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    Livrarias

    EDIES DE OURO

    RIO DE JANEIROAv. Rio Branco, 156 - loja 4Sta. Clara, 33-D - CopacabanaP. S. Drumont, 66 - JqueiDias da Cruz, 188 - loja 103Conde de Bonfim, 204Mariz e Barros, 290Prudente de Morais, 167-BNOVA IGUAUAv. Fl. Peixoto, 1784NITERIGavio Peixoto, 92 - loja103

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    SO PAULOBaro de Itapetininga, 37 loja 71Augusta, 867Pedroso de Morais, 654 - PinheirosPenha de Frana, 771 - PenhaCons. Crispiniano, 403

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    Rua Santo Antonio, 260CURITIBAVoluntrios da Ptria, 250FORTALEZARua Major Facundo, 680RECIFE

    Rua do Hospcio, 202 -loja 2 - Ed. OlympiaPORTO ALEGREAv. Ipiranga, 2821SALVADORAv. 7 de Setembro, esquina da RuaPoliteama de Cima (Mercs)

    E D I E S D E O U R O Sede: Dep. de Vendas e ExpedioDep. de Direitos e Exame de OriginaisRua NOVA JERUSALM, 345 - Caixa Postal 1880RIO DE JANEIRO - CEP 20.000

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    PLAUTO E TERNCIO

    A COMDIA LATINAANFITRIO AULULRIAOS CATIVOS O GORGULHO

    OS ADELFOS O EUNUCO

    Prefcio, seleo, traduo e notas deAGOSTINHO DA SILVA

    EDIES DE OURO

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    Direitos Reservados

    HISTRIA ou ESTRIA?

    As Edies de Ouro e o Coquetel grafam a palavra histria e no estriapor julgar a primeira forma mais correta, conforme dicionrios mais categori-zados, que julgam a segunda forma imitao do ingls story, sem correspon-dente com razes em nossa lngua.

    EDITORA TECNOPRINT LTDA.

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    A COMDIA LATINA

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    NDICE

    Agostinho da Silva A Comdia Latina. 9Nota Sobre a Traduo............................. 31Nota Bibliogrfica..................................... 33

    PLAUTO

    Nota Biogrfica........................................... 35Anfitrio........................................................ 37Aululria....................................................... 121

    Os Cativos ..................................................... 179O Gorgulho.................................................... 245

    TERNCIO

    Nota Biogrfica........................................... 301

    Os Adelfos...................................................... 303O Eunuco...................................................... 375

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    A COMDIA LATINA

    Agostinho da Silva

    Como se sabe, os gregos possuam, com muitosoutros povos da Antigidade, a tradio de que em

    tempos remotos tinham os homens vivido num estadode perfeita inocncia e numa felicidade s comparvel dos deuses; tratavam-se todos como irmos, alimenta-vam-se de frutos das rvores. Desconheciam asdisputas e a guerra; havia entre eles e a natureza umacompleta comunho, a tal ponto que nem mesmo dis-tinguiam entre si prprios e o mundo que os rodeava;

    e poderiam ter prosseguido nesta existncia beatficase no se tivesse dado uma corrupo dos costumes,se da Idade de Ouro se no tivesse passado para aIdade de Ferro, a atual, em que todas as aberraes setornaram normais na humanidade.

    Acreditou-se durante muito tempo que essa idadede bem-aventurana tinha sido uma pura inveno

    dos gregos, sem que correspondesse a realidade alguma; tudo seria apenas uma forma potica de manifes-tar o seu desgosto dos costumes do tempo presente eas suas aspiraes a uma vida de entendimento e de

    paz. medida, porm, que se foi estudando a natureza

    dos mitos e encontrando-os sempre relacionados quer

    com fenmenos naturais, quer com acontecimentoshistricos, surgiu a suspeita de que tivesse realmenteexistido uma idade perfeita, um estdio de humanida-de livre de todas as misrias em que posteriormentetinham cado os homens. A questo, no entanto, eraainda de inclinao pessoal e de f; os que propen-diam a crer a natureza humana egosta, batalhadora

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    e agressiva arrumavam as suspeitas dos etnlogos,juntamente com a poesia teognica dos gregos, nocompartimento destinado s fantasias sem motivo esem base. No houvera tal Idade de Ouro e os homens

    tinham sido sempre o que a vida os mostrara: implacveis na defesa da sua existncia e dos seus bens e scapazes de se conter por um corpo de leis que, atendendo ao bem comum, reprimisse quanto possvel osapetites e os impulsos individuais.

    Mas, pelos fins do sculo XIX, e confirmando-seprincipalmente com os trabalhos dos etngrafos e dosviajantes dos princpios do sculo XX, surgiu a descoberta de pequenas populaes, na frica, na Oceania,na Amrica e na sia, que viviam uma existncia totalmente diversa da que habitual aos homens e correspondente ponto por ponto descrio que tinham

    feito os gregos da humanidade dos primeiros tempos.Os mais primitivos destes povos, os que se apre

    sentavam com mais puras caractersticas, sem interferncia alguma de povos em mais adiantado grau decivilizao, viviam dos frutos que colhiam nas florestas, s vezes de caa e pesca, eram extremamente alegres, fidelssimos s instituies monogmicas, dandoperfeita igualdade de tratamento s mulheres, incapazes de castigar as crianas, e sem nenhuma espcie de

    propriedade, sem organizao social e sem nenhumvestgio de religio organizada.

    Agora j no havia nem tradio de gregos nemsimples fantasia de poetas; existiam homens que viviam ainda em plena idade de ouro; e era fora de dvida que para se passar dessa idade de ouro, desse

    paraso, para o que o mundo fora depois, tinha sidonecessria uma revoluo radical, uma quase trans

    formao de natureza, uma queda, para usarmos deuma terminologia que muitos julgam ainda no histrica.

    No se via, no entanto, como se tinha dado a mudana, nem existe ainda hoje nenhuma hiptese per

    feitamente satisfatria; cr-se, porm, que deve entrar

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    em linha de conta um fator biolgico importantssimo,o da fome. A certa altura, tendo rareado os frutos da

    floresta, o homem ter-se-ia voltado para a alimentaoanimal fornecida pela caa e pela pesca, e para uma

    forma primitiva de agricultura, a que se teria seguidouma forma primitiva de pecuria. Em lugar do contato perfeito com a natureza, s possvel com umaalimentao frugvora, o homem entrava agora em

    guerra com a natureza, no que respeita s atividadesde caa e pesca.

    Por outro lado, a agricultura conduzia escravi-zao da mulher, a pecuria escravizao dos ani

    mais. E ento que aparecem as primeiras sociedades, que devemos cuidadosamente distinguir do simples agrupamento humano, as primeiras religies organizadas, o sentido da posse; ento que aparece aeducao das crianas, a pedagogia de que tanto nosorgulhamos, e que no mais do que a submisso eextino gradual dos instintos e das espontaneidadescriadoras que no podem ter cabimento na vida so

    cial; surge tudo o que depois se tomou por naturezahumana e que no seno o resultado da presso eda deformao a que, por necessidade de defender avida, foi submetido o homem.

    No nos interessa neste momento saber se haverredeno para tal queda e se algum dia se poder voltar Idade de Ouro, com o fim da guerra natureza

    tem sido a existncia histrica da humanidade,com o fim da escravido dos homens e da submissode mulheres e de crianas; o que importa fixar agora,para que possamos compreender a essncia do teatro,tal como ele se nos apresenta surgindo na Grcia, que houve uma separao entre a natureza humana eo comportamento humano, que se trocou a esponta-neidade pela regra, a alegria pelo sacrifcio, a natu-reza pela sociedade; se no recessemos ir longe de-mais, diramos que se trocou o instinto pela razo or-denadora; houve uma quebra entre os impulsos mais

    ndos e a necessria vida social; foi-se obrigado a

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    sanvel ao homem e que provavelmente o , neste sentido de que s haver paz para a conscincia humana quando no existir distino alguma entre oeu e o outro.

    Por um lado, aludiam ao conflito, visto no seu aspecto mais profundo, envolvendo a toda a humanidade, mas essencial para a salvao, primeiro biolgica,depois at espiritual, da prpria humanidade; falavam da disciplina contra a paixo, da honra contra oamor, do dever contra a piedade. Por outro lado,representavam-no em pequenos casos individuais, queno envolviam o destino humano, mas que eram, atra

    vs das extravagncias dum temperamento, aspectosdo mesmo conflito. Do primeiro enfocamento do problema vinha a tragdia, do segundo a comdia; bastaria que o aspecto individual sobrelevasse ao coletivo

    para a tragdia se tingir de comdia, e foi o que sucedeu mais tarde, com o drama satrico e com a tragdia maneira de Eurpides; e bastaria que a comdiaapontasse a aspectos coletivos para que o tom de tra

    gdia se fizesse sentir.Todo o teatro grego vem da conscincia do conflitoentre natureza humana e histria humana; , segundose pe em aspecto de predominncia, uma outra das

    faces da batalha que encontramos ou a tragdia desquilo ou a comdia de Aristfanes.

    * * *

    No h porventura ponto mais difcil de elucidar,no campo da etnologia ou da histria das religies, doque aquele que se refere s crenas religiosas dos povos primitivos: a princpio afirmou-se que possuamcrenas religiosas e ritos de culto, mas fora de dvida que a afirmao provinha no da realidade observada tal qual era, mas dum quadro de imaginao

    que se substitua ao fenmeno exato. Os estudos posteriores, feitos com mais rigor cientfico, chegaram idia contrria, de que os povos primitivos, os ver

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    dadeiramente primitivos, no teriam nenhuma espciede religio, isto , no acreditavam na existncia deser ou seres superiores a eles e no lhes prestavamculto por meio de cerimnias rituais; a idia de umdeus s aparecia com a evoluo social, na mesma altura em que surgem a noo de propriedade e, emborarudimentarmente, a noo de Estado. O fato da inegvel simultaneidade fez surgir a hiptese da relao decausalidade, hiptese sempre perigosa: teria sido parase estabelecer, ou por se estabelecer uma economia de

    propriedade privada que a idia de Deus e as religiespositivas teriam surgido no mundo.

    O problema, no entanto, no se pode resolver com

    uma tal simplicidade; em primeiro lugar, a idia dumdeus transcendente, ao qual, por conseqncia da sua

    posio ante o universo e o homem, se prestar culto,mesmo que seja o de em esprito e verdade, tem porsi bastantes argumentos filosficos, bastantes bases naestrutura do mundo para que se lhe atribuam origensmeramente econmicas e polticas; tudo quanto se poderia dizer sobre este ponto que, ao dar-se a trans

    formao social, se insiste de preferncia, por ser maistil ao fim em vista, no aspecto transcendente de Deus.Em segundo lugar, a experincia mstica de todos ossculos, de todos os pases e de todas as religies demonstra que o auge do sentimento religioso consistenuma fuso entre objeto do culto e sujeito do culto,num transformar-se o amador na coisa amada, numaparecimento da unidade perfeita onde a dualidade

    existia. Para um observador de fora, um homem in-trinsecamente religioso, em perptuo xtase religioso,poderia dar a impresso de no estar prestando nenhum culto a nenhum deus; e, na vida prtica, essehomem comportar-se-ia com a alegria, a espontaneidade, o desprendimento do selvagem, sem que tambm

    fosse necessrio, fatal, o aparecimento de qualquer espcie de rito: esse homem teria reconhecido a identidade fundamental de tudo quanto existe no universo,teria reconhecido Deus em si e nos outros e viveria.

