11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimensões no campo da saude mental e atenção psico-social (10cps)

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    1/10

    IirI[tr

    Jr,[I!IiI}t

    f:[ll

    c:&nrvaj~/~ J~OJ_l ~ 'J'''-y-l._Q_,~ Q _ _ ~U

    - V A . - \ . ~ ~ < - k ' - C~-U_0

    I4 / E S T R A T E G I A S E D I r ~ E N S O E S D O C A l v J P O O AI S A O O E f v t E N T A L E ATEN ~AO P S I C O S S O C I A LI

    Vimos que 0 modelo psrquiatrico, nascido do modelobiornedico, teve como uma de suas caracreristrcas orinci-pals um sistema 'rerapeutico ' baseado na hospitaliz acao.Como este modele pressupoe urn paClcnte portador de umdisrurbio que the rouba a Razio, um msario, msensato, inca-paz, irresponsavel (inclusrve a leglsiayio considera 0 Ioucoirresponsavel CIvil), 0 sistema hospitalar psiquiatnco se apro-xima muito das insnruicoes carcerarias, correcioriais, peEl-tenciarias. Portanro, urn Sistema fundado na vlgilinCla, noco ntro le, na disciplina. E como nao poderia deixar de ser,urn SIStema com dispo siuvos de purucao e repressao. A es terespelto, podemos constatar no arugo 32 dos estatutos doHospicio de Pedro II (Decreta 1.077, de 4 - de dezernbro de1852) os rneios "de repressao perrmudos para obngar o saLienados a obediericra"

    1a - ..:-\privacao de VlSlI:1S, passelos e qualsquer OUITOSrecreios;2 - A dirmnuicao de alirnenros, dentro dos lirrutes prescrEos

    pelo respecU\TO Facultanvo;30 - A reclusao solirana, com a carna e as alimentos (l'_le 0respectl\-o Cliruco prescre"'iTer, nao excedendo a dots dias, cadavez que for aplicada:

    4 - 0 colete de forca, com reclusao au sem ela;

    !_ 61

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    2/10

    ifI iIIIifijifiIiI i:

    5 - Os banhos de ernborcacao, que so poderao ser empre-gados pela pnmerra vez na presenca do respectiyo Clinico,e nag subseqiientes na da pessoa e pelo tempo que de de-sIgilar.

    jarnais me esquec;:o da 111st6~ade uma mulher que foi presaem u_:nacela fo~te em u_mhospicio e l a E 0 1 esquecida, a tal pomoque faleceu, de tome e trw! Tarnanho era 0descaso que, sornentemU1.cosanos depots, seu COl-pO for encontrado, ja petrificado.A silhuera rnumificada mdicava 0 tame de sofnmento naquelamulher em posicao fetal, em complete abandono. Seu crime eraser loucal Cunosarnente a marca da silhueta nao sam com ne-nhurn produto de lirnpeza, nem mesmo com acidos, Ficou al icorr:o denuncia e gnto de dol'. Quando a direcao soube que anoncia estava correndo para fora do hospicio, mandou arrancaro pISO.Mas, antes que Ism ccorresse, consegUlmos fazer a foto-grana ~ a publicamos na reV1SI:a atrde em Debate, n. 13 (1981).

    Enfirn, se torna evidente que urn modele dessa natureza con-centra boa parte dos esforcos dos profissionais compromeu-dos com ~s ideais de mudanca no senudo de irnplantar urnprocesso etetrvarnenre disnnto do anterior, Talvez entao 001' estalffipenosa necessidade de supel'ar 0modele pSlquiamc~ e quernuiras vezes as uuciauvas de inovacao tenham se reduzido asimples reestruturacao de serVIC;:OS de assisrencia, num mO-I;'l111emOque Val do rnodelo biomedico asilar em direcao ao sistema desaude mental e arencao psicossocial. .~-\sgrandes experiencias de reforrnas psiquiatncas como pu-

    demos cons tatar, incorreram nesta limitacao, isto e, foram redu-zrdas a simples propostas de reforrnulacao de services. Em al-gumas delas, assisumos as tentatrvas de hurnanizar 0l~OSPltal,deintroduzir-lhe novas tecrucas e tratarnentos para transforrna-lo

