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resenha do filme
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Filosofia e Ciências HumanasDepartamento de História – 1º semestre de 2012
História da ciência e da técnicaCarga Horária/Créditos:60h/a – 04 créditos
Profa. Ana Carolina Vimieiro GomesAluna: Monique de Sousa Rodrigues
O filme Vênus Negra tem como personagem principal Saartjie
Baartman, conhecida como Vênus hotenttote. Saartije foi objeto de exibição no
comuns “freak shows” europeus do inicio do século XIX, onde eram exibidas
pessoas que possuíam alguma característica considerada anômala pelos
padrões da época. O filme de 2 horas e 40 minutos conta uma história real,
ambientada na Inglaterra e na França do século XIX
Saartije ou Vênus hotentote, era uma negra sul-africana, que foi levada
para a Europa e lá passou a função de empregada doméstica. Porém, ela não
era uma negra comum, possuía uma protuberância nas nadegas, considerada
pelos seus contemporâneos como algo anômalo, o que abriu caminho para que
ela pudesse participar de exibições públicas de seu corpo. A fim de fazer
dinheiro, o patrão de Saartije promete torná-la rica a partir das exibições de seu
corpo em freak shows muito comuns na Europa.
Feito o acordo, Saartije passa de anônima a sensação na Inglaterra, até
o momento em que as autoridades inglesas começaram a investigar o dono de
Saartije por escravidão. Mudaram-se então para França, onde a Vênus passa a
ser estudada por famosos cientistas naturais, que utiliza seus estudos da
cadeia do ser para provar a inferiodade dos negros em relação aos brancos
europeus civilizados.
Os cientistas que estudavam a Vênus, utilizaram-se principalmente de
pressupostos socialmente construídos, como o de provar a qualquer custo que
os europeus eram raça superior. Utilizaram a Vênus colocando-a como o elo da
lacuna entre os símios e os homens. Ao longo do filme, por diversas vezes
nota-se o enraizamento da superioridade dos brancos sobre os negros na
mentalidade não só dos cientistas, mas das pessoas que frequentavam
aqueles circos.
Levando em consideração o risco de cair em uma crítica anacrônica,
não precisamos julgar o que aquelas pessoas estavam fazendo com aquela
mulher. Podemos trazer a reflexão para a metade do século XX e pensar os
horrores que a Alemanha Nazista fez com os “inferiores” judeus. A figura
emblemática de Hittler, assim como a dos cientistas de guarda-pó branco do
século XIX, tornam-se aí meras figuras, já que a legitimidade dada para as
atrocidades da Segunda Guerra partiram do próprio povo alemão que se
vigiava, e que no fundo considerava sim os judeus como raça inferior. Voltando
então ao filme, as exibições de Saartije só foram legítimas porque partiram do
próprio povo europeu, que frequentava e se divertia com as exibições daqueles
seres humanos que consideravam como animais.
Verticalizar o processo e pensar nas figuras de autoridade (cientistas,
ditadores...) como os únicos responsáveis por cometerem tamanhas
atrocidades, definitivamente, é o caminho mais errado para se pensar uma
história como a de Saartije (e tantos outros anônimos contemporâneos dela) ou
dos próprios judeus na Alemanha nazista.
O trágico fim de Saartije, foi retratado pelo filme em um prostíbulo, onde
a Vênus contrai uma doença venérea e morre. Após sua morte, Saartije é
dissecada na mesa dos curiosos cientistas que a estudaram desde sua
chegada a França.
Ambientado na Europa do inicio do século XIX, “Vênus Negra” permite
uma viagem a uma (triste) parte da história da ciência, onde a reflexão sobre o
homem do século XIX está sempre presente.
O filme “Vênus Negra” não é um filme para quem tem estômago fraco, é
incômodo, doloroso do inicio ao fim e não pede bis.
Ficha Técnica
Vênus Negra (Vénus Noire) – 159 min
França, Itália, Bélgica – 2010
Direção: Abdellatif Kechiche
Roteiro: Abdellatif Kechiche, Ghalia Lacroix
Elenco: Yahima Torres, Andre Jacobs, Olivier Gourmet, Elina Löwensohn, François Marthouret