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    naturalmente, sem tu e sem eu, de igual a igual, numuniverso inteiramente divino.

    No queremos dizer de modo algum que seja isso oque sucede com os primitivos: provavelmente no ,

    provavelmente o que existe uma inconscincia religiosa; o que desejamos que fique bem claro que seno pode afirmar que no tenham vida religiosa; ela

    pode ser bastante profunda para que escape aos nossos observadores civilizados s capazes de surpreender vidas religiosas imperfeitas.

    O mais seguro, no entanto, que a vida religiosa,ou melhor, a religio, s tenha aparecido, consciente

    mente, com a primeira idia dum Deus transcendente,de um ser alm do humano, e que todo o progressoneste assunto tenha consistido em apurar essa noode transcendente at ao ponto de ter sido possvel oaparecimento de uma noo imanente de Deus, semque, porm, seja necessrio o opor-se uma outra; eque todo o progresso futuro, pela insistncia, agora,sob o aspecto imanente, leve a uma vida religiosa, que,

    externamente, se no distinga da vida religiosa, se atm, dos primitivos atuais, realizando-se por a o sonho mstico de um misticismo universal.

    Seja como for, o que inegvel que, desde que sesurpreendem manifestaes religiosas incontestveis,elas tm sempre um carter de totalidade; nos temposhistricos mais longnquos todo o mundo sagradoaos olhos dos homens, sagrado para bem ou para mal;

    no importa agora a distino; o que importa fixar-se que no h nenhuma ao da vida que no tenhamarca sobrenatural e que no seja ocasio de cerimnias rituais; tem-se freqentemente a impresso de queo nico ser considerado natural num universo sagrado, num universo que supera a natureza, o homemque est prestando culto; tudo se passa como se apenas ele se tivesse desprendido de uma vida inteira

    mente sagrada. medida, porm, que a civilizao evolui, sempre

    no sentido dum maior poderio tcnico, a noo de sa

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    grado vai atenuando-se; todos os atos da vida passama ser civis, desligando-se de qualquer idia de sobrenatural; o mundo aparece, no como um conjunto desinais de Deus, que o homem venera, teme ou respeita,e de que participa pelas formas sacramentais, mas umdomnio laico, como uma propriedade a seu inteirodispor e em que ele exerce todos os direitos de usar,

    gozar e abusar, com que se define a noo clssica depropriedade.

    O homem vive, desde ento, no para adorar oque v, como outrora, no para fazer de todos os seusatos uma tentativa de reconquistar o paraso perdido,mas para se aproveitar do que existe, para dominar,

    para se afastar cada vez mais da inocncia da Idadede Ouro, com o risco de nunca poder reencontrar ocaminho; o que seria bem trgico, porque j est na

    posse dos meios materiais que lhe permitiriam viver avida do primitivo, sem os inconvenientes da incertezae da fome, sem correr os riscos de ter de novo que percorrer a longa, perigosa e dramtica aventura da histria; cada vez mais o homem se tem posto e conside

    rado mais no mundo como o dono do mundo, com odireito de destruir os animais e as plantas, de escravizar os irmos homens, de transformar a vida inteiranalguma coisa que no tem outro fim seno o de sustentar a sua vida material.

    A vida tornou-se laica e tornou-se feroz, implacvel e, o que pior ainda, sem sentido nenhum queeleve a vida alm da vida. uma srie de momentos

    em que se produz para se consumir e se consome parase poder produzir de novo. As relaes do finito com oinfinito, da parte com o todo parecem, em instantesmais crticos, correr o risco de se perder por completo;o ato gracioso da oferta aos seres fraternos ou aos seres superiores, a gratuitidade de viver, desaparecemrapidamente de um mundo que se dessacratiza.

    Costuma-se dizer que o progresso tcnico superou

    o progresso moral; mas o que h na realidade que oprogresso tcnico se fez custa do fundo moral da

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    humanidade, do seu fundo divino; e as grandes pocasde crise so exatamente aquelas em que o progressotcnico o mais elevado possvel e a conscincia moral uma luz mnima que parece a cada momento irapagar-se de todo no fragor das tempestades econ

    micas e polticas.O que certo, porm, que a fome, na vida do

    homem primitivo, ps em risco a sua alma porqueno pode haver real sentido do divino com estmagosvazios; a salvao da alma do homem implicava aluta contra a fome, o que se fez e se est fazendo pelo

    progresso tcnico; os descobrimentos cientficos vopermitir viver com segurana, abater pela primeira

    vez os espectros da fome e vo permitir que as almasse salvem; vo permitir o regresso ao divino; mas osriscos da viagem tm sido enormes e tm-se marcado,como nos manmetros se marca a presso, pelo lai-cismo progressivo da vida; e todo o esforo dos grandes pensadores, dos grandes artistas, dos grandescientistas, dos grandes chefes religiosos, tem sido exatamente o de impedir que a centelha do sentimento dosagrado se apague de todo neste mundo.

    * * *

    Se o teatro nasceu da separao entre o homem ea natureza, ou, mais profundamente, de uma distinoentre sujeito e objeto, se aparece como parte de um

    festival sagrado, seno como o prprio festival sagrado na sua totalidade, e se, por outro lado, o grupohumano se foi progressivamente tornando menos sensvel ao sagrado, de esperar que o teatro tenha se

    guido esta marcha de dessacratizao da humanidadee que, do plano sobrenatural do incio, tenha resvalado aos domnios naturais, realistas, digamos civis,em que o homem se foi habituando a viver.

    certo, no entanto, que j mesmo no teatro primitivo havia, por sua prpria natureza, dois planos: oplano divino, sobrenatural, de eternidade, o do amorabsoluto, o da comunho de todos os seres, o da re

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    deno do humano pelo sacrifcio, e o plano da aohumana que no era oficial mais do que o desenrolarno tempo da luta entre a natureza humana e as circunstncias histricas, luta porventura correspondente a uma realidade metafsica essencial na m

    quina do mundo.Destes dois elementos do teatro, s um poderia so

    frer, sem que desaparecesse, o processo de dessacratizao; e esse elemento era naturalmente o da aohumana; o outro devia conservar-se tal qual e especializar-se nessa representao de ao divina ante odivino, transformando os homens pela sua prpria

    participao no ato, dando-lhes categoria de eterni

    dade; foi este ltimo elemento o que se refugiou nosmistrios e que, depois, ao surgir como que um segundo ciclo da humanidade ocidental, com o aparecimento do cristianismo, se constituiria em liturgia, emque do real s aparece quando muito uma estilizao.

    O elemento humano foi tendo ligaes cada vezmais remotas com o elemento sagrado at que de todose separa, sem que no entanto o teatro tenha perdidoo primitivo carter mgico de fazer do ator e do espectador um participante na vida de outros seres; ou melhor, de o transformar num outro ser, fazendo-o entender assim a identidade de todos os aspectos da criao.

    O teatro foi-se tornando cada vez mais realista,tanto na tragdia como na comdia, cada vez se afastando mais de fazer participar um grande nmero dehomens no que devia ser um sacramento; o que de

    mximo se concedeu foi o poder transform-los, poruma hora ou duas, em outros seres puramente humanos, enredados num jogo de paixes puramente humanas; nunca mais foi possvel transport-los a um

    pas de fantasia, que era na verdade o pas real, o dasidias que so eternas, o dos sonhos que so eternos, odas aes em que o tempo no conta; quem no mais

    podia considerar um ato sagrado ver nascer o Sol,

    comer po, ou ajudar seus irmos em circunstncias

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    difceis, quem passava a ter empregos, fazia repastosapressados e emprestava a juros, no podia de modoalgum manter o teatro como cerimnia sagrada.

    Do drama de Dionsio, preso nas redes de Apolo,

    da realidade da vida plena na plena participao como Universo, e no seu renascimento miraculoso na festadas colheitas, passava-se a um drama realista domundo, batalha em que cada um tem de ser ele, e sele, sob pena de perecer; passava-se ao mundo da famlia, sustentada pelas leis e no pelo amor; aomundo poltico em que se busca apenas o domnio; dos

    predecessores de squilo aos sucessores de Ibsen; de

    um ato religioso a um espetculo puramente civil. S aliturgia se conservou na sua pureza primitiva, masquase intil, porque a mentalidade do tempo a tornouincompreendida no seu sentido mais profundo; e svezes, mesmo incompreendida nos seus aspectos mais

    fceis.Quanto comdia, o processo de dessacratizao

    comeou j na prpria Grcia e, como era natural, foi

    muito mais rpido que na tragdia. Conhecemos muitomal os antecessores de Aristfanes para nos podermospronunciar sobre o que teria sido nas origens a produo cmica; parece, no entanto, que o fundo seriaconstitudo pelas manifestaes de alegria tumultuosados vinhateiros, pela comunho com o mundo volta,o que se fazia de dois modos: pela transformao doator num ser natural, animal ou fenmeno, e pela hu-

    manizao do que passara a ser estranho ao homem.O cortejo de que derivaram as representaes da comdia devia ser extremamente semelhante a tudo oque se imaginou sobre o cortejo de Dionsio, mas dele

    fazia parte a representao da natureza, num sentidode animao csmica, e de restabelecimento da unidade quebrada; e o elemento realista no devia passar de aluses aos feitos e defeitos de alguns dos com

    ponentes do cortejo ou daqueles que assistiam suapassagem.Dum modo geral, pode dizer-se que a comdia de

    Aristfanes ainda se conserva na linha primitiva. To

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    das as suas peas do, e duma forma extraordinria,a impresso de marcha, de desfile impetuoso e turbi-Ihonante, em que, num mundo de fantasia, irreal e livre, se incluem as crticas de indivduos ou de costumes sociais. O coro das Rs, o coro das Nuvens, o coro

    das Vespas, so, com toda a sua pujana de transformao imaginativa e de audcia na transposio deplanos, o momento de auge da comunho naturalista;o regresso da Paz ainda o tumulto, a vibrao, o dinamismo do cortejo primitivo; mas o elemento realista j muito mais desenvolvido do que fora a princpio es raras vezes, como, por exemplo, nas Aves, se consegue elevar a um plano de sobrenaturalidade; apesar

    de toda a imaginao de Aristfanes, o real principiaa pesar-lhe: e no h dvida que nas peas como AAssemblia das Mulheres e Plutos o elemento sagradoquase que desaparece e as comdias poderiamtransformar-se, com pequena modificao, em composies de tipo laico.