    62 ]

    em insnnucao terapeunca- Em outras, vimos 0esforco de cnacaode services externos que minimizassem os efeitos noclYOS dohospital ou que evitassem as mternacoes, procurando fazer comque 0hospital fosse urn recurso utilizado somente emulnrno caso.Em ambos os cases, foram mudanc;:as restntas aos services quedommararn a atencao e a agenda dos prollsslOnrus e clil1.ge111:es.Assirn sendo, urn prlffierro grande desafio e poder superaresta VlSaOque reduz 0 processo a mera reestrururad.o de servi-cos, muito ernbora se mrne endenre que os mesrnos tenharn deser rarucalmenre transformados e os marucorruos superados. I\Iasesta rransformacao nao deve ser 0 objetrvo em 51, e 51.11'1conse-quencia de PL1...T1CiplOSesrrategras que lhes sao antenores.Como entao ultrapassar esta lirruracao? 'Vamos por partes!o pontO de paruda e cornecar a pensar 0 campo da saude

    mental e atencao psicossocral nao como urn modelo ou sistemafechado, mas 51.1n como urn. processo: urn processo que e SOC1?J:e urn processo social que e cornplexo. Esta e a proposta deFranco Rotelli, sucessor de Basaglia e uma das rnais llnporranresexpressoes da reforma iraliana (Rotelli et al., 1990).Quando falamos em processo pensamos em rnovtmento,

    em algo que caminha e se rransforma permanentemente. Ne:'Iecamlllhar vao surglndo novos elementos. novas siruacoes a se-rem enfreoradas. Novos elementos, novas siruacoes. pres5upoem.que existarn novos atores SOCIalS. com novos - e certamen teconflitantes - irrteresses, ideologias, visoes de mundo, concep-coes teoncas, religrosas, eucas, etrucas, de perrenclffien to de classesocial... Enfim, run processo social cornplexo se consnrui enquan-to enrrelac;:amento de climensoes simultaneas, que ora se alimen-tam, ora sao confliranres; que produzem pulsacoes, paradoxes.conrradicoes, consensos, rensoes.

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    3/10

    Apenas com 0mruito de possibilitar uma reflexao mars siste-maazada sobre este processo, com objetrvo exclusrvamente di-dauco, pode-se pensar em algumas destas dirnensoes (Figura 2).

    Para a definicao de uma l111ClaUVapoli tica ou social acredira-va-se que apenas 0 conhecimento produzido pela ciencia seriaplenamenre suficiente. Aspirava-se ate mesrno uma sociedadeplanejada e adrrunistrada de forma totalmente cientifica; este erao projeto de Augusro Comte que ficou identificado como 0rnais 1Il1portanre dos posm:nstas. 0esquema a seguu: talvez trans-rruta esta anrude em que a ac;:ao/intervencao sena deterrnmadaexclusrvamente por prmcipios e pressuposros cientif icos.

    Figura 2 - Dimensoes do processo social cornplexo

    Satide Mental e Arencao PS1COSSOClal

    Teorico-concerruat CTENCHtTccruco-assrsrcn CI JJ_\.(_\0 /INTER\ 'EN(_\O

    Arualmenre sabe-se que as coisas nao sao mats assirn. 0 -1 .0elaborar uma intervencao, urn progra...ma de saude para uma cornu-nidade, uma acao social au polinca qua1quer, os arores responsaveispela implementacao dessas acoes e/ou pro;'Tamas sabem que devecontemplar um conjunto de aspecros que, ernbora alheios a ciencia,inrerferem na formulaoio de suas estraregias. Sao aspectos de or-dern ideologica, de ordern polinca, de ordem euca ... Estes aspectossao emrecortados por questoes religiosas, culturais, morais ... Enfim!

