1071-Historia Da Politica Exterior Do Brasil

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  • Histria da poltica exterior do Brasil

    histriadiplomtica

  • Ministrio das relaes exteriores

    Ministro de Estado Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado

    Secretrio-Geral Embaixador Eduardo dos Santos

    Fundao alexandre de GusMo

    A Fundao Alexandre de Gusmo, instituda em 1971, uma fundao pblica vinculada ao Ministrio das Relaes Exteriores e tem a finalidade de levar sociedade civil informaes sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomtica brasileira. Sua misso promover a sensibilizao da opinio pblica nacional para os temas de relaes internacionais e para a poltica externa brasileira.

    Presidente Embaixador Jos Vicente de S Pimentel

    Instituto de Pesquisa deRelaes Internacionais

    Diretor Embaixador Srgio Eduardo Moreira Lima

    Centro de Histria eDocumentao Diplomtica

    Diretor Embaixador Maurcio E. Cortes Costa

    Conselho Editorial da Fundao Alexandre de Gusmo

    Presidente: Embaixador Jos Vicente de S Pimentel

    Membros: Embaixador Ronaldo Mota Sardenberg Embaixador Jorio Dauster Magalhes Embaixador Gonalo de Barros Carvalho e Mello Mouro Embaixador Jos Humberto de Brito Cruz Ministro Lus Felipe Silvrio Fortuna Professor Clodoaldo Bueno Professor Francisco Fernando Monteoliva Doratioto Professor Jos Flvio Sombra Saraiva

  • Braslia 2013

    Renato Mendona

    Histria da poltica exterior do Brasil

    Do Perodo Colonial ao reconhecimento do Imprio (1500-1825)

    Histria Diplomtica | 1

  • Direitos de publicao reservados Fundao Alexandre de GusmoMinistrio das Relaes ExterioresEsplanada dos Ministrios, Bloco HAnexo II, Trreo70170-900 BrasliaDFTelefones: (61) 2030-6033/6034Fax: (61) 2030-9125Site: www.funag.gov.brE-mail: [email protected]

    Equipe Tcnica:Eliane Miranda PaivaFernanda Antunes SiqueiraGabriela Del Rio de RezendeGuilherme Lucas Rodrigues MonteiroJess Nbrega CardosoVanusa dos Santos Silva

    Projeto Grfico:

    Daniela Barbosa

    Programao Visual e Diagramao:Grfica e Editora Ideal

    M539Mendona, Renato. Histria da poltica exterior do Brasil : do perodo colonial ao reconhecimento do Imprio (1500-1825) / Renato Mendona. Braslia : FUNAG, 2013.

    246 p. : il. (Histria diplomtica).

    ISBN 978-85-7631-468-4

    1. Poltica exterior - histria - Brasil. 2. Poltica exterior - perodo colonial (1500-1822) - Brasil. 3. Poltica exterior - Imprio (1822-1889) - Brasil. I. Ttulo. II. Srie.

    CDD 327.8109

    Impresso no Brasil 2013

    Bibliotecria responsvel: Ledir dos Santos Pereira, CRB-1/776Depsito Legal na Fundao Biblioteca Nacional conforme Lei n 10.994, de 14/12/2004.

  • Sumrio

    Lista de mapas e ilustraes ............................................ 9

    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil ........................................................11Paulo Roberto de Almeida

    Prefcio ................................................................................. 45

    Primeira ParteO PERODO COLONIAL

    Captulo I

    Antecedentes da poltica portuguesa na Amrica .................................................................... 51

    Captulo II

    Diretrizes do Tratado de Madri ....................................67

  • Captulo III

    O Tratado de Santo Ildefonso e a demarcao da fronteira ................................................................. 81

    Captulo IV

    A abertura dos portos ao mercado internacional. O Primeiro Tratado Comercial do Brasil ...................93

    Captulo V

    As ambies de D. Carlota Joaquina no rio da Prata. A diplomacia de D. Joo e a ocupao da Guiana Francesa .............................................................................. 105

    Captulo VI

    O Brasil no Congresso de Viena. A incorporao da Provncia Cisplatina ................. 117

    Segunda ParteA FASE DO IMPRIO

    Captulo VII

    As ideias liberais na Amrica e a Santa Aliana. O reconhecimento do Imprio pelos Estados Unidos da Amrica ...........................................................135

    Captulo VIII

    O Marqus de Barbacena e a diplomacia do Imprio. O liberalismo econmico de Canning e a Misso Stuart ...................................................................................147

  • Bibliografia .........................................................................167

    APNDICE

    Rio Branco, o demarcador da grandeza territorial do Brasil ..............................................................................175

    ANEXOS

    A Bula Inter Coetera de Alexandre VI, de 4 de maio de 1493 .......................................... 191

    B Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494 .........................................................................197

    C Tratado de Madri entre Portugal e Espanha de 13 de janeiro de 1750 .........................................215

    D Tratado de Paz e Aliana entre Portugal e Brasil, de 29 de agosto de 1825 ...........................235

    E Quadro cronolgico do reconhecimento da Independncia do Brasil ..................................... 241

  • 9LiSta de mapaS e iLuStraeS

    MAPAS

    Mapa 1

    Linha de marcao fixada pela Bula de 4 de maio de 1493 ................................................................................53

    Mapa 2

    Linha de demarcao de Tordesilhas............................. 61

    Mapa 3

    A fronteira sul e o Tratado de Santo Ildefonso......... 92

    Mapa 4

    Mapa da fixao da fronteira do Brasil, vendo-se assinalados os territrios do Amap, Acre e Misses ........................................................................ 187

  • Mapa 5

    Mapa das Cortes, 1749 .......................................................... 245

    ILUSTRAES

    Figura 1

    Alexandre de Gusmo, negociador do Tratado de Madri ..................................................................................... 77

    Figura 2

    D. Joo VI, rei de Portugal e do Brasil .........................123

    Figura 3

    O imperador do Brasil, D. Pedro I ...................................151

    Figura 4

    Lord Stuart, apresentao de credenciais na Corte do Rio de Janeiro ......................................................152

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    renato mendona: um pioneiro da hiStria dipLomtica do BraSiL

    Os que conhecem a edio original deste livro, alis, nica (publicada sob os auspcios do Instituto Pan-americano de Geografia e Histria, no Mxico, em 1945), sabem que ela trazia, logo em seguida ao ttulo, a advertncia: 1o Tomo, o que vinha confirmado nas primeiras linhas do Prefcio do autor: O presente tomo constitui o primeiro de uma srie de trs, nos quais tentaremos uma viso de conjunto da Histria da Poltica Exterior do Brasil.

    Infelizmente, por circunstncias que no so difceis de adivinhar, os dois outros tomos prometidos, o segundo dedicado poltica exterior do Imprio e o terceiro da Repblica, at a conferncia extraordinria de chanceleres americanos realizada no Rio de Janeiro, em janeiro de 1942, logo em seguida aos ataques japoneses em Pearl Harbor, para hipotecar a solidariedade hemisfrica aos Estados Unidos contra o Japo (e a Alemanha nazista, que tambm tinha seguido o Imprio japons na declarao de guerra) , nunca vieram luz, embora seu autor continuasse um infatigvel pesquisador e um prolfico escritor, tendo acumulado, ao longo das duas dcadas seguintes, diversos outros livros de

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    valor sobre o Brasil, sua histria e cultura. Na verdade, quando o livro foi publicado, no incio de 1945, Renato Mendona j tinha sido removido para a Secretaria de Estado (em outubro de 1944), depois de quatro anos no pas asteca.

    Uma avaliao objetiva desta obra, escrita quando ele era ainda segundo secretrio, requer, antes de mais nada, situ-la em seu contexto histrico prprio qual seja, o da historiografia diplomtica brasileira do incio dos anos 1940 , para em seguida consider-la em seus mritos prprios, do ponto de vista formal e substantivo. Seria, alis, recomendvel, comear por explicar o prprio itinerrio do autor, de fato singular entre vrios outros colegas diplomatas voltados para a pesquisa histrica e para ensaios de interpretao do Brasil, tanto em funo de sua posio nessa pequena repblica das letras, como em virtude de suas contribuies historiografia e aos ensaios brasileiros na rea das humanidades.

    O homem e a obra

    Tendo nascido em Alagoas, no mesmo ano em que falecia o Baro do Rio Branco, Renato Mendona (RM) ingressou no servio exterior brasileiro como cnsul de terceira classe, mediante concurso, em julho de 1934; ele foi o primeiro de apenas trs selecionados, dos quais o segundo era o mdico mineiro, e futuro homem de letras, Joo Guimares Rosa. Ela j residia na capital desde jovem, pois tendo perdido seus pais muito cedo, foi criado por um tio residente no Rio de Janeiro: Jos Rozendo Martins de Oliveira, a quem dedicou seu primeiro livro publicado, A Influncia Africana no Portugus do Brasil.1 Serviu em diversos postos no

    1 O livro, escrito aos 21 anos, traz esta dedicatria: memria do Prof. Rozendo Martins que formou minha personalidade; cf. A Influncia Africana no Portugus do Brasil (Rio de Janeiro: Sauer, 1933, 137 p.;

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    Brasil e no exterior, durante mais de 43 de servios contnuos, vindo a falecer treze anos depois de sua aposentadoria, que se deu no final de 1977.

    Sua primeira misso, pelo Itamaraty, no exterior, foi servir de auxiliar da delegao Conferncia de Paz para a soluo do conflito do Chaco (entre a Bolvia e o Paraguai), realizada em Buenos Aires em julho de 1935. Logo em seguida, j casado, foi nomeado pelo ministro Macedo Soares, provavelmente em reconhecimento de seus talentos intelectuais, secretrio da Comisso brasileira para a reviso dos textos de Histria e Geografia.2 A esta nomeao seguiu-se nova designao em Buenos Aires, desta vez como secretrio da Comisso incumbida de proceder ao estudo das questes constantes do programa da Conferncia Interamericana de Consolidao da Paz. Em maro de 1937, RM era nomeado para servir como auxiliar do Gabinete do Ministro de Estado, a que se seguiu, em abril, a designao para ser o representante do MRE no Conselho Brasileiro de Geografia. Nessa poca, ele j tinha em preparo aquela que seria sua mxima obra historiogrfica, dedicada a um conterrneo que foi, possivelmente, o mais longo ministro do Brasil em qualquer legao do Imprio, Francisco Incio de Carvalho Moreira, o Baro do Penedo, intitulada Um Diplomata na Corte de Inglaterra (mas que seria publicada apenas em 1942, na Coleo Brasiliana).

    prefcio de Rodolfo Garcia, da Academia Brasileira de Letras). Uma 2a edio foi publicada logo aps, em 1935, pela Companhia Editora Nacional (com 255 p.), e uma 3a edio quando o autor se encontrava servindo no Consulado no Porto (Livraria Figueirinhas,1948); o livro foi novamente publicado 40 anos depois da primeira edio, em coedio com o Instituto Nacional do Livro, do MEC, onde trabalhava ento o autor; finalmente, foi objeto de nova edio, a quinta, pela ordem cronolgica, por ocasio das comemoraes do centenrio de nascimento de Renato Mendona (Braslia: Funag, 2012, 195 p., com prefcios de Alberto da Costa e Silva e Yeda Pessoa de Castro).

