21
2010.1/2 [CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO] http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120 285 ANÁLISE DE VARIAÇÕES TIPOGRÁFICAS: UMA BUSCA POR PARÂMETROS PARA O DESENVOLVIMENTO DE FAMÍLIAS TIPOGRÁFICAS SEM SERIFA PEREIRA, Fabio Mariano Cruz; Mestrando; Centro Universitário Senac; São Paulo; Brasil; [email protected] FARIAS, Priscila Lena; Professora; Centro Universitário Senac; São Paulo; Brasil; [email protected]

1071-3637-1-PB (1fffgf)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ffgff

Citation preview

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    285

    ANLISE DE VARIAES TIPOGRFICAS: UMA BUSCA POR

    PARMETROS PARA O DESENVOLVIMENTO DE FAMLIAS TIPOGRFICAS

    SEM SERIFA

    PEREIRA, Fabio Mariano Cruz; Mestrando; Centro Universitrio Senac; So Paulo; Brasil; [email protected]

    FARIAS, Priscila Lena; Professora; Centro Universitrio Senac; So Paulo; Brasil; [email protected]

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    286

    RESUMO

    Este artigo apresenta uma anlise descritiva aplicada em um grupo de variaes tipogrficas. Essas anlises tiveram como objetivo principal identificar valores numricos que descrevem parmetros para o desenvolvimento de famlias tipogrficas sem serifa. Entende-se por variao tipogrfica uma diferena de peso (por exemplo, regular e negrito), largura (por exemplo, normal e condensado), inclinao (por exemplo, romano e oblquo) ou estilo (por exemplo, romano e itlico) que caracteriza cada uma das fontes que integram uma mesma famlia tipogrfica. Os valores coletados nessas anlises foram comparados com alguns dos principais dados levantados em uma pesquisa anterior, onde se procurou reunir parmetros recomendados por autores e usados por profissionais brasileiros ligados ao design de tipo. Ao final, so propostos alguns possveis valores capazes de nortear os designers de tipo em suas atividades de criao.

    Palavras-chave: variaes tipogrficas; anlises tipogrficas; design de tipos.

    ABSTRACT

    This article presents a descriptive analysis applied to a group of typographical variations. These analysis were aimed at identifying the numerical values for parameters that describe the development of sans serif typefaces. It is understood by typographic variation a difference in weight (for example, regular and bold), width (for example, normal and condensed), slope (for example, roman and oblique) or style (for example, roman and italic) that characterizes each one of the fonts that constitute a type family. The values collected from these tests were compared with some of the key figures raised in earlier research, which sought parameters recommended by the authors and used by brazilian type designers. In the end, we propose some possible values that can guide the designers in their brand building activities.

    Keywords: typographic variation; typographical analysis; type design.

    RESUMEN

    Este artculo presenta los resultados de un anlisis aplicado a un grupo de variaciones tipogrficas. Este anlisis tuvo como objetivo principal identificar los valores numricos de los parmetros que describen el desarrollo de familias de tipos san serif. Se entiende por variaciones tipogrficas a las diferencias de peso (por ejemplo, regular y negrita), ancho (por ejemplo, normal y condensado), inclinacin (por ejemplo, romano y oblicuos), o el estilo (por ejemplo, romano e itlico) que caracteriza a cada una de las fuentes que componen la misma familia tipogrfica. Los valores recogidos en este anlisis fueron comparados con algunos de los datos clave obtenidos en una bsqueda anterior, que pretenda reunir los parmetros recomendados por autores dedicados al estudio de

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    287

    tipografa y utilizados por algunos profesionales brasileos vinculados al diseo de tipos. Finalmente, se proponen algunos posibles valores que pueden guiar a los diseadores en sus actividades creativas.