    No entanto, a sociedade grega era ainda, no obstante todo o aspecto civil que possa ter a nossos olhos,uma sociedade de deuses, de sagrado e de sacramental; as linhas coletivas das assemblias polticas e das

    festas cvicas mantinham este sentido de unidade, eto fortemente, que contra ele se chocaram alguns dosque estiveram nas origens do que seria mais tarde o

    pensamento laico.A transformao social, no sentido duma dessa-

    cratizao, s se d mais tarde com o triunfo da Macednia; nas cidades, o Estado quase no existe e

    quase no aparece nenhum dos elementos que o afirmam, lhe do prestgio e o mantm; mas com Filipe,tudo muda: o objetivo agora o de agrupar todos oshomens, com o mximo de disciplina, para um trabalho comum de domnio e de organizao utilitria daterra; tudo se modela mais ou menos segundo o tipoideal do exrcito; no do exrcito tido como escolamoral, maneira de Esparta, mas do exrcito eficiente

    como mquina de guerra, num renascimento e numaperfeioamento dos assrios.

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    Ento a comdia, num breve lapso de tempo, nummximo de cinqenta anos, perde todas as qualidadesde fantasia irresponsvel que tinha em Aristfanes; oseu plano passa a ser o da vida real, o da vida cotidiana, o da vida do indivduo, dos casos individuais,dos interesses individuais; em Menandro, Apolodoro,Filmon ou Dfilo, tanto quanto podemos julgar pelos

    fragmentos que nos restam e pelas imitaes romanas,no h o mnimo sopro da liturgia primitiva, o mnimovestgio de vida coletiva, o mnimo interesse pelo que

    possa ir alm da existncia social ou econmica dohomem considerado como um ser parte da natureza.

    * **

    Historicamente, a Idade Romana no mais doque a continuao dos esforos de Filipe e de Alexandre; mas ao passo que estes falharam na sua tentativade unificar o mundo, derrubando as barreiras dos par-ticularismos gregos, de modo a que as descobertas he-

    lnicas pudessem chegar a todos os homens, os romanos conseguiram pela sua aparelhagem militar, jurdica e administrativa, uma construo poltica quedeu paz aos homens e tornou patrimnio de cultura

    geral o que at a fora reservado apenas a uma reduzida minoria.

    A sntese, porm, no foi ainda bastante ampla: osdefeitos de mentalidade dos romanos, que tinham sido,

    por outro lado, auxiliares da sua empresa, no lhespermitiram conceber uma noo de personalidadehumana suficientemente vasta para que nela pudessem caber, por exemplo, os povos brbaros; e a deficincia dos meios tcnicos de produo no lhes permitiu tambm a libertao do escravo, o que tornou

    fatal a abertura de novos captulos na histria daaventura humana.

    De qualquer modo, Roma constituiu um dos pontosmais importantes da evoluo da humanidade, no sentido de domnio da natureza pelo desenvolvimento dastcnicas; sob este ponto de vista foi at muito mais

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    importante do que os gregos; simplesmente, esta idadetcnica s foi possvel pela organizao dos romanoscomo um povo de soldados e de juristas; tudo quanto espontaneidade, liberdade de criao, fantasia, impre-vidncia at, nos aparece extremamente reduzido,

    inexistente quase, durante os cinco ou seis sculos emque Roma exerceu a sua ao primacial; Roma umgrande exrcito ordenado a um grande fim, e um fortecorpo de leis, civis e religiosas, que estritamente travam os movimentos do indivduo. Cada um tem de fazer o que a disciplina lhe indica e ficam banidos todosos arroubos de alma, toda as tentativas de comunicao direta com a divindade, todas as tentativas

    mesmo de comunicao direta de ser a ser; durantetodo o tempo de Roma, os homens marcham lado a lado, como nas fileiras de um regimento, atentos harmonia e eficincia do conjunto, de modo algum interessados pelos sonhos, ou os desejos de uma vida livre.

    A grandeza de Roma, que se confunde a com aquase vitria da humanidade sobre a fome, esmagatudo o que seja aspirao ou saudade das almas; h

    um objetivo em vista e este objetivo que se tem dealcanar, quaisquer que sejam os sacrifcios, quaisquer que sejam as barreiras impostas aos sentimentosque estariam mais de acordo com a verdadeira natureza humana. Foi o romano que deu ao mundo o modelo do soldado herico: a sentinela sepultada no seu

    posto pelas cinzas do Vesvio mais que uma figurahistrica e mais que um smbolo de Roma; a prpriaimagem da humanidade correndo o risco de se petrificar porque se recusa ao abandono das posies decombate que lhe permitiro, se a batalha for ganha,assegurar ento para sempre, na liberdade e na vidacriadora, a paz que Roma s conseguiu por quatrocentos anos, na escravido e no esmagamento do esprito.

    A Repblica, depois de assegurado o domnio doMediterrneo, e o Imprio marcam um dos tempos emque a humanidade, a troco da segurana, cedeu um

    mximo de liberdade; e teria cado, se no houvesserecursos humanos ou, pelo menos, mais humanos, com

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    que contar; os brbaros, dum lado, os escravos e asmulheres do outro, salvaram o mundo: o cristianismo,

    propagado pelos ltimos e confirmado pelos primeiros, fundamentalmente, um processo de ressacratizaodo mundo, pela afirmao da unidade do homem e da

    unidade da criao no imenso amor de Deus. O objetivo essencial que se marca no o da segurana, maso da liberdade, no o da disciplina, mas o do afeto,no o da ateno a tudo quanto possa manter unidoe eficiente o corpo social, mas o da contemplao dosvos das aves pelo cu e do colorir das floradas pelos

    prados; a disciplina militar prestante parece fechar-se com Jesus; o reino de Deus que ele anuncia oda Idade de Ouro, mas ampliado pela alegria da redeno. As realidades humanas, porm, ainda se no

    prestavam modelao do sonho e o modelo de Romahavia de ser, ainda por muitos sculos, embora sobvrios aspectos, o modelo do mundo.

    muito difcil saber at que ponto vai a originalidade de forma e de contedo da comdia latina, em

    bora se lhe possa marcar um espirito diferente da dosgregos e disposto no sentido da evoluo realista deque se acaba de falar. Efetivamente, todos os testemunhos histricos, inclusive o dos prprios poetas interessados, so concordes em afirmar que o teatro cmico romano no mais do que uma adaptao sexigncias das platias latinas, das obras dos come-digrafos gregos da comdia chamada nova, por

    oposio comdia antiga de Aristfanes e seus contemporneos. Dumas vezes, as peas so-nos apresentadas como sendo puras tradues dos originais gre

    gos; doutras vezes como tendo sofrido o processo dacontaminatio, isto , da fuso de duas ou mais peas,

    geralmente duas, numa s; os testemunhos so irrefutveis, de modo que teremos de admirar, mesmo que

    pretendssemos salvaguardar o mximo de originali

    dade dos romanos, que a inveno estaria quandomuito nos pormenores de carter local; no entanto,mesmo no que se chamaria de pormenor, pode rompera originalidade de um autor, transformando quase por

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    completo o original, no importando agora pr a questo de as modificaes se fazerem para melhor ou

    para pior; o que sucede, por exemplo, com as tradues de Molire realizadas por Castilho; e muito

    provvel que tenha sido esse o caso dos comedigrafos

    romanos e que se trate dum emprstimo de formas ede intrigas, o que tem realmente pouca importncia;no entanto, a carncia dos textos gregos e a falta de

    preciso dos eruditos e crticos da Antiguidade nopermitem chegar a qualquer concluso segura.

    Como noutros elementos da civilizao romana,deve ter-se realmente dado uma importao das idias

    fundamentais; o romano foi um inventor medocre e foi

    buscar aos povos vizinhos a base de todas as suasrealizaes, mesmo a do direito, que nos aparece tantas vezes apontado como sua obra exclusiva; mas oque deu a todos esses elementos, apoiando-os solidamente nas suas caractersticas nacionais, foi uma solidez e uma fora de expanso que, em geral, no tivera a obra dos outros povos das civilizaes mediterrneas. Pelo que respeita ao teatro, a caracterstica

    nacional mais importante era a do gosto do cmico,mas dum cmico de feio pessoal, individual, amigode se demorar nas troas dos defeitos de cada pessoa,visando-os quase sempre com uma grosseria brutal, eincapaz de compreender as situaes gerais.

    O que nas comdias de Plauto e de Terncio fogedessa linha, o que , raramente, estudo de tipos ou situaes mais delicadamente tratadas vem, por um la

    do, do fato de se tratar de adaptaes, por outro ladode fato mais importante ainda e que muitas vezes seignora, o de os dois autores serem estrangeiros. DePauto, o que veio da mbria, pouco podemos dizer,porque s muito mais tarde a sua terra entrou na luzda histria; mas, no que se refere a Terncio, no podemos deixar de atribuir ao seu contato com a culturada Magna Grcia tudo quanto nele h de sensibilida

    de, de ternura, de fina melancolia, de graa que noinsiste nos seus inventos, de recusa ante as exigncias

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    duma platia mais habituada aos saltimbancos do queaos poetas comedigrafos.

    Contudo o que neles aparece de mais notvel, e comum aos dois, nem veio das suas ptrias nem dacultura que tiveram nem da sensibilidade humana,

    que era sem dvida mais profunda do que teve ocasio de mostrar-se; o que h de mais importante emPlauto e Terncio, como em todo grande comedigrafo,e basta para isso lembrarmo-nos do Misantropo deMolire, o tom de tragdia que to facilmente, pelapalavra duma personagem ou pelo incidente do enredo, tinge as suas composies cmicas; em Aristfanesesta qualidade aparece menos nas personagens do que

    nos discursos ao povo em determinadas situaes gerais; mas nos comedigrafos romanos, como nos quese lhes seguem dentro do mesmo esprito, no indivduo que ela se encontra; decerto com muito menos

    fora, com muito menos entusiasmo potico do que naspeas de Aristfanes, mas tambm, sem dvida alguma, com mais pungente esprito trgico: fez-se de todo

    o divrcio entre a natureza e o homem; este j aprendeu bem a ser o lobo do homem; e de quando emquando sente a saudade da sua verdadeira natureza esente a sua solido perante os outros que o ho de devorar se os no abate.

    Deus est longe e perto a luta pela vida. Num relance, o que episdio individual atinge a grandezado coletivo; e do mercador de escravas, do servo mal

    tratado, do pai enganado pelo filho, do amante ludibriado pela amada, sobe como numa onda a amargura e a revolta perante o destino que se no compreende, perante o destino que parece ter para sempreafastado os homens do paraso onde o esprito divinorespirava, e longamente e perdidamente os fez atravessar os desertos onde as esperanas quase morrem.

    E talvez esta a nota que mais fica vibrando

    fundo no esprito depois de se ter lido a comdia latina, porque a nota que mais intimamente nos une aosantecessores de h muitos sculos. Mas h outra que,

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    por mais baixa, e mais difcil de ouvir, no menosdolorosa nem talvez menos duradoura: o que h provavelmente de mais terrvel nestas comdias a tranqila mentalidade com que se aceita a existncia, porexemplo, do escravo, sem aparecer, como nos gregos,

    a menor explicao, a menor tentativa de justificarque tal se desse; decerto o fato nos impressiona e nosdeixa, no fim da leitura de cada pea, a certeza de querealmente o mundo antigo estava condenado a desa

    parecer; mas podemos tambm pensar que dentro dedois mil anos se lero as nossas comdias e que porventura muitas das nossas instituies iro impressionar da mesma forma o esprito dos leitores, embora

    possamos ter a esperana de que j no seja a mesmaa sua angstia. A esperana, mas no a certeza. Podeser que durante muito tempo se ache muita coisa tonatural como eles achavam os escravos e os parasitose que durante muito tempo a educao para servirseja fundamentalmente a educao dos homens.