    2 Data desse perodo, seu outro livro na rea da lingustica, O portugus do Brasil: origens, evoluo, tendncias (Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1936, 344 p.; Biblioteca de Divulgao Cientfica), prmio de Lngua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    Em janeiro de 1938, o ministro Mrio de Pimentel Brando, solicitava ao ento redator-chefe dos Anais do Itamaraty a incluso, como quarto volume, das cartas do Baro de Cotegipe ao Conselheiro Silva Paranhos, ento Ministro de Estrangeiros em misso especial no Paraguai (1869-1870); esse material deve ter servido a RM para, anos depois, introduzir e anotar a obra do Baro do Rio Branco sobre o Visconde pai.3 Dois meses depois, RM era removido para o seu primeiro posto, Tquio, onde, no entanto, ele no se demoraria muito. O Japo era um pas de forte emigrao para o Brasil, pelo menos at a Constituio de 1934, quando medidas discriminatrias e cotas limitativas foram impostas, causando uma crise diplomtica que teve de ser contornada pelo Itamaraty.4

    O chefe de RM na embaixada em Tquio onde se apresentou em 19 de maio de 1938 era o embaixador Pedro Leo Velloso, que depois veio a desempenhar funes de relevo no final da ditadura Vargas. Ele ficou em Tquio por curtssimo prazo, pois que, j em 22 de dezembro de 1938, embarcava de volta ao Brasil, como informou em ofcio reservado o novo embaixador, Frederico de Castello--Branco Clarck; consta do seu mao pessoal que ele foi chamado a servio, permanecendo em comisso no Rio at 4/05/1939, quando finalmente foi removido para a Secretaria de Estado. Muito provavelmente, sua sada de Tquio e chamada a servio na Secretaria de Estado, antes do perodo normal de remoo, teve a ver com a segunda gravidez de sua esposa e o nascimento de mais um herdeiro na famlia. Nesse perodo, j eram evidentes os sinais do prximo conflito europeu, tendo a Alemanha, no ano anterior, incorporado a ustria e abocanhado grande parte da Bomia,

    3 Cf. Baro do Rio Branco. O Visconde do Rio Branco (Rio de Janeiro: Editora A Noite, s.d. [1944], 347 p.; introduo e notas de Renato Mendona).

    4 Ver, a esse propsito, Valdemar Carneiro Leo: A Crise da Imigrao Japonesa no Brasil (1930-1934): Contornos Diplomticos (Braslia: IPRI-Funag, 1990).

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    esquartejando boa parte da Repblica Tchecoslovaca; tambm se adensavam as nuvens no continente asitico, sobretudo com a crescente militarizao do Japo, no contexto de sua selvagem invaso da China, e aumentavam as tenses com os Estados Unidos, cujo governo praticava uma poltica de isolamento do Imprio nipnico.

    Reintegrado Secretaria de Estado no segundo semestre de 1939, RM foi lotado na Diviso de Cooperao Intelectual, o que certamente se encaixava em seus pendores pessoais para a pesquisa e o trabalho de tipo acadmico. No desprovida de mrito, portanto, foi sua designao, pelo Secretrio Geral Maurcio Nabuco, para servir como secretrio da Comisso Organizadora dos Trabalhos de Comemorao do Cinquentenrio da Proclamao da Repblica. Esse primeiro retorno ao Brasil, portanto, coincidindo com o incio da guerra europeia, e logo a seguir asitica, correspondeu, tambm, a uma fase de intensa produo intelectual; so numerosos os seus trabalhos, estendendo-se desde seu retorno ao Brasil at o final de sua estada no Mxico, em nova remoo ocorrida em meados de 1940.

    A srie tinha comeado pela temtica da cultura negra, com a publicao de um artigo sobre O Negro e a Cultura do Brasil,5 mas passou a avanar, de maneira cada vez mais afirmada, pelos temas de histria diplomtica e de relaes internacionais do Brasil. Na verdade, RM visava trabalhos de maior flego, como a biografia em preparao do Baro do Penedo, e a publicao das obras completas de Alexandre de Gusmo. A produo intelectual, nessa fase, se conclui por esta histria da poltica exterior do Brasil

    5 Esse trabalho, O negro e a cultura no Brasil: breve histrico de estudos afro-brasileiros de lingustica, etnografia e sociologia, foi depois republicado num livro coletivo, reunindo trabalhos apresentados no 2 Congresso Afro-Brasileiro (realizado em Salvador, em janeiro de 1937, tendo como organizador o antroplogo Arthur Ramos e a participao de especialistas estrangeiros como Melville Herskovits e Donald Pierson e de antroplogos e escritores brasileiros como dison Carneiro, Aydano de Couto Ferraz, Dante de Laytano, Manuel Diegues Jr. e Jorge Amado); cf. Ramos, Arthur et al. O negro no Brasil (Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1940), p. 99-125.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    (na verdade, apenas da fase colonial), que prometia ser apenas o primeiro de uma srie voltada para a histria diplomtica, desde Tordesilhas, e que foi unicamente publicada no Mxico, em 1945.

    RM encaminha, em fevereiro de 1940, uma carta ao Doutor Getlio Vargas, solicitando apoio para uma edio brasileira, completa, das obras do secretrio do rei D. Joo V, um dos negociadores do Tratado de Madri de 1750. A carta ao presidente comea por ressaltar o interesse do presidente por toda iniciativa de carter cultural e histrico mxime em assunto que diz respeito ao Rio Grande do Sul e seu passado; lembra, em seguida, que se deve a Alexandre de Gusmo a atual configurao geogrfica do Brasil, pois foi pela obra de Gusmo que os Sete Povos das Misses, a principiar por So Borja, foram incorporados ao Brasil em troca da Colnia do Sacramento. RM menciona a existncia de Cartas, Memrias e Documentos de Alexandre de Gusmo, quer publicados em 1841 na cidade do Porto ou ainda inditos; ele prope uma edio especial, com os documentos inditos existentes no Arquivo Colonial de Lisboa e na Torre do Tombo, que somente poder ter xito e perfeita autenticidade, mediante estudos e investigaes rigorosas executadas pessoalmente em Portugal; formula, consequentemente, o desejo de obter os meios necessrios realizao dessa finalidade, conseguindo uma viagem a Lisboa.

    RM se permitiu ainda lembrar a Vossa Excelncia o alvitre de mandar-me em Comisso ou em carter permanente de posto, atendendo minha qualidade de funcionrio diplomtico, e finaliza encaminhando seu trabalho apresentado em congresso regional de histria sobre Os Sete Povos das Misses e o Tratado de Madrid,6 ademais de citar o honroso convite que [acabara] de receber da Academia de Histria Portuguesa, para relatar a tese So Pedro

    6 Publicado em Porto Alegre, em 1940, como separata dos Anais do III Congresso Rio-Grandense de Histria.

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    do Rio Grande e a Colnia do Sacramento. Distribuda a carta a diversos interlocutores, foi ela objeto de parecer favorvel do Chefe da Seo de Publicaes do Instituto Nacional do Livro, o historiador Srgio Buarque de Holanda, em carta enviada ao Diretor do INL, Augusto Meyer, em 18 de maro de 1940; este oficia em 19 de maro ao chefe de Gabinete do Ministro da Educao e Sade, o poeta Carlos Drummond de Andrade, encaminhando a informao e o pedido de RM.

    Na sequncia, em 2 de maio, o ministro Gustavo Capanema submete ao presidente da Repblica parecer favorvel quanto publicao das obras de Bartolomeu [sic] de Gusmo, mas esclarece que a ida desse escritor a Portugal, afim de realizar pesquisas necessrias ao estabelecimento da edio, assunto que poder ser apreciado pelo Ministrio das Relaes Exteriores. A Presidncia da Repblica encaminha, ento, expediente ao Secretrio Geral do Itamaraty, solicitando, em 11 de maio, uma informao a respeito; finalmente, o ltimo despacho sobre o assunto, constante do mao pessoal de RM, um Memorando de 17 de maio, do chefe da Diviso de Cooperao Intelectual, Bueno do Prado, dirigido ao Secretrio Geral, no qual se considera tratar-se de iniciativa digna dos maiores elogios... no lhe cabendo, entretanto, dar parecer sobre a possibilidade e convenincia de ser o Senhor Renato de Mendona enviado a Portugal, nas condies em que sugere (em Comisso ou em carter permanente de posto).

    O expediente vai ao Departamento da Administrao no dia seguinte, no que seria uma tramitao burocrtica normal. No se sabe exatamente o que tero discutido as altas chefias da Casa em torno dos projetos de pesquisa histrica de RM, mas o fato que, logo aps, mais exatamente em 22 de maio, o presidente da Repblica e o ministro de Estado, Osvaldo Aranha, assinaram o decreto de sua remoo, ex-officio, para a Embaixada no Mxico, onde passaria a exercer as funes de Segundo Secretrio.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    Em seguida, em memorando de 27 de maio, o chefe da Administrao indaga ao Secretrio Geral se RM estava autorizado pelo Ministro de Estado para dirigir correspondncia diretamente ao presidente da Repblica. O SG Mauricio Nabuco responde, no mesmo dia, anotando no memorando que, de [s]eu conhecimento, [RM] no estava autorizado. A Administrao cogitou ento aplicar as penas previstas na legislao; tendo RM alegado desconhecimento do Estatuto dos Funcionrios Pblicos, foi advertido verbalmente no sentido de, no futuro, ter sempre presente as obrigaes que lhe so impostas pela sua condio de funcionrio pblico.

    Remoo para o Mxico: as publicaes de histria diplomtica

    Ao partir do Brasil para o Mxico, RM deixou, para publi-cao imediata, os originais de sua grande pesquisa histrica, vinculada s razes regionais, sobre a vida diplomtica do conterrneo alagoano Francisco Incio de Carvalho Moreira, o Baro do Penedo, ministro do Brasil em Washington, em 1852, e depois, por vrias dcadas, em Londres, a partir de 1855, at o final do Imprio (com algumas breves interrupes).

    No Mxico, uma de suas primeiras misses diplomticas foi a de integrar a misso posse do presidente Manuel vila Camacho, que sucedia ao nacionalista Lzaro Crdenas. Mesmo sem ter obtido permisso para sua viagem de pesquisa em Portugal, para preparar uma edio brasileira das obras completas de Alexandre de Gusmo, RM explorou os materiais por ele compilados em preleo a um seleto pblico de intelectuais mexicanos, apresentando o

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    av dos diplomatas brasileiros como um antecessor do prprio Monroe.7

    RM tampouco descurava de manter os chefes da Casa atualizados sobre suas publicaes: por ofcio junho de 1941, o chefe do posto, Carlos de Lima Cavalcanti, encaminhava ao ministro de Estado seis exemplares das separatas recebidas por RM de seu ensaio sobre Os Sete Povos das Misses e o Tratado de Madrid. Embora nem sempre ocupado com a pesquisa em arquivos, em vista das ausncias do Brasil, o terreno da histria diplomtica e da poltica internacional do Brasil ocuparia RM pelas trs dcadas seguintes, com incurses em snteses gerais de histria e de cultura do Brasil, preparadas para o pblico estrangeiro.