    Palabras clave: variaciones tipogrficas, el anlisis tipogrfico, tipos de diseo

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    288

    ANLISE DE VARIAES TIPOGRFICAS: UMA BUSCA POR

    PARMETROS PARA O DESENVOLVIMENTO DE FAMLIAS TIPOGRFICAS

    SEM SERIFA

    INTRODUO

    Este artigo apresenta uma anlise descritiva aplicada em um grupo de variaes

    tipogrficas, tendo como objetivo identificar valores numricos que descrevem parmetros

    para o desenvolvimento de famlias tipogrficas sem serifa.

    Entende-se por parmetro, neste estudo, todo elemento cuja variao de valor altera a

    soluo de um problema sem alterar-lhe a natureza (MICHAELIS, 2009). Subentende-se

    que esses elementos (os parmetros) e os seus valores (valores dos parmetros) so

    caractersticas que descrevem um determinado objeto nesse caso, as variaes

    tipogrficas. Por exemplo, um dos parmetros a serem considerados durante o

    desenvolvimento de uma variao de peso pode ser encontrado na variao de espessura

    das hastes dos caracteres, proporcionando maior ou menor rea de impresso em relao

    fonte romana correspondente. Nesse caso, a medida do aumento ou diminuio da

    espessura das hastes, que pode ser representada em uma determinada escala numrica,

    refere-se ao valor que descreve tal parmetro. Interessa neste estudo reunir valores

    pontuais, partindo de parmetros j elencados anteriormente.

    O conceito de variaes tipogrficas empregado aqui para se referir a um determinado

    conjunto de fontes que compartilham caractersticas comuns de forma, mtrica e

    espacejamento, formando uma famlia tipogrfica. Entende-se que essas variaes tm

    como objetivo principal facilitar a hierarquizao de informaes em uma pgina

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    289

    diagramada e/ou projeto grfico. Esse conjunto de fontes quase sempre gerado a partir

    de uma fonte inicial, e dessa forma pode-se dizer que todas elas partilham um mesmo

    conceito ou fazem parte de uma mesma soluo de projeto, embora apresentem

    diferenas de espessura, largura, inclinao e estilo, conforme se pode ver na Figura 1.

    Figura 1: Algumas variaes da famlia Myriad Pro, desenvolvida pelos designers Robert Slimbach,Carol Twombly, Fred Brady e Christopher Slye. Fonte: dos pesquisadores.

    As anlises conduzidas pela pesquisa aqui relatada restringem-se a trs variaes

    tipogrficas: itlica, condensada, e negrita. A fonte romana1 faz parte desse conjunto, mas

    entendida aqui como modelo principal que permite orientar a elaborao das variaes

    com base em um mesmo desenho, conservando assim as caractersticas que determinam a

    famlia (LUPTON, 2006, p. 45).

    O recorte nessas variaes partiu de uma pesquisa anterior na qual foram entrevistados

    designers grficos atuantes na cidade de So Paulo. A pesquisa teve por objetivo principal

    a identificao das variaes entendidas por esses profissionais como indispensveis em

    uma famlia tipogrfica para uso em textos longos de projetos editoriais (PEREIRA; FARIAS,

    2009, p. 1).

    Um estudo realizado recentemente reuniu dados advindos de levantamento bibliogrfico e

    dados advindos de entrevistas com designers de tipos brasileiros (PEREIRA; FARIAS, no

    prelo). Os resultados obtidos neste estudo revelam certas discordncias entre teoria e

    prtica. Em geral, dados propostos por autores so usados apenas como um interessante

    ponto de partida em projetos tipogrficos. Posteriores ajustes e adequaes de projeto so

    necessrios, dentro da peculiaridade de cada famlia tipogrfica.

    1 Usamos o termo romano para nos referirmos a fontes no -itlicas, com peso regular e largura normal.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    290

    Os parmetros levantados na bibliografia e nas entrevistas foram:

    1. ITLICAS:

    a. Inclinao: entre 0 e 15 graus;

    b. Maior rendimento: a linha de texto composta em fonte itlica deve ser 5% a 10% menor

    que a mesma linha de texto composta em sua correspondente romana. Isso pode ser obtido

    com maior condensao, menor peso, menor espao entre letras, ou por uma combinao

    desses fatores;

    c. Maior cursividade: desenhos mais prximos de uma escrita manual;

    d. Menor peso: hastes mais finas do que as das fontes romanas.

