1999 Data Pub.: 30/07/1999
Processo : 02980383419 Relator: FERNANDO ANTONIO SAMPAIO DA SILVA
Doméstico. Relação de Emprego. A continuidade da prestação de serviços, prevista na
Lei 5.859/72, art. 1º, exige comparecimento durante a semana inteira, à exceção da folga
dominical. O comparecimento, em dois dias por semana, como diarista, não supre a
exigência legal, ainda que tenha ocorrido ao longo de vários anos. A lei exige
continuidade, o que é diverso de habitualidade.
Acórdão : 20000468376 Turma: 06 Data Julg.: 12/09/2000 Data Pub.: 15/09/2000
Processo : 20000427998 Relator: MARIA APARECIDA DUENHAS
Empregado Doméstico Diarista. Não é empregada doméstica, nos termos da lei
5.859/72, a diarista que realiza trabalhos em residência familiar em alguns dias da
semana, sem a obrigatoriedade de comparecimento diário.
2a – O trabalho realizado em determinado(s) dia(s) da semana, desde que pré-ajustado,
não perde a característica de trabalho contínuo.
Acórdão : 19990552056 Turma: 07 Data Julg.: 18/10/1999 Data Pub.: 12/11/1999
Processo : 02980470060 Relator: ROSA MARIA ZUCCARO
DOMÉSTICA: trabalho em dias alternados; Doméstica que trabalha duas ou três vezes
por semana, fazendo serviços próprios de manutenção de uma residência, é empregada e
não trabalhadora eventual, pois a habitualidade caracteriza-se prontamente, na medida
em que seu trabalho é desenvolvido em dias alternados, verificando-se uma intermitência
no labor, mas não uma descontinuidade; logo, estando plenamente caracterizada a
habitualidade, subordinação, pagamento de salário e pessoalidade, declara-se, sem
muito esforço, o vínculo empregatício.
Acórdão : 20000474635 Turma: 03 Data Julg.: 12/09/2000 Data Pub.: 03/10/2000
Processo : 19990464548 Relator: SÉRGIO PINTO MARTINS
Contrato de trabalho doméstico. Caracterização. A reclamada confessa que a autora
comparecia apenas uma vez por semana. Esse aspecto é irrelevante para desnaturar a
relação de emprego, pois o advogado pode prestar uma vez por semana trabalho no
sindicato e ser considerado empregado. É o que ocorre com médicos, que têm vários
empregos, às vezes três por dia. O depoimento pessoal da reclamada indica que havia
continuidade na prestação de serviços, pois a autora trabalhou seis ou sete anos; recebia
a reclamante R$ 30,00 por dia, indicando onerosidade na relação. Na contestação a
reclamada afirma que a autora tinha horário para trabalhar, das 8h30min às 17h30min,
indicando subordinação. Não existe dispositivo legal no sentido de que, para ser
empregada doméstica, é preciso trabalhar duas ou três vezes por semana na mesma
casa. A empregada pode trabalhar apenas um dia por semana, como ocorre no caso dos
autos, em dias certos, que estará configurado o vínculo de emprego.
Obs.: Há ainda os que sustentam que, caso o trabalhador doméstico trabalhe 3 ou mais
vezes por semana, já é considerado empregado doméstico. Trata-se de um marco (3 dias)
não calcado em nenhum aspecto normativo. Porém, trata-se de entendimento de grande
aceitação na jurisprudência.
• Finalidade não lucrativa - diz respeito ao empregador, porque é claro que o empregado
trabalha com o fim de receber salário, o que tecnicamente, aliás, não é lucro.
Acórdão : 02980508157 Turma: 04 Data Julg.: 22/09/1998 Data Pub.: 02/10/1998
Processo : 02970386296 Relator: AFONSO ARTHUR NEVES BAPTISTA
Trabalhador doméstico: Não é empregado doméstico e sim celetista, o trabalhador que
se ativa em serviços de faxina em imóvel da reclamada, em que esta não reside e ainda,
aufere lucros em decorrência da locação.
Pouco importa a função que o trabalhador exerça, se ele se enquadrar no art. 1° ele é
considerado doméstico. "Âmbito residencial" não é necessariamente onde o empregador
reside (ex. caseiro de chácara de lazer, motorista, jardineiro etc).
Acórdão : 02980531183 Turma: 08 Data Julg.: 28/09/1998 Data Pub.: 27/10/1998
Processo : 02970459170 Relator: WILMA NOGUEIRA DE ARAUJO VAZ DA SILVA
Motorista - caracterização como empregado doméstico - possibilidade - não há
incompatibilidade entre o exercício da função de motorista e o reconhecimento da
condição de doméstico, desde que os serviços, de natureza contínua e finalidade
claramente não lucrativa, tenham sido prestados a uma pessoa ou
família, no âmbito residencial desta.
O Art. 7° da CFRB, em seu parágrafo único, enumera os direitos do doméstico:
1. salário mínimo (IV);
2. irredutibilidade do salário (VI);
3. décimo terceiro salário (VIII);
4. repouso semanal remunerado (XV);
5. gozo de férias anuais, com pelo menos 1/3 a mais do que o salário normal (XVII);
6. licença à gestante, de 120 dias (XVIII);
7. licença paternidade (XIX);
8. aviso prévio proporcional (XXI);
9. aposentadoria (XXIV);
10. integração à previdência social.
Em 13 de dezembro de 1999 foi editada a MP nº 1.986, de 13 de dezembro de 1999, que
dispõe sobre a profissão de empregado doméstico, para facultar o acesso ao Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - FGTS e ao seguro-desemprego. Convertida em Lei,
acresceu-se, à Lei 5859/72, os artigos 3°-A; 6°-A; 6°-B; 6°-C e 6°-D. A MP foi
regulamentada pelo Decreto nº 3.361 de 10 de fevereiro de 2000.
Recentemente, a Lei 11.324/06 acabou majorando a gama de direitos de tal classe
trabalhadora. Agora:
a) É vedado ao empregador doméstico efetuar descontos no salário do empregado por
fornecimento de alimentação, vestuário, higiene ou moradia. Tais utilidades não têm
natureza salarial nem se incorporam à remuneração para quaisquer efeitos.
Poderão ser descontadas as despesas com moradia apenas quando essa se referir a local
diverso da residência em que ocorrer a prestação de serviço, e desde que essa
possibilidade tenha sido expressamente acordada entre as partes.
b) O empregado doméstico terá direito a férias anuais remuneradas de 30 (trinta) dias
com, pelo menos, 1/3 (um terço) a mais que o salário normal, após cada período de 12
(doze) meses de trabalho, prestado à mesma pessoa ou família. As férias de 30 dias (antes
eram 20 dias úteis) aplicam-se aos períodos aquisitivos iniciados após 20/07/2006.
c) É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada doméstica gestante
desde a confirmação da gravidez até 5 (cinco) meses após o parto.
d) Revogou-se a alínea a do art. 5º da Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949, ou seja, a partir
de agora, empregado doméstico também faz jus ao descanso remunerado nos feriados.