    Em 1942, com o destaque de j merecer uma primeira edio pela prestigiosa Coleo Brasiliana, foi publicado Um diplomata na corte de Inglaterra: o Baro do Penedo e sua poca, sua obra mais destacada, embora tenha sido objeto de apenas duas outras edies.8 A biografia de Carvalho Moreira constitui, sem dvida alguma, o magnum opus de RM, a obra pela qual ele passou a ser mais amplamente conhecido doravante. Ele reconhece, de pronto, em seu Prefcio, que o estudo e as pesquisas de histria diplomtica esto a exigir muito ainda, no s em matria de publicao de documentos do Arquivo do Itamarati, como tambm na sistematizao completa dos fatos principais (ed. 2006, p. 13). Ele se refere aos historiadores precedentes, com destaque para Oliveira Lima e Pandi Calgeras, como os nomes incontornveis da historiografia de sua poca.

    7 Renato Mendona, Alexandre de Gusmo: el precursor de Monroe y las directrices del Tratado de Madrid (Mxico: Editorial Cultura, 1941, 29 p.; Instituto Panamericano de Geografa y Historia n. 58).

    8 A edio original da biografia do Baro do Penedo foi publicada em So Paulo, pela Companhia Editora Nacional, 1942, como vol. 219 da Coleo Brasiliana (474 p.); em 1968, a editora Bloch, do Rio de Janeiro, publicaria a 2a edio (368 p.); em 2006, o Senado Federal publicou a 3a edio, embora esta numerao no seja mencionada: Edies do Senado Federal, v. 74 (444 p.).

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    Talvez RM se visse como o sucessor desses grandes historiadores, uma vez que ele registra que, sem que fossem atendidas aquelas condies ou seja, sem a publicao da documentao e sem sistematizao dos fatos principais no poderia surgir o continuador da obra de Calgeras.9 RM cita alguns nomes, na sequncia do prprio Baro do Rio Branco: seus discpulos e seguidores, como Arajo Jorge, Muniz de Arago, Hildebrando Acili, Hlio Lobo, Heitor Lira, Osvaldo Correia e muitos outros. Ele explica ainda que no seguimento dessa tradio de trabalho (...) que se vem colocar modestamente a presente contribuio, biografia rigorosamente histrica do Baro do Penedo, reconhecendo, mais adiante, que talvez se tenha excedido em transcries documentrias no decorrer do volume. De fato, a massa documental, tanto no corpo do texto, quanto nos anexos (mais de 30 pginas, geralmente de cartas), significativa, como resultado de sua pesquisa de quatro anos no Arquivo Penedo do Itamaraty, revolvendo inditos da maior importncia, que se estendem por mais de trezentos maos e pacotes, com uma correspondncia vastssima....

    A obra biogrfica de RM sobre o Baro do Penedo situa-se na tradio do Joaquim Nabuco, ao analisar a vida do pai, Jos Thomaz Nabuco de Arajo,10 e precede as biografias do Baro do Rio Branco por lvaro Lins (encomendada pelo Itamaraty, para as comemoraes do centenrio de seu nascimento, em 1945)11 e de Luiz Vianna Filho,12 bem como a de Afonso Arinos de Mello Franco,

    9 Ver o prefcio edio de 2006, pelo Senado Federal, do Baro de Penedo, op. cit., p. 13.

    10 Joaquim Nabuco. Um Estadista do Imprio (Rio de Janeiro: Garnier, 3 vols., 1899-1900; 5a ed.; Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, 2 vols.).

    11 lvaro Lins. Rio Branco (O Baro do Rio Branco, 1845-1912) (Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1945; Coleo Brasiliana n. 325: So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965); nova edio: Rio Branco (Biografia) (So Paulo/Braslia: Alfa-Omega-Funag, 1995).

    12 Luiz Vianna Filho. A Vida do Baro do Rio Branco (So Paulo: Martins, 1958).

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    tambm sobre seu pai, imitando Joaquim Nabuco.13 Em seus 29 captulos, e dois anexos (bibliogrfico e documental), a obra cobre no s o itinerrio cronolgico de Carvalho Moreira, mas tambm sua trajetria diplomtica, alis desde antes de sua assuno formal, como ministro em Londres. J em 1851, por exemplo, ele anotava a proposta de regimento que o Visconde do Uruguai, Paulino Soares de Souza, pretendia fazer para o Ministrio dos Negcios Estrangeiros, sugerindo diversas mudanas, a maioria referentes tcnica jurdica, consertando expresses inexatas como quadro em vez de corpo diplomtico....14

    Como indica RM, Moreira chega a lutar contra o pistolo. E isto na bela terra do nepotismo e da eleio por amizade para os cargos pblicos. Alis, desde essa poca, Penedo propugnava a juno das carreiras diplomtica e consular, reforma comeada por Afrnio de Melo Franco e finalizada pelo chanceler Osvaldo Aranha, na era Vargas. Provavelmente satisfeito com a sua franqueza, Paulino o nomeia no final de 1851 para o cargo de ministro em Washington, no que foi o incio de uma das mais longas carreiras, talvez a mais extensa, do servio diplomtico brasileiro.

    A partir de 1942, RM comeou a dar aulas de Lngua Portuguesa e de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia e Letras na Universidade Nacional do Mxico (UNAM), fundando a Ctedra de Literatura Brasileira naquela universidade. J no ano seguinte, o chefe do posto, Carlos Cavalcanti, encaminha ateno da Comisso de Eficincia, para inscrio no boletim de merecimento, conferncia que RM havia feito, em 29 de outubro de 1943, na Sociedade Mexicana de Geografia e Estatstica sobre Rio Branco e a demarcao territorial do Brasil; a conferncia ocupou

    13 Cf. Afonso Arinos de Mello Franco. Um Estadista da Repblica (Afrnio de Mello Franco e seu Tempo) (Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1955, 3 vols.).

    14 Cf. RM, Baro de Penedo, op. cit., ed. 2006, p. 88-89.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    12 pginas datilografadas. Pouco tempo depois, em fevereiro de 1944, o chefe do posto solicitava, em nome de RM, permisso para que ele se ausentasse do posto por uma semana a descontar das frias para pronunciar conferncia sobre o Brasil na Universidade do Iowa, nos EUA.

    Nessa mesma poca, RM pronuncia, no Colgio de Mxico, presidido pelo Embaixador Alfonso Reyes, uma conferncia sobre El Brasil en Amrica Latina, assistida por nmero significativo de intelectuais mexicanos, entre os professores Alfonso Caso (reitor da UNAM), Daniel Cosio Villegas, Jos Gaos, Vicente Herrero, Mariano de la Cueva e outros, como registrou o principal jornal mexicano, Excelsior, em data de 23 de abril de 1944.15

    Cabe registrar, como peculiaridade historiogrfica e interpretativa que reflete a mudana de viso, nessa poca, sobre o papel do Brasil na regio, que RM, em sua dupla condio de Secretrio da Embaixada do Brasil e professor da Universidade do Mxico, adotou uma abordagem bem mais realista da poltica exterior no Imprio, que, em pocas posteriores, deixou de ser enfatizada na postura oficial, por preocupaes de imagem ou pruridos de solidariedade latino-americana. Com efeito, declarou ele expressamente que [p]ertenecen hoy al pasado los propsitos de hegemona e imperio en el pas, y en los dirigentes de su poltica externa y es de justicia destacar entre stos la personalidad del Ministro Oswaldo Aranha hay un sentimiento de repulsa decidida a todo lo que no sea un sano entendimiento en materia poltica, econmica y cultural con los Pueblos americanos.16

    15 Informaes e recortes no Mao Pessoal de RM, nos arquivos do MRE; 23/04/1944.

    16 Cf. Renato Mendona, El Brasil en la Amrica Latina (Mxico: El Colgio de Mxico, 1944, 35 p.; 13a sesin del Seminario sobre Amrica Latina, Centro de Estudios Sociales). O jornal Excelsior resumiu assim as declaraes: Al referir a los deseos de cooperacin que tiene el Brasil dijo el profesor de Mendonca que ya estn abandonados los propsitos de hegemona e imperio y que los dirigentes de su poltica externa destaco el canciller Oswaldo Aranha protegen el sano entendimiento en materia poltica, econmica, cultural con los Pueblos americanos.; cf. Brasil coopera con sus vecinos. [MP, 23/04/1944]

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    Pouco depois, em maio seguinte, para tratar de sua remoo do Mxico, RM escreve ao Embaixador Leo Velloso, que tinha sido seu primeiro chefe em Tquio, ento Secretrio Geral do MRE, solicitando sua interveno na seleo de um novo posto de sua convenincia. Faziam ento quatro anos que ele se encontrava na capital mexicana; postulava, em primeiro lugar, a Embaixada em Ottawa, argumentando que ali no h quase secretrios e eu tenho uma grande admirao pelo Ciro de Freitas Valle, de quem sou sincero admirador. Caso no fosse possvel, estimava que o MRE pudesse design-lo para um consulado nos Estados Unidos, ou Los Angeles ou Filadlfia... Mas confiava ao embaixador a deciso do lugar que lhe parecer bem, aceitando inclusive Lisboa ou Madri, para servir neste caso com o nosso grande e comum amigo Mario de Pimentel Brando. Tendo recebido um telegrama de Leo Velloso de oferecimento de postos, em Paramaribo ou Port of Spain, RM torna a escrever ao SG, em 25 de agosto, para agradecer a bondade, mas que preferia no aceitar, alegando recear que os filhos no se dessem bem ali; reiterou seu desejo de servir em uma embaixada, se possvel na Europa, indicando Madri, Lisboa, Ottawa, Argel, ou a que o Sr. designar. Como bom soldado, espero suas ordens, confiado na sua justia [p]ois 4 anos no Mxico a 2.400 metros redimem qualquer cristo (Mao Pessoal, 26/08/1944). Qualquer que fosse seu desconforto temporrio, RM viria mais tarde a se orgulhar, talvez legitimamente, de ter sido o nico brasileiro pintado por Diego de Rivera.17

    17 De fato, entre os muitos objetos de arte de RM, colecionados ao longo de sua carreira, figura um seu retrato de meio corpo, pintado pelo famoso pintor mexicano; a frase foi registrada em uma coluna diplomtica da jornalista Pomona Politis, em setembro de 1970, para apoiar a candidatura de RM chefia da embaixada no Mxico, lendo-se, na ntegra: Sou o nico brasileiro pintado por Diego de Rivera, fundei a ctedra de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia quando l servi, inclusive como Encarregado de Negcios, Dirio de Notcias, 24/09/1970, p. 3.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    Infelizmente, a redeno do cristo no veio e, em outubro seguinte, RM era removido para a Secretaria de Estado. Antes de partir do Mxico, RM recebeu das mos do reitor da UNAM, Alfonso Caso, o diploma que acreditava-o como professor extraordinrio daquela instituio, em reconhecimento a seu trabalho como professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras.18

    Contemporaneamente eram publicados no Mxico dois livros: um de sua autoria exclusiva, sobre a histria do Brasil;19 o outro, versava sobre a cultura brasileira, elaborado em coautoria com intelectuais mexicanos e brasileiros, entre eles Alfonso Reyes e Alejandro Quijano.20 Ao concluir uma informao sobre a cerimnia, o jornal Excelsior acrescentava que a entrega do diploma se revestia de duplo significado, de merecida homenagem e de despedida, pois o segundo secretrio da Embaixada do Brasil partia, no dia seguinte (9/12/1944), do porto de Tampico rumbo a su pas... a la hermosa tierra de Brasil, la de las selvas impenetrables y los inmensos rios. De fato, no dia seguinte comeou o seu trnsito e, j a partir de maro de 1945, RM assumiu a chefia da Seo de Assuntos Econmicos Internacionais na Secretaria de Estado.