    2. NEGRITAS:

    a. Maior peso: a espessura das hastes deve corresponder a, pelo menos, 35% da altura da

    caixa alta;

    b. Preservao das reas internas: incremento deve ser maior no sentido externo ao

    caractere, e menor no sentido interno;

    c. Distribuio de peso: o incremento da espessura dos traos verticais deve ser maior do

    que o incremento da espessura dos traos horizontais.

    3. CONDENSADAS:

    a. Menor largura: letras aproximadamente 75% mais estreitas do que as da fonte romana;

    b. Preservao das reas internas: condensao mxima limitada pela relao entre reas

    internas e espacejamento;

    c. Ajustes de desenho: curvas mais acentuadas do que na fonte romana.

    1. ANLISE DE VARIAES TIPOGRFICAS EM FAMLIAS SEM SERIFA

    A partir de uma viso geral sobre os dados levantados no estudo mais recente, observa-se

    que parte dos relatos dos entrevistados aborda alguns parmetros sem definir valores

    especficos para cada um desses parmetros. Tambm nos dados levantados na bibliografia

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    291

    especfica, observa-se que h uma maior concentrao de informaes referentes a

    parmetros e no exatamente aos seus valores.

    A dificuldade de se obter dados mais precisos sobre a criao de famlias tipogrficas

    parece comum na maioria dos discursos sobre o tema. No obstante, possvel encontrar

    uma vasta produo tipogrfica de famlias comercializadas e no comercializadas. Esse

    contrassenso entre teoria e prtica, por si s, j aponta para uma clara dificuldade na

    descrio precisa de um mtodo (ou mtodos) que esteja relacionado a certo equilbrio

    entre tcnica e intuio.

    Visando preencher as lacunas referentes aos valores dos parmetros, foram analisados

    alguns caracteres especficos de variaes tipogrficas, a partir dos quais se procurou

    particularizar as principais caractersticas dos parmetros levantados na bibliografia e nas

    entrevistas. Foram selecionados os caracteres h, o, p e v, com base nas consideraes de

    Adams (1986, p. 59) que, em seu estudo, elencou alguns caracteres especficos (h, o, p, v),

    considerados pela autora como possveis arqutipos de derivao dos demais caracteres de

    uma fonte. Dessa forma, segundo a autora, a partir desses caracteres possvel o

    desenvolvimento de todo o alfabeto minsculo de uma fonte tipogrfica.

    As anlises foram aplicadas sobre um grupo de 20 famlias, so elas: Akzidenz Grotesk,

    Avenir, Bailey Sans, Calibri, Charlott Sans, Dax, Euphemia UCAS, Frutiger Next, Gill Sans,

    Helvetica, Myriad, News Gothic, Officina Sans, Rotis, Stone Sans, The Sans, Trebuchet,

    UNB Pro, Univers e Verdana.

    Considerando o padro britnico de classificao tipogrfica BS 29612, foram identificadas,

    nessa seleo, 1 famlia geomtrica, 13 famlias lineares humanistas, 2 famlias grotescas e

    4 famlias neogrotescas.

    A realizao dessas anlises foi possvel graas pr-elaborao de uma ficha de

    catalogao que serviu como instrumento de pesquisa. Alm de catalogar as peculiaridades

    dos caracteres tipogrficos, a aplicao das fichas possibilitou cruzar os dados levantados,

    2 Sistema de classificao tipogrfica baseado no anterior sistema proposto por Maximilien Vox, reunindo 11 classes de tipos: humanista, garaldina, didnica, lineal (lineal humanista, lineal grotesca, lineal neo-grotesca e lineal geomtrica), escritural e slab-serifa, ou serifa-achatada (MOURILHE e FARIAS, 2005, p. 8).

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    292

    relacionando-os em grficos para melhor visualizao e compreenso das relaes entre as

    famlias analisadas.