    Vejarnos como ficana 0 esquema agora (que e sempre sern-pre insuficiente e sempre provisorio).

    juridrco-pcrlirica Socaocurrurnl

    Irucialrnenre, vejarnos algo sabre a dimensao teonco-concemial(ou episrerruca). Como nos refenrnos anrenorrnenre, as cienciasnaturais que fundamemaram a constmucao de urn saber psiquia-trrco so bre a loucura es tao em uma Imporrante Ease detransicao. 0pressuposto de gue a ciencia era um saber neutro,msuspeito, gue, se murudo de urn born rnetodo (a expenmenta-cao), produzma sornente a verdade, nada rnais que a verdade, janao e mars aceito unrversalmenre . ..i\.i estao vanos crenustas derenorne rnundial debatendo estas questoes como Ilva Progogme,Edgar Morm, Isabelle Stengel's, Fritjof Capra, Henrv Arlan,Umberto Maturana, Francisco Varella, Boavenu.u:a de Sousa Santos,e muitos outros.

    CIENCL\tIDEOLOGL\ --7 _\.(_3,O/INTER\~ENC;:_~O f- POLITIC\.r

    ETIC\.

    64 ] 65

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    4/10

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    5/10

    III

    Mas ninguem lhe atendia: a obsessao pelo pente sena urn merosintorna PS1COtlCO?ara que urna louca necessirana de urn peme?o transforrnana em uma arma? 0 Jogal.:la fora e pedina urnoutre, e mars outro, e outro amda? Com 0dorniruo da nocao dedoenca mental, uma simples necesstdade basica, mclusrve de au-tocuidado e autonorrua, pode ser enrendida como urn rnerosmtorna. Nada mars e do sujerto: rudo se refere a doencalOs autores da pSlqruarna nao assurnem, mas aAntipsiquiarria

    e a Psiquratria Dernocranca obngaram a pSlqUlama a abandonaro concerto de doenca mental na medida ern que provaram quenao contribuia em pratlcameme nada para entender e lidar comos sujeitos assun classificados: a resposta da pSlqruatl1.a foi cnarasilos psiquiamcos.Assun sendo, a pSlqllliltua passou a expenmenrar novas defiru-

    coes emars recentemente optou por adotar os termos 'transrornomental' (ern portugues e espanhol) e 'desordem mental' (em 111-g le s) . ~ \ legrsla

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    6/10

    I

    I!iIIIII

    direito e de novos dirertos para os sujeitos em sofnmento men-tal. Direrto ao trabalho, ao estudo, ao lazer, ao esporre, a cultura,enfirn, aos recursos que a sociedade oferece. ''De volta a cidade,senhor cidadao", diz 0poeta Paulo Mendes Campos.

    Urn passo decisrvo nesta direcao foi dado com a promulga-< ; : 1 0 da LeI 10.216 em 6 de abril de 2001. Embora 0 proJetooriginal tenha sido rejeitado, apos doze anos de tramrtacao, foiaprovado urn subsurunvo que dispce sobre "a protecao e osdireitos das pessoas portadoras de transtornos rnentais e redire-ciona 0modelo assistencial em saude mental", 0 testa da leiaprovada nao assegurou algumas das aspiracoes mats funda-mentals do proleto original, tais como a extincao progressivados marucomios. Mesmo assirn, revogou a arcaica legislacao de1934, que ainda estava em VIgor, e significou urn avanco consr-deravel no modelo as SIStencial. Ficou conhecida como a Le1 daReforma Psiquiatrica brasileira,

    Urn aspecta rnurro lffiportante no que diz respelto ao pro-cesso SOCial da reforma psiquiatnca em relacao it LeI 10.216/2001 e a inclusao do Minrsrerio Publico Estadual, que deve sercomunicado, no prazo de 72 horas, de codas as inrernacoes m-voluntanas, como pode ser observado no arugo 80

    POl' outro lado, enquanto a Ier nacronal era debanda, oito Ieisestaduais e muitas Iers muruopals foram aprovadas e provoca-ram 0 avanco do processo de reforma psiquiatnca no Brasil.Lrstam-se a segrnr as leis estaduais de reforma pstquiatnca.