    * * *

    Como o mundo antigo no continha em si prprionenhum elemento de salvao, s era possvel umnovo avano da histria pelo desabar de tudo quantotinham construdo os homens e pela criao dumaexistncia nova. como se a humanidade tivesse deresolver de novo todos os seus problemas, como se setivesse voltado s idades primevas da histria. Neste

    sentido a formao da Idade Mdia o verdadeiroRenascimento e o outro, o dos sculos XIV e XVI, oregresso da vida antiga que, depurada dos elementosque lhe impediam a marcha, volta a tomar posse dahumanidade, a arregiment-la de novo e a lan-lacom gnio implacvel no caminho que a poder levarum dia a libertar-se do fatalismo das necessidades fsicas.

    E imediatamente o teatro se afirma na sua primeira natureza: durante toda a Idade Mdia a repre

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    sentao sagrada e litrgica e tudo gira volta daseparao do homem do mundo sobrenatural, ora

    porque se representa a prpria queda, ora porque seabrem aos olhos dos espectadores os mistrios do que

    existe para alm da sua vida passageira. Representa-se nas igrejas como outrora se representava junto aosaltares de Dionsio; a vida levou a humanidade aodesterro e a cada possibilidade ela volta para contemplar o que devia ser a sua ptria verdadeira e todas as fases do drama em que a envolveu a luta peloexistir, por um existir pleno, sem o terror e a fome.

    O teatro medieval, de fundamento no realista,

    atento no vida ativa mas vida contemplativa, dbem a medida do que poderia ter sido a nova pocada histria, se os romanos tivessem resolvido os problemas tcnicos da produo; o conjunto dos homensmedievais um corpo mstico governado por um esprito santo; todo o ato da sua vida ou deve ser umacomunho em Deus; toda a graa de obra que se le-vanta uma obra coletiva; a idia de irmandade entreos homens passa alm de todas as travas polticas eeconmicas; h a recusa ao nacionalismo e a recusa comunicao direta do indivduo com Deus, desde que

    para isso se tenha de abandonar os irmos que no ospodem acompanhar.

    No por acaso que a estaturia do melhor perodo medieval se parece estranhamente com a esta

    turia grega: a expresso da mesma plenitude, damesma fidelidade verdadeira natureza humana,quaisquer que sejam ainda os obstculos e as imper

    feies. Mas na realidade todo o tempo medieval eramais descanso que chegada; os homens tinham parado a muito menos de meio caminho da economia, da

    poltica e da tcnica; tinha de se ir mais longe: ento,novamente se desfaz a grande irmandade dos homens.

    O real supera o ideal; o profano sobreleva ao sagrado; e o teatro reflete essa ressurreio da vida antiga que se julgava inteiramente morta. As representaes cada vez mais se afastam do mago da igreja; as

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    constituies dos bispados cada vez vo ser mais severas ante a invaso do profano; ainda um momento serepresentou na portaria dos templos; depois, j des

    feito o encanto que as tomara, j plenamente na batalha da vida, as representaes, quase sem lembrana

    do sagrado, fazem-se fora da igreja. Pareceu durantealgum tempo que nem tudo se perdia e que, por ummilagre, seria possvel conciliar os dois elementos presentes, o da busca e o da unidade, o da religio e o dacincia, o da mstica individual e o da mstica da coletividade. este, provavelmente, o sentido profundo daao dos portugueses e dos espanhis; tentou-se umacincia que vai certamente contra Aristteles, mas que

    de linha franciscana, isto , que nunca daria, comodeu a cincia protestante, o quase esmagamento danatureza humana; tenta-se uma forma de vida reli

    giosa que dando liberdade aos vos do esprito individual, que, reconhecendo-lhe a presena de Deus, nodeixa de insistir no entanto na idia do Corpo Msticoda Igreja e na idia dum Deus transcendente que assegure a inteligibilidade e continuidade do espritohumano.

    E exatamente na pennsula que o teatro, pormais tempo, se conserva fiel s linhas gerais da IdadeMdia e se recusa a submeter-se s concepes romanas que, naturalmente, dada a similitude dos tempos,logo vieram e dominaram no direito, na economia, na

    poltica, e nas manifestaes artsticas, que, por seremcriao no tempo, to fortemente lhe esto ligadas;

    portugueses e espanhis lutam, com os seus msticos,os seus navegadores e exploradores, os seus artistas eos seus autores de teatro, com um Gil Vicente, umCaldern de la Barca ou um Lope de Vega, pela permanncia dos ideais cristos da Idade Mdia, sem pre

    juzo de tudo quanto era necessrio para que se reconquistasse o paraso perdido.

    Mas acabariam vencidos; o capitalismo, o cien-tismo e o protestantismo mais ou menos laico dos povos nrdicos eram movimentos demasiadamente fortes

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    ser ento por completo litrgico e sagrado, sem nenhuma tragdia e sem nenhuma comdia, porque ohomem se integrar na natureza ou levar a naturezaao nvel do seu prprio esprito; ser o teatro da fantasia do sopro lrico, da pura dana, do louvor a Deus

    e da oferta a Deus, do esplendor que inundar as almas, depois do longo, do penoso, do quase desesperado caminhar.

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    NOTA SOBRE A TRADUO

    De todos os autores latinos, so provavelmente oscomedigrafos os mais difceis de verter para uma ln

    gua moderna. Por um lado, as formas arcaicas do latim, incompreendidas e adulteradas pelos copistas deidades mais recentes, tornam o texto muitas vezes incerto; por outro lado, o uso, como uma das fontes docmico, dos jogos de palavras e de frases de duplo

    sentido, as aluses a fatos e costumes que eram atuais,e, numa palavra, a atmosfera diferente da poca republicana de Roma e da nossa poca, fazem que emmuitos pontos a traduo, para se tornar inteligvel,tenha de ser, de certo modo, uma adaptao.

    No tambm de somenos importncia que se traduza em prosa um original em verso, e em versos queso dos mais difceis e dos mais complicados que podemos encontrar na mtrica latina; a variedade deritmos perde-se por completo na verso e fora dedvida que, na maior parte das vezes, o sentido, ou aimpresso sobre o leitor no exatamente a mesma;de resto, at para um romano, a impresso sobre umleitor seria diferente da que sofreria um espectador,visto serem cantados alguns dos trechos, outros reci

    tados com certa entonao musical.A presente verso procurou seguir o mais possvelo original e em caso nenhum se sacrificou a fidelidade elegncia de dico ou facilidade de inteligncia;teve-se igualmente em mira conservar quanto possvelo tom geral da linguagem, que era, como se sabe, no

    o latim literrio de Ccero ou de Csar, nem o latimvulgar, que deu o acervo essencial das lnguas rom-nicas, mas, basilarmente, o latim familiar ou coloquialde Roma, empregado na conversao das pessoas cultas.

    A. S.

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    NOTA BIBLIOGRFICA

    Cartault La posie latine Paris, s. d.Conradt Die metrische Composition der Comdiendes Terentius Berlim, 1876.Couat Aristophane et la comdie attique Paris,1889.Croiset Aristophane et les partis politiques Ath-nes Paris, 1904.

    Dnis La comdie grecque Paris, 1886.Du Mril Histoire de la comdie Paris, s. d.Deschanel tudes sur Aristophane Paris, 1867.Girard tudes sur la posie grecque Paris, 1880.Guizot Mnandre Paris, 1885.Horkel Lebensweisheit des Komikers Menander

    Berlim, 1857.Jachmann Plautinisches und Attisches Berlim,

    1931.Korte Die grieschische Komdie Berlim, 1930.Knapp Plaute and Terence Londres, 1932.Lejay Plaute Paris, 1925.Meineke Historia Critica Comicorum Graecorum Berlim, 1839.Oppe The new comedy St. Andrews, 1894.Plessis La posie latine Paris, 1926.

    Ribbeck Anfnge und Entwicklung des Dionysius-cultxis in Attica Kiel 1869.Sellar Roman Poets of the Republic Londres, s. d.Sss Aristophanes und die Nachwelt Berlim, 1911.Van Leeuwen Prolegomena ad Aristophanem Lei-den, 1908.

    A presente Nota Bibliogrfica pode completar-se com asindicaes dadas em: Laurand Manuel des tudes Grecqueset Latines; Schmidt und Sthlin - Geschichte der Gnechis-chen literatur; Schauz Geschichte der Rmischen literatur(Handluch der Altertunswissenschat").

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    PLAUTO

    Tito Mcio ou Maco Plauto, que nasceu na m-bria, provavelmente por volta do ano 224 a.C., durantea guerra com os Cartagineses, veio para Roma emdata incerta e a se dedicou logo ao teatro, dizendo-seque teria representado a primeira pea aos dezesseteanos de idade. Parece, no entanto, que os ganhos financeiros, dada a magnificncia com que as peaseram apresentadas, no corresponderam aos ganhosde reputao, e que o poeta, por no ter pago as suas

    dvidas, se teria visto reduzido condio de escravo,o que lhe deu certamente tima oportunidade paraconhecer os costumes dos seus colegas e de todo omundo de parasitos, cortess, militares fanfarres e

    filhos-famlia aventureiros que tinham nas habilidadesdos escravos ponto de apoio para os seus perigososempreendimentos.

    Durante o seu tempo de cativeiro, fazendo girar as

    ms de um moinho, teria Plauto composto trs ou quatro peas, de que restam apenas fragmentos, mas que,pelo xito junto ao pblico, lhe garantiram a liberdade. ento que verdadeiramente comea a sua carreira de autor e ator; segundo os testemunhos antigos,o nmero de comdias composto por Plauto subia acento e vinte; Varro, no entanto, submetera o con

    junto a um exame crtico e no pusera como autnti

    cas mais de vinte e trs peas; as que nos restam soem nmero de vinte: Anfitrio, Asinria, Aululria

    NOTA BIOGRFICA

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    Comdia da Panela), As Baquis, O Cartagins, Casina,O Cesto, A Corda, Os Cativos, Epidico, O Fantasma, OGorgulho, O Mercador, Menecmos, O Prodgio, Pseu-dolo, O Persa, O Rstico, O Soldado Fanfarro, Stico.