    A ficha foi elaborada em arquivo Excel, verso 2003, composto por cinco planilhas

    relacionadas no mesmo arquivo. Na primeira planilha foram recolhidas informaes gerais

    sobre cada uma das famlias da Tabela 1. Essas informaes apontam o contexto no qual a

    fonte foi desenvolvida, tais como: nome da famlia, ano de criao, nome do designer,

    empresa ou designer responsvel pela digitalizao da fonte e sua respectiva classificao

    dentro do padro britnico BS 2961.

    Tabela 1 Planilha 1 da ficha de catalogao de caractersticas para anlise de variaes tipogrficas

    FAMLIA DESIGNER ANO VERSO DIGITAL CLASSIFICAO

    AKZIDENZ GROTESK Desconhecido 1896 Berthold Grotesca

    AVENIR Adrian Frutiger 1988 Adobe geomtrica

    BAILEY SANS Kevin Bailey 1996 Kevin Bailey Grotesca

    CALIBRI Lucas de Groot 2006 Lucas de Groot Linear humanista

    CHARLOTT SANS Michael Gills 1992 Michael Gills Linear humanista

    DAX Hans Reichel 1995-7 Font Font Linear humanista

    EUPHEMIA UCAS Ross Mills 2004 Ross Mills Linear humanista

    FRUTIGER NEXT Adrian Frutiger 2000 Linotype neogrotesca

    GILL SANS Eric Gill 1927 Monotype Linear humanista

    HELVETICA Max Miedinger 1957 Adobe neogrotesca

    MYRIAD Robert Slimbach e Carol Twombly 1992 Robert Slimbach e Carol Twombly Linear humanista

    NEWS GOTHIC Morris Fuller Benton 1909 Bitstream Linear humanista

    OFFICINA SANS Erik Spiekermann 1993 Erik Spiekermann Linear humanista

    ROTIS Otl Aicher 1989 Adobe Linear humanista

    STONE SANS Sumner Stone 1987 Sumner Stone Linear humanista

    THE SANS Lucas de Groot 1994 Lucas Font Linear humanista

    TREBUCHET Vincent Connare 1996 Vincent Connare Linear humanista

    UNB PRO Gustavo Ferreira 2008 Gustavo Ferreira Neogrotesca

    UNIVERS Adrian Frutiger 1955 Adrian Frutiger Neogrotesca

    VERDANA Matthew Carter e Tom Rickner 1996 Matthew Carter e Tom Rickner Linear humanista

    Fonte: dos pesquisadores.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    293

    As demais planilhas especificam os valores dos parmetros levantados at este momento.

    Para isso, foram observados caracteres especficos das variaes negrita, itlica e

    condensada.

    Os parmetros observados foram divididos em:

    1. Mtrica dos caracteres: medida de altura-x, coletada no caractere x; medida de

    altura da ascendente, coletada no caractere h; medida de altura da descendente,

    coletada no caractere p; medida de altura da caixa alta, coletada no caractere H.

    1. Largura de caracteres especficos: Coletada nos caracteres h, o, p e v.

    2. Espessura da haste: coletada no caractere h.

    3. Espessura das traves: coletada no caractere v.

    4. Espessura das curvas verticais e horizontais: coletadas no caractere o.

    5. ngulo de inclinao das hastes em relao linha de base: coletada no

    caractere h.

    6. Medida da contraforma: coletada no caractere h. A relao entre a medida da

    contraforma (rea branca interna do caractere) e a largura do caractere possibilitou

    conhecer a relao entre a taxa de incremento de peso na rea interna e externa dos

    caracteres. Nesse caso, foi usado o caractere h como representativo para a identificao

    dessa relao nos demais caracteres.

    7. Medida do comprimento do alfabeto de a a z: Nas fontes itlicas, incluindo o

    espacejamento natural da fonte.