    Minas Gerais - Le1 11.802 de 18 de janeiro de 1995. Parana - Let 11.189 de 9 de novernbro de 1995 D ISU1.CO Federal - LeI 975 de 12 de dezernbro de 1995. Espinto Santo - LeI 5.267 de 10 de seternbro de 1996.Mas, sabemos que falar de cidadania e direitos nao basta,

    como nao basta apenas aprovar leis, pOlS nao se dererrnina queas pessoas selarn cidadas e sujeitos de direito por decreto. ~-\construcao de cidadarua diz respelto a urn processo SOCIaLe, talqual nos refenrnos no campo da saude mental e arericao PSICOS-SOCl~ urn processo social COITlpleXO.~ preClso mudar rnentali -dades, mudar an tudes, rnudar relacoes SOCIalS.Ao longo de sua lustoria, todas as sociedades cnarn deterrru-

    nadas mterpretacoes sobre fates, pessoas e coisas. Todas procu-ram dar senndo a s coisas e sensacoes que veern, expenmentamou ternem. Estas interpretacoes e senudos se tornarn representa-coes coleuvas, pOlS passam a set, par urn processo natural, corn-partilhadas de uma forma semelhanre pelos componenres dogmpo social. A pSlqruama contribuiu muito para que a sociedadeeritendesse gue '0louco e pengoso', que 'lugar de louco e nohospicio', que '0doente mental e rrracrorial", que '0doentemental' . .. Voce ja parou para pensar em quanws preconcellosexisrern sobre as pessoas corn problemas rnentais? Quamas ane-dotas existem sobre loucos? Quanws casos de loucos funosos,assassmos, perverudos ... 0 proprio Kraepelin, naquela rnesrnaaula uucial do curso de cliruca psiquiatnca, pros segue afirrnando:

    Pelo menos urn terce do nurnero total de suicidios rempor causa eventual diferenres rranstornos mentais , comoem menor escala des sao tarnbern os indurores dos en-rnes contra 0 pudor, de incendios, roubos, fraudes e

    Rio Grande do Sul - LeI 9.716 de 7 de agosto de 1992. Ceara - LeI 12.151 de 29 de julho de 1993. Pernambuco - Lei 11.065 de 16 de maro de 1994. Rio Grande do Norte - LeI 6.758 de 4 de janeiro de 1995.

    70 ] 71

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    7/10

    outros. Mulndoes de familias choram suas minas por causadestes desvenrurados enfennos, que dissiparam forrunasau rneios de existencia em iruciativas insensatas ou porcausa do empenho em al iv iar sofnmenros SOQalSe cor-porals nasados em virtude da pregwc;::a,da incapacidadepara 0trabalho, que acompanham quase sempre a todosas transtornados de mente. (Kraepelin, 1988: 22-23)

    Nao e de assustar? Hi quem diga, ao contrano, que nao ternmedo das pessoas que nao tern razao, e SlITl daque1as que sejulgarn com razao demarsl E nesta rnedida que a nocao de pro-cesso SOCIalcornplexo e estrategica, pOlS e necessano introduziruma sene de transforrnacoes que perpassam as vanas dirnen-sees aqU1 refendas Vimos que na dirnensao teorico-conceirual,se adotadas estas nocoes de alienado, de penculosrdade, de per-da da razao, e aSSlITlpor diante, vamos construir insunucoes dedisciplina, correcao moral, vigilancta, custodia, purucao. Vamosconstruir, da mesma forma, leis restnuvas, auroritarias, irnpedin-",'as. Vamos, enfim, construir representacoes SOCIalSe senudosSOClalSde rnedo, de 11SCO,de exclusao: estigmas, discnmmacoes,preconceltos. No maximo vamos perceber algumas autudes detolerancia, Mas, Franco Basaglia insisua que a quescio nao deve-ria ser direcionada para a ideia da tolerancra, A "ideologia datolerancia", como de se refena, e arroganre e pretensiosa, pOlSirnplica em suportar (tolerar) 0 outre,

    Em contraposrcao, se recusarrnos aqueles concertos arcaicose procurannos sentir enos relacionar com os sujeitos em sofn-memo, se nos dirigir as pessoas e nao as suas doencas, podemosvislumbrar espas:os terapeuucos em que e possrvel escutar e aco-lher suas angustias e experienctas vrvidas; espac;:os de cuidado eacollumento, de producao de subjetrvidades e de sociabilidades.