    O xito de Plauto foi constante; superior, intelectual e moralmente, aos seus ouvintes, soube, no entanto, satisfaz-los pela vivacidade da ao, o bem travado da intriga, a insolncia e a violncia cmica dosmilitares, dos parasitos e dos escravos, o realismo dascortess, dos velhos que defendem o sossego da suacasa, a segurana do seu dinheiro ou a tranqilidadedos seus prazeres, dos moos que se deixam vencer

    por encantos fceis e quase sempre falsos; s vezesmesmo pela colorao quase romntica e ingnua decertos tipos de moa.

    certo que freqentemente sacrificou grosseriado pblico; mas a sua tendncia mais profunda era aque, por exemplo, se surpreende nos Cativos: tendncia de moralista e de poeta lrico, um pouco melanclico, mas disposto sempre a agir quando preciso; acei

    tava com realismo o mundo sua volta mas lavrava,no entanto, o seu protesto sempre que o julgava necessrio contra as desigualdades da organizao e dasorte.

    Embora os textos no sejam muito seguros, Plautoteria tido uma vida bastante curta; o mais provvel que tivesse falecido cerca de 182 a.C.

    A. S.

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    ANFITRIO

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    humano e por isso no de admirar que tenha certosreceios. E eu, que sou filho de Jpiter, tambm fiquei,por contgio, com o medo de meu pai. Por isso venhomuito em paz e a paz que vos trago.

    O que eu vos quero pedir uma coisa fcil e justa.

    a pessoas justas que um justo como eu deve pedir oque de justia. Realmente no convm pedir o que injusto a quem justo e uma loucura rogar aos injustos o que justo; de fato, os inquos ignoram e desprezam a justia. E agora prestai ateno quilo que tenho para vos dizer.

    Deveis querer aquilo que ns queremos; eu e meupai, bem merecemos de vs e da repblica. No me

    lembro de ter visto nas tragdias os outros deuses, Netuno, o Valor, a Vitria, Marte, Belona, relembrar osfavores que vos prestaram? Ora foi meu pai, rei dosdeuses, o arquiteto de todos esses benefcios. Masnunca foi costume de meu pai lanar em cara aos bonsqualquer bem que lhes tenha feito. Ele acha que vslhe sois gratos e que muito merecidamente que elevos faz os favores que vos faz.

    Primeiro vou dizer aquilo que vos vim pedir; depois vou revelar o argumento desta tragdia Por que que franziste o sobrolho? Por ter dito que seria umatragdia? Sou deus, de modo que, se quereis, mudo jisto; farei que de tragdia passe a comdia, e exatamente com os mesmos versos. Quereis que sim ou queno? Mas que bobagem, eu que sou deus, estar semsaber o que vs quereis; conheo perfeitamente avossa opinio sobre o assunto. O que eu vou fazer

    que seja uma pea mista, uma tragicomdia, porqueme no parece adequado que tenha um tom contnuode comdia e pea em que aparecem reis e deuses. Eento, como tambm entra nela um escravo, farei queseja, como j disse, uma tragicomdia.

    Ora Jpiter mandou-me que vos pedisse que emtodo o teatro vo cada um por seu banco certos fiscaisque, se encontrarem gente alugada para aplaudir, lhes

    segurem como garantia a toga. Deseja ele que sejampunidos os que procurarem conquistar a palma para

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    os comediantes, ou para algum artfice, quer por cartas, quer por mensageiros. E que sejam igualmentepunidos os prprios comediantes, se tal fizerem; e quesejam at punidos os edis que derem os prmios comm f. E que sejam todos punidos pela mesma lei que

    castiga quem, por maus processos, conseguiu magistratura para si ou para outrem.Disse ele que as vossas vitrias vieram do valor,

    no da intriga e da m f. Por que razo no dever alei para os comediantes ser a mesma que existe paraos cidados mais importantes? pelo valor e no pelos favores que se devem conquistar os cargos; aqueleque procede bem, ter sempre bastantes sequazes, se

    houver boa f nas pessoas de quem a coisa depende.Mandou-me ele tambm que houvesse fiscais paraos comediantes que tivessem por costume mandarpessoas de propsito para os aplaudir ou que o fizessem para desprestigiar a outrem. Tirar-lhes-iam os vesturios e dar-lhes-iam chicotadas.

    No vos deveis admirar de que Jpiter tanto seimporte com os comediantes: o prprio Jpiter vai re

    presentar nesta comdia. De que que vos espantais?Ser uma coisa nova vir Jpiter fazer de ator? Quandoos comediantes, o ano passado, o invocaram em cena,ele l veio e l os auxiliou. E o que certo que muitas vezes tem aparecido nas tragdias. Dizia eu entoque Jpiter representar hoje, nesta pea, e eu juntamente com ele. Agora prestai ateno enquanto eu revelo o argumento da comdia.

    Aqui a cidade de Tebas, e nesta casa mora Anfitrio que nasceu em Argo, dum pai argivo, e com oqual se casou Alcmena, filha de Electro. Neste momento est ele frente das suas legies, porquanto ostelboas esto em guerra com o povo tebano. Antes deter partido para a guerra engravidou sua mulher Alcmena.

    Ora eu acho que vs conheceis de que espcie meu pai, como d rdea solta s suas inclinaes ecomo est pronto a apaixonar-se pelo que lhe agradoualguma vez. Comeou a gostar de Alcmena sem que o

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    marido soubesse, usufruiu do corpo dela, e empre-nhou-a com seus abraos. E agora, para que saibaisperfeitamente como tudo isto, dir-vos-ei que elaest grvida dos dois, de seu marido e do supremo Jpiter. Meu pai est agora l dentro deitado com ela e

    exatamente por isso que hoje a noite maior, para queele possa ter todos os prazeres que lhe apeteam. Etudo isto ele o faz sob o disfarce de Anfitrio. Agorapara que vos no admireis de eu ter vindo assim vestido, com este aspecto de escravo, vou expor-vos, comocoisa nova, o que j velho e antigo; exatamente porisso que eu apareo vestido duma nova forma.

    Meu pai, Jpiter, que est l dentro, tomou a fisio

    nomia de Anfitrio e todos os escravos que o vem julgam que efetivamente ele, to facilmente muda depele quando quer. Eu tomei para mim o rosto de Ssia,que foi para o exrcito com Anfitrio para poder assimservir a meu querido pai e para que a gente de casano perguntasse quem eu sou ao verem-me andar porela. Como julgam que eu sou um escravo, um camarada, ningum me pergunta quem sou ou a que vim. Meu

    pai est agora l dentro e sua vontade, deitado eabraando-a, que como ele gosta mais.Meu pai est contando a Alcmena os seus feitos de

    guerra, e ela, que est efetivamente com o amante,julga que est com o marido. Agora l est meu pai acontar de que maneira ps em fuga as legies do inimigo e de que modo recebeu numerosos presentes. Esses presentes so os que na verdade deram a Anfitrio,

    e que ns lhe tiramos. A meu pai torna-se fcil tudoquanto quer.Ora hoje chega Anfitrio da guerra com o escravo

    cuja figura eu tomei para mim. Para que possaisdistinguir-nos mais facilmente pus eu no chapu, aqui,estas peninhas, e meu pai ter no seu, uma correntezi-nha de ouro, sinal este que no ter Anfitrio. Ningum, da gente de casa, poder ver estes distintivos

    que vs vereis. Mas aqui est o tal Ssia, escravo deAnfitrio, que chega do porto com uma lanterna. Vou

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    j embora para o afastar de casa. A vem ele, j l estbatendo porta. E quanto a vs, acho que valer apena verdes como Jpiter e Mercrio fazem de come

    diantes.

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    ATO I

    SSIA, MERCRIO

    Ssia: Quem haver mais audaz e mais confiante doque eu, que bem sei dos costumes da juventude eque ando sozinho noite fora? Que vou eu fazer se ostrinviros me meterem na cadeia?

    Amanh tiram-me da cela e levam-me para as chicotadas sem mesmo deixarem que me defenda; nenhum socorro tenho a esperar de meu dono e nohaver ningum que no ache que mereo o castigo.Oito homens fortes malhariam em mim como se eufosse uma bigorna. E era com esta hospitalidade queeu seria recebido ao regressar. Mas a tudo isto me

    obrigou a impacincia de meu amo que me levou asair do porto, sem eu querer, ainda de noite. No verdade que ele me poderia ter mandado de dia?Mas duro servir um homem rico. O escravo do opulento o mais infeliz de todos. De noite e de dia temsempre alguma coisa que se faa, alguma coisa quese tem de realizar ou de dizer, s para que se no

    esteja quieto. Um amo rico e que no tem experincia nem de trabalho, nem de fadigas, julga que sepode fazer tudo o que lhe vem cabea; pensa quetudo est certo e no se importa com o trabalho quepossa dar. E nem vai sequer refletir se justo ou in

    justo aquilo que mandou. por isso que quem serve

    d i i j i

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    Mercrio (a parte): O mais acertado era ser eu aqueixar-me deste modo da servido sempre fui livre,exceto hoje. Mas a ele j o pai o fez escravo; nasceuservindo, e ainda se queixa. Mas realmente s souescravo de nome.

    Ssia. O que eu pensava ao chegar era dar graas aosdeuses, era mostrar-lhes alguma gratido pelos favores que me fizeram. Por Plux! Se eles tencionassemrecompensar-me pelos meus mritos com certeza arranjariam algum para me partir a cara chegada:de fato, sempre fui ingrato, nunca dei importncia aobem que me fizeram.

    Mercrio ( parte): Este faz o que no costume:sabe o que merece.

    Ssia: Aconteceu aquilo que eu no esperava, nem esperou nenhum dos nossos patrcios: voltar so esalvo nossa terra. O exrcito regressa vitorioso, depois de derrotado o inimigo, depois de terminadaesta enorme guerra e de destruir os adversrios, quetinham causado tantos desastres ao povo tebano. Acidade foi vencida e tomada de assalto pelo mpeto,pelo valor dos nossos soldados sob o comando e aguia de meu amo, Anfitrio. Distribuiu aos seus concidados os despojos, as terras, e o cereal. E garantiuo seu trono a Creonte, rei de Tebas. Mesmo do portomandou-me a casa, sua frente, para anunciar tudoisso mulher, a forma por que ele salvou o Estado

    com o seu comando, as suas ordens, a sua guia. E euagora estou a pensar de que maneira lho hei de dizerquando chegar l. Se eu disser mentiras, no procederei seno segundo o meu costume. Quando elescombatiam com toda a coragem, fugia eu o mais quepodia e no entanto tenho de fingir que estive l econtar-lhe o que ouvi. Mas o que eu desejo meditar ass comigo de que modo e com que palavras me

    convm mentir; o que eu vou fazer falar assim.

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    lor, e fere com o ferro; passam os dardos, reboa o cucom o clamor dos homens; forma-se uma nuvem como seu flego, o seu bafo; caem prostrados pela violncia das feridas e dos encontros. Finalmente, comoera nossa vontade, o nosso exrcito sai vencedor; os

    inimigos caem em grande nmero, e os nossos selanam ao ataque. Vencemos pela nossa coragemterrvel. Todavia, ningum se pe em fuga, ningumrecua do seu lugar, mas ali combate; prefere morrer arecuar um passo; cada um fica jazendo no lugar emque estivera e morre no seu posto. Logo que Anfitrio, meu amo, viu tudo isto, imediatamente mandou a cavalaria atacar pela direita. Os cavaleiros

    obedecem logo e com grande clamor, com violentompeto, voam pela direita e derrotam, destroem comtoda a justia as injustas tropas inimigas.