    Histria da Poltica Exterior do Brasil (sic): de Tordesilhas a 1825

    Mesmo tendo deixado o Mxico no final de 1944, foram ali publicadas, em 1945, duas outras obras de RM: uma antologia em

    18 Cf. Distinguido diplomtico recibe del Dr. Caso, Rector de la Universidad, un Diploma, Excelsior, 9/12/1944.

    19 Renato Mendona, Pequea Historia de Brasil (Mxico: Secretaria de Educacin Pblica, 1944).

    20 El Brasil y su Cultura, conferencias en la Universidad de Mxico, prlogo de Ezequiel Padilla, ministro de relaciones exteriores (Mxico: Porra Hnos., 1944, 190 p.); constam ainda como autores Aluzio Napoleo, A. Bueno do Prado e Pablo Campos Ortiz. Em alguns outros catlogos, figura tambm um opsculo de RM, Brazilian Civilization (Washington: Pan American Union, 1944).

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    espanhol de escritos de Rui Barbosa,21 e o primeiro tomo desta histria da poltica exterior do Brasil,22 at 2013 jamais republicada ou editada no Brasil. RM pretendia que a esse primeiro tomo seguissem mais dois, pelos quais tentaria uma viso de conjunto da Histria da Poltica Exterior do Brasil, sendo o segundo dedicado ao Imprio (sobretudo nas suas reaes e ligaes com o Imprio Britnico e o Rio da Prata) e o terceiro devendo se cingir a uma exposio concreta, evitando julgamentos, dada a proximidade histrica, dos acontecimentos salientes da Repblica brasileira na esfera internacional, desde sua instaurao at a Conferncia de Chanceleres do Rio de Janeiro, em princpio de 1942.23 RM considerava, inclusive, fazer os outros volumes em colaborao, como no excelente manual Histoire Diplomatique de lEurope, obra coletiva de Henri Hauser, Pierre Renouvin, Jacques Ancel e outros.24

    O ttulo dessa obra no formalmente correto, uma vez que, como indicado na cronologia, ela alcana apenas o reconhecimento da independncia, em 1825, embora trate tambm, no apndice, de modo relativamente sinttico, mas bastante satisfatrio, da fixao definitiva das fronteiras do Brasil, j na Repblica, pelo Baro do Rio Branco; esse ltimo texto, na verdade, era uma conferncia pronunciada por RM numa sesso em homenagem ao Brasil, realizada na Sociedad de Geografia y Estadstica, do Mxico.

    21 Renato Mendona, Pensamiento de Ruy Barbosa: Prologo y seleccin en espaol (Mxico: Ediciones de la Secretaria de Educacin Pblica, 1945, 251 p.).

    22 Renato Mendona, Histria da Poltica Exterior do Brasil 1ro tomo (1500-1822) Do Perodo Colonial ao Reconhecimento do Imprio (Mxico: Instituto Pan-Americano de Geografia e Historia, 1945, n. 73, 212 p.). Dentre as obras de RM mencionadas na p. 4 desse livro figurava como estando em preparo a seleo em espanhol do pensamento de Rui Barbosa, e como estando no prelo Retratos da Terra e da Gente (Ensaios e estudos de Literatura, Etnografia e Histria); esta obra seria publicada no Porto, em 1951, sob outro ttulo, e no Brasil, com o ttulo original, em 1959.

    23 Cf. Histria da Poltica Exterior do Brasil, 1945, op. cit., Prefcio, p. 9.

    24 Idem, ibidem; o Prefcio datado de 10 de maio de 1944, na cidade do Mxico.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    Os anexos do livro tambm so altamente instrutivos, e bastante completos, pois a parte documental parte da bula Inter Coetera, de 1493, at o tratado de Paz e Aliana entre o Brasil e Portugal, de 1825, passando pelos tratados de Tordesilhas, de 1494, o de Madri, de 1750, ademais de um quadro cronolgico do reconhecimento da independncia do Brasil, do qual constam menes a Estados autnomos depois desaparecidos nas dobras da histria, como as Cidades Hanseticas, Hannover, Wurtemberg e Frankfurt, dos reinos da Baviera e das Duas Siclias, dos gro- -ducados de Hesse-Darmstatd, Luca e Toscana, e dos ducados de Parma e Modena, entre outros; na seo cartogrfica, constam diversas cartas, desde a linha de marcao da bula de 1493, at o famoso mapa das Cortes, de 1749, base de uma das negociaes de fronteiras por Rio Branco; o anexo compreende ainda algumas ilustraes de figuras histricas.

    RM observa, no plano metodolgico, que os ensaios at agora publicados sobre Histria Diplomtica do Brasil tomaram sempre um carter fragmentrio, versando pocas isoladas e perdendo o fio da poltica internacional. Caracterstica relativamente indita nesse tipo de empreendimento, ele procurou ter em vista os aspectos econmicos das relaes exteriores do pas, pois como agudamente observa o ilustre professor Henri Hauser, mesure que la diplomatie se dmocratise, elle doit faire une place plus larges aux grandes forces conomiques. Ele tambm registra que um Atlas Histrico do Brasil obra que est a requerer a ateno e os esforos dos nossos pesquisadores, sem o que no possvel dar uma apresentao cartogrfica do passado...25 Registre-se,

    25 Cf. Histria da Poltica Exterior do Brasil, op. cit., Prefcio, p. 10. Registre-se que, trabalhando na dcada seguinte, como professor do Colgio D. Pedro II e do Instituto Rio Branco, no Rio de Janeiro, Carlos Delgado de Carvalho recolheria, com a ajuda de alunos, suas aulas de histria diplomtica, que seriam depois publicadas em volume independente: Carlos Delgado de Carvalho, Histria Diplomtica do Brasil (So Paulo, Companhia Editora Nacional, 1959); o mesmo Delgado de Carvalho organizaria, na dcada seguinte, um atlas das relaes internacionais do Brasil, em colaborao com Therezinha de Castro: Atlas de Relaes Internacionais (Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, 1960); republicado posteriormente, em forma de fascculos na Revista Brasileira de Geografia, 1967.

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    portanto, que mesmo no sendo um historiador de formao, RM tinha uma noo muito precisa dos requerimentos e mtodos da pesquisa documental, inclusive quanto aos suportes cartogrfico e geogrfico, bem como da necessidade de contextualizao dos eventos no quadro mais largo da poltica mundial e de sua adequada insero nos circuitos das relaes econmicas internacionais.

    Nessa publicao escrita e publicada no exterior, RM prova-velmente no tinha a pretenso de sobrepor-se aos grandes historiadores das relaes exteriores do Brasil, e suas intenes eram bem mais didticas do que de pesquisa historiogrfica. De fato, depois das obras de Oliveira Lima, sobre a corte portuguesa no Brasil e sobre o processo da independncia,26 e dos trs grandes volumes de Pandi Calgeras sobre a poltica exterior do Imprio,27 poucos foram os trabalhos de grande amplitude, de sistematizao da histria diplomtica do Brasil, publicados na sequncia desses empreendimentos admirveis de pesquisa histrica.28

    Na verdade, o prprio ministro Macedo Soares tinha publicado, em 1939, um grande estudo historiogrfico, Fronteiras do Brasil no Regime Colonial, que citado nesta obra de RM, trabalho apresentado no III Congresso de Histria Nacional, em

    26 Cf. Manuel de Oliveira Lima, Histria diplomtica do Brasil: o reconhecimento do Imprio (Rio de Janeiro: Garnier, 1901); D. Joo VI no Brasil (Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, 1908); O Movimento da Independncia (1821-1822) (So Paulo: Companhia Melhoramentos, 1922).

    27 J. Pandi Calgeras, A Poltica Exterior do Imprio. v. 1: As Origens (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1927); vol. 2: O Primeiro Reinado (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1928); v. 3: Da Regncia Queda de Rosas (So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1933); os trs volumes foram objeto de reproduo fac-similar (Braslia: Funag; Cmara dos Deputados; Companhia Editora Nacional; Brasiliana, 1989). Ver, tambm, Paulo Roberto de Almeida, Contribuies Histria Diplomtica do Brasil: Pandi Calgeras, ou o Clausewitz da poltica externa, Estudos Ibero-Americanos (v. 18, n. 2, dezembro de 1992, p. 93-103).

    28 Novos esforos de sntese teriam de esperar o final dos anos 1950 e o incio dos anos 1960, para as histrias diplomticas de Delgado de Carvalho e de Hlio Vianna; cf. Carlos Delgado de Carvalho. Histria Diplomtica do Brasil (Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1959; edio fac-similar: Braslia: Ed. Senado Federal, 1998. Coleo Memria Brasileira n. 13; introduo: Paulo Roberto de Almeida); Hlio Vianna, Histria Diplomtica do Brasil (Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito, 1958; 2a ed. In: Histria da Repblica. So Paulo: Melhoramentos, [1961], p. 89-285).

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    comemorao ao primeiro centenrio da fundao do IHGB.29 Pouco depois era publicado o estudo de Antonio Pedroso sobre a histria econmica e diplomtica do Brasil no perodo de Pombal,30 mais restrito em escopo, portanto; no ano seguinte, o ento Reitor da Universidade do Brasil, Pedro Calmon, publicava seu pequeno livro sobre a diplomacia do Brasil, praticamente uma brochura de uma meia centena de pginas;31 os dois ltimos, contudo, no so citados na histria da poltica exterior de RM. Ele tampouco cita um outro trabalho, tambm relativo poltica exterior do Brasil, mas ainda mais restrito, e por isso mesmo fora da sua cronologia do primeiro tomo, j que circunscrito era Vargas at 1942, e que foi publicado pelo diplomata Jayme de Barros no ano subsequente, tratando basicamente da poltica oficial e legitimando a diplomacia conduzida por Vargas e seus chanceleres: a transcrio de quase toda a documentao diplomtica responsvel por um volume de mais de 300 pginas.32

    O estilo de RM nesse livro em nada se parece com os manuais pesados e as pesquisas extensas, la Varnhagen, la Rocha Pombo, ou segundo o modelo dos dois grandes nomes j citados; a linguagem quase coloquial, feita de frases curtas, algumas invectivas, e at contraposio de planos cronolgicos, dialogando com autores quase contemporneos para tratar dos episdios da histria colonial ou aps a vinda da famlia real portuguesa; algumas citaes so inclusive incompletas, denotando possveis

    29 Ver, a este respeito, o captulo sobre o chanceler Macedo Soares por Guilherme Frazo Conduru, Jos Carlos Macedo Soares: liberal, nacionalista e democrata, in: Jos Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomtico Brasileiro: Formuladores e Agentes da Poltica Externa (1750-1964) (Braslia: Funag, 2013, vol. 3, p. 753-797), especialmente p. 776; ver, igualmente, sua tese de CAE, O Museu Histrico e Diplomtico do Itamaraty: histria e revitalizao (Braslia: Funag, 2013).

    30 Cf. Antonio de Souza Pedroso (Visconde de Carnaxide). O Brasil na Administrao Pombalina, economia e poltica externa (So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940; Brasiliana, n. 192).

    31 Ver Pedro Calmon, Histria diplomtica do Brasil (Belo Horizonte: Paulo Bluhn, 1941, 58 p.).

    32 Ver Jayme de Barros, A poltica exterior do Brasil, 1930-1942 (Rio de Janeiro: Zlio Valverde, 1943, 308 p.).

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    dificuldades de acesso, no Mxico, bibliografia completa sobre o perodo estudado.