    72 ]

    Contribuirnos desta forma para 0quesuonamento prauco dasIegislacoes e norrnas excludentes, construmdo estrategias efeu-vas de cidadarua e participacao social, que sao, ao mesmo tem-po, fundamentos e cornprovacoes materiais clos novas pressu-postos, Em ultima mstancia, redo 0 conJunro de transforms-coes e inovacoes antenores contribuern para a construcao deum novo imaginano social em relacao a loucura e aos SUlelWSem sofnmento, que nao seja de rejeicao ou tolerancia, mas dereciprocidade e solidanedade. Franco Basaglia observava queera 11llportante questlonar nao somente "0marucorruo nem apSlqulatrla como ciencia, mas tudo 0 que, parnndo do 'ternto-110 repelia a doenca e a confiava a pSlqUlarrm e ao mamcomio"ro li ')00- '}J."')Ll3.Sag a, _ .::.:_ ..J .

    A dimensao sociocultural e , ponamo, uma dirnensao estraceg;_ca.e uma das mars cnauvas e reconhecidas. nos funbltoS nacional einternacronal. do processo brasileiro de reforrna psiquiatnca. emdos pnnclplOs fundamentais adorados nesta dirnensao e 0en-volvirnento cia sociedade na discus sao da reforma pstquiatncacom 0 objetivo de provocar 0 imaginano social a reflenr sobreo tema da loucura, da doenca mental. dos hosprtais psiquiatncos.a parur da propria producao cultural e arnsuca dos atores SOGalSenvolvidos (usuarros , farniliares. tecruco s, volunrarros). Pararamo, f01insuruido urn Dia N acional da Lura Anumarucorrual, 0dia 18 de maio, no qual (e mesmo nos dias proximos a data) , emtodo 0pais ocorrern atividades culrurais, poliucas, acaderrucas,espormcas. dentre outras ..que prom.ovem 0debate e lnsugam itsociedade a partlClpar e a refletir.

    Vejamos alguns outros exernplos de auvidades. J a em 199.2,por ocasiao do Carnaval, decidiu-se nao mars fazer urn 'blocode doenres ' para bnncar no baile no patio do hospicio, mas Sll11

    7J

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    8/10

    orgaruzar urna ala num dos blocos mars famosos do RlOde Janetto, 0"Simpatia e quase amor". A ala sam com 0nome de".Ala do maluco be1eza" (em alusao a musica de Raul Seixas), efez muito sucesso no bloco e na midia. Em anos postenores,foram orgaruzadas varias l111C1aUVaSemelhantes e ate mesmoescolas de samba do Rio de J aneiro desfilaram com alas e ternasabordando a Ioucura, a diferenca, a diversidade.

    Urn dia, alguns parhClpanres do Forum Gaucho de Saudel'vlentaL apareceram com urnas carruseras com Erases relacionadasiluta annmarucomial e a reforrna psiquiarnca. A que rnais se des-tacou f01 "de perm nmguem e normal" extraida c ia rnusica "Vacaprofana" de Caetano Veloso, ao qual iz referencia logo no microdeste livre, Dai em diante, houve uma proliferacao de carrusetascom desenhos, pmruras e Erases com a objetrvo de levar 0debatea opiniao publica, de msDz:,crar cunosidade das pessoas sobre 0terna. lvfuslcas, 1111agense poeslas serviam de isca para esta estrate-gIa: "Genre e pra brilhar ...", a parhr de musica tambem de Caeta-no Veloso; "Maluco beleza" e "Sociedade alrernatrva", ambas deRaul Seixas: "h3. tama VIda la fora..." , "Como uma onda", de LuluSantos, "Dizem que sou Iouco, par pensar aSS1m.Se eu sou muitolouco, por eu ser feliz. Mas loueo e quem me d.iz que nao e feliz,nao e feliz", "Balada do Iouco", de Arnaldo Baptista e Rita Lee;sao ~oumas destas rnusicas que ajudam a provo car e msngar aspessoas a perguntarem 0que esta ou aquela frase significava, e 0monvo de estar naquela camiseta e assun produzir dialogos e en-contros (no senndo de encontro de pessoas/ entre pessoas) sobreo terna da loucura, da segregac;:ao, dos preconceltos.