    Mercrio ( parte): At agora ainda ele no dissementira nenhuma: eu e meu pai estvamos l, enquanto se combatia.

    Ssia: Os inimigos pem-se ento em fuga, o que aumenta o ardor dos nossos; os telboas que fugiam ficam com os corpos cobertos de dardos e o prprio

    Anfitrio matou com suas mos el-rei Ptrela.Combateu-se desde manh at noite, coisa que melembro perfeitamente porque nesse dia no jantei.Por fim, a noite chegou e com sua interveno decidiu o combate. No dia seguinte, vieram os chefes

    inimigos, da cidade para o acampamento para falarconosco; vinham chorando e, erguendo as mos, pediam que lhes perdossemos os seus erros. E todoseles se entregam, com os seus bens, com os seus deuses, com a cidade e com os filhos, ao arbtrio e vontade do povo tebano. Depois foi entregue a meu amo,

    Anfitrio, por causa de sua coragem, uma taa deouro por onde o rei Ptrela costumava beber. isto o

    que eu vou dizer senhora. E agora tenho de cumprir as ordens de meu amo e de entrar em casa.

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    Ssia ( parte): Do que eu estou com medo de terque mudar de nome e passar de Ssia a Quinto.1 Elegaba-se de ter feito adormecer quatro homens! Estoucom muito receio de ir aumentar o nmero!

    Mercrio (na atitude de quem se prepara para bater):Ol! Vamos embora! Toca a receb-lo!

    Ssia ( parte): J est a arregaar-se, j est apreparar-se!

    Mercrio

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    Ssia ( parte): Ento este homem no se vai pr atrabalhar em mim? Quer fazer-me outra cara...!

    Mercrio ( parte): Cara em que tu bateres a jeito,tem de ficar logo sem ossos!

    Ssia ( parte): Olha agora! Est pensando em tirar-

    me os ossos, como se eu fosse uma moria! Oxal estivesse bem longe quem assim desossa gente! Se eleme v, estou perdido!

    Mercrio( parte): Sinto o cheiro dum desgraado!

    Ssia( parte): Ser que eu deitei algum fedor?

    Mercrio: Acho que no deve estar longe. (Com ironiaameaadora:) E j esteve longe...

    Ssia(parte): Mas este homem adivinha!

    Mercrio(parte): At as mos j mexem!

    Ssia ( parte): Pois se as vais exercitar em mim, omelhor era amans-las primeiro na parede.

    Mercrio ( parte): Houve uma voz que voou at aosmeus ouvidos.

    Ssia ( parte): Ai que pena que foi no lhe ter cortado as asas; tenho voz de pssaro!

    Mercrio ( parte): Parece que este homem veio pro

    curar carga para o burro.Ssia ( parte): Mas eu no tenho burro nenhum!

    Mercrio l parte): Pois vai levar uma carga de socos!

    Ssia ( parte): Estou cansado do navio que metrouxe aqui; ainda sinto o enjo. Mal posso andar.

    Como possvel que ainda me queiram carregar.

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    Mercrio ( parte): No sei quem anda a falar poraqui.

    Ssia ( parte): Estou salvo. Ele no me v. Julga queanda a falar o No-sei-quem. Ora, eu chamo-me S

    sia.Mercrio ( parte): Parece que a voz me chegou

    agora da direita.

    Ssia ( parte): Se a voz lhe chegou da direita, l mevai ele chegar a mim em vez de voz.

    Mercrio: Ora muito bem, aqui vem ele.

    Ssia ( parte): Estou cheio de medo, estou entorpecido de todo. Se algum me perguntasse eu nem poderia dizer em que lugar estou da terra; e ai de mim, tanto o medo que nem me posso mexer! L morrem

    juntos Ssia e os recados do amo! Mas o que tenhode fazer de lhe replicar com coragem; talvez eu lhe

    parea bastante forte para no me pr as mos.

    Mercrio: Para onde vais tu, que assim levas Vulca-no2 metido num chifre?

    Ssia: Que queres tu que andas aos socos a tirar ossosda cara das pessoas?

    Mercrio: Tu s escravo ou homem livre?

    Ssia: Souaquilo que me apetece.

    Mercrio: Isso mesmo assim?

    Ssia: mesmo assim.

    Mercrio: Ento, apanhas.

    2) Vulcano: deus do fogo e dos trabalhos de forja.

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    Mercrio: que se eu pego num pau, no irs por teup. Vo ter que te levar.

    Ssia: Mas se eu digo que perteno gente desta casa!

    Mercrio: Olha, se no queres apanhar pancada, omelhor ires-te j embora.

    Ssia: Mas tu no me queres deixar entrar em casa,quando eu venho assim de to longe?

    Mercrio: Ser que esta a tua casa?

    Ssia: Claro que .

    Mercrio: Ento quem teu amo?

    Ssia: Anfitrio, que est comandando as legies te-banas e que marido de Alcmena.

    Mercrio: O que que tu dizes? E tu? Que nome

    tens?

    Ssia: Os tebanos chamam-me Ssia e meu paichamava-se Davo.

    Mercrio: Pois tu hoje vens ao encontro da desgraa,com essas tuas mentiras audaciosas e essas falsidades mal alinhavadas.

    Ssia: Com o que eu venho alinhavado no com asmentiras. com as tnicas.

    Mercrio: Vs como ests a mentir. Tu no vens comas tnicas. Vens com os ps.

    Ssia: L isso verdade.

    Mercrio: Ento agora vais apanhar pancada porcausa dessa mentira.

    Ssia: Mas eu no quero, por Plux!

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    Mercrio: Mas tu dizias que eras Ssia e que perten-cias a Anfitrio.

    Ssia: Foi engano. O que eu queria dizer que era umscio de Anfitrio.

    Mercrio: Eu bem sabia que no tnhamos nenhumescravo chamado Ssia a no ser eu. Tu no estavasem teu perfeito juzo.

    Ssia ( parte): Oxal no o estivessem tambm astuas mos.

    Mercrio: Eu sou o Ssia que tu h bocado dizias ser

    tu.

    Ssia: Por favor, deixa-me falar em paz e no me batas.

    Mercrio: Ento, se queres falar, vamos fazer umastrguas.

    Ssia: Eu s falo depois de concluda a paz, porque tutens mais fora do que eu.

    Mercrio: Ento dize l o que queres. Eu no te faomal.

    Ssia: Posso confiar na tua lealdade?

    Mercrio: Podes.Ssia: E se me enganas?

    Mercrio: Ento oxal Mercrio fique irritado comSsia!

    Ssia: Ento toma cuidado. Olha que eu agora posso

    falar do que quiser. Eu sou Ssia, escravo de Anfitrio.

    Mercrio: O qu, outra vez?

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    Ssia: Eu fiz a paz, eu fiz um tratado, estou a dizer averdade.

    Mercrio: Olha que apanhas!

    Ssia: Podes fazer o que quiseres, visto que tens maisfora. Mas seja o que for que tu faas, por Hrcules,

    j no me calo.

    Mercrio: Tu, enquanto estiveres vivo, no conseguesque eu no seja Ssia.

    Ssia: E tu, por Plux, tambm nunca me impedirsque eu pertena minha casa. No h nenhum outroescravo a no ser eu que se chame Ssia e que tenha

    ido para a guerra, juntamente com Anfitrio.Mercrio: Este homem no est bom da cabea.

    Ssia: O defeito que me atribuis a mim s tu quem otens. Ora esta, ento eu no sou Ssia, o escravode Anfitrio? No foi esta noite que chegou do portoPrsico o navio que me trouxe? No foi meu amoquem me enviou para aqui? No estou eu diante de

    nossa casa? No tenho eu uma lanterna na mo?No sou eu quem est a falar? No estou acordado?No foi a mim que este homem deu socos? Por Hrcules, foi o que ele fez, que ainda me doem os queixos. Mas para que estou eu a hesitar? Por que noentro j em nossa casa?

    Mercrio: O qu? Em vossa casa?

    Ssia: Pois claro.

    Mercrio: Tudo aquilo que disseste mentira: sou euque sou Ssia, escravo de Anfitrio. Foi esta noiteque saiu do porto Prsico o nosso navio; tomamos deassalto a cidade em que reinou el-rei Ptrela, vencemos em batalha as legies dos telboas e foi o prprio Anfitrio quem matou no combate el-rei Ptrela.

    Ssia: Eu no creio em mim quando o ouo dizer estascoisas! que ele realmente sabe tudo o que se pas

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    sou como se l tivesse estado. Mas ouve l, que foidado pelos telboas a Anfitrio?

    Mercrio: Uma taa de ouro por onde costumava beber el-rei Ptrela.

    Ssia: A est! E onde est essa taa?

    Mercrio: Num cofrezinho selado com o sinete de Anfitrio.

    Ssia: E dize l, que sinete esse?

    Mercrio: O sol nascente com a sua quadriga. Julgasque me apanhas, assassino?

    Ssia ( parte): Venceu na discusso. O que eu tenho que procurar outro nome. No sei onde que ele viutudo isto. Mas agora que eu o vou atrapalhar. Porque com certeza ele no vai poder dizer o que eu fizquando estava sozinho, metido na tenda, sem maisningum. (Alto.) Se tu s Ssia, dize l o que quefizeste na tenda, quando as legies combatiam comtoda a violncia? Se disseres, dou-me por vencido.

    Mercrio: Havia uma bilha de vinho e eu enchi umagarrafa.

    Ssia: Deu logo certo.

    Mercrio: E eu bebi-o puro, tal como o deu a cepa.

    Ssia: J no nada de espantar se ele no estava escondido na garrafa. Aconteceu mesmo isso. Que eubebi o vinho e o bebi puro.

    Mercrio: Ento, no verdade que j te convencique no s Ssia?

    Ssia: Ento tu queres dizer que eu no sou eu?Mercrio: Que hei de eu fazer? Terei por acaso de ne

    gar que eu sou eu?

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    Ssia: Ento prefiro ir-me embora. deuses imortais,no quereis ajudar-me? Onde que eu morri?Quando que eu me transformei? Onde que euperdi a minha cara? Ser que eu me deixei aqui poresquecimento? Efetivamente este tem a fisionomia

    que eu possua dantes. Fazem-me enquanto vivo oque nunca ningum me far depois de morto.3 Vouao porto, vou contar a meu amo o que sucedeu poraqui. A no ser que ele tambm me desconhea, oque Jpiter queira. Vou j hoje rapar a cabea parausar o bon da liberdade.4(Sai.)