    8. Quociente de italicizao no caso das itlicas: verificando a porcentagem

    representativa da quantidade de caracteres cursivos presentes na fonte. Esse

    reconhecimento foi possvel graas a testes de sobreposio entre caracteres inclinados

    automaticamente em software digital e os caracteres itlicos originais da famlia, desse

    modo foram considerados cursivos aqueles caracteres que no correspondiam s suas

    respectivas verses inclinadas, como no exemplo da Figura 2, onde os caracteres inclinados

    e cursivos se encontram enquadrados por um retngulo.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    294

    Figura 2: Quociente de italicizao da famlia Bailey Sans. Fonte: dos pesquisadores.

    Todos esses dados foram coletados a partir de um sistema de medio digital. Em tal

    medio foi utilizada a unidade de medida tipogrfica ponto. As informaes foram

    levantadas sempre a partir de caracteres em corpo correspondente a 120 pontos, que

    permite uma visualizao suficientemente clara para observao, especialmente no caso

    de uma necessria verso impressa do estudo. Com os caracteres representados em um

    mesmo corpo foi possvel se obter um panorama comparativo entre os dados coletados.

    A coleta dessas informaes foi realizada no software Illustrator, verso 10.0, o que

    permitiu, por meio da tecnologia digital, uma maior preciso nos dados. A medio foi

    feita do seguinte modo: ao selecionar um objeto qualquer, neste caso um caractere em

    120 pontos e convertido em curvas, o programa Illustrator disponibiliza informaes sobre

    a medida de largura e altura desse objeto na unidade de medida desejada, no caso, o

    ponto. Nessas medies, foi usada a ferramenta de corte do objeto (Subtract from shape

    area, no painel Pathfinder), eliminando partes desnecessrias medio. Por exemplo,

    para se chegar medida da espessura da haste do h minsculo, eliminou-se a parte do

    caractere que no era representativa dessa medida, conforme ilustra os trs passos da

    Figura 3, restando apenas a parte da rea necessria medio:

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    295

    Figura 3: Mtodo de corte dos caracteres, para medio de partes especficas. Neste exemplo, usamos o caractere h da famlia Gill Sans. Fonte: dos pesquisadores.

    Na ficha de catalogao, a planilha das romanas apresenta as medidas em dados brutos. As

    prximas planilhas, referentes s variaes negrita, itlica e condensada, apresentam suas

    medidas em porcentagens, sempre tendo como referncia as medidas apresentadas na

    planilha das romanas.

    A anlise dos dados levantados a partir dessas fichas de catalogao no teve por objetivo

    identificar um valor exato para cada um dos parmetros levantados nas entrevistas e na

    bibliografia, mas estabelecer uma zona de valores por meio de identificao de

    ocorrncias mais frequentes, baseada em clculos de desvio padro, ferramenta

    disponibilizada pelo prprio software Excel.

    Para cada conjunto de medidas coletadas, foi calculada uma mdia aritmtica, a partir da

    qual se calculou o desvio padro. Com a rea correspondente ao desvio padro foi possvel

    estabelecer uma faixa de valores capazes de orientar a elaborao das variaes

    tipogrficas estudadas.

    Por exemplo, nas variaes do ngulo de inclinao das fontes itlicas analisadas, observa-

    se uma variao total de 8 a 13, com mdia aproximada de 10,8 e desvio padro

    equivalente a aproximadamente 1,5. Nesse caso, as ocorrncias mais frequentes situam-se

    numa zona onde o valor mnimo corresponde diferena entre a mdia aritmtica e o

    desvio padro (10,8 1,5 = 9,3) e o valor mximo corresponde soma entre a mdia

    aritmtica e o desvio padro (10,8 + 1,5 = 12,3). Entende-se, portanto, que a zona de

    valores est entre 9,3 e 12,3, e a mdia encontra-se no meio exato: 10,8.

    Esse raciocnio se estendeu anlise de todos os parmetros encontrados, como demonstra

    a Figura 4.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    296

    Figura 4: Determinao das ocorrncias mais frequentes de valores obtidos nas anlises tipogrficas. Fonte: dos pesquisadores.