    A estrutura do livro clara e precisa, antecipando-se aos manuais de sistematizao da histria das fronteiras (Hlio Vianna, 1948) e da histria diplomtica do Brasil que se seguiriam mais de uma dcada depois (por Delgado de Carvalho, em 1959, e pelo mesmo Vianna, quase simultaneamente). A primeira parte, relativa ao perodo colonial, cobre toda a poltica portuguesa nos territrios da Amrica do Sul, passa pelos tratados de retificao de fronteiras negociados com a Espanha, e alcana o Brasil no Congresso de Viena (j portanto num estatuto no mais colonial, mas de Reino Unido), e chega at a incorporao da Cisplatina, que tantos problemas traria ao Primeiro Reinado (guerra com a Argentina) e mesmo depois, no Segundo Imprio, j sob a forma do estado independente do Uruguai, um algodo entre cristais, segundo a frmula do diplomata ingls, Lord Ponsonby (mas que RM atribui ao historiador argentino Ramn Crcano).

    A segunda parte se intitula a Fase do Imprio, mas na verdade trata apenas do reconhecimento do novo Estado pelas potncias europeias e pelas repblicas americanas, um captulo importante, mas relativamente circunscrito da histria diplomtica do Brasil independente. O Imprio passou as prximas dcadas tentando, ento, demarcar o territrio ptrio, com algumas negociaes inconclusas tanto que os primeiros estadistas e muitos diplomatas tardaram a aceitar o princpio do uti possidetis, como recomendava Duarte da Ponte Ribeiro, com base em seu dilogo com dirigentes andinos e mais alguns tratados que fixavam alguns marcos naturais, mas careciam de demarcaes mais precisas.

    O estilo de RM se torna ainda mais telegrfico ou equivalente ao de um cronista dos eventos correntes em certas passagens dessa parte do seu livro. Referindo-se, por exemplo, ao primeiro

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    encarregado de negcios do Brasil nos Estados Unidos, vale a pena transcrever o que escreve:

    Silvestre Rebello foi mandado para regularizar a nossa

    situao e andou s turras com Gonalves da Cruz.

    Alegando o carter diplomtico (Encarregado de Negcios),

    Silvestre entendeu de dar ordens nem sempre polidas a

    Gonalves da Cruz, representante consular...

    O dissdio, entre os dois, revelou apenas a grosseria e a

    falta de habilidade de Silvestre Rebello de gnio irascvel e

    atrabilirio.

    Tempos depois, ele resolveria desacatar tambm o prprio

    Secretrio de Estado da Repblica norte-americana,

    enviando uma nota que foi recusada por ofensiva aos brios

    do povo yankee.

    Silvestre Rebello, graas a Deus, tinha suas horas de bom

    humor, nas quais podia trabalhar.

    E o reconhecimento do Brasil foi alcanado por ele cinquenta

    e nove dias depois da sua chegada Amrica do Norte.

    Rebello fez questo de repisar no feito: 59 dias depois da

    chegada!

    A verdade que isso no era coisa de outro mundo.

    Silvestre Rebello, porm, possuiu certa habilidade para

    argumentar contra objees apresentadas pelo Presidente

    Monroe, sendo afinal recebido oficialmente a 26 de maio de

    1824.

    Os Estados Unidos reconheciam assim o Brasil indepen-

    dente, antes de qualquer outra nao.

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    A poltica de aproximao entre os dois pases encontrou de

    certo um alicerce slido naquela precedncia histrica.

    E os estadistas brasileiros da poca, desejosos de consolidar

    a solidariedade nascente, deram instrues a Rebello para

    negociar uma aliana ofensiva e defensiva com a grande

    nao do Norte.

    A nota dirigida por Silvestre Rebello nesse sentido ao

    Secretrio de Estado americano levou meses para obter

    resposta.

    E vinda, foi categrica e negativa. (...)

    Amigos, amigos, negcios parte...

    Muitas outras passagens desse livro so elaboradas no mesmo estilo impressionista, no limite do comentrio ligeiro, ainda que apoiado em slido conhecimento da literatura secundria especializada e num manejo seguro das fontes documentais e cartogrficas. O tom pessoal, quase galhofeiro, transparece novamente nesta passagem em que RM relata as dificuldades de Caldeira Brant para conseguir uma segunda esposa para o primeiro imperador:

    Se a imaginao do brasileiro no fosse dbil em concretizar

    no teatro as suas criaes artsticas, a literatura nacional

    j possuiria de certo uma deliciosa comdia em torno s

    dificuldades de Brant, ao arranjar noiva para o nosso

    estourado Rei cavaleiro...

    Uma noiva para Sua Majestade... seria at no ttulo uma

    pea divertida.

    (...)

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    D. Pedro, namorado terico segundo a expresso feliz de

    Calgeras, mantinha-se inquieto e ansioso, suspirando pela

    noiva.

    Dificilmente se encontrariam expresses desse tipo na escrita dos mestres da rea, ou no restante da literatura histrica tratando dos mesmos assuntos, o que evidencia que, em sua longa estada no Mxico, entre aulas e palestras, RM passou a adquirir um estilo prprio, quase de conversao com o seu pblico ouvinte, ou leitor. Ele afirmou, por exemplo, como registrado em seu Prefcio, ter evitado a sistematizao fastidiosa, com a preocupao de destacar mais os eventos e certas personalidades histricas [do] que datas ou seriao de fatos de menor repercusso. Os ensaios at agora publicados sobre Histria Diplomtica do Brasil tomaram sempre um carter fragmentrio, versando pocas isoladas e perdendo o fio da poltica internacional.

    Em todo caso, essas mesmas caractersticas tornam o livro um companheiro de viagem pela histria do Brasil, quase um dilogo em tom livre sobre episdios e personagens familiares. Como refletido em outros livros da mesma poca sobre temas da diplomacia brasileira, a preocupao central dos estadistas do Imprio e do incio da Repblica era com a delimitao do territrio nacional em vastos trechos das regies ocidentais do pas. O acabamento da obra diplomtica de fixao das fronteiras do pas caberia ao patrono da diplomacia brasileira, histria que RM trata num Apndice de meia dezena de pginas, e tambm de forma algo impressionista, sob o ttulo de Rio Branco, o demarcador da grandeza territorial do Brasil.

    Em que pese o estilo ameno, o livro de RM um precioso manual de referncia, como se pode verificar pelos anexos de documentos e mapas; nele figura, desde a bula Inter Coetera de Alexandre VI (1493) e o tratado de Tordesilhas (1494), at o

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    tratado do reconhecimento da independncia do Brasil por Portugal (1825), passando pelo mais famoso dentre eles, o tratado de Madri (1750), negociado pelo av da diplomacia brasileira, Alexandre de Gusmo. Os mapas acompanham essa lenta construo do corpo da ptria. No conjunto, a despeito do estilo mais leve do que o da bibliografia tradicional, o livro se sustenta como um bom manual de histria diplomtica para o grande pblico.

    Existiram materiais para um segundo, ou um terceiro, tomos?

    No existem, nos papis e manuscritos deixados por RM, algum bloco organizado de originais que evidenciasse a preparao sria e o ordenamento sistemtico de materiais com vistas a compor um segundo, ou um terceiro, volume desta obra atraente pelas suas dimenses, e dotada de uma leveza pouco comum nos trabalhos historiogrficos dessa poca. Alguns cadernos, ou manuscritos datilografados, organizados e catalogados pelo historiador Davi Roberto, podem revelar os preparativos por certo no regulares ou contnuos de RM para comear a compor o que seriam os tomos sucessivos de sua prometida obra completa. Por exemplo, os documentos 20 e 21 da srie datilografada trazem estas inscries respectivas:

    Manuscrito datilografado, incompleto, e de paginao

    confusa, dividido em captulos: VII A extino do trfico e

    os compromissos internacionais (10 pg.); VIII A proteo

    dos interesses brasileiros e a origem dos conflitos com o

    Uruguai (11 pg.); X A poltica de neutralidade e a aliana

    com Rosas (14 pg.) Sem informao de data.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    Original datilografado do texto Objetivos permanentes

    da diplomacia brasileira. 14 pg. Apresentado na aula de

    encerramento do curso de Relaes Internacionais do

    Brasil, ocorrido na Casa do Estudante, Rio de Janeiro, em

    outubro de 1955.33

    Depois que saiu do Mxico e retornou ao Brasil, RM continuaria a se dedicar a trabalhos de histria e de cultura brasileira, mas mais voltados para uma divulgao ao grande pblico do que voltados para a pesquisa de arquivo e a literatura especializada. De todo modo, ele no teria muito tempo disponvel no Brasil, desde sua sada do Mxico: dois meses depois de sua promoo a primeiro secretrio, em dezembro de 1945, o presidente Eurico Gaspar Dutra e o ministro Joo Neves da Fontoura, assinavam o decreto de sua remoo para o Consulado no Porto. Naquela cidade portuguesa, ele voltaria a se dedicar aos trabalhos intelectuais, ademais dos encargos mais rotineiros da burocracia consular.

    De fato, sua grande produo literria e de divulgao das coisas e fatos do Brasil foi confirmada oportunamente; seu pequeno volume de vulgarizao da histria do Brasil, publicado pela primeira vez no Mxico, em 1944, apareceu em verso ilustrada, publicada em Lisboa, alguns meses depois de sua chegada no Porto.34 O prprio RM comunicou tal fato ao ministro de Estado Raul Fernandes, em ofcio de 27 de abril de 1947, que encaminhou recortes de jornais do Porto, com crticas Pequena Histria do Brasil, de minha autoria, recentemente editada em Portugal.35 Pouco depois, em 3 de maio de 1947, RM participou

    33 Relao de documentos de RM, preparada pelo historiador Davi Roberto (sem data).

    34 Cf. Renato Mendona, Pequena Histria do Brasil (Lisboa: Oficina Grfica, 1946).

    35 Dois crticos no deixaram, de fato, de ressaltar a grandiosidade da obra portuguesa de construo de um imprio nos trpicos. Num dos recortes que acompanham seu ofcio de encaminhamento das notcias portuguesas sobre a publicao desse livro, o resenhista portugus do Jornal de Notcias de 16/04/1947, assinado simplesmente MCP, se queixa do vis anti-portugus na apreciao por RM

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    de uma sesso especial do Instituto de Coimbra e do Instituto de Estudos Brasileiros, em homenagem ao mdico, escritor e acadmico Afrnio Peixoto, falecido pouco antes (em janeiro), no Rio de Janeiro; sua conferncia sobre Afrnio Peixoto, romancista e crtico literrio, foi publicada na revista do Instituto de Coimbra.36

    Quando do aniversrio da proclamao da Repblica no Brasil em 15 de novembro de 1947, coincidente com a data de criao, em 1940, do Grupo de Estudos Brasileiros do Porto, RM pronunciou uma conferncia sobre O declnio do Imprio e o Ideal Republicano no Brasil, evento realizado na confortvel sede do Orfeo do Porto, como assinalou o jornal Comrcio do Porto (16/11/1947). O presidente da sesso no deixou de aludir ao cultural de RM, louvando a criao da Biblioteca Gonalves Dias, anexa ao Consulado do Brasil no Porto.37 A partir dessa criao, e durante dois anos, em 1947 e 1948, RM fundou e dirigiu em Portugal a revista literria Brasil Cultural.