    .A.stelevisoes comurutanas tarnbem representararn uma unci-anva lffipOrtante. Dentre as que mats se destacaram estao, empnmetro lugar, a TV Tam Tam, cnada em Santos logo no micro

    do processo de desmontagem da estrurura marucorrual na erda-de. Alguns anos depois, na mesrna linha, surgiu a TV Pinel, noRio de Janeu:o, que em 2006 completou dez anos, com progra-mas muito criativos e murre prerruados. Mars recenternenre nas-ceu a TV Parabolinoica, em Belo Honzome. Todas elas contarncom roteiros, filmagens e aruacao dos usuarios, familiares, pro-fisstonais e voluntanos. Outra proposta e a de programas deradio, dentre os qurus a Radio Tam Tam, tambern de Santos, Ema plOnelIa. Mas existern muitas pclo pais, sempre com nornescnauvos e fazendo alusao ao campo, como Radio Antena Virs-da (Paracambi), Radio Cala a Boca JiMorreu ...A partIr da Associacao Loucos pela Vida, da qual paruClpam

    usuanos, familiares, tecrucos e voluntanos, nasceu um grupomUSIcaLque gravou urn CD com vanas musicas, dentre elas "Nasrerras do J uquerv" e ''Loucos pela vida", de Luizinho Gonzaga,que profenza que "urn dia os rnuros do Juquery vao cair". NoRio, 01 cnado 0 grupo musical Harmonia Enlouquece que gra-vou "Sufoco da VIda" com a YOZ de Hamilton Assumpc;:~.o:"estou vrvendo no mundo do hospital, tomando rernedio depSlqUlaU1.amental . Haldol, diazepan, rohipnol, promerazma, meumedico nao sa be como me tornar urn cara normal" Ou Paulode Tarso com "a genre serneou 0 501. .. a gente fez brilhar a 501...a genre fez nascer 0 sol pra nao tomar haldol" E muitas outrasmiciauvas no campo da mustca, como ados lVLigJ.cosdo Som(Volta Redonda/RJ), Lokonaboa (ASS1S/SP), Viajar (Santo ~-\ndre/SP), Trern Tam Tam (Belo Honzonte/MG), Ze do Poco (BdoHonzonre/MG) au as sboms histoncos do Projeto Canta Loucurana Estacao das Barcas da Cantareira (Nireroi/Rj), No ultimoForum Sooal Mundial em Porto - ,- \1egreum evento emocionanrereuruu rnilitan tes da saude men ta l com 0bzp-hop .

    74 J

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    9/10

    IiIi!rII ItL

    ,t-~,

    Fazendo urn do da musica com 0 teatro, 01 criado em SaoPaulo 0 Coral Ceruco, urna linda proposta de can tar, dan car,representar, significar, No Rio, a paro.r do Teatro do Opnrrudo,de Augusto Boal , foi cnado 0Grupo de Teatro Pirei na Cena,mas existern inumeras iruciatrvas como estas por todo 0 pais. 0Teatro do Opnmido e urn born exernplo de como e possivelproduzir trabalhos orientados por prmcipios como emanclpa-cao, autonorrua, consciencia crinca, dentre outros, que nao sejarnreduzrdos ao cararer terapeunco. E apenas teatrol (Enao basta?)Mas existe urn aspectO fundamental nesta dirnensao SOCIO-

    cultural que demonstra a sua inter-relacao e mteratrvidade com asdernais dirnensoes: a parncipacao SOCIal e politica de todos osatores SOClalSnvolvidos com 0processo de reforrna psiquiatnca.Desde os pnmerros anos do processo, no cenano da redemocra-tizacao nacional, a parucipacao social tern sido objeto de mereci-do destaque. Vejamos alguns aspectos desta parucipacao.

    Em 1978, foi cnado no Rio de J aneiro 0 IvIoYlITIentodosTrabalhadores em Saude Mental (J\fTSM) que no mesmo ana setornou urn rnovimento nacional e. em janeiro de 1979, orgaru-ZOU 0 I Congresso Nacional Insntuto Sedes Sapisenua, ern SaoPaulo. Ern 1979, foi cnada a pl11nerra aSSOCla

  • 8/4/2019 11 - AMARANTE,P. - Estrategias e dimenses no campo da saude mental e ateno psico-social (10cps)

    10/10

    f 'II

    i.!