    Os resultados dessas anlises levantam algumas questes relevantes quando comparados

    literatura pesquisada e s entrevistas com designers de tipo.

    Diferente do que foi afirmado nas entrevistas, os testes aqui realizados revelaram que, em

    parte das variaes negritas, a taxa de incremento interno do caractere costuma ser maior

    do que a taxa de incremento externo, o que pode ser constatado nos grficos subsequentes

    da Figura 5.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    297

    Figura 5: Estudo da relao entre a largura e a contraforma do caractere h das fontes negritas. Fonte: dos pesquisadores.

    No primeiro grfico, nota-se que o aumento na largura do caractere muito variado,

    enquanto o segundo grfico mostra que o aumento da taxa de incremento interno, alm de

    tambm ser bastante variado, apresenta uma tendncia a concentrar valores maiores.

    Geralmente se cresce mais para dentro do que para fora, contrariando, numa primeira

    anlise, as afirmaes dos designers entrevistados. Essa medio foi realizada

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    298

    comparando-se a diminuio da contraforma (rea branca interna) do caractere h com o

    aumento da largura do mesmo caractere.

    Foram observadas tambm modificaes nas medidas das mtricas das fontes, geralmente

    com mudanas sutis, entre 0 e 5% em relao ao romano, para mais ou para menos, e

    normalmente encontrada nas medidas da altura-x e ascendente. Enquanto uma aumenta, a

    outra diminui e vice-versa. No foram encontradas mudanas significativas nas medidas da

    caixa alta, como se pode ver nos grficos da Figura 6.

    Figura 6: Valores encontrados na mtrica das variaes analisadas. Fonte: dos pesquisadores.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    299

    As mudanas referentes mtrica tm uma possvel relao com questes de ajustes de

    compensao ptica, que no parece ser algo recente, pois ao longo da Histria da

    Tipografia, muitos tipos receberam esses ajustes em funo de sua legibilidade em

    diferentes corpos (TRACY, 1986, p. 39).

    Esse comportamento tambm se verificou em um estudo preliminar sobre as variaes

    tipogrficas, por meio do qual foram identificadas algumas diferenas sutis nas relaes de

    mtrica em razo da mudana de variao nas fontes (PEREIRA; FARIAS, 2010, p. 12).

    As afirmaes de Frutiger a respeito dos valores para desenvolvimento das variaes de

    peso e largura, conforme se pode ver nos resultados das anlises realizadas, fazem sentido

    apenas como uma primeira aproximao ao mtodo de um projeto tipogrfico. A afirmao

    categrica do autor no especifica uma zona de possibilidades, mas descreve valores

    nicos. Desse modo, sua aplicao, apesar de importante, parece limitar-se a apenas parte

    do processo de experimentao na criao tipogrfica.

    Nas variaes negritas, Frutiger (1999, p. 148) define a taxa de incremento da haste como

    correspondente a 35% da altura da caixa alta, enquanto a haste da fonte romana

    corresponde a 15% dessa mesma altura. Ao se comparar o valor 15 da haste romana com o

    valor 35 da haste negrita, percebe-se que a taxa de incremento da haste negrita, segundo

    Frutiger, corresponde aproximadamente 133% em relao haste romana.

    Nas anlises realizadas, entretanto, o ndice de ocorrncias mais frequentes que define as

    fontes negritas situa-se em uma faixa entre aproximadamente 44,5% e 88,9%. O valor

    mximo encontrado para essa taxa foi na variao negrita da famlia Stone Sans,

    equivalente a 120% em relao sua romana, conforme se pode ver no grfico abaixo, na

    Figura 7.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    300

    Figura 7: Grfico ilustrativo da taxa de incremento nas hastes dos caracteres negritos, em relao s hastes dos caracteres romanos. Fonte: dos pesquisadores.

    Outra discordncia com a bibliografia levantada pode ser vista na argumentao de

    Bringhurst, de que a medida de comprimento de uma linha de texto composto em itlico

    ser sempre menor do que o comprimento de uma linha de texto composta em romano.