    A estada em Portugal veio a termo no segundo semestre de 1948, quando RM foi removido do Consulado no Porto para a Embaixada do Brasil em Madri, por decreto assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra e pelo ministro interino das Relaes Exteriores Hildebrando Accioly, em 28/09/1948. Consoante seu ativismo intelectual, RM continuou a impulsionar a ao de cooperao com instituies de letras, cincias e cultura da Espanha. Em abril de 1950, o embaixador em Madri, Rubens

    do perodo colonial: ... da leitura atenta da Pequena Histria do Brasil, ficou-nos a impresso... de que ela contraria um poucochinho a afirmao de render o tributo devido ao gigantesco esforo de colonizao portuguesa nas Amricas. indesmentvel que... cita com mais frequncia incidentes histricos e defeitos da colonizao. O pernicioso, que o houve, dir-se-ia sobrepujar o proveitoso, que foi incomparavelmente superior, segundo o atestado dos factos. [Mao Pessoal, 28/04/1947]

    36 Renato Mendona, Afrnio Peixoto, o romancista e o crtico literrio, O Instituto: jornal scientifico e litterario (Coimbra: Imprensa da Universidade, vol. 110, 1947, p. 18-41; disponvel em ; acesso 7/09/2012); RM assina como Scio do Instituto de Coimbra.

    37 Cf. O aniversrio da proclamao da Repblica no Brasil, Comrcio do Porto, 16.11.1947.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    de Mello comunicava que RM havia sido convidado a integrar o curso de vero da Universidade de Santiago de Compostela, com conferncias sobre o Brasil, a serem dadas em Vigo, durante o ms de agosto seguinte.

    Em julho desse ano, o embaixador Rubens de Mello comunicava que tinha sido editado em Madri, em nova verso, sob o ttulo de Breve historia del Brasil, o pequeno manual de histria do Brasil, publicado pela primeira vez no Mxico em 1944, acrescentando que estava amplamente refundido nesta edio espanhola, acompanhado de mapas e ilustraes, tendo recebido opinies bastante favorveis da crtica em Espanha.38 Em novo ofcio de agosto do mesmo ano, o embaixador Rubens de Mello informava sobre os ttulos das palestras universitrias proferidas por RM em Vigo, no quadro dos cursos de vero da Universidade de Santiago de Compostela, sendo uma sobre Idealismo e regionalismo na literatura brasileira e a outra comportando uma viso comparada sobre Amrica Portuguesa e Amrica Espanhola, servindo talvez de inspirao para esta ltima as conferncias feitas pelo historiador Manuel de Oliveira Lima em universidades dos Estados Unidos sobre o mesmo tema39.

    38 Renato Mendona. Breve Historia del Brasil (Madrid: Ediciones de Cultura Hispnica, 1950, 134 p.). Em novo ofcio de novembro de 1950, o embaixador encaminhava recentes crticas divulgadas no dirio ABC, de Madrid, e na revista universitria La Hora, [ausentes do mao] com apreciaes e comentrios elogiosos sobre o Brasil e sua cultura, a propsito da publicao em causa, informando ainda que o economista Valentim Bouas, em carta enviada ao autor, em que considera a citada sntese da histria do Brasil digna da maior distribuio no exterior, tendo ele prprio para esse fim adquirido 100 exemplares destinados a bibliotecas e centros de cultura dos Estados Unidos.

    39 A referncia aqui srie de lectures que Manuel de Oliveira Lima a proferiu em universidades dos Estados Unidos, coletadas, depois, no volume The Evolution of Brazil Compared with that of Spain and Anglo-Saxon America (Stanford, Cal.; The University, 1914), e publicadas no Brasil como Amrica Latina e Amrica Inglesa: a evoluo Brasileira comparada com a Anglo-Americana (Rio de Janeiro: Ed. Garnier, [s.d.]); o livro foi reeditado pelo Senado Federal em 2010. Na produo bibliogrfica de Oliveira Lima consta, tambm, um livro editado anteriormente na Espanha, tendo como coautor ngel Csar Rivas: Evolucin histrica de America Latina: bosquejo comparativo (Madrid: Editorial America, 1912).

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    A ltima grande obra: Fronteira em Marcha (quase uma histria diplomtica)

    De volta ao Brasil, no final da primeira metade dos anos 1950, RM retoma alguma atividade intelectual, mas de forma irregular, com exceo de sua ltima grande obra de pesquisa e discusso dos grandes temas da agenda internacional do Brasil. No plano intelectual, sabe-se, pelo registro de sua produo bibliogrfica, que ele trabalhou, ao longo de 1954, em temas vinculados Escola Superior de Guerra: algumas fichas bibliogrficas mencionam textos sobre a poltica mundial do Brasil e os objetivos permanentes, consoante a terminologia tradicional da ESG.

    Bem mais relevante foi a obra que produziu logo em seguida: Fronteira em Marcha. O trabalho, enviado anonimamente para um concurso promovido pelo Ministrio da Guerra (ou seja, do Exrcito), combina diferentes vertentes da pesquisa acadmica, embora expostas de maneira quase coloquial: a histria diplomtica, desde as antigas lutas entre os imprios espanhol e portugus na Amrica do Sul; a geopoltica regional, com a problemtica da abertura dos rios internacionais; e poltica internacional, aqui de forma mais conjuntural.40 Aderindo s principais teses oficiais sobre o papel estabilizador do Brasil no contexto regional, a obra foi agraciada com o Prmio Tasso Fragoso, do Ministrio da Guerra. A concesso da distino foi, alis, comunicada pessoalmente pelo Ministro da Guerra e futuro candidato presidencial Henrique Lott, em aviso de 16 de janeiro de 1956 que enviou ao ministro Jos Carlos de Macedo Soares, que depois assinaria um elogioso prefcio: no expediente, o ento General Lott no deixa de recordar o mrito de tal distino, cujo julgamento foi realizado por uma comisso

    40 Renato Mendona. Fronteira em Marcha: Ensaio de Geopoltica Brasileira (Rio de Janeiro: Comp. Editora Americana, 1956. 273 p.; Ministrio da Guerra, Biblioteca do Exrcito, v. 221), com prefcio do Ministro Jos Carlos de Macedo Soares (2a ed., revista e aumentada: Rio de Janeiro: Livraria So Jos, 1956, 199 p.).

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    de intelectuais e chefes militares, sendo as obras apresentadas sob anonimato. [MP, 16/01/1956]

    Fronteira em Marcha representava, segundo as Duas Palavras que serviam de Prefcio (datado de outubro de 1955), a concretizao de vrios anos de estudo em torno dos problemas da poltica exterior do Brasil e da soluo geopoltica, encontrada pelo Imprio durante o perodo vital da formao brasileira (p. iii). Dividido em trs partes, a obra cuida primeiro das origens, ou seja da formao da Amrica Portuguesa e da Amrica Espanhola, passando pela delimitao de 1750 (desfeita pouco tempo depois, mas preservada na prtica nas dimenses quase atuais do Brasil) e traando um paralelo entre os colonizadores espanhis e lusitanos.

    A segunda parte de Fronteira em Marcha trata da projeo continental do Imprio do Brasil, de 1828 a 1853, abordando basicamente a geopoltica do Prata, at a batalha de Monte Caseros. A terceira e ltima parte aborda sobretudo questes de segurana estratgica, nos planos mundial e continental, refletindo basicamente posturas da Guerra Fria, como o tradicional alinhamento com os EUA. Alguma sinceridade, talvez menos aceitvel em pocas mais recentes, no deixava de transparecer no texto; Bolvia, Paraguai e Uruguai sofreram diversas intervenes do Imprio, pelos mais diversos meios: Vimos ento seguir-se poltica ostensiva do emprego das armas a poltica chamada dos pataces, menos aparatosa, mas no menos eficiente (p. 181). Uma ampla resenha publicada no Correio da Manh, escrita pelo seu diretor, em julho de 1956 destaca que [u]m dos aspectos mais interessantes do livro de Renato de Mendona a maneira como ele narra a histrica dramtica das negociaes e acordos com os caudilhos do Prata. Chega-se a admirar a pacincia evanglica com que o Imprio os tolerou. Muito mais espertos do que inteligentes... [esses] caudilhos ... puseram prova de fogo o valor,

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    a habilidade, a cultura e a correo dos estadistas que orientaram os dois imperadores.41

    RM reconhece tambm, no mesmo livro, que o domnio do fator econmico em nossa histria permanece por vezes obscurecido na exposio de nossos historiadores e publicistas, j no falando na anlise de nossos polticos e diplomatas (p. 182), abrindo uma linha interpretativa que ainda no tinha sido inteiramente consolidada na historiografia diplomtica. Ele no hesita em empregar o conceito de liderana moral, para caracterizar as relaes do Brasil com os vizinhos da Amrica do Sul, expressando ainda a viso, que depois viria a ser quase expurgada da histria oficial, segundo a qual a slida amizade com o Chile crescia na mesma medida em que se desenvolvia o poderio da Repblica Argentina (p. 186). Ele recomenda, nesse contexto, o livro de um outro geopoltico brasileiro, cuja viso do mundo ele parece esposar: Mario Travassos, Projeo Continental do Brasil (1955). No preciso dizer que RM se opunha, como a maior parte dos lderes militares e diplomticos dessa poca, poltica argentina de Terceira Posio, pretensamente equidistante de Washington e de Moscou. Ele tambm esposa a velha tese de que o Brasil ocupa um lugar especial no seio das Naes Unidas (p. 193), mas mantinha a iluso de que, por sua poltica de cordialidade nas Amricas, o Brasil goza nas Naes Unidas do voto e do apoio dos Estados latino-americanos (p. 194).

    De certa forma, Fronteira em Marcha representa a continuidade do volume editado no Mxico, dez anos antes, e que RM tinha prometido fazer suceder por dois outros tomos voltados para a histria diplomtica mais recente. Entre seus papis, catalogados como documento 17 (pasta 8), encontram-se os originais datilografados do livro Fronteira em Marcha, constantes de 274

    41 Cf. M. Paulo Filho, Fronteira em Marcha, Correio da Manh, Rio de Janeiro, 22/07/1956, 5o caderno, p. 1.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    pginas. falta dos sucedneos legtimos, essa ltima grande obra pode servir de equivalente funcional a uma histria diplomtica pautada pelo conhecimento preciso das fontes e a leveza da escrita coloquial. Em todo caso, como ocorreu com outras grandes obras do passado ressuscitadas pela memria dos guardies da nacionalidade, talvez este livro tambm merecesse reedio pela Biblioteca do Exrcito.

    Anos finais da carreira, sempre em atividades culturais e intelectuais

    Menos de um ano depois da elaborao desse livro, RM era removido, por decreto do presidente da Repblica, para a Embaixada do Brasil no Reino da Blgica, designando-o para exercer o cargo de Ministro-Conselheiro naquela representao diplomtica. Como ocorreu em todas as ocasies precedentes, RM, em seu novo posto europeu, tambm passou a envolver-se intensamente em atividades intelectuais, de forma geral, e de divulgao cultural e literria do Brasil, de maneira especial. O reflexo desse empenho foi traduzido na sua obra de histria do Brasil, j redigida e publicada anteriormente no Mxico, revista e ampliada para um pblico europeu, que foi o livro Brsil, Pages dHistoire,42 que na verdade s viria luz em 1959, depois que RM j tinha sido removido da Blgica para o seu novo posto, no Chile.