    MERCRIO

    Hoje tudo me correu bem e com felicidade. Afasteida porta o incmodo que podia ser maior, de modoque pode meu Pai abra-la com toda a segurana. Eo outro, quando chegar agora junto de Anfitrio seuamo, contar que o afastou da porta um escravochamado Ssia. Anfitrio julgar que ele lhe mente e

    vai supor que ele no veio at aqui como lhe fora ordenado. Vou ench-los a eles, e a toda a famlia de

    Anfitrio, de confuses e de enganos, at que meuPai se farte daquela de quem gosta. Por fim, todosho de saber de que se trata e Jpiter levar Alcmena antiga boa unio com seu esposo. Ao princpio Anfitrio levantar as turbas contra sua esposa e

    acus-la- de traio, mas meu Pai h de acalmartodo esse tumulto. Alcmena, o que ainda vos nodisse, ter dois filhos gmeos; um dos meninos nascer dez meses depois de ter sido gerado, e outro, noseu stimo ms. Um deles de Anfitrio, o outro de

    3) Era costume, nas exquias antigas, exibir as efgies dosantepassados do morto, quando este era personagem de certasituao social. Ssia, evidentemente, no podia esperar taldistino depois de morto.

    4) O bon da liberdade: o barrete fegio que usavam os escravos libertos.

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    Jpiter.5 O Pai do menino menor o maior, o domaior o menor. Percebeis agora o que h? Mas meuPai tratou de que Alcmena, para que no haja desonra alguma, tenha apenas um parto e que com ums trabalho se livre das duas dores, de maneira a no

    ficar com suspeitas de infidelidade e a no haverqualquer suspeita clandestina. No entanto, como jdisse h bocado, Anfitrio ficar sabendo tudo. E depois? Depois, ningum far nenhuma censura a Alcmena, visto que no justo que um deus deixe cairsobre um mortal o seu delrio, a sua culpa. Mas vouparar de falar: a porta fez barulho, aqui vem o falsoAnfitrio com Alcmena, sua mulher de emprstimo.

    JPITER, ALCMENA, MERCRIO

    Jpiter: Ento adeus, Alcmena. Trata bem das nossascoisas como tens feito. Mas poupa-te, por favor; bemvs que j ests quase no fim. Eu tenho de me ir embora; mas tu trata bem do menino quando ele nascer.

    Alcmena: Ento que negcio urgente te obriga assim,meu querido, a ires-te embora to depressa?

    Jpiter: Por Plux, no porque esteja aborrecidocontigo ou com a casa; mas quando o comandantesupremo no est com o seu exrcito mais depressase faz aquilo que no devia ser feito do que aquilo

    que tinha de se fazer.Mercrio ( parte): No h dvida de que meu Pai

    um refinado manhoso. Vede s como ele sabe amimar a mulher!

    Alcmena: Por Castor! Bem vejo o caso que fazes de tuamulher!

    5) O filho de Jpiter ser Hrcules, o heri que destruir

    os monstros do mundo.

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    Jpiter: E no consideras bastante no haver nenhuma outra mulher de quem eu goste tanto comode ti?

    Mercrio ( parte): Por Plux!, se a outra soubesse

    em que tu andas ocupado, eu te garanto que prefe-rias ser Anfitrio a seres Jpiter!

    Alcmena: Tudo isso gostaria eu mais de ter na realidade do que na lembrana. Vais-te embora ainda antes de ter ficado quente o teu lugar na cama. Viesteontem a meio da noite e agora vais-te embora. Achasbem uma coisa destas?

    Mercrio ( parte): Eu vou l ter com eles para ajudar meu pai. (Alto.) Por Plux! eu acho que nuncahouve nenhum mortal que amasse sua esposa toardentemente como ele te ama a ti.

    Jpiter: Ah! bandido, julgas que no te conheo?Sai-me j da vista! Que tens tu que ver com isto?

    Meu pateta! Olha que eu pego neste pau...Alcmena(segurando-o): Ah, isso no!

    Jpiter: Eu que te oua!...

    Mercrio ( parte): Fui fazer de parasito e no me sanada bem.

    Jpiter: Quanto ao que estavas dizendo, minha mulher, acho que no est bem zangares-te comigo. Euvim s escondidas do exrcito; faltei por ti ao meudever para que fosses a primeira a saber de mim deque maneira eu defendi o Estado. Tudo isso te contei; ora, no o faria se no gostasse imenso de ti.

    Mercrio (a parte): No verdade? o que eu disse?Olhai os carinhos com que ele est!

    Jpiter: Ora, para que o exrcito no d por nada, te-

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    Mercrio:Vamos, Anfitrio. J vem luzindo o dia.

    Jpiter: Vai tu frente, Ssia. Eu vou j. (A Alcmena.)Queres mais alguma coisa?

    Alcmena: Quero: que venhas depressa.

    Jpiter: Muito bem. Virei antes do que tu esperas.Podes ficar sossegada. (Alcmena sai.) E agora, noite, que tanto demorei, dou-te licena para que cedasao dia, e para que deixes vir aos mortais a clara luzresplandecente; e como esta noite foi mais longa quea anterior, tanto mais curto farei que seja o dia, para

    que haja a mesma diferena e o dia ceda noite. Eagora, vou seguir Mercrio. (Sai.)

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    ANFITRIO, SSIA

    Anfitrio:Vamos, vem atrs de mim.

    Ssia: C vou e mesmo atrs.

    Anfitrio:Acho que o que tu s um grande patife.

    Ssia: Mas por qu?

    Anfitrio: Porque me vens contar coisas que noexistem, nunca existiram, nem ho de existir.

    Ssia: Por Ceres! Sempre arranjas as coisas de maneira que no acreditas em ningum.

    Anfitrio: O qu? Como isso? O que eu vou fazer-te,por Hrcules, meu safado, cortar-te essa lngua safada.

    Ssia: Como te perteno, podes fazer-me aquilo quemuito bem entenderes. Agora, o que tu no podes obrigar-me a dizer que no aconteceu o que realmente aconteceu.

    Anfitrio: Ah! meu grandssimo patife! Ainda ousasdizer-me o mesmo? Que ests em casa quando afinal

    i?

    ATO II

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    Ssia:Verdade pura.

    Anfitrio: Vais ver o que os deuses te daro hoje, e oque te darei eu tambm.

    Ssia: uma coisa que est na tua mo. Bem sabes

    que te perteno.

    Anfitrio: O que, meu canalha, tu ousas brincar comteu senhor, tu ousas dizer uma coisa dessas? Como que pode suceder uma coisa que nunca ningum viu,estar o mesmo homem ao mesmo tempo em dois lugares?

    Ssia: No entanto, tudo exatamente como eu digo.

    Anfitrio: Jpiter te confunda!

    Ssia: Mas, realmente, meu amo, que mal que eu tefiz?

    Anfitrio: Ainda o perguntas, meu sem-vergonha? Tu,

    que te pes a brincar comigo?

    Ssia: Realmente, se assim fosse, terias razo em estarcontra mim. Mas no estou a mentir, digo apenas oque sucedeu.

    Anfitrio: O que eu acho que este homem est bbado.Ssia: Oxal assim fosse!

    Anfitrio: Isso desejar o que j tens.

    Ssia: Eu?

    Anfitrio: Tu, claro! Onde que foste beber?

    Ssia: Eu no bebi em parte nenhuma!

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    enquanto estivemos na guerra; tirou-me a cara juntamente com o nome: leite no mais igual a leitedo que ele igual a mim. Quando me mandaste casa, do porto, antes de nascer o dia...

    Anfitrio

    : E ento?Ssia: J eu l estava, diante de casa, muito antes de

    chegar.

    Anfitrio: Qual histria, meu safado! Ser que tu ests bom da cabea?

    Ssia: Pois no vs que estou?

    Anfitrio: No sei que passe de mos lhe fizeram depois que se afastou de mim.

    Ssia: isso mesmo. Foi um passe de mos grande!

    Anfitrio: Quem que te bateu?

    Ssia: Quem me bateu? Fui eu que estou l em casa!

    Anfitrio: V l se no me respondes seno ao que eute perguntar! O que eu quero que tu me digas antesde mais nada, quem esse Ssia.

    Ssia: este teu escravo.

    Anfitrio: Olha: com um, at eu tenho j mais do quequero! E depois que nasci nunca tive outro escravoSsia a no seres tu.

    Ssia: Pois eu, Anfitrio, o que te digo o seguinte:vers como encontras em casa um outro escravo teu,chamado Ssia, alm de mim, e filho de Davo. Tem omesmo pai que eu, a mesma fisionomia, a mesmaidade. E no h mais nada a dizer: o teu Ssiatornou-se duplo.

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    Ssia:V-lo, a ele, ao teu escravo Ssia.

    Anfitrio: Vem comigo. O que eu tenho que investigar j isto. E trata de que desembarquem j do naviotudo quanto ordenei.

    Ssia: Bem me lembro. E serei diligente em cumprirtodas as tuas ordens: no engoli nem vinho, nem oque tu mandaste.

    Anfitrio: Queiram os deuses que no haja realidadenenhuma em tudo aquilo de que falaste.

    ALCMENA, ANFITRIO, SSIA, TESSALA

    Alcmena (sem ver Anfitrio nem Ssia): Realmente hpoucos prazeres na vida e no passar do tempo emcomparao com tudo o que molesto. Mas este odestino dos homens e foi esta a vontade dos deuses,

    que a tristeza venha sempre como companheira doprazer; e se algum recebeu alguma coisa de bom,logo lhe vem maior incmodo e maior mal. istoexatamente o que eu experimento agora, isto o queeu sei de mim; tive algum prazer enquanto me foipossvel estar com meu esposo; e foi s uma noite, lse foi ele de repente, antes que rompesse o dia. Eagora vejo-me aqui sozinha porque ele est ausente,

    o nico homem de quem eu gosto. Afinal mais mecustou a sua partida do que me deu prazer a suachegada. Mas o que no entanto me d gosto ele tervencido na guerra e voltar para casa coberto de glria; sempre uma consolao. Pode estar ausente:mas que volte cheio de honras; sofrerei, suportarei asua ausncia com nimo forte e corajoso, se me forconcedido como recompensa que meu esposo volte

    da guerra glorioso e vencedor; acharei que isso mebasta. O valor a melhor das qualidades; o valor

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    est acima de todas as coisas; por ele que se conservam e se guardam a liberdade, a salvao, a vida,os bens, os pais, a ptria e os filhos; o valor tudocontm em si: quem tem valor consigo tem tudo oque bom.

    Anfitrio (sem perceber Alcmena): Por Plux! creioque minha mulher deseja bem que eu volte casa;ela gosta de mim, eu gosto dela. E voltar com aguerra ganha e tendo vencido os inimigos que ningum julgava que fosse possvel derrotar! E ns osvencemos logo ao primeiro ataque por minha inspirao e sob o meu comando. Tenho a certeza de que

    ela deseja imenso que eu regresse.Ssia: E no achas que a minha amiga tambm deseja

    muito o meu regresso?

    Alcmena (percebendo Anfitrio): Mas este meu marido!

    Anfitrio (a Ssia, sem ver Alcmena): Vem comigopor aqui.

    Alcmena: Mas por que que ele volta? Dizia que tinhatanta pressa de ir embora! Ou ser que ele vemexperimentar-me? Mas se ele quer saber se eu realmente estou saudosa por ele ter partido, por Castor,ver bem que com toda a alegria que eu o recebo

    em casa.

    Ssia (observando Alcmena): Anfitrio, o melhor voltarmos para o navio.

    Anfitrio: Mas por qu?