    Essa reduo, segundo o autor, deve corresponder a um valor entre 5% e 10%.

    Se, por um lado, esse valor parece coerente com o resultado das anlises realizadas, onde

    se verificou que, em algumas fontes itlicas, o comprimento da linha do alfabeto de a

    z apresenta-se com redues que variam entre 0 e 8%; por outro lado, algumas fontes

    itlicas apresentaram-se mais largas do que suas respectivas romanas, com ligeiro aumento

    de 1% ou 2%, Figura 8.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    301

    Figura 8: Variao da medida de comprimento de uma linha de texto composta em fonte itlica, em relao mesma linha de texto composta em romana. Fonte: dos pesquisadores.

    Tambm no se pode descartar a possibilidade de esse aumento estar relacionado

    variao de espao entre os caracteres da fonte (espacejamento) ou, ainda, da inclinao

    acentuada em alguns itlicos com detalhes ornamentais que tornam o caractere mais largo

    na leitura do software Illustrator.

    2. CONCLUSO

    A definio de dados especficos para uma suposta generalizao de caractersticas das

    variaes tipogrficas em diferentes famlias mostra-se uma tarefa complexa e, ainda

    assim, possvel apenas dentro de certa flexibilidade que permita contemplar a criao de

    diferentes espcimes tipogrficos.

    H, contudo, a inteno de ter nesses parmetros, e em seus respectivos valores, apenas

    uma detalhada sugesto para um ponto de partida no desenvolvimento de uma famlia.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    302

    Muitas caractersticas das fontes, especialmente aquelas de carter mais humanista, com

    esttica prxima da escrita cursiva, no podem ser previstas por um pensamento

    esquematizado, e nem sempre um raciocnio lgico de projeto parece responder

    adequadamente a solues que so, muitas vezes, meramente visuais.

    Os valores encontrados nas anlises foram:

    Negrito

    O aumento da espessura da haste variou entre 32% e 120% em relao ao romano, e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 44,5% e 88,9% em relao ao

    romano;

    O aumento da espessura dos traos curvos horizontais variou entre 8% e 82% em relao ao

    romano, e a ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 33% e 67,2% em

    relao ao romano;

    O aumento da espessura da trave variou entre 32% e 131% em relao espessura da haste

    romana, e a ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 40,9% e 86,7% em

    relao ao romano;

    Geralmente se cresce mais para dentro do que para fora;

    A taxa de incremento no sentido externo do caractere h variou entre 6% e 25%, sendo a

    ocorrncia mais frequente entre aproximadamente 8,35% e 19,15% em relao ao romano;

    A taxa de incremento no sentido interno do caractere h variou entre 4% e 43%, e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 13,4% e 34% em relao ao

    romano;

    Em geral, as ascendentes diminuem ao passo que aumenta a altura-x. Mas so variaes

    muito sutis, geralmente a ascendente diminui 5,5% e a altura-x aumenta 2,7% em relao

    ao romano;

    O aumento da largura do caractere o variou entre 4% e 19%, e a ocorrncia mais

    frequente ficou entre 4,9% e 13,95% em relao ao romano;

    O aumento da largura do caractere p variou entre 3% e 20%, e a ocorrncia mais

    frequente ficou entre 5,95% e 16,5% em relao ao romano.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    303

    O aumento da largura do caractere v variou entre 1% e 22%, sendo que a ocorrncia mais

    frequente ficou entre 5,95% e 16,8% em relao ao romano.

    Condensadas

    A diminuio da largura do caractere h variou entre 18% e 31% em relao ao romano, e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 18,35% e 30,5%;

    A diminuio da largura do caractere o variou entre 20% e 42% em relao ao romano, e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 21,15% e 40,9%;

    A diminuio da largura do caractere p variou entre 18% e 36% em relao ao romano, e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 21,25% e 35,53%;

    A diminuio da largura do caractere v variou entre 15% e 33% em relao ao romano, e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 17,37% e 32%;

    Geralmente h pequenas redues nas ascendentes, entre 0 e 8% em relao ao romano;

    H redues nas espessuras das hastes e barras de aproximadamente 3% a 14% em relao

    ao romano, e a ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente 5,88$ e 14,83%.