    Quadro 1 - Encontros Nacronais do Movimento da Lura_r\nrunarucomla1 e das Associacoes de Usuanos e FarniliaresFeita (Sao Gonc;alo/RJ), Loucos por Voce (Ipatmga/lvIG), LoucosPor Cidadarua (Olinda/PE), Lo komo trva (Natal/RN),

    Qorpo Santo (./\legrete/RS), Praia Vermelha (Rio deJanrno/RJ),dentre muitas outras.

    A pamcipacao social, nao apenas na saude mental, mas naspoliticas de saude de forma gera!, reve urn impulse decisrvocom a introducao do capitulo da saude na Consuruicao de 1988e,postel1.0rmente, com a insutuicao do SUS, regulamentado pelaLei 8.080 de 19 de seternbro de 1990. Logo apos, em 28 dedezernbro do mesrno ano, a LeI 8.147 estabeleceu a partlClpa-cao cia comurudade na gestao do SIStema, 0que frcou ccnheci-do como 0 "controle SOCIal",A realizacao das tres ConferenciasN acionais de Sande Mental, em 1987 (Rio de Janeiro, de 25 a 28de [unho), 1992 (Brasilia, 30 de novernbro a 2 de dezernbro) e2001 (Brasilia, 11 a 15 de dezembro) ofereceu possibilidadesinigualaveis de parncipacao dos atores SOClalSa discussao e cons-trucao das poliacas de saude mental e atencao psicossccial. 0ideal e que existisse uma regulal1.dade na convocacao destas con-ferencias. Murto unponante amda e a envolvirnento dos atoresSOClalSnos Conselhos de Saude esraduais e mUlliClpaIS e nasCorrussoes de Saude Mental ligadas a estes Conselhos e ao Con-selho Nacional de Saude.

    A dimensao sociocultural recebe rnurta visibilidade atra-ves da realizacao regular de grandes encontros totalmente or-gamzados e protagomzados pelos arores SOC1alSda reformapsiquiatnca: usuarios, familiares. profissionais e outros atrvis-tas de movimentos SOCIalSpela cidadania e defesa cia VIda.Sao tantos ericontros do Movimento Nacional da Luta Ann-marucorrual quamo encontros exclusrvos de usuarios e fami-liares (Quadro 1).

    EvenroI Encontro NZiC100:1J de USU3f105 C r' ;amih:1fl:: 'II Encon tro N:! .c !on~1de Usuanos e Farni liarcsI Encoruro N~c,onaj da LUI2AnnmarucorruatIII Enconuo :": tc lom.l de Usuanos c Famil i~r"sI I Enc onuo N~c l( )na l da LU;! AnurnarucorrualIV Encontro Nac ,on:ll de Usuanos e Famil ia rc sIII Encon tro Nac lOmJ da Luta : \oumanlCOmlllV Encomro Nac lOnal de Usua no s e fam il iar . .."IV Encornro N:lc,on~ da Luta AnumarucnnualVI Encont ro Nac ,om .l d e Usu anos e Fa rni li ar csV Enconuo NJc lomJ da LUiJ AnumamcorruatV ll Enc on rro Nac io na! d e liSWU10S e FumilinresVI Encontro Naclon:ll da LUG!.Anuman.cornulVI! Encon tro NKlon :l l da Luta Anurnarucormal

    78 ]

    :\00 Local1991 Sa n Paulo (S1')1992 Rio de J:lne,ro C R . J )1')9.1 Salvador(IF)1993 Samm(SP)1995 Reum (?1(;)19% Franco da Rocha (S1';11)97 Porto .i\legrc ( R : - : ; )199K Beum (! '.1(i';191)') Panpucira (:\L)1 0 ( ) O (~niitm:l ( C ; ( l )2 0 ( 1 1 jI,[igud Pereira (R) )1 ( ) ( I 2 Xerem (Rl)2 ( ) O 5 Sao P~uio (:'1')111(li Vitnna (F.S)

    79