    42 Renato Mendona, Brsil, Pages dHistoire: Esquisse dune Civilisation en Marche. Bruxelles: Elsevier, 1959, 127 p.; traduzido do espanhol por Marc Augis, com prefcio de Edmond Vandermen. A edio em Francs dessa obra tinha sido patrocinada pela Diviso Cultural do Itamaraty, e o livro foi objeto de elogios do presidente Juscelino Kubitschek, em telegrama expedido ao autor, conforme registro efetuado pelo prprio em ofcio Secretaria de Estado: o presidente considerou o volume como excelente obra que representar inestimvel contribuio para melhor conhecimento do Brasil no exterior, destacando ainda, como acrescenta RM, as referncia contidas a Braslia no texto do livro, de modo totalmente precoce, portanto. [Mao Pessoal, 26/09/1959]

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    No incio de 1960, RM j se encontrava em um novo posto, o consulado em Amsterdam, no qual se desempenharia durante dois anos, antes de ser transferido para outro consulado nos Pases Baixos, em Rotterdam, onde ele se exerceu novamente como cnsul de 1963 a 1966. No constam do mao pessoal informaes relevantes sobre atividades culturais ou registros sobre sua produo intelectual. Sabe-se, contudo, que foi em Amsterdam que RM deu incio a uma coleo de mapas e de peas cartogrficas de arte, que se tornaria importante com o passar dos anos; em 1962, ele adquiriu um mapa do Brasil, de Hondius, aumentando gradativamente as peas at que estas alcanassem a casa das duas centenas: Ortelius, Mercator, Janszonblaue, Linschotte e outros cartgrafos famosos ilustrariam sua coleo, dedicada exclusivamente aos sculos 16 a 18, que, anos mais tarde, seria exibida em mostra especial no Rio de Janeiro.43

    Em novembro de 1965, ainda como ministro de segunda classe, RM foi designado para servir como Embaixador Extra- -ordinrio e Plenipotencirio em Nova Delhi, em posto comissionado, portanto; apenas em setembro de 1968 ele foi promovido, por merecimento, a ministro de primeira classe, ou seja, embaixador pleno. Cumulativamente com a representao diplomtica na ndia, RM exerceu tambm a funo de embaixador em Colombo, ou seja, junto ao Sri Lanka, embora no residente. Durante sua misso na ndia, foi realizada, em 1966, a primeira visita de um chefe de governo do pas da sia do Sul ao Brasil, na pessoa da primeira ministra Indira Gandhi, filha do primeiro governante da ndia independente, Jawaharlal Nehru, companheiro de Gandhi, na luta pela emancipao da dominao britnica. Foi tambm nesse perodo que seu livro biogrfico sobre o Baro do Penedo foi

    43 Cf. O diplomata e sua galeria de mapas, Dirio de Notcias, Rio, 22/09/1974, p. 37.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    republicado no Rio de Janeiro, em 1968, em segunda edio, pela Editora Bloch.

    Finalmente, a ltima misso diplomtica da carreira de RM foi exercida na capital de Gana, Accra, de 1970 a 1971, posto que possivelmente ofereceu-lhe a oportunidade de verificar in loco alguns dos traos culturais e lingusticos que tinham sido consignados no seu primeiro livro, sobre a influncia africana no portugus do Brasil.

    Desde 1972, de retorno ao Brasil, ele foi colocado disposio do Ministrio da Educao e Cultura, oportunidade durante a qual ele continuou impulsionando projetos educacionais e culturais, entre eles a reedio de seu primeiro livro.44 Com base em sua coleo particular de documentos iconogrficos e cartogrficos, foi organizada, por exemplo, uma exposio especial de mapas dos sculos 16 a 18, no Centro Lume, do Rio de Janeiro, em julho e agosto de 1972; a mesma exposio foi organizada posteriormente no Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU). Identificado como um colecionador que faz de seu hobby uma cincia, em matria de jornal sobre sua enorme coleo, RM esclareceu que [a]lm de um bom-gosto natural o mesmo que se requer para a arte o colecionador de mapas necessita de um bom respaldo bibliogrfico.45

    Viveu seus ltimos anos de vida em seu apartamento da Lagoa, na Avenida Lineu de Paula Machado, cercado de livros, vindo a falecer em 25 de outubro de 1990, com 78 anos. Segundo registros, deixou em preparo o segundo tomo de sua Histria da Poltica Exterior do Brasil, cobrindo a projeo do Imprio (ou seja, o perodo do segundo Reinado), e um livro tentativamente intitulado

    44 Renato Mendona, A Influncia Africana no Portugus do Brasil. 4a ed.; Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira/Instituto Nacional do Livro, 1973.

    45 Cf. O diplomata e sua galeria de mapas, Dirio de Notcias, Rio, 22/09/1974, p. 37.

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    Renato Mendona: um pioneiro da histria diplomtica do Brasil

    Viagem ao Pas dos Astecas, voltado, portanto para observaes e comentrios recolhidos durante sua estada no Mxico, nos anos da Segunda Guerra.

    Por qualquer critrio que se considere, seja no plano especificamente profissional, seja no mbito propriamente intelectual, pode-se considerar que RM cumpriu galhardamente suas funes, tanto as estritamente diplomticas, quanto os encargos autoassumidos que, com prazer, empreendeu no campo das letras, da cultura e da histria. Sua produo intelectual excede da vasta maioria dos diplomatas quando eles a exibem , geralmente confortveis com o simples cumprimento do dever, feito de muitos telegramas e memorandos, incontveis viagens e misses de trabalho, negociaes eventuais, e tambm muitas recepes e encontros formais ou sociais, a maior parte dos quais em carter oficial. Alm de atender a todas essas tarefas profissionais e compromissos de trabalho, e de bem representar o Brasil em todos os postos onde serviu sempre de maneira breve, com a grande exceo do Mxico, onde foi extremamente produtivo e empreendedor , RM tambm se superou na pesquisa de arquivo, na redao de excelentes trabalhos de carter histrico, na confeco de alguns excelentes livros no domnio da lngua e muitos outros trabalhos de informao geral sobre o Brasil, dos quais existem sobejas evidncias nas bibliografias e referncias editoriais disponveis.

    Dentre suas muitas obras, podem se destacar dois ncleos de produo que marcam, respectivamente, seus anos iniciais e o perodo intermedirio de sua carreira, que so exemplificadas pelos seguintes livros: no primeiro bloco, A influncia africana no Portugus do Brasil (diversas edies, desde 1933) e O Portugus do Brasil: Origens, Evoluo, Tendncias (uma nica edio, em 1936, ao que se sabe); no segundo bloco, a biografia de Carvalho Moreira, Um diplomata na corte de Inglaterra (1942, 1968 e 2006); o incio

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Paulo Roberto de Almeida

    de uma srie no concluda de histria diplomtica, Histria da Poltica Exterior do Brasil, 1500-1822 (nica edio, no Mxico, em 1945); e seu livro de geopoltica histrica, Fronteira em Marcha (1956; no mais publicado, posteriormente). Apenas essas obras j lhe assegurariam um lugar de destaque no rol no exatamente exguo, mas tampouco abundante dos grandes intelectuais do Itamaraty, em todas as pocas. Adicionalmente, RM produziu significativo nmero de obras de divulgao da histria e das letras brasileiras, voltadas para um pblico estrangeiro, num meritrio esforo intelectual que poderia ser includo naquela categoria que os franceses chamam de haute vulgarisation.

    No resta dvida que RM prestou enormes servios diplomacia profissional, tanto quanto cultura do Brasil, produzindo obras de reconhecidas qualidades intelectuais, primando tanto pelo rigor da pesquisa quanto pela conciso exemplar de suas muitas snteses bem informadas, consolidando o que se pode caracterizar de estado da arte do conhecimento acadmico em cada um dos domnios tocados por ele. RM soube elevar-se, com distino, acima do mero desempenho de repetidas por vezes aborrecidas tarefas burocrticas que compem o menu habitual dos diplomatas, nos postos ou na Secretaria de Estado, para oferecer, tanto ao Brasil, quanto ao pblico externo, uma amostra significativa, por seus muitos escritos, da histria e da cultura do Brasil, no sentido mais completo do conceito intelectual.

    Paulo Roberto de AlmeidaDiplomata; professor no Uniceub.

    Hartford, 9 de novembro de 2013.

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    prefcio

    O presente tomo constitui o primeiro de uma srie de trs, nos quais tentaremos uma viso de conjunto da Histria da Poltica Exterior do Brasil.

    O segundo tomo ser destinado ao estudo das principais questes do Imprio brasileiro, analisando luz de documentos a orientao e os objetivos polticos dos nossos estadistas, sobretudo nas suas reaes e ligaes com o Imprio britnico e o rio da Prata. O terceiro e ltimo, finalmente, cingir-se- a uma exposio concreta, evitando julgamentos, dada a proximidade histrica, dos acontecimentos salientes da Repblica brasileira na esfera internacional, desde sua instaurao at a Conferncia de Chanceleres do Rio de Janeiro, em princpio de 1942.

    Naturalmente, um trabalho dessa natureza no pode ser definitivo at que a tarefa de publicao dos anais diplomticos do Brasil atinja uma fase de maior desenvolvimento. Ficar, porm, como um esboo a ser depois desenvolvido posteriormente em obra de mais flego, talvez de colaborao, como no excelente

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Renato Mendona

    manual Histoire Diplomatique de lEurope, obra coletiva de Henri Hauser, Pierre Renouvin, Jacques Ancel e outros.

    Procuramos seguir um rumo novo na organizao desta histria, colocando no final de cada tomo os Atos Internacionais, os quais, dada a sua projeo marcante, merecem uma leitura, que consolida a narrativa do texto. Por outro lado, evitamos a sistematizao fastidiosa, com a preocupao de destacar mais os eventos e certas personalidades histricas que datas ou seriao de fatos de menor repercusso. Os ensaios at agora publicados sobre Histria Diplomtica do Brasil tomaram sempre um carter fragmentrio, versando pocas isoladas e perdendo o fio da poltica internacional.

    Da mesma maneira, teremos em vista os aspectos econmicos das relaes exteriores do pas, pois, como agudamente observa o ilustre professor Henri Hauser, mesure que la diplomatie se dmocratise, elle doit faire une place plus large aux grandes forces conomiques.

    No intuito de proporcionar elementos de ilustrao geografia histrica do Brasil, em grande parte o contedo deste tomo, encontram-se vrios mapas das nossas fronteiras no perodo colonial, sugeridos alguns pela interessante monografia de Jos Carlos de Macedo Soares, As fronteiras do Brasil no regime colonial.

    Um atlas histrico do Brasil obra que est a requerer a ateno e os esforos dos nossos pesquisadores, sem o que no possvel dar uma apresentao cartogrfica do passado, como entre os de outros pases nos apresenta da unio norte-americana Samuel Flagg Bemis, em A Diplomatic History of The United States.

    Esperamos que a contribuio ora divulgada possa interessar o leitor comum tanto quanto os investigadores de histria.

  • 47

    Prefcio

    Queremos deixar aqui consignado um agradecimento direo do Instituto Pan-Americano de Geografia e Histria, sobretudo ao engenheiro Pedro C. Snchez e ao doutor Jorge A. Viv, pela solicitao honrosa de editar estas pginas da nossa formao territorial e dos primeiros passos de nao independente.