    Itlico

    Em geral, as mtricas no mudam;

    As hastes so geralmente mais finas, entre 0 e 13% em relao s hastes romanas (exceo

    para a famlia Rotis, na qual a espessura da hasta itlica aproximadamente 3% mais

    espessa do que sua romana), e a ocorrncia mais frequente ficou entre aproximadamente

    0,35% e 7,5%;

    Os caracteres so geralmente mais condensados;

    A diminuio da largura do caractere h variou entre 1% e 11%, e a ocorrncia mais

    frequente ficou entre 1,14% e 6,62% em relao ao romano;

    A diminuio da largura do caractere o variou entre 1% e 22% (exceo para a famlia

    Bailey Sans, na qual se verifica o caractere o itlico 1% mais largo do que o romano), e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre 0 e 9,83% em relao ao romano;

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    304

    A diminuio da largura do caractere p variou entre 1% e 12% (exceo para a famlia

    Trebuchet, na qual se verifica o caractere p itlico 4% mais largo do que sua romana), e a

    ocorrncia mais frequente ficou entre 0,3% e 8,9% em relao ao romano;

    A diminuio da largura do caractere v variou entre 1% e 14% (exceo para a famlia

    Trebuchet, na qual se verifica o caractere v 2% mais largo do que sua romana), e a

    ocorrncia mais frequente ficou em 0,25% e 9,66% em relao ao romano;

    Os ngulos de inclinao variaram entre 8 e 13, sendo a ocorrncia mais frequente entre

    9,27 e 12,26 em relao ao romano;

    Embora os caracteres itlicos sejam mais condensados do que os caracteres romanos, os

    alfabetos itlicos se mostraram com larguras muito variadas (possivelmente em razo do

    espacejamento), ficando entre 8% menor ou 2% maior em relao ao comprimento do

    alfabeto romano;

    O quociente de italicizao tambm muito variado, com resultados entre 19% e 80% de

    caracteres cursivos, e, entre as 20 famlias analisadas, seis delas apresentaram apenas

    caracteres oblquos.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem o auxlio financeiro concedido pela Fapesp e pelo CNPq para a

    realizao de suas pesquisas.

    REFERNCIAS

    ADAMS, Debra Anne. A dialogue of forms: letters and digital font design. Massachusetts:

    MIT, 1986. 120 f. Dissertao (Mestrado em Arquitetura) Massachusetts Institute of

    Technology, 1986.

    FRUTIGER, Adrian. Sinais e smbolos: desenho, projeto e significado. So Paulo: Martins Fontes, 1999.

    LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. So Paulo: Cosac Naify, 2006.

  • 2010.1/2

    [CADERNOS DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO]

    http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau ISSN 1809-4120

    305

    MICHAELIS. Dicionrio on-line. Disponvel em: . Acesso em: 12 jun. 2009.

    PEREIRA, Fabio; FARIAS, Priscila. Seleo de variaes tipogrficas: um estudo centrado no usurio de fontes tipogrficas digitais no serifadas. In: FARIAS, P.; SPINILLO, C.; TORI, R.; COELHO, L. A. (Org.). Pesquisa cientfica em design da informao: sistemas de informao e comunicao, tecnologia e sociedade, histria e teoria, educao. Rio de Janeiro: SBDI, 2009. p. 166-171.

    COELHO, L. A. Artigo aceito para apresentao no P&D Design 2010. 9 Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. So Paulo.

    COELHO, L. A. Notas para uma anlise de variaes tipogrficas em famlias no serifadas. In: III SEMINRIO DE PESQUISA EM DESIGN: COMUNICAO E COGNIO. So Paulo: Senac, 2010.

    TRACY, Walter. Letters of credit: a view of type design. Boston: Publisher, 1986.