    Ssia: Porque em casa no h ningum que nos d dejantar, quando entrarmos.

    Anfitrio: Mas por que que isso te veio idia?

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    anfitrio: E tenho muito gosto em ver que a gravidezvai bem e que ests perfeitamente cheia.

    Alcmena: Por Castor! Queres dizer-me por que mesadas assim com essas graas e por que te diriges amim como se me no tivesses visto h pouco, como

    se agora voltasses casa, depois da guerra? Por que que te diriges a mim como se me no tivesses vistoh muito tempo?

    anfitrio: Mas que realmente eu no te vejo senoagora.

    Alcmena: Mas por que que tu negas?

    anfitrio: Porque aprendi a dizer a verdade.

    Alcmena: E de fato no se deve desaprender aquiloque se aprendeu. Mas tu ests a experimentar-mesobre o que eu sinto? Por que que voltaste to depressa? Foi algum mau agouro que te deteve? Mu

    dou o tempo? Por que que no foste ter com oexrcito como dizias h bocado?

    anfitrio: H bocado? Mas h bocado o qu?

    Alcmena: Ests a experimentar-me... H bocado, hpouco.

    anfitrio: O que eu peo, por favor, que me digas oque houve h bocado.

    Alcmena: Mas que que tu pensas? Julgas que estou aenganar quem me engana, quem me diz que chegouagora mesmo quando h bocado se foi embora?

    anfitrio: Esta mulher s diz loucuras.

    ssia: Espera um bocadinho a ver se ela acaba dedormir.

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    anfitrio: Ela sonha acordada.

    Alcmena: Por Castor! Eu estou acordada e acordadaque falo daquilo que sucedeu. H bocado, antes deromper o dia, vi a vs ambos: tu e ele.

    Anfitrio: Em que lugar?

    Alcmena:Aqui. Na casa em que tu moras.

    Anfitrio: Isso nunca sucedeu!

    ssia (ironicamente): Por que que no te calas? Porque que ns no teramos vindo a dormir do porto?

    Anfitrio: Ento tu ests de acordo com ela?

    ssia: Que queres tu que se faa? No sabes que sequiseres opor-te a uma bacante furiosa ainda a tornas mais louca e apanhas muito mais pancada? Assim se concordares logo, liquidas tudo com umapancada.

    anfitrio: Mas, por Plux! Eu hei de censur-la porno ter querido saudar-me hoje como devia, quandoeu voltava casa.

    ssia: Isso espertar o lume

    Anfitrio (a Ssia): Cala-te. (Voltando-se para a es

    posa.) Alcmena, s quero perguntar-te uma coisa.

    Alcmena: O que que tu queres perguntar-me? Pergunta l.

    Anfitrio: O que tu tens um ataque de loucura ouum ataque de soberba?

    Alcmena: Mas como que tu pudeste imaginar umacoisa dessas?

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    anfitrio: Porque tu costumavas dantes cumprimentar-me quando eu chegava e vir ao meu encontrocomo fazem com seus maridos todas as mulheres quetm bons costumes. Mas hoje, ao chegar, verifiqueique tinhas perdido o hbito.

    Alcmena: Por Castor! Mas eu saudei-te quando tu che-gaste ontem e perguntei se estavas de sade,peguei-te na mo e dei-te um beijo.

    ssia: Tu saudaste-o ontem a ele?

    Alcmena: E a ti tambm, Ssia.

    ssia: Anfitrio, eu tinha esperana de que ela te pariria um filho. Mas do que ela est grvida no dummenino.

    anfitrio: Ento de que ?

    ssia: duma carga de loucura.

    Alcmena: Mas eu estou boa. E o que peo aos deuses que d luz meu filho com felicidade. O que ele devia fazer era castigar-te bem para que tu, meu agou-reiro, recebesses o que mereces pelos teus agouros.

    ssia: O qu? A quem est grvida que se tem dedar castanha para ir roendo se por acaso comear asentir-se mal.

    Anfitrio: Tu ontem viste-me aqui?

    Alcmena:Vi, j disse. Queres que repita dez vezes?

    Anfitrio: Talvez em sonhos.

    Alcmena: Nada disso; eu estava acordada e tu estavasacordado.

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    Ssia: Ai! de ti! que o que tens a dizer, se pensasdireitinho.

    Alcmena: j a segunda vez que me falas sem considerao nenhuma. Como que tu o deixas?

    anfitrio: (a Ssia): V l se te calas. (A Alcmena.)Mas dize-me uma coisa: eu fui hoje embora ao romper da manh?

    Alcmena: Quem me havia de ter contado a no serestu o que se passou na batalha?

    anfitrio: Tambm sabes disso?

    Alcmena: Pois se foi a ti que eu ouvi... Que tomaste deassalto uma cidade enorme, que mataste tu prprio orei Ptrela.

    anfitrio: Eu disse isso?

    Alcmena: Tu mesmo, e diante aqui de Ssia.

    Anfitriola Ssia): Tu ouviste-me contar isto hoje?

    ssia: Como que eu havia de ter ouvido?

    anfitrio: Pergunta-lhe a ela!

    ssia: Na minha presena, no; pelo menos que eusaiba.

    Alcmena: realmente muito de admirar que ele te nocontradiga...

    anfitrio: Olha, Ssia, olha c para mim.

    ssia: Estou olhando.

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    anfitrio: Eu quero que tu digas a verdade. Noquero que digas s mesmo que eu. Tu ouviste-mecontar-lhe hoje o que ela afirma?

    ssia: Por Plux! Ser que tu tambm ests doidopara me vires perguntar uma coisa dessas? a primeira vez que eu a vejo, e contigo.

    anfitrio: E ento agora, mulher, ouves o que ele diz?

    Alcmena: Ouo perfeitamente: est mentindo.

    anfitrio: Tu ento no acreditas nele nem em teumarido.

    Alcmena: O que acontece que acredito muito maisem mim e sei que o que sucedeu foi exatamentecomo eu digo.

    anfitrio: Ento tu dizes que eu ontem cheguei aqui?

    Alcmena: E tu negas teres ido hoje embora?

    anfitrio: Nego mesmo e digo que agora a primeiravez que eu venho a casa.

    Alcmena: Por favor! Tambm negars que me destehoje de presente uma taa de ouro e me disseste queta deram por l?

    anfitrio: Por Plux! No sei nada e no disse nada;o que eu tinha e ainda tenho era idia de ta oferecer.Mas quem que te disse isso?

    Alcmena: Ouvi de tua prpria boca; e foi de tua prpria mo que eu recebi a taa.

    anfitrio: Est bom, est bom... Muito me admira,

    Ssia, que ela saiba que fui presenteado com essataa de ouro. O que deve ter havido que tu viestepor c e lhe contaste tudo.

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    anfitrio: supremo Jpiter! Que vejo eu! exatamente a taa! Estou perdido! Ssia!

    ssia: Por Plux! Ou esta mulher uma grande feiticeira ou ento a taa tem que estar a dentro. (Mos

    trando o cofre.)anfitrio:Vamos, abre o cofre.

    Ssia: Para que que hei de abrir? O selo est perfeito. Sim senhor, bonita coisa! Tu pariste um Anfitrioe eu pari outro Ssia! E agora se a taa pariu umataa, ficamos todos a dobrar!

    anfitrio: O melhor abrir e ver.

    ssia: Faze favor de ver como est o sinete, para quedepois no me venhas lanar as culpas.

    anfitrio: Abre l. O que ela quer pr-nos doidos atodos com as suas palavras.

    Alcmena: Mas donde teria vindo a taa seno de ti quema deste de presente?

    anfitrio: Tenho que averiguar isto.

    Ssia(abrindo o cofre): Jpiter! Jpiter!

    anfitrio: O que que tu tens?!

    ssia: No cofre no h taa nenhuma!

    anfitrio: Que ouo eu?

    ssia: O que verdade.

    anfitrio: Pois se ela no aparece, vais j para ostormentos.

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    Alcmena: Mas se ela est aqui!

    anfitrio(a Alcmena): Quem que ta deu?

    Alcmena:Aquele que mo pergunta.

    ssia (a Anfitrio): O que tu queres apanhar-me;vieste s escondidas do navio e por outro caminho.Tiraste dai a taa, deste-lha e tornaste a pr o sinete.

    anfitrio: Ai! de mim! Tu queres ajud-la a ficar doida? (A Alcmena.) Dizes que viemos c ontem?

    Alcmena: Digo que vieste e que me saudaste e eu a ti eque te dei um beijo.

    anfitrio: J no me agrada nada essa histria de seprincipiar com um beijo; mas vamos l, continua.

    Alcmena: Tomaste banho.

    anfitrio: E ento? Depois de tomar banho?

    Alcmena: Deitaste-te mesa.

    ssia: Bravo! timo! Agora pergunta mais.

    Anfitrio: No interrompas. (A Alcmena.) Continua oque ias contando.

    Alcmena: Foi posta a ceia na mesa e tu comeste comigo, e eu deitei-me contigo.

    anfitrio: No mesmo leito?

    Alcmena: No mesmo leito.

    Ssia: Hum! No lhe agrada a festa!

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    anfitrio: Mas deixa-a explicar-se. Bom; e depois decomermos?

    Alcmena: Tu disseste que estavas com sono, levantou-se a mesa e fomos deitar-nos.

    anfitrio: Onde que tu te deitaste?

    Alcmena: No quarto, na mesma cama em que tu estavas.

    anfitrio: Ai que deste cabo de mim!

    ssia: O que que tu tens?

    anfitrio: Ela matou-me.

    Alcmena: Mas, por favor, que isso?

    anfitrio: Nem fales comigo!

    ssia: Mas que que tu tens?

    anfitrio: Ai de mim! que estou perdido! Algum adesonrou durante a minha ausncia!

    Alcmena: Mas o qu? Por Castor! Por que que tu dizes uma coisa dessas, meu esposo?

    anfitrio: Eu, esposo? No venhas, cheia de falsidade,

    dar-me um falso nome.

    ssia ( parte): Ento naturalmente isso: ele passade esposo a esposa.

    Alcmena: Mas que fiz eu para que me digam coisasdestas!

    anfitrio: Ento vens contar-me o que fazes e aindame perguntas qual o teu crime?

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    Alcmena: Juro pelo reino do Supremo Rei e pela Mede Famlias que Juno,7 a qual devo respeitar e venerar acima de tudo, que nunca houve nenhummortal alm de ti que me tivesse tocado no corpo ecom o qual eu tivesse cometido qualquer ao ver

    gonhosa.anfitrio: Oxal isso fosse verdade.

    Alcmena: O que eu digo verdade. Mas tudo intilporque tu no queres acreditar.

    anfitrio: s mulher, tens audcia nas juras.

    Alcmena: Quem no cometeu nenhum crime deve seraudaz, deve defender-se com confiana e comveemncia.

    anfitrio: Bastante audaz.

    Alcmena: Como convm a quem tem vergonha.

    anfitrio: Astuas provas so s palavras.

    Alcmena: Eu acho que o meu dote no foi aquilo a quese chama dote. Foi a honestidade, foi o pudor, foi apaixo refreada,