    Renato MendonaMxico, D. F., 10 de maio de 1944.

  • Primeira Parte O Perodo Colonial

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    captulo i antecedenteS da poLtica portugueSa na amrica

    A perspectiva de um mundo novo por descobrir trouxe Escola de Sagres o alento e o entusiasmo para as navegaes.

    A cincia geogrfica da poca, enquadrada ainda no domnio aristotlico, militava apenas com segurana no Mediterrneo.

    Marco Polo, ao empreender suas viagens (1271-1295), deixara o mundo assombrado com as riquezas de Cathay e Zipango, pintadas no seu livro Mirabilia Mundi.

    A ndia permanecia um El Dorado distante e inacessvel. Parecia que os homens tinham olvidado as expedies de Alexandre ao Indus e o priplo africano dos fencios.

    Urgia criar um novo saber. Reavivar o antigo e dilatar: A F, o Imprio, e as terras viciosas/De frica e de sia....

    E, ao lado, prudentemente cobrir-se contra o desconhecido, partilhando ab initio as terras no descobertas. As investigaes nuticas do infante D. Henrique completam-se pela poltica de precauo dos soberanos reinantes.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Renato Mendona

    Mediante as bulas dos papas Nicolau V, Calisto III, Xisto IV, a Coroa portuguesa assegura-se do domnio de terras e ilhas descobertas sob o influxo do Infante Navegador e seus sucessores. E, na vaga geografia do tempo, no se fazia uma ideia clara do que se concedia.

    Assim julgava-se ndia a toda a frica Oriental, desde a Abissnia at o cabo da Boa Esperana, bem como a sia Oriental e Meridional com seus milhares de ilhas. Um s era o mar que se estendia do ocidente europeu e africano at o levante asitico1.

    As terras a meio caminho da ndia e a ndia mesma, to indecisa no seu contorno, compreendiam-se na concesso das bulas pontifcias aos monarcas portugueses. Bulas que foram reconhecidas pelos reis da Espanha em tratados solenes.

    No surpreende, pois que, de torna viagem, Colombo v anunciar, em 9 de maro de 1493, ao Rei de Portugal o descobrimento de novas terras ocidentais e receba de D. Joo II a declarao de que todas lhe pertenciam.

    Em verdade, o prprio Colombo no sabia o que descobrira. Baseado nos clculos errneos de Ptolomeu e Marinus de Tiro sobre o tamanho da terra, o descobridor genovs encurtara da sexta parte a circunferncia terrestre e situava a famosa Zipango de Marco Polo nas proximidades das ilhas Sandwich.

    El-Rei de Portugal, esse sim, bem certo estava do que fazia.

    Quando os Reis Catlicos obtiveram de Alexandre VI uma concesso anloga, a bula Inter Ctera (4 de maio de 1493) que lhes atribua todas as terras e ilhas descobertas e por descobrir, cem lguas a oeste de qualquer das ilhas dos Aores e Cabo Verde, D. Joo II protestou contra o ato pontifcio como lesivo para os seus direitos e ameaou mandar uma armada s regies descobertas por Colombo.

    1 Capistrano de Abreu. Ensaios e Estudos, Sobre a Colnia do Sacramento, Rio, Briguiet, 1938, p. 57.

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    Antecedentes da poltica portuguesa na Amrica

    Mapa 1 - Linha de marcao fixada pela Bula de 4 de maio de 1493

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Renato Mendona

    Sabedores do fato, os reis da Espanha mandaram um enviado, Lopes de Haro, que partiu de Barcelona com o fim de induzir o prncipe portugus a sustar a ida s ilhas descobertas e designar embaixadores, para a discusso calma e deciso honrosa do caso.

    Datam de ento as primeiras negociaes diplomticas entre as naes ibricas, visando o territrio da Amrica.

    Em 15 de agosto, chegavam a Barcelona, onde estava a Corte, os embaixadores nomeados por El-Rei, o Dr. Pero Dias e o cronista Ruy de Pina. Essa embaixada no deu resultado, ao que parece por ignorarem os embaixadores a matria de que tinham de tratar.

    A retribuio da Espanha no ficou atrs. De Barcelona foi enviado novo emissrio, Garca de Herrera, para anunciar Corte portuguesa a partida prxima de outra embaixada e pedir para esta um acolhimento benigno.

    A 2 de novembro, partiram Garca de Carbajal e Pero de Ayala, os embaixadores espanhis. D. Joo II os recebeu desdenhoso. No tem p nem cabea, comentou ele, com aluses ao fato de um ser coxo e o outro pouco inteligente.

    Afinal, El-Rei decidiu-se em 8 de maro de 1494 a enviar Rui de Sousa, Senhor de Sagres e Beringel, e seu filho Joo de Sousa, almotac-mor; e Arias de Almadana, corregedor dos feitos na Corte de Lisboa, que se reuniram em Medina do Campo e entabularam negociao, chegando a um acordo com os enviados espanhis, Henrique Henriques, Gutierres de Crdenas e Rodrigo Maldonado de Talavera, todos pertencentes ao conselho real.

    Firmou-se ento, a 7 de junho, o Tratado de Tordesilhas que, como bem o entendeu Henry Harrisse, forma o primeiro Captulo da Histria Diplomtica da Amrica2.

    Determinou o Tratado que os limites entre as duas naes signatrias se fixariam no mais a 100 lguas, e sim a 370. E em

    2 Henry Harrisse. The Diplomatic History of America, its first chapter, 1452-1493-1494, Londres, 1897.

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    Antecedentes da poltica portuguesa na Amrica

    vez de ser a oeste de qualquer das ilhas dos Aores e Cabo Verde, a linha divisria passaria a oeste do arquiplago de Cabo Verde.

    O Convnio no especificou a ilha, o que no tinha maior importncia, sendo apenas de 245, a distncia entre a mais oriental e a mais ocidental. Importante de fato foi a circunstncia de no se especificar a contagem da lgua, que variava desde 14 1/6 at 2 17/8 em um grau do equador. Mais grave ainda a realidade triste de os astrnomos no possurem ento instrumentos nem meios para medir longitudes em pleno mar3.

    Em rigor, o Tratado de Tordesilhas foi um acordo meramente formal, pois ningum sabia o que dava nem o que recebia. Menos ainda, se havia lucro ou perda na transao.

    A sua significao maior estar, porm, no que representou de cooperao e esprito amistoso entre as duas potncias ibricas.

    Como quer que seja, a Europa de ento viu confirmada a sentena arbitrada pelo Papa: a diviso do mundo em dois hemisfrios, um para Portugal e outro para Espanha.

    Conhece-se a respeito o clebre bon mot de Francisco I de Frana sobre esse testamento no revelado de Ado e Eva4. Certo ou no o dito, expressava o sentir dos demais monarcas no contemplados na partilha.

    * * *

    Descoberto o Brasil, no houve querela entre as duas Coroas, apesar de Cabral haver sido precedido por Vicente Yaez Pizon. Os espanhis no alegaram a prioridade, mas reconheceram a terra

    3 C. de Abreu. Opus cit., p. 60.

    4 Il se rvolte contre la bulle de dmarcation dAlexandre VI (4 mai 1493) qui accorde lEspagne toutes les terres situes 170 (sic) lieues louest des Aores et le reste au Portugal, il encourage les expditions maritimes... Louis-Paul Deschanel, Histoire de la Politique Extrieure de la France, Paris, Payot, 1936, p. 42.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Renato Mendona

    dos Papagaios como dentro da raia que o meridiano de Tordesilhas assinalava a Portugal.

    A verdade que os interesses da Espanha se manifestavam mais ao norte que ao sul do equincio. Foi preciso aparecer em 1514 um machado de prata, encontrado por D. Nuno Manuel s margens do depois cognominado rio da Prata, para os espanhis suspeitarem de riquezas maiores nas regies sulinas. Expedies ainda como de Solis, Cristvo Jacques e Cabot valorizaram as terras platinas e fizeram surgir a dvida nos limites meridionais.

    Quando D. Joo III concebeu em setembro de 1532 o plano de dividir as terras do Brasil em capitanias hereditrias, desde Pernambuco at o rio da Prata, surgiram os protestos espanhis e o soberano viu-se obrigado a no exceder o paralelo 28 , nas imediaes de Laguna, em Santa Catarina5.

    A primeira violao, no entanto, da linha de Tordesilhas ocorreu no na Amrica mas nas guas remotas do Pacfico, em torno posse das ilhas Molucas, de famosas e decantadas especiarias.

    Ferno de Magalhes assegurava que as ilhas giravam na rbita espanhola. Portugal renhia estar de seu lado ora a prioridade do descobrimento, ora a legitimidade de domnio no rico arquiplago. Resultou a viagem de circum-navegao, com consequncias muito maiores para o mundo (a descoberta do Estreito na Patagnia e a demonstrao da esfericidade do planeta) que o litgio final da posse entre dois contendentes.

    Colhido pela morte Ferno, seu sucessor, Sebastian dElcano viveu, contudo, para voltar Espanha e provar que aos seus assistia o direito absoluto de domnio.

    Vem assim a capitulao de Saragoa, assinada em abril de 1529. El-Rei comprava os direitos de Carlos V. Alterava-se a

    5 Capistrano de Abreu. Captulos de Histria Colonial, Rio, Briguiet, 1934, p. 197.

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    Antecedentes da poltica portuguesa na Amrica

    divisria estipulada em 1494 para aquele hemisfrio. Passaria ela a 297 lguas ao oriente das Molucas.

    Balanceavam-se por essa forma, aos poucos, os contatos entre a letra morta do Convnio e as realidades vivas da geografia humana.

    Ainda em 1534, o espanhol Ruy Mosquera se estabelecia no Iguape, repelindo um ataque do donatrio Pero de Ges e saqueando So Vicente.

    Buscavam os espanhis contra-atacar as pretenses portuguesas margem esquerda do rio da Prata, estendendo para o Norte, at o Iguape, os seus objetivos.

    A escritura de Saragoa, que definira a demarcao na sia repartindo tesouros como o das Molucas, verdadeiro mvel dos empreendimentos nuticos de espanhis e portugueses , silenciara no entanto a questo americana.

    Fcil de prever que seriam pequenas as dificuldades litigiosas no primeiro sculo da colonizao. Andava deserto o quinho mais meridional da capitania de Pero de Lopes.

    Os espanhis no se tinham to pouco fixado continuamente no litoral atlntico. Os colonizadores do Prata dirigiam suas atenes para o Peru, de onde procediam desde Porto Bello e Callao e para onde seguiam pelo Tucumn os artigos de seu comrcio.Com o tempo, porm, a situao teria de assumir feio menos auspiciosa.

    O acaso das circunstncias histricas intervm ento em 1580, quando a fuso dos dois reinos peninsulares s acarretou vantagens para as possesses na Amrica. Desapareciam virtu-almente as rivalidades coloniais. Amainavam disputas. Serenavam nimos, podendo cada qual se consagrar s tarefas que lhe ofere-ciam mais proveito.

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    Histria da poltica exterior do Brasil

    Renato Mendona

    Abstrao feita dos castelhanos, para os portugueses, o grande inimigo residia no francs. O francs aliado do indgena como perigosamente o sentiu Hans Staden no seu cativeiro6. O